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Artigo Pobreza, Exclusão Social e Direitos Humanos o papel do Estado

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UNESA 
CURSO DE PSICOLOGIA 
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA 
Profa. Aline Vilhena Lisboa 
TEXTO 
Pobreza, Exclusão Social e Direitos Humanos: o papel do Estado 
PATRICIA HELENA MASSA ARZABE 
Procuradora do Estado 
Doutoranda em Direito pela Universidade de São Paulo 
 
Muitas são as indagações que podem ser trazidas à análise do tema da 
pobreza, da exclusão social e da questão do acesso e exercício de direitos na 
sociedade moderna, seja ela urbana e industrializada ou agrícola. O que 
caracteriza a pobreza, o que faz dela um problema social, que traços a diferem 
da pobreza de outrora, o que permite falar em exclusão social, o que cabe à 
sociedade e ao Estado nesse processo e, em particular, em que medida está 
associado o tema da pobreza com o Direito e os direitos? Estas são algumas 
das perguntas que este trabalho pretende responder para demonstrar a 
importância do Estado nos processos que geram e mantêm a desigualdade 
social e a necessidade dos direitos econômicos, sociais e culturais para 
possibilitar aos 'menos iguais' o exercício ativo dos direitos civis e dos direitos 
políticos relevantes para a democracia efetiva. 
 As discussões acadêmicas e políticas vêm proliferando neste campo, após se 
verificarem que as questões de gênero, de raça, de origem, de idade, todas 
constituintes de problemas sociais de séria gravidade convergem ao problema 
da pobreza e da desigualdade econômica. É nestas circunstâncias que 
mulheres, negros, índios, velhos, crianças, deficientes, migrantes e imigrantes 
compartilham em geral de desigualdades comuns à carência econômica e não 
raro à pobreza absoluta: a desigualdade de saúde, de moradia, de ocupação 
social, de bem-estar e, traço comum, a desigualdade política. A pobreza, nas 
suas feições de desigualdade de renda e de acesso a recursos, repercute 
claramente na participação política. Barreiras efetivamente sólidas se 
acumulam, obstando a participação na democracia e aprofundando os 
problemas que fazem dissolver a integração social. 
 O caso brasileiro bem reflete as consequências da pobreza no acesso e no 
exercício de direitos fundamentais. Como líder às avessas no processo de 
distribuição de renda no mundo, campeão da concentração da renda nas mãos 
de poucos, o Estado brasileiro distribui a mais da metade de sua população 
doenças, ausência de moradia, educação insuficiente que não permite 
trespassar a barreira do analfabetismo funcional, desemprego e desagregação 
cultural. Largos extratos da população sofrem não somente a ausência do 
Estado, mas a omissão ativa, que privilegia parcelas reduzidas e aquinhoadas 
da sociedade, caracterizando verdadeira violação dos direitos humanos, em 
franca oposição aos fins legitimadores da razão de constituição e de existência 
do Estado. 
 Nossos números são efetivamente estarrecedores. A despeito de o Brasil ter 
garantido sua posição de oitava economia do mundo no 22º Relatório Mundial 
sobre o Desenvolvimento (1999), elaborado pelo Banco Mundial e seu PIB per 
capita em 1998 ser de US$ 4.750,00 (o da Bolívia foi US$ 1,00 e da Colômbia 
US$ 2,60) o Brasil permanece líder na desigualdade de renda. Dos números 
citados, vê-se que a renda nacional é suficiente para satisfazer as 
necessidades mínimas de cada pessoa. Nossa pobreza deriva de mecanismos 
econômicos e sociais perversos de distribuição extremamente desigual da 
renda. Segundo estudo da economista Sonia Rocha, do IPEA, órgão do 
governo federal, os 50% mais pobres do país detêm cerca de 13% da renda 
nacional, parcela equivalente ao que os 1% mais ricos detêm. Em 1997, antes 
do país mergulhar na crise financeira que resultou na adoção de políticas ainda 
mais recessivas, o país contava 51,84 milhões de pessoas vivendo na pobreza 
absoluta, na indigência. 
 O abismo na distribuição nacional da renda continua aumentando. Só na 
região metropolitana de São Paulo, em 1994 o extrato de 5% das famílias mais 
ricas auferia renda mensal 37,4 vezes superior às 5% mais pobres. Quatro 
anos depois, em 1998, essa mesma faixa ganhava 45 vezes mais do que os 
5% mais pobres. Isso em tempos de estabilidade econômica. Lembremos que 
após outubro de 1998 o desemprego aumentou, chegando a 19% em São 
Paulo e o nível da atividade econômica se reduziu. Considera-se, então que 
São Paulo teria 24,5% de sua população abaixo da linha de pobreza, enquanto 
o Rio de Janeiro teria 35% e Minas Gerais 51%. Os outros Estados estão em 
situação bastante pior para produzir a cifra nacional de 54% de pobres no 
Brasil. O Estado de São Paulo teria 10% de sua população (3,4 milhões de 
pessoas) abaixo da linha de pobreza absoluta, ganhando cada um menos de 
R$ 73,00. A linha da pobreza relativa estaria até o limite de renda em torno de 
R$ 149,00, por pessoa. Acima disso, deveria a pessoa ser considerada, pelos 
critérios governamentais, não-pobre, ou seja, pertencente à classe média. 
Entretanto, é difícil dizer que esse valor possa satisfazer as necessidades mais 
elementares de alimentação, saúde, moradia, vestimentas e lazer para atestar 
a existência de uma vida digna em regiões urbanas com elevado custo de vida. 
 Pelas observações acima, há que se ter bem claro que os números oficiais 
indicadores da pobreza devem ser considerados como uma referência, e não 
um espelho fiel da realidade. Não é imparcial a utilização de critérios distintos 
para a aferição da distribuição da renda. A seleção desses critérios presta-se 
exatamente a produzir resultados ou imagens de realidade mais favoráveis à 
sua imagem. Destremau salienta que o discurso público sobre a pobreza, 
incluindo a manipulação das medições dos níveis e da extensão da pobreza, 
constitui um ato político, que visa tanto à legitimidade quanto ao controle. E 
pode desempenhar diferentes funções, como por exemplo: um número elevado 
do pobres pode ser percebido como falha do Estado em integrá-los e promover 
seu bem-estar, como também pode contribuir para a construção da imagem de 
um "país pobre" para estimular programas internacionais de doações ou 
financiamentos a custo reduzido para iniciativas de combate à pobreza. 
