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Autora: Profa. Angélica Lúcia Carlini
Colaboradora: Amarilis Tudella Nanias
Teoria Política
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Professora conteudista: Angélica Lúcia Carlini
Angélica Carlini é graduada em Direito pela PUC de São Paulo. É Mestre em História Contemporânea, Mestre em 
Direito Civil, Doutora em Educação e Doutora em Direito Político e Econômico.
É professora do curso de Direito da Universidade Paulista – UNIP e membro da Comissão de Qualificação e Avaliação 
– CQA. É professora convidada em cursos de pós‑graduação em várias universidades brasileiras.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C282t Carlini, Angélica Lúcia.
Teoria política. / Angélica Lúcia Carlini. – São Paulo: Editora Sol, 2014.
116 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2‑036/14, ISSN 1517‑9230.
1. Teoria política. 2. Formas de governo. 3. Pensamento político 
moderno. I. Título.
CDU 32
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Cristina Z. Fraracio
 Amanda Casale
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Sumário
Teoria Política
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 AS FORMAS DE GOVERNO ........................................................................................................................... 13
2 A REPÚBLICA E O PODER NA IDADE MÉDIA ........................................................................................ 27
2.1 República ................................................................................................................................................. 27
2.2 O poder na Idade Média: subordinação da política à religião, ausência de 
Estado soberano e poderes locais ......................................................................................................... 31
3 O PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO E A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO .................. 38
4 OS PENSADORES MAQUIAVEL E HOBBES ............................................................................................. 41
4.1 Nicolau Maquiavel ............................................................................................................................... 41
4.2 Thomas Hobbes ..................................................................................................................................... 47
Unidade II
5 O PENSAMENTO POLÍTICO CONTEMPORÂNEO E A DEMOCRACIA .............................................. 58
6 AS REVOLUÇÕES LIBERAIS OU REVOLUÇÕES BURGUESAS ........................................................... 69
6.1 A Revolução Russa ............................................................................................................................... 76
6.2 O Estado Nacional‑Socialista .......................................................................................................... 79
6.3 O Estado do Bem‑estar Social ......................................................................................................... 80
6.4 Doutrina social da Igreja ................................................................................................................... 82
7 CONCEPÇÕES DE ESTADO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ........................................................... 89
8 DEMOCRACIA .................................................................................................................................................... 98
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APRESENTAÇÃO
Vamos analisar as formas de governo mais conhecidas entre os grupamentos sociais ao longo da 
História que são a monarquia, a aristocracia e a democracia.
Também estudaremos o sentido de república em suas diversas formas históricas e recuperaremos os 
principais aspectos da história do poder na Idade Média, período marcado pela subordinação da política 
à religião, pela ausência de um Estado soberano e pela preponderância de poderes locais.
Esses saberes estudados de forma organizada formarão uma base intelectual interessante para que 
seja possível avançar na formação do pensamento crítico sobre as ideias políticas de que trataremos ao 
longo do livro‑texto.
Estudaremos o Pensamento Político Moderno e o Estado Moderno, começando nossa discussão com 
as ideias de Maquiavel sobre a autonomia política e sobre a moral própria daqueles que ocupam o poder. 
Em seguida, refletiremos sobre a contribuição do pensamento de Thomas Hobbes e o papel do Estado, 
que ele chamou de Leviatã.
Em seguida, nosso foco será o pensamento político contemporâneo e a democracia, com especial 
atenção para as lutas liberais burguesas que marcaram a derrubada do absolutismo e a instauração de 
um Estado liberal com forte atenção à proteção da propriedade. A contribuição da Revolução Francesa 
merecerá especial atenção em razão de sua importância e enorme repercussão para a formação da 
democracia moderna.
Estudaremos, além disso, as contribuições de John Locke e de Jean Jacques Rousseau, bem como o 
pensamento iluminista.
Trataremos da contribuição de Montesquieu sobre a tripartição de poderes, conhecimento essencial 
para a análise do que acontece na atualidade no Brasil, quando se pode constatar a fragilidade dessa 
divisão de poderes e certa supremacia do Poder Judiciário sobre o Executivo e o Legislativo. O julgamento 
do “mensalão”, transmitido ao vivo para todo o país e que mobilizou fortemente o debate público ao 
longo de 2013, é um bom exemplo de que, entre nós, a teoria da divisão de poderes merece novos e 
complexos estudos.
Por fim, falaremos sobre as concepções do Estado no mundo contemporâneo, com especial ênfase no 
estudo do Estado do bem‑estar social e no Estado democrático de direito, suas principais características 
e contribuições.
Também nos dedicaremos ao estudo do Estado neoliberal e globalizado que temos atualmente e, não 
como exercício de futurologia, mas como exercício de reflexão, tentaremos traçar as características do 
Estado no século XXI, marcado por problemas antigos, como a fome e a pobreza em muitos países e por 
problemascom os quais os homens estão só aprendendo a lidar, como o terrorismo e sua destruição em 
massa de civis em atentados que aterrorizam parte da Europa e, em especial, os países do Oriente Médio.
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Depois dessa trajetória, temos a expectativa de que nosso aluno esteja preparado para compreender 
melhor o mundo em que vive e para decidir suas ações políticas e sociais com fundamento e convicção, 
porque será detentor de conhecimento capaz de orientá‑lo e de permitir a análise profunda e rigorosa 
que se espera de um profissional de Serviço Social.
INTRODUÇÃO
A expressão “política” assumiu em nossos tempos um sentido quase pejorativo. Não é raro 
encontrarmos quem se referira a coisas ruins como “coisa da política”, associando situações negativas 
com práticas que conteriam um sentido escuso, ou pouco transparente.
O mesmo sentimento negativo prevalece, quase sempre, quando nos referimos a alguém que ocupa 
um cargo no Poder Legislativo, no Executivo ou no Judiciário. É comum encontrarmos quem afirme 
que políticos nunca são honestos, que não possuem sensibilidade para proteger o bem comum e que se 
apropriam indevidamente do que não lhes pertence.
Não será difícil encontrar entre seus amigos, familiares e colegas de trabalho quem associe o trabalho 
dos políticos com inutilidade e defenda o fim dos cargos legislativos de vereador ou deputado sob a 
alegação de que “eles não fazem nada mesmo”.
Por que teria a política caído em tanto descrédito entre nós? Por que uma atividade que foi tão nobre 
em momentos marcantes da história da Humanidade, como na Grécia Antiga e no Império Romano, 
estaria atualmente, em especial no Brasil, relegada a tanto descrédito e desconfiança da população?
Tentaremos responder a esses e outros questionamentos ao longo deste trabalho, que tem por 
objetivo principal permitir que o aluno construa uma visão ampla e crítica sobre a política, seus conceitos 
e fundamentos.
E o que seria uma visão crítica?
É aquela que se pode obter a partir da análise de conceitos, de fatos históricos, de impactos sociais 
de decisões adotadas por lideranças políticas em diversos momentos da história, de ideias e teorias que 
formam a herança política da Humanidade.
Mas a visão crítica não serve apenas para análise de fatos passados, pois é fundamental para fornecer 
subsídios para decisões no presente e no futuro. É por isso que um aluno de curso universitário que está 
se preparando para o exercício de uma determinada profissão precisa possuir visão crítica da política e 
da sociedade: porque muito breve ele estará em posição profissional de tomar decisões e precisará de 
subsídios para fundamentar as razões de suas escolhas.
Se tomar decisões é relevante em várias profissões que conhecemos, na área de Serviço Social, a 
tomada de decisões é essencial e muito significativa. O profissional de Serviço Social, ao decidir deve, 
quase sempre, apresentar argumentos que sustentem sua decisão perante a equipe (uma vez que o 
trabalho, nessa área, frequentemente é coletivo) e que convençam os gestores públicos e privados 
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responsáveis por disponibilizar recursos para que o projeto seja implantado. Além disso, principalmente, 
é necessário que possuia fundamentação para dialogar com todos aqueles que serão destinatários das 
decisões adotadas.
Imagine que você, como membro de uma equipe da Secretaria de Serviço Social da Prefeitura Municipal 
de Xantinhoraí (essa cidade é imaginária, não se preocupe em procurá‑la no mapa do Brasil), deva defender 
posição em favor de uma determinada ação afirmativa, por exemplo, em relação a uma comunidade indígena 
existente no local. Você intenciona que nessa comunidade seja construída uma escola de música para preservar 
a cultura musical daquela etnia indígena, mas enfrenta forte resistência daqueles que argumentam que os 
recursos públicos devem ser utilizados em benefício de muitos e não de pequenos grupos.
Com conhecimentos históricos, políticos, culturais e sociais sólidos e bem organizados, você estará 
muito mais preparado para enfrentar o debate sobre as razões que justificam a organização da escola de 
música na comunidade indígena. Basta, por exemplo, que você argumente sobre a histórica ausência de 
políticas sociais em favor da preservação da cultura indígena, sobre como o Brasil ignorou solenemente 
a importância dessa cultura e somente há pouco tempo tem se dedicado com maior vigor a estudar 
e preservar as diferentes manifestações culturais dos diferentes povos indígenas do país. Será ainda 
preciso que você explique a razão de os gestores públicos brasileiros em diferentes níveis, municipal, 
estadual e federal, haverem menosprezado a preservação da cultura indígena como importante forma 
de construção da identidade nacional. Por que as escolhas oficiais dos governantes têm sido sempre o 
desprezo à cultura indígena e a valorização da cultura europeia, por exemplo?
Essas escolhas não são aleatórias, ao contrário, são fruto de decisões aparentemente racionais, mas 
que nem sempre estão municiadas de dados políticos, históricos, sociais e culturais de maior relevância.
Muito provavelmente você, ao estudar teoria política, vai conseguir desenvolver argumentos para 
suas escolhas que as tornem mais defensáveis, mais fundamentadas e, com certeza, melhores para a 
sociedade destinatária de seu trabalho profissional.
O profissional de Serviço Social, ao longo de sua carreira, estabelece diálogo permanente 
com a sociedade e com os gestores públicos. Diálogo quase sempre tenso, marcado por demandas 
historicamente negadas às camadas de baixa renda da população (saúde, educação, moradia, transporte 
público, segurança, creches, entre outros) e por interesses políticos nem sempre coincidentes com essas 
demandas sociais. Construir pontes, viadutos e prédios suntuosos dá muito maior visibilidade que 
construir estações de tratamento de esgoto ou ampliar a rede de captação de esgoto. Em meio a tensões 
dessa natureza é que o profissional de Serviço Social exerce suas atividades.
Conhecimento sobre política ajuda o profissional de Serviço Social a compreender, analisar e tomar 
decisões corretas. Um dos objetivos deste livro é exatamente este: fornecer material teórico que permita 
ao futuro profissional possuir subsídios para suas escolhas e decisões.
Mas existe outro objetivo igualmente importante que este livro pretende conseguir: tornar você 
mais preparado para o exercício da cidadania ativa, aquela que não se esgota no voto obrigatório para 
escolha de cargos eletivos.
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Ser cidadão é muito mais que comparecer às urnas e votar, é participar do debate político em 
todos os lugares em que ele acontece, seja nas conversas da família, dos amigos, nas redes sociais, 
nos espaços de participação que estão à disposição da sociedade e que nem sempre são utilizados de 
forma adequada, como acontece com os conselhos municipais de saúde, de educação, de segurança, 
de proteção da criança e do adolescente, ou ainda nas audiências públicas convocadas pelos órgãos de 
governo para discutir projetos de lei, orçamento comunitário ou participativo, entre outros.
Esses espaços de participação política existem no Brasil por força da Constituição Federal de 1988, 
mas nem sempre são utilizados de forma adequada porque poucas pessoas se interessam por participar 
de reuniões, estudar os documentos oficiais que subsidiam o debate e aprofundar o conhecimento sobre 
aspectos técnicos dos projetos ou iniciativas públicas que estejam sendo discutidos.
A AgênciaNacional de Saúde Suplementar, por exemplo, que é o órgão regulador da atividade de 
saúde privada no país, disponibiliza em seu portal na rede mundial de computadores alguns projetos de 
resoluções que vai adotar e fixa um prazo para que toda a sociedade possa participar com o envio de 
sugestões para aprimorar a regulação que será feita.
Os planos de saúde são contratados no Brasil na atualidade por quase cinquenta milhões de pessoas. 
Muitos trabalhadores da indústria, do comércio e da prestação de serviços são usuários de planos de saúde 
privados custeados no todo ou em parte por seus empregadores. Ser usuário de um plano de saúde é uma 
realidade que atinge cinquenta milhões de pessoas e, ao mesmo tempo, é um sonho de muitos outros 
milhões de pessoas que desejam sair do Sistema Único de Saúde – SUS e utilizar um sistema privado 
que lhes dê maior conforto e segurança. No entanto, poucos usuários de planos de saúde privados têm 
conhecimento de que podem participar da melhoria da regulamentação do sistema por meio de sugestões. 
E entre os não usuários, essa possibilidade de participação, muitas vezes, sequer é conhecida.
As Câmaras Municipais e as Prefeituras dos Municípios também podem organizar audiências públicas 
para ouvir a população sobre temas de maior relevância, inclusive sobre prioridade na utilização de 
verbas do orçamento público. No entanto, embora exista previsão legal para que isso aconteça, na 
prática, ainda há pouca utilização desse instrumento de participação popular.
Ao estudar Teoria Política, você estará mais preparado para atuar em situações como essas, em 
que a opinião da população é essencial e deve ser ouvida pelos gestores públicos. Também estará mais 
preparado para organizar grupos de pressão que possam defender interesses sociais relevantes perante 
o poder público, como grupos de moradores de um determinado bairro, ou grupos de pais de uma 
determinada escola rural que não esteja sendo atendida de forma adequada, ou, ainda, usuários de um 
posto de saúde que precisa de melhorias.
Em todas essas situações, seu conhecimento estará a serviço da sociedade e, o que é ainda melhor, 
sendo utilizado em benefício dela. Os frutos de seus estudos estarão à disposição para fortalecer a 
cidadania ativa, a participação direta da população nos temas de seu próprio interesse.
