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T Al"'IÁS SZMRECSÁNYI & JOSÉ ROBERTO DO AMARAL LAPA ( organizadores) HISTÓRIA ECONÔMICA DA INDEPENDÊNCIA E DO IMPERIO Segunda Edição Revista H 58n Históric, Econômica d" IndcpcndêJ1cia e do Império/ Tamás Szm.recsányi & José Rol>crlo do Am,1.rCll Lapa (organizadores). -2. ed. revista. -São Paulo: Hucitec/ Associação Br=ikira de Pesquisadores em História Econômica/Editora da Unive,·sidc,de de São Paulo/Imprensa Oficial, 2002. lncl ui rcfc1 éncias bibliogT�1íicA:-. J�,BN Obr:i completa SS-271-0354-0 (Hucilec) Volume U 8'.õ-271-0356-7 (Hucilec) Volume JJ li'.i-.'.<J.1-0090-0 (Edusp) Colelânea de textos apresentada no I Congresso Br;c;ilei.ro de Histôrüt Econôrnica (Campus cln USP, setembro de 1993) J. Br;,sil - BisLOria - i,d<'pendência 2. Brasil - História - Império 3. Historia económica 1. Szmrccstinyi, Ta.más (org.) II. Lapa, José Roberto do Amarai (org.) ��� .. : ' .. 11:.SCllli!'v..DOk[S lM I ll.Sl QJ,;,LA [CONÓMlCA lcausp - CDD- 981.05 981.043 330.981 l>-tPHI f'::i/\ .· SI' A ECONOMIA MERCANT IL ESCRAVISTA NACIONAL E o PROCESSO DE CONST RUÇÃO D ESTADO NO BRASIL ( 1808-1850) O propósito desse trabalho é o de desenvolver algumas reflexões em torno do processo de construção do Estado no Brasil, ao longo do período crítico gue se desenrolou enh·e 1808 e 1850, no sentido de contribuir para o debate sobre a construção do Estado na América Latina, enfatizando a especificidade histórica dessa experiência. Embora não caiba no escopo desse trabalho uma digressão teóri ca, torna-se necessário indicar, ainda que de fonna suscinta, o campo de onde emergem nossas indagações: procurm11os nos mover no in terior das _!f_adições weberiana e_ marx::!:�-�a enguanto contribuições para a compreensão da formação, da natureza e da clinâmica do Estado Moderno, e enquanto suscitadoras de problemns para o entendi.J-:.1ení o da especificidade do processo latino-americano e do brasileiro em particular. Mais especificamente, procuramos erúatizar, na constru·· ção do Estado, duac: diI:riensões princirais. Em primeiro lugm� a ccm solidação da territôrialidade - ou seja , do poder sobre um <leterrn í nado território não só vis-iz-vis. Estados rivais, mas também foce -� forças Jocais ou regionais de caráter centrífugo ou secessionist· .. ,. Em segundo luga1� o Estado visto como monopólio da coerção 1egíturn:i é. aponta para o caráter extrativo do processo de construção do Estn do, particularmente nas dimensões jw·ídica, fiscal e militar-ou seja, a transferência para c1 esfera pública, de poderes anteriormente disper sos no corpo social e mantidos sob controle dos agentes privadosi . ' Cf. Weber, Max. Eco11omia y Socicdad. México: Fondo de CuHura Económica. 1964, p. 1.047-117. Bendix, R. Max Weber, an lntl'lcc/1111/ Portrait. Novil York: Doubleday. 1962, p. 418, sintetiza: "Ot·dem !C'g.,I, O orocesso de conscru1-ão do Estado no Brasil ( 1808-1850) 147 Por ou tro lauo, cunccbcmos o L; l,H I () corno um .i na relho de do--- r mi naç5o de classe e como D .. ��ssáj:"fi,tiLJ-eprndu.Ç.illL,.d_\'.!_s_r_ç_lc10�s. d\; <:!:?1�.::���-��-�11;:i vc_z q ue er;:iSfE�!..-Ú!P.O la_�---�·5-;ª.J?PS:�ll1i-i�ie C?I. �:.. �.:.LJ.·<2.L.sJg�-ª-g�nte!'i P. 1.:1v c 1dos2-_�s fãrefas m d1spensave1s ao exerc1c10 dessa dim.ensão fundci mentiil envolvem. 