 Não cabe aqui analisar exaustivamente a racionalidade que faz mover o 
Estado de forma a manter mecanismos de reprodução de desigualdade e a 
implementar políticas e projetos que beneficiem agentes econômicos - muitas 
vezes estrangeiros. Basta que se relacione o modo de funcionamento do 
sistema capitalista brasileiro e internacional, os mercados e o Estado. Autores 
como Habermas, Claus Offe e, entre nós, Alaôr Caffé Alves e Eros Grau já 
estudaram e identificaram o papel do Estado na constituição e reprodução dos 
mercados, por meio da proteção institucional da propriedade e do contrato para 
a viabilização da circulação mercantil. O Estado também ampara o mercado 
oferecendo-lhe os meios e condições necessárias à sua reprodução pelo 
estabelecimento das infra-estruturas, como construção de estradas, ferrovias, 
portos, hidrelétricas, além de formação e capacitação de mão-de-obra, 
subsídios, proteções tarifárias, etc. Aliada a essa racionalidade de privilégio a 
determinados setores produtivos, a corrupção e o nepotismo terminam por 
macular a legitimidade que deu ensejo à consolidação do Estado como 
guardião dos direitos e da liberdade de todos os membros da sociedade. 
 Cabe-nos analisar a racionalidade que deve nortear a identificação da pobreza 
como uma disfunção relacional que viola a autonomia da pessoa, a dignidade, 
o respeito e que impede pessoas situadas nesse âmbito de se desenvolver 
plenamente como pessoa dentro da sociedade, ou seja, dentro do jogo das 
relações e exigências sociais da atualidade. 
 As faces de um conceito 
 O termo 'pobreza' traz significações diversas e é freqüente vê-lo acompanhado 
de qualificativos que alteram seu sentido. Assim é que se lê pobreza absoluta, 
pobreza relativa, pobreza estrutural, pobrezaurbana, pobreza rural, além da 
expressão nova pobreza, correlata a 'novos pobres'. 
 Outras expressões são empregadas como equivalentes a pobreza, como 
miséria, indigência, carência e, mais recentemente, desigualdade, exclusão, 
destituição, precariedade e vulnerabilidade. 
 A indagação do que faz com que uma pessoa possa ser incluída dentro do 
grupo de pessoas denominadas pobres não porta resposta simples. 
 José Bengoa observa que "pobreza é um conceito difícil de definir, mas que 
todo mundo entende quando se o menciona. Talvez porque cada qual, cada 
indivíduo sabe perfeitamente o que seria para ele e sua família uma situação 
de pobreza. Para um poderia ser não comer; para outro, vestir-se pobremente, 
para um terceiro, baixar seu nível de vida habitual. São muito imprecisas, 
portanto, as definições habituais sobre a pobreza. Fala-se que a 'pobreza 
absoluta' seria aquela em que a pessoa não pode alimentar-se com o mínimo 
suficiente para sua manutenção fisiológica. A antropologia demonstrou a 
relatividade destes mínimos fisiológicos, pois que estão sempre determinados 
culturalmente. Por isso, quando falamos de 'pobreza' poucas vezes nos 
referimos aos níveis absolutos. Trata-se, pois, de um conceito essencialmente 
relativo. A pobreza é, em geral, o olhar dos não-pobres sobre os pobres. É um 
olhar estereotipado, cheio de temores, ansiedades, visões etnocêntricas e, 
mais ainda, com uma proposta implícita de homogeneização cultural e 
integração ao consumo. Esta conceituação é mais clara na literatura que vê a 
pobreza como 'carência', isto é, como ausência total ou parcial de bens, 
serviços, acesso à cultura e à educação, enfim, à falta de integração à 
sociedade. Não é por acaso que em todas as investigações realizadas, as 
pessoas que tecnicamente poderiam ser denominadas 'pobres' não se 
reconhecem como tais. Ao se lhes perguntar se são pobres, afirmam que não o 
são, e que os pobres são outras pessoas mais próximas da 'pobreza absoluta'. 
Ninguém quer ser estigmatizado com a definição de carência. O pobre que 
reconhece sua pobreza e a aceita, renuncia à sua superação e faz da 
mendicância seu ofício e da lástima seu discurso". 
 Se por um lado a avaliação da pobreza possui um caráter subjetivo e 
contingente, variando em conteúdo ou intensidade conforme o 'outro' na 
comparação, fazendo-nos pensar na pobreza somente como um conceito 
relativo, por outro lado, devido à situação de extrema indignidade em que 
elevada parcela da população mundial vive, pela falta de recursos, pela 
ausência de políticas públicas, pela sujeição étnica e social e pela absoluta 
destituição material de direitos, passou-se a utilizar o conceito de pobreza 
absoluta para permitir a aferição dos níveis de destituição, ainda que 
imperfeita, para fins de desenvolvimento e implementação de políticas sociais, 
permitindo, também, a possibilidade de comparação entre diferentes regiões e 
países. 
 Relativamente equivalente às ideias de indigência e miséria, a noção de 
pobreza absoluta foi cunhada por Robert McNamara, quando presidente do 
Banco Mundial, para diferenciar do tipo de pobreza verificado em países 
desenvolvidos. Segundo ele, a extrema pobreza consiste "na condição de vida 
caracterizada por má-nutrição analfabetismo, doenças, entornos esquálidos, 
alta mortalidade infantil e baixa expectativa de vida, tudo abaixo de qualquer 
definição razoável de decência humana". Essa conceituação permite ver 
melhor, por contraposição, as nuances da pobreza relativa, visto que muitas 
vezes, aqueles qualificados como pobres em relação à riqueza de seus 
próximos, podem estar em situação confortável se comparados aos pobres de 
uma outra região ou de outro país. Essa análise mostra a pobreza em seu 
sentido relativo, ou seja, indicando o extrato de uma população que tem acesso 
aos bens e serviços que garantem a sobrevivência e respeitam os limites 
objetivos de uma vida digna, mas que vive em circunstâncias e condições 
bastante inferiores aos que estão no outro extremo da linha de riqueza. 
