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Tráfico de Drogas 11.343 06

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Legislação Penal Especial
LEI Nº. 11.343/06 – TRÁFICO DE DROGAS
- Legislação Anterior:
Lei nº. 6.368/76 – aspectos penais e processuais;
Lei nº. 10.409/02 – aspectos processuais.
Ambas foram expressamente revogadas pelo atual diploma.
- Aspectos penais:
Do usuário.
(lei 6368/76 - revogada) Art. 16 – Adquirir, guardar, ou trazer consigo, para uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, e pagamento de 20 a 50 dias multa.
(lei 11343/06 - vigente) Art. 28 – Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I – Advertência sobre os efeitos das drogas;
II – Prestação de serviços à comunidade;
III – Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1º - Ás mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
Comentários:
Adquirir: obter mediante troca, compra ou a título gratuito;
Guardar: retenção da droga em nome de outro;
Ter em depósito: armazenamento em nome próprio;
Transportar: levar de um local para outro;
Trazer consigo: transportar junto ao corpo.
Objetividade jurídica: saúde pública
Sujeito Ativo: qualquer pessoa;
Sujeito passivo: coletividade;
Tentativa: em tese admissível;
Objeto Material: Drogas
Elemento normativo do tipo: “sem autorização legal” ou em “desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
Obs: Nota-se que a lei não incrimina o uso, mas sim as condutas que antecedem o mesmo.
Cabe ao juiz analisando a quantidade, forma de embalagem e conduta do indivíduo identificar se a droga era destinada ao consumo próprio ou para o tráfico (não basta a pequena quantidade).
Obs: Ainda que a quantidade de droga seja ínfima o STF não tem admitido a tese do crime de bagatela.
A respeito do plantio para consumo, a lei anterior era omissa e dava abertura para várias interpretações, hoje a questão foi resolvida. Quem planta ou cultiva para consumo próprio não incide no crime de tráfico de drogas, mas sim no tipo penal específico em comento.
Semear: lançar a semente ao solo;
Cultivar: cuidar da plantação;
Colher: retirar a planta do solo.
Descriminalização do porte e plantio para consumo (teorias existentes – tema controverso):
Deixou de ser crime: descriminalização
Deixou de ser punido com pena: despenalização.
As penas serão aplicadas após procedimento judicial, conforme o rito estabelecido para os crimes de menor potencial ofensivo.
Não é possível prisão em flagrante, ainda que o agente se recuse a comparecer na audiência, visto que não há mais a possibilidade de aplicação de pena privativa de liberdade.
Do Tráfico
Art. 12 (lei revogada) Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 a 15 anos e pagamento de 50 a 360 dias-multa.
Art. 33 (lei vigente) Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 5 a 15 anos e pagamento de 500 a 1500 dias-multa.
Obs: a única alteração substancial ocorreu no montante da pena.
Trata-se de tipo penal alternativo misto, ou seja, a prática de mais de uma conduta típica referente ao mesmo fato constitui crime único.
Não havendo nexo causal entre as condutas haverá concurso de crimes.
Sujeito Ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: coletividade
Objeto jurídico: saúde pública
Objeto material: droga
Elemento normativo do tipo: “sem autorização legal” ou em “desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
Elemento subjetivo do tipo: dolo
Condutas (verbos nucleares do tipo penal)
Importar;
Exportar;
Remeter: mandar, entregar, enviar;
Preparar: combinação de substâncias inócuas, para a elaboração da droga;
Produzir: criar;
Fabricar: produção em grande escala;
Adquirir: obter mediante troca, compra ou a título gratuito;
Vender;
Expor à venda: exibir para compradores;
Oferecer: sugerir a título oneroso ou gratuito;
Ter em depósito: reter a coisa para si mesmo;
Transportar;
Trazer consigo;
Guardar;
Prescrever: receitar;
Ministrar: aplicar;
Entregar a consumo;
Fornecer: abastecer
Condutas Equiparadas ao Tráfico
Art. 12, §1º - (lei revogada) Nas mesmas penas incorre quem, indevidamente:
I – importa ou exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda ou oferece, fornece ainda que gratuitamente, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda matéria-prima destinada a preparação de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica;
Art 33, §1º - (lei vigente) Nas mesmas penas incorre quem:
- Nas mesmas penas incorre quem, indevidamente:
I – importa ou exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda ou oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas.
Objeto material: matéria-prima ou insumo para a preparação de drogas
Obs: O STF tem entendido que o éter e acetona constituem matéria-prima para a preparação de drogas apesar de não constarem no rol da Portaria da ANVISA/MS.
Não se exige que o agente tenha a intenção de empregar tais matérias na fabricação da droga, basta que tenha consciência de que tais produtos poderão ser empregados em tal fabricação (posição questionável).
Semeadura, cultivo ou colheita de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas
Art 12, §1º (revogado) – Nas mesmas penas incorre quem:
II – semeia, cultiva ou faz a colheita de plantas destinadas à preparação de entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica.
Art. 33, §1º (vigente) – Nas mesmas incorre quem:
II – semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas.
Nesse caso a semeadura, cultivo e plantio são realizados para o tráfico.
Utilização indevida de local ou bem para que outrem dele se utilize para o fim do tráfico de drogas
Art. 12, §2º (revogado) – Nas mesmas penas incorre, ainda, quem:
II – utiliza local de que tem propriedade, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, para uso indevido ou tráfico ilícito de entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica.
Art. 33, §1º (vigente) - Nas mesmas penas incorre, ainda, quem:
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Induzimento, instigação ou auxílio ao uso indevido de drogas
Art. 12, §2º I (revogado)– Nas mesmas penas incorre, ainda, quem induz, instiga ou auxilia alguém a usar entorpecente ou substância que determine dependência física ou psíquica;
Art. 33, §2º (vigente) – Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena – detenção de 1 a 3 anos e multa de 100 a 300 dias-multa.