11ão apenas r1 repressão e o disciplinamento das canwdas subalternas, cmno a arbitragenl dos con fl i tos no interior cbs camadas dmninantes e o e�ciclo .. Jê uma �� · "razão s uperi .. O .. L que escapa aos agentes privados e ao� int d eresses -./, - pãrticularistas 3 . A cmnplementaridat.lc entre essas vánas i men- 1 \� \r' .,.r • ., • -0 sões expressa-se nn med ida em que as relações socia is históricas ( � I \ I J ,, ,- ' .� ci ue configurain umn detenninada orden1 social e um sisten1a de r/ '· ;. •, ·1 , ,.,,<, .. r ) dominação produzem i mp1::��os e lirni_t:_es para a dinàmíG1 extrntiv� ' ./ do_Estado e que se referem 1 ) ao quantum de poder que os agentes C:� - .� ..r pri vados es�ã� _ _ d i�p.9�_l:_C:� <õ1. c_fder __ i'.!..�_sf.�r.� .. E�1)2.)jca no senti do de po- rl' )y.l' r lenciar a eficácia do s is tema de dominação e 2) à_ c'-'.E.0_c_!.9-.���- -c_l� l},-- ' Li;; �!itêpqª_do.s.agente.s...12rivados à d inâmica extrativa e os conflitos \]'à:.;.J-"' em torno da incidência e d istribuição de encargos, particula rmente C.....,/-�·:J') os fiscais . Um e outro aspectos relacionam-se, principalmente, ao o'.,.. grau de conflito proveniente das camadas subalternas, mas tam bé1n no interior das camadas dominan tcs, no sentido em que poss�1 pôr em risco o sistema de dominaç5o. É nesse sentido que o monopól io da coerção legfüma pode ser v isto como um processo complexo de interação entre o Estado e ,1 , , , ordem social, na qua l o primeiro é, � __ rp.esmo tempo, qn,·a·en1êl!"!_i:1- / :_ção da sociedade e um agente capaz de gerar tran.sforrna_çõcs p1:_o- j �.indas -nas i:élações so - .i oeconômicns. A partir dessas reflexões, chama.m�nos a atenção dois _aspectos, por assim dizer, "universais" da construção do Estado: a constitui ção de uma estruti .. u-a tributária e a organização de forças armadas profissionais.-Ãinbos os pr�cessos estiveram intiman1ei1te-interü-- burocracia, jurisd ição sobre um território e monopolização do uso le gítimo da força são as ca racterísticas essenciais do Estado Moderno." 1 Cf. Engels, F. A Origem d11 Família, da Propriedade e do Estado. Rio de Janeiro: Presença, s/ d , p. 225. 3 Essa dimensão foi explorada principalmente por Gramsci, em mú l t i plos momentos de sua obra. Ver, a títu lo de exemplo, Maquiavel, a Polí tica e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Civil izaçiío Brasi leira . 1968, p. 54 e seguintes. 1 48 1 Wilrna Peres Costa gados na formação do Estado Modcr ,o, a li men tzind 1 1 - : : 1 · 1 l l u l 1 1 ,1 - n1ente e desencade ::u,do urn.,1 J inôm iG1 capaz de acckr,ir , 1 d 1 sso Juç5o dos laços feudais e de accn t:u<1 r <1 mercan t .i hz,1çi",u J .i v ida ' • 4 econonuca . i--··-··--· · · No caso do Qçjdente eu�eu, q L1e tem sido a referência fmwa- 1,�. n1.ental para a�rias d-;;; co.nslTU\,/io do Estado"S, essa d i n5 m ica �:,.F"f < resultou de uma forma particu lar de interação entre o Esl:,1do e a Sociedade que resultava da crise do foudalismo (disso l uçi'ío d <1 ser- vidão, emergência de um campesirn'lto co��-;ários grau : ; de i 1 1dc pendência e com crescente integração na economia mercant i l , for talecimento das cidades e da burguesia n1.ercanti l ) , e1n u .m pcr.