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Aula nº2 - Variações linguísticas e níveis de linguagem

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS
Direito - Língua Portuguesa – Prof. Noslen Pinheiro
Aula nº2 – VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS E NÍVEIS DE LINGUAGEM
A – VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
	Como vimos, uma língua não é estática. À medida que o tempo passa, algumas palavras vão deixando de ser utilizadas e outras, em contrapartida, vão surgindo a fim de satisfazer, dentre outros fatores, os avanços tecnológico e científico. Porém, a variação de uma língua não se dá apenas através de sua história. 
Se observarmos o uso da língua  portuguesa em uma determinada época (a do início do século XXI, por exemplo), verificamos que ela apresenta perceptíveis variações, dependendo de alguns fatores como: região, classe social, idade e sexo do falante. Além disso, nota-se também que um mesmo indivíduo, dependendo da circunstância em que se encontra, usa, muitas vezes, um nível de linguagem diferenciado.
	Essas variações linguísticas podem ser divididas em quatro modalidades:
1. Variação histórica ou diacrônica
	João Ferreira de Almeida, em 1861, traduziu o Novo Testamento do grego para a língua  portuguesa. Até hoje, a versão da Bíblia feita por Almeida é uma das mais queridas e apreciadas no Brasil. Transcrevemos abaixo, a título de curiosidade, um trecho do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas, traduzido no século XVII e, logo em seguida, sua tradução em português do século XX.	
	“Um homem tinha dous filhos. E disse o mais moço delles a seu pae: Pae, dáme a parte que (me) pertence, e elle repartio a fazenda. E depois de não muitos dias, ajuntando o filho mais moço tudo, partiose a huã terra muy longe, e ali desperdiçou sua fazenda, vivendo disolutamente. E desque já teve tudo desperdiçado veio huã grande fome n’aquella terra, e começou a padecer necessidade. E foi, e achegouse a hum dos cidadaõs d’aquella terra; o qual o mandou a sua quinta, a apascentar os porcos. E desejava encher seu ventre das mondadouras que comiaõ os porcos, e ninguém lhas dava. E tornando em si disse: Quantos jornaleiros de pae tem abundancia de pam, e eu aqui pereço de fome.” (Lucas, cap. 15, vs. 11-17, versão Almeida, 1681)
	 “Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gasto tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi e chegou-se a uma dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar os porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores demeu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!” (Lucas, cap. 15, vs. 11-17, versão Almeida, 1995, revista e corrigida)
	
Como se pode notar, ocorreram várias modificações. Essas variações se devem ao fato de que as línguas se alteram com o passar do tempo. As alterações ocorrem tanto na grafia quando no sentido de muitas palavras.
	Vejamos agora o seguinte texto de Carlos Drummond de Andrade:
	“Antigamente as moças se chamavam mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pés-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia (...) Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo a tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água”. (Andrade, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998)
	
Observação:
	As palavras que deixam de ser usadas recebem o nome de arcaísmos. As palavras que vão surgindo recebem o nome de neologismos. Neologismo é a denominação dada à palavra recém-criada ou mesmo a uma palavra que adquire um novo significado: neologismar é o ato de criar neologismos. Por exemplo:
	→ Em 1990, Antônio Rogério Magri, ministro do Trabalho do governo Collor, criou o termo “imexível”, que, na época, foi motivo de risadas pelos puristas da língua. O Dicionário Houaiss, já registrou essa palavra.
	→ Na Revista Imprensa, nº 109, de outubro de 1996, a Telesp publicou a seguinte propaganda: “A Telesp está inaugurando 28 mil telefones públicos a cartão. Contamos com você para não desinaugurar.” O verbo “desinaugurar” é um neologismo. [...]
	→ A própria palavra ‘apagão’, que se tornou moda no Brasil a partir de 2001 com o processo de racionamento de energia elétrica, é um neologismo.
	→ A palavra ‘moçoloirar’ foi utilizada na obra Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, e nunca foi dicionarizada.
2. Variação social ou diastrática
	Os membros de uma comunidade, mesmo que nascidos e criados num âmbito restrito, não usam as mesmas formas de expressão. Existem diferenças explícitas no uso da língua de acordo com a idade, com a classe social, com o gênero do falante ou com o grupo. 
	A variação social está vinculada à cultura dos grupos. Portanto, a linguagem de cada grupo será diferente de acordo com o léxico e as convenções estabelecidas e difundidas pelos próprios integrantes de determinado segmento na sociedade. 
Sabemos, por exemplo, que o léxico dos skatista se difere em muitos graus do léxico dos presidiários. E a linguagem dos presidiários não é a mesma que dos advogados. Do mesmo modo, a linguagem de um grupo de adolescentes não é a mesma que a de seus avós. E ainda podemos afirmar que o vocabulário utilizado pelos advogados não é o mesmo que aquele usado pelos publicitários. Isso demonstra que, numa sociedade, o indivíduo usa determinada linguagem para poder fazer parte de um grupo e ser aceito. E pde se adequar ao universo lexical de outro grupo se desejar fazer parte deste.
3. Variação geográfica ou diatópica
	Observe os seguintes textos:
	
