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Caso Concreto Direito Penal IV Semana 5 Caso do padastro

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Universidade Estácio de Sá 
Polo: Parangaba 
Curso: Direito 
Disciplina: Direito Penal IV 
Docente: Antônio Augusto 
Discente: Rubens Melo da Silva 
Matrícula: 2016.01.66.887-2 
Caso Concreto Semana 5 (Crime de Tortura – Lei n. 9455/97) 
ROMOALDO, padrasto de L.T., de 11 anos de idade, foi denunciado pelos 
vizinhos por ter submetido a criança a intenso sofrimento físico e mental com o 
fim de castiga-la ao agredi-la por diversas vezes com a utilização de seu cinto, 
pois esta estava brincando na sala de sua casa no momento em que 
ROMOALDO assistia ao jogo final do campeonato estadual de futebol e o 
barulho da brincadeira atrapalhava sua concentração no jogo. Dos fatos, 
ROMOALDO restou denunciado pelo delito de maus-tratos, previsto no art. 136, 
§ 1º, do Código Penal. 
 Não se configura crime de maus-tratos, mas sim crime de tortura, no caso 
classificado como Tortura-castigo, Conforme dispõe o inciso II, art. 1º da Lei n. 
9455/97, in verbis: 
 “Art. 1º, caput (...) 
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, 
com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso 
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo 
pessoal ou medida de caráter preventivo. 
 Pena – reclusão, de dois a oito anos”. 
 Ao realizar tal prática criminal o objeto jurídico atingindo a incolumidade 
física e mental de pessoas sujeitas a guarda, poder ou autoridade de outrem 
(GONÇALVES, 2018, p. 180), no caso acima apresentado encontra-se presente 
essa condição. Percebemos também que o meio de execução também 
caracteriza a conduta criminal por trata-se de um crime de ação livre que pode 
ser praticado por qualquer meio (omissivo ou comissivo) (idem, idem). 
 Outro ponto importante é a presença do elemento subjetivo que se 
configura através da intenção de expor a vítima a grave sofrimento, como forma 
de aplicação de castigo ou medida de caráter preventivo. 
Ponto central para contrapor a argumentação da defesa de que o crime 
seja maus-tratos, cai por terra quando confrontado com a presença do elemento 
animus corrigendi. Assim, conforme as palavras de Gonçalves (2018, p. 180): 
“(...) Exige-se, pois, o chamado animus corrigendi. Essa 
forma de tortura muito se assemelha ao crime de maus-
tratos (art. 136 do CP). A diferença está no elemento 
normativo da tortura, existente apenas nesse inciso II, que 
pressupõe que a vítima seja submetida a intenso sofrimento 
físico ou mental. A caracterização desse dispositivo, assim, 
é reservada a situações extremadas”. 
 Encontra-se comprovado conforme autos processuais que acusado, 
Senhor Romaldo, agiu contra menor L.T. de 11 anos, através do animus 
corrigendi, notadamente: 
“(...) ter submetido a criança a intenso sofrimento físico e 
mental com o fim de castigá-la ao agredi-la por diversas 
vezes com a utilização de seu cinto, pois esta estava 
brincando na sala de sua casa no momento em que 
Romoaldo assistia ao jogo final do campeonato estadual de 
futebol e o barulho da brincadeira atrapalhava sua 
concentração no jogo”. 
 O sujeito ativo é elemento plenamente identificado, sendo esse elo 
fundamental também tipificação do crime de tortura na condição, inclusive de 
crime próprio. Para Gonçalves (2018, p. 180): 
“Trata-se de crime próprio1, pois somente pode ser cometido 
por quem possui autoridade, guarda ou vigilância sobre a 
vítima. Essas palavras utilizadas pela lei abrangem a 
vinculação no campo público ou privado, bem como 
qualquer poder de fato do agente em relação à vítima. 
Assim, pode ser cometido contra filho, tutelado, curatelado, 
preso, interno em escola ou hospital etc.” 
 Nesse sentido, convém destacar importante entendimento jurisprudencial 
apontado também por Gonçalves (2018, p. 180): 
 