íodo recortado de confli tos sociais de toda ordem: rebeliões célrnpone- sas, lutas no interior das cidades, conflitos entre as cidacl •ê!s e <l no- breza fundiária, conflitos intranobi ] iárquicos etc. A med i <1çao e a r bitragem, bem como a :intervenção nos confli tos, possib i l i tou aos monarcas a progressiva concentração_ ç!e_poderes, apoiando-se or<1 em uma, ora em oulTa das forças cm carnpo, 1néls tendendo sernpre é:1 extrair poder da esfera privada ou particularista para a const i tu i - ��9� Uill<!��fera__E��.!i� O monopól io da coerção legitima, encãr- · n- ado no Estado Absolutista, resu l tou de um processo de(cl_t�Sél rJT_l_� menta da socicdac�ç- � da dissoluç5y cJ.ç _f9ru1él,5.p.rivélçlas_ l1 �_c)(_�nj� o.o..da�ustiça_e..da..V:10Enci�\ Envolveu a construção de um arrnbouçc; jurídico de alcance nacioda l e de u.rn corpo de funcionár ios capa/. de fazer chegar a ordem lega l às exh·crnidades do corpo suc ia l , Vél le dizer de burocraciª� çj_v_is e mjlüares n serviço do Estad o. Ao n1es mo tempo�os Est�dos europeus consol i dmam sua terri to r ia l idade uns contra os ou tros, mun processo àe guerras súcessivas que pér passou toda él época 1noderna, e que: d i.narnizava o ciclo cxtraç3.o coerção: a má_qui:D9-9_r_r�cadadora e a força militar éllirnentanclo-se mutuament; e induzindo a central i zação do poder. . . . . . . . 4 Cf. Finer, Samuel E. State anel Nation 13ui lcl ing in Europe: thc Role of Military, in Tilly, C. (org.). Tlu, Funnat ion of National Stnte:; i1 1 \!Vestem Europe. Princeton: Princeton Univ. Prcss. 1975. 5 Cf. a coleção de ensaios contida em Tilly, C., op. cit. Ver tarnbén, I -fo l l, J. (org.) . Os Estados na História. Rio de Janeiro: Imago. 1 992. 6 Cf. Mousnier, Roland. As novas estru turas do Estado, in Crouzet, M . (org.) . J-lístórín Geral das Civiilzações. 3:' cd ., São Paulo: Di fel . 1 967, vol . 1, tomo IV O processo de construção do Estado no B,-asil ( 1 808- 1 850) 1 49 A estru tura fi§_cal foi assun, no caso do Ocidente europeu, pres suposto e resultado da ação do Estado. Ela se valeu intensarnente do processo confl i tivo interno e das guerras externas, em u1n longo movimento em que o Estado foi progressivamente transferindo para o centro taxas anteriormente pagas ao senhorio feudal, reduzindo a au tono1nia fiscal dos cenh·os urbanos, criando novos impostos e insti tuindo a dívida pública . O elemento crucial desse movimento era a crescente m�-�_Q�-i lizaç}ío_da economi�, que pennitia criar novos encargos, particularmente sobre o campesina to independen te7 . Em poucas palavras, a "cul tura fiscal" desenvolvida pelo feu dalismo, de um lado, e a cre;c�nte mercantilização da econornia pelo outro, forneceram as bases para o desenvolvimento da máqui na fiscal do Estado Absolutista. Não por acaso, foi também no cam po fiscal que os conflitos de interesses se fizeram mais agudos, de tonando, mais tarde, a crise dessa forma de Estado em torno da questão da taxação e da representação. No plano m��r, o processo de monopoJjza�QJlil_y.ioJência .en volveu o desarmamento (violent.Q_illLCQoptado)_d_ª-5-_ forças rivais do Estado, ou seja, das fo-rmações armadas sob o controle dos age,1::. tes privados. Ele se instalou sobre a base da fragmentação político mi l i tar feudal, sendo os "exércitos do rei" a wn tempo instrumento e resultado das sucessivas v itórias sobre o particularismo feudal . Tal processo pôde se