Texto 1:
	— Vistes, tchê? O brigadiano está num baita borracho. — Disse o dono do bar.
	— Sabes que ele se meteu numa peleia por causa de uma chinoca? — Contou o garçom.
	— É cupincha ... gaudério que se mete com essas gurias só acaba no entrevero. — Observou o proprietário.
	
Texto 2:
	— Ôche, cabra, que bagaceira é essa? E essa catinga? — Pergunta a mãe para o filho.
	— Visse! Se apérrei não, mainha. Tá me atazanando cedo hoje. Arrumei o quarto não pórque tô cansado. — disse o filho.
	— Se avexe, abestalhado que te dou uma pisa! — ameaçou a mulher.
	
Texto 3:
	— Ô, minha fia, vai na venda e compra um quidicarne muída e masdepastel qui vô fazê um pastelzim gostôz pru seu pai. — fala carinhosamente a mãe.
	— Vô comprá um chup-chup pra mim tamém. — falou esperançosa a garotinha.
	— Hoje não, minha fia. Com as nica ocê compra pão de doce e pão de sal pra nóis tomá café de tarde. — arrematou a senhora.
	O primeiro trecho apresenta características do falar do Rio Grande do Sul, o segundo trata do falar caipira nordeste e o terceiro registra a fala de um habitante da zona rural de Minas.
	Num país de vasta extensão territorial, como é o caso do Brasil, é comum verificarmos o emprego de algumas palavras que são conhecidas apenas em determinadas regiões, caracterizando os chamados regionalismos. Como exemplos, podemos citar: no Maranhão, ri-ri significa zíper; macaxeira ou aipim, no Nordeste, corresponde a mandioca; cacetinho, na Bahia e Rio Grande do Sul, equivale ao nosso pão francês, que em Belém é pão careca ou apenas careca. 
	Do ponto de vista fonético, há também diferenças: caracteriza, de certo modo, a pronúncia de toda a região nordestina brasileira a abertura davogal pretônica, como em dézembro, ménino e cólina, regularmente fechada em outras regiões. Já no Rio Grande do Sul, são produzidas as vogais /e/ e /o/ átonas finais, pronunciadas como /i/ e /u/ em São Paulo. Ex: parede (RS), paredi (SP). No sertão baiano, o fonema /t/ é pronunciado como um /tch/; assim, ‘oito’ se diz ‘oitcho’. Na região do rio São Francisco, a palavra ‘dama’, pouco usada em São Paulo, tem o significado de ‘meretriz’.
	Outros regionalismos:
birita (Rio de Janeiro e São Paulo): cachaça.
cafundó (Bahia): lugar afastado, de difícil acesso.
fifo (Bahia e Minas Gerais): pequeno lampião.
Se, no território brasileiro, já existe uma grande variação linguística regional, o que se dirá ao se comparar a língua portuguesa do Brasil com a língua portuguesa de Portugal.
�
Abridor de Garrafas – tira-cápsulas
Aposentado – reformado
Banheiro – casa de banho
Bala – rebuçado
Band-aid – penso rápido
Bonde – elétrico
Cardápio – ementa
Chiclete – pastilha elástica
Cinema – animatógrafo
Conversível – descapotável
Frentista – gasolineiro
Fila – bicha
Goleiro – guarda-redes
Ônibus – auto-carro
Peruca – capacinho.
Privada, vaso sanitário – retrete
Sanduíche – sandes
Secretária eletrônica – atendedor automático
Tigela – malga
Trem - comboio
Vitrina - montra
Meia de homem – peúga
�
	