 Questão social e pobreza 
 Pobreza e privação são termos próximos, mas não exatamente sinônimos. Há 
uma distinção entre a 'privação', em suas várias formas, conseqüências, 
sentimentos e sofrimentos a ela relacionados e 'pobreza' como um discurso 
construído, cuja forma lhe é dada pelas definições que recebe. Assim, por 
exemplo, a definição de uma linha de pobreza estabelece uma linha 
administrativa e artifical entre pobres e não-pobres. 
É por isso que surgem problemas com a idéia de pobreza relativa, assim como 
com a fixação do critério de estabelecimento da linha da pobreza extrema ou 
absoluta, demonstrando que a questão não é simples e as respostas que lhe 
são dadas podem trazer conseqüências bastante significativas, positiva ou 
negativamente. Amartya Sen observa que a privação relativa no âmbito da 
renda pode significar privação absoluta no campo das capacidades de 
realização, visto que em um país afluente, maior quantidade de renda pode ser 
necessária para a aquisição de bens suficientes para a consecução da 'mesma 
funcionalização social', como 'aparecer publicamente com dignidade, sem 
envergonhar-se'. O mesmo vale para a capacidade de 'tomar parte na vida da 
comunidade ". 
 O Brasil não foge a esse panorama, em vista do custo de vida razoavelmente 
elevado em comparação a outros países pobres. Para aqueles que ainda estão 
incluidos no mercado formal de trabalho, a lei prevê patamares mínimos de 
renda. Entretanto, o salário mínimo nacional, hoje em torno do equivalente a 
US$ 65,00 não basta a suprir minimamente as necessidades de alimentação 
de uma família vivendo em área urbana, menos ainda se lembrarmos que, por 
norma constitucional inscrita no artigo 7º, IV da Constituição Federal, seu valor 
deveria bastar para satisfazer as necessidades de alimentação, moradia, 
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. A 
dificuldade de conversão da renda oriunda de salário nesse valor em 
'capacidade' de realização e ação em sociedade é evidente. Todavia, os 
mesmos US$ 65,00 poderiam satisfazer as necessidades mínimas acima 
elencadas em outro país com custo de vida menor, como em alguns países 
vizinhos ao nosso ou países do Oriente ou da África. 
 Outro aspecto que cabe lembrar tange a importância de não se limitar a 
compreensão da pobreza somente como falta ou insuficiência de renda. Como 
Amartya Sen aponta, a pobreza é sobretudo, e na sua parte mais sensível, 
uma questão de inadequação dos meios econômicos da pessoa para a sua 
realização na sociedade (por realização podemos também dizer sua expressão 
como pessoa, seu acontecimento, com a possibilidade de efetivo 
desenvolvimento de sua personalidade). Assim, por exemplo, uma pessoa que 
possui metabolismo alto, ou é de grande compleição física, ou ainda sofre de 
alguma parasitose que absorve seus nutrientes estará em desvantagem quanto 
à capacidade de realizar-se em relação à outra pessoa que receba a mesma 
renda, mas que não tenha essas peculiaridades. O mesmo vale para mulheres 
grávidas, que demandam mais nutrientes, pessoas doentes, que necessitam de 
cuidados especiais e de medicamentos, pessoas que habitam bairros ou 
cidades que requerem gastos elevados com transporte ou segurança, pessoas 
muito jovens ou muito idosas, que têm necessidades próprias, famílias 
numerosas e outras circunstâncias que, ainda que temporárias, afetam a 
capacidade de realização e de exercício de direitos, especialmente em 
sociedades individualistas onde a solidariedade e a mútua ajuda constituem 
exceções. 
 
Características pessoais, como a idade, doenças ou certas deficiências, que 
interferem na obtenção de renda pela via normal de inserção da pessoa na 
sociedade, o trabalho, afetam também a conversão da renda em 'capacidades'. 
Em conseqüência, tem-se que a vulnerabilidadedas pessoas pobres é 
multifacetária. As causas que culturalmente obstam o pleno acesso às 
atividades econômicas ou ao mercado de trabalho - o preconceito - impedem 
também a conversão ótima da renda em capacidades na sociedade. Dentre os 
pobres, os mais pobres, aqueles outrora chamados miseráveis ou indigentes, 
são os que menos possibilidade têm de, uma vez excluídos, serem resgatados 
para dentro do pacto social. 
 É por isso que o critério da baixa renda, por ser independente das condições 
pessoais, não serve para avaliar coretamente o universo das pessoas 
denominadas pobres. Mais apropriado a um conceito relevante da pobreza é o 
critério da inadequação da renda para a geração das capacidades 
minimamente aceitáveis. Falando de outro modo, a renda é fundamental para 
afastar a pobreza, mas o estabelecimento de um critério único e objetivo para 
fixação de quem pertence ou não a essa faixa social conduz a resultados 
equivocados por recusar o reconhecimento das diferenças pessoais que 
podem fazer com que uma pessoa de maior renda, que hipoteticamente a 
situaria fora da linha de pobreza, possa ser de fato mais pobre que outra com 
menor renda, mas com menor demanda de determinados recursos ou 
'insumos'. Daí porque tantas políticas públicas de redução da pobreza não 
obtêm o resultado esperado: suas premissas de ação são falhas, incompletas 
ou, por tratarem uniformemente destinatários tão diversos, são erradas. 
 Cabe notar que, pela forma com que Amartya Sen enfrenta a problemática da 
pobreza e a insere como o eixo em torno do qual devem girar das discussões 
acerca da desigualdade, a questão não se resolve com a simples fixação de 
uma linha hipotética de pobreza com base na renda mínima. O critério das 
'capacidades', transcendente da visão limitada da renda, permite melhor 
apreender a complexidade da realidade social dos que vivem em condições 
abaixo do necessário para a realização eficiente das faculdades humanas na 
sociedade atual. 
 E sua análise, contextualizada à nossa realidade, não pode prescindir da 
premissa de que as causas que obstam o acesso ao mercado de trabalho, aos 
bens primários da sociedade e que aprofundam a desigualdade na distribuição 
da renda estão intimamente ligadas a preconceitos contra grupos sociais e a 
variadas formas de opressão, inclusive a violência. 