instalar, e mais do que isso, tornar-se " legíti mo", porque a emergência do Estado moderno por cima da crise dÇ1 feudal�sn1D �e assentava também sobre a transformação d� lações de dominação presentes na sociedade, relações que, ao se tornarem complexas e crescentemente conflitivas-:-Ültrapassavam a �apacidade dos ag_ente_s _p_rivados em ��tê�las em wa-propnaes"= fera:.. E o que nos ensina, por exemplo, Perry Andérson 8, quar1dô ê.nfátiza a estruturação do Estado Absolutista e de seu aparato nú l itar em congruência com os interesses da nobreza fundiária, ü1ea- _ _pacitada pM� reprimir ª-� ondas de rebeldia camp-;;���ndo s-;; - superaram as formas diretas de extração do excedente econônúco. A perda de au tonomia militar da nobreza fundiária se compensa- 7 Cf. Ardant, G. Fü1ancial Policy and Economic Infrastructure of Modem States and Nations, in Tl l ly, C., op. cit. B Andcrson, P Linhagens do Estado Absolutista, São Paulo: Brasiliense. 1 985, p. 5 e segumtes. 1 50 / Wilma Peres Costa va aqui com � potencial ização da força repressiva que se obtin.ha con1. a central ização política e com o virtual 1nonopólio da nobrezil sobre a carreira nulitar. Por ouh·o lado, soldados n1.ercenários e cres centemente recru tas extraídos particularn1.ente do campesina to pas- savam a integrar a tropa dos exércitos profissionais. ---··· --··· Uti lizamos essas breves reflexões para pensar algw1.s aspectos da experiência histórica da construção do Estado no Brasil , no sen- (l)r(')_:; Ji <>A tido de ressaltai� com base na experiência clássica e nos traços uni- rfi_4; versais gue ela revela, a contundente peculiaridade da experiência brasi leira. O primeiro aspecto dessa peculiari dade é compartiU1ado pelas outras !Jaçõ��--Jp_t.t_UQ:ao:!:e_!J�,._Qa-2<.. que e��!:-giEan:i 1�o _panor.ama_ mundial a partir da_çi:ise do Antigo Sistema Colon ia!_. Vistos no seu conjunto, os processos de formação estatal na América Latina apre sentaram contextos distül.tos do processo europeu ocidental e fo ram, a té certo ponto, resultados desse ú l ti mo. Cria turas do sistema colonia l-mercan ti l ista do Estado absolu tis ta, a nova geração de na ções que se tornaram independen tes durante as primeiras décadas do sécu lo XIX originavam-se da ruptura com as rneh·ópoles ibéri cas e vinham ao mundo no interior de wn sistema mundia l de Es tadosc'onsôfidados, cuja hierarquia m ternzi estava- sendo revolu ê}m1ida pelos aco�tecimentos capitais gue marcaram o fim d o An tigo Regime: a Revolução Indush·ia l e a Revolução Francesa 9 . O mesmo movimento que gerav a a desintegração do Antigo Sis tema Colonial a l terava as posições hierárquicas no sistema mw1- di.al . . de. l3_$J_ac:l�s, -com a instalação da l�.[$$.��?E!H_,,9:�}�g��t_<:�a, a emergência dos Estados Unidos e os sucessivos redesenhas do mapa da Europa continental - a construção do Império Napoleônico e sua posterior desagregação. A forma como as nações l a tino-ameri canas iriam inserir-se no novo contexto mundial estaria ba lizada no plano internacio1i"à l em várias d imensões. No pl é1110 econôm.ico, marcado pela hegemonia do industrialismo inglês, a ex_tmçãôdos monopólios coloi:ia is i mplicaria na pressão pela adoção e!