	Embora as diferenças de vocabulário entre o português do Brasil e o de Portugal sejam as mais nítidas, não são as únicas. Podemos assinalar ainda algumas diferenças nos campos fonético e sintático. 
	Na fonética
	1 – A vogal ‘a’, em Portugal, soa quase como ‘ê’: Mâria, câjâdo;
	2 – As vogais /o/ e /e/, em Portugal, quando átonas, soam como /u/ e /i/: curação, Dulores;
	3 – No falar lusitano, o ditongo ‘ei’ equivale a ‘âi’: câijo (queijo), dâixo (deixo);
	4 – Em Portugal, aparece um /e/ ou /i/ no final das palavras terminadas em ‘l’ e ‘r’: lari (lar), pastele (pastel), mari (mar) etc;
5 – No Brasil, na maioria das regiões, fala-se mais letamente, pronunciando-se calmamente as sílabas, ao passo que, em Portugal, fala-se rapidamente e, às vezes, com supressão de vogais: m’nino (menino), p’ru (peru).
	Na sintaxe
	1 – Na língua moderna, o brasileiro prefere o gerúndio, enquanto o português usa o infinitivo preposicionado: estou lendo (no Brasil); estou a ler (em Portugal);
	2 – No Brasil, preferimos a preposição ‘em’ em lugar da preposição ‘a’: estou na janela (Brasil); estou à janela	(Portugal);
	3 – No Brasil, inicia-se a frase com pronome oblíquo, o que não acontece em Portugal: “Me dá o livro” (Brasil); “Dá-me o livro”. (Portugal).
4. Variação estilística ou diafásica
	A língua varia ainda em outra dimensão, no interior de um dialeto, em função das circunstâncias específicas em que se realiza o ato de fala: conforme o canal utilizado na comunicação, conforme o grau de intimidade existente entre os interlocutores, conforme o assunto tratado, o local em que ocorre a interação. 
Assim é que, diferentes recursos da língua são mobilizados conforme o falante esteja se comunicando oralmente ou por escrito, conforme a situação de fala permita um estilo mais informal ou exija uma linguagem mais formal.
Desse modo, afirmamos que, na variação estilística, o utente adapta sua linguagem de acordo com o interlocutor e a situação linguística formal ou informal. Mas é importante lembrar que nem todos os nativos de uma língua são capazes de adequar a linguagem a uma situação formal. Tomem-se como exemplos os analfabetos, os índios, os deficientes mentais e as crianças em fase de alfabetização. Para essas pessoas, a comunicação é algo espontâneo, natural, sem preocupação com as regras estabelecidas pela gramática normativa.
Podemos citar como exemplo, uma situação em que um juiz se pronuncia num tribunal e como se comporta linguisticamente em uma situação descontraída, um churrasco com amigos, por exemplo. Do mesmo modo, a maneira que uma médica se comunica com um superior em um hospital não é mesma que a utilizada com seus filhos. 
QUADRO-RESUMO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
	Histórica ou Diacrônica
	Transforma-se com o tempo.
	
Ex.:
 Idéia → Ideia
 Photo → Foto
 Êle → Ele
 Garboso → Bonito
	Geográfica ou Diatópica 
	Muda de região para região.
	
Ex.:
 Vocabulário.
 sacolé / gelinho / geladinho / chup-chup
 Fonética.
 cólina / culina / côlina
 Sintaxe.
 Estou estudando (BRA).
 Estou a estudar (POR).
	Social ou Diastrática
	Varia de acordo com o grupo, a idade, a classe social e o gênero.
	
Ex.:
 Idade
 Broto / Mina
 Classe Social
 Muié / Mulher
 Sexo
 Chic / Chiquérrimo
 Juuuuuura? / Sério?
 Grupo social
 Acué → Dinheiro (travestis)
 Flat → Mar liso, sem ondas (surfistas)
 Budget → Orçamento (Publicitários)
 Trolley → carrinho de bebidas (comissários)
	Estilística ou Diafásica
	Modifica-se de acordo com o interlocutor e a situação.
	