1 Conforme Capez (2017, p. 282): “Crime próprio: só pode ser cometido por determinada pessoa ou 
categoria de pessoas, como o infantíficio (só a mãe pode ser autora) e os crimes contra a Administração 
Pública (só o funcionário público pode ser autor). Admite a autoria mediata, a participação e a coautoria. 
“A propósito: ‘A conduta da paciente enquadra-se no tipo 
penal previsto no art. 1º, II, § 4º, II, da Lei n. 9.455/1997. A 
paciente possuía os atributos específicos para ser 
condenada pela prática da conduta descrita no art. 1º, II, da 
Lei n. 9.455/1997. Indubitável que o ato foi praticado por 
quem detinha as crianças sob guarda, na condição de babá” 
(STJ – HC 169.379/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª 
Turma, julgado em 22/08/2011, DJe 31/08/2011). 
 Devemos destacar também que a condição do sujeito passivo da ação 
delitiva caracteriza uma das condições que permitem aumento da pena, 
conforme prevê inciso II, § 4º do art. 1º da Lei n. 9.455/97, in verbis: 
 “Art. 1º, § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: 
 (...) 
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador 
de deficiência, adolescente ou maior de sessenta anos. 
 Ressaltando o conceito de criança, em termos doutrinários, segundo 
Gonçalves (2018, p. 184): 
“Criança é a pessoa menor de 12 anos, enquanto 
adolescente é quem possui 12 anos ou mais, e menos de 18 
anos”. 
 No caso ora em estudo temos a presença de um sujeito passivo 
classificado como criança. Alertando sempre que por se tratar de causa de 
aumento de pena do crime tortura, mostra-se inviável a incidência de agravantes 
genéricas que se referem às mesmas hipóteses no Código Penal, sob pena de 
se incorrer em bis in idem. 
 Devemos refutar a argumentação jurídica apresentada pela defesa no 
tocante a apresentação ao citado maus-tratos. Conforme Cunha (2015, p. 150), 
quando tratamos da diferenciação entre maus-tratos e o delito de tortura 
devemos observar: 
“O delito em estudo não se confunde com aquele previsto no 
art. 1º, inciso II, da Lei 9.455/97 (Lei de Tortura). Embora 
com textos semelhantes, o delito de tortura traz elementos 
normativo e subjetivo que evitam qualquer confusão. Exige-
se, no caso da tortura, que a vítima seja submetida a intenso 
sofrimento físico ou mental, enquanto no delito de maus-
tratos basta a provocação de simples perigo. Ademais, a 
intenção do agente, ao torturar, é calcada no horror, visando 
causar sofrimento à vítima. No crime de maus-tratos o 
agente age com abuso do exercício de um direito regular”. 
 Colaborando também com esse entendimento destacamos 
ensinamento de Greco (2016, p. 294): 
“(...) o agente que pratica o delito de tortura age, sempre, 
com dolo de dano, ou seja, sua finalidade, ab initio, é a de 
causar intenso sofrimento físico ou mental à vítima. Não 
existe, ainda, coincidência da motivação entre o delito de 
tortura e o crime de maus-tratos. Neste, o agente atua para 
fins de educação, ensino, tratamento ou custódia; naquele, 
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter 
preventivo”. 
Não existe nenhum elemento que colabore com visão normativa de maus-
tratos, como por exemplo, legítimo direito (ius corrigendi ou disciplinandi). O uso 
da força física de forma delibera contra uma criança, através de recurso vil 
(utilização de um cinto) por motivo banal (por conta do comportamento da 
criança) somente colabora com entendimento que estamos diante de um crime 
de tortura. 
Referência bibliográfica: 
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: volume 1, parte geral: arts. 1º a 120. 
21 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial, volume 
único, 7ª. Ed. Salvador, BA: Juspodivm, 2015. 
GONÇALVES, Victor Eduardo Rio. Legislação penal especial esquematizado. 4. 
Ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parteespecial, volume II: introdução 
à teoria geral da parte especial: crimes contra a pessoa. 13 ed. Niterói, RJ: 
Impetus, 2016. 
VADE MECUM RT. 14 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista do 
Tribunais, 2017.

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