°- l ivre c�6Tsmo e em um novo tipo de inserção das economias lati 110- ainéricari"à-s na d ivisão internacional do trabalho: corno exportado ras de matérias-pri inas e a l i 111entos. (5 novo pãdrão tinha sobre o " Cf. Novais, Ferm1ndo. Parl11gal e o 13msil nn crise do A ntigo Siste111n Colo nial 1 777-1808. Siio P,1 ulo: I- lucitec. 1979. O processo de construção do Estado no Brasil ( 1 808- 1 850) 1 5 1 . ( \ry f - .?.('<(\...P, \j <rprocesso de construção do Estado um �f:: i f o p<1rn_c,_iox;:_i l : r�it(�� -;;."':< V hetÇ!ronomj._?1 econç,_Il}içª-_que mantinha essas economias como tri ,., �V'\ butárias do centro capitalista passava a ser uma condição de sua é'./ soberania política, ou seja , aé?!_é!_!:)ilj_g_é)_Q.e __ clos novo.? eg_taçl,as estava " intimamente Ji�c:!_él.__! . ��t�Jfü,�ia d.e. proi;h1tqs __ ��PS?T:.!�i�)que os mantivessem nos fluxos do sistema econômico mundial e que pos sibilitasse às elites dos novos Estados se sobreporem às pulsões centrífugas de mna base social rarefeita e não integ�?da economi camente em nível nacional. AJém disso , o própric(financiamento do Estadd -estava em estreita dependência da inserção das novas· nações no comércio internacional: sua fonte principal seria, ao longo do século XIX, a renda alfandegária e os empréstunos ex- · ternos 1°. No plano id�Jági_co, seria no cadu,ho das novas idéias e expe riências políticas postas em curso pela era revolucionária que as elites da geração da Independência iriam buscar referências para adaptar-se aos novos tempos. No seio de economias agrárias, re cortadas por clivagens étnicas e sociais, deveriam produzir-se tra duções próprias (e às vezes bizarras) do libera!i_�!.1H2, ... do sans-culot tismo , da República, da Monarquia Constitucional. No plano da política u.ternacional , o processo de Independência teve seu iní cio na era revolucionária, adensou-se durante o Jmpério Napoleô nico, mas o reconhecunento das novas nações se fez no contexto reacionário da Santa Aliança, temperado embora pela hegemonia ( ,.-.xi ll;,r,:,:;; �} '! �i�as�-do(3r���� essa constelação d: fa�ores teve efeito crucial na deterrrunaçau-da forma da lndependenc1a e de seu resultado. A @ estadia da familia real em território da Colônia , entre 1808 e 1821 , significou de fato e de direito a ruptura do estatuto colonial , com a abertura do��!_t.93 , a instalação dos prmcipais ramos do aparelho dé estado e a elevação ao estatuto do Reino Unido. Por outro lado, a posterior aglutinação em torno do Prú.cipe Regente favoreceu, de uma parte, a centralização e a <lQO ã_� _9c1 _f2,!lD.il..!PC2J:1 _ _A1:q_1.1ig e , de outra, possibilitou , mediante mánobras diplomátic.:-ts junto à 1° Cf. Furtado, Celso. For111ação Eco1 1ô111ica da América Lali1111. Rio de Janei ro: Lia. 1970, cap. 3; Donghi, T. H. T-íist c íri11 ria América L11l in11. S5o Paulo Rio de J,meiro: Paz e Terra . :1 975, pa rt icu larmen te os três primeiros cap ítu los. Santa Aliança, cQ,ntornar c1 pressão inglesc1 contra a mc1nutenção do � ., · 11 ,.. ____ _____ . -·- . - ·· ··-- ·- -�-----·-· ···--- ·· ·-- ·- - trc1fico . -----· __ O segundo aspecto que distingue o contexto da emergêncic1 dos 0..2t Estados nacionais latino-americanos daquele que cercou o proces- ,-,,u, -•. , 6', so d: formação do Estado na Eur�pa é, por assim dizer, mais subs- r.:Jç;/ tanhvo. Trata-se das profundas diferenças entre a ordem feudal, de cuja crise emergiu o Estado Absolutista Europeu e a ordem colo- nial, de cuja desagregação emergiram os Estados nacionais na Amé- rica Ibérica. Queremos com isso ressaltar que é na hernnça colonial e na forma de sua desagregação que vamos encontrar tanto os im pulso�-C.