Ex.: 
 Vocês → Os senhores.
 (Informal) (Formal)
 Tks → Obrigado.
 (Informal) (Formal)
 Tb → Também
 (Informal) (Formal)
B – NÍVEIS DE LINGUAGEM.
	Como falantes da Língua Portuguesa, percebemos que há situações em que a língua se apresenta sob uma forma bastante diferente daquela que nos habituamos a ouvir em casa ou nos meios de comunicação. Essa diferença pode manifestar-se tanto pelo vocabulário utilizado como pela pronúncia ou organização da frase.
	Nas relações sociais, observamos que nem todos falam da mesma forma. Isso ocorre porque a língua é um sistema dinâmico e extremamente sensível a fatores como a região geográfica, o sexo, a idade, a classe social dos falantes e o grau de formalidade do contexto. Essas diferenças constituem as "variações linguísticas".
	Seja na fala ou na escrita, a linguagem de uma pessoa pode variar, ou seja, passar de culta ou padrão a coloquial ou até mesmo a vulgar. As condições de produção irão determinar formulações linguísticas que apresentam aspectos específicos, conforme o tipo de texto produzido.
	É preciso esclarecer que tanto a fala como a escrita abarcam aspectos que vão desde o nível mais informal ao mais formal, passando por níveis intermediários. Assim a informalidade consiste em apenas uma das modalidades de realização não só da fala, como também da escrita.
	O gramático Evanildo Bechara ensina que é preciso ser “poliglota de nossa língua”. Poliglota é a pessoa que fala várias línguas. No caso, ser poliglota do português significa ter domínio do maior número possível de variedades linguísticas e saber utilizá-las nas mais diferentes situações.
	Francis Vanoye, em Usos da linguagem: problemas e técnicas de expressão oral e escrita, assim distingue os níveis de linguagem:
	A linguagem familiar é a que mais recorre às expressões pitorescas, regionalismos e à gíria. Recorre ainda às expressões idiomáticas, interjeições e mudanças semânticas. Apresenta também a erros gramaticais (concordância, regência, ortografia etc.). Suas construções, vistas sob o olhar da formalidade, são tidas como “incorreções graves”. É natural, expressiva, livre de convenções sociais. Observe os textos:
Linguagem de chat: “Eu sei, eu ti vi na pista se acabando com mais alguém… Normal, hehehehe, é a vaibe. Se liga que sexta tem de novo, voltaê aki no saite.”
Linguagem oral: “Brô, as mina não quer mais ir de sábado pro funk. A gente chamamos quem agora?”
	A linguagem comum pode ser considerada um tipo de linguagem espontânea, ou seja, utilizada  para  satisfazer as  necessidades  vitais do falante sem  muita  preocupação com  as normas linguísticas. É a língua cotidiana, que comete pequenos – mas perdoáveis – deslizes gramaticais. Também se empregam reduções, o termo “a gente”, expressõesidiomáticas, diminutivos ou aumentativos, metáforas, mudança semântica etc. 
Linguagem oral: “Ainda tem dois sujeitos debaixo dum monte de terra no deslizamento. Mas eles não terminaram de procurar”.
Texto de e-mail: “Paulo, a visita técnica vai ser 15h. Se quiser dou uma passadinha aí pra explicar pra eles.”
	A linguagem cuidada emprega um vocabulário mais preciso com uma construção mais elaborada. Preza pelas normas gramaticais. É o conjunto de formas consideradas como o modo correto, socialmente aceitável, de falar ou escrever.
Matéria de internet: “A maior parte das animações e programas voltados para as crianças submete-se somente ao caráter de espetáculo, de atrativo. Novas tecnologias são introduzidas, mas a violência, o vocabulário vulgar, a competição e o consumo são incitados. Além disso, artistas, cientistas, professores, idosos, estudiosos são amplamente divulgados de modo estereotipado.” (Denise da Costa Oliveira Siqueira, 14/07/08)
Texto jurídico escrito: “Em face do exposto e pela prova documental anexada, este órgão do Ministério Público requer que seja declarada extinta a Fundação XYZ.”
	A linguagem oratória cultiva os efeitos sintáticos mais complexos, rítmicos e sonoros; também pode se valer de neologismos e arcaísmos. É uma linguagem que beira o ininteligível, a obscuridade, o preciosismo. É comum nas línguas de especialidade. 
Texto jurídico escrito: “Em sua peça contestatória, o réu alevanta preliminar de nulidade, ao suposto de que este processo estaria perniciado pelo vírus letal da nulidade e, à luz de seu lampejo, a contar de sua peça inaugural.”
Texto bíblico: Vistam-se os meus adversários de opróbio, e cubram-se com a sua própria confusão como com uma capa. Louvarei grandemente ao Senhor com a minha boca; louvá-lo-ei entre a multidão.
	O que é valido, portanto, é abandonar o conceito de certo e errado na linguagem e adotar o de “adequação”: a língua permite muitas variantes e é importante saber se adequar à situação comunicativa. Os termos “certo” e “errado” carregam juízo de valor e levam ao preconceito. 
	Por isso temos a tendência a nos rebelar sempre que vemos ou ouvimos alguma coisa que vá contra o que um dia aprendemos como certo. Cabe lembrar que a norma é a regra daquilo que pode ou não ser usado na língua oral ou escrita. Não se deve transformar o conhecimento dessas regras num mecanismo para discriminar os que não as conhecem.
	Ademais, devemos estar cientes que a preocupação com a comunicação deve ser alicerçada principalmente no interlocutor e na situação, envolvendo aspectos como contexto, época etc.
	A norma é a marca do chamado padrão culto da língua, que é apenas uma das variantes linguísticas. Observe as possibilidades:
	Encontro-me azombado. (linguagem oratória, pretensiosa, ultrapassada);
	Estou preocupado. (linguagem cuidada, variedade padrão);
	Tô cismado. (linguagem comum, marcas de oralidade, desvios);
	Tô grilado. (linguagem familiar, gírias, regionalismos, solecismo, vícios).
	No âmbito formal, devemos aplicar sempre uma linguagem o mais cuidada possível, tanto na esfera oral quanto escrita. Mas no dia a dia, em situações informais, é aceitável e, por vezes, coerente que pratiquemos uma linguagem mais descontraída, para não sermos considerados pedantes. Por outro lado, a linguagem oratória deve ser evitada (apesar de muitos profissionais pensarem que devem usá-la para impressionar), pois sua adoção transparece um texto ultrapassado e pretensioso, e geralmente o deixa obscuro.
	Observe a diferença nos exemplos a seguir:
	Linguagem oratória (ultrapassada, pretensiosa e obscura):
	Destarte, como coroamento desta peça-ovo emerge a premente necessidade de jurisdição fulminante, aqui suplicada a Vossa Excelência. 
	Linguagem cuidada para o mesmo texto (variedade padrão):
	Assim, conclui-se ser necessária jurisdição para esta petição inicial, aqui solicitada a Vossa Excelência. 
	Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos casos de textos escritos considerando interlocutor e situação. O que normalmente se comete são transgressões em relação à norma culta. De fato, aquele que, num momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele falar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride a norma culta.
	Deve-se considerar, assim, o momento do discurso, que pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o das liberdades da fala. Em casa, entre amigos, parentes, namorados etc.; portanto, são consideradas aceitáveis construções do tipo:
Eu não vi ela hoje / Ninguém deixou ele falar / Deixa eu ver isso! / Eu te amo, pois você é muito importante para mim / Não assisti o filme / Sou teu pai, você tem que me obedecer! 
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico o que é, como se faz. 51ªed., São Paulo, Loyola, 1999. 
CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramatica do Português Contemporâneo. Lexikon Editorial, 6ª ed., 2013. (p. 1 a 8)
POSTAL, Jairo & Postal, Márcia Rita Lazzarini. Linguagem, língua e comunicação. São Paulo: Catálise, 2ª ed. 2011. (p. 15 a 27)
VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas de expressão oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1ª ed. 2007.

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