Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1. Características gerais das doenças: Transtornos de ansiedade são manifestações patológicas de ansiedade que ocorrem de diferentes formas, com características que configuram os diferentes tipos de distúrbios. A ansiedade pode ser uma reação normal a estímulos desestabilizadores. Essa reação pode ocorrer com sintomas psicológicos, como apreensão, desconforto, medos diversos etc., e também com sintomas físicos, como taquicardia, aumento da frequência respiratória, alterações de pressão arterial etc. Quando a ansiedade ocorre sem que existam motivos objetivos, reais e proporcionais para isso, dizemos que ela é patológica. 1.1. Incidência: Pesquisas recentes indicam altas taxas de transtornos mentais comuns - depressão e ansiedade - em grandes capitais em relação também a características sociodemográficas, como em indivíduos do gênero feminino, desempregados, pessoas com baixa renda e também com baixa escolaridade. Estudos realizados em quatro principais capitais apontaram taxas de incidência maiores que 50% nas cidades analisadas: 51,9% no Rio de Janeiro, 53,3% em São Paulo, 64,3% em Fortaleza e 57,7% em Porto Alegre. Estes foram baseados em unidades de saúde pública, permitindo constatar a valência desses tipos de transtorno em comparação a outros distúrbios. Existem muitos motivos que podem explicar a alta prevalência de transtornos de ansiedade no Brasil, como a violência urbana generalizada e as condições socioeconômicas adversas. Esses fatores influenciam diretamente na qualidade de vida dos indíviduos, atingindo assim, também, os graus de ansiedade. Isso reflete principalmente na necessidade de implantação de políticas públicas voltadas a saúde mental. 1.2. Tipos de distúrbios: Os principais tipos de distúrbios de ansiedade apresentados neste trabalho serão os propostos no DSM V e estão divididos em: ● Síndrome do Pânico ● Fobia Específica ● Fobia Social ● Estresse Pós-Traumático (TEPT) ● Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) ● Distúrbio de Ansiedade Generalizada 1.3. Sintomas: Síndrome do Pânico: Os sintomas ocorrem por meio de repetidos ataques de pânico em que os pacientes apresentam sensação de colapso físico ou medo de morte iminente, palpitações, taquicardia, suor excessivo, tremores, falta de ar, dor no peito, náusea, calafrios, formigamentos, ondas de calor, tontura e em medo de enlouquecer. Fobia Específica: Consiste no medo irracional de objetos, animais ou situações, como andar de avião, baratas, cavalos, cachorros e outros animais, facas ou outros objetos que possam ser usados como armas. Quando as pessoas se defrontam com os objetos de sua fobia ou acham que vão ter que se defrontar, começam a apresentar sintomas ansiosos. Fobia Social: Os pacientes com esse tipo de fobia apresentam sintomas ansiosos quando o indivíduo passa por situações que envolvam algum tipo de desempenho diante de outras pessoas, como ter que falar em público, ter que escrever com outros olhando, falar com uma pessoa importante etc. Estresse Pós-Traumático (TEPT): Esse distúrbio surge após acontecimento traumático, que passa a ser revivido mentalmente com muito sofrimento. Causa alterações do sono, hipervigilância, sobressaltos exagerados, irritabilidade, explosividade, dificuldade de concentração, comportamentos de evitação, dificuldades de relacionamento social e alterações nas manifestações de afeto. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): A ansiedade nesse tipo de transtorno acontece quando surgem pensamentos desagradáveis (geralmente ligados a temas de agressão, morte ou sexo), que são percebidos como pensamentos invasivos e inoportunos, repetem-se e surgem de modo inesperado, sendo experimentados como ocorrências difíceis de controlar. As pessoas podem também ter medo de perder o controle e cometer atos insanos, humilhantes ou destrutivos. Podem existir comportamentos compulsivos e irracionais, como lavar as mãos muitas vezes seguidas para eliminar germes, repetir palavras em silêncio, fazer gestos etc. Distúrbio de Ansiedade Generalizada: A pessoa vive longos períodos sentindo-se exageradamente apreensiva diante de eventos comuns da vida. Há preocupação desproporcional, e podem ocorrer sintomas como inquietação, nervosismo, irritabilidade, dificuldade de concentração, cansaço, tensão muscular e insônia. 