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Hierarquia das normas jurídicas: emendas constitucionais, leis. Instrumentos de integração do Direito: analogia e princípios gerais do Direito Maria Tereza Ferrabule Ribeiro Introdução No Direito as normas jurídicas estão organizadas de forma hierárquica, de modo que possam interagir sem conflitos entre elas. Para entender essa lógica, vamos conhecer nesta aula a ordem existente entre as normas, os integradores do Direito e os princípios gerais embasados pela Cons- tituição Federal de 1988. Objetivos de Aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • explicar a hierarquia das normas jurídicas; • compreender as diferenças entre emenda constitucional e lei; • entender a importância dos instrumentos de integração do Direito para os magistrados na solução dos diferentes casos. 1 Conhecendo a hierarquia das normas jurídicas Um grande jurista e filósofo que estabeleceu a hierarquia das leis foi Hans Kelsen. Sua obra teve influência no Brasil e outros países. Ele explica que o Direito “é uma ordem da conduta humana” (KELSEN, 1998, p. 7). Para compreender melhor a hierarquia das normas jurídicas, é necessário entender a forma como se estabeleceu a Constituição Federal, pois algumas foram promulgadas e outras, outorga- das. Diz-se que é promulgada quando essas normas forem democráticas ou populares, ou seja, é criada por representantes do povo. E serão outorgadas aquelas estabelecidas por atos autoritários e impostos pelos poderes governamentais. Deste modo, as constituições brasileiras são divididas da seguinte forma: as constituições promulgadas de 1891 (primeira república), 1934 (governo Var- gas), 1946 (redemocratização do Estado) e 1988 (ruptura da ditadura militar e restabelecimento do Estado democrático de direito); e as outorgadas de 1824 (constituição do Império), 1937 (ditadura Vargas) e 1967 (regime militar). FIQUE ATENTO! Tenha sempre em mente a hierarquia das leis: “A norma que determina a criação de outra norma é a norma superior, e a norma criada segundo esta regulamentação é a inferior.” (KELSEN, 1988, p. 181). Podemos utilizar o formato da pirâmide de Kelsen para apresentar o sistema jurídico brasi- leiro, de acordo com o artigo 59 da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Figura 1 – Pirâmide de Kelsen Constituição Federal Emendas à Constituição Leis complementares Leis Delegadas Medidas Provisórias Decretos legislativos Resoluções Fonte: adaptado de BRASIL, 1988. Então, a Constituição Federal é a lei magna do país. Assim estamos diante da ordem organi- zacional do Brasil: leis federais, estaduais e municipais. Agora, vamos estudar como a Constituição Federal pode sofrer emendas. 2 As Emendas Constitucionais Brasileiras Você saiba que as emendas constitucionais estão no segundo nível da Constituição Federal da pirâmide kelsiana? Dispostas no artigo 60, seu próprio nome revela o objetivo, que é “emen- dar” a Constituição Federal, em partes específicas, acrescentando ou retirando textos. Porém, não podendo alterar ou retirar direitos fundamentais. SAIBA MAIS! Você pode conhecer mais detalhes das emendas constitucionais aprovadas entre 1992 e 2017 acessando o link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ emendas/emc/quadro_emc.htm>. Figura 2 – Leis magnas Fonte: Viorel Sima / Shutterstock.com. Assim, entenda que é possível fazer propostas para emendas à Constituição, desde que obser- vados os requisitos estabelecidos nos incisos do artigo 60. Este artigo estabelece como podem ser propostas as emendas constitucionais: • pelo Presidente da República - encaminha ao Congresso Nacional; • por 1/3 dos deputados federais – encaminha para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ); • por 1/3 dos senadores federais – encaminha para a CCJ; • por mais da metade das assembleias legislativas das unidades da Federação – enca- minha para a CCJ. A proposta para emenda constitucional será debatida e votada em dois turnos, em cada casa do Congresso, e será aprovada se obtiver, na Câmara dos Deputados Federais e no Senado Fede- ral, três quintos dos votos dos deputados (308 votos) e dos senadores (49), também chamado de quórum qualificado (BRASIL, 2017). Assim, o presidente da República pode apresentar a proposta de emenda, porém são os deputados e senadores que têm o poder de aprovação. EXEMPLO A Emenda Constitucional nº 98/ 2017 “acrescenta § 7º ao artigo 225 da Constitui- ção Federal, para determinar que práticas desportivas que utilizem animais não são consideradas cruéis, nas condições que especifica” (BRASIL, 2017). FIQUE ATENTO! Os demais parágrafos do artigo 60 da Constituição Federal estabelecem outros critérios que devem ser observados para emendas à Constituição Federal. É importante destacar que o parágrafo 4° do artigo 60 deixa claro que há situações em que a Constituição não pode ser alterada, pois tratam-se de cláusulas pétreas, denominadas assim porque não podem ser removidas para garantir a permanência de direitos e garantias individuais. 3 As leis brasileiras Após o artigo 60, a Constituição Federal aborda na subseção III, do artigo 61 até o artigo 69, as Leis Complementares e Ordinárias. Vamos conhecê-las. 3.1 Leis Complementares e Leis Ordinárias O artigo 61, em seu caput, estabelece que as Leis Complementares e as Leis Ordinárias poderão ser propostas por membros ou comissão da Câmara dos Deputados, Senado Federal, Congresso Nacional, presidente da República, Supremo Tribunal Federal, bem como os tribunais superiores, e ainda o procurador-Geral da República e os cidadãos (BRASIL, 1988). Figura 3 – Legislação Fonte: Emilia Ungur / Shutterstock.com. FIQUE ATENTO! Os cidadãos poderão manifestar-se, de acordo com o estabelecido no caput do ar- tigo 61, na forma de iniciativa popular, apresentando projeto de lei na Câmara dos Deputados. FIQUE ATENTO! A Lei Complementar tem o objetivo de complementar a Constituição Federal, de forma a acrescentar assuntos de âmbito constitucional. As Leis Ordinárias são normas gerais e abstratas, que tratam de outros temas, como a Lei Orçamentária; para serem aprovadas, necessitam de maioria simples. Já as Leis Complementares tratam de temas específicos da Constituição Federal, e para receberem aprovação precisam de maioria absoluta (BRASIL, 1988). • Leis Delegadas As Leis Delegadas estão previstas no artigo 68 da Constituição Federal, que estabelece: “As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar delegação ao Congresso Nacional” (BRASIL, 1988). Conforme os estudos de Michel Temer (2008, p. 152), “delegar atribuições para o constituinte, significa retirar parcela de atribuições de um poder para entregá-lo a outro poder”. • Medidas Provisórias As Medidas Provisórias estão estabelecidas no artigo 62 da Constituição Federal, da seguinte forma: “Em caso de relevância e urgência, o presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Con- gresso Nacional” (BRASIL, 1988). Assim, as Medidas Provisórias somente poderão ser realizadas como o caput explicita, nos casos de relevância ou urgência. Compreenda que medida provisória não é lei, mas tem “força de lei” (TEMER, 2008, p. 153). • Decretos Legislativos Os Decretos Legislativos são atos normativos de competência exclusiva do Congresso Nacional, sendo que esses atos e competências se encontram relacionados no artigo 49 e em incisos, como, por exemplo, “mudança temporária da sede do Governo” (BRASIL, 1988). • Resoluções As Resoluções são tratadas no artigo 68 da Constituição Federal, no parágrafo 2°, e denominadas de “resolução delegativa”, na qual o presidente da República propõe lei delegada, que vai requerer autorização prévia do Congresso Nacional, por meio de reso- lução. Assimque for concedida, terá que especificar o conteúdo da delegação e os seus termos, bem como a fixação de prazo que irá perdurar o conteúdo da delegação. Exemplo: Lei Delegada n° 13 de 08/1992. “O Presidente da República, faço saber que, no uso da delegação constante da Resolução n° 1, de 1992-CN, decreto a seguinte lei [...].” (CHAMONE, 2010, p. 15). Agora que já compreendemos a organização das leis no Brasil, vamos estudar os instrumen- tos integradores, que auxiliam os magistrados a suprir as lacunas que surgem no momento de julgar determinadas situações, oriundas das relações individuais, coletivas e jurídicas. 4 Os Instrumentos de integração do Direito Você já deve ter estudado alguns dos instrumentos de integração do Direito, tais como analo- gia, equidade, doutrina e jurisprudência, porém, é necessário apresentar outros integradores, como os usos e costumes. É por meio deles, por exemplo, que a sociedade tem suas origens arreigadas em tradições e crenças, que passam a ser condutas sociais reiteradas. E, assim, fazem parte das fontes secundárias do Direito. Outro integrador são os princípios gerais do Direito, conforme afirma o professor Wladimir Flávio Luiz Braga: “[...] são enunciados normativos – de valor muitas vezes universal – que orientam a compreensão do ordenamento jurídico [...].” (BRAGA, s.d). EXEMPLO O artigo 4° da Lei de Introdução ao Código Civil afirma que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.” (BRASIL, 2002). Figura 4 – Justiça Fonte: Stockshoppe/Shutterstock.com. SAIBA MAIS! Leia o artigo “Princípios Gerais de Direito e Princípios Constitucionais” para saber mais sobre os integradores do Direito. Acesse em: <http://www.emerj.tjrj.jus.br/serie- aperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/11/normatividadejuridica_51.pdf>. Agora, você já conhece mais sobre os integradores do Direito. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • perceber a importância na hierarquia das leis para que não haja conflitos entre os orde- namentos jurídicos; • conhecer a pirâmide de Kelsen e a pirâmide do Brasil na hierarquia das leis. Referências BRAGA, Wladimir Flávio Luiz. Princípios Gerais do Direito. Disponível em: <http://fdc.br/Arquivos/ Artigos/14/PrincipiosGeraisDireito.pdf>. Acesso em: 07 ago. 2017. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, 292 p. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 08 ago. 2017. _______. Lei nº 10406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil: Institui o Código Civil. Presidência da República, Casa Civil, Brasília-DF, 10 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 17 ago. 2017. _______. Presidência da República. Emendas Constitucionais. 2017. Disponível em: <http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/quadro_emc.htm>. Acesso em: 07 ago. 2017. _______. Senado Federal. Glossário Legislativo. Emenda Constitucional. 2017. Disponível em: <http:// www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/emenda-constitucional>. Acesso em: 21 ago. 2017. CHAMONE, Marcelo Azevedo. Lei Delegada. Revista Estudos Legislativos. Assembleia Legislativa, Rio Grande do Sul. 2010. Disponível em: <http://submissoes.al.rs.gov.br/index.php/estudos_legis- lativos/article/view/49>. Acesso em: 15 ago. 2017. KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado. BORGES, Luís Carlos (trad.), 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. MASCARENHAS, Paulo. Manual de Direito Constitucional. Salvador, 2008. Disponível em: http:// www.paulomascarenhas.com.br/manual_de_direito_constitucional.pdf>. Acesso em: 17 ago. 2017. PAIVA, Eduardo de Azevedo. Princípios Gerais de Direito e Princípios Constitucionais: Normativi- dade Jurídica. Série Aperfeiçoamento de Magistrados: Curso de Constitucional, Rio de Janeiro, p. 1-10, 2010. Disponível em: <http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/ paginas/series/11/normatividadejuridica_51.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2017. TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
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