�:11!!p�tg_�_cQIJ.lQ.ªS resistênc;j.as c.eDtr.ffugi1$. ª·çpn:;;!:ru..çªq c:(9_ EstaOo,_particularmente nos aspectos extrativos fundamentais (fis cãís,Túi:ídicos e militares). Se mantivermos essa reflexão corno referência, o processo de construção do Estado Nacional no Brasil revela toda a sua peculia ridade. Monárquico embora, e mais do que monárquico, imperial, o Estado que aqui se formou a partir das lutas pela Independência, desenvolveu seus impulsos extrativos por sobre uma ord�_I:l}_priya� da dis_Y.1:!�_daquela que formou a base do Estado Moderno na Eu .!:9Pi\;_ o declínio das relações feudais e a emergência de uma eco nomia de produtores independentes. Aqui, a formação d o Estado se fez ���L�LteraI,l.QQ .. �-��c::raviq�9, forma específica de privatismo, na q�al a conservação de 1�ma{§_��ra priyada de exer.- ,.J cício __ si� _ _violência � pressuposto e cond1ção âe sua existência e ma-o>·:& \ nutenção. Mantinha-se concornitantemente a grande propriedzidet>f territorial e mais do que isso, graças ao controle que o senh.orio escravista conseguiu estabelecer ao longo do processo, !���l.!E!ye-se ��sibilidade do contínuo <!Rossamento. Isto é, impediu-se reitera dàmente a demarcação das terras públicas, base para a instituição do imposto territorial ou, como nos Estados Unidos, fonte ftmdc1- mental das rendas públicas através da venda a particulares l 2_ 1 1 Cf. Alencastro, Luiz Felipe de. Le co1111nerce des vivnnts: trnitc d 'esrlm•es e/ "pax lusitana" dans l'Atlnntique Sud. Tese de doutoramento, Paris, Univ. de Pmis X. 1985-1986, particulmmente o item 2 do capítulo Vlll . 12 Cf. Silva, Lígia Maria Osório. A Lei ria Terra - um estudo sobre a /listória da propriedade da terra no Brasil. Tese de doutoramento, PUC-SP. 1 990. Sobre o orçamento do Império, comparado ao dos Estados Un idos, ver C;1rv;1lho, J . M. Teatro de S0111/m1s - n Política l111perinl. Rio de Jzinciro: luperj-Vértice. 1988, p. 23-50. A manutenção da econo,nia exportadora de base escravista tor na evidente a necessidade do Estado para viabilizar ambas as facetas (exportadora e escravista) da ordem que se esboçava 1 3 . No caso es pecífico do escravismo, porém, essa necessidade assentav31-se, até 1850, mui to mais no p�QJ_1arquia em manter o (fráficp de escravos e a legal idade da ü1stituiçio-n� õ;dém }i:irídica�e na conservação da domü1ação em si mesma, que só podia ser d ireta, fundada na autoridade do senhor e em pequenos exércitos de ho mens l ivres permanen temente a seu serviço. A escravidão, portan- '\\!º, _FES?..9...!J._3:_i � _i npu lso_!?_ç()n t1.