Tal conduta não constitui mais crime equiparado ao Tráfico (“novatio legis in mellius”), aplicando-se portanto de forma retroativa.
Esse dispositivo não impede a participação no crime de tráfico. Se o agente participa de qualquer uma das condutas previstas no art. 33 haverá participação. Nesse tipo penal, a conduta incriminada é aquele que auxilia o uso (conduta não contemplada no art. 33).
Cessão gratuita e eventual de drogas
Art. 33, §3º - Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena – detenção de 6 meses a 1 ano e 700 a 1500 dias-multa.
Antes do advento da atual lei, discutia-se na doutrina se aquele que oferecia droga sem intuito de lucro teria sua conduta tipificada no art. 12 – tráfico ou não.
No STF prevalecia o entendimento que mesmo que não houvesse o intuito de lucro a conduta seria do tráfico, criando uma situação injusta...
Atualmente o novel diploma acabou com qualquer controvérsia. E em se tratando de norma mais benéfica deverá ser aplicada retroativamente.
Entretanto, ausente qualquer dos requisitos sublinhados deverá o agente ter sua conduta tipificada no art. 33 (tráfico).
Tráfico de Maquinário
Art. 34 (vigente) – Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação ,preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Penas – reclusão de 3 a 10 anos e pagamento de 50 a 360 dias-multa.
Obs: as condutas descritas nesse tipo penal em muito se assemelham àquelas descritas no artigo 33, por essa razão o artigo 34 é um tipo penal subsidiário.
O Objeto material do artigo, diferentemente dos demais é o maquinismo ou equipamento destinado para a fabricação da droga e não a própria droga.
Não se exige a intenção efetiva de fabricar a droga, basta que o agente tenha ciência (dolo) de que o equipamento pode ser empregado para este fim.
Associação Criminosa
Art. 35 – Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33,” caput” e § 1º e art. 34 desta lei:
Pena: reclusão de 3 a 10 anos e multa de 700 a 1200 dias-multa.
Parágrafo único – nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime previsto no art. 36 desta lei.
Obs: o crime em tela se consuma com a mera associação independentemente da prática de qualquer dos crimes intencionados.
Prevalece o entendimento de que não se admite a tentativa.
Haverá concurso material entre a associação criminosa e os crimes por ela praticados.
Colaboração como informante
Art. 37 – Colaborar como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, “caput” e §1º, e 34 desta Lei:
Pena: reclusão, de 2 a 6 anos e pagamento de 300 a 700 dias-multas.
Trata-se de novidade da referida Lei. Antes de seu advento, quem colaborasse como partícipe na organização criminosa responderia como partícipe no crime de associação criminosa.
Prescrição culposa
Art. 38 – Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas sem que delas necessite o paciente, ou faze-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – detenção de 6 meses a 2 anos e pagamento de 50 a 200 dias-multa.
É a modalidade culposa prevista na lei de drogas.
Não se trata de crime equiparado a hediondo.
Trata-se de crime próprio (somente pode se praticado pro profissionais da saúde).
Em sendo crime culposo não admite tentativa.
Art. 40 – Causas de aumento de pena.
Delação Eficaz
Art. 41 – O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
Benefícios legais
Art. 44 – Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 dessa lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória vedada a conversão em penas restritivas de direitos.
§ único – Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico.
Atenção: o STF julgou inconstitucional a vedação genérica à concessão da liberdade provisória, bem como da conversão em restritiva de direito. Dessa forma, tais benesses poderão ser concedidas ao condenado, considerando o princípio da individualização da pena.
Art. 33, §4º - nos delitos definidos no “caput” e 1º, deste artigo (33) , as penas poderão ser reduzidas de 1/6 até 2/3, vedada a conversão em restritiva de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades nem integre organização criminosa.
Atenção: 
Nos termos já expostos o Senado, por meio de Resolução, suspendeu os efeitos da expressão “vedada a conversão em restritiva de direitos”.
Conforme entendimento do STF a circunstância judicial relativa à primariedade e bons antecedentes somente poderá ser utilizada uma única vez, ou seja, ao na fixação da pena base (circunstância desfavorável) ou na fixação da pena definitiva (redução da pena abaixo do máximo legal).
Conforme entendimento do STF e do STJ (a sumula 512 foi cancelada), o crime de tráfico “privilegiado” não constitui crime equiparado a hediondo.
Procedimento
Indiciado preso: 30d (podendo ser duplicado)
Indiciado solto: 90d (podendo ser duplicado)
O envio dos autos do inquérito não impede a realização de diligências complementares
Recebidos os autos de inquérito policial, o MP tem o prazo de 10 para agir (laudo de constatação).
Notificação do denunciado para oferecer resposta em dez dias (antes do recebimento)
Decisão do juiz recebendo ou rejeitando a denúncia (fundamentadamente)
Designação para audiência em 30 dias.
Audiência de Instrução e julgamento: interrogatório, inquirição das testemunhas; debates (20min prorrogáveis por mais 10)
Sentença
Recurso: o réu não poderá apelar em liberdade, salvo se primário e de bons antecedentes*.
Atenção: o CPP mantinha uma redação semelhante, vedando a possibilidade do réu apelar em liberdade, salvo se primário e de bons antecedentes. 
Entretanto, seguindo a “onda liberatória” tal artigo foi revogado.
A lei 8.072/90 reza que caberá ao juiz decidir no caso concreto se o réu poderá ou não apelar em liberdade, devendo essa orientação também ser aplicada aos crimes de tráfico de drogas.
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