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UNIDADE IV O PROTAGONISMO DA SOCIEDADE CIVIL

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Prévia do material em texto

Educação, 
Movimentos Populares 
e Transformação
O protagonismo da sociedade civil
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profª. Ms. Wanderli Cunha de Lima
Revisão Textual:
Profª. Dra. Maria Isabel Andrade Sousa Moniz
5
• Os movimentos populares e sociais no 
Brasil: ontem e hoje
• A institucionalização no Brasil 
• As ONGs e o Terceiro setor
Aproveite para consolidar suas aprendizagens, pois nesta unidade retomaremos alguns estudos 
já realizados nas unidades anteriores, a fim de favorecer a compreensão do protagonismo, 
bem como as mudanças decorrentes da conjuntura sociopolítica do nosso país. Bom estudo!
Serão apontadas algumas alterações ocorridas nos movimentos 
sociais e populares. Você terá a oportunidade de conhecer 
um pouco mais sobre os novos movimentos sociais e o novo 
associativismo civil.
Iremos conhecer um pouco mais sobre as singularidades 
existentes na institucionalização das práticas civis ocorridas no 
Brasil nas últimas décadas. E os ideais dos movimentos sociais 
e populares durante os séculos XVIII, XIX e XX. Destacamos as 
mudanças ocorridas nos movimentos decorrentes do contexto 
político ao longo da década de 1990 e partir do início do século 
XXI. Finalizamos a unidade mostrando como o terceiro setor vem 
despontando no cenário social brasileiro e concluímos apontando 
a importância da educação dentro de todo esse contexto.
O protagonismo da sociedade civil
6
Unidade: O protagonismo da sociedade civil
Contextualização
Nesta unidade, procuramos “amarrar” os conteúdos das quatro unidades, trazendo para a 
discussão questões que revelassem o protagonismo da sociedade civil.
Dentro deste contexto, apontamos as alterações ocorridas de acordo com as mudanças 
sociopolíticas do nosso país.
É claro, muito mais há que se falar e estudar sobre o assunto, mas acreditamos que esta 
unidade servirá de incentivo para futuros aprofundamentos, não só de estudos sobre o tema, 
mas que seja também uma sementinha e favoreça sua participação na sociedade civil. Afinal, 
como educadores, não podemos nos situar na neutralidade, não é?! 
 
 Explore
Com o propósito de ilustrar a possibilidade do que estamos argumentando, sugerimos que assistam 
ao vídeo “Por uma Barcarena justa, democrática e sustentável”.
 O vídeo mostra a proposta de implantação de um Fórum de diálogo na busca de mudanças socio-
ambientais no município de Barcarena, na região do Amazonas. Esta proposta foi motivada pelas 
disparidades entre a riqueza gerada no município pela industrialização e a negação dos direitos bási-
cos, vivida pela população local. 
Servindo de exemplo, ele mostra como a sociedade civil pode se tornar protagonista frente aos pro-
blemas sociais.
Assista e reflita sobre a possibilidade de fazer a diferença na sociedade civil. 
http://www.youtube.com/watch?v=SblCTOofbVo
7
1. Os movimentos populares e sociais no Brasil: ontem e hoje
Iniciaremos esta unidade discorrendo sobre o 
conceito de sociedade civil a partir dos estudos de 
Gohn (2005) e faremos pontuações sobre algumas 
diferenças entre os movimentos populares e 
movimentos sociais.
 Assim como outros conceitos, também o conceito de sociedade civil vem se alterando 
ao longo do tempo. Segundo Gohn (2005), esse conceito passou por muitas reformulações, 
adquirindo maior destaque no final dos anos de 1970. Nesse período, havia a crença de que 
a sociedade civil deveria se mobilizar e organizar, com a finalidade de alterar o regime militar 
vigente. O eixo articulador era a noção de autonomia. 
Nos anos de 1970 e 1980 houve destaque dos movimentos que surgiram para reivindicação 
de bens e serviços, de terra e moradia, tendo por identidade a exigência de mais liberdade e 
justiça social (GOHN, 2005).
Ideias Chave
Os movimentos formados por grupos e organizações da sociedade civil que atuavam em busca de 
mudanças pela coletividade foram denominados “movimentos populares”. Nesses, lutava-se por 
garantias de direitos, os quais poderiam se transformar em políticas públicas permanentes e de uso 
coletivo. Ideologicamente, atuavam contra as classes dominantes.
Já os movimentos sociais tinham como característica a mobilização de massa. Sua atuação 
representava uma dimensão mais ampla a partir de lutas por garantia de direitos em várias frentes. 
Desta forma, pode-se afirmar que não existe simplesmente um posicionamento ideológico, mas, 
principalmente, um posicionamento político, no que diz respeito aos movimentos sociais.
Nos séculos XVIII, XIX e XX, a maioria dos movimentos sociais foi marcada pelas lutas 
contra o governo, seja pela contrariedade às arbitrariedades do governo, seja pela conquista de 
direitos, pela democratização, ou outras. Esses movimentos eram compostos – em sua maioria 
– pela população mais pobre, que tinha maior privação de direitos (e/ou “benefícios”) sociais.
Como já apresentamos na unidade II, as lutas na primeira metade do século XIX eram 
oriundas de outras, que as antecederam, no século XVIII.
Na primeira metade do século XIX, houve várias lutas, movimentos e rebeliões nativistas 
que contribuíram para a construção da cidadania do nosso país. Foram movimentos voltados 
para questões relativas à luta pela mudança do regime político ou dos governos locais. Nesse 
período, o sistema escravocrata não era contestado.
Na segunda metade do século XIX, muda-se o olhar e se inicia a luta em prol da liberdade 
humana, tendo as questões dos escravos como eixo central de muitas lutas. Também se podem 
observar movimentos de auxílio mútuo e contra o fisco.
agencia B
rasil
8
Unidade: O protagonismo da sociedade civil
Gohn (2012) afirma que, no geral, foram os ideais democráticos liberais que impulsionaram 
os movimentos até o século XIX. Mas a autora pontua que também houve movimentos 
conservadores nessa época (os movimentos conservadores fundamentavam-se em ideologias 
antidemocráticas ou elitistas).
 
 Importante
É importante atentarmos para o fato de que as lutas e os movimentos situavam-se nas questões 
sociais de cada época.
Assim, temos na história do nosso país, nas décadas e séculos anteriores, movimentos organizados 
para combater ou conquistar o Estado. 
O Brasil passou por um longo tempo de lutas e movimentos e “durante os primeiros séculos 
objetivavam a inclusão dos excluídos”, sendo estes os pobres que, em geral, estavam excluídos do 
“sistema socioeconômico mais amplo, dos deserdados e dos sem-direitos ao sistema legal-jurídico 
existente”. (GOHN, 2012, p. 160).
Conforme já foi observado por alguns autores, os movimentos são a forma que as pessoas 
(ou cidadãos) utilizam para reivindicar, quando desejam que seus interesses e anseios sejam 
vistos e reconhecidos. Pode ser considerada a forma mais legítima de manifestação popular.
É interessante observar que, no âmbito das conquistas sociais, os movimentos se fazem 
presentes em vários acontecimentos históricos. Essas ações decorrentes dos movimentos 
históricos contribuem para a modificação de comportamentos e de regras existentes no 
sistema político. Com isto, podemos afirmar que a influência exercida pelos movimentos 
ultrapassa os efeitos políticos que os mesmos produzem, ou seja, contribuem para as 
transformações sociais em nosso país.
Nos anos de 1960 e 1970 foram muitos os movimentos sociais e 
populares no Brasil, os quais tinham por objetivo a mobilização de defesa, 
a conquista e a ampliação dos direitos civis, políticos, sociais e trabalhistas. 
(DURIGUETTO, 2005).
Num plano mais diretivo, podemos afirmar que foi a partir dos anos de 1970 
que se acentuou a luta pela redemocratização do Brasil.
Podemos citar ainda os movimentos estudantis e sindicais na década de 1970, 
marcados, especialmente, por greves dos metalúrgicos nas indústrias de São Paulo.
A partir dos anos de 1980, vemos a apariçãodos movimentos sociais voltados para 
outras questões, como as ambientais (Movimentos ecológicos) e de defesa do consumidor 
(Movimento em defesa dos direitos do consumidor), incluindo parcelas mais amplas da 
sociedade civil. Portanto, o protagonismo dos movimentos sociais foi muito forte e presente 
até a década de 1980. 
agencia Brasil
9
Nos anos de 1980, as lutas se articulavam num panorama de busca de 
mudanças político-sociais, de ordem estrutural. Havia um projeto político 
implícito. Existiam outros referenciais e o modelo socialista era o grande 
inspirador. (GOHN, 2012, p. 205).
Com a saída dos militares, em 1985, há uma ressignificação do conceito de sociedade civil e 
os movimentos começam a perder a centralidade. Desse modo, observa-se que o “sujeito social 
histórico”, até então, protagonista dentro do processo de transformação social, começa a sofrer 
uma fragmentação (GOHN, 2005).
Observa-se que ao final dos anos de 1980 – coincidentemente ou não, com a conquista 
da nova Constituição de 1988 – e ao longo dos anos de 1990, com as transformações do 
contexto político, os movimentos sociais começam a apresentar mudanças no perfil das 
lutas, apresentando um declínio das manifestações de rua, que proporcionavam visibilidade 
aos movimentos populares. Houve uma rearticulação interna e externa no papel que eles 
desempenhavam na sociedade, entrando em cena outros atores sociais, como as ONGs e 
outras entidades do terceiro setor (GOHN, 2012).
Gohn (2012) faz referência a alguns fatores, tanto de ordem interna como de ordem externa, 
que levaram ao enfraquecimento dos movimentos sociais.
A queda do muro de Berlim, as mudanças políticas na ex-Rússia, a 
descrença nas utopias, a crise do modelo cubano, etc., levaram ao 
enfraquecimento, e abandono pela maioria, daquele projeto político. 
Causas internas, presentes no interior dos movimentos sociais também 
devem ser consideradas. Elas dizem respeito ao clima de competição e 
de disputas internas, de divergências político-ideológicas, da adoção de 
modelos centralizadores, tidos como verdadeiros, que são “aplicados” 
no trabalho junto às bases, sem respeitar a diversidade cultural destas 
mesmas. (GOHN, 2012, p. 205-206).
Essas considerações da autora conduzem ao entendimento das mudanças tendo por base a 
modificação do modelo referencial nos anos de 1990, com ênfase nos valores éticos e morais, 
visto que a sociedade passou “a desacreditar da política, dos políticos e das ações do Estado em 
geral.” (GOHN, 2012, p. 206). 
[...]. o saldo disto tudo apresenta um resultado paradoxal: o que foi ganho 
na década de 1980, a organização da sociedade brasileira em vários níveis 
e instâncias, pois este mesmo período foi considerado como perdido do 
ponto de vista econômico, passou a ser o grande complicador nos anos de 
1990. Isto porque houve alterações na hierarquização dos valores sociais 
no conjunto da sociedade. (GOHN, 2012, p.206).
10
Unidade: O protagonismo da sociedade civil
Desta forma, os grupos da sociedade civil – impulsionados pelo desejo de alterações pontuais, 
como os de liberdade e de autodeterminação para expressar as individualidades, contrapondo-se 
à política nacional, devido a sua descrença – passa a acreditar cada vez mais em sua capacidade 
de atuação independente. Neste modelo “o plano da moral e da cultura ganham lugar central 
nas ações coletivas”. (GOHN, 2012, p. 207).
Esses novos atores sociais aparecem com uma forma de organização mais institucionalizada e 
apresentavam iniciativas de parcerias entre a sociedade civil organizada e o poder público (GOHN, 2004).
Com a democracia, altera-se o eixo estruturante – antes representado pela autonomia dos 
membros da sociedade civil –, conferindo ao conceito de cidadania lugar de relevância. Assim, 
há um descentramento do sujeito social, emergindo uma pluralidade de atores sociais. 
A partir dos anos de 1990, o termo cidadania passa a fazer parte dos discursos oficiais, tendo 
seu significado voltado para a ideia de participação civil. 
Vemos, pois, que os movimentos sociais nos séculos XIX e XX desempenharam papel 
fundamental no processo democrático de nosso país, levando-o a transformações sociais a 
partir de suas mobilizações reivindicativas dos direitos dos cidadãos.
Nesse sentido, vemos a capacidade de conscientização, mobilização e participação política 
existente nos movimentos sociais dos quais a sociedade civil se apresenta como protagonista. 
2. A institucionalização no Brasil 
As conquistas realizadas nos últimos séculos tiveram como protagonista a sociedade civil. Esta 
se organizou nos decorrer dos tempos em busca de seus direitos à cidadania e à democracia. 
Neste cenário, a Constituição de 1988 apresenta-se como um marco histórico e se revela como 
uma vitória no que tange ao combate a um regime autoritário e repressivo, assegurando o 
direito à participação social. 
 
 Explore
Foram várias lutas até que o povo brasileiro chegasse à conquista da democracia. Mesmo esta não 
sendo plena, apresentando desvios, há que se convir que a conquista foi grande. Para ilustrar os 
avanços conquistados com os movimentos sociais, sugerimos que você assista a este vídeo, que faz 
um breve resgate da ditadura e da luta pela democracia.
http://www.youtube.com/watch?v=F61-9JuzVR4
Presenciou-se, nas duas últimas décadas, a institucionalização de práticas civis em espaços 
públicos. No Brasil, muitas foram as inovações democráticas conduzindo a uma reorganização 
da participação civil.
11
A partir dos anos de 1990, os movimentos sociais começam a enfraquecer e perdem um 
pouco de sua autonomia, desta forma precisam alterar suas práticas deixando o caráter crítico e 
reivindicativo para tornarem-se mais propositivos. Com isso, vê-se uma inversão da relação entre 
os movimentos sociais e as ONGs. Também nesta época, desponta no cenário do associativismo 
nacional outro ator social: as fundações e organizações do Terceiro Setor (GOHN, 2011).
Destarte, “os projetos sociais passam a ser eixos de mobilização e articulação de demandas e 
pessoas, articulados/gerenciados por ONGs e entidades do terceiro setor” (GOHN, 2011, p. 228).
Assim, no Brasil, a institucionalização foi construída, histórica e concomitantemente, com o 
processo de democratização da nossa sociedade.
Gohn (2011) divide esse processo em dois momentos, sendo o primeiro resultado das 
trajetórias de lutas para implantar as conquistas constitucionais, ainda nos anos de 1990. Deste 
momento, destacam-se os Conselhos Gestores e outros espaços institucionais. 
No plano institucional do cenário do associativismo na sociedade política 
governamental, as principais novidades desse período foram: a criação dos 
Orçamentos Participativos (OPs) em prefeituras administradas pela oposição 
ao governo federal da época, tendo Porto Alegre e o Partido dos Trabalhadores 
(PT) como exemplos principais; e a implementação de conselhos gestores 
setoriais, com a participação da sociedade civil. (GOHN, 2012, p. 218)
No início, os conselhos foram vistos como instrumentos com potencial de transformação 
política, porque seriam uma forma de expressão, representação e participação de segmentos 
sociais na formulação de políticas públicas. Davam à população acesso a esses espaços de 
decisão, possibilitando a ela exercer controle social sobre o estado (GOHN, 2011).
Conforme observou a autora, se esses conselhos fossem efetivamente representativos, eles 
realmente poderiam imprimir um novo formato às políticas públicas. Entretanto, vários pareceres 
oficiais notabilizaram apenas o caráter consultivo dos conselhos, desta forma, suas ações ficavam 
restritas ao campo da opinião, da consulta e do aconselhamento, descaracterizando sua função 
deliberativa e paritária.