�ac:i i tóri�s em relação às tarefa s iieces- . -f7 fjsárias à construção do Estado. Favoreceu, f)Or u m la�a unidade territoria l e a monarquia, _ao criar mn poderoso mteresse comum � �-de . . c�1�d uzir o pr�c_ esso de !n�ep:1�dência em direção à _ for .., . ,,,\ mação de u m centro pol ittco com JUnsdrçao formal sobre o con1un- •riJ-'< d . , . l . b" b \ to o terntono, e pe o ou tro cnou um IOITl o ext���9-. p_�ra _a_ ma- / nutenção do lTáfico_já i n ternacionalmente condenado no segm1do gua"itercfo século XIX. Continham-se, assim, embora não se anulas sem, as pulsões centrífugas de u ma base econômico-social não in tegrada, formada de complexos exportadores voltados para fora, controladas por um senJ1orio com escasso horizonte naciona l . A permanência da escravidão (e da grande propriedade terri to rial a ela articu lada), por outro lado, constitui-se num poderoso obstáculo para que o Estado realize sua natureza, porque i nstaura u ma ordem que, fm1dada na violência privada, resiste reiterada mente ao desarmamento e à consti tuição do monopól io da violên cia pelo poder central . Em ouh·as palavras, se, na experiência européia, o desarmamento d a aristocracia senhoria l e o -armamento do Estado é uma estra tégia para preservar uma do1ninação que a primeira não mais po d ia exercer diretamente, no Brasil, onde se mtenta a construção do Estado preservando a escravidão, 9 senhorio precisa m a:n!�E <:l.fQ�I ç_ão sob seu _controle como condição mesma d a preservação das re lações escravistas 1 4• JJ Alencastro, Luiz Felipe de, op. cit., cap. IX. Ver também Lima, Hermes. Prefácio a Barbosa, Rui, Queda do Império. Obras completas de Rui Barbo sa. Rio de Janeiro: M inistério da Educação e Saúde. 1947, vol . XVI, tomo I, p. XIV e XV 1·1 Cf. Costa, Wi lma Peres. A Espada de Dâmocles: o Exército e a Crise do Im pério. São Paulo: Huci tec, 1 996, particularmente o primeiro capítu lo. 1 54 1 Wilma Peres Costa A resistência ao processo extrativo pelo temor dos danos inevi- JJl.;-r•r - . tá veis que a mobilização armada causariam à orden.1 esc -- r"av1sfa ma..:·· 7i.Ttestou-se, desde o inidõ",-nas -- estratégias que possibi l i taram uma iQdependên�-�ª- !>e!:_l� c01,tn?n��-�!méldg_pr9long�do e na sua viabi- l ização pela lsol.!J.çlí__Q _ )1JOnárquica) desenhando uma trajetória ,._Çiistinta das _ nações h ispél!10-america1�a�_nas q uais as guerras de independência e os embriões dos futuros exérci tos nacionais tive ram um efeito corrosivo sobre a escravidão. Ela se manifestou no vamente quando o primei ro Imperador intentou formas au tôno mas de criar uma força armada através da c<,1n__t.1.: __ a tação de mercená rios estra.!J_g�Ú:os, na ferrenha ��i5ão ji p()]J.:��il I}Ji. ! jta�: __ dg_Q, f'.ec!!�º 1..5:. na sistemática negação de recursos orçamentários para t.:i l fina l idade. Em 1831, com a Abdicação, no mesmo movimento em gue se completava a nacional ização do aparelho de Estado, desmobi l izou se virtual.mente o segmento nacional do exército de l inha, que se sublevara contra os privilégios da oficial idade a inda predominan temente portuguesa. Criou-se em seu l ugar a Guarda Nacional, força mjJ iciana sob controle dos grandes lati ftmdiários, não paga, dest:i nilda à manu tenção da ordem interna. O principal p retext·o para o recurso à força mil iciana em l ugar da reestruhiração do exército de linha advinJ1a da economia de recursos e da penú ria das finanças públ icas, que predominou até meados da décad<1 de 1840. Ele era, no entanto, a outra face da <:li ficuldade de legitimar o poder centra l em seus impulsos extra tivos, por parte das el i tes provinciais. Du rante praticamente todo O período nã? f_l�1 íram recu rse:� das pro víncias para o poder central, restringindo-se praticamente o tesou ro aos rendimentos da alfândega do Rio de Janeiro 15. Um e ou !To aspectos revelavam as arnbigüidades do senJ1orio escravista e seu impulso em retirar das mãos do Estado os meios de coerção. Por outro lado, á dificuldade do poder cenh·al em legitimar-se Sobre a Guarda Nacional ver Castro, Jeanne B. de. A Milícia Cidadã: a Guarda Nacional de "L831 a 1850. São Pau lo: Cia . Ed . Nacional . 