 Exclusão social 
 Se o termo pobreza pode ser construído a partir da definição que recebe, 
incluindo ou deixando de incluir grupos sociais, o termo recente 'exclusão 
social', ainda que tenha significação certamente difusa e polimorfa, tem o 
condão de iluminar justamente o espaço social, jurídico e político perdido frente 
ao estado de destituição de recursos de toda espécie - econômicos, sociais, 
jurídicos, culturais. A destituição se apresenta como um monstro tentacular, 
absorvendo qualquer possibilidade de atuação no espaço social às pessoas 
pobres, grupo em que se incluem as mulheres, os negros, deficientes, índios, 
velhos, crianças - e todos aqueles que não conseguem partilhar do controle do 
poder social. O estado de exclusão social oblitera a tal ponto esse espaço que 
mesmo a capacidade de insurgência e de organização contra os mecanismos 
que o originam são mirrados. 
 O termo 'exclusão social' surgiu na década de 60, mas a partir da crise dos 
anos 80 passou a ser intensamente utilizado, integrando discursos oficiais para 
designar as novas feições da pobreza nos últimos anos. A expressão, por ser 
relativamente recente, está longe de ser unívoca, mas está sempre relacionada 
às concepções de cidadania e integração social. Normalmente é empregado 
para designar a forma de alijamento dos frutos da riqueza de uma sociedade e 
do desenvolvimento econômico ou o processo de distanciamento do âmbito 
dos direitos, em especial dos direitos humanos. 
 Enquanto a pobreza constitui eixo temático das discussões anglo-americanas, 
a exclusão social passou a centralizar as discussões no continente europeu, 
particularmente na França. Há autores que entendem que a distinção entre os 
dois conceitos está relacionada ao modo de se abordar a questão da 
desigualdade. Segundo essa perspectiva, a noção de pobreza focaliza 
aspectos distributivos, como indica uma de suas definições mais comuns "a 
falta de recursos à disposição de um indivíduo ou de uma família". A idéia de 
exclusão social, por sua vez, está centrada nos aspectos relacionais, isto é, "na 
participação social inadequada, a ausência de proteção social, ausência de 
integração social e ausência de poder". Outros autores, por outro lado, 
passaram a perceber também a pobreza como resultado de certo padrão de 
relações entre as pessoas e não simplesmente uma acumulação insuficiente 
de produtos ou bens. Como Geneviève Azam aponta, "é sem dúvida por se 
esquecerem que a pobreza é o sintoma de uma relação entre os homens que 
as sociedades modernas esperaram poder erradicá-la por meio de uma 
produção frenética e ilimitada". 
Portanto, a diferença específica entre os dois conceitos não reside neste ponto. 
A Comissão Europeia aproximou a noção de exclusão social da ideia da 
realização inadequada ou insuficiente dos direitos sociais. Room aponta o 
trabalho do Observatório Europeu para o Combate à Exclusão Social, que tem 
por função analisar a efetividade das diferentes políticas locais, regionais e 
nacionais, a partir da constatação de que processos de investimento (não só 
financeiro) ou desinvestimento interferem e mesmo provocam fenômenos de 
exclusão ou de reinserção social, incluindo investimentos e desinvestimentos 
em recursos e equipamentos comunitários locais. Os obstáculos postos às 
pessoas ao exercício de seus direitos e as consequências daí decorrentes 
quanto à não participação nas instituições principais da sociedade são os 
aspectos-chave da exclusão social. O trabalho desse Observatório permite ver 
mais claramente a extensão do sentido dessa nova expressão, não só para 
identificar os processos geradores da exclusão, mas também para identificar as 
políticas mais adequadas à solução ou ao tratamento desses processos. 
 
O termo exclusão social é, portanto, mais do que um modismo, ou um simples 
sinônimo de algo já existente. Seu arco de sentidos é mais amplo que o do 
termo 'pobreza', pois abrange a ideia de direitos perdidos, não acessíveis ou 
exercíveis, ao menos nos mesmos moldes e extensão de outras pessoas 
consideradas 'incluídas'. 
 Esse enfoque sobre as relações que determinam a exclusão social permite 
que se afaste definitivamente a ideia, por vezes arraigada, de que a pobreza e 
a exclusão social decorrem naturalmente da vida em sociedade ou do 
inelutável progresso. Ou de que, por razões biológicas ou psicológicas, 
algumas pessoas não são capazes de se ambientar favoravelmente dentro das 
relações capitalistas. Ocorre que, quando metade da população do país é de 
tal modo pobre que não consegue exercer plenamente seus direitos humanos, 
algo não pode estar correto nesse tipo de raciocinar. Nessa linha, é como se, 
como bem observa Azam, as atividades econômicas tivessem o condão de, por 
si, criar uma sociedade harmoniosa. O naturalismo fatalista se estende, ainda, 
ao caráter das leis econômicas. A sociedade é apresentada como submetida 
às leis econômicas que não mais se originariam das escolhas humanas. A 
exclusão passa a ser vista como natural e mesmo inerente, reforçando a 
crença no progresso contínuo, sob uma racionalidade instrumental que faz das 
pessoas, assim como do meio ambiente, nada mais do que recursos ou meios 
para a obtenção do maior lucro, à margem das escolhas políticas e sociais. 
 Inclusão/exclusão e pobreza/riqueza são dicotomias relacionadas à 
desigualdade e, portanto, ao tema da igualdade. Por via de consequência, são 
relações e não estados, relações estas ligadas à oposição feita entre liberdade 
e igualdade, que estariam uma paraoutra como que numa gangorra. Esta 
oposição, no entanto, é indevida e encontra justificativa no modo individualista - 
e mesmo hedonista - de mirar a liberdade. Ocorre, porém, que as 
desigualdades sociais não se dão exclusivamente na esfera das relações 
privadas, isto é, entre particulares. Não estão situadas - e nem podem estar - 
fora da dimensão da esfera pública. É indevido associar-se a liberdade ao 
público e a igualdade ao privado, de forma a situar somente a liberdade no 
plano da regulação estatal para a sua proteção, especialmente pelo direito civil 
e pelo direito penal. Nada há no sistema jurídico que permita comparar o nível 
de proteção da liberdade com o nível de proteção da igualdade, em seu sentido 
material. A igualdade formal permanece somente como o eixo legitimador do 
sistema liberal de atribuição de direitos. Porém, exatamente porque o exercício 
da igualdade material está geneticamente ligado ao exercício da liberdade, 
torna-se a primeira (a igualdade) de fundamental relevância para a esfera 
pública, impondo a ação do Estado para sua proteção, especialmente com a 
implementação de políticas sociais e econômicas. Jamais se poderá falar, por 
conta do modo como opera o sistema capitalista - que faz maximizar o lucro 
com a desvalorização da mão-de-obra -, que a desigualdade existe por conta 
da preguiça ou da ausência de vocação para o trabalho e para a riqueza, 
mantendo certo número de pessoas na miséria. Este darwinismo social é 
argumento próprio dos que vêm a desigualdade na distribuição da riqueza 
como natural ao primado da liberdade - em sua acepção absoluta. 
