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FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 1 SUMÁRIO A PRIMEIRA INFÂNCIA............................................................................................................................................... 3 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO – SEGUNDO PIAGET ..................................................................................................... 3 Estágio Sensório-motor .............................................................................................................................................. 4 DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL – SEGUNDO FREUD................................................................................................. 5 A Fase-Oral ................................................................................................................................................................ 5 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL – SEGUNDO ERIKSON .............................................................................................. 6 Confiança x Desconfiança .......................................................................................................................................... 6 A Relação Mãe-Bebê .................................................................................................................................................. 7 DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL – SEGUNDO ELLEN WHITE .......................................................................................... 7 A SEGUNDA INFÂNCIA................................................................................................................................................ 8 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO ..................................................................................................................................... 8 Egocentrismo .............................................................................................................................................................. 9 Centralização.............................................................................................................................................................. 9 Animismo .................................................................................................................................................................... 9 Realismo Nominal....................................................................................................................................................... 9 Classificação ............................................................................................................................................................ 10 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL............................................................................................................................... 10 DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL.............................................................................................................................. 11 DESENVOLVIMENTO MORAL ......................................................................................................................................... 11 A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO COM OS PAIS ................................................................................................................. 12 DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL................................................................................................................................... 14 O Primeiro Manual da Criança................................................................................................................................ 14 A Influência da Criança Devidamente Ensinada...................................................................................................... 14 A Importância do Estudo da Lição da Escola Sabatina ........................................................................................... 15 O Melhor Método para o Ensino das Crianças........................................................................................................ 15 O Programa da Criança Durante a Infância............................................................................................................ 15 MENINICE ..................................................................................................................................................................... 16 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO ................................................................................................................................... 16 DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL.............................................................................................................................. 16 Regressão.................................................................................................................................................................. 17 Repressão.................................................................................................................................................................. 17 Projeção.................................................................................................................................................................... 17 Formação Reativa .................................................................................................................................................... 17 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL............................................................................................................................... 17 Os Sete Anos (A AUTOCRÍTICA)............................................................................................................................. 18 Os Oito Anos (A IMPORTÂNCIA DOS OUTROS)................................................................................................... 18 Os Nove e Dez Anos (O DESEJO DE INDEPENDÊNCIA)...................................................................................... 19 DESENVOLVIMENTO MORAL ......................................................................................................................................... 19 Nível 1: Pré-moral (4 a 10 anos).............................................................................................................................. 19 Nível 2: Moralidade de Conformidade ao Papel Convencional (10 a 13 anos)....................................................... 19 DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL................................................................................................................................... 20 PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA............................................................................................................................. 21 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS............................................................................................................................................ 21 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO ................................................................................................................................... 22 DESENVOLVIMENTO MORAL ......................................................................................................................................... 22 DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL.............................................................................................................................. 23 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL............................................................................................................................... 23 Função da Religião e Importância dos Amigos........................................................................................................ 24 FASE ADULTA ..............................................................................................................................................................25 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL............................................................................................................................... 25 Intimidade versus Isolamento ................................................................................................................................... 25 FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 2 CARACTERÍSTICAS MENTAIS ......................................................................................................................................... 26 CARACTERÍSTICAS ESPIRITUAIS .................................................................................................................................... 26 1. Filosofia de Dependência ..................................................................................................................................... 26 2. Filosofia de Função ou Papel............................................................................................................................... 27 3. Filosofia de Julgamento........................................................................................................................................ 27 4. Filosofia de Psiquê ............................................................................................................................................... 27 5. Filosofia de Materialista ...................................................................................................................................... 27 6. Filosofia de Relações............................................................................................................................................ 27 A IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO NESTA FASE .................................................................................................................. 27 A TERCEIRA IDADE ................................................................................................................................................... 28 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS............................................................................................................................................ 29 CARACTERÍSTICAS MENTAIS ......................................................................................................................................... 30 CARACTERÍSTICAS ESPIRITUAIS .................................................................................................................................... 31 CARACTERÍSTICAS PSICOSSOCIAIS ................................................................................................................................ 31 OS DRAMAS DA VELHICE .............................................................................................................................................. 32 Um Tempo de Perdas................................................................................................................................................ 32 Relacionamentos Sociais do Idoso............................................................................................................................ 33 Importância da Religião ........................................................................................................................................... 34 A Velhice nos Escritos de Ellen White ...................................................................................................................... 34 BIBLIOGRAFIA BÁSICA E SUPLEMENTAR ......................................................................................................... 35 FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 3 PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Conhecer como funciona a mente de uma pessoa, pode ajudar a entender o seu comportamento. Este conhecimento é muito importante para aqueles que estudam as ciências humanas, dentre elas a Teologia. Vamos, então, estudar um pouco das características de algumas das fases do desenvolvimento humano, procurando aliar este conhecimento à necessidade de nossas igrejas e grupos. Através de um correto estudo do desenvolvimento humano podemos, por exemplo, entender porque um adolescente tem determinado comportamento; ou como trabalhar para influenciar positivamente as crianças menores; ou o que fazer para ajudar a diminuir a depressão em um adulto ou idoso; etc. A presente apostila é resultado de uma coletânea de trabalhos elaborados por estudantes do Bacharelado em Teologia do SALT-IAENE. Os trabalhos originais, com respectivas citações de fontes bibliográficas estão à disposição para consultas. A PRIMEIRA INFÂNCIA Por Rafael Santos A primeira infância começa no momento da queda do coto umbilical e termina quando a criança começa a falar e pode nutrir-se independentemente do organismo materno. Piaget, Sigmund Freud, Eric Erikson, Ellen White, entre outros, argumentam sobre este estágio da vida. Desenvolvimento Cognitivo – Segundo Piaget Desenvolvimento cognitivo é o processo gradativo da habilidade dos seres humanos no sentido de obterem conhecimento e se aperfeiçoarem intelectualmente desde o nascimento. O estudo deste desenvolvimento (cognitivo) é uma das áreas mais novas e mais significativas em Psicologia. A palavra “cognição” refere-se ao processo através do qual um mundo de significados tem origem. À medida que o ser se situa no mundo, ele estabelece relações de significação, isto é, atribui significados à realidade em que se encontra. Não se pode falar de desenvolvimento cognitivo sem mencionar Jean Piaget. Ele explica muitos aspectos do pensamento e do comportamento da criança, considerando-a como passando por estágios definidos, ou mudanças qualitativas de um tipo de pensamento para outro. Por mais de 40 anos, Piaget realizou pesquisas com crianças, visando não somente conhecer melhor a infância para aperfeiçoar os métodos educacionais, mas também compreender o homem. Usando a observação direta, sistemática e cuidadosa de crianças (incluindo os seus três filhos), Piaget desvendou muito dos enigmas da inteligência infantil. A sua teoria também explica o desenvolvimento mental do ser humano no campo do pensamento, da linguagem e da afetividade. Portanto, a teoria piagetiana preocupa-se com as pesquisas do desenvolvimento das estruturas que possibilitam a aquisição e expansão da experiência. Supõe que essas estruturas não são formadas biogeneticamente prontas e determinadas, mas são construídas pela interação entre o organismo e o FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 4 ambiente. A teoria de Piaget não conceitua a ação apenas como um processo decorrente da tomada de decisões, definindo-a como uma forma de extração de informações, uma dimensão cognitiva. A maioria dos psicólogos cognitivistas apóia a cognição somente nos processos de percepção, memória, linguagem, pensamento e aprendizagem, excluindo a ação, que para Piaget constitui a fonte do conhecimento e não os sentidos, como acreditam os “behavioristas”. À medida que o organismo se desenvolve, as estruturas cognitivas passam de instintivas a sensório- motoras, até finalmente serem a estrutura operacional adulta. Piaget divide, esse processo contínuo que começa com o nascimento, em quatro períodos amplos. São eles em ordem de ocorrência: (1) período sensório-motor, de 0 a 2 anos; (2) período pré-operacional, de 2 a 7 anos; (3) período das operações concretas, de 7 a 11 anos; (4) período operações formais, de 11 a 15 anos. Esses períodos não são independentes e não relacionados. O desenvolvimento tanto é contínuo quanto descontínuo. É contínuo porque significa que cada desenvolvimento subseqüente baseia-seno desenvolvimento anterior incorporando-o e o transformando; e descontínuo, significando que as mudanças qualitativas ocorrem de um estágio para o outro. Conseqüentemente, os períodos de desenvolvimento estão funcionalmente relacionados e fazem parte de um processo contínuo. Como o enfoque agora é sobre a “primeira infância”, analisaremos apenas o primeiro estágio, conforme Piaget. Estágio Sensório-motor Neste estágio inicial, que vai do nascimento até depois dos 18 meses, a atividade intelectual é de natureza sensorial e motora: a criança percebe o ambiente e age sobre ele. De acordo com Piaget, o desenvolvimento da mente já teve início quando a criança nasce. O sistema nervoso e os mecanismos sensoriais estão funcionando. O desenvolvimento fisiológico antes do nascimento é claramente necessário para o desenvolvimento cognitivo que ocorrerá posteriormente. A inteligência da criança durante este estágio é fundamentalmente prática. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento. Os êxitos mais destacados são o esclarecimento da conduta intencional, a construção do conceito de objeto permanente e das primeiras representações e o acesso à função simbólica. É também um período marcado por um extraordinário desenvolvimento em termos mentais, onde se percebe uma conquista de todo o universo prático. Estende-se desde o nascimento da criança até a aquisição da linguagem. Esse período (sensório-motor) é diferenciado por seis estágios de desenvolvimento. É através dos mesmos que ocorrem as mudanças do bebê: 1) Nascimento a 1 mês - O uso de reflexos. Embora os reflexos sejam reações inatas à estimulação, eles são adaptativos no sentido de que permitem ao bebê sobreviver e aprender. O comportamento reflexo é adaptativo e, portanto, é inteligente, visto que permite ao bebê sobreviver e permite que mais tarde ocorra a aprendizagem. 2) 1 a 4 meses - Reações circulares primárias, ou seja, as primeiras reações adquiridas. Trata-se de um esforço ativo para reproduzir algo que inicialmente foi conseguido por acaso, através de alguma atividade aleatória. 3) 4 a 8 meses - Reações circulares secundárias. Este estágio marca o início da ação intencional. Agora o bebê está começando a ficar interessado pelo resultado de suas ações. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 5 4) 8 a 12 meses - Coordenação de esquemas secundários e sua aplicação a novas situações. Suas ações são cada vez mais orientadas para a meta. 5) 12 a 18 meses - O descobrimento de novos meios através de experimentação ativa. Este é o último estágio cognitivo que não inclui representações mentais de eventos externos, ou seja, o que se imagina como pensamento, e o primeiro que inclui a tentativa de novas atividades. 