Por essas razões, de ordem profissional e social, a expectativa é que este trabalho seja muito útil para 
você.
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Para começar a aquecer suas reflexões sobre Teoria Política, leia com atenção o poema a seguir, de 
Bertold Brecht:
O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do 
sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a 
política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor 
abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e 
lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
Fonte: BRECHT (s.d.).
Eugen Berthold Friedrich Brecht foi um importante dramaturgo e poeta alemão do século XX. Viveu 
o período das duas grandes guerras mundiais e, por causa do nazismo, teve que abandonar seu país 
natal para viver em outros países da Europa. Note que esse poema, com certeza, é uma excelente forma 
de começar uma reflexão sobre Política e sua importância na nossa formação profissional e cidadã.
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TEORIA POLÍTICA
Unidade I
A partir de agora vamos nos dedicar ao estudo das formas de governo, da República e do poder na 
Idade Média.
1 AS FORMAS DE GOVERNO
O Homem sempre viveu em grupos mais ou menos organizados e isso se deu por uma 
razão de grande importância: a sobrevivência. Só em grupo o Homem conseguia dar conta de 
todos os muitos tipos de ameaças naturais, como ataques de animais ferozes, tempestades e 
raios que destruíam e incendiavam campos e abrigos. Contudo, também era em grupos que 
o Homem conseguia empreender melhores esforços para dar conta de sua sobrevivência e da 
procriação.
Assim, o trabalho em grupo da busca da alimentação, de abrigo, de construção de mecanismos 
que permitissem a vida mais tranquila e confortável, foi desde logo percebido como um valor 
a ser preservado. A organização de poder nesses grupos, no entanto, é até os dias de hoje um 
problema de grande envergadura nas diversas sociedades organizadas que temos em todo o 
planeta.
Não há, a princípio, uma forma de organização de poder que agrade a todos e que não suscite 
críticas. Exercer o poder, ou seja, governar é angariar adeptos e críticos, amigos e inimigos, conviver com 
elogios e, principalmente, com muitas críticas.
Vários estudiosos de política se dedicaram a tentar sistematizar as diversas formas de governo que 
o mundo já vivenciou e aprofundar o conhecimento sobre como elas se desenvolveram. Neste trabalho, 
vamos nos deter na avaliação da classificação de governo construída por três célebres estudiosos: 
Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu.
Aristóteles nasceu em Estagira, na Grécia, em 384 a.C. e faleceu em Cálcis, Eubeia, também na 
Grécia, em 322 a.C. Foi discípulo de Platão, tutor de Alexandre, o Grande, e é considerado o pai da 
Ciência Política Ocidental. Foi o fundador em Atenas de uma escola que desenvolveu pesquisas em 
várias áreas do conhecimento e que tinha o nome de Liceu. Contudo, o grande destaque de Aristóteles 
foram os estudos de política e de filosofia.
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Unidade I
Figura 1 – Aristóteles
Uma interessante reflexão de Aristóteles em seu livro A Política pode ser utilizada até os dias de hoje 
para nos auxiliar na compreensão da sociedade em que vivemos. Afirmava Aristóteles (2000, p. 5):
Assim, o homem é um animal cívico (político), mais social do que as abelhas 
e os outros animais que vivem juntos. [...] O Estado, ou sociedade política, 
é até mesmo o primeiro objetivo a que se propôs a natureza. O todo existe 
necessariamente antes da parte. As sociedades domésticas e os indivíduos 
não são senão as partes integrantes da Cidade, todos subordinados ao 
corpo inteiro, todas distintas por seus poderes e suas funções, e todas 
inúteis quando desarticuladas, semelhantes às mãos e aos pés que, uma vez 
separados do corpo, só conservam o nome e a aparência, sem a realidade, 
como uma mão de pedra. O mesmo ocorre com os membros da Cidade: 
nenhum pode bastar‑se a si mesmo. Aquele que não precisa dos outros 
homens, ou que não pode resolver‑se a ficar com eles, ou é um deus ou 
é um bruto. Assim a inclinação natural leva os homens a este gênero de 
sociedade.
Para Aristóteles, a sociedade é o eixo do indivíduo e, salvo se for um deus, ou seja, uma figura mítica 
capaz de solucionar todos os seus problemas e ter total domínio sobre seu destino – o que, sabemos, é 
completamente imaginário e irreal – o Homem só desenvolverá plenamente seu potencial se inserido 
em uma sociedade.
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TEORIA POLÍTICA
Esse pensamento é, no mínimo, curioso para todos nós, que vivemos no mundo contemporâneo, 
marcado por excessivo individualismo e no qual as discussões sobre o bem‑estar social perdem em 
importância para as discussões sobre consumo e aquisição de produtos e serviços que satisfaçamo 
prazer individual.
Anne Perkins (2009, p. 10) afirma que:
Como Platão, Aristóteles acreditava que todas as coisas tinham uma finalidade, e que a do ser 
humano era ser bom. Aristóteles pretendia organizar a sociedade de maneira que as pessoas fossem 
capazes de realizar com sucesso seu pleno potencial: que fossem cultas, racionais e autoconscientes. A 
pólis, ou mundo político que Aristóteles preferia, era o ambiente singular da cidade‑Estado. O homem, 
em sua célebre afirmação, é um animal político, pois vive com outros semelhantes e se distingue dos 
outros animais pelo poder de julgamento moral e pela capacidade de comunicar as ideias de certo 
e errado. O Estado ideal uniria seus cidadãos para o bem comum. Porém, assim como a natureza é 
infinitamente variada, e os animais cumprem uma variedade de funções, as pessoas também serviriam 
para diferentes funções, de acordo com sua capacidade, na busca da meta geral.
O Prof. Dr. A. L. Mascaro ressalta a importância da sociedade para o indivíduo no pensamento de 
Aristóteles:
[...] a vida social, para Aristóteles, não tem por razão simplesmente ser 
um agrupamento quantitativo que sirva para socorrer os indivíduos em 
suas necessidades. A vida social tem uma razão mais profunda, que é a 
própria felicidade da comunidade. As sociedades visam a um certo bem, 
que não é só o bem de cada indivíduo particularizado. Ao contrário dos 
modernos, que dizem que a vida social existe para o benefício de cada 
indivíduo, Aristóteles dirá que a comunidade existe para o benefício social 
(MASCARO, 2010, p. 84).
Novamente cabe a reflexão sobre a sociedade contemporânea e seus problemas, muitos dos quais 
motivados pelo excessivo individualismo das pessoas, que entendem que tudo existe para satisfazê‑las 
e não o contrário. Na atualidade, só conseguimos construir reflexões e ações mais coletivas quando 
se trata de temas muito específicos, como a preservação do meio ambiente, por exemplo, e mesmo 
assim, não de forma totalmente coletiva, porque muitos atores sociais não se incomodam em destruir o 
Planeta, se isso lhes der a garantia de resultado econômico.
O individualismo é marcante em muitas sociedades contemporâneas e, não raro, deparamos com 
notícias de pessoas que mantiveram seus familiares em cárcere privado por décadas sem que os 
vizinhos tivessem a preocupação solidária de querer saber para onde tinham ido as pessoas que haviam 
desaparecido do convívio social.
A preservação da privacidade tem entre nós contornos tão exagerados que, não raro, resulta em 
egoísmo que nega qualquer importância ao social e, em decorrência disso, afasta a reflexão sobre o 
político e sobre as ações sociais que possam contribuir para uma sociedade mais justa e solidária.
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Unidade I
Mas, voltando ao pensamento aristotélico, nem todas as reflexões do grande filósofo são 
compreendidas de forma pacífica. Suas ideias sobre a escravidão, por exemplo, são absurdas para nós, 
embora possam ser compreendidas no bojo da estrutura histórica e social em que ele vivia.
Aristóteles entendia que a relação entre senhor e escravo era uma relação privada, o que, de 
certa forma, permitia ao senhor o exercício despótico do poder. E esse despotismo se justificaria em 
razão da convicção de que a justiça devia ser realizada entre os cidadãos e, como os escravos não 
eram cidadãos e não participavam da política, então para eles não valeriam as mesmas regras de 
justiça adotadas para os cidadãos. Além disso, ele considerava natural que o escravo que nascera 
nessa condição assim se mantivesse, o que impediria qualquer reflexão sobre a transformação 
dessa condição, sobre o direito à liberdade dos escravos nascidos como tal. Caso diferente seria o 
dos escravos levados a essa condição por dívidas ou por guerras, porque eles poderiam transformar 
sua situação quitando as dívidas ou se seu povo tomasse o poder. Mas o escravo natural nunca 
teria outra condição.
Evidente que o pensamento contemporâneo de justiça e democracia não pode acolher as ideias 
de Aristóteles sobre a escravidão, mas isso não nos impede de conhecer e refletir sobre suas ideias de 
formas de governo.
Para ele existiam seis tipos possíveis de governo, a partir da finalidade deles. Assim temos:
• Se o exercício do poder é no interesse de todos, teremos a monarquia, aristocracia ou a república.
• Se o exercício do poder é no interesse próprio, teremos a tirania, a oligarquia ou a democracia.
• Ele classifica, ainda, o exercício do poder conforme a quantidade de pessoas que o exercerão: se 
uma só pessoa, se alguns ou se a maioria.
Então, para Aristóteles:
• Exercício do poder por uma só pessoa no interesse de todos: monarquia.
• Exercício do poder por alguns no interesse de todos: aristocracia.
• Exercício do poder pela maioria no interesse de todos: república.
• Exercício do poder por uma só pessoa no interesse próprio: tirania.
• Exercício do poder por alguns no interesse próprio: oligarquia.
• Exercício do poder pela maioria no interesse próprio: democracia.
A principal preocupação de Aristóteles como podemos perceber é com a finalidade.
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TEORIA POLÍTICA
Sobre isso, Mascaro (2010, p. 87) nos lembra que:
Para Aristóteles, embora seja uma sociedade de modo similar ao mando 
do senhor sobre os filhos, a mulher e os escravos, a política se faz entre 
os iguais. Assim sendo, não se pode imaginar que, entre tais iguais, haja 
interesses particulares que se sobreponham a todos os demais. O governo 
é bom, para Aristóteles, quando busca a felicidade comum a todos os 
cidadãos. Isso não quer dizer que todos devam, necessariamente, mandar 
ao mesmo tempo. Há aptidões para o governo que não são comuns a 
todos, e há sociedades que se arranjam segundo variados modos e 
propósitos. Por isso, o governo que é bom a todos não necessariamente 
é aquele cuja soberania é partilhada por todos. O bom governo, antes de 
ser necessariamente o que é governado por todos, é o que alcança, como 
resultado, a felicidade de todos.
Para Aristóteles, perdida a finalidade, os governos se degenerariam, ou seja, a monarquia degenaria 
em tirania; a aristocracia em oligarquia e a república em democracia. Para ele, a tirania era a monarquia 
voltada para a utilidade do monarca, a oligarquia para a utilidade dos ricos e a democracia para a 
utilidade dos pobres. E nenhuma delas agradava o filósofo, porque a finalidade essencial era o 
interesse público.
Ao analisar as ideias de Aristóteles sobre as formas de governo, levando em conta exclusivamente o 
caráter político de organização, Paulo Bonavides (2006, p. 208) nos ensina:
A monarquia, a primeira dessas formas, representa, segundo Aristóteles, o 
governo de um só. Atende o sistema monárquico à exigência unitária na 
organização do poder político, exprimindo uma forma de governo na qual 
se faz mister o respeito às leis.
A aristocracia, como segunda forma, na classificação de Aristóteles, 
significa o governo de alguns, o governo dos melhores. Na etimologia da 
palavra “aristocracia”, deparamos já com a ideia de força. Essa raiz evolve 
naturalmente para a acepção de força da cultura, força da inteligência, 
força entendida de modo qualitativo, força, por conseguinte, dos 
melhores, dos que tomam as rédeas do governo. A exigência de todo 
governo aristocrático deve ser, segundo Aristóteles, selecionar os mais 
capazes, os melhores.
Quanto ao terceiro tipo de governo, contido nessa classificação, Aristóteles 
fá‑lo corresponder à democracia, governo que deve atender na sociedade 
aos reclamos de conservação e observância dos princípios de liberdade e de 
igualdade.
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Unidade I
 Observação
Etimologia Gr. Aristokratía “poder, autoridade, governo dos melhores”, 
através do lat. Aristocratĭa “id”; ver aristo‑ e –cracia; f.hist. 1734 aristocrácia, 
1767 aristocracîa, 1771 aristocratia, 1783 aristocracìa. Disponível em: <http://
houaiss.uol.com.br/busca?palavra=aristocracia>. Acesso em: 2 fev. 2014.
E a respeito da degeneração dessas formas de governo, Bonavides (2006) nos lembra que, para 
Aristóteles, o governo será considerado soberano quando tiver em vista exclusivamente o interesse 
comum. O contrário disso é considerado governo impuro, no qual prevalece o interesse pessoal contra 
o interesse geral da coletividade.
Observe que enfrentamos esse problema até a atualidade. Quantas decisões de governo não são 
adotadas em nome de interesses pessoais dos governantes sem que sejam levados em conta os interesses 
gerais da coletividade?
Quantas vezes não tomamos conhecimento, pela imprensa, de que um prefeito liberou dinheiro 
público para construir um portal na entrada da cidade, por vezes de gosto duvidoso, mas de agrado de 
sua esposa, enquanto o Município padece com falta de escolas de boa qualidade ou postos de saúde 
para atender à população. Ou, ainda, quantas vezes não ficamos sabendo de verbas públicas sendo 
destinadas a blocos de carnaval ou escolas de samba em detrimento da compra da merenda escolar para 
as crianças das creches e das escolas públicas?
Paulo Bonavides (2006, p. 209) ressalta que:
Quando esses interesses pessoais se sobrepõem, na gestão dos negócios 
públicos, aos interesses da sociedade, aquelas formas de governo já 
mencionadas se degeneram por completo.
Desvirtuada de seu significado essencial de governo que respeita as leis, a 
monarquia se converte em tirania, a saber, o governo de um só, que vota o 
desprezo da ordem jurídica.
A aristocracia depravada se transmuda em oligarquia, plutocracia ou 
despotismo, como governo do dinheiro, da riqueza desonesta, dos interesses 
econômicos antissociais.
A democracia decaída se transfaz em demagogia, governo das multidões 
rudes, ignaras e despóticas.
As ideias de Aristóteles devem ser compreendidas no contexto da realidade de sua época, conforme 
já afirmamos. Além de não inserir escravos e mulheres entre aqueles que podiam participar da política, 
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também não deveriam ser incluídos os artesãos, ou seja, aqueles que vivessem do seu trabalho. Somente 
os homens que conseguissem viver do rendimento do trabalho de seus escravos ou empregados é que 
poderiam se dedicar à política.
Essas restrições provocam nossa reflexão sobre o que é, afinal, o interesse público que Aristóteles 
considera a finalidade maior do governo? Quem é que compõe o público ao qual o governo deve servir 
e atender de modo a trazer‑lhe felicidade na sociedade?
A noção de interesse público no pensamento aristotélico é infinitamente menor do que aquela 
que temos na atualidade. Contudo, é possível reconhecer que muitas das preocupações do filósofo 
sobre as práticas políticas nas formas de governo são preocupações que temos até os dias de hoje, 
como governos demagógicos que parecem querer agradar a todos quando, na verdade, visam 
exclusivamente ao interesse pessoal do próprio governante; ou governos tirânicos que fazem aprovar 
apenas leis que interessam aos objetivos dos próprios governantes (por exemplo, na modificação da 
constituição do país para permitir sucessivas reeleições sem dar chance de alternância no poder a 
outros grupos políticos).
De todo modo, conhecer o pensamento de Aristóteles nos auxilia na formação do conhecimento 
crítico, capaz de pensar em ideias para mudanças na sociedade em que vivemos.
De todo modo, temos três ideias fundamentais quando se trata de entender formas de governo: 
monarquia, aristocracia e democracia. Duas delas estão um pouco mais distantes da nossa realidade 
contemporânea: a monarquia e a aristocracia. E a democracia ocupa, ou deveria ocupar, o centro das 
nossas atenções e reflexões, porque, além de ser difícil definir democracia, é igualmente difícil garantir 
que, em uma sociedade tão complexa como aquela em que vivemos, a democracia seja a mesma para 
todos os segmentos sociais e a todos beneficie em igualdade de condições.
Mas é importante termos algumas definições, como veremos agora.
Giampaolo Zuchini (apud BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2004, p. 57) definem aristocracia da 
seguinte forma:
Aristokratía, literalmente, “governo dos melhores”, é uma das três formas 
clássicas de governo e precisamente aquela em que o poder (krátos – 
domínio, comando) está nas mãos dos áristoi, os melhores, que não 
equivalem, necessariamente, à casta dos nobres, mesmo se, normalmente, 
os segundos são identificados com os primeiros.
A definição de monarquia é de Paolo Colliva (apud BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2004, p. 776):
Entende‑se comumente por monarquia aquele sistema de dirigir a res 
publica, que se centraliza estavelmente numa só pessoa investida de poderes 
especialíssimos, exatamente monárquicos, que a colocam claramente em 
todo o conjunto dos governados.
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Unidade I
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Por monarquia, portanto, se entende – na complexa formação histórica desse 
instituto – um regime substancial, mas não exclusivamente monopessoal, 
baseado no consenso, geralmente fundado em bases hereditárias e dotado 
daquelas atribuições que a tradição define com o termo de soberania.
Muitos países do mundo utilizaram e ainda utilizam a monarquia como forma de governo. A mais 
conhecida entre nós, brasileiros, é a monarquia inglesa, cujos membros da família real constantemente 
são notícia. A seguir, temos uma foto da famosa Catedral de Westminster, situada em Londres, na 
Inglaterra, que sempre é utilizada para a coroação de reis e rainhas inglesas, como também para as 
grandes solenidades da família real. Recentemente um dos prováveis herdeiros do trono inglês se casou 
nessa catedral e isso foi notícia em todo o mundo.
Figura 2 – Catedral de Westminster, em Londres
A seguir, podemos observar outros dois ícones da monarquia inglesa: o Palácio de Buckingham 
e a troca da Guarda Real, que acontece em frente ao referido Palácio. São tradições inglesas muito 
respeitadas pelos súditos da rainha Elizabeth II, que é rainha da Inglaterra desde 1952.
Figura 3 – Palácio de Buckingham
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Figura 4 – Troca da Guarda Real
O Brasil também teve seu período de monarquia, no século XIX, iniciado em 1808 com a chegada do Rei 
Dom João VI, que vinha com a família real instalar‑se aqui para fugir das tropas de Napoleão Bonaparte. 
Depois que Dom João VI retornou a Portugal, em 1821, seu filho, Dom Pedro I, assumiu o governo como 
príncipe regente e, após proclamar a independência em 7 de setembro de 1822, tornou‑se imperador.
Mas a monarquia não chegou a se constituir como tradição no Brasil. Ela deixou de existir com a Proclamação 
da República, em 15 de novembro de 1889, e, embora ainda existam alguns poucos brasileiros que defendem 
a volta da monarquia, o assunto quase não é levado a sério pela maioria das pessoas que opinam sobre isso.
A monarquia quase sempre possui três características fundamentais, conforme nos ensina Dalmo de 
Abreu Dallari (2010, p. 227):
Vitaliciedade – o monarca não governa por um tempo certo e limitado, 
podendo governar enquanto viver ou enquanto tiver condições para 
continuargovernando.
Hereditariedade – a escolha do monarca se faz pela simples verificação 
da linha de sucessão. Quando morre o monarca ou deixa o governo por 
qualquer outra razão, é imediatamente substituído pelo herdeiro da coroa. 
Houve alguns casos de monarquias eletivas, em que o monarca era escolhido 
por meio de eleições, podendo votar apenas os príncipes eleitores. Mas a 
regra sempre foi a hereditariedade.
Irresponsabilidade – o monarca não tem responsabilidade política, isto é, 
não deve explicações ao povo ou a qualquer órgão sobre os motivos pelos 
quais adotou certa posição política.
Existem defensores e críticos das monarquias. Os defensores utilizam basicamente o argumento de 
que o monarca está acima de interesses políticos e partidários, porque é vitalício e hereditário e isso 
seria suficiente para assegurar estabilidade e segurança ao governo. Também afirmam que o monarca já 
nasce sabendo que será rei e, por isso, é adequadamente preparado para exercer essa função.
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Unidade I
Os críticos sustentam como principal argumento que a monarquia é antidemocrática, porque todas 
as decisões ficam na dependência de um único sujeito, que não é isento diante da pressão de grupos com 
interesses econômicos e políticos e, dessa forma, pode favorecer alguns em detrimento de outros. Também 
convém lembrar que manter o rei e toda a família real é muito caro. Além disso, todos os cidadãos ficam 
na dependência dos interesses e humores de uma só pessoa, com grande poder em suas mãos.
As vantagens e desvantagens da monarquia são discutidas até mesmo nos países que a adotam e 
não é incomum, na atualidade, encontrarmos mais críticos do que defensores. No geral, no entanto, 
monarquias como a inglesa e a dos Países Baixos (Holanda) são bem aceitas por seus súditos, que vivem 
em paz com esse regime porque, na verdade, os reis pouco mandam. Quem exerce o poder efetivamente 
é o primeiro‑ministro e o parlamento, conforme veremos mais à frente.
A forma de governo mais debatida é, no entanto, a democracia, que é adotada por muitos países em 
todo o mundo ocidental, como acontece com o Brasil, por exemplo.
Quando se trata de discutir democracia, o debate já tem início na definição. Não há consenso entre os 
estudiosos sobre uma concepção única e definitiva para o conceito. E nem poderia ser diferente, porque democracia 
é um conceito vivo, que tem diferentes conotações nas diferentes épocas históricas que a Humanidade já viveu.
Streck e Bolzan de Morais (2006, p. 109) afirmam:
Desnecessário dizer que a conceituação de democracia é uma tarefa quase 
impossível, mormente porque o termo “democracia”, com o passar do 
tempo, foi transformado em um estereótipo contaminado por uma anemia 
significativa (Warat). Daí que parece acertado dizer que a razão está com 
Claude Lefort, para quem a democracia é uma constante invenção, isto é, 
deve ser inventada cotidianamente. É nessa esteira que Marilena Chauí diz 
que “A democracia é invenção porque, longe de ser mera conservação de 
direitos, é a criação ininterrupta de novos direitos, a subversão contínua dos 
estabelecidos, a reinstituição permanente do social e do político.” Ou como 
assevera Castoriadis, para quem “uma sociedade justa não é uma sociedade 
que adotou, de uma vez para sempre, as leis justas. Uma sociedade justa é 
uma sociedade onde a questão da justiça permanece constantemente aberta.
Leia mais uma vez, atentamente, os conceitos complementares de Claude Lefort, filósofo francês; Marilena 
Chauí, importante filósofa brasileira; e do filósofo, economista e psicanalista Cornelius Castoriadis sobre democracia.
O que salta aos nossos olhos como mais importante? A ideia de que democracia é um conceito em 
construção, que não está pronta e acabada e que deve ser sistematicamente repensada e pesquisada, de 
forma que possamos ter a melhor democracia possível em cada diferente época da história de uma nação.
Além disso, ao caracterizar a ideia de democracia pelo movimento de atualização que ela deve 
vivenciar, os autores nos convidam a pensar de que forma podemos contribuir para que a democracia 
não se torne ultrapassada para os valores e objetivos de uma determinada sociedade.
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Streck e Bolzan de Morais (2006, p. 109‑110) ainda nos ensinam:
De pronto, ainda com Chauí, é possível dizer, a par da dificuldade de conceituar 
a democracia, que existem alguns traços que a distinguem de outras formas 
sociais e políticas: em primeiro lugar, a democracia é a única sociedade 
e o único regime político que considera o conflito legítimo, uma vez que 
não só trabalha politicamente os conflitos de necessidades e de interesses, 
como procura instituí‑los como direitos e, como tais, exige que sejam 
reconhecidos e respeitados. Mais do que isso, nas sociedades democráticas, 
indivíduos e grupos organizam‑se em associações, movimentos sociais e 
populares, classes se organizam em sindicatos, criando um contra poder 
social que, direta ou indiretamente, limita o poder do Estado; em segundo 
lugar, a democracia é a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta 
ao tempo, ao possível, às transformações e ao novo.
As lutas históricas em prol da democracia nos mostram quão duro é 
alcançá‑la e, muito mais do que isto, conservá‑la.
Os dois aspectos apontados são de grande importância: na democracia, o conflito não apenas é 
bem-vindo, como também é parte integrante do sistema, porque, depois de certo tempo, pode 
transformar‑se em direito; e a democracia agrega o novo e as transformações como essenciais, ou 
seja, não pode recusar as novas ideias e propostas sob alegação de que causariam instabilidade.
É por isso que as sociedades verdadeiramente democráticas vivem bem com as tensões dos conflitos 
e transformam‑se para incorporar novos direitos para os cidadãos como resultado desse processo de 
constante transformação.
Figura 5 – Passeata de estudantes
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Unidade I
A foto anterior retrata uma das muitas passeatas ocorridas no Brasil durante o período da Ditadura 
Militar, que perdurou de 1964 a 1985. Essas passeatas eram fortemente reprimidas pela polícia militar e 
por soldados do Exército, que tinham ordens expressas para acabar com as manifestações para manter 
a ordem e a tranquilidade sociais.
As fotos a seguir retratam com clareza que a repressão às passeatas e aos manifestantes era violenta. 
Ou seja, o conflito de ideias não era visto como positivo para a sociedade, mas como algo que precisava 
ser banido, reprimido e extinto para não atrapalhar o poder político da época.
Figura 6 – Repressão às manifestações
Figura 7 – Policiais militares praticando repressão contra manifestantes
Em períodos de ditadura isso é comum, o poder político que atua em regime de força não aceita 
ideias que se contraponham a ele e, portanto, reage até de forma violenta para impedir que ideias 
contrárias se disseminem entre os diferentes grupos sociais.
Os governos autoritários não aceitam ideias contrárias, só a democracia convive, ou deve conviver, 
com as ideias divergentes.
Outra característica importante da democracia é que, com o tempo, as ideias contrárias podem ser 
incorporadas a ponto de se constituírem como novos direitos.
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Vejamos um exemplo contemporâneo: a sociedade brasileira democrática construída após o final 
da ditadura militar não aceitava o casamentocivil entre pessoas do mesmo sexo porque entendia 
que o casamento deveria ser reconhecido quando realizado por um homem e uma mulher. Com o 
passar do tempo, a sociedade brasileira se organizou em grupos que passaram a defender o direito ao 
reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo.
Existem defensores e críticos dessa ideia, ou seja, há um conflito de ideias na sociedade sobre esse 
assunto. Apesar disso, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, em 2011, que as pessoas do mesmo 
sexo podem oficializar sua relação conjugal. Ainda não há uma lei federal que regule a matéria e 
obrigue todos a fazê‑lo, mas, desde 14 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça aprovou uma 
resolução que obriga todos os cartórios do país a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. 
A resolução foi aprovada para remover obstáculos administrativos contra a efetivação da decisão do 
Supremo, em 2011.
Em resumo, uma reivindicação de parte da sociedade organizada foi transformada em direito, ainda 
que existam, e com certeza continuarão a existir, aqueles que são totalmente contrários a ela.
Democracia, portanto, não é uma forma de governo em que todos pensam da mesma maneira, mas 
em que os conflitos são tratados de maneira organizada, em locais próprios, como o Poder Judiciário 
e o Poder Legislativo, ou seja, é uma forma de governo na qual a sociedade tem amplo direito de se 
manifestar.
A democracia que conhecemos atualmente é muito diferente daquela vivida em outros momentos 
históricos. Para os gregos, democracia era a participação direta dos cidadãos, que opinavam sobre os 
problemas e destinos da sociedade. Mas lembremo‑nos de que “cidadão” era um conceito muito mais 
restrito do que aquele que temos nos dias de hoje: mulheres, escravos e mesmo os que eram livres, 
mas tinham que trabalhar para sobreviver, como artesãos, não eram considerados cidadãos em Atenas. 
Na atualidade, o conceito de democracia está mais próximo da ideia de liberdade para escolher os 
representantes que vão decidir o que é bom para a sociedade.
É por isso que a democracia, nos estudos que realizamos na atualidade, é classificada em democracia 
direta, semidireta e representativa.
A democracia direta seria aquela exercida pelos cidadãos por meio de manifestações diretas em uma 
assembleia. Evidentemente, isso só seria possível em lugares com pequeno número de habitantes, o 
que na atualidade é inviável, em especial em países como o Brasil. No futuro, contudo, podemos pensar 
que a participação política dos cidadãos poderá ser ampliada em razão dos recursos tecnológicos, que 
permitirão que todos se manifestem por computador, tablet ou mesmo pelo telefone celular.
Em algumas instâncias de governo, essa participação já é possível, como acontece nas consultas 
públicas realizadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, por exemplo, antes de deliberar uma 
medida administrativa para regulação do setor de saúde privada. Essa experiência ainda está restrita 
àqueles que contratam planos ou seguros saúde, mas o amadurecimento dessa vivência poderá nos dar 
subsídios para que, no futuro, o Poder Legislativo, o Poder Executivo e até o Poder Judiciário se organizem 
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Unidade I
para receber a contribuição direta de milhões de brasileiros antes de decidir uma determinada questão 
de maior importância.
A democracia semidireta tem características semelhantes à democracia que vivemos no Brasil na 
atualidade. Nela, o povo se manifesta pelo voto direto para todos os cargos do Legislativo, do Executivo 
e também por instrumentos criados pela lei para opinar em situações específicas.
Um dos instrumentos criados pela lei é o referendum. Segundo Dallari (2010, p. 154) esse instrumento
[...] consiste na consulta à opinião pública para a introdução de uma emenda 
constitucional ou mesmo de uma lei ordinária, quando esta afeta um 
interesse público relevante. [...] Uma peculiaridade importante do referendo 
é que ele consiste numa consulta que se faz à opinião pública depois de 
tomada uma decisão, para que esta seja ou não confirmada.
Outro relevante instrumento da democracia semidireta é o plebiscito. Dallari (2010, p. 154) explica 
que:
O plebiscito é um instituto que tem suas raízes na Roma Antiga e tem 
sido bastante utilizado modernamente, às vezes para obter previamente 
a opinião do povo sobre uma futura iniciativa legislativa em cogitação. 
Outras vezes o plebiscito tem sido utilizado para que se conheça a opinião 
do povo sobre algum ponto fundamental que se pretende alterar na 
política de governo.
Iniciativa popular, veto popular e recall são outros instrumentos que a Constituição dos países 
inclui para permitir a participação semidireta do povo. A iniciativa popular se refere à possibilidade dos 
cidadãos de apresentarem propostas legislativas para serem votadas no Congresso Nacional (Senado 
Federal e Câmara Federal). O veto popular tem semelhança com o referendum, ou seja, é uma consulta 
à população sobre um texto de lei já aprovado no Legislativo para saber se os cidadãos aprovam a lei 
que não entrará em vigor antes da consulta. Já recall, o mais interessante desses instrumentos, é uma 
criação norte‑americana que permite revogar a eleição de um legislador ou funcionário eletivo ou 
reformar a decisão judicial sobre a constitucionalidade de uma lei.
Em todos esses casos, a democracia será classificada como semidireta porque não há participação 
popular pela livre expressão do pensamento, mas situações específicas são levadas ao cidadão para que 
ele manifeste sua aprovação ou discordância.
Por fim, a democracia será representativa quando, segundo Dallari (2010, p. 156):
[...] o povo concede um mandato a alguns cidadãos, para, na condição de 
representantes, externarem a vontade popular e tomarem decisões em seu 
nome, como se o próprio povo estivesse governando.
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Na democracia representativa, o povo vota para escolher representantes que governarão durante 
um determinado período de tempo obedecendo a regras pré‑fixadas pela lei. Assim, ficam garantidos os 
limites de tempo e de atuação. O representante do povo não faz o que deseja, mas apenas aquilo que a 
lei permite que ele faça; também não fica no poder durante o tempo que desejar, mas somente durante 
um intervalo de tempo. Por vezes, poderá se candidatar novamente de imediato (no caso de cargos 
que permitem a reeleição indefinidamente, como os de vereador, deputado estadual, deputado federal 
e senador). Outras vezes, a lei não permite a reeleição (como acontece com o cargo de presidente da 
República no Chile, por exemplo), ou a permite apenas uma vez (como acontece no Brasil, com os cargos 
do Executivo: presidência, governo do estado e prefeito).
A democracia representativa tem sido muito criticada no Brasil, porque os políticos eleitos nem 
sempre agem em consonância com a lei e com o interesse público e, no entanto, isso não necessariamente, 
sempre que devido, acarreta a cassação do mandato (de 4 anos em quase todos os cargos e 8 no caso 
do senado federal).
Bobbio (2000, p. 374) afirma que:
Poderíamos também dizer da seguinte maneira: a democracia de hoje é 
uma democracia representativa às vezes complementada por formas de 
participação popular direta; a democracia dos antigos era uma democracia 
direta, às vezes corrigida pela eleição de algumas magistraturas.
No Brasil, a democracia tem sido muito mais representativa do que direta, até porque a ausência de 
maior interesse da população por política contribui para que não haja pressão popular no sentido de 
que sejam criadas situações de maior participação. A maturidade políticabrasileira poderá, no futuro, 
contribuir para que sejam utilizados com maior frequência os espaços de participação que já existem na 
legislação e que precisam apenas ser colocados em prática.
Exemplo de aplicação
Aproveite para pesquisar na rede mundial de computadores quais foram o último referendum e o 
último plebiscito que ocorreram no Brasil.
2 A REPÚBLICA E O PODER NA IDADE MÉDIA
2.1 República
A palavra república tem origem no latim e significa “aquilo que pertence ao povo”. Em sentido 
lato, significa exatamente “coisa (res) pública”. O sentido mais completo, portanto, é “tudo o que é 
próprio da sociedade, que interessa a ela”, ou ainda, “interesse público”.
A palavra está presente no nome do Brasil, que é República Federativa do Brasil. Portanto, compreender 
o conceito e o sentido de República é fundamental.
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Unidade I
Soares (2008, p. 340‑341) explica:
A república é a forma de governo típica da coletividade, em que o poder e 
o exercício da soberania são atribuídos não mais a uma pessoa física, mas 
ao povo.
[...]
A república, no entendimento de Canotilho (1998, p. 271 et seq.), significa 
uma comunidade política, isto é, uma unidade coletiva de indivíduos que 
se autodetermina politicamente através da criação e da manutenção de 
instituições políticas próprias, legitimadas na tomada de decisões e na 
participação dos cidadãos no governo.
[...]
Segundo a teoria republicana, a política é uma dimensão constitutiva da 
formação da vontade democrática e por isso:
• assume a forma de um compromisso ético‑político, referente a uma 
identidade coletiva no seio da comunidade;
• não existe espaço social fora do espaço político, ao traduzir‑se a 
política numa forma de reflexão de interesse público;
• a democracia é, desta forma, a auto‑organização política da 
comunidade no seu conjunto.
É possível compreender, desde o início, que República é uma ideia que se sustenta na coletividade, 
na expressão da vontade do conjunto de pessoas que reside em um determinado território e possui 
objetivos comuns a serem alcançados. Ou seja, o coletivo de pessoas se torna uma comunidade que 
busca garantir seus interesses comuns e, para isso, cria e mantém instituições políticas que possam 
realizar esses interesses.
Essas instituições são compostas por representantes dessa comunidade e devem se limitar a realizar 
aquilo que é de interesse público, aquilo que tenha por princípio efetivar o ideal daquela comunidade.
Dallari (2010, p. 228‑229) nos auxilia a compreender isso quando fornece referências históricas 
sobre a ideia de República:
A república, que é a forma de governo que se opõe à monarquia, tem um 
sentido muito próximo do significado de democracia, uma vez que indica a 
possibilidade de participação do povo no governo.
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TEORIA POLÍTICA
[...]
O desenvolvimento da ideia republicana se deu através das lutas contra a 
monarquia absoluta e pela afirmação da soberania popular. Desde o início 
do século XVIII, muitos teóricos e líderes pregavam a abolição da monarquia, 
considerada um mal em si mesma, não lhes parecendo que bastasse limitá‑la 
por qualquer meio. Exemplo bem expressivo dessa opinião são os escritos de 
Jefferson, que chegou a dizer que as sociedades sem governo ainda são 
melhores que as monarquias.
Figura 8 – Thomas Jefferson
Thomas Jefferson foi o terceiro presidente dos Estados Unidos da América do Norte e governou 
entre 1801 e 1809. Foi um dos principais autores da Declaração de Independência, em 1776, e muito 
conhecido pela defesa dos ideais do republicanismo. Para ele, os Estados Unidos deveriam ser a “República 
da Liberdade”, em contraponto ao que acontecia na Inglaterra naquele momento histórico, que era 
governada por uma monarquia tirânica e despótica.
A república surge, portanto, como proposta de governo em contraposição à monarquia. Embora 
tenhamos dito que algumas monarquias, como a inglesa e holandesa, são, até os dias atuais, respeitadas 
e amadas por seus súditos, a história da Humanidade demonstra que grande parte das monarquias foi 
despótica, violenta e cruel com seus súditos, que eram também seus mantenedores, na medida em que 
pagavam impostos para subsidiar os luxos das famílias reais.
O próprio Jefferson (apud DALLARI, 2010, p. 229) declara:
Eu era inimigo ferrenho de monarquias antes de minha vinda à Europa. Sou dez 
mil vezes mais desde que vi o que elas são. Não há, dificilmente, um mal que se 
conheça nestes países, cuja origem não possa ser atribuída a seus reis, nem um 
bem que não derive das pequenas fibras de republicanismo existente entre elas.
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Unidade I
A República, como fruto de construção histórica de vários povos diferentes, se constrói de múltiplas 
formas e com características singulares em cada sociedade, mas alguns atributos essenciais podem ser 
encontrados nas mais diversas experiências republicanas em todo o mundo e compõem o núcleo central 
desse sistema político. São eles:
• Temporariedade – os governantes são eleitos por um determinado período de tempo, denominado 
mandato. Há restrição para eleições sucessivas, ou seja, a reeleição pode até ocorrer, mas não de 
forma indefinida no âmbito do Executivo.
• Eletividade – O chefe do governo é eleito pelo povo, sem qualquer chance de hereditariedade ou 
alguma outra forma que suplante a escolha pelo povo.
• Responsabilidade – o chefe de governo é responsável por seus atos, seja no âmbito político, 
seja no âmbito econômico. Ele deverá prestar contas de suas decisões e poderá ser fiscalizado 
sistematicamente.
Essas características são essenciais para garantir que o governo republicano seja confiável no sentido 
de colocar sempre em primeiro lugar o interesse público. O representante do povo será eleito, terá um 
tempo para governar e será responsável por seus atos mesmo após a finalização do mandato. Sempre 
que for identificado um erro do governante que tenha causado danos ao interesse público, ele será 
responsabilizado e, dependendo da gravidade, poderá ser impedido de voltar a se candidatar a um cargo 
público.
Essa responsabilidade é fundamental para a garantia de que o governante levará mais em conta os 
interesses da sociedade do que seus interesses pessoais ou políticos. Evidente que, para que isso ocorra 
de forma eficiente, os atos praticados deverão ser fiscalizados de maneira constante, por órgãos de 
governo e pela própria população.
Na atualidade, em muitas democracias republicanas, como a que existe no Brasil, por exemplo, existe 
enorme dificuldade para implantar a total transparência dos atos de governo, de forma a permitir que 
os governantes sejam responsabilizados por seus atos.
Essa reflexão nos permite concluir que, embora as características da temporariedade, eletividade 
e responsabilidade sejam essenciais para garantir o espírito republicano, ou seja, a supremacia do 
interesse público, elas não são por si só suficientes para garantir a eficiência do governo. Para isso, é 
necessário que a população participe o máximo possível politicamente para exigir e fiscalizar a atividade 
de seus governantes, porque na república todos os espaços sociais são espaços políticos e comportam 
a participação popular.
Essas ideias fundamentais sobre a república, seu significado e suas características nos permitem 
começar a avaliar de forma mais crítica a república Brasileira e, principalmente, sua capacidade de 
cumprir os objetivos traçados na Constituição Federal.
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Exemplo de aplicação
Pesquise na rede mundial de computadores o Artigo 3º da Constituição Federal, no qual constam os 
objetivos da República Federativa do Brasil:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto constitucional promulgado em 5 de 
outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 42/2003 e pelas 
Emendas Constitucionais nº 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2004. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 6 
mar. 2014.
Depois da leitura, analise se a democracia e a república estão preparadas, neste momento, para dar 
conta dos objetivos delimitados.
2.2 O poder na Idade Média: subordinação da política à religião, ausência 
de Estado soberano e poderes locais
Este título tem por finalidade estudar a forma como o poder político se desenvolveu ao longo do 
período histórico classificado como Idade Média.
O objetivo é analisar como o poder político era organizado, sua ligação estreita com a religião e as 
organizações religiosas e, ainda, como o Estado atrelado ao poder da Igreja deixava de ser soberano e 
exercido em prol dos interesses próprios dos governantes.
Há muita dificuldade em conceituar o que foi a Idade Média, porque esse período histórico foi 
marcado por fases diferentes e, por isso, não há um conceito ou características únicas que possam 
uniformizar o pensamento sobre esse período.
Souto Maior (1976, p. 205) nos ensina:
A expressão Idade Média foi usada pelos humanistas no século XV e XVI para 
designar o período compreendido entre a Antiguidade Clássica e a época de 
profundas modificações que foi o Renascimento.
A Idade Media teve início na Europa com o esfacelamento do Império Romano, após as invasões 
dos bárbaros, no século V. Esse período é comumente caracterizado pela ausência de um poder central, 
pela economia ruralizada, pela supremacia do pensamento da Igreja Católica e pelo enfraquecimento 
da atividade comercial.
José de Souza Teodoro Pereira Júnior (2008, p. 23) ressalta:
[...] após a desagregação do Império Romano no Ocidente, com as invasões 
bárbaras e muçulmanas, a Europa fechou‑se sobre si mesma. Dadas as 
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sucessivas guerras e saques, aliadas ao cerco muçulmano do Mediterrâneo, o 
comércio tornou‑se inviável. Não havia instituições que pudessem substituir 
o antigo Império, de modo que não havia leis ou economia unificada. Em face 
a essa profunda crise, não restou alternativa senão direcionar a economia 
para a agricultura e para a pecuária de subsistência.
Durante esse processo, a Igreja Católica apresentou‑se como a instituição 
mais bem estruturada do período. Após séculos de expansão do Cristianismo, 
a Igreja alcançara respeito e prestígio em boa parte da Europa, tendo, 
inclusive, convertido ao Cristianismo inúmeros chefes bárbaros. Natural, 
portanto, que a reestruturação europeia ocorresse às sombras das catedrais, 
reconfiguração essa que deu início ao denominado período feudal.
De Cicco e Gonzaga (2008, p. 167) explicitam:
O final do Império Romano do Ocidente trouxe um dos períodos mais 
conturbados da história ocidental, quando as tribos bárbaras destruíram 
física e intelectualmente o legado de Roma. Cada chefe de tribo se 
considerava rei ou mesmo imperador, querendo imitar os Césares. As tribos 
germânicas eram muito atrasadas, não constituíam propriamente Estados e 
muitas viviam nômades, no meio da anarquia reinante.
A única instituição que permanecia organizada era a Igreja Católica, a qual 
empreendeu a conversão e civilização dos bárbaros e conseguiu reunir todas 
as nações germânicas sob o comando de Carlos, rei dos francos, que foi 
aclamado imperador romano-cristão e sagrado pelo papa em Roma, no 
Natal de 800. Infelizmente, morto Carlos Magno, seus filhos partilharam o 
imenso império que cobria toda a Europa Ocidental. Começou, então, em 
meio aos ataques dos vikings do norte e sarracenos do sul, o período de 
sobrevivência chamado de feudalismo, em que a descentralização política 
atingiu o máximo grau possível e cada senhor de terra era rei absoluto sobre 
seus vassalos e servos.
Todo o poder político, jurídico, econômico e social se concentrou nos senhores feudais, que eram 
donos das propriedades de terra onde moravam os vassalos, terras onde eram produzidos os alimentos 
e produtos necessários à subsistência. O direito de governar era um privilégio pertencente a todo 
proprietário de um feudo.
Na prática, o regime feudal era um sistema de suserania e vassalagem baseado na concessão e posse 
de feudos. O feudo era um benefício que se tornava hereditário e que normalmente era materializado 
em terras, mas poderia se consubstanciar em algum outro benefício, por exemplo, o direito de cobrar 
tributos em uma ponte, de cunhar moedas, de criar um mercado de troca de mercadorias ou de obter 
algum outro tipo de forma de subsistência.
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O suserano era o doador do feudo e o vassalo, que podia ser um nobre ou um cavaleiro, era quem 
recebia o feudo e poderia transmiti‑lo por herança para seus descendentes.
O direito de governar era exercido como um direito de propriedade. A relação entre o suserano e seus 
vassalos era uma relação contratual que previa obrigações recíprocas. Em troca da proteção econômica e 
social que recebiam, os vassalos obedeciam ao suserano e serviam a ele com lealdade, pagando tributos 
em razão dos serviços por ele prestados.
A propriedade rural senhorial era o principal polo econômico do sistema feudal. O sistema de campo 
aberto era utilizado para que todos os camponeses trabalhassem em regime de cooperação, até porque, 
sozinhos, dificilmente tinham a quantidade necessária de gado para arar a terra.
Em troca da doação dos lotes de terra pelo suserano, o vassalo fazia um juramento de fidelidade e, 
em consequência, prestava a seu senhor vários serviços, principalmente para participar de seu exército 
e defendê‑lo de ataques.
Existiam valores de honra e lealdade entre senhores e vassalos. O juramento de fidelidade era a 
maior prova desse compromisso. Por outro lado, possuir um feudo era também possuir obrigações e não 
cumpri‑las poderia significar até a perda do feudo. O senhor feudal tinha obrigações a cumprir tanto 
quanto seus vassalos, mas era, sem dúvida, o poder máximo daquela comunidade.
As leis adotadas nesse período histórico eram humanas e divinas e deveriam ser cumpridas com 
justiça e rigor. Evidentemente, a igreja tinha enorme poder porque a ela cabia dizer o que era a vontade 
de Deus.
O governo feudal tinha traços de um governo de lei e não de homens, ou seja, era uma soberania 
limitada que se opunha à autoridade absoluta. Nenhum governante podia impor sua vontade, porque a 
lei era fruto dos costumes e da autoridade divina.
O vassalo podia até repudiar seu senhor por ato de injustiça ou por negligência na proteção que lhe 
era devida, mas os vassalos também tinham enormes obrigações a cumprir. Estavam entre elas prestar 
serviço militar durante certo número de dias por ano; comparecer ao tribunal para julgar casos entre 
vassalos; e resgatar seu senhor quando ele fosse feito prisioneiro por inimigos.
A concessão de imunidades aos nobres também foi característica do feudalismo, o que provocou o 
surgimento de autoridade pública pelo nobre, que muitas vezes se portava como soberano independente 
que se submetia à vontade do rei de modo apenas formal.
O feudalismo não foi igual em todosos países da Europa ocidental. As características universais 
foram próprias da França; em países como a Itália e a Alemanha, foram outras as formas de feudalismo.
A influência da Igreja foi maior na primeira fase da Idade Média, que se seguiu à queda do Império 
Romano.
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Nesse sentido, Burns (1973, p. 353) nos ensina:
Temos salientado mais de uma vez que a civilização da Europa Ocidental, 
entre 800 e 1300, foi profundamente diversa da que existiu no começo do 
período medieval. Em nenhum setor o contrataste foi mais flagrante do que 
na esfera religiosa e intelectual. A atitude religiosa e intelectual da primeira 
fase da Idade Média era produto de uma época de transição e de um enorme 
caos. A estrutura política e social romana se desintegrara e ainda não 
emergira um novo regime para substituí‑la. Daí o ter‑se o pensamento dessa 
época orientado diretamente para o pessimismo e para as preocupações 
extraterrenas. Naquelas condições de barbarismo e de decadência, não 
parecia haver muita esperança para o futuro terreno do homem, nem muitos 
motivos para confiar nos poderes do espírito. Mas, depois do século IX, essas 
atitudes pouco a pouco deram lugar a sentimentos mais otimistas e a um 
interesse crescente pelas coisas terrenas. As causas originais relacionavam‑se 
diretamente com o progresso da educação monástica, com o aparecimento 
de um governo mais estável e com o aumento de segurança econômica. 
Mais tarde, outros fatores, como a influência das civilizações sarracena e 
bizantina e a prosperidade das cidades e vilas, levaram a cultura da época 
feudal a um apogeu magnífico de realizações intelectuais, no séculos XII 
e XIII. Ao mesmo tempo, a religião tomou um aspecto menos abstrato e 
se transformou numa instituição mais profundamente preocupada com os 
assuntos dessa vida.
O final do feudalismo foi resultante de vários fatores, entre eles: a volta do comércio com o Oriente 
próximo, o desenvolvimento das cidades pela procura de produtos agrícolas, a expansão do comércio e 
da indústria e o surgimento de empregos, a abertura de novas terras para trabalho de cultivo (em troca 
do qual os camponeses teriam liberdade), o surgimento de exércitos profissionais e o fortalecimento das 
monarquias nacionais.
Como podemos perceber, não existiu uma única Idade Média, mas sim um período que ficou 
historicamente conhecido por esse nome e que teve diferentes formas ao longo dos anos, desde um 
momento mais tormentoso, em que o Homem não acreditava em esperança em razão do grande 
desequilíbrio político, econômico e social que o fim do Império Romano provocara naquela região da 
Europa, até uma fase mais pujante, em que retornaram as atividades comerciais, houve maior segurança 
política e social e o Homem se nutriu de maiores esperanças em relação a seu futuro na Terra.
De todo modo, dos diferentes períodos que existiram durante a Idade Média, um traço podemos 
considerar como distintivo: o poder da Igreja, que se mostrou, por vezes, bastante despótico e rígido, 
ainda que supostamente amparado em valores de justiça e nos ditames de Deus.
Também é uma característica desse período histórico a ausência de um poder central, caracterizado 
como temos atualmente no Estado, a irradiar suas determinações para serem cumpridas por todos. 
Embora o poder durante a Idade Média tivesse limites porque era fundamentado em leis, não era 
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central, mas sim atomizado, porque irradiava de múltiplos lugares e atingia aqueles que estavam sob 
determinado domínio territorial.
Não existiu um Estado soberano, um poder central, mas isso não significa que não houvesse 
organização e limites legais para governar.
O que podemos destacar, ainda, é que a interpretação das melhores práticas de governo feita pela 
Igreja com base nas Escrituras era interpretativa. Em outras palavras, o clero interpretava a vontade de 
Deus e a transmitia ao rei e aos senhores feudais que governavam e essa interpretação, com certeza, 
era a que melhor se adequava a seus próprios interesses pessoais de manutenção do poder que haviam 
conquistado nesse período histórico.
A participação do povo inexistia, estava limitada ao cumprimento das ordens e, no máximo, à 
exigência de segurança e alimentação daqueles a quem prestavam serviços na condição de vassalos. 
Mas a definição de regras de governo e de prioridades de organização não era assunto de vassalos, 
a discussão política era destinada apenas àqueles que tinham poder e definiam com exclusividade as 
formas de exercê‑lo.
Dois pensadores políticos são importantes no período da Idade Média: São Tomás de Aquino e John 
de Salisbury.
Figura 9 – Vitral retratando a imagem de São Tomás de Aquino
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O primeiro deles, São Tomás de Aquino, que é mais conhecido de todos nós, era um dominicano 
italiano, nascido em 1225 e falecido em 1274, que escreveu a importante obra denominada Do Governo 
dos Príncipes, na qual defendia que a monarquia era a melhor forma de governo, desde que não fosse 
absolutista como a dos césares romanos e sim limitada pelo poder da Igreja, da corte dos nobres, das 
universidades e também das corporações de ofícios dos artesãos.
As leis para limitar o poder do rei deveriam ser leis emanadas do poder legislativo do Estado, 
do poder natural, ou seja, da razão dos homens e também das leis divinas. Essas últimas, na 
concepção de São Tomás de Aquino, deveriam ser as mais importantes, hierarquicamente 
superiores às demais.
O outro pensador importante desse período foi John de Salisbury.
Figura 10 – John de Salisbury
John de Salisbury nasceu na Inglaterra entre 1115 e 1120 e faleceu na França, em 1180. O pensador 
ocupou importantes cargos na hierarquia da Igreja Católica ao longo de sua vida.
Destacou‑se pelo pensamento construído em sua obra Policraticus, na qual defendeu a 
limitação de poderes do rei, por meio de leis. Ele construiu uma interessante analogia entre o 
funcionamento correto da sociedade e os órgãos do corpo humano para demonstrar que o melhor 
funcionamento para um grupo social seria aquele em que cada parte tivesse uma função e a 
exercesse com eficiência. Assim, os pés seriam os trabalhadores, as mãos os combatentes, a alma 
a Igreja, o coração o conselho, de modo que todos tivessem sua função e importância. O rei não 
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podia pretender ser mais importante que todos que compunham a sociedade e, exatamente por 
isso, deveria governar sob o império das leis.
Foram as ideias de John de Salisbury que serviram de inspiração para a elaboração do documento 
denominado Magna Carta, datado de 1215, que, até a atualidade, é considerado o precursor dos direitos 
humanos de primeira dimensão, aqueles direitos que restringem o poder do rei e o obrigam a respeitar 
a vida e a liberdade dos súditos. São os chamados direitos do cidadão contra o Estado autoritário, ou, 
mais modernamente, direitos civis e políticos.
Outros pensadores também se destacaram nesse período e Miguel Reale, importante jurista brasileiro, 
chamou a Idade Média de: “[...] Idade inicial, da qual brotaram variadas formas de organização e de 
pensamento político” (apud DE CICCO; GONZAGA, 2008, p. 169).
Exemplo de aplicação
Os historiadores dividem a Idade Média em vários períodos. Pesquise em livros de História Geral as 
diferentes fases que são incluídas como Idade Média.Em seguida, pesquise um pouco sobre o período 
denominado Renascimento, em especial sobre a arte produzida durante essa época histórica. Os livros 
de arte têm uma enorme contribuição para nos dar sobre esse período histórico.
Figura 11 – Escultura O Rapto das Sabinas
A obra anterior se chama O Rapto das Sabinas e é do escultor italiano Giambologna. Foi feita em 
1583 e está na Piazza della Signoria, em Florença. A escultura é um marco da arte renascentista na Itália.
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Unidade I
 Saiba mais
Também é recomendável assistir aos seguintes filmes, que retratam 
períodos e lugares da Idade Média. Note que, dentre eles, o mais indicado é, 
sem dúvida, O Nome da Rosa.
O NOME da rosa. Dir. Jean‑Jacques Annaud. Alemanha; Itália, França: 
Neue Constantin Film/Cristaldifilm/Les Films Ariane/Zweites Deutsches 
Fernsehen (ZDF), 1986. 130 minutos.
A RAINHA Margot. Dir. Patrice Chéreau. Alemanha; França; Itália: Renn 
Productions/France 2 Cinéma/D. A. Films /Degeto Film/ARD/WMG Film/RCS 
Films & TV/Centre National de la Cinématographie (CNC)/Canal+, 1994. 
162 minutos.
ROBIN Hood: o príncipe dos ladrões. Dir. Kevin Reynolds. EUA: Warner 
Bros./Morgan Creek Productions, 1991. 143 minutos.
A respeito do tema, leia também o livro:
DUBY, G. História da Vida Privada – da Europa feudal à Renascença. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1990. 2 v.
3 O PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO E A FORMAÇÃO DO ESTADO 
MODERNO
Neste título, vamos nos dedicar ao estudo da contribuição de dois pensadores muito importantes: 
Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes. Ambos são considerados fundamentais para as reflexões sobre o 
absolutismo e sobre a delimitação de direitos dos homens para tornar possível a vida em sociedade.
O final da Idade Média marcou o surgimento gradual dos estados dinásticos de governo absoluto. 
Inúmeras causas podem ser apontadas para o surgimento do absolutismo, como o desenvolvimento da 
economia urbana, a queda do sistema senhorial na agricultura, os efeitos das Cruzadas, da Peste Negra 
e da Guerra dos Cem Anos, entre outros. Para alguns historiadores, no entanto, o fator mais relevante 
foi a chamada Revolução Comercial.
A Revolução Comercial ocorreu por volta de 1400 e teve várias causas. Entre elas: o monopólio 
comercial do Mediterrâneo pelas cidades italianas; o desenvolvimento de um comércio lucrativo entre 
as cidades italianas a e Liga Hanseática do norte da Europa; a introdução de moedas de circulação 
geral; a acumulação de capitais excedentes, fruto de especulação comercial, marítima e de mineração; o 
estímulo dos novos monarcas ao comércio para criar mais riquezas tributáveis e as viagens ultramarinhas.
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As viagens marítimas deram ao comércio proporções de empreendimento globalizado, porque 
o centro comercial do mundo se deslocou de Gênova, Pisa e Veneza para Lisboa, Liverpool, Bristol e 
Amsterdã.
O desenvolvimento científico com a utilização da bússola e do astrolábio permitiram que as viagens 
pelo mar pudessem ser planejadas com maior segurança e alcançassem distâncias cada vez maiores. 
Com isso, aumentou a procura por todo tipo de bens que pudessem ser comercializados (especiarias, 
metais e pedras preciosas, entre outros).
Esse período também foi marcado pelo desenvolvimento do sistema bancário, que, durante a Idade 
Média, praticamente não existiu, porque a usura era condenada pela Igreja.
A foto a seguir foi tirada em Verona, na Itália, e representa um local onde era possível para a população 
realizar denúncias sobre a prática de usura (empréstimo de dinheiro mediante cobrança de juros).
Figura 12 – Local de denúncias de usura
 Saiba mais
Para ter mais informações sobre a usura na Idade Média e o combate 
feito pela Igreja a essa prática, leia o livro:
LE GOFF, J. A bolsa e a vida. São Paulo: Record, 2007.
Foram principalmente as grandes casas comerciais italianas que deram impulso ao surgimento dos 
bancos, que eram utilizados para empréstimo de dinheiro a juros. A partir dessa prática, foram criados 
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Unidade I
os títulos de crédito, que viabilizaram o comércio entre cidades distantes porque não se corria mais o 
risco de assalto, já que os valores eram representados por papéis emitidos pelos bancos, como as letras 
de câmbio.
Os títulos de crédito que utilizamos até os dias atuais, como cheques e notas promissórias, tiveram 
sua origem nesse momento histórico, dada a necessidade de transportar valores em segurança. Para não 
transportá‑los em espécie e para agilizar as transações comerciais, os valores foram substituídos por 
papéis que os representavam. Isso foi um forte impulso comercial e os bancos foram fundamentais para 
que pudesse acontecer essa melhoria, visto que eram os emissores desses títulos.
A expansão industrial também foi marcante nesse período porque, com o fim do sistema de 
corporações de ofício, a prática de atividades pelos artesãos passava a ser livre, não sofrendo mais as 
restrições impostas por essas entidades.
É possível afirmar que a Revolução Comercial permitiu a expansão dos negócios de uma forma 
tão expressiva que, em consequência, passou a exigir um governo forte que apoiasse os mercadores, 
os banqueiros e os industriais em suas atividades. Só um governo forte teria condições de garantir a 
segurança dos comerciantes contra ataques de piratas e bandidos, que se avolumaram com o aumento 
das riquezas em circulação.
Em outras palavras, um governo forte poderia tornar mais seguras as relações comerciais e, por isso, 
foi uma ideia apoiada pelo poder econômico da época.
O absolutismo utiliza a ideia de que o poder humano é derivado do poder divino. Essa teoria, 
que já tinha servido de fundamento para o poder feudal, é retomada para servir de base para o 
poder dos reis.
A autoridade do monarca vem de Deus e a obrigação suprema do povo é obedecer de forma passiva. 
Qualquer rebelião do povo deve ser evitada porque contraria a paz, que é fundamental para a estabilidade 
e o progresso social. O soberano tem autoridade perpétua e ilimitada para fazer leis e impô‑las aos seus 
súditos.
Bobbio (2004), na obra Dicionário de Política, discute que o termo absolutismo é empregado de 
forma incorreta para caracterizar apenas uma face da questão política do poder. Para ele, absolutismo e 
totalitarismo são práticas diferentes e não podem ser tratadas da mesma forma.
Bobbio (2004) afirma que o absolutismo é um regime político constitucional (no sentido de que seu 
funcionamento está sujeito a limites e regras preestabelecidas), não é arbitrário (porque a vontade do 
monarca não é ilimitada) e tem tradições seculares e profanas. O totalitarismo teria como característica 
a ausência de limites formalizados pela lei.
Todo estudo de Teoria Política tem que, necessariamente, refletir sobre a contribuição desses dois 
pensadores que, de tão importante, pode ser aplicada em nossos dias e auxiliar na compreensão da 
prática política que conhecemos atualmente.
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4 OS PENSADORES MAQUIAVEL E HOBBES
4.1 Nicolau Maquiavel
O destino determinou que eu não saiba discutir sobre a seda, nem sobre a lã; 
tampouco sobre questões de lucro ou de perda. Minha missão é falar sobre 
o Estado. Será preciso submeter‑me à promessa de emudecer, ou terei que 
falar dele (MACHIAVELLI apud PENSAR... 2012).
A frase anterior já nos dá uma noção de como Nicolau Maquiavelfoi, antes de tudo, um homem que 
amava a política e, por consequência, tinha ideias sobre a organização do Estado e o exercício do poder. 
Sua obra O Príncipe é a mais célebre. Ela é lida e estudada até os dias atuais e é obrigatória em cursos 
de Ciências Sociais e Direito.
Nicolau Maquiavel nasceu em Florença em 1469 e faleceu em 1527. Florença, naquela época, era 
um centro comercial de enorme importância. Maquiavel foi funcionário público do governo de Florença 
durante vários anos; e, além disso, foi escritor, historiador e músico. Mas, inegavelmente, Maquiavel 
foi principalmente um pensador político que, com suas ideias, exerceu enorme influência e até os dias 
atuais a exerce.
Ele recebeu educação clássica já com vistas a uma futura carreira pública. Mas a vida política em 
Florença era muito conturbada, o que impactou a trajetória profissional de Maquiavel. Ele trabalhou 
para o governo que expulsou os Médici de Florença (Monge Savonarola e seu sucessor Soderini) e, mais 
tarde, serviu aos Médici quando estes retornaram ao poder.
 Observação
Os Médici foram uma poderosa família de Florença que viveu seu apogeu 
político entre os séculos XV e XVII. Sua riqueza era oriunda do comércio 
de produtos têxteis e da participação na Guilda da Arte della Lana. Entre 
os Médici, existiram também banqueiros, políticos, nobres, clérigos e até 
papas, como aconteceu com Giovani Médici (1475‑1521), o papa Leão X.
Escreveu o livro O Príncipe, em 1513, e dedicou a obra a Lorenzo, filho de Piero de Médici, muito 
provavelmente com a intenção de agradar os governantes da época e, por certo, beneficiar‑se disso para 
ter acesso a cargos mais importantes.
Ele também trabalhou para a Universidade de Florença redigindo uma obra histórica sobre a cidade, 
denominada Histórias Florentinas.
Morreu em 1527, amargurado por sua má sorte, após haver sido novamente destituído de suas 
funções quando os Médici perderam o poder em Florença.
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A seguir, foto da Catedral de Florença e de uma parte do Palácio dos Médici, na mesma cidade.
Figura 13 – Catedral de Florença
Figura 14 – Parte do Palácio dos Médici
O pensamento político de Maquiavel teve como marco fundamental a separação entre a virtude 
política e a virtude moral. Ele é o principal responsável pela ruptura com as ideias da ação política 
orientada pelo sentido divino e, consequentemente, por trazer a política para o campo exclusivo da ação 
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humana. Essa ruptura com o poder oriundo da Igreja custou caro para Maquiavel, porque foi da Igreja 
o uso do termo maquiavélico associado a tudo que é ruim ou perverso.
Observe que, até em nossos dias, utilizamos a expressão maquiavélico para nos referirmos a uma 
pessoa que é ardilosa, que prepara situações para prejudicar os outros e para obter vantagens. Como 
veremos, Maquiavel nunca propôs isso em suas ideias políticas, embora tenha recomendado práticas 
de exercício do poder que eram muito diferentes daquelas defendidas pela Igreja naquele momento 
histórico.
Florença nasceu como uma colônia romana em 59 a.C. e na Idade Média tornou‑se uma cidade‑estado 
independente. No século XIII, foi um dos polos comerciais mais importantes do mundo, assim como um 
notável centro cultural e intelectual da Europa.
Além da riqueza econômica, Florença também foi detentora de enorme riqueza artística e intelectual, 
porque Dante Aleghieri, Petrarca, Maquiavel, Boticelli, Michelangelo e Donatello foram pensadores e 
artistas florentinos.
Uma das ideias centrais no pensamento de Maquiavel é a virtú. É um termo empregado para 
indicar um conjunto de qualidades – habilidade de cálculo, sentido de realidade, compreensão das 
circunstâncias, capacidade de adotar medidas extraordinárias, coragem de desprender‑se da moralidade 
vigente, se for necessário, e aptidão para se adaptar às diferentes situações. Esse conjunto de virtudes é 
que fariam de um homem um grande governante, com capacidade de se impor e realizar seus objetivos.
Para Maquiavel, a sorte ou destino são associados ao feminino e ao desígnio divino e a virtú está 
associada com a capacidade, qualidade e empreendimentos que determinam o encaminhamento da 
sociedade, ou seja, à ação política.
Quem possuir sorte ou proteção divina nem sempre estará habilitado para o exercício do poder, mas 
aquele que possuir virtú conseguirá dominar o indeterminado e construir um governo ancorado em 
suas qualidades.
Esse sentido de virtude utilizado por Maquiavel é muito diferente do sentido religioso do termo, que 
sempre foi associado à capacidade do ser humano de ser bom, fraterno e justo. Para Maquiavel, essas 
virtudes não auxiliariam ninguém a ser um bom governante, ou, em outras palavras, ser bom e justo não 
auxiliaria ninguém a governar.
Maquiavel dedica grande parte de sua reflexão à forma de conquistar e governar principados novos, 
ou seja, novos espaços territoriais para expandir os domínios de um governante. Muito provavelmente 
essa preocupação está associada a sua preocupação com a unificação da Itália, que naquele momento 
ainda não era um país unificado como conhecemos atualmente. Cada cidade era um Estado com 
autonomia política e econômica.
Para ele, os principados novos podem ser conquistados por quatro formas: pela virtú e com as 
próprias armas, quando o príncipe afirma suas qualidades pessoais e seu valor; pela fortuna (sorte) e 
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com as armas alheias, quando o príncipe chega ao poder por acaso; pelo crime, quando o príncipe alcança 
o poder com o uso de grande violência, desrespeitando as leis humanas e divinas e pelo consentimento, 
quando um cidadão torna‑se príncipe com o consentimento de seus conterrâneos.
A manutenção do poder para o príncipe está relacionada com a forma como ele a conquista. Se 
conseguir pelo consentimento dos poderosos, será mais difícil que mantenha o poder, porque passará 
a entender que não é possível satisfazer aos grandes sem cometer injustiças com o povo.
Se obtiver o poder com o consentimento do povo, então basta não oprimi‑lo, porque a única coisa 
que o povo não deseja é ser oprimido.
Se conseguir o poder por meio da violência, o governante deve praticar todas as violências de uma 
única vez, para não ter que repeti‑las depois. Deve eliminar seus inimigos, combater os adeptos do poder 
destituído, adotar novas leis mais duras que as existentes; deve, enfim, fazer todas as coisas ruins de 
uma única vez para não ter que repeti‑las depois, durante o governo.
E, quando o poder for obtido pela fortuna, então será preciso contar sempre com a sorte, o que, 
para Maquiavel, é imprevisível e faz com que a perda do poder seja iminente, porque ninguém consegue 
manter a sorte a seu favor por todo o tempo.
Nos principados conquistados pela virtú, serão encontradas as dificuldades inerentes ao governo 
de todos os Estados, mas em menor quantidade, porque o príncipe saberá como utilizar as armas que 
o levaram ao poder. Maquiavel defende a ideia de que o governante que possuir virtú estará mais 
preparado para conquistar e se manter no poder.
Para Maquiavel, as principais bases que os Estados têm são as boas leis e as boas armas. Para ele, 
a segurança do Estado depende da formação de um exército próprio, constituído de cidadãos que 
lutem por amor à pátria.
Por isso é que Maquiavel afirma em sua obra que, para o príncipe, exercer a arte da guerra é um 
dever. Além disso, em tempos de paz, é um dever realizar exercícios de guerra e reflexões sobre a históriada guerra para não perder o contato e nem a prática da guerra.
Ele afirma também que o príncipe deve possuir a arte do governo. Essa arte é obtida a partir do 
conhecimento da natureza humana para saber agir em relação aos homens.
É importante constatar que, para Maquiavel, esse conhecimento sobre o ser humano não 
deve ser idealizado. Ele critica a idealização do ser humano praticada por seus antecessores e 
propõe que o conhecimento sobre ele seja construído com base na realidade de como agem de 
fato os homens.
Para Maquiavel, os homens geralmente são ingratos, interesseiros, covardes e ambiciosos. Por isso, 
o príncipe não pode governar com bondade, porque acabaria arruinado pelos maus, por aqueles que 
seriam capazes de preparar estratagemas para derrubar o governante.
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O príncipe deve recorrer não apenas às leis, mas também à força, porque essas, segundo Maquiavel, 
seriam as únicas formas de se prevenir da manifestação da maldade humana.
Para Maquiavel, o conjunto de virtudes do príncipe que haviam sido respeitadas até aquele momento 
histórico, tais como honestidade, bondade e piedade, entre outras, não eram adequadas para o campo 
da ação política.
Para ele a capacidade fundamental do príncipe é manter o poder.
Mas, do pensamento de Maquiavel, a ideia que mais desperta nossa reflexão é a de que, apesar de 
não possuir virtudes como a bondade e a piedade, o príncipe deve demonstrar ao povo que as tem. 
Ou seja, o príncipe deve ser um bom simulador, aparentando possuir as qualidades que seus súditos 
consideram adequadas e, ao mesmo tempo, disfarçar as práticas não adequadas.
Por isso é que ele afirma que o mais importante não é o que o príncipe é, mas aquilo que ele 
parece ser, porque a política se desenvolve no campo das aparências. O povo deve ser levado pelas 
aparências e pelos resultados dos fatos consumados.
Essa ideia de Maquiavel, infelizmente, é muito próxima dos tempos políticos atuais do Brasil e de 
outros países do mundo.
Recentemente, em nosso país, o julgamento do chamado “mensalão” nos colocou diante da realidade 
de que muitos políticos que agiam aparentemente em benefício de seus eleitores estavam, na verdade, 
agindo com vistas a seu próprio interesse, visando apenas auferir lucro com suas práticas políticas. 
Todos se lembram de que o episódio foi aquele em que políticos foram flagrados recebendo dinheiro 
mensalmente (por isso o nome “mensalão”) para votarem a favor de projetos do governo na Câmara dos 
Deputados.
Na sua cidade e no seu estado, infelizmente, você já teve notícia de políticos que foram denunciados 
por agir em benefício próprio, não raro desviando dinheiro público para seus interesses pessoais, ou 
utilizando recursos públicos como se fossem de sua propriedade. Políticos que utilizam aviões do 
governo para ir ao casamento de um parente; máquinas da prefeitura para trabalhar em sua fazenda; o 
veículo do governo para ir às compras ou fazer viagens particulares: todas essas práticas são contrárias 
à probidade e à honestidade, mas são realizadas comumente no Brasil.
Para Maquiavel, o político precisa parecer honesto, mesmo que não o seja. E essa lição, infelizmente, 
tem sido muito utilizada entre os políticos brasileiros nos últimos tempos.
Contudo, não podemos entender que Maquiavel defendia a corrupção e as más práticas com o 
dinheiro público. Na verdade, naquele momento histórico, ele se referia exclusivamente ao uso da força 
e da violência para se manter no poder. Num momento histórico conturbado por intrigadas e por 
sucessivas tentativas de golpe contra os que ocupavam o poder, sugeria Maquiavel, que, para se livrar 
dos inimigos, o governante deveria parecer bom para o povo e agir com força quando necessário para 
garantir sua manutenção no poder.
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 Lembrete
Para Maquiavel, o homem de virtú tem a capacidade de analisar e 
avaliar cada situação concreta e, a partir disso, utilizar seu poder de 
ação e determinar os acontecimentos políticos sem necessitar de sorte 
do destino.
O príncipe de virtú, para o pensador italiano, é aquele que consegue agir politicamente de forma a se 
adaptar às mudanças do tempo e, com isso, manter seu objetivo principal, que deve ser a preservação 
da ordem política.
Para Maquiavel a política tem uma lógica própria e uma moral própria, fundada em valores diferentes 
daqueles que regulam a ação dos indivíduos em sua vida pessoal.
Ele afirma que não há oposição entre política e moral, mas um conjunto de valores diferentes que 
devem determinar a prática política.
Para ele os homens têm uma tendência à prática do mal e só o que pode contê‑los são as leis 
porque elas criam um estado de necessidade artificial. Como não se pode modificar a natureza 
humana para que os homens sejam sempre bons, é necessário criar obstáculos para a prática da 
maldade. Nesse sentido, as leis com suas penas incentivariam os homens a agir de acordo com o que é 
melhor para a sociedade, pois o medo de ser punido pela lei impulsionaria os homens a agir de acordo 
com o bem comum e o interesse público.
Em resumo, Maquiavel rejeita a tradição idealista de Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino e 
deseja a realidade concreta. Ele pensa o Estado real que deve ser capaz de impor a ordem a todos.
Conforme afirma Gonçalves de Barros (2008, p. 247):
Num ambiente intelectual acostumado com a noção de que os conflitos 
eram sempre danosos e deviam ser evitados, uma vez que a finalidade da 
vida política era frequentemente relacionada com a busca da harmonia e da 
concórdia, as observações de Maquiavel eram, no mínimo, embaraçadoras. 
De Dante aos humanistas, havia um consenso sobre o papel negativo das 
dissensões internas na vida de uma cidade, pois o ideal era a instauração da 
paz, inspirada na ideia unificadora que representava a harmonia necessária 
de toda ordem: cósmica ou social.
Por último, devemos lembrar que Maquiavel ficou conhecido como o criador da frase “os fins 
justificam os meios”, defendendo, com essa ideia, que todos os meios utilizados são válidos, mesmo que 
violentos ou desonestos, desde que se alcance o objetivo pretendido.
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Explicam De Cicco e Gonzaga (2008, p. 173):
Quanto à célebre frase atribuída ao pensador em comento: “O fim justifica 
os meios”, é possível explicá‑la como o fim colimado justificaria então 
qualquer meio e o bem do Estado ou razão de Estado estaria afastada de 
qualquer instância moral. Afastando a ideia de bem comum, faz o bem do 
Estado se confundir com o bem do governante. Embora se deva esperar que 
o príncipe utilize boas armas a fim de atingir a paz social.
A partir desses ensinamentos, denota‑se que O Príncipe foi a cartilha de todos os reis absolutos da 
época do autor, e provavelmente, o livro de cabeceira dos ditadores contemporâneos.
Maquiavel deve ser estudado e analisado no seu contexto histórico, marcado por turbulências 
políticas e, nessa medida, sua defesa de um governo monárquico absolutista era, em grande medida, a 
defesa de uma forma de encontrar a estabilidade política, social e econômica.
Figura 15 – Túmulo de Nicolau Maquiavel na igreja de Santa Croce, em Florença, na Itália
4.2 Thomas Hobbes
Nosso próximo convidado a expor suas ideias neste estudo é Thomas Hobbes. Ele é um dos 
principais pensadores políticos que já tivemos na história da humanidade. Sua reflexão é construída 
em torno das perguntas “por que os homens vivem em sociedade?” e “como deve ser a vida do 
Homem emsociedade?”.
Podemos dizer que, de alguma forma, esses questionamentos ainda nos alcançam em pleno 
século XXI. Também nos perguntamos muitas vezes por que vivemos em sociedade e, ainda em maior 
quantidade de vezes, nos perguntamos qual deve ser a organização da sociedade para que todos sejam 
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felizes, para que não haja violência, opressão, injustiça e para que todos tenham acesso, na medida de 
suas necessidades, a tudo que seja necessário para o seu bem‑estar.
Portanto, estudar Hobbes certamente nos ajudará com nossas próprias reflexões.
Figura 16 – Thomas Hobbes
Thomas Hobbes era inglês, nasceu em 1588 e faleceu em 1679. Foi filósofo e cientista político, 
recebeu influência da revolução científica e chegou a escrever um livro sobre física. Além disso, também 
estudou teoria do conhecimento.
Ele escreveu várias obras importantes, mas, para nossos estudos de Teoria Política, a principal é 
Leviatã, escrita em 1651.
Hobbes viveu um período de grande turbulência política na Inglaterra, cuja monarquia enfrentava 
momentos de ataque e restauração. Embora não tenha atuado diretamente na política, esteve ligado a 
ela porque foi tutor de filhos de nobres, além de secretário, conselheiro político e econômico de nobres.
Um conceito fundamental para compreender o pensamento de Hobbes é o de estado de natureza. 
Para Hobbes, no estado de natureza, todo homem tem direito a tudo.
Hobbes contraria a essência do pensamento de Aristóteles, que afirmava que a vida na polis era 
fruto de uma tendência natural do Homem, ou seja, a ideia de que o Homem naturalmente desejava 
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viver em sociedade e isso não era fruto de decisão ou de uma escolha, mas sim uma tendência natural. 
Para Aristóteles, o Homem é um animal político porque tem tendência para o bem e este só pode ser 
alcançado na vida em sociedade. Para Aristóteles viver na cidade não é natural.
Contudo, Hobbes contesta o pensamento de Aristóteles porque entende que é necessário rever o 
princípio político vigente até aquele momento histórico. Para ele, o Homem não nasce apto a viver em 
sociedade, mas pode tornar‑se pela disciplina, ou seja, a vida social é uma forma de viver adquirida e 
não natural.
A sociedade, então, é produto artificial da vontade humana, é fruto de uma escolha e não obra da 
natureza. Sociedade é uma obrigação que os homens assumem ao firmarem um pacto com regras para 
a vida em sociedade.
Assim, para que a sociedade exista, é preciso que exista também um poder comum que seja capaz de 
obrigar os homens a obedecerem às leis e aos pactos que fizerem entre si. Por isso é que, para Hobbes, 
o ingresso na vida social é fruto de um pacto e a natureza desse pacto é a limitação do direito natural 
que o Homem possuía até então.
O direito natural ilimitado que o ser humano possuía quando vivia no estado de natureza deixa 
de existir quando o Homem vive em sociedade. Nesta, ele possui regras de conduta a serem cumpridas 
porque, sem elas, voltaria ao estado de natureza. A vida em sociedade é, portanto, fruto de um 
pacto social, de um acordo entre todos os homens que vão viver juntos no mesmo espaço territorial e 
submetidos às mesmas regras.
Essa proposta se complementa com a instituição de um poder comum.
Para Hobbes, no entanto, os homens não se reúnem de forma desinteressada ou por boa vontade. 
O primeiro objetivo do Homem é a obtenção de benefícios próprios. Toda ação voluntária do Homem 
para associar‑se é decorrente do desejo de obtenção de um bem destinado a si mesmo, da obtenção de 
algum benefício.
Por outro lado, para Hobbes, a sociedade civil é a resposta ao medo generalizado que os homens 
vivem no estado de natureza. Diante do medo de serem feridos, invadidos ou mortos por outros, os 
homens preferem abrir mão de parte de sua liberdade e se associarem.
É o medo, portanto, no entendimento dele, que faz com que os homens se agrupem e vivam em 
sociedade, ainda que com restrição de direitos.
Para Hobbes, a condição da Humanidade no estado de natureza é um condição de guerra. Se 
dois homens desejam a mesma coisa ao mesmo tempo e é impossível que ela seja obtida por ambos, 
tornam‑se inimigos. No estado de natureza todos os homens têm direitos ilimitados sobre as coisas. Os 
homens vivem sem um poder político capaz de obrigá‑los a se respeitarem mutuamente e a obedecerem 
regras comuns. Em outras palavras, o estado de natureza é a ausência do Estado e de leis que possam 
regular as ações humanas, para determinar o que é justo e o que não é.
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O direito ilimitado dos homens no estado de natureza é marcado pela insegurança e pela guerra.
A ideia de estado de natureza se refere a tudo o que supostamente existiu antes da organização 
social, antes da constituição da vida em sociedade, com direitos e deveres para todos os seus moradores.
Podemos dizer, então, que a ideia de estado de natureza é fictícia, uma criação de Hobbes para 
explicar como era o mundo antes da organização em sociedade ou, pelo menos, a forma como ele 
imaginou o mundo antes da criação da vida em sociedade.
Para Hobbes, a construção da paz conta com o auxílio de duas faculdades humanas: a paixão e a 
razão. O medo da morte violenta e a esperança de uma vida melhor e mais confortável são as paixões 
que conduzem os homens à ideia de Estado.
A paz é o princípio da autopreservação. Mas a guerra é válida e pode ser utilizada quando o Homem 
estiver em risco.
Para Hobbes, é a razão que impulsiona o Homem a concordar em limitar seus direitos para viver 
em paz na sociedade. Mas é necessário que todos os homens concordem em renunciar a parte de seus 
direitos, que eram ilimitados no estado de natureza, para poderem viver em sociedade sem conflitos.
A renúncia aos direitos deve ser feita por pacto de reciprocidade entre todos os homens. 
De fato, esse modelo só dá certo se todos concordarem porque, se um homem renuncia ao seu 
direito enquanto outro homem o mantém, aquele que renunciou não estará construindo meios 
para sua proteção.
Mas, para que a sociedade garanta a paz entre os homens, não basta que eles se comprometam: é 
preciso que cumpram a promessa feita. Para isso, a razão indica a necessidade de um poder coercitivo 
que obrigue a observância da leis porque, do contrário, elas não se tornarão leis de fato.
Repare que vivemos esse problema. Para viver em sociedade, cada um de nós deve agir em 
conformidade com as leis que, de certo modo, restringem nossa liberdade. Não podemos fazer barulho 
excessivo em nossa casa, madrugada adentro, porque estamos dando uma festa e queremos aproveitar 
o máximo. Existem regras que nos obrigam a não fazer barulho após um determinado horário, em 
respeito ao bem‑estar dos nossos vizinhos. Contudo, quando alguns cumprem as regras e outros não, há 
um desequilíbrio porque as leis não estão sendo cumpridas por todos da mesma forma.
O exemplo do barulho excessivo é apenas um convite para a reflexão. Pense em quantas regras são 
firmadas na sociedade em que vivemos e que não são cumpridas por todos da mesma forma, e quanto 
desequilíbrio social e insegurança esse descumprimento gera para todos os demais. Hobbes, pois, estava 
certo: viver em sociedade não é exatamente simples.
Para o pensador, o Estado é constituído para exercer poder coercitivo, para punir os que infringirem 
as leis. O Estado fará com que as leis da razão, aquelas que motivaram os homens a viver em sociedade 
para se protegerem, se tornem leis civis que deverão ser cumpridaspor todos.
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Ele propõe uma reflexão interessante: o direito ilimitado a todos os direitos não é garantia de direito 
nenhum. E conclui: é preciso ordenar as restrições para que se possa usufruir de fato de algum direito.
Podemos concordar com essa afirmação? De fato, direito ilimitado a todos os direitos não é garantia 
de direito nenhum? Se prevalecer a razão, a afirmativa é verdadeira. De fato, que adianta termos direitos 
ilimitados se não pudermos exercê‑los porque outra pessoa mais forte nos impede fisicamente de exercer 
nosso direito?
Por exemplo: se vivêssemos em uma sociedade sem leis, na qual todos tivéssemos direitos ilimitados, 
quem teria a maior quantidade de bens e de propriedades? Evidentemente aqueles que tivessem mais 
força física. E os demais? Teriam que se submeter àqueles com maior força física. Portanto, o que 
adiantaria para os que tivessem menor força física possuir direitos ilimitados?
Hobbes propõe um poder soberano como vontade única da sociedade e, nessa medida, é adepto do 
absolutismo que existia na sociedade de sua época. Mas ele também inova quando afirma que a origem 
do poder absoluto não é divina, mas um contrato social. Os homens se submetem voluntariamente 
ao poder do Estado porque, sem ele, a vida seria de medo e conflito.
Hobbes é, assim, absolutista e contratualista. Em outras palavras, defende um poder absoluto, mas 
reitera que é necessário que esse poder respeite as leis do contrato firmado entre os homens que vivem 
em uma determinada sociedade.
O contrato a que Hobbes se refere não é o mesmo que um contrato escrito entre todos os homens, 
mas é o mesmo significado que o conjunto de leis que os homens concordam em cumprir para poder 
viver em paz na sociedade.
Para Hobbes, será virtuoso o homem que agir de acordo com as leis de natureza e será vicioso o 
homem que não agir em conformidade com elas. Em resumo: leis da natureza são leis morais porque 
apontam as ações que conduzem à autoconservação, o que torna virtuoso o homem que as seguir.
Para Hobbes, os homens concluíram que era necessário limitar direitos para se autopreservarem e 
formalizaram isso pelo contrato social. Entretanto, parte fundamental dos direitos da natureza deve ser 
preservada, ou seja, o direito de autopreservação.
Hobbes acredita que o homem deve se autopreservar, ainda que seja pela força, e, nessa medida, é 
lícito desobedecer ao governante se este ordenar a um homem que se mate, que se fira, que não resista 
ao ataque alheio ou que se abstenha de utilizar as coisas necessárias para sua sobrevivência.
Nessas hipóteses, o homem pode utilizar a força para se proteger e se preservar. Para ele, portanto, o 
dever de obediência termina quando se trata de garantir a autoproteção. O direito que os homens têm 
de se defender não pode ser objeto de renúncia por nenhum pacto.
Em consequência dessa ideia de que o Homem pode utilizar a força para se defender daquilo que o 
ameaça, Hobbes reconhece o direito do soberano de matar o súdito que se insurge contra suas ordens.
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Para ele, uma vez constituído o Estado, a consciência e o julgamento individuais cedem lugar 
à consciência e julgamento públicos, a partir dos ditames da lei civil. O pensamento individual é 
característico do estado de natureza e não do Estado organizado a partir do contrato social.
Hobbes, assim, sustenta, ao mesmo tempo, duas ideias que parecem antagônicas: a soberania 
absoluta e o direito à desobediência civil quando se tratar de autopreservação.
Não obstante, ele entende que é mais seguro viver sob o poder do Estado do que em estado 
permanente de natureza, quando as possibilidades de agressão seriam muito maiores. Hobbes acredita 
na unidade do poder contra a anarquia.
Seu principal livro, O Leviatã, utiliza a figura de um monstro bíblico que, inclusive, estava na capa da 
primeira edição em 1642. Esse monstro, Leviatã, representa o Estado como um homem artificial dotado 
de escamas que são seus próprios súditos. Essa figura está atrelada à imagem de restrição de direitos e 
da vontade dos súditos que, por meio de um pacto, outorgam poderes ao Estado soberano.
Figura 17 – Capa original da obra O Leviatã
Observe como o corpo do leviatã, que representa o Estado, é coberto por escamas, que são pessoas, 
simbolizando, dessa forma, o grande poder do Estado sobre todos.
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Thomas Hobbes tem tendência absolutista, porém laica, porque, para ele, o poder soberano do Estado 
não é oriundo de Deus.
Bernardes (2002, p. 47) afirma:
Segundo Hobbes, o desenvolvimento das condições para uma vida confortável 
depende, necessariamente, do advento do Estado; esse é efetivado pelo 
ordenamento e restrições relativas àquelas ações dos agentes que podem 
afetar o bem comum. A paz efetivada pela soberania é condição necessária e 
suficiente para o bem comum. Entretanto, o desenvolvimento das condições 
que podem implementá‑lo é obtido pela ação livre dos indivíduos, que 
tendem naturalmente para isso no interior da sociedade civil organizada. 
A analogia hobbesiana do movimento da ação humana com o movimento 
natural das águas em um rio revela que o Estado, tal como as margens, não 
obstaculiza o movimento natural dos homens para a obtenção do que é 
melhor para si, senão o orienta para o seu melhor fluir.
Maquiavel e Hobbes são importantes pensadores políticos que contribuíram, como vimos, para a 
formação do Estado moderno e também para o pensamento político moderno.
Nas reflexões de ambos, encontramos as bases do que chamamos de Estado na atualidade, que se 
fundamenta na existência de leis que limitam o poder dos cidadãos, ao mesmo tempo que limitam o 
poder do próprio Estado em suas ações contra os indivíduos.
Mas, para que das ideias de Maquiavel e Hobbes chegassem àquilo que atualmente denominamos 
de Estado, outros pensadores também contribuíram com suas ideias de Teoria Política. Vamos 
conhecê‑las?
 Saiba mais
O filme Morte ao Rei trata da Reforma Protestante e é considerado uma 
boa forma de entender o pensamento de Thomas Hobbes:
MORTE ao rei. Dir. Mike Barker. Alemanha; Reino Unido: FilmFour/IAC 
Film/Natural Nylon Entertainment/Rockwood Edge/Scion Films/Screenland 
Movieworld GmbH, 2003. 102 minutos.
Procure também ler a obra de Maquiavel, abordado neste livro‑texto:
MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Penguin Cia. das Letras, 2010.
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Unidade I
 Resumo
Até este ponto trabalhamos com os conceitos de formas de governo, 
república e poder na idade média.
Sobre formas de governo, aprendemos que, para Aristóteles, existem as 
seguintes situações:
• exercício do poder por uma só pessoa no interesse de todos – 
monarquia;
• exercício do poder por alguns no interesse de todos – aristocracia;
• exercício do poder pela maioria no interesse de todos – república;
• exercício do poder por uma só pessoa no interesse próprio – tirania;
• exercício do poder por alguns no interesse próprio – oligarquia;
• exercício do poder pela maioria no interesse próprio – democracia.
A principal preocupação de Aristóteles é a finalidade.
As principais características da monarquia são: vitaliciedade, 
hereditariedade e irresponsabilidade.
República é um conceito fruto de construção histórica de vários povos 
diferentes, por isso podemos ter repúblicas de múltiplas formas e com 
característicassingulares em cada sociedade, mas algumas características 
essenciais podem ser encontradas nas mais diversas experiências 
republicanas em todo o mundo e compõem o núcleo central desse sistema 
político. São elas: temporariedade, eletividade e responsabilidade.
Na Idade Média, o poder político não foi central, porque o fim do 
Império Romano e os conflitos ocorridos em decorrência motivaram a 
fragmentação do poder. Os senhores feudais eram os governantes de suas 
porções de terra, denominadas feudos, onde viviam seus vassalos.
Como regra geral, a participação do povo inexistia, pois estava limitada 
ao cumprimento das ordens e, no máximo, à exigência de segurança 
e alimentação daqueles para quem prestavam serviços na condição 
de vassalos. Mas a definição de regras de governo e de prioridades de 
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TEORIA POLÍTICA
organização não era assunto de vassalos, a discussão política era destinada 
apenas àqueles que tinham poder e definiam com exclusividade as formas 
de exercê‑lo.
A revolução comercial foi marcada pelo forte impulso das viagens 
marítimas, pelo desenvolvimento científico e pelo surgimento da atividade 
bancária.
Para garantir que a atividade econômica pudesse se desenvolver a 
contento, era necessário um governo forte, que não permitisse os problemas 
de segurança e de instabilidade, sempre ruins para o desenvolvimento da 
economia.
O absolutismo, governo forte, surge como uma consequência daquele 
momento socioeconômico.
Maquiavel tem destaque no estudo do pensamento absolutista. Foi dele 
a ideia de que a moral como virtude é diferente da moral a ser utilizada na 
política, na qual o conjunto de virtudes deve ser diferente.
Sua obra mais importante foi O Príncipe, escrita para agradar aos 
poderosos Médici, família que exerceu o poder durante longo período em 
Florença, na Itália.
Nessa obra, ele defende ideias como a de que o príncipe pode utilizar a 
violência, desde que seja para manter o poder. É atribuída a ele, portanto, a 
ideia de que os fins justificam os meios.
Thomas Hobbes, outro importante pensador político, iniciou as 
reflexões sobre o contrato social, uma ideia que justificaria, segundo 
ele, a opção do homem por viver em sociedade, situação antes da qual 
vivia no estado de natureza, uma forma de representar o estado natural 
em que todos eram iguais, tinham direitos ilimitados, mas viviam com o 
temor de serem atacados uns pelos outros, já que não existiam limites 
aos direitos.
Para Hobbes, o medo é que leva o homem a abrir mão de parte de 
seus direitos ilimitados para viver em sociedade, onde todos têm direitos 
e deveres e não podem descumprir suas obrigações sob pena de serem 
punidos.
Ele cria a ideia do Estado leviatã, a quem todo poder é permitido, menos 
o de destruir o homem.
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Unidade I
 Exercícios
Questão 1. No Brasil, é comum que as pessoas exerçam o direito de voto sem que se prepararem 
adequadamente para isso, ou seja, sem estudarem com profundidade o candidato, sua história de vida, 
sua trajetória política, o partido ao qual pertence, os objetivos do programa partidário, entre outros 
aspectos que poderiam contribuir para que a escolha fosse mais segura. Com isso, não é incomum que 
a população se decepcione com o candidato escolhido que, muitas vezes, utiliza o mandato apenas 
em seu proveito, sem implementar medidas efetivas em prol do bem‑estar social e da preservação do 
interesse público. Muitas vezes os eleitores gostariam de ter uma oportunidade de repensar seus votos 
e corrigir o erro cometido, antes mesmo de o mandato terminar. Em alguns países do mundo, essa 
possibilidade existe e recebe o nome de:
A) Democracia direta.
B) Absolutismo.
C) Democracia parlamentarista.
D) Recall.
E) Cassação.
Resposta correta: alternativa D.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: democracia direta era aquela exercida na Grécia, quando os cidadãos tinham o direito 
de participar diretamente das assembleias que decidiam como o governo deveria agir. Na atualidade, em 
razão do grande número de pessoas nos países e nas cidades, a democracia direta não pode ser exercida.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: absolutismo é a forma de governo em que o rei governa a partir de sua exclusiva 
vontade, sem as limitações impostas pela lei.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a democracia parlamentarista é aquela em que o governo é dividido entre um presidente, 
que é o chefe de Estado, e um primeiro‑ministro, que é o chefe do governo. O poder legislativo oferece 
a sustentação política para o poder executivo (primeiro‑ministro), enquanto o presidente trata das 
questões referentes à representação do Estado perante outros Estados do mundo.
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TEORIA POLÍTICA
D) Alternativa correta.
Justificativa: recall é uma expressão inglesa que, em tradução literal, significa “rechamada”, ou seja, 
chamar de volta. Nos países em que é adotada é chamada de revogação o eleitorado, mediante eleição 
especial, pode solicitar a substituição de um político porque ele não está atuando de forma a contentar 
seus eleitores, seja por descaso ou por incompetência técnica.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a cassação existe no direito constitucional brasileiro e é aplicada sempre nos casos 
de improbidade ou de conduta incompatível com o cargo. Alguns senadores e deputados, assim como 
prefeitos e vereadores, já foram cassados após seus atos de improbidade ou de falta de decoro serem 
investigados em comissões de inquérito. É, portanto, bem diferente do recall porque os casos que 
justificam sua aplicação são bem mais graves fundados em condutas ilícitas ou impróprias para o cargo.
Questão 2. Leias as afirmações a seguir:
I – O Estado para Hobbes não precisa ser democrático, mas deve garantir a segurança dos cidadãos.
II – O Estado para Hobbes garante a segurança dos cidadãos, que, por sua vez, precisam abrir mão de 
parte de sua liberdade para obter segurança.
III – O Estado, para Hobbes, é um ente político com poderes para punir os que se recusarem a cumprir 
a lei, embora garanta a liberdade ampla de todos os cidadãos.
IV – Viver no Estado concebido por Hobbes é abrir mão da autopreservação e lutar para obter os 
melhores resultados.
V – A benevolência e, consequentemente, a fraternidade são os traços que garantem a autopreservação 
no modelo de Estado idealizado por Hobbes.
Acerca das afirmativas, assinale a alternativa correta:
A) Somente as afirmativas I e V são corretas.
B) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
C) Somente as afirmativas II e III são corretas.
D) Somente as afirmativas III e V são corretas.
E) Somente as afirmativas I e II são corretas.
Resolução desta questão na plataforma.

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