 
Ao se tratar um tema tão complexo, não se pode recorrer a simplificações que, 
conquanto facilitem a análise e, muitas vezes, possibilitem ver com clareza os 
aspectos mais agudos, de fato obscurecem a percepção e o tratamento de uma 
realidade rica e de múltiplas faces. A verdade é que a redução da 
complexidade de um problema - especialmente se social ou econômico - 
frequentemente conduz ao desperdício de recursos com políticas públicas de 
escassa eficácia. 
 O dever de proteção contra todas as formas de destituição 
 O combate à pobreza e à exclusão social, como formas de desigualdade que 
repercutem em todas as dimensões da pessoa, constituem imperativos éticos 
e, como parte importante da questão social atual, repercutem nas políticas 
socialistas e mesmo nas neoliberais, interna e internacionalmente. Sendo 
assim, refletem nos sistemas jurídicos que trazem positivados como obrigação 
jurídica deveres de inclusão social e de erradicação das causas geradoras da 
desigualdade. 
 A Constituição Federal promulgada em 1988 ergue no artigo 3º a igualdade, 
em várias de suas manifestações, como objetivo fundamental da República. Os 
quatro incisos desse artigo são explícitos em determinar os aspectos que 
devem constituir a prioridade da atuação pública e privada para a consolidação 
do Estado Democrático de Direito. É o artigo 3º que, por oposição, se 
reconhecem as disfunções de nossa sociedade e se coloca como meta sua 
correção: 
 Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir 
as desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceito de 
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação. 
Plasmados dessa maneira, tais objetivos revestem a razão de ser do Estado 
brasileiro, as cláusulas do nosso pacto social, para o qual os direitos 
fundamentais são os meios para sua consecução e o sistema jurídico, em sua 
inteireza, garante os modos para o seu necessário atingimento. Não se tratam, 
pois, de meras normas programáticas, destinadas simplesmente a pacificar o 
conflito social pela positivação, e cuja ausência de efetividade deve ser objeto 
de puro conformismo. Esses objetivos fundamentais da República constituem 
obrigações de resultado que o poder público e a sociedade devem 
conjuntamente buscar. 
 
Com vistas à construção de uma sociedade livre, justa e solidária, princípio dos 
quais os demais relacionados no artigo 3º são corolários diretos, a Constituição 
estabelece os direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, em todas as suas formas e meios descritos no artigo 5º; os 
direitos sociais como a educação, o trabalho, o lazer, a segurança, a 
previdência social, à proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, como previsto nos artigos 6º a 9º e em todo o Título VIII -Da 
Ordem Social (arts. 193 a 222). A Constituição também impõe aos agentes 
econômicos a obrigatoriedade de operar conforme os objetivos fundamentais 
mencionados, como decorre do artigo 170 e incisos III, VII e VIII. Quanto ao 
Poder Público, a Constituição explicitamente atribui no artigo 23, inciso X, 
competência comum à União, Estados, Distrito Federal e Municípios "combater 
as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a 
integração social dos setores desfavorecidos". 
 O artigo 23 traz cristalinamente caber aos três níveis da Federação não 
somente implementar medidas de redução ou alívio da pobreza, mas adotar e 
perseguir políticas efetivas que combatam as causas que a provocam, assim 
como os fatores que favorecem a marginalização, aliando a isso o dever de 
promover a integração social dos setores desfavorecidos. 
 No âmbito internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 
1948 estabelece que os direitos econômicos, sociais e culturais são 
indispensáveis à dignidade da pessoa e ao livre desenvolvimento da 
personalidade e que sua realização constitui direito de cada membro da 
sociedade (art. XXII). A Declaração prevê os direitos ao trabalho, ao lazer e ao 
repouso, à saúde e à instrução, sempre contextualizados para o livre 
desenvolvimento da personalidade das pessoas. É interessante notar que seu 
texto não coloca o trabalho como única forma de 'redenção' social, mas como 
um dos meios de proteção social. A leitura dos artigos XXIII e XXV o 
demonstram claramente: 
 
Art. XXIII - 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha 
de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à 
proteção contra o desemprego. 
2. Toda pessoa que trabalha tem o direito a uma remuneração 
justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, 
uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se 
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 
 Art. XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz 
de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive 
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os 
serviços socais indispensáveis, o direito à segurança, em caso de 
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos 
de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de 
seu controle. 
O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais e o Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos explicitam em preâmbulo de idêntica 
redação a relação entre a privação no âmbito econômico e o gozo dos direitos 
econômicos, sociais e culturais, ao dispor que os Estados-Partes reconhecem 
"que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o 
ideal do ser humano livre, liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado 
a menos que se criem condições que permitam a cada um gozar de seus 
direitos econômicos, sociais e culturais, assim como de seus direitos civis e 
políticos." 
 Sem que entremos em considerações sobre as razões políticas que 
determinaram a elaboração de dois tratados ao invés de um único documento, 
o fato é que os direitos garantidos em cada um dos Pactos são completares 
recíprocos entre si. Ouseja, não é possível conceber o pleno exercício dos 
direitos civis e políticos se os direitos econômicos, sociais e culturais não 
estiverem garantidos e efetivados - e vice-versa. Como dito no preâmbulo aos 
Pactos, enquanto o ser humano não estiver liberto do temor e da miséria, 
permanecerá subjugado, não será livre e não terá meios de desenvolver 
livremente sua personalidade. Em uma palavra, não será pessoa. 
 A Declaração e o Programa de Ação de Viena traz expressamente que "a 
existência de situações generalizadas de extrema pobreza inibe o pleno e 
efetivo exercício dos direitos humanos" (I - 14). Afirma, também, que "a 
pobreza extrema e a exclusão social constituem uma violação da dignidade 
humana e que devem ser tomadas medidas urgentes para o conhecimento 
maior do problema da pobreza extrema e de suas causas, particularmente 
aquelas relacionadas ao problema do desenvolvimento, visando a promover os 
direitos das camadas mais pobres, pôr fim à extrema pobreza e à exclusão 
social e promover uma melhor distribuição dos frutos do progresso social. É 
essencial que os Estados estimulem a participação das camadas mais pobres 
nas decisões adotadas em relação às suas comunidades, à promoção dos 
direitos humanos e aos esforços para combater a pobreza extrema." Além 
destes, vários outros itens mencionam situações de desigualdade jurídica, 
social, econômica e política de minorias étnicas e religiosas, mulheres, idosos, 
crianças e pessoas e grupos que se tornaram vulneráveis. 