2. Aspectos Genéticos das doenças: 2.1. Alterações Cromossômicas: A pesquisa genética psiquiátrica, de par em par com o sequenciamento do genoma humano, não tem medido esforços para explicar as doenças mentais pelo método exclusivo do material genético. David Collier, um dos pesquisadores que procuram tais explicações, aponta que pesquisas recentes sobre distúrbios de pânico, fobia social, agorafobia e outras formas de ansiedade poderiam ter suas causas encontradas inteiramente dentro do genoma humano (Gratacos et al, 2001). Nesta constelação de doenças psiquiátricas, foi encontrada, no cromossomo 15, uma bizarra torção a partir da qual haveria três cópias de 60 genes na maioria das células, onde o usual seriam duas. A forma pela qual a pesquisa apontou a relação dessa cópia triplicada no cromossomo 15 com os distúrbios de pânico, a conduziu a um labirinto no qual um dos caminhos indicava uma co-morbidade com a síndrome das articulações lassas e mais frágeis, que resultam em uma hipermobilidade. Considerou-se então que essa alteração no cromossomo 15 poderia ser relevante para as doenças nas quais a ansiedade estava presente e, utilizando-se de uma técnica denominada fluorescence in situ hybridisation (FISH), atribui-se àquela alteração (nomeada DUP25) a causa dos distúrbios de pânico na esmagadora maioria dos casos. No entanto, a sequência dessa pesquisa mostrou que duplicações de genes nas células ocorrem de formas diversas e estão altamente presentes nas células cerebrais. Os autores da pesquisa mostram que as alterações da região DUP25 do cromossomo 15 são diversas das de outros cromossomos e consideram que em alguns indivíduos toda a região torna-se altamente instável e propensa à recombinação. Apesar das muitas incertezas, eles observam que é provável que muitos genes dessa região estejam envolvidos no fenótipo causador da doença do pânico e da ansiedade em geral. Agora, por que razão esses transtornos são tão comum na população em geral? A hipótese mais aceita é que na evolução da espécie humana, a reduplicação na região 25 do cromossomo 15 foi selecionada por prover o sujeito com respostas de medo e defesa a ameaças externas e, alguns pesquisadores consideram mesmo que o primeiro ataque de pânico geralmente se dá em lugares públicos em razão desse fator evolucionário. Uma das consequências destes estudos, segundo Collier, é que se estas pesquisas forem confirmadas, testes genéticos, em breve, poderão tornar-se avaliações para desordens do pânico com os resultadosfenotípicos correspondentes. Isto, de acordo com o autor, traria vantagens não só para o diagnóstico, mas para as pessoas que o receberam, pois deste modo sentiriam-se melhor em relação à sua condição, já que saberiam que isto tem uma origem biológica. Além disso, há a perspectiva de melhorar o tratamento dos distúrbios de pânico e outros distúrbios de ansiedade se alguns receptores envolvidos na reduplicação dessa região do cromossomo 15 puderem ser atingidos e amortecidos. 2.2. Mutações Gênicas: Modificações ocasionais que ocorrem nos genes, modificando sua estrutura, as mutações gênicas têm relevada importância do ponto de vista evolutivo, por darem origem à variabilidade de indivíduos de uma população sobre a qual atua a seleção natural. No que diz respeito às relações existentes entre tais mutações e transtornos de ansiedade, uma tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul buscou apresentar aspectos genéticos no transtorno do pânico. O estudo mostrou que nos pacientes com TP (transtorno do pânico) existe uma redução da responsividade do receptor de serotonina (neurotransmissor ligado a regulação do ritmo circadiano, do sono e do apetite) HTR1A, “sugerindo que uma variação alélica no gene desse receptor possa predispor o desenvolvimento desse transtorno”. Além disso, ratos modificados para este gene apresentaram diversos comportamentos relativos à ansiedade em situações de conflito. Ademais, outros estudos se mostraram inconclusivos e irreplicáveis. Ainda inconclusivamente, outro estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, sugere que as experiências traumáticas se inserem biologicamente em genes selecionados, alterando assim suas funções e levando ao desenvolvimento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Assim, segundo este estudo, a alteração de genes induzidos por um evento traumático provoca mudanças na resposta ao estresse de uma pessoa e leva ao desenvolvimento da desordem. O TEPT, segundo os pesquisadores, pode estar associado a mudanças epigenéticas em genes do sistema imunitário e, se este for o caso, identificar as bases biológicas da desordem pode ser crucial para o desenvolvimento psicológico adequado e para possíveis intervenções farmacológicas. Um estudo de análise de segregação, realizado por Alsobrook et al, em dados obtidos de famílias de pacientes com TOC, concluiu que “nas famílias de pacientes com escores elevados de sintomas de simetria e ordenação, existe o provável envolvimento de um gene de efeito maior”. Entretanto, e apesar dos múltiplos estudos moleculares que vêm sendo realizados atualmente na busca por um gene específico relacionado ao transtorno obsessivo-compulsivo, poucos são os achados positivos, e mais avanços se fazem necessários para um melhor entendimento da doença. De acordo com cientistas da Alemanha e dos Estados Unidos, a ansiedade pode ter raízes genéticas, como foi concluído em um estudo realizado com 96 mulheres com idade em torno de 22 anos. Os resultados obtidos foram incluídos na edição de agosto de 2008 da revista científica Behavioral Neuroscience, publicada pela Associação de Psicologia Americana (APA). O experimento demonstrou que os indivíduos que apresentam uma variação no gene COMT, que regula o neurotransmissor dopamina apresentam uma resposta reflexa exagerada quando submetidos a imagens desagradáveis. As variações são intituladas Val158 e Met158. Cerca de metade da população possui uma cópia de cada variação. A outra metade, no entanto, apresenta ou duas cópias de Val158, ou duas de Met158. A primeira parte do experimento foi reservada para identificar que participantes carregavam as diferentes variações do gene COMT. Em seguida, as voluntárias observaram imagens de cenas agradáveis, desagradáveis, e neutras. Ao visualizarem as imagens, um aparelho produzia estampidos aleatórios e repentinos, fazendo com que as mulheres piscassem. Eletrodos conectados ao músculo dos olhos das voluntárias, então, captavam a intensidade do choque (ou susto) sentido por cada uma das voluntárias. Por fim, uma análise comparando as diferentes reações revelou que as mulheres portadoras de duas cópias da variação Met158 do gene COMT apresentaram reações mais significativas às imagens desagradáveis do que as portadoras de duas cópias da variação Val158, ou das que apresentavam uma cópia de cada variação. Além disso, as voluntárias que traziam duas cópias da variação Met158 também apresentaram maiores indícios de ansiedade ao realizarem um teste básico de personalidade. Dessa forma, os resultados apontam para uma ligação entre variações específicas no gene que quebra a molécula de dopamina e emoções negativas. 2.3. Tipo de Herança genética: Dada a complexidade dos diversos transtornos de ansiedade, sua herança é multifatorial, causada tanto por questões genéticas quanto por ambientais. Aos fatores biológicos, se envolve diversas áreas que podem ser responsáveis pelo desenvolvimento do transtorno (receptores de serotonina, atividade no hipocampo, atividade no córtex pré-frontal), com isso pode-se chegar a conclusão de que os transtornos de ansiedade são herdados por vários genes. No transtorno do pânico, por exemplo, não foi encontrado nenhum padrão de herança monogênica (Blaya, 2008). Ainda há uma grande dificuldade em achar componentes genéticos para os transtornos de ansiedade, pois suas alterações contribuem apenas para uma maior suscetibilidade, portanto estudos que descrevam os aspectos neurológicos do transtorno contribuem muito para um avanço dos estudos genéticos, pois com a descoberta dos locais e dos mecanismos