6) 18 a 24 meses - A invenção de novos meios através de combinações mentais. O bebê desenvolve a capacidade de imaginar eventos em sua mente e de segui-los até certo grau. Ele pode pensar. Ele agora pode “experimentar” soluções em suas mentes e descartar aquelas que sabe que não funcionarão. Ele também pode imitar ações, mesmo depois que algo ou alguém já não esteja mais em sua presença. Desenvolvimento Psicossexual – Segundo Freud Uma explicação interessante do desenvolvimento foi apresentada por Sigmund Freud, considerado o “pai da Psicanálise”. Freud afirmou que o comportamento humano é orientado pelo impulso sexual, por ele chamado de libido. Daí a razão porque a psicanálise se refere ao desenvolvimento humano em termos de evolução psicossexual da personalidade. Este impulso sexual já se manifesta no bebê e pode ser comprovado pela observação direta das crianças e pela análise clínica de crianças e adultos, bem como pela similaridade das manifestações do impulso sexual entre elas e o adulto: beijos, carícias, olhares, exibições etc. Freud diz que essa evolução psicossexual é feita através de diferentes estágios por que passa o ser humano, em diferentes idades no seu processo de desenvolvimento. Ele também reconheceu cinco estágios nessa evolução da libido, apesar de dar maior ênfase apenas a quatro desses. A cada um desses estágios da evolução psicossexual corresponde uma característica de personalidade, ou padrão típico de comportamento. Para a primeira infância interessa apenas o primeiro destes estágios: a fase oral. A Fase-Oral Esse estágio do processo evolutivo corresponde, em linhas gerais, ao primeiro ano de vida do indivíduo e termina com a “desamamentação”. Chama-se fase oral porque presumivelmente nesse período da vida humana todo o senso de prazer que o indivíduo experimenta provém das zonas orais do seu corpo, ou seja, a criança satisfaz sua necessidade sexual pela boca, obtendo o prazer através da sucção. Os lábios, a boca e a língua são os principais órgãos de prazer e satisfação da criança, por isso, seus desejos e satisfações são orais. Se as necessidades forem satisfeitas, a pessoa crescerá de maneira psicologicamente saudável; se não o forem, seu ego será imperfeito. Se as necessidades orais forem frustradas durante esse período, por desmame prematuro, por afastamento rigoroso de todos os objetos para sugar (incluindo o polegar), o ego poderá ser incapaz de superar os desejos orais frustrados. Alguns psicanalistas atribuem o alcoolismo, por exemplo, a frustrações na fase oral. Se a criança não experimentar a satisfação adequada desta fase, poderá tornar-se fixada nas atividades orais e procurar, durante o resto da vida, obter prazer através da boca, vindo a ser, por exemplo, um fumante inveterado, um guloso ou um tagarela. “Neste período da vida, portanto, a energia libidinal está diretamente relacionada com o processo da alimentação”, e o alimento neste caso não se refere a simples incorporação de material nutritivo, mas inclui toda uma gama de relações humanas e de afetos implícitos no processo da alimentação. Karl Abrahan, psicanalista do grupo freudiano, aprofunda-se nas idéias iniciais de Freud sobre a fase oral e nela discrimina duas etapas básicas de desenvolvimento da libido. A primeira é chamada de fase oral da sucção, e corresponde a um período de relações afetivas pré-ambivalentes, que cobrem basicamente o FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 6 primeiro semestre de vida; ou, num correlato biológico, vai do nascimento ao período inicial da dentição. O segundo semestre do primeiro ano corresponderá à etapa oral sádico-canibal, iniciada a partir da dentição, onde as fantasias agressivas serão correlacionadas com a percepção do objeto inteiro, ou seja, com o surgimento da ambivalência (a mesma mãe é boa e má), e com a dentição, ou seja, a percepção do primeiro momento de agressão ou destrutividade real da criança. Freud conclui que a estimulação da boca (amamentação, mordedores, etc.) é a fonte primária de satisfação erótica na fase oral, e que, quando não satisfeita, pode produzir problemas no futuro. Desenvolvimento Psicossocial – Segundo Erikson Enquanto Freud realça os determinantes biológicos do comportamento, o seu discípulo, Eric Erikson , considera as influências culturais e societárias. Seu maior interesse está no crescimento do ego, especialmente nas maneiras pelas quais a sociedade molda seu desenvolvimento. Erikson apresenta através de sua teoria como os eventos e as reações durante a infância preparam às pessoas para serem adultos. Essa teoria do desenvolvimento psicossocial é conhecida como “as oito fases do homem”. Em cada uma dessas fases ocorrem crises que influenciam o desenvolvimento do ego, e a maneira como são resolvidas determinam o curso do desenvolvimento do indivíduo. São elas: • 0 a 1 e meio: confiança x desconfiança; • 1 e meio a 3anos: autonomia x vergonha; • 3 a 7 anos: iniciativa x culpa; • 7 a 12 anos: domínio x inferioridade; • 12 a 18 anos: identidade x confusão de papéis; • 18 a 30 anos: intimidade x isolamento; • 30 a 60 anos: generatividade x auto-absorção; • acima de 60 anos: integridade do ego x desesperança. Confiança x Desconfiança Um dos estágios apresentados por Eric Erikson (confiança x desconfiança), corresponde ao estágio oral de Freud, que vai do nascimento até os 18 meses. Neste período há uma crise evolutiva referente ao estabelecimento de uma relação básica da criança com o universo. Essa relação ou atitude fundamental é conhecida como confiança básica. Essa confiança é demonstrada pelo recém-nascido na maneira que dorme, tranqüilamente, alimenta-se confortavelmente e faz suas necessidades relaxadamente. Durante o dia o bebê sente-se bem com as experiências sensuais devido à confiança que desenvolve com a figura materna. Esta é a fase da vida em que a criança vai ter experiências que a levarão a confiar ou não em sua mãe, e conseqüentemente, também nas outras pessoas. É por isso que, neste “estágio de desenvolvimento, o conflito básico a ser resolvido em termos psicossociais é o da confiança versus desconfiança”. Então, o que a mãe pode fazer para desenvolver no bebê uma confiança básica? A mãe deve atender prontamente às necessidades da criança, alimentando-a, banhando-a e vestindo-a sempre com carinho. Se a mesma desenvolver estas habilidades, a criança terá incorporado em sua estrutura psíquica a noção de que o mundo não é afinal de contas, tão mal quanto parece. O bebê, conseqüentemente, desenvolverá confiança para com a sua mãe e, mais tarde, para com os outros. Ao contrário, se o bebê não for atendido como deveria ser, ou seja, se ele for negligenciado pela mãe, desenvolverá um sentimento de desconfiança para com ela e para com as outras pessoas. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 7 A Relação Mãe-Bebê A relação mãe-bebê, tão importante para o desenvolvimento do ego da criança, se inicia bem cedo. Este laço é um determinante de importância do sentido de confiança de um bebê. Neumann salienta que sendo o ser humano incapaz de ser independente logo após o nascimento, diferente dos demais animais, prorroga sua fase embrionária para além do nascimento. A fase embrionária compreende, então, os nove meses intra-uterinos e mais um ano pós-uterino. Nesta fase, a criança vive o inconsciente da mãe, está ligada à mãe fisicamente e psicologicamente, dependendo dela para tudo. Após esta fase, a criança inicia seu processo de desligamento da mãe, juntamente com a formação e fortalecimento do ego. Na relação mãe-filho, nos primeiros meses, a criança vive e experimenta o corpo da mãe como sendo ela mesma e o mundo. Não possui consciência capaz de discernimento, percepção e controle do seu próprio corpo. A criança vive esta fase com um mínimo de tensão e um máximo de segurança. A perda da mãe representa muitíssimo mais do que apenas a perda de uma fonte de alimentos. Para um recém-nascido, até mesmo quando continua sendo bem alimentado, equivale à perda da vida. As características da mãe ideal da relação primária são: a pessoa que alimenta, protege, dá segurança e permite uma ligação afetiva com a criança. A conduta futura de uma criança (boa ou má), dependerá quase completamente do seu relacionamento com a sua mãe. Essa relação com o bebê é extremamente importante, pois é primordialmente qualitativa. A mãe não pode apenas amamentar. O que importa é como isto é feito, como as solicitações paralelas da criança são atendidas, ou seja, não se está apenas incorporando o leite materno, mas também a voz da mãe, seus embalos, suas carícias. A criança conhece mais a mãe pelo cheiro e pela voz, do que pelo olhar, visto que o rosto humano só será discriminado no 4º mês de vida. Os carinhos que a mãe faz ao bebê não só proporcionam intensa sensação de prazer, como vão progressivamente dando ao mesmo a configuração de seu corpo, portanto, vão auxiliando a configuração do esquema corporal. O “eu” da criança começa a configurar limites, ou seja, a ter existência própria pelo contorno que lhe é dado pelo corpo materno. O bebê que não for objeto de calor humano e de amor, e que não for satisfeito em suas necessidades, corre o risco de não desenvolver um sentido de confiança, por conseguinte, de não ser sucedido posteriormente na formação de relações sociais satisfatórias. Existe um período crítico depois do nascimento de um bebê onde se deve estabelecer um relacionamento saudável entre o mesmo e a sua mãe. Klaus Kennell afirma que não se deve separar a mãe do seu bebê após o nascimento, para que haja o vínculo mãe-bebê, pois o sentimento de cuidado com o recém nascido causa um desenvolvimento normal. Mas se esse vínculo não acontece, o futuro da criança corre perigo. Klaus chegou a esta conclusão após comparar algumas mães e seus respectivos bebês que tinham contato imediato após o nascimento com aquelas que seguiam uma rotina normal de um hospital onde os bebês eram separados por grande parte do dia de suas mães. Desenvolvimento Espiritual – Segundo Ellen White O lar é o berço do desenvolvimento e fundamentos da educação cristã, onde a criança aprende a dar os primeiros passos, e também é o lugar onde a educação deve iniciar-se, pois ali está a primeira escola de cada pessoa. Ali, tendo seus pais como instrutores, terá a criança de aprender as lições que a devem guiar por toda a vida , pois toda “a experiência religiosa das crianças é influenciada pelas instruções dadas e pelo caráter formado na infância”. Cabe aos pais a tarefa de passar as primeiras informações a essa nova pessoa que esta sendo colocada na sociedade. É necessário que a criança tenha um desenvolvimento completo, levando em consideração o desenvolvimento religioso, o qual determina um viver saudável no futuro. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 8 De acordo com Ellen G. White, a educação começa com o bebê nos braços da mãe. Enquanto a mãe está moldando e formando o caráter dos filhos, ela os está educando (cf. Orientação da Criança, p. 26). É importante considerar que nos primeiros anos da vida da criança “o solo do coração deve ser cuidadosamente preparado para os chuveiros da graça de Deus. Então as sementes da verdade devem ser cuidadosamente semeadas e diligentemente cuidadas. E Deus, que recompensa cada esforço em Seu nome, insuflará vida à semente semeada; e aparecerá primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga”. Os primeiros anos da infância são de pesada responsabilidade para os pais e mães. A mãe, de uma maneira bem especial, exerce grande influencia na vida do bebê, por isso “toda mulher prestes a tornar-se mãe, seja qual for o seu ambiente, deve animar constantemente uma disposição feliz, alegre, contente, sabendo que por todos os seus esforços postos nesta direção será ela recompensada dez vezes mais no caráter tanto físico como moral do seu rebento” (Conselhos sobre Saúde, p. 79). As influências positivas ou negativas na gravidez refletirão na vida da criança, veja que “a base de um caráter reto no futuro homem é firmada nos hábitos de estrita temperança da parte da mãe antes do nascimento do filho” (Lar Adventista, p. 258). Porém, poucos pais começam suficientemente cedo a ensinar os filhos a obedecer. Ellen White ainda aconselha com relação aos filhos pequenos: “Mães, estai certas de que disciplinas devidamente vossos filhos durante os seus três primeiros anos de vida. Os três primeiros anos são o tempo para vergar o pequenino rebento” (Mente, Caráter e Personalidade, p. 17). As mães devem compreender a importância desse período. É aí que é posto o fundamento. Geralmentese permite à criança estar dois ou três anos à dianteira dos pais, que se abstêm de discipliná-la, pensando que é nova demais para aprender a obedecer. Mas em todo esse tempo o eu se está tornando cada vez mais forte na criança, e cada dia se torna, para os pais, tarefa mais difícil conseguir controlá-la. A SEGUNDA INFÂNCIA Por Kellyson Oliveira Grande parte das teorias do desenvolvimento humano admite que a idade pré-escolar é de fundamental importância na vida humana, pois é nesse período que o organismo se torna estruturalmente capacitado para o exercício de atividades psicológicas mais complexas, como o desenvolvimento da linguagem, o início das interações sociais, etc. Desenvolvimento Cognitivo Como já vimos, de acordo com Piaget o desenvolvimento cognitivo progride através de quatro estágios principais, e as crianças pré-escolares se encontram no estágio “pré-operacional”. O principal progresso desse período, em relação ao anterior (“sensório-motor”), é o desenvolvimento da capacidade simbólica. A criança começa a usar símbolos mentais – imagens ou palavras – que representam objetos que não estão presentes. Nessa época, há uma verdadeira explosão lingüística. A criança, que aos 2 anos possuía vocabulário de aproximadamente 270 palavras, por volta dos 3 anos já fala cerca de mil palavras; provavelmente compreende outras 2 mil ou 3 mil palavras e já forma sentenças bastante complexas. Piaget notou várias características do pensamento infantil nesta fase (cf. Célia Barros, Pontos de psicologia do desenvolvimento, 90-93): FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 9 Egocentrismo É definido como a incapacidade de se colocar no ponto de vista de outrem. Tomemos por exemplo, Lisa, uma criança de 4 anos de idade. Lisa vê o oceano pela primeira vez. Cheia de admiração pelo vaivém incessante das ondas, pergunta ao pai: “Quando elas pararão”, ao que o pai responde: “Não param”. “Nem quando estamos dormindo?”, pergunta a criança, incredulamente. Seu pensamento é tão egocêntrico, tão centralizado em si mesma como centro do universo, que não pode considerar que nada – nem sequer o poderoso oceano – tenha vida por si mesmo quando ela não está ali para vê-lo. Ao observar fatos semelhantes a este, Piaget tomou isto como uma prova de que os pré-escolares não podem imaginar a realidade desde o ponto de vista diferente. De modo geral, as crianças pequenas (4 ou 5 anos) são incapazes de aceitar o ponto de vista de outra pessoa, quando diferente do delas. É ainda interessante assinalar que, para Piaget, egocentrismo não é um termo pejorativo, é um modo característico de pensamento. Centralização Geralmente, a criança consegue perceber apenas um dos aspectos de um objeto ou acontecimento. Ela não relaciona entre si os diferentes aspectos ou dimensões de uma situação. Isto é, Piaget diz que a criança, antes dos 7 anos, focaliza apenas uma dimensão do estímulo, centralizando-se nela e sendo incapaz de levar em conta mais de uma dimensão ao mesmo tempo. Uma das tarefas usadas por Piaget consiste em dar à criança duas bolas de massa plástica feitas da mesma quantidade de massa. Depois, transforma-se à vista das crianças, uma das bolas em uma forma alongada, a “salsicha”, e pergunta-se à criança qual das duas, a “bola” ou a “salsicha”, contém mais massa. As crianças pequenas geralmente erram, dizendo que a “salsicha” contem mais massa (porque é mais comprida) ou que a “salsicha” contem menos massa (porque é mais fininha), demonstrando assim a incapacidade de levar em conta os dois fatores (comprimento e largura) ao mesmo tempo. Já uma criança um pouco mais velha resolve corretamente este problema e explica: “a mesma coisa, porque a salsicha é mais comprida, mas é mais estreita”. Vemos que ela já é capaz de descentralizar. Animismo A criança atribui vida aos objetos: uma criança de 2 anos e 7 meses, quando estava procurando sua pá, perguntou seriamente: “Vamos chamá-la?”; Outra de 3 anos e 7 meses, quando havia perdido um trem, perguntou: “O trem não sabia que íamos nele?”. Nesse estágio, as crianças supõem que os objetos são vivos e capazes de sentir; que as pedras (e mesmo as montanhas) crescem; que os animais entendem nossa fala e também podem falar; e assim por diante. Realismo Nominal É outro modo característico de a criança pequena pensar. Ela pensa que o nome faz parte do objeto, e que é uma propriedade do objeto que ele representa. Por exemplo, ela acredita que o nome da lua está na lua, que sempre se chamou “lua” e que é impossível chamá-la de qualquer outro nome. Assim, explica-se porque um garoto de 5 anos diz a respeito da lua: “As pessoas sabem que se chama lua porque a viram”. Para ele, o nome está dentro do objeto, sendo parte dele. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 10 Classificação As crianças não usam um critério definido de classificação. Por exemplo, se for colocado diante de crianças pequenas, entre 2 e 4 anos, um grupo de formas geométricas de plástico, de várias cores, e for pedido a elas que coloquem juntas as coisas que se parecem, elas não usarão um critério definido para fazer a tarefa. Parece que agrupam as coisas ao acaso, pois não têm uma concepção real de princípios abstratos que orientam a classificação. Após os 5 anos de idade, porém, elas conseguem agrupar os objetos com base no tamanho, na forma e na cor. Desenvolvimento Psicossocial De acordo com a teoria de Erikson, as crianças pré-escolares estão vivendo a idade da “iniciativa versus a culpa”, que corresponde à fase “fálica” da teoria freudiana. Esta é uma fase em que a criança parece dotada de uma energia interminável, que é extravasada principalmente através de atividades motoras (correr, pular, subir, descer etc.) e exploratórias. Começa a perceber o que é capaz de fazer e imaginar o que será capaz de fazer futuramente. A partir das observações dos adultos no desempenho de seus papéis sociais e da possibilidade de desempenhá-los ela própria em seus jogos simbólicos, a criança estará também aprendendo como funciona o mundo social e como ela funciona dentro dele. O tipo de atividade da criança que dá ao adulto a impressão de que ela está em todos os lugares – quer saber tudo e participar de tudo (além de receber e repetir as mensagens dos meios de comunicação de massa, notadamente a televisão) – foi designado por Erikson como “Intrusão”. Este termo deriva da teoria do desenvolvimento da sexualidade de Freud e está relacionado às fantasias de penetração associadas às vivências da fase fálica. Só que para Erikson, este mesmo tipo de atitude foi observado em várias outras atividades (exploração do espaço, do desconhecido e das outras pessoas). A contribuição desta fase para o desenvolvimento psicossocial será o sentimento de poder confiar em sua própria capacidade de iniciativa no desempenho de suas tarefas na idade adulta. O outro extremo da escala seria um sentimento de culpa (mais maduro do que a vergonha da fase anterior): a criança fantasia muito, imagina-se cometendo muitas falhas horríveis que podem levá-la a perder o amor dos pais, a nível de fantasia (cf. Rappaport, Fiori e Davis. Psicologia do desenvolvimento. 3:72-73). Porém, alguma culpa é necessária, pois sem ela não haveria nenhuma consciência, nenhum auto- controle. A interação ideal entre pais e filhos certamente não é a total indulgência. Mas culpa demais pode inibir a criatividade da criança e as livres interações com os outros. Esta etapa do desenvolvimento também é muito importante, pois aqui a criança vai desenvolver sua identidade como menino ou menina. É aqui a época em que irá se identificar com o progenitor de seu próprio sexo e copiar aspectos do comportamento adulto. Omenino mostrará sua crescente masculinidade procurando a atenção e a afeição da mãe, numa quase rivalidade com o pai. O mesmo acontece com a menina: ao descobrir a sua feminilidade, torna-se muito devotada ao pai. Em famílias que permitem às crianças expressarem seus sentimentos, sem muita censura, é comum ouvir comentários que refletem o aparecimento da identidade sexual em cada uma. Assim, por exemplo, um menino disse que se sentia muito feliz quando o pai saía para o trabalho; a menina disse que queria sair de carro com o papai e deixar a mamãe em casa cuidando das outras crianças. Os adultos muitas vezes acham difícil compreender a importância de tais declarações. Acham absurdo que uma menina de 4 ou 5 anos proclame que gostaria que sua mãe fosse embora. A censura dos adultos a esses comentários infantis poderá causar à criança fortes sentimentos de culpa relacionados à sua identidade. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 11 Punição, ridicularização e sarcasmo por parte do adulto para com a menina que expressa seu desejo natural de firmar-se como mulher farão com que ela se sinta diminuída e culpada por ter manifestado alguns dos seus sentimentos íntimos sobre o tipo de pessoa que espera vir a ser. Nesta época é importante fazer com que as crianças se sintam seguras de que se tornarão adultos completos, e não fazê-las se sentirem culpadas por expressar esses desejos. Segundo Erikson, essa é a idade que a criança tem necessidade de receber esclarecimento sexual, aos poucos, à medida que manifeste curiosidade e de acordo com sua capacidade de compreensão. Desenvolvimento Psicossexual O período de desenvolvimento psicossexual do ser humano (dos 3 aos 6 anos de idade) é chamado por Freud de estágio “fálico”. Nesse estágio, há um prazer derivado da estimulação genital e fantasias associadas. Nessa faixa etária, os genitais têm sua sensibilidade aumentada, introduzindo um novo estágio. Um sinal desta nova sensibilidade é que as crianças de ambos os sexos começam a manipular seus órgãos genitais naturalmente nessa época. Na opinião de Freud, o evento mais importante que ocorre durante o estágio fálico é o assim chamado “conflito edípico”: Nos meninos ocorre o Complexo de Édipo, enquanto que nas meninas ocorre algo semelhante, o Complexo de Eletra. A teoria sugere que primeiro o menino se torna intuitivamente consciente de sua mãe como um objeto sexual. Exatamente como isso acontece não está claramente explicado, mas o ponto importante é que o menino, por volta dos 4 anos de idade, começa a ter uma espécie de apego sexual à mãe e a considerar o pai como um rival sexual. Seu pai dorme com sua mãe, abraça-a, beija-a e de modo geral tem acesso ao corpo dela de uma maneira que o menino não tem. O menino também vê o pai como uma figura poderosa e ameaçadora, com o poder supremo – o poder de castrar (Complexo de Castração). Ele fica preso entre o desejo pela mãe e o medo do poder do pai. A maior parte desses sentimentos e o conflito resultante são inconscientes. O menino não apresenta comportamentos ou sentimentos sexuais claros em relação à mãe. Mas, inconsciente ou não, o resultado deste conflito é a ansiedade. Como o garotinho lida com esta ansiedade? Na opinião de Freud, o menino responde com um processo defensivo chamado “identificação”: ele “incorpora” a imagem que tem do pai, e tenta adequar seu comportamento a essa imagem. Ao tentar assemelhar-se o máximo possível ao pai, ele não apenas reduz a chance de um ataque do pai como também fica com parte do seu poder. Além disso, é o “pai interno”, com seus valores e julgamentos morais, que serve como a essência do superego da criança. Imagina-se que um processo semelhante ocorre na menina. Ela vê a mãe como uma rival pelas atenções sexuais do pai, e também fica com um pouco de medo da mãe (embora menos do que o menino, pois pode supor que já foi “castrada”). Neste caso, também considera-se que a identificação com a mãe é a solução para a ansiedade da menina. Desenvolvimento Moral Tanto para Piaget quanto para Kohlberg, a consciência moral não se encontra no sentimento (como Rousseau afirmava), mas na razão. Eles defendem a tese da gênese gradativa da consciência moral e da possibilidade de educá-la. Depois de Piaget, Kohlberg é o estudioso mais importante da moralidade, pois ele retoma e aperfeiçoa o modelo piagetiano, aperfeiçoa o aparato metodológico, elabora programas de educação moral para escolas e universidades e fundamenta filosoficamente sua teoria psicológica e moral. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 12 Kohlberg propõe seis estágios de desenvolvimento moral, a partir dos estudos longitudinais que conduziu nos Estados Unidos, na Turquia e Israel, tendo acompanhado os sujeitos da pesquisa durante 15 anos. Concluiu que o desenvolvimento moral completo pressupõe que o indivíduo tenha chegado ao último estágio do desenvolvimento cognitivo, isto é, o estágio do pensamento formal, com o domínio das estruturas lógico-matemáticas. Mas que essa condição necessária não é suficiente para que ele seja capaz de fazer julgamentos morais no nível pós-convencional. Os instrumentos utilizados em sua pesquisa foram os dilemas morais, para os quais os sujeitos sugerem uma solução, justificando racionalmente sua escolha; a entrevista clínica, (diálogos com argumentações e contra-argumentações); e vídeos que permitiam analisar a mímica e os gestos dos sujeitos participantes. Para o estabelecimento dos seis estágios, e para o diagnóstico do desenvolvimento moral uma vez postulados os estágios, Kohlberg considera três pontos. 1. O valor moral defendido (representado) pelo conteúdo intrínseco dos argumentos apresentados: punição, propriedade, papéis afetivos e autoridade assumida, lei, vida, liberdade, justiça (punitiva ou distributiva), verdade, sexo. 2. A justificativa dos julgamentos (estrutura e coerência da argumentação). 3. A orientação sócio-moral consciente do sujeito. Definidos os estágios e tendo criado uma metodologia capaz de diagnosticar em qual deles as pessoas se encontram, Kohlberg propõe modos de interferência na passagem de um estágio para outro, ou seja, de se possibilitar que as pessoas desenvolvam sua capacidade de fazer julgamentos morais. Este é, pois, o momento educativo: o professor é o agente promotor da análise, discussão, avaliação e julgamento das situações reais vividas pelos alunos dentro e fora da escola. Relembramos que o desenvolvimento da moralidade é necessário para que a vida em grupo, a vida social, seja possível; que a conquista da autonomia moral é desejável para que todo ser humano possa avaliar as regras de seu grupo e decidir se elas estão de acordo com os princípios de justiça que promovem a dignidade inviolável da humanidade; a liberdade; a solidariedade e a igualdade (cf. Maria Helena Pires, Revista Educação, nº 39). As crianças pré-escolares estão localizadas no nível 1 da escala de Kolhberg. Assim, no plano moral e do comportamento, a criança pré-escolar é obediente, serviçal e boa, não porque tenha uma clara consciência do bem e do mal, o que ainda não é possível, mas por desejar agradar aos pais e, assim, evitar a punição. Se alguém lhe diz que é uma criança má, sente-se muito triste. Mente pouco e tem o senso de propriedade muito desenvolvido. A Importância da Relação com os Pais “A criança aprende pelo que o adulto é e não pelo que ele fala.” Dizia Sêneca que Sócrates “formou grandes homens, mais pelos seus costumes do que por suas lições”, e o comediógrafo Menandro acentuava que “os costumes de quem fala nos persuadem mais do que seus argumentos”. A experiência ensina que os filhos têm mais dificuldades em dar importância às ordens dos pais ao que lhesdizem do que ao que os vêem fazer. Não há dúvida de que mais do que as exortações e conselhos (que são necessários) são as ações e atitudes que transmitem os modelos de comportamento. Drescher falou uma grande verdade ao escrever que o filho é o eco dos pais. Se desde a mais tenra idade, a criança vive num ambiente familiar em que a norma é o respeito mútuo, o tratamento justo, as FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 13 maneiras corretas, a eficácia, a ordem, a limpeza, o fato de cada um ser responsável pelas suas coisas, pelos seus atos, pelo governo de si mesmo sempre que possível, o fato de ser generoso e considerar as melhores qualidades do outro e felicitá-lo por isso etc., não resta a menor dúvida de que imitará essas condutas e atitudes, transformando-as em padrões de comportamento. Hoje ninguém põe em dúvida que a imitação é, na criança, um poderoso recurso de aprendizado social. Os pais e, em geral, as pessoas significativas como professores, educadores, amigos, familiares, constituem o ideal de suas inspirações e os modelos a imitar. Como pode a criança assimilar boas maneiras, o respeito e a consideração, vendo que seus pais se insultam, se menosprezam e não se dão o menor respeito? Como irá assimilar e aprender condutas honradas, por mais que seu pai as pregue, se depois vê como este se vangloria dos negócios escusos que faz, enganando aos outros? Como se pode exigir limpeza, ordem, pontualidade, se a própria mesa de trabalho é um caos e se o fato de chegar atrasado em compromissos é sempre normal (da parte do pai ou da mãe)? As incoerências educativas podem ser multiplicadas infinitamente (cf. Tierno, Educar os filhos hoje, p. 23-25). Além disso, o modo como os pais tratam os filhos tem efeitos sobre a personalidade destes. Muitos psicólogos consideram como fatores importantes a superproteção e a rejeição pelos pais. A superproteção é comum nos casos de filho único, único de um sexo, criança com alguma deficiência física, ou muito bem dotada física ou intelectualmente, ou nascida após muitos anos de casamento sem filhos. A rejeição da criança pelos pais é comum nos casos de filho ilegítimo, enteado, criança muito feia, criança deficiente mental, criança adotada, criança nascida quando o casal já tem prole muito numerosa, ou quando o casal é muito pobre. A superproteção manifesta-se pela aceitação da criança acompanhada de intensas demonstrações de amor e cuidado exagerado para com ela. Alguns estudiosos distinguem dois tipos de superproteção: a indulgente e a dominante. A superproteção indulgente seria a aprovação de todos os atos da criança. Tudo o que ela faz, mesmo as ações reprovadas pelo professor ou por outros adultos, é desculpado e mesmo admirado pelos pais, que aceitam e acham graça em tudo. A criança percebe, assim, que pode fazer o que quiser, pois está protegida. A superproteção dominante consiste em dar assistência constante à criança, em todos os seus atos, ajudando-a em tudo, não deixando que faça nada sozinha: comer, calçar os sapatos, pôr e tirar o agasalho e até mesmo brincar. Mesmo quando é maior, não lhe é permitido tomar qualquer iniciativa: os pais tomam todas as decisões, escolhem suas atividades, seus companheiros, suas roupas. Os pais querem que o comportamento de seu filho seja perfeito e, com isso, exercem controle excessivo sobre ele. Quando a criança sofre superproteção indulgente, poderá tornar-se teimosa, irreverente e hostil, mas ao mesmo tempo independente e dotada de muita iniciativa. Quando é tratada com superproteção dominante, é possível que seja polida, leal, dependente e dócil, porém será acanhada e sem iniciativa. A rejeição pode manifestar-se em diferentes intensidades – falta de atenção para com a criança, negligência no trato, violência física ou mental. August Eichhorn demonstrou que tanto a rejeição quanto a superproteção da criança pelos pais causam problemas. A delinqüência (infração às leis, prática de crimes ou delitos) resulta principalmente de os pais rejeitarem a criança e não do amor excessivo, que apenas encoraja a infantilidade e a imaturidade. Ross Stagner, especialista em personalidade infantil, relata que a punição excessiva quase sempre leva à revolta e possivelmente à delinqüência, podendo também conduzir à submissão e ao retraimento acentuado por devaneio e outros meio de fuga. Pode ser, ainda que a submissão seja apenas aparente, ocultando ardente antagonismo interno. Todas essas conseqüências são prejudiciais ao desenvolvimento da personalidade. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 14 Dois estudos completados nos últimos anos nos Estados Unidos focalizaram os tipos de relações entre pais e filhos que estão ligados à competência, autoconfiança e independência das crianças pequenas. Comentando esses estudos, Paul H. Mussen diz: Embora esses dois estudos sobre relações pais-filhos tenham sido realizados em locais diferentes e em diferentes épocas, com técnicas diferentes de pesquisa, há alguns temas importantes que aparecem nos resultados. Afetividade, apoio e cuidados dos pais são antecedentes decisivos para a maturidade, a independência, a competência, a auto-confiança e a responsabilidade das crianças. No entanto, o amor e o apoio não são suficientes para assegurar o desenvolvimento de tais características. Impõem-se outros requisitos, tais como: comunicação adequada entre pais e filhos; uso de razão e não de castigo para conseguir obediência; respeito dos pais pela autonomia da criança; estímulo à independência, individualidade e responsabilidade; controle relativamente firme e elevadas exigências para comportamento maduro. Em resumo, interações severas – mas não a disciplina cega e autoritária – facilitam o desenvolvimento de comportamento pessoal e social maduro. Desenvolvimento Espiritual O Primeiro Manual da Criança “A Bíblia deve ser o primeiro manual da criança. Deste livro devem os pais ministrar uma sábia instrução. A Palavra de Deus deve constituir-se a regra da vida. Por ela, aprendam as crianças que Deus é o Pai; e das belas lições de Sua Palavra devem elas adquirir conhecimento de Seu caráter. Incutindo-se-lhes os seus princípios, devem elas aprender a fazer justiça e juízo” (White, Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes (CPPE), p. 108-109). A Influência da Criança Devidamente Ensinada “A constituição física de Jesus, bem como Seu desenvolvimento espiritual, são-nos apresentados nestas palavras: "E o Menino crescia e Se fortalecia em espírito” (Luc. 2:40). Na infância e na juventude deve-se dar atenção ao desenvolvimento físico. Os pais devem educar os filhos nos bons hábitos de comer, beber, vestir e fazer exercício, para que seja posto um bom fundamento para uma boa saúde na vida posterior. O organismo físico deve receber especial cuidado a fim de que as energias do corpo não sejam atrofiadas, mas desenvolvidas ao máximo. Isso coloca as crianças e os jovens numa posição favorável, de modo que com o devido preparo religioso possam, como Cristo, tornar-se fortes no espírito” (White, Youth's Instructor, 27 de julho de 1893). “Na infância Jesus fez os trabalhos de uma criança obediente. Falava e agia com a sabedoria de criança e não de homem, honrando a Seus pais e realizando seus desejos de modo a auxiliá-los, conforme a habilidade de uma criança. No entanto, em cada estágio de seu desenvolvimento Ele era perfeito, com a graça simples, natural, de uma vida sem pecado. O relato sagrado a respeito de Sua infância diz: "E o Menino crescia e Se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele." Luc. 2:40. E quanto à Sua juventude acha-se registrado: "E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Luc.2:52)” (White, CPPE, p. 140-141). FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 15 A Importância do Estudo da Lição da Escola Sabatina “A Escola Sabatina proporciona a pais e filhos uma oportunidade para o estudo da Palavra de Deus. Mas, a fim de que adquiram o benefício que deveriam alcançar na Escola Sabatina, cumpre tanto a pais como a filhos dedicar tempo ao estudo da lição, procurando obter completo conhecimento dos fatos apresentados, e também das verdades espirituais que esses fatos se destinam a ensinar. Devemos especialmente impressionar o espírito dos jovens com a importância de procurar o amplo significado da passagem em consideração. Pais, separai um pequeno período, cada dia, para o estudo da lição da Escola Sabatina com vossos filhos. Deixai a visita de sociabilidade, se necessário for, de preferência a sacrificar a hora dedicada às lições de História Sagrada. Tanto pais como filhos receberão benefício desse estudo. Confiem-se à memória as passagens mais importantes da Escritura ligadas à lição, e isto não como uma tarefa, mas como um privilégio. Embora a princípio a memória seja deficiente, ganhará força pelo exercício, de modo que depois de algum tempo vos deleitareis em assim armazenar as palavras da verdade. E tal hábito se demonstrará um valiosíssimo auxílio no crescimento espiritual. (White, CPPE, p. 137-138). O Melhor Método para o Ensino das Crianças “As crianças não devem estar encerradas muito tempo em casa, nem se deve exigir que se dêem a um estudo aplicado antes que se haja estabelecido um bom fundamento para o desenvolvimento físico. Para os primeiros oito ou dez anos da vida de uma criança, o campo ou o jardim é a melhor sala de aula, a mãe é o melhor professor, a Natureza o melhor livro. Mesmo quando a criança tem idade suficiente para freqüentar a escola, a sua saúde deve ser considerada de maior importância do que o conhecimento dos livros. Deve ser rodeada das condições mais favoráveis, tanto para o crescimento físico como para o mental” (White, Educação, p. 208). O Programa da Criança Durante a Infância “Durante os primeiros seis ou sete anos de vida da criança, deve-se dar atenção especial a seu preparo físico, em vez de ao intelecto. Depois desse período, se é boa a constituição física, deve a educação de ambos receber atenção. A infância se estende até a idade de seis ou sete anos. Até esse período a criança deve ser deixada como cordeirinho a andar ao redor da casa e nos jardins, na vivacidade de seu espírito, pulando e saltando, livre de cuidados e dificuldades. Os pais, e especialmente as mães, devem ser os únicos mestres dessas mentes infantis. Não devem ser instruídas em livros. As crianças geralmente são curiosas, ao aprender as coisas da Natureza. Farão perguntas relativas às coisas que vêem e ouvem, e os pais devem aproveitar a oportunidade de instruí-las e responder pacientemente a essas pequenas indagações. Dessa maneira, eles poderão tirar vantagem sobre o inimigo e fortalecer o espírito das crianças semeando-lhes boa semente no coração, não dando oportunidade para o mal criar raízes. O que as crianças necessitam, na formação do caráter, é a amável instrução da mãe na tenra idade” (White, Orientação da Criança, p. 301 ). FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 16 MENINICE Por Marcelo Tomaz A fase humana conhecida como “meninice” corresponde às idades de 7 a 12 anos. Desenvolvimento Cognitivo Segundo Piaget, a criança traz estruturas já construídas, programadas para sua interação ambiental. Trata-se das estruturas físicas como o cérebro humano, o sistema nervoso e os órgãos sensoriais específicos. Utilizando estas estruturas na interação com o ambiente, a criança inicia imediatamente a desenvolver as estruturas cognitivas. Para Piaget, a fase da meninice corresponde ao 3º estágio, o estágio das “operações concretas”. Os pesquisadores que trabalham a partir das descrições de Piaget sobre o período operacional concreto, descobriram, de maneira geral, que Piaget estava certo sobre as idades em que as crianças começam a manifestar várias habilidades ou entendimentos. Nesse período, as operações mentais da criança ocorrem em resposta a objetos e situações reais. A criança usa lógica e raciocínio de modo elementar, mas somente os aplica na manipulação de objetos concretos. Neste estágio, a criança começa a compreender termos de relação: maior, menor, direita, esquerda, mais alto, mais largo, etc. Compreende que um irmão precisa ser irmão de alguém; um objeto precisa estar à direita ou à esquerda de alguma outra coisa, etc. Neste estágio, porém, a criança não pensa ainda em termos abstratos, nem raciocina a respeito de proposições verbais, ou hipotéticas. Assim experimenta dificuldade com os problemas verbais. Piaget diz que, antes da idade de 11 ou 12 anos, as operações da inteligência infantil são unicamente concretas, isto é, só se referem a objetos tangíveis, suscetíveis de serem manipulados. Se se pede às crianças para raciocinarem sobre hipóteses simples, sobre enunciados puramente verbais dos problemas, logo fracassam. Por exemplo: crianças de 8 a 10 anos sentem dificuldade de responder uma pergunta feita por escrito, como esta: “Edite é mais alta que Suzana; Edite é mais baixa que Lili. Quem é a mais alta das três?” É por esse motivo que sentem dificuldade de resolver, na escola, problemas de aritmética, embora eles dependam de operações bem conhecidas. Se manipulassem os objetos, raciocinariam sem obstáculos; mas os mesmos raciocínios, sob forma de enunciados verbais, isto é, no plano da linguagem, tornam-se muito mais difíceis, já que ligados a simples hipótese sem realidade efetiva. Desenvolvimento Psicossexual Na fase de latência, que cobre o período correspondente ao da meninice, é onde a criança estará voltada para a aquisição de habilidades, valores e papéis culturalmente aceitos. É o inicio das atividades escolares. Essa é uma fase calma, ela é chamada de latência porque os impulsos são impedidos de se manifestar. Nesta fase aparecem na criança barreiras mentais, impedindo as manifestações da libido, barreiras essas que Freud identificou como repugnância, vergonha e moralidade. O impulso sexual dirige-se para finalidades culturais: domínio da leitura, da escrita e de muitas outras habilidades. Essa é uma época de nítida separação entre meninos e meninas e de rivalidade entre os dois grupos . A latência proporciona à criança a dispersão da energia libidinal para uma dimensão mais social, moral e cognitiva do comportamento, o que faz com que a ligação afetiva com os pais vá se deslocando fora da família, concentrando-se em substitutos dos progenitores, como, por exemplo, professores e amigos do mesmo sexo . FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 17 De acordo com a teoria freudiana, não é por acidente que o sexto aniversário natalício de uma criança marca a idade para seu ingresso na escola. Por esta época a maioria das crianças desenvolveu um “superego” em funcionamento que permite a internalização da moral e da ética da sociedade. O superego faz com que elas se sintam culpadas por coisas malfeitas. Elas resolveram seus complexos edípicos (citados anteriormente), ajustaram-se confortavelmente em seus papéis do sexo e agora podem voltar suas energias para a aquisição de fatos, habilidades e atitudes culturais. Regressão Nas ocasiões de muita aflição, freqüentemente as crianças regridem, mostrando comportamento de uma idade anterior, tentando recapturar a segurança lembrada. Por exemplo: uma criança que acaba de entrar na escola, ou cujos pais se separaram, pode voltar a chupar o dedo ou molhar a cama. Em geral, depois de passara crise, o comportamento regressivo desaparece. Repressão Nas situações produtoras de ansiedade, as crianças podem reprimir, ou bloquear sentimentos que anteriormente expressavam livremente. Agora, estas emoções são cruas e desconfortáveis, de tal modo que elas não podem deixá-las subir à consciência. Projeção Um modo de “afastar” pensamentos e motivos inaceitáveis é atribuí-los a outrem; a isto se dá o nome de “projeção”. Assim, uma criança fala de como seu irmão é desonesto, ou como a irmã é mesquinha, ou como o bebê recém-nascido é ciumento, sendo que estas podem ser características dela própria. Formação Reativa As crianças podem dizer o oposto do que realmente sentem. Exemplo: “Ronaldo diz que não gosta de brincar com Antônio porque não gosta dele, quando na verdade Ronaldo gosta muito de Antônio e teme que este não queira brincar consigo”. A tendência das crianças em idade escolar de brincarem exclusivamente com outras do mesmo sexo pode ser considerada como uma formação reativa . Desenvolvimento Psicossocial A meninice se localiza na 4ª fase de Erikson (Domínio X Inferioridade), a qual corresponde ao inicio das atividades escolares, como vimos antes. Nesse período as crianças aprendem as habilidades de suas culturas a fim de se prepararem para o trabalho adulto. Esta é a idade em que a produtividade se torna importante. As crianças já não se contentam em brincar; precisam tornar-se trabalhadoras. Seus esforços iniciais para lidar com as ferramentas de sua sociedade ajudam-nos a crescer e a formar um auto-conceito positivo. Estes são anos cruciais para o desenvolvimento de auto-estima. As crianças que se sentem inadequadas em comparação a seus companheiros podem retornar à rivalidade familiar mais isolada e menos consciente de ferramentas da época edípica. Algumas crianças neste estágio dão ao trabalho um lugar muito importante e por isso negligenciam seus relacionamentos com outras pessoas. Entretanto, quando ela descobre imediatamente que a cor de sua pele ou os antecedentes da família, mais do que o seu desejo e vontade de aprender, são os fatores que FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 18 decidem o seu valor como aluno ou aprendiz, a propensão humana para sentir-se imprestável pode ser fatalmente agravada como determinante do desenvolvimento do caráter. Ao aprender habilidades, ao agir no mundo que a cerca, a criança desenvolve um sentimento de domínio. Porém, se não for encorajada a participar das atividades de seu grupo social, se não for bem sucedida em suas tentativas de participação, esse sentimento de domínio, de industriosidade, de saber fazer coisas, será substituído por um sentimento de inferioridade. Vejamos as características da criança em cada idade no período da meninice (lembre que, caso tenha ocorrido algum problema no desenvolvimento das fases anteriores, as características podem ser modificadas): Os Sete Anos (A AUTOCRÍTICA) Ela é extremamente ágil e viva, interessa-se por tudo, quer saber de tudo, manifesta grande facilidade de expressão, usa as palavras corretamente, gosta de ler e lê muito. Agora, mais realista, ela já sabe que nem todas as coisas têm vida e características humanas, o que resulta numa diminuição da fantasia, dando margem a raciocínios mais profundos e concretos. O “faz de conta” já não a fascina como antes, e seus jogos são, agora, predominantemente de competição. A dramatização é usada com ênfase, mas dirigida com o objetivo de exercitar o uso das palavras. Aos sete anos a criança é autocrítica ao extremo, desenvolve idéias definidas sobre o Bem e o Mal e suas experiências sociais são mais intensas, embora revelem conflito. Disposta a assimilar o outro, necessitada dessa assimilação, ainda assim, a criança de sete anos é mais um recipiente do que um doador. Isto justifica a sua pronunciada hesitação diante dos outros e sua extrema carência de apoio e afeto. Os Oito Anos (A IMPORTÂNCIA DOS OUTROS) Os oito anos são vividos com paixão. Extremamente ágil, motivada e ávida de experiências, a criança já não é tão cautelosa quanto o foi no ano anterior. Já se adaptou à vida escolar e a professora não é mais uma temível desconhecida, e os colegas passam a ter um significado afetivo maior. Ela não é a mesma criança egocêntrica e hesitante de antes. Está altamente socializada e os outros a interessam definitivamente mais do que o próprio Eu. Sua curiosidade intelectual é insaciável, mas ainda maior é o seu desejo de saber fazer as coisas, “como fazer” e “fazer com os outros” assume um colorido nitidamente emocional. A criança reconhece os seus talentos e habilidades e precisa desenvolvê-los e aperfeiçoá-los. Reconhece também o valor social do trabalho e da equipe e este reconhecimento a induz compulsivamente para o outro. Ao adaptar-se ao processo escolar de aprendizagem e ao obter reconhecimento por coisas que realiza, a criança passa, também, a gostar de fazer coisas e, por extensão, a gostar do trabalho. Assim, é indispensável que todas as realizações da criança sejam reconhecidas pelos adultos, pois é provável que ela desenvolva um penoso sentimento de inadequação, caso seus esforços e empreendimentos não sejam adequadamente reconhecidos. É importante deixar a criança criar coisas originais, que tenham sido idéia delas, sem nenhuma interferência no processo criador ou qualquer avaliação externa. A criança tem seu próprio método de avaliação. Ela é altamente autocrítica e jamais está satisfeita consigo mesma. Este fato leva-a a aperfeiçoar-se sempre e a ausência de critérios externos de avaliação conserva intacta a sua liberdade de criação e sua segurança no ato de criar. Nesta idade, as crianças se apercebem da falibilidade dos adultos e inclusive divertem-se colocando os pais à prova. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 19 Os Nove e Dez Anos (O DESEJO DE INDEPENDÊNCIA) Aos nove e dez anos, o comportamento infantil é altamente diferenciado. A criança é automotivada, tem interesses próprios, espírito de iniciativa desenvolvido e soluções genuínas para problemas espontaneamente abordados. Ela aspira à independência, resistindo às influências externas energicamente e procura satisfazer sozinha suas aspirações naturais. Como conseqüência, ela é mais introvertida, menos comunicante e ainda mais autocrítica. No lar, a criança é mais perceptível e sensível às atividades dos pais. Rebela-se contra a autoridade e a proteção excessiva e manifesta claro desprezo pelas atitudes condescendentes. Reluta em aceitar sua situação de dependência e volta-se para os amigos que, agora, assumem uma dimensão afetiva maior. Freqüentemente, as crianças de nove e dez anos preferem os amigos aos pais. Esta necessidade de autonomia reforça ainda mais a inaceitação da autoridade, conflitando a criança. Desenvolvimento Moral Inspirado por Piaget, Lawrence Kohlberg lançou-se em seu próprio grande estudo do desenvolvimento moral nas crianças. Durante doze anos estudou um grupo de setenta e cinco meninos que tinham entre 10 e 16 anos, quando o estudo teve início. Ele também explorou o desenvolvimento moral em outras culturas – Grã-Bretanha, Canadá, Formosa, México e Turquia. Sua pesquisa confirmou as constatações de Piaget de que o nível de raciocínio moral de uma criança depende de sua idade e maturidade. Kohlberg refinou ainda mais esta teoria ao definir diferentes tipos de raciocínio moral, que classificou em três níveis (para nosso estudo da meninice, veremos apenas os 2 primeiros): Nível 1: Pré-moral (4 a 10 anos) Neste nível, a ênfase está no controle externo. Os padrões são os dos outros e são observados para evitar punições ou colher recompensas. • Orientação de punição e obediência:“O que irá me acontecer?” - As crianças obedecem às regras dos outros para evitar punição. • Propósito instrumental e intercâmbio: “Você coça as minhas costas e eu coço as suas” - Conformam- se às regras por auto-interesse e consideração do que os outros podem dar em troca. Nível 2: Moralidade de Conformidade ao Papel Convencional (10 a 13 anos) Agora as crianças querem agradar as outras pessoas. Ainda observam os padrões que essas pessoas têm, mas os internalizaram até certo ponto. Agora querem ser consideradas “boas” por aqueles cujas opiniões têm valor. Agora são capazes de assumir os papéis das figuras de autoridade suficientemente bem para decidir se alguma ação é “boa” de acordo com seus padrões. • Manutenção de relações mútuas, da aprovação dos outros - o que não deseja que lhe façam. “Eu sou uma boa menina, não sou?”. As crianças desejam agradar e ajudar os outros, podem julgar as intenções que outros têm e desenvolvem suas próprias idéias do que constitui uma boa pessoa. • Sistema social e consciência. “E se todos cumprissem?”. As pessoas estão preocupadas em cumprir o dever, mostrando respeito pela autoridade mais alta e manutenção da ordem social. FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 20 Desenvolvimento Espiritual A criança vem ao mundo e torna-se parte do ambiente cultural de determinado grupo humano. A religião é ordinariamente parte dessa cultura a que a criança pertence. Em condições normais, pois, a criança assimila os valores religiosos de sua cultura, do mesmo modo que assimila os valores éticos e sociais em geral. A religião da criança, portanto, é parte da herança social e cultural que ela eventualmente assimilará. Como o comportamento religioso é aprendido, ele poderá ser melhor aproveitado se for introduzido já nos primeiros anos de vida da criança. Ellen G. White afirma que: “Nunca se pode aceitar demasiado a importância da educação ministrada à criança em seus primeiros anos de existência. As lições aprendidas, os hábitos formados durante os anos da infância, têm mais que ver com o caráter e a direção da vida do que todas as instruções e educação dos anos posteriores”. O problema da origem da religião da criança é extremamente complexo. De modo muito simples, porém, podemos dizer, como Pratt, que a religião da criança se origina da influência de pessoas maiores, principalmente da influência dos pais, do ensino formal do comportamento religioso e do desenvolvimento natural da mente da criança. Podemos dizer, com muita margem de segurança, que o conceito que a criança tem de Deus é grandemente a imagem mental de seu pai. A criança precisa de um modelo para o seu próprio pensamento sobre Deus. Não é sem razão, pois, que a Bíblia apresenta Deus sob a figura de um Pai. É de esperar-se, portanto que as relações da criança com seus pais tenham uma grande influência no seu conceito de Deus e, conseqüentemente, na qualidade de sua vida religiosa, que depende grandemente do tipo de experiência emocional que o símbolo paterno evoca. A criança tende atribuir a Deus as mesmas características emocionais que observa nos pais ou nas pessoas com quem se relaciona significantemente. A religião da criança é ritualista. Por essa característica se quer dizer que a maior parte da religião da criança consiste da simples repetição de frases e gestos. Será que se pode chamar a isso de religião? Será que há valor nessas repetições cuja significação a criança ainda não conhece? Tais atos, apesar de aparentemente sem significação, a princípio podem tornar-se grandemente significativos. E mais, se eles não foram aprendidos na infância, raramente alcançarão a plena significação religiosa que têm para o adulto emocionalmente amadurecido. Tomemos por exemplo, o caso da oração. É claro que a principio a oração para a criança é um ato mais ou menos destituído de significado. Mas, se o homem não aprende a orar na infância, dificilmente a oração terá para ele a profunda significação que deve ter. Convém salientar, entretanto, que pode acontecer que a prática da oração na vida de um homem nunca ultrapasse a fase infantil (orar sem significação prática). No entanto, um homem que aprendeu a orar na infância pode ter uma experiência religiosa de primeira-mão e, neste caso, a oração pode ter para ele profundo significado. A regra geral, porém, é que a aprendizagem na fase própria do desenvolvimento da personalidade é mais eficaz e tem conseqüências mais duradouras. Nesse ritualismo da religião infantil, que se expressa tanto em gestos como em palavras, a criança age por imitação e por sugestão. É comum ver-se, em lares onde a religião desempenha papel preponderante, as crianças brincando de igreja. Por esse processo de imitação, a criança vai interiorizando os valores religiosos de sua cultura que, no processo, se tornam seus valores pessoais. Finalmente, há, na religião da criança, um elemento de admiração e curiosidade que a leva a uma compreensão mais profunda da vida e do universo. Esse espírito de curiosidade e de exploração é típico da fase etária entre os 7 e os 12 anos. É nessa fase que a criança faz perguntas difíceis de responder. Em muitos casos, as perguntas em si já são por demais difíceis e o problema é agravado pelo fato de o mundo adulto rodeá-las de certo ar de mistério. Pais e educadores devem ser extremamente cuidadosos para não deixar sem FORMAÇÃO TEOLÓGICA BÁSICA ::: Curso Livre MÓDULO IV 014-PSIC. DESENVOLVIMENTO HUMANO 21 resposta a inquirição da criança e, sobretudo, não mostrar irritação, que seria um atestado de sua própria incapacidade de respondê-la. Tais atitudes podem matar o espírito criativo da criança e levá-la a uma posição de indiferentismo e de apatia para com o problema religioso da vida. Portanto, a criança deve ser estimulada e saciada nas questões religiosas, e primeiramente essa responsabilidade cai sobre os pais, pois “os pais devem tornar a religião de Cristo atrativa pela alegria, pela cortesia cristã e por simpatia terna e constante e compassiva; mas devem ser firmes no exigir respeito e obediência. Princípios retos devem ser estabelecidos no espírito da criança” (White, O lar adventista, p. 323). PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA Por José Gonçalves “Puberdade”, vem do latim pubertate, que significa estado ou qualidade de púbere - idade em que o indivíduo se torna apto à procriação. “Adolescência” vem do latim adolescentia, sendo o período da vida humana entre a puberdade e a virilidade; É a fase da “mocidade”, da “juventude”. Características Físicas Pode-se dizer que a puberdade é o período do amadurecimento sexual, aquele que transforma uma criança num adulto biologicamente maduro – um ser capaz da reprodução sexual. É uma fase que tem duração de cerca de três ou quatro anos. Inicia-se com um período de crescimento físico acelerado (o chamado “surto de crescimento da adolescência”), seguido do desenvolvimento gradual dos órgãos reprodutivos e das características sexuais secundárias (nas meninas, o desenvolver das mamas; nos meninos, o crescimento da barba; e comum a ambos os sexos, o aparecimento de pêlos púbicos). Outras mudanças biológicas que sinalizam o fim da infância são: menstruação nas meninas e capacidade de ejacular sêmen nos meninos. Todos este sinais representam um rápido desenvolvimento fisiológico. No entanto não acontece da noite para o dia, eles chegam através do processo de maturação desde a pubescência até a puberdade. Para Rousseau, a puberdade é o segundo nascimento. Para ele, é nesta fase da vida que o homem nasce verdadeiramente. Já para outros especialistas, a adolescência é “uma fase da vida, situada entre a infância e a idade adulta, na qual se verificam comportamentos típicos” desta. No entanto, esta caracterização não é tarefa fácil
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