 Esta breve descrição nos permite perceber o abismo existente no Brasil entre 
o ser e o dever-ser em sede de direitos humanos. 
 Desigualdade de direitos 
 As situações relacionadas à pobreza e à exclusão não constituem um bem, 
algo que se deseje de modo espontâneo. Intuitivamente, não é algo que se 
queira para si ou para outra pessoa, havendo alternativas dignas, pois, 
sabemos, ou ao menos intuímos, que a escassez de recursos a ela inerente 
não permite o acesso a numerosos bens imprescindíveis à sobrevivência 
pessoal e em sociedade ou valorizados socialmente como necessários para 
manter o respeito como pessoa frente aos outros. Dentre os bens 
imprescindíveis à subsistência elencam-se não somente aqueles necessários à 
própria existência física no mundo, mas também os necessários a que o ser 
humano possa ser reconhecido como uma pessoa, com direitos e com deveres 
face aos demais na comunidade, que tenha a possibilidade de, sempre que 
quiser, participar ativamente na conformação e confirmação das regras que 
governam a todos. 
 Se é algo que não se quer para si ou para os outros, decorre um dever ético 
de combatê-la, assim como aos mecanismos e processos que a geram. O 
Estado, na sua obrigação de dar a todas as pessoas acesso e meios de 
exercício dos direitos, e com especial ênfase dos direitos fundamentais 
expressos na Constituição Federal e nos Tratados Internacionais de Proteção 
de Direitos Humanos, estabelece garantias constitucionais para esse acesso e 
exercício - especialmente o mandado de segurança e o habeas-corpus - , 
assim como desenvolve e implementa políticas públicas sociais e econômicas. 
 Todavia, persiste nos três Poderes, inclusive nos tribunais - em reflexo da 
ideologia vigente por quem pode sustentá-la - o viés privatista que faz da 
propriedade e do contrato - direitos econômicos que sequer constaram do 
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - institutos 
mais sólidos do que todos os direitos sociais e do que grande parte dos direitos 
civis. O fato de se apenar o crime contra o patrimômio com pena privativa de 
liberdade evidencia o paradoxo - mais grave ainda é em países que mantêm a 
pena de morte para essa mesma hipótese.é o patrimônio valorado como 
superior à liberdade e mesmo à vida. A inexistência de limites à 'riqueza 
extrema' , assim como a possibilidade da propriedade desvinculada da 
atividade econômica de vários imóveis ou de grandes extrações de terra, ao 
lado de milhões de pessoas sem terra para cultivar ou sem meios de arcar com 
a própria moradia constitui outro paradoxo. 
 Práticas percebidas como normais à livre iniciativa, como encerramento da 
fábrica na qual trabalha a população economicamente ativa de toda uma 
cidade, a substituição de plantios de feijão por soja ou hortaliças por flores ou a 
aquisição de uma série de pequenas propriedades afetam negativamente os 
direitos e a qualidade de vida de grande número de pessoas. Henry Shue 
observa a propósito de práticas dessa espécie que a concepção, o 
desenvolvimento e a manutenção de instituições que protejam a subsistência 
das pessoas contra os maus ou insensíveis - ou simplesmente contra os mais 
fortes - está na mesma medida da concepção e execução de programas de 
controle de crimes violentos contra a pessoa. Mais ainda, ele salienta que as 
práticas que possam alterar a oferta de gêneros de que dependa a subsistência 
das pessoas devem ser controladas e acompanhadas. E, se necessário, o 
Estado deve fazer cumprir o dever da sociedade de proteção às pessoas 
contra a perda da capacidade da própria subsistência promovida por ação ou 
omissão dos outros. Se fossem implantados mecanismos jurídicos para a 
proteção da subsistência - integrante do direito à vida digna - a necessidade de 
políticas públicas para a compensação por privações seria menor. 
 
A bem dizer, mecanismos jurídicos existem no próprio Código Civil, que 
poderiam ser utilizados para dar efetividade ao direito à vida digna, para que 
ações dos que detêm poder não degradassem as condições de vida dos não-
ricos, sendo o artigo 159 o exemplo primeiro, quanto ao dever de indenizar que 
cabe àquele que causar dano a terceiro por ação ou omissão, 
intencionalmente, ou por negligência, imprudência ou imperícia. Além disso, 
não é demasiado lembrar que já Ruy Barbosa entendia adequado o uso do 
interdito possessório para a proteção de direitos pessoais - e não só para a 
posse de direitos reais. Porém, é exatamente esse privatismo propriamente 
elitista que impede a articulação do direito para a distribuição do poder político 
e econômico para todos as pessoas e, mais do que isso, opera para conservar 
a distribuição desigual do poder e da riqueza. Note-se que se é conservador o 
direito e se tem ele a função de atribuir forma às relações de produção da 
sociedade capitalista, intervindo na sua constituição, funcionamento e 
reprodução , são os operadores do direito, contrariando a letra expressa da lei, 
que fazem da propriedade valor superior à liberdade, em todas as suas formas, 
e superior aos direitos à saúde, à moradia, à educação, e tantos outros que são 
fundamentais para que a pessoa possa agir em sociedade, possa ser 
reconhecida como agente dotado de autonomia e possa ser respeitada como 
tal. 
 Vale ressaltar, é a leitura equivocada e parcial do princípio da liberdade - 
liberdade como livre iniciativa - que tem causado, mantido e aprofundado as 
desigualdades, em ofensa ao princípio gêmeo do primeiro, o princípio da 
igualdade. 
 Assim, se avanços existem, ainda há muitos outros a serem conquistados, 
mesmo no aspecto formal, do reconhecimento de direitos. 