1977; Uri coechea, F. O Minotauro Imperial: a Burocratização do Estado Nacional Bra sileiro no Século XIX. Rio de Janeiro-São Pau lo: Paz e 1erra . 1 978; Sodré, Nelson Werneck. A História Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civi l iza ção Brasileira . 1979 (3." ed.), p. 116 e seguintes. 15 Cf. Rodrigues, J . H. Independência: Revolução e Contm-Revol11c:ão. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1 975, vol. 2 (Economia e Sociedé!de) , p 1 5-füJ . • O processo de construção do Est1do no Bras i l ( 1 808-- 1 850) J 5 5 peran te o conjunto das províncii:is, que se manifesta na_p_�n_ú ria d9. Tesouro central e nas sucessivas rebel iões provinciais que perpas saram todo o período, expressa também ���_§ência de uma '_'cu ltu- :: ra fiscal" em nações egressas da vida colonial. Ao contrário, nõ'..J\ rnundo colonial�o i_mposto é uma faceta, a mais visível do esbulho 'õ'I;:, metropolitano e esteve presente nas várias conjuras que antecede- ,,: ran1 a independência, particularmente na Inconfidência Mu.1.eiraV A forma da Independência, com a continuidade du.1.ástica, fazia com � que, �o_s_9Jho.s .das...provfo.cias, o Rio deJa1J_eii.:9-._9.J2ª!��eJse _<:<_?I::.� a interna li zação da meh·óp_�l�,.$�ra1:i:_c!9. .r.esj.sl_��1.cias ao envio de re- -,� ·c-i.usos, priJ.1.cipalmente os oriundos das tarifas de exportação16. O ciclo extração-coerção manifestava�� �qui de forma pe!yersa, a pe- 11.úria de rectÚsos ·reforçai�do á i·esistência ao monopólio da violência pelo Estado. Numa t rajetória distinta das nações hispano-americanas que enfrentarain guerras prolongadas de independência, no Brasil, o p roce_��Q_q � - �l).Jª1}ÇÜ2ªÇã.Q não foi jorm aciq! __ cj.g_�)S érci to mas d e§Jry_i.:_ ·aor dé\Joi:.ç<J_ de linha colonial em dois movimentos sucessivos: cliva ·g;;;;;·; ·verticais,'-q{.i; opuseram as forças leais a D. Pedro I às forças 1 1'.J .. <'.)r'> . u . 9. leais zi metrópole, e clivagens horizontais que opuseram nos anos ,J; " · 1 • ( subseqüentes, a parte nacional da oficialidade e da tropa à oficiali- . ,.i--1 �J t dade portuguesa, que se apoiava no Príncipe e que redw1.daram na , '· ., _ ryglução do "povo e h·opa", de 7 de abril de 1831 , e na Abdicação. iJ':;� · , . . · \ O impulso que determinou a r�f?.strutu,ração do exé.rç.ito brasi -· / _ .J leira nas décadas de 1840 e 1850 veio no interior do movimento de . y' ' reiter_�S!?- -9-ª_MQD_ª_r_q��� (Nfaioridade) e do esforço de recuperação �"'-' cfosÍnstrumentos de poder perdidos durante a Regência. Sua base à-"'. jo eco�ômica � política v�1.� do se?mento d? senhorio ligado à .r:ro ç;--\-_;... duçao cafeeira da Provmcia do Rio de Janeiro, fazendo convergir aí /Z·;cp') o centro político e o centro econônúco 17. Por outro lado, foi apenas 0t� na década de 1840 que as tarifas de importação começam a produzir melhores resultados, graças ao vencimento dos tratados de co mércio com a Inglaterra, assinados na Independência, que limita- l ