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Das Medidas de Segurança no Brasil

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PENAL II GQ – AULA 01 – EM 14/10/2014
DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
	Esse instituto passou por muitas mudanças dentro da sistemática penal, a ele já se faziam menções desde o Código Criminal do Império do Brasil, numa versão completamente diferente da que temos hoje e que é fruto da reforma penal de 1984. É um tema pouco difundido nos debates acadêmicos.
	Falando sobre esse tema faz-se necessário um retorno a tudo o que foi visto, porque todo o já exposto – PPL, PRD, pena de multa, dosimetria de pena, sursis, livramento condicional, pena de morte – se aplica aos imputáveis. Esse tema – medida de segurança – trata de quando doentes mentais cometem crimes; nele não se fala de recluso, detento ou beneficiário – que se usa para o sursis e o livramento condicional –, a palavra a ser utilizada nesse tema é paciente.
	Quando se trata da responsabilidade penal, vê-se que, no Brasil, o momento da conduta delitiva é o momento da auferição da responsabilidade penal. Com isso, vem toda a conceituação que implica na questão da imputabilidade, da semi-imputabilidade e da inimputabilidade.
	Inimputável é aquele que no momento da conduta não apresentava nenhuma capacidade de autodeterminação, é aquele que sequer entende o caráter da sua conduta. É aquele que mata, estupra, comete vários outros crimes e não possui o freio moral necessário para ponderar, para prevenir, para evitar. Então, são pessoas que, em detrimento de doença mental são inconsequentes. Existem muitos indivíduos que já mataram num surto psicótico, muitos já estupraram e por aí vai.
	Em Pernambuco temos um hospital psiquiátrico, desde 1940, o HCTP – Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico –, todavia, nem todo estado brasileiro possui um hospital com tal finalidade, dessa forma, eles devem colocar os doentes mentais infratores em hospitais públicos de referência ou, se forem os infratores pessoas que tenham recursos, eles podem ser internados em hospital particular, desde que tenha acompanhamento do sistema psiquiátrico.
O inimputável, em meio livre, apresenta grandes riscos à sociedade, visto que ele não tem nenhuma responsabilidade. Ex.: Estudante de medicina entrou num cinema durante uma sessão de um filme chamado Clube da Luta, foi, primeiramente ao banheiro, atirou contra os espelhos e depois se dirigiu para a sala de projeção e começou a atirar, matou oito pessoas e feriu outras oito. Ele foi preso, muitos questionamentos surgiram durante a investigação; ele era adepto de jogos violentos, então ele tinha uma identificação muito grande com a violência virtual e se questionou, inclusive no âmbito da psiquiatria, se ele não estava projetando o que ele vivenciava virtualmente, se foi o que chamam de passagem ao ato. No caminhar das investigações se chegou à constatação de que ele era portador da esquizofrenia, que é uma doença que apresenta vários estágios, há pessoas com esquizofrenia que vivem muito bem socialmente e só precisam ser medicadas, ocupando cargos muito importantes, por sinal. Esse estudante de medicina tinha noção da patologia que tinha, a universidade também, inclusive tinham um tratamento acadêmico diferenciado para com ele. Esse rapaz foi entrevistado e disse que era consciente da doença, principalmente porque era um estudante de medicina e o repórter perguntou a ele se ele sentia arrependimento pelos crimes que ele cometeu, porque as revistas estampavam fotos das vítimas e essas fotos causaram um choque social muito grande e ele escolheu a esmo, não houve uma premeditação quanto às vítimas, ele atirou em quem estava ali. O impressionante é que ele matou pessoas jovens e os jornalistas fizeram históricos das vítimas. Uma delas estava com casamento marcado para três meses do fato, outra que havia recebido uma bolsa para fazer mestrado em Oxford, resumidamente, todas as vítimas tinham um belo projeto de vida, o que se fez pensar que a escolha era determinada. Respondendo a pergunta do repórter, quanto ao arrependimento, ele disse que “NÃO, porque, tendo em vista a patologia, era um sentimento que ele não sentia”, por mais que ele quisesse sentir o arrependimento ele não sentia; no dia dos crimes ele dormiu tranquilamente, calmamente, como se tivesse passado a tarde fazendo compras e se a exaustão fosse decorrente de muito andar num shopping; ele se sentiu cansado por conta do engenho criminoso, mas sem nenhuma culpa. Ele era um inimputável, ele não tinha nenhum freio necessário para evitar aquele resultado, para matar pessoas de maneira aleatória, ele não tinha nenhuma filosofia voltada para a prática de crimes, para o que ele fez, muito diferente daqueles que matam em massa e dizem o porquê de terem matado e dizendo, inclusive, para quem o fizeram. No caso do estudante nada disso estava previsto. 
O imputável é aquele plenamente capaz, aquele que possui o freio moral necessário, que possui uma censura própria, dependendo do homem médio – conceito do direito penal que envolve o grau de aculturamento, essa é uma expressão utilizada até no Estatuto do Índio, muitas vezes há uma cultura numa cidade tal, aquele que nasceu e viveu numa cidade de interior tem cultura e concepções diferentes daqueles que nasceram e vivem numa capital e há pessoas que saem de cidades muito pequenas para gigantescas em outros países, então, tudo isso é analisado dentro desse contexto, embora se tratando de imputabilidade.
Semi-imputável é uma linha intermediária, é aquele que nem é imputável, nem inimputável, é aquele que ao cometer o crime tem uma certa noção,muitas vezes até uma apreensão aprimorada do que cometeu, mas, tendo em vista o distúrbio, ele não conseguiu evitar, ele realizou assim mesmo. 
Hoje se fala muito das doenças da modernidade, mas que sempre existiram. Antigamente, viam-se idosos que quando completavam 60 ou 65 anos vestiam um pijama e passavam o dia numa cadeira, porque a vida dele era assim, quando se aposentava do trabalho, aposentava-se da vida. Essa ociosidade terminava por desenvolver doenças mentais.
Então, quando se fala em imputáveis, semi-imputáveis e inimputáveis, são situações que não podem ser tratadas com relação a mesma pessoa; ou se é imputável, inimputável ou semi-imputável – sistema vicariante – isso não era visto dessa maneira no Brasil até a reforma de 1984. Adotava-se o sistema binário ou de dois trilhos; entendia-se que um doente mental, quando cometia um crime, deveria ser preso e quando cumprisse a pena, ele deveria, sem nenhum tratamento psiquiátrico, ser transferido para o que se chamava de manicômio judiciário e só daí começava a cumprir o que se chamava de pena de internação em hospital psiquiátrico. Colocava-se o doente mental dentro de uma cela juntamente de outros presos, estes dotados de outra periculosidade. 
Para dar por baixo esse sistema, a reforma de 1984 alterou, radicalmente, esse instituto e passamos do sistema binário para o vicariante ou de um trilho só – ou se é imputável ou semi-imputável ou inimputável. 
Para:
Imputável = pena
Inimputável = medida de segurança (detentiva ou restritiva)
Semi-imputável = redução de pena ou medida de segurança (restritiva)
	Os cárceres estão repletos de doentes mentais semi-imputáveis, porque são pessoas que, apesar de alguns distúrbios dos quais são portadoras, compreendem que cometeram um crime, têm consciência da repercussão daquele fato socialmente, da repercussão nas suas vidas. 
DAS ESPÉCIES DE MEDIDA DE SEGURANÇA
	
- Internação
	Internam-se os doentes mentais que cometeram um crime por serem inimputáveis. Os laudos psiquiátricos, os exames mostraram que, no momento do crime, tratava-se de um doente mental, de um inimputável. 
	Temos no Sistema Penitenciário de Pernambuco e de outros estados um hospital chamado de Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) que funciona em Itamaracá. Esse hospital passou por uma grande reforma, inclusive buscando acompanhar a reforma psiquiátrica. No RS já teve hospital psiquiátrico, no sistema penitenciário de lá, que foi o modelo de ??? e hoje não é mais, o RS está com osistema penitenciário muito doente, já tiveram muitos modelos e hoje, ao contrário, está no ranking dos piores presídios masculinos do Brasil.
Estava ocorrendo rebelião num presídio masculino de Porto Alegre (RS). Esse presídio é considerado como o segundo Carandiru.
O Carandiru, antes de ser demolido, era considerado a pior unidade prisional masculina do Brasil.
O Aníbal Bruno, atualmente, é o pior presídio masculino do Brasil.
A unidade penitenciária feminina do Bom Pastor, quando passou pela CPI carcerária em 2008 ficou classifica como a 9ª pior unidade do Brasil, incluindo masculinas e femininas. 
COMO FUNCIONA O HCTP?
	Ele tem a fachada de prisão, mas dentro é um misto de aspecto prisional e hospitalar, existem médicos, enfermeiros, assistente social, psiquiatras, advogados, policial militar, agente de segurança penitenciária, pessoal da área médica, que trabalha em sistema de plantão como acontece na área médica, então, é uma equipe multidisciplinar. 
	A medida de segurança de internação é cabível às pessoas portadoras de doença mental grave que cometem um crime e que não podem conviver socialmente. 
De modo geral, em qualquer cultura, as vítimas dos portadores de doença mental são médicos, enfermeiros, familiares e vizinhos, visto que são pessoas que, tendo em vista a patologia, são muito “tolhidas”, protegidas no seu direito de ir e vir, há doente mental que não sabe dizer o nome, há aqueles que se sair de casa só não conseguirá voltar para casa, ele não tem, mentalmente, nenhum referencial de família, de endereço, são vítimas muito fáceis de ser atingidas, podem ser violentadas sexualmente, enganadas, roubadas. Então, as famílias fazem essa “superproteção”, dessa forma, as vítimas dos inimputáveis são, geralmente, as pessoas com as quais eles têm proximidade. Ex.: Paciente que matou a enfermeira que estava tratando dele. Ele estava recebendo tratamento num hospital psiquiátrico comum e a enfermeira entrou no quarto para medicá-lo sozinha e sem nenhum equipamento de proteção. No momento em que ela adentrou ao quarto, o doente mental se levantou da cama e matou esta moça batendo a cabeça dela contra a parede. De modo geral, os crimes praticados por indivíduos acometidos de doença mental são brutais.
	Ex.2: Homem era traumatizado, desde a infância, por não ter família. Numa noite de ano novo, esse homem matou o pai porque tinha raiva da madrasta. Ele viu o pai viver numa vida promíscua até conhecer uma aluna de medicina e com ela casar. Esse menino era louco pela “mainha” – modo que ele a chamava –; o casal teve uma filha, era uma família perfeita, até que o cara voltou à vida de Don Ruan. A mulher começou se familiarizar com certas histórias e o menino passou a presenciar diversas e sérias discussões em casa. A partir daí, ele começou a entrar no mundo das drogas – foi a válvula de escape que ele achou porque o pai ameaçava sempre se separar da “Mainha” dele, que, nesse momento já estava formada e atuando. Até que chegou o dia em que o pai disse à “mainha” que ele tinha arranjado uma namorada, que a tinha engravidado e que a “mainha” deveria sair da casa para que ele pusesse a namorada ali, porque era com esta que ele queria viver. Ela saiu de casa apanhando; saiu machucada, levando a filha e a empregada, que já estava com ela há 14 anos. Saíram as três apenas com a roupa que tinham no corpo. Nesse momento, o pai ameaçou a “mainha”, disse que se ela procurasse a polícia ele mataria o pai dela. Ela saiu e ele colocou a namorada dentro de casa. O menino passou a conviver com tudo isso, ficou revoltado e, literalmente, entregou-se às drogas. Terminou que na noite de ano novo do ano em que ela foi expulsa, naquela época não se falava em Estatuto de Desarmamento e eles tinham algumas armas em casa; nesse dia, o jovem pediu a chave do carro para dar uma volta e o pai, vendo que o filho estava perturbado, negou. Daí o jovem pegou uma das armas da casa e, com um tiro só, matou o pai. Ele era louco por esse pai. Depois do tiro ele se desesperou e saiu gritando na rua que tinha ferido o pai, ele não sabia que o tinha matado, só percebeu quando voltou para a casa. A nova namorada que estava no quarto cuidando do seu bebê foi para o local do crime – sala – quando se deu conta do tiro e então, o jovem a matou dando pancadas com a arma no crânio da moça – ele achava que a culpa de tudo aquilo era dela. Esse rapaz foi condenado a medida de segurança detentiva, ou seja, de internação; entendeu-se que, no momento do crime, ele era um inimputável.
	A outra espécie é o tratamento ambulatorial, que é um tipo de medida de segurança aplicada aos semi-imputáveis e que não consiste em nenhuma unidade hospitalar de internação. O tratamento ambulatorial, nesse caso, é para aquele que cometeu um crime de menor gravidade – não cabe a quem matou ou estuprou, por exemplo. No tratamento ambulatorial, o indivíduo permanece em casa, mas em tratamento com psiquiatra, com psicólogo e medicado – se houver necessidade. 
	Os critérios para auferição da responsabilidade penal sempre se buscam no momento da conduta delitiva. No que diz respeito à internação ou tratamento ambulatorial, vê-se que é extremamente diferente de tudo o que diz respeito às penas. Toda pena PPL ou PRD tem um tempo de conclusão, toda pena de multa tem o quantitativo de dias-multa. Quando se fala em medida de segurança há uma previsão do mínimo, mas não há uma previsão para o máximo – tanto na espécie detentiva, como restritiva. O tempo mínimo de cumprimento de medida de segurança no Brasil é de 1 a 3 anos – o motivo desse quantitativo o legislador não explicou. 
	No primeiro ano de internação ou de tratamento ambulatorial, realizam-se testes, fazem-se avaliações psiquiátricas, no segundo também ou a qualquer momento em que se veja necessário e no terceiro ano também. Se, com o passar dos três anos, observa-se que não cessou a periculosidade, então, a situação é séria. Então, eles vão ficando indefinidamente até que um dia se entenda que cessou a periculosidade. 
	A grande crítica que se faz a esse instituto é justamente sobre essa incerteza quanto à liberação, de modo que, alguns indivíduos passam a vida internados. A crítica consiste na indagação acerca da caracterização ou não da existência de pena de caráter perpétuo no Brasil. 
	Há uma alteração na lei LEP que se aguarda que venha ocorrer e que já foi aprovado em Brasília, que foi fruto de seis anos de estudo do Dr. Marcelo Zugietti, promotor da Vara de Execuções do Estado de Pernambuco. A proposta propõe a redução substancial desse tempo de internação, liberar-se no tempo mínimo e devolver esse inimputável à família, que a gente sabe que nem sempre tem recursos para tratar, cuidar e acompanhar numa terapia. 
	O ponto é que não se sabe em que isso vai dar, porque no sistema penitenciário esses indivíduos recebem tratamento, medicação, acompanhamento, em casa, muitas vezes não tomar sequer uma medicação, há, portanto, grande chance de observarmos pessoas surtando nas ruas, caso essa reforma seja aplicada.
	Todo doente mental que cometeu crime, cumpriu medida de segurança e que foi liberado por ter sua periculosidade presumidamente cessada, deve permanecer sob período de observação por um ano. Essa observação ocorrerá a partir da reincidência, de modo que, se ele voltar à prática delituosa será reinternado. 
CONVERTE-SE PENA EM MEDIDA DE SEGURANÇA NO BRASIL?
Sim. Se uma pessoa que foi condenada a uma pena, durante o cumprimento da sentença, apresentar sinais de patologia mental é possível que o MP requeira junto ao juiz da Vara de Execução Penal a conversão da pena. Todavia, há grande resistência do MP em pedir essa conversão, porque na medida em que há a conversão da pena em medida de segurança, extingue-se a pena, só fica mesmo a medida de segurança. Ex.: Imaginemos uma que pessoa condenada a 30 anos de prisão tenha sua pena convertida em medida de segurança. No primeiro ano se aplica toda aquela avaliação, mas ainda se mantém a medida, se no segundo ano for observadoque cessou a periculosidade libera.
	Imaginem que nesse caso o cara, condenado a 30 anos, era imputável no momento da prática do crime e que a doença tenha sido decorrente do cárcere. Ele vai sair impune da prática dos crimes. 
	Por isso que quando acontecem casos em os presos de presídios comuns entram em surto, eles são transferidos para o HCTP, fazem um tratamento e retornam para a prisão, para não que se faça essa conversão. 
CONVERTE-SE MEDIDA DE SEGURANÇA EM PENA NO BRASIL?
Não. Quando cessa a periculosidade, cessa a medida de segurança, termina a internação, libera-se da internação ou do tratamento ambulatorial.

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