 A privação dos recursos necessários a garantir e preservar a dignidade da 
pessoa importa a retirada da possibilidade do pleno desenvolvimento da 
personalidade da pessoa. Retira-lhe a possibilidade do desenvolvimento da 
essência humana por excelência, a criatividade. O agir criativo, que permite ao 
ser humano transformar o seu meio, sempre aprimorando-o, é faculdade que 
deve estar continuamente livre e acessível materialmente a todas as pessoas, 
e não somente a algumas. Hannah Arendt trata extensamente sobre esse tema 
em sua obra, demonstrando como os sistemas totalitários se articulam para 
cerrar a possibilidade da vita activa às pessoas. 
 O estado de destituição que decorre da desigualdadeeconômica implica 
necessariamente desigualdades que se estendem aos níveis social, cultural e 
político, como apontado no início deste trabalho. A desigualdade econômica 
conduz a outras desigualdades em virtude da racionalidade vigente nos 
espaços sociais da atualidade, em que valor maior é atribuído ao 'o que' se tem 
e 'quanto', ao invés do o que se é e como. Essa racionalidade consumista 
somente confere identidade ao ter e não ao ser. Ela é individualista e baseada 
na competição, na concorrência entre as pessoas, não contribuindo para a 
estabilidade dos liames de integração social que permitem o agir construtivo de 
cada um em sociedade. A solidariedade é de plano expurgada para o campo 
da moral, esta mais e mais fragilizada pelos ditames da dinâmica dos 
mercados. Em uma sociedade em que a racionalidade das relações é 
consumista, as relações entre as pessoas também passa a se pautar pelo 
consumo, ou seja pela relação desigual em que um dos lados pretende obter 
do outro tudo o que ele pode lhe oferecer de útil, até o seu esgotamento. 
Ocorre que, nesse quadro, as pessoas absolutamente pobres, de tudo 
destituídas, pouco ou nada têm a oferecer à outra parcela. 
 Importa explicitar que a desigualdade econômica grave e a destituição que lhe 
é correlata cerceiam o acesso material aos direitos fundamentais da pessoa, 
garantidos formalmente pelos instrumentos internacionais de proteção de 
direitos humanos, pela Constituição Federal e pelas leis e regulamentos 
infraconstitucionais. A situação de pobreza viola, a um só tempo, os direitos 
civis e políticos, assim como os econômicos, sociais e culturais. A pessoa 
destituída de recursos, que se encontra além do estado de vulnerabilidade ou 
de precariedade não tem elementos próprios e meios para dar início ao 
exercício de seus direitos fundamentais e, muitas vezes, sequer sabe de sua 
existência enquanto tal. Por isso, o pobre, expressão adjetiva que se 
substantivou, é vítima de numerosas violações de direitos humanos e sequer 
se dá conta disso, sobretudo quanto aos direitos econômicos, sociais e 
culturais. Quanto aos direitos civis e políticos, a despeito de sempre violados, 
existe ao menos a consciência da violação, sendo ela mais um elemento a 
confirmar na pessoa o sentimento de impotência e aniquilando ainda mais seu 
auto respeito e o respeito que os outros poderiam - porque já não podem - ter 
por ela. 
 O reverso do jogo entre os níveis econômico e social também é produtor de 
destituições. A desigualdade social que decorre de preconceitos culturalmente 
arraigados também impõem à pessoa limitações na capacidade de auferir 
renda pelos meios normais de inserção e de convertê-la em realizações 
pessoais em sociedade. A questão de gênero é bastante conhecida e 
sabidamente o preconceito contra a mulher restringe-lhe as oportunidades de 
emprego e de ascensão, e ainda lhe nega iguais salários para iguais 
atividades. Considerando esses aspectos e somando-se ao fato que as 
atividades estereotipadas como femininas igualmente representam limitações 
ao desenvolvimento pleno da pessoa segue-se que as desigualdades sociais 
vêm passo a passo com a desigualdade econômica. O mesmo vale para a 
questão racial, para o problema da idade e para os deficientes. Preconceitos 
culturais produtores de desigualdades sociais aprofundam a desigualdade 
econômica e não raro, aniquilam as chances de inserção social, salvo poucas 
exceções. A possibilidade de resgate é tão mais difícil quanto maiores as 
desigualdades socialmente impostas. Assim, as chances de sair do estado de 
destituição para uma mulher são mais difíceis se ela for negra, mais ainda se 
também idosa. 
 Em virtude disso, conclui-se que a pobreza e a exclusão não surgem por 
geração espontânea e não constituem situações estáticas e auto referenciadas, 
mas são resultado do modo de relação entre pessoas e grupos. A situação 
econômica desfavorável de uma pessoa ou de um grupo maior ou menor de 
pessoas se dá em virtude da natureza das relações presente numa sociedade 
e pelas racionalidades que a dominam, em especial quando presentes 
mecanismos e práticas de exploração econômica, social e cultural. Tais 
mecanismos se verificam concomitantemente nas três esferas e se acham 
entranhados na sociedade a ponto de serem considerados padrões normais de 
relacionamento entre os grupos, dificultando a transformação social e a 
emancipação pessoal de cada um desses membros submetidos ou excluídos. 
 Estado e políticas públicas 
 Se a exclusão social e a pobreza que a ela está associada decorrem de 
relações em sociedade e sendo o Estado o mediador por excelência dessas 
relações, segue-se cristalinamente que o Estado desempenha papel importante 
na própria existência da desigualdade, seja ela econômica, social ou política. 
 Ao analisar suas causas, Blandine Destremau lembra que a pobreza é 
produzida e reproduzida por meio de um processo de diferenciação social e 
econômica afetando a distribuição da propriedade, assim como de bens 
educacionais, sociais e simbólicos - seguindo o pensamento de Pierre 
Bourdieu. Daí segue que a pobreza é parte integrante de um sistema e de 
funções que são intrinsecamente moldadas por essas diferenciações e pela 
distribuição desigual de riquezas, renda, poder, valorização social e meios de 
atuação em sociedade. 
 O Estado desempenha, no presente jogo de forças sociais, papel fundamental 
para a manutenção da ordem e de algum tipo de estabilidade, de onde também 
extrái sua legitimidade. Nesse processo, o Estado assume o jogo - sujo - de 
manter em níveis administráveis e suportáveis as desigualdades e 
especialmente as tensões que surgem dessas desigualdades, a exploração do 
trabalho e a pobreza. 
 O Estado desempenha atividades inescapavelmente ligadas à manutenção e 
controle da pobreza, por meio de políticas que direta ou indiretamente, 
impedem o desenvolvimento livre das pessoas em sociedade, a curto ou médio 
prazos. Assim foi com a política educacional do regime militar, instituida pela 
Reforma do Ensino em 1971 que privilegiava o ensino fundamental somente 
dos 7 aos 14 anos - em tese até a 8ª série - e assim é com a política de saúde 
praticada, os projetos de habitação, que raramente alcançam os mais pobres e 
assim por diante. 
 Explicitando os modos de atuação do Estado na função de gerenciamento da 
pobreza, identifica-se caber ao Estado a implementação de normas e práticas 
sociais e econômicas em vários níveis, em especial quanto à (a) definição da 
pobreza e conformação de atitudes sociais como parte de relações discursivas, 
inclusive dentro das relações econômicas; (b) quanto à distribuição e alocação 
de recursos; e (c) quanto às ações das instituições e dos agentes públicos que 
de algum modo lidam com a pobreza e com os excluídos. 
 Blandine Destremau observa acertadamente que as principais instituições 
vinculadas à produção da pobreza podem ser consideradas como sendo o 
poder judiciário, as instituições econômicas e as instituições de bem-estar 
social, todas instrumentalizadas pelo direito. 
 Nessa linha, como é o modo de funcionamento e como se materializa o 
acesso do sistema jurídico e seus institutos, entendidos não somente como 
sistema de direitos e obrigações, e também do Poder Judiciário aos pobres? O 
olhar simples permite evidenciar a existência de modos desiguais de acesso 
aos mecanismos jurídicos, em desfavor dos que não detêm poder econômico 
ou poder social. É também inquestionável a incipiência dos meios de proteção 
oferecidos aos grupos mais vulneráveis e mais fracos da sociedade; assim 
como das oportunidades oferecidas para a melhoria de sua qualidade de vida 
por meio de ações judiciais e para a ascensão econômica e social. Os meios 
oferecidos pelo sistema jurídico para o acesso e a realização do conjunto dos 
direitos humanos, civis, políticos, econômicos,sociais e culturais esse sistema 
jurídico é indubitavelmente mais frágil em relação aos mais pobres. As 
principais instituições econômicas também operam como produtoras e 
reprodutoras da exclusão: o modo de ordenação da propriedade, do sistema 
financeiro, do sistema tributário e da política monetária, tudo contribui para a 
consolidação da desigualdade sofrida por este país. A assistência social, um 
direito constitucional, ainda é tratada como caridade não só pela sociedade, 
como pelo Estado também. As dificuldades de acesso aos benefícios 
instituídos pela regulamentação à Lei de Organização Assistência Social 
constituem prova contundente da exclusão promovida pelo próprio Estado. 
 As relações do Estado com a pobreza são, portanto, sistêmicas. Sendo assim, 
para que se possam desenvolver políticas públicas eficientes para a redução 
ou a erradicação da pobreza, que não sejam meramente assistencialistas, ou 
seja, compensatórias das disfunções do mercado, é necessário dar relevo e 
compreender as funções do Estado na produção, reprodução e 
administração/gerenciamento da pobreza. Sem essa compreensão e sem a 
percepção que as relações que produzem e reproduzem a pobreza são 
relações de poder entre grupos sociais mediadas pelo Estado, a implantação 
de políticas que permitam reduzir ou mesmo erradicar a pobreza não será 
factível. Partindo dessa premissa, do modo sistêmico entre Estado e pobreza, é 
que se poderá pensar adequadamente a regulação social, econômica - pela via 
do direito - das relações atinentes à pobreza, regulações estas envolvendo 
mecanismos e estruturas que permitem aos sistemas político, econômico e 
social se auto reproduzirem e de modo a evitar crises mais graves. Note-se que 
esta é a perspectiva que pressupõe e aceita a dinâmica capitalista e seu modo 
de produção - e exploração - e que vê necessidade na redução da pobreza 
para a própria continuidade do modo capitalista de produção. 
 Para a erradicação da pobreza e das desigualdades, objetivo fundamental da 
República constitucionalizado no artigo 3º da Constituição Federal, é 
necessário modificar-se os padrões de relações culturais e econômicas que as 
provocam e que aprofundam a exclusão, inclusive as sustentadas pela 
atividade estatal na implementação de políticas públicas, na formulação de leis 
e no julgamento das demandas levadas aos tribunais. A adoção de ações 
afirmativas e de políticas compensatórias, como a renda mínima, são 
necessárias, mas apenas como parte de um conjunto maior de políticas 
públicas de fundo, que possibilitem transformar as relações de poder em 
sociedade. As medidas e políticas públicas destinadas a dar efetividade ao 
artigo 3º da Constituição, que necessariamente devem tocar o modo de 
ordenação da atividade econômica, não podem, ademais, ser paternalistas. O 
paternalismo anula a autonomia da pessoa e, em consequência, a 
possibilidade da ação criativa, da participação da pessoa na sua própria 
construção e na construção da comunidade social e política. Aristóteles aponta, 
na Política, o exemplo dos cartagineses que mantinham políticas de 
solidariedade entre ricos e pobres, em que os nobres proporcionavam aos 
pobres meios de trabalho e o exemplo de Tarentum, em que o povo 
compartilhava o uso de suas propriedades com os pobres. Na mesma 
passagem, Aristóteles observa que "a extrema pobreza diminui o caráter da 
democracia e que, portanto, medidas devem ser adotadas para lhes 
proporcionar prosperidade duradoura; e que é igualmente do interesse de 
todas as classes que os proventos das receitas públicas devem ser 
acumulados e distribuídos entre os pobres, se possível em quantidades que os 
possibilite adquirir um sítio ou, ao menos, iniciar um comércio ou plantação". 
Delmas-Marty bem observa que "não se trata mais de assistência, mas de 
integração à sociedade, com o estatuto de cidadão. Não se trata mais de 
sobreviver, mas de viver plenamente, com os outros e ser reconhecido como 
um semelhante". Sem que todas as pessoas possam agir com autonomia na 
esfera privada, nas relações sociais e com autonomia na esfera pública, na 
dinamização dos direitos políticos na participação da gestão da coisa pública, 
não se poderá falar em democracia. A permanência da exclusão, da pobreza e 
das demais formas de opressão social são inconciliáveis com a idéia de 
república e com a materialização da democracia. 
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Texto retirado de http://www.pge.sp.gov.br/tesesdh/tese18.htm

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