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A Espiritualidade no Contexto Organizacional

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FACULDADE ANHANGUERA EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO II
PROFESSORA MARISE TUPINAMBÁ RODRIGUES TORRES
A Espiritualidade no Contexto Organizacional
 
 
 
Charles Robert Monteiro 229961911962
Marcelo Fernando Martins 227770411962
Tamires Pires Nascimento 227026011962
Thais Aparecida Benedito 226513211962
Vivian Aparecida Benedito 229856811962
São José dos Campos , 29 de Março de 2018
A ESPIRITUALIDADE NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL
A humanidade tem um longo histórico de busca por uma forma de se designar religião. No ambiente organizacional, é notável o crescimento do desejo de dar um sentido maior ao trabalho, nesse contexto, a ênfase tem sido posta em termos de espiritualidade, a qual, em princípio, é parte da religiosidade. 
Com relação ao termo espiritualidade, tema atual que carece de pesquisas aprofundadas, parece ser mais fácil explanar o que ela não é. Este tema não está ligado a um sistema religioso, não envolve rituais, doutrinas e nenhuma crença religiosa, apesar de carregar missões, valores e normas comuns à maioria das religiões. Para Freshman (1999): 
“Não há uma, duas ou três coisas que possam ser ditas acerca da espiritualidade no local de trabalho que incluam o universo de explicações” (p. 324); (2) “Não há ‘uma resposta’ à questão de saber o que é a espiritualidade no local de trabalho” (p. 326); (3) “As definições e aplicações da espiritualidade no local de trabalho são específicas dos indivíduos.” (p. 326); (4)
O gestor ao aplicar a espiritualidade no contexto da empresa passa a dirigi-la de forma a ser um ambiente não mais centrado no controle, na hierarquia, no individualismo, na obediência, mas antes, no maior desenvolvimento pessoal, no autoconhecimento, na utilização da intuição, na empatia, no cuidado com o outro. Ou seja, esta é uma nova concepção de humanização do trabalho que favorece o bem-estar emocional e o desenvolvimento e evolução de orientações, valores e práticas que não estão associados ou refletidos em termos de religião ou religiosidade.
O avanço desse movimento de espiritualidade no trabalho insere-se em um novo panorama organizacional diretamente ligado a uma postura mais humanista com relação ao mundo, a qual, independente de certos movimentos racionalistas (redução de custos, flexibilização dos contratos de trabalho, terceirização, etc.), tem leva em consideração cada vez mais a importância da singularidade do ser humano. Para Ortsman (1984):
 “[...] essa humanização trata de favorecer a melhoria das condições de vida no trabalho, respeitar cada vez mais a necessária diversidade das expectativas individuais, modificar profundamente a natureza das atividades e os tipos de relações ligadas ao trabalho, especialmente porque se põe em causa o modelo hierárquico tradicional. Tal abertura traz em si a busca por significados maiores na vida, no trabalho, na sociedade e na comunidade.”
Portanto, a espiritualidade no trabalho se trata da valorização de um principio que promove a experiência de transcendência por via dos processos de trabalho, propiciando o sentimento de estar conectado aos colegas, à empresa, à sociedade e, inclusive, ao transcendente, através da valorização de sentimentos que transmitam essa ideia (Giacalone & Jurkiewicz, 2003). Corresponde a importância dar sentido ao trabalho e identificá-lo por intermeio compartilhamento de valores com outros colegas, viabilizando a implantação de uma comunidade organizacional onde é possível superar o senso individual, permitindo a garantia de maiores significado e satisfação (Cavanagh, 1999; Ashar & Lane-Maher, 2004).
A espiritualidade não necessita, obrigatoriamente, da conexão com qualquer tradição religiosa, ela pode ter como base os valores individuais ou a “filosofia de vida” dos funcionários da organização. Para Cavanagh (1999), é crescente por parte das empresas a adoção de uma moral ligada ao transcendental, associada a valores como paz interior, respeito, verdade e honestidade. Essa valorização de princípios e orientações estaria relacionada a uma procura cada vez maior por equilíbrio e humanização da empresa, além da aproximação da instituição com a sociedade. Outro ponto que contribui para a difusão dessa ideia, de acordo com Berthouzoz (2002), se trata da crença na interdependência entre ações de negócios mais éticas e humanas e o estabelecimento de economias de mercado mais efetivas. Para Davel e Vergara (2001), focar na capacidade intelectual ou instrumental das pessoas, sem levar em consideração seus aspectos físicos, emocionais e espirituais é um equivoco, visto que pode trazer para as empresas e para a sociedade resultados insatisfatórios. Dessa forma, em face das facilidades garantidas pelas constantes mudanças sociais e organizacionais, faz-se importante que os gestores possam aumentar sua compreensão acerca da complexidade e da singularidade das pessoas, indo além dos aspectos meramente instrumentais das relações de produção. 
A espiritualidade no âmbito do trabalho pode ser tida como “o reconhecimento de que os funcionários e colaboradores têm uma vida interior que alimenta, e é alimentada, pela execução de seu trabalho quando este tem significado num contexto de comunidade” (Ashmos & Duchon, 2000, p. 137). Giacalone e Jurkiewicz (2003) sugeriram como definição: 
“um quadro de valores organizacionais evidenciado na cultura, que promove a experiência de transcendência dos empregados através dos processos de trabalho, facilitando o seu sentido de conexão com os outros de um modo que lhes proporciona sentimentos de plenitude e alegria.”.
Waddock (1999, p. 336) acredita que a “união entre mente, alma e corpo, individual e coletivamente (…) pode colaborar para as empresas reconhecerem a importância da comunidade como sustentação sobre a qual o sucesso pode ser construído”.
Quando os colaboradores tem em sua empresa o senso de comunidade ficam mais satisfeitos, assumem mais comportamentos de cidadania organizacional (Burroughs & Eby, 1998), e cooperam para a melhoria do desempenho individual e organizacional (Organ & Paine, 1999; Podsakoff & MacKenzie, 1997; Podsakoff et al., 2000). Valores organizacionais de cunho humanístico e a possibilidade de ter um trabalho com significado também podem trazer resultados efetivos com relação à autoestima dos colaboradores, a sua esperança, assim como a saúde (física e psicológica), a felicidade e o crescimento pessoal. Por consequência, os indivíduos atribuem ao trabalho um sinônimo de “vocação” não o tem mais como apenas um “emprego”, o que trazer como resultado um maior desempenho (Gavin & Mason, 2004; Gavin et al., 2003). Esses ambientes sustentam ou facilitam a auto eficácia, o otimismo, a esperança, a empatia e a resiliência dos empregados. Em consequência, estes definem metas individuais mais ambiciosas, sentem-se estimulados, motivados, resistem melhor ao estresse, são mais perseverantes diante de problemas e obstáculos, e são mais capazes de redirecionar os objetivos quando as dificuldades parecem “invencíveis” (Luthans, 2002a, 2002b).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A espiritualidade tem influenciado inúmeros contextos organizacionais e, de forma geral, está ligada à enaltecimento e valorização do capital humano, especialmente no que diz respeito à busca por um sentido maior no trabalho e por uma relação empática com o outro. Trata-se de uma mudança da parte de muitas organizações atuais em relação ao trabalho, no que tange o sentido e satisfação, ao comprometimento e a ética, as quais vêm sendo qualificadas com o processo de humanização. Sendo assim, a espiritualidade no contexto do trabalho faz parte de um movimento que corresponde ao indivíduo, o que acarreta a integração de valores individuais a esse contexto.
Este tema se apresenta como de suma importância no contexto organizacional, especialmente quando se trata da satisfação dos colaboradores, das relações entre os empregados e outras vantagens consideráveis, como,por exemplo, os lucros. Neste raciocínio relaciona-se, portanto, os planos individual e organizacional.
Não desconsiderando as vantagens, é de fundamental ressaltar que a espiritualidade está inserida em um contexto, de certo modo, contraditório, em que, as vezes, por um lado, acirram-se as formas precárias de trabalho (instabilidade, desregulamentação, desemprego, rebaixamento salarial), e por outro, há uma administração fundamentada numa atitude de maior discernimento, aceitação, escuta, flexibilidade, reflexão e cuidado. Sendo assim, compete ao gestor de pessoas entender como essa constante pode ser introduzida no contexto da empresa na presença dessa dimensão conflituosa que envolve lucro, apropriação de valor e humanização. Outra importante questão a salientar se refere aos aspectos éticos e morais da utilização do conceito de espiritualidade no trabalho, a fim de não servir como um instrumento de manipulação da gestão de pessoas, já que o objetivo é uma melhoria das condições, do conteúdo, do sentido do trabalho, e não uma anestesia diante da precariedade desse ambiente. 
Em síntese, parafraseando Jurkiewicz e Giacalone (2004), é possível concluir que as organizações com climas espiritualmente ricos “criem um ambiente que induza o individuo a empenhar-se no processo de trabalho” (p. 134) – possibilitando que o trabalho seja feito com prazer, em maior entusiasmo, empenhamento, esforços, sentido de “vocação” e desempenho.
REFERENCIAS BILIOGRÁFICAS
Ashar, H., & Lane-Maher, M. (2004). Success and spirituality in the new business paradigm. Journal of Management Inquiry, 13 (3), 249-260.
Ashmos, D.P. & Duchon, D. (2000). Spirituality at work: A conceptualization and measure. Journal of Management Inquiry, 9(2), 134-145.
Berthouzoz, R. (2002). Economic efficiency, ethical foundations, and spiritual values in the management of organizations. Em T. Pauchant (org). Ethics na spirituality at work. Hopes and pitfalls of the search for meaning in organizations. Westport: Quorum
Burroughs, S. M. & Eby, L. T. (1998). Psychological sense of community at work: a measurement system and explanatory framework. Journal of Community Psychology, 26(6), 509-532.
Cavanagh, G.F. (1999). Spirituality for managers: context and critique. Journal of Organizational Change Management, 12 (3), 186-199.
Davel, E., Vergara, S.C. (2001). Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: Atlas.
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Gavin, J. H. & Mason, R. O. (2004). The virtuous organization: The value of happiness in the workplace. Organizational Dynamics, 33(4), 379-392.
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Giacalone, R. A. & Jurkiewicz, C. L. (2003). Handbook of workplace spirituality and organizational performance. Gurgaon: Spring Book. 
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Ortsman, O. (1984). Mudar o Trabalho: experiência, métodos, condições de experimentação social. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
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Podsakoff, P. M., MacKenzie, S. B., Paine, J. B. & Bachrach, D. G. (2000). Organizational citizenship behaviors: A critical review of the theoretical and empirical literature and suggestions for future research. Journal of Management, 26(3), 513-563.
REGO, Arménio ; S. S. (2007). Espiritualidade nas organizações, positividade e desempenho. Comportamento Organizacional e Gestão, VOL. 13, N.º 1, 7-36.
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Waddock. S. A. (1999). Linking community and spirit: A commentary and some propositions. Journal of Organizational Change Management, 12(4), 332-345.

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