 
 Importante
É importante atentarmos para o fato de que mesmo quando háa paridade nos conselhos, muitas 
vezes as reuniões destes são articuladas de modo que não proporcionam condições verdadeiras 
para que se efetive a participação da sociedade civil. Isto ocorre, muitas vezes, por essas reuniões 
acontecerem em horário comercial – horário em que os cidadãos participantes podem encontrar-se 
no trabalho – inviabilizando sua participação nos conselhos. Outras vezes, a ausência dessa parcela 
de representante – a sociedade civil – se dá devido à falta de condições financeiras, visto que estes 
muitas vezes não têm sequer o dinheiro da passagem do ônibus para chegar ao local da reunião (que 
na maioria das vezes são realizadas nas dependências de órgãos públicos, em locais da área central 
das cidades, dificultando a participação dos moradores da periferia).
12
Unidade: O protagonismo da sociedade civil
Nos municípios sem tradição organizativa-associativa, os conselhos passaram 
a ser apenas uma realidade jurídico-formal, e muitas vezes um instrumento a 
mais nas mãos dos prefeitos e das elites, falando em nome da comunidade, 
como seus representantes oficiais, não atendendo minimamente aos 
objetivos de serem mecanismos de controle e fiscalização dos negócios 
públicos. (GOHN, 2011, p. 231).
O segundo momento na institucionalização das 
políticas públicas se deu a partir do ano 2000, 
com a ampliação das formas de gestão deliberativa 
inovando no campo da participação popular 
democrática. Nesse período se redesenhou o formato 
de várias políticas sociais, com a generalização de 
fóruns e conferências nacionais. Nesse contexto, 
incorporou-se o uso das novas tecnologias.
Com isso “o campo do social passou a ser dominado por comunidades organizadas em 
projetos sociais” (GOHN, 2011, p. 233). Neste formato, o poder da comunidade é visto como 
uma parcela da sociedade civil organizada, que diferentemente dos anos de 1980, não se 
encontra contra o Estado, mas agora participa e interage com os poderes constituídos, e segundo 
Gohn (2011), parte da força das comunidades advém dessa interação. 
Desta forma, a participação da sociedade civil torna-se de suma importância para a 
democratização da gestão pública.
3. As ONGs e o Terceiro setor
Os sujeitos coletivos, antes existentes nos movimentos sociais, com as mudanças sociais, 
convergem para uma parceria entre a sociedade civil e o Estado, e assim há uma fragmentação 
de sua força coletiva em vários campos isolados.
É justamente a partir dessas mudanças – como já sinalizamos anteriormente – que surge a 
institucionalização das ações coletivas, passando de processos de mobilização de massas para o processo 
de mobilizações pontuais. É nesse contexto que emerge o novo universo das ONGs no terceiro setor.
A caracterização das ONGs se altera na última década do século XX. Durante a luta contra o 
regime militar e pela democratização do país, nos anos de 1970 e 1980, as ONGs eram apenas 
instituições de apoio aos movimentos sociais e populares. Nessa fase, elas se posicionavam por 
detrás deles, com a preocupação de fortalecer a representatividade das organizações populares. 
Eram ONGs cidadãs, movimentalistas, militantes, que ajudavam a própria organização popular a 
estruturar-se, muitas vezes trabalhando na conscientização dos grupos organizados (GOHN, 2004).
Com a diversificação e ampliação da organização da sociedade civil, no início dos anos 
de 1990, surgem entidades autodenominadas de “Terceiro Setor”, com ideologia e projetos 
políticos definidos. 
Deliberativo: 
Capaz de deliberar; resolver 
após discussão, ponderação.
Paritário: 
Em que os elementos com direito 
a voto pertencem a dois grupos 
igualmente representados.
13
Dentro deste cenário, as ONGs “saem da sombra e colocam-se à frente e até mesmo na 
dianteira dos movimentos, tornando-se, em alguns casos, instituições autônomas e desvinculadas 
dos movimentos” (GOHN, 2004, p. 146).
Essas organizações, articuladas por empresas, bancos, redes de indústria e comércio, ou 
por artistas famosos, passaram a realizar projetos em parceria com o Estado, atuando junto 
às populações tidas como mais vulneráveis. Os projetos realizados contavam com apoio de 
recursos financeiros públicos (oriundos de inúmeros fundos públicos que foram criados) e 
privados, tendo em sua composição uma equipe de profissionais capacitados, selecionados por 
suas competências de trabalho e não por suas ideologias (GOHN, 2004, 2010, 2012). 
A conjuntura econômica, a partir de 1995, contribuiu para a mudança da dinâmica dos 
movimentos sociais e das ONGs. Muitos movimentos incorporaram-se às ONGs que os apoiavam 
ou então transformaram-se em ONGs. 
Na segunda metade da década de 1990, [...], novos ingredientes foram 
acrescentados alterando ainda mais a dinâmica dos movimentos sociais, 
em geral, e dos populares, em particular. Começo citando as crises internas, 
em movimentos populares e ONGs cidadãs, que os levaram a repensar seus 
planos, planejamentos de ação, estratégias e forma de atuar. [...]. Algumas 
entidades de apoio aos movimentos até fecharam suas portas; outras fizeram 
enxugamentos, em termos de regiões de atuação, fundiram-se a outras ou, 
ainda, deslocaram suas áreas de atuação para setores específicos, dentro do 
leque dos programas sociais institucionalizados, governamentais ou de apoio 
advindo da cooperação internacional.
Com isso, uma das mudanças observadas foi a introdução de novas pautas orientadas 
por agências internacionais de fomento para as políticas sociais. Essas agências indicavam o 
trabalho com “os setores tidos como excluídos e em situação de vulnerabilidade socioeconômica, 
subdivididos segundo as questões de gênero, etnia, idade, etc.” (GOHN, 2012, p. 219).
Devido às dificuldades relativas a estruturas mínimas e às novas demandas e regras da 
cooperação internacional, não havia mais disponibilidade de tempo para articulações com a 
população. Outros fatores, como o desemprego, o aumento da violência urbana, ou ainda os 
poderes paralelos do narcotráfico nas regiões pobres, desmotivaram a participação da população 
pobre nos movimentos (GOHN, 2012).
 
 Importante
É importante ressaltar que a atuação do terceiro setor tem apresentado um dualismo, pois de um 
lado reforça as políticas sociais compensatórias – visto que assume um papel de intermediário das 
ações assistenciais do governo – e de outro lado, atua como espaços associativos, imprimindo a 
solidariedade e também a conscientização da população acerca dos problemas sociais e políticos da 
realidade, atuando dentro de um campo educativo da população. 
14
Unidade: O protagonismo da sociedade civil
Relembrando o estudo da unidade anterior, temos que na primeira década do século XXI 
os movimentos sociais passaram a se estruturar de diferentes formas. Gohn (2012) separa 
em três categorias distintas: 1) a categoria dos movimentos identitários, 2) a categoria dos 
movimentos por melhores condições de vida e de trabalho e 3) a categoria dos movimentos 
globais ou globalizantes. A autora ainda acrescenta as ações e as redes cidadãs, que também se 
apresentam como movimentos sociais. Contudo, segundo ela, “são na realidade organizações 
civis que atuam em fóruns, conselhos, câmaras, consócios, em escala local, regional, nacional, 
etc.”, fazendo parte do que vem sendo chamado de participação social institucionalizada 
(GOHN, 2012, p. 232).
Esses “Novos Movimentos Sociais” (NMS) trazem à tona novas formas de participação 
social. “Conselhos, conferências nacionais e assembleias organizadas por esferas do poder 
público são outras arenas de participação no novo associativismo civil deste novo milênio” 
(GOHN, 2012, 232).
Mas, como já foi pontuado, ainda há muitas lacunas referentes à participação da sociedade 
civil nesses NMS. Para Gohn (2012), os conselhos, conferências e assembleias, enquanto 
participação social institucionalizada,devem ser espaços políticos de formação e não apenas 
um local para repasse de informações.