envolvidos no transtorno pode-se chegar a um gene que já se sabe que atua naquela região ou mecanismo, como é o caso do transtorno do pânico, em que se sabe a influência do sistema serotoninérgico no transtorno, então através disso se busca genes candidatos que já se sabem que estão envolvidos nesse sistema é o gene 5-HTT (gene transportador da serotonina), localizado no cromossomo 17q11.1-q12 (Blaya, 2008). Essa “caça” aos genes responsáveis pelos TA também são realizados baseados em modelos animais . Os estudos genéticos de ansiedade se mostram efetivos quando a tratam de uma a maneira geral, mas quando se trata de concordância entre os transtornos específicos. Devido a essa dificuldade surgiu o conceito de fenótipos intermediários, “os fatores genéticos modulados por experiências ambientais, influenciam os ‘fenótipos mínimos’ e o agrupamento desses determina os ‘fenótipos intermediários’, como o comportamento inibido” (Blaya, 2008). Esse conceito ajuda a melhorar na compreensão dos estudos genéticos desses transtornos. Outro aspecto relevante hoje para os estudos de ansiedade são asinterações gene-ambiente que antes eram desconsideradas. Um dos genes estudados com essa interação foi o gene 5-HTTPL. Foi investigada a interação dele com trauma na infância e acharam uma maior sensibilidade à ansiedade quando expostos a maior abuso emocional os sujeitos com o alelo s. Outro gene em que há estudos com essa interação é o HTR1A, em que estudos com ratos que tinham a deleção desse gene apresentavam o fenótipo de ansiedade apenas quando essa inativação ocorria no período pós-natal , e essa inativação na vida adulta não apresentava efeitos sobre a ansiedade. Transtorno de ansiedade generalizada: Apenas no final do século passado que a TAG começou a ter estudos relevantes a investigando geneticamente. Um dos primeiros estudos se concentrou nas bases neurológicas do medo e em como alterações nesse circuito podiam acarretar em diversos transtornos de ansiedade, neste estudo chegou-se a um resultado que indicava uma possível associação entre alterações na amígdala e o TAG. Essa relação foi corroborada por um estudo feito por DeBellis, em 2000, que através de imagens de ressonância magnética mostrou que adolescentes e crianças com TAG possuíam um volume maior da amígdala em comparação ao grupo controle. Outras áreas também se mostraram importante nos estudos do TAG, como as áreas do córtex frontal e lobo temporal medial - que são responsáveis pelo controle do medo e da ansiedade. Além de anormalidades no receptor GABA-benzodiazepnícos que também foi encontrado no TAG. As beta-carbonilas, antagonistas desse complexo, produzem uma síndrome de ansiedade aguda, tanto em animais de laboratório, quanto em humanos saudáveis. E inversos a isso os benzodiazepnícos são considerados como uma forma de tratamento eficaz no TAG. Também observado que pessoas com TAG possuíam uma redução da transcrição do ácido ribonucléico mensageiro que codifica o receptor benzodiazepnícos. Embora o TAG tenha essa diversidade de complicações neurobiológicas, se acredita que há sim um componente genético, porém ele é modesto (Holander & Simeon, 2003). Fobia Social: Estudos iniciais da fobia social indicaram que não há uma relação genética com o transtorno, porém foram constatados que a inibição de comportamento - que essa sim tem traços de hereditariedade - quando se manifesta na infância é um indício de posterior desenvolvimento da fobia, mas apenas isso não é o suficiente para desencadear o transtorno (Holander & Simeon, 2003). Em um estudo feito por Hayward, em 2003, com adolescentes no ensino médio que apresentavam inibição de comportamento, indicou o desenvolvimento da fobia social quatro anos mais tarde. Porém, frente a tudo isso não há praticamente nenhum estudo molecular de genética em relação ao transtorno (Holander & Simeon, 2003). Um relato de Stein (1998) não encontrou ligação com o gente transportador de 5-HT ou receptor 5-HT2A na fobia social generalizada. Fobia Específica: Segundo Holaner & Simeon, além de existirem poucos estudos relacionados a biologia do transtorno, os poucos que existem são inconclusivos. Alguns apenas sugerem que há uma certa hereditariedade, mas que esta depende da fobia, os estudos com imagens cerebrais são poucos e não apontam alguma conclusão, apenas há a sugestão de que os mesmos mecanismos cerebrais responsáveis pelo medo - que estão presentes em diversos transtornos de ansiedade - estão presentes na fobia específica 2.4. Risco familiar e Herdabilidade: Multifatores envolvidos no risco de desenvolvimento de um transtorno de ansiedade estão associados à propensão dele, dentro de um panorama cognitivo e social. Logo, a propensão sobre uma ansiedade interpessoal (contexto de tensão nervosa e estresse) reflete sobre um contexto biológico de propensão à ansiedade (fatores genéticos). A família como fornecedora do ramo de modelos comportamentais em primeira instância na formação de um ser, principalmente os pais, são os primeiros a dispôr as primeiras gratificações biológicas e condicionais à criança e são, por vez, os primeiros modelos de identificação, a qual se refere o evento comportamental que marca a disposição e aptidão de uma pessoa em apresentar comportamentos, práticas ou respostas emocionais de modelos reais ou simbólicos. Identificação essa que pode ser designada inata, quando levado em conta o comportamento de outros primatas mais próximos dos humanos, em seu agir instintivo ao observar, repetir e aprender o agir de seus pais, como por exemplo no uso de ferramentas. Assim, a familia atribui valor hereditário como também valor em sua medida de aprendizagem à certa caracteristica ansiosa. Na linha de pesquisa partindo da mensuração de cada valor específico, são encontrados estudos variados, vezes com ênfase na herdabilidade (medida de nivel de correspondência entre o fenótipo, no caso, transtorno ansioso e o valor genético) e vezes com ênfase na obtenção interpessoal de transtornos e aspectos ansiosos. Na conclusão de Kashani, Vaydia, Soltys, Dandoy, Katz e Reid (1990) “evidências sugerem que estados de ansiedade adulta são provavelmente pré-existentes na infância.” apresentando uma associação entre a ansiedade das crianças e a ansiedade de seus pais. Lipp (1989) afirma a vulnerabilidade individual a estressores está relacionada a atributos adquiridos durante o desenvolvimento ontológico, como a forma de manusear o ambiente e a ansiedade. Nascimento (2001) realiza pesquisa resaltando a dimensão interpessoal envolvida na propensão à ansiedade, investigados a correspondência entre a ansiedade traço-estado de crianças e adolescentes e a ansiedade traço-estado de seus pais e mães, por meio do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) de Spielberger, Gorsuch e Lushene: o inventário é constituído de duas escalas de auto-avaliação, com 20 afirmações cada uma, que pedem que a criança indique como se sente, em um determinado momento, medindo a ansiedade-estado, e como geralmente se sente, medindo a ansiedade-traço. Numa amostra de 1) 50 crianças: 25 meninas e 25 meninos, com idades entres 8 e 12 anos, morando com ambos os pais e possuindo de 1 a 4 irmãos. 2) 49 adolescentes, 33 meninas e 16 meninos, com idades entre 13 e 16 anos, morando com ambos os pais e possuindo de 1 a 4 irmãos e 3) 99 pais e 99 mães das crianças e adolescentes que constituem a amostra. O verificado foi a ocorrência de correlação positiva e significativa entre ansiedade estado e ansiedade traço das crianças do sexo feminino e de suas mães, entre a ansiedade traço das crianças do sexo feminino e a ansiedade traço dos pais. Nesse conjunto de correspondências, características dos modelos (pais) como o sexo e o papel que exercem e outros padrões de associações com esse modelo intervém na aprendizagem,outro ponto relevante é que as correlações entre a ansiedade das crianças e de seus pais foram maiores que as correlações entre a ansiedade dos adolescentes e de seus pais. Na categorização de transtornos de ansiedade, os riscos e herdabilidade são, da mesma forma, mensurados e analisados em forma variada, eventualmente pela dificuldade de considerar resultados em estudos específicos a proposições gerais e também pelo obstáculo de avaliação do limiar entre herdado e desenvolvido, na tentativa de separação dos componentes genéticos e ambientais. São reportados no livro Transtornos de Ansiedade (Eric Hollander e Daphne Simeon, 2004) alguns resultados de pesquisas dos transtornos ansiosos específicos seguintes: Transtorno de pânico: ● Estudos familiares demonstram influências genéticas moderadas; ● Crowe (1983) risco de 24,7% entre familiares com o transtorno. Transtorno de ansiedade generalizada (TAG): ● Kendler (1992): hereditariedade modesta, cerca de 30%. Fobia Social: ● Stein (1998) Identificado um forte risco familiar, familiares de 1º grau de probandos com fobia social teve um risco aproximado a 10 vezes mais elevado no desenvolvimento de fobia social generalizada; ● Kendler (1992) Estudo com gêmeos, hereditariedade modesta de 30 a 40%, dependendo da fobia especifica; ● Nelson (2000) Estudo com adolescentes gêmeas, 28% de hereditariedade, enfatizando a evidência de vulnerabilidade genética compartilhada entre fobia social generalizada e depressão. ● Schwartz (1999) Descobriu-se que a inibição do comportamento identificada em cianças de 1 a 3 anos de idade é um forte preditor de ansiedade social na adolescência. Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC): ● Cerca de quatro vezes mais comum em familiares de probandos de TOC; ● Idade de início do TOC está relacionada com o grau de parentesco, não foi encontrado início depois dos 18 anos em familiares de probandos; ● Genética Molecular: As análises que segregação proporcionaram forte apoio para o envolvimento de um gene importante isolado no TOC, mas mesmo assim, esse gene não foi identificado. Transtorno de Estresse Pós-Traumático: ● Estudo com gêmeos veteranos do Vietnã: fatores genéticos foram resposáveis por 13 a 34% da variancia na propensão aos grupos de sintomas de TEPT e nenhum papel etiológico para o ambiente compartilhado. 2.5. Concordância entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos: O método de estudo de gêmeos consiste em comparar o número de pares de gêmeos monozigóticos (MZ) em que os dois indivíduos são afetados pela mesma doença com o número de pares de gêmeos dizigóticos (DZ) em que os dois indivíduos são afetados. Como os gêmeos monozigóticos apresentam genes idênticos, consideramos as diferenças apresentadas por eles como causadas pelo ambiente, já como os gêmeos dizigóticos não possuem os genes idênticos, podemos considerar as diferenças apresentadas entre eles como genéticas. Síndrome do pânico: O primeiro estudo utilizando gêmeos para analise da influência da genética na síndrome do pânico foi realizado em 1986 por Torgersen, no qual ele encontrou uma concordância de 31% para os gêmeos monozigóticos, contra uma concordância de 0% para dizigóticos. Em 1993 Kendler realizou um novo estudo utilizando gêmeos, ele examinou uma amostra de 1033 pares de gêmeas do sexo feminino encontrando uma concordância de 23,9% para gêmeas monozigóticas, contra 10,9% para gêmeas dizigóticas. Um último estudo realizado com gêmeos abordando a questão da genética na síndrome do pânico foi realizado por Perna em 1997, onde foram analisados 120 gêmeos encontrando uma relação de 73% nos gêmeos monozigóticos contra 0% nos gêmeos dizigóticos. Nesse estudo foram investigado também ataques esporádicos de pânico, não encontrando nenhuma diferença significativa, o que demonstra a importância da genética da transmissão da síndrome do pânico. Fobia Social: Em relação à fobia social, Fyer e seus colaboradores realizaram um estudo em 1993 com familiares de primeiro grau de pacientes com a fobia. Nesse estudo foram entrevistados 83 familiares de primeiro grau de 30 pacientes com fobia e 213 familiares de 77 pessoas sadias (grupo controle). Esse estudo concluiu que o risco é maior nos familiares dos pacientes com a fobia do que nos do grupo controle, com uma porcentagem de 16% nos familiares dos que apresentavam a patologia e 5% nos dos que não apresentavam. Estresse pós- traumático: Em estudo realizado em 1995, por Seeley, Clarke e Sack, com familiares de portadores da síndrome foram encontrados resultados que demonstram que o risco de desenvolver a síndrome é cinco vezes maior nos parentes de primeiro grau em relação aos parentes mais distantes e não parentes. Outro estudo realizado dois anos antes por True e colaboradores utilizando gêmeos encontrou uma maior ocorrência do desenvolvimento de estresse pós-traumático em gêmeos monozigóticos em relação aos gêmeos dizigóticos. Transtorno obsessivo compulsivo (TOC): Estudo realizado em 1990 por Riddle e colaboradores com uma amostra de 51 pares de gêmeos encontrou uma concordância de 63% em gêmeos monozigóticos. No ano de 1992, Bellodi e colaboradores realizaram uma pesquisa na qual encontraram uma taxa de concordância de aproximadamente 22% em gêmeos dizigóticos. 