Por exemplo, eles devem ser dotados de recursos, ter cursos voltados para a 
formação, e não ser mero repasse de informações (lembrando que o exercício 
em si já é um processo formativo; há um caráter educativo nele); eles são 
espaços políticos de formação, visibilidade das demandas, clarificação dos 
cidadãos organizados que atuam como atores políticos, interagem com os 
poderes instituídos, não são apenas usuários (muitas vezes seus participantes 
são vistos como usuários), devem ter direito a falar, e não só a ouvir. Uma 
interlocução pública, que se supõe transparente, pressupõe também que os 
conselhos sejam qualificados; eles têm de ter legitimidade, autoridade moral 
para ter representatividade. (GOHN, 2012, p. 232-233).
Há que se ressaltar que o que se propõe nada mais é do que o caráter deliberativo e paritário, 
onde os representantes da sociedade civil possam exercer o controle social democrático partindo 
de uma gestão compartilhada. 
Essa nova formação sugerida por Gohn deve estender-se não somente ao representante da 
sociedade civil, mas também ao funcionário do Estado, visto que se trata de uma nova cultura: 
de gestão compartilhada. Portanto, de um novo processo de aprendizagem. Este deve ser 
discutido por ambos os lados, para que se construa uma cultura de compartilhamento. Em uma 
gestão compartilhada não basta incluir a participação, é preciso que seu sentido e significado 
sejam discutidos a fim de que se alcance a qualificação (GOHN, 2012).
Gohn (2012), em seus trabalhos, destaca a importância da educação não-formal, apoiada em 
Paulo Freire no que tange às suas críticas à educação bancária, que muitas vezes não capacita, 
não habilita, porque não gerou de fato a construção de novos saberes e, dessa forma, não 
propiciou novas práticas.
15
Encerramos esta unidade deixando alguns questionamentos 
que julgamos ser pertinentes ao nosso estudo sobre Educação, 
Movimentos Populares e Transformação: e a nós educadores, 
o que nos cabe? Qual a nossa função frente a essas novas 
demandas sociais? Como operacionalizar o aprendizado? 
Será que isso é possível? 
Qual caminho seguir?!
16
Unidade: O protagonismo da sociedade civil
Material Complementar
Para saber um pouco mais sobre a diferença entre movimento popular e movimento 
social, acesse o site abaixo e leia o artigo que discorre sobre o assunto. 
http://www.pralapidar.org.br/index.php?area=a-diferenca-de-movimento-popular-
e-movimento-social
Assista ao vídeo abaixo e reflita sobre a importância da redemocratização. As 
imagens ilustram os avanços e retrocessos vividos e a música que as acompanha 
serve de referencial em nossa profissão de educador.
http://www.youtube.com/watch?v=M3OzngHxWak
E que tal uma sugestão de filme para contextualizar o que estudamos nesta unidade?!
Minha sugestão é: “Escritores em liberdade”, um filme que retrata a crença de uma 
professora na mudança do ser humano através da educação. Apesar de ser um 
exemplo de poder transformador a partir da literatura, o que chama a atenção 
e serve de “inspiração” para nós é o fato de que o educador tem na educação 
ferramentas para a transformação social.
Vale a pena conferir!
17
Referências
CORTELLA, Mario Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos 
e políticos. 14.ed. São Paulo: Cortez, 2011.
DURIGUETTO, M. L. Sociedade civil, esfera pública, terceiro setor: a dança dos 
conceitos. Serviço Social & Sociedade. Juiz de Fora: Cortez, n. 81, mar. 2005. Disponível em: 
<www.uniesp.edu.br/revista/revista9/pdf/artigos/18.pdf> Acesso em: 28 dez 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São 
Paulo: Paz e Terra, 1997.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis. 5. Ed. São Paulo: Cortez, 2010.
GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais: a construção da 
cidadania dos brasileiros. 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012. Disponível em: <http://
www.periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/view/2175-7984.2011v10n18p233> Acesso 
em 15 fev. 2013. 
________. Participação de representantes da sociedade civil na esfera pública na 
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Unidade: O protagonismo da sociedade civil
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