3. Medicação: São utilizados dois recursos para o tratamento da ansiedade patológica, a psicoterapia e a farmacologia. Um recurso não exclui o outro, muito pelo contrário, eles devem estar presentes concomitantemente no tratamento do transtorno, pois apenas um dos dois isoladamente não surtirá os efeitos necessários para um tratamento adequado. Os fármacos atuantes no transtorno de ansiedade são denominados como ansiolíticos, eles referem-se principalmente aos benzodiazepnícos. Este possui efeitos como alívio da ansiedade, sedação, efeitos anticonvulsivantes e de relaxamento muscular, amnésia anterógrada e incoordenação motora. É recomendável não dirigir sob o efeito desses fármacos. Os principais fármacos utilizados no tratamento são o diazepam, o clordiazepóxido, lorazepam, bromazepam, oxazepam, clorazepato e alprazolam. Sabe-se hoje que os benzodiazepnícos atuam no receptor GABAA, o GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC. (Guimarães, 2015). Referências Bibliográficas: LIPP, M. E. N. (1989). Atitudes Parentais e o Desenvolvimento de Resistência ao Estresse. Psicologia: Reflexão e Crítica , v. 4, n. 1/2, 91-96 HOLLANDER, Eric; SIMEON, Daphne: Transtornos de Ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2004, 101-125p. NASCIMENTO, Célia R.R. Relações entre a resposta de ansiedade de pais e mães e a reposta de ansiedade de seus filhos. Porto Alegre, 2001. 12p. BLAYA, C. Aspectos Genéticos no Transtorno do Pânico. Março/2008. 156f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008. http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/7127/ciencia-e-tecnologia/mudancas-geneti cas-induzidas-por-trauma-podem-levar-a-transtorno-de-estresse Rev. Bras. Psiquiatr. vol.23 suppl.2 São Paulo Oct. 2001 http://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2008/08/080811_ansiedade_ genes_mv.shtml GONZALEZ, Christina. ASPECTOS GENÉTICOS DO TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO. São Paulo: Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 23, out. 2001. Mensal. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462001000600012&script=sci_a rttext>. Acesso em: 13 set. 2015. <http://www.fundamentalpsychopathology.org/uploads/files/revistas/volume06/n 3/resenhartigos_v6n3.pdf > GONÇALVES, Daniel Almeida et al. Brazilian multicentre study of common mental disorders in primary care: rates and related social and demographic factors. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 30, n. 3, p.623-632, 2014. FapUNIFESP ASBAHR Fernando R. Transtornos ansiosos na infância e adolescência: aspectos clínicos e neurobiológicos. Jornal de Pediatria 80.2 (2004): 28-34. DREHER, Carolina Blaya. Aspectos genéticos no transtorno do pânico. Dissertação (Doutorado em Psiquiatria). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2008. GUIMARÃES, Francisco Silveira. Substâncias Psicoativas. In: LENT, Roberto. Neurociência da Mente e do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. 256p. MESSAS, G.P;VALLADA FILHO, H.P. Aspectos genéticos do transtorno do pânico. São Paulo: Revista de Psiquiatria Clínica, nov/2000. Disponível em: http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol28/n1/artigos/art12.htm. Acesso em: 13 set. 2015. VALENTE, N, L, M. et, al. Evolucionismo e genética do transtorno de estresse pós-traumático. Rio Grande do Sul: Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v.30, n.1, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-81082008000200008&script=sci_art text. Acesso em: 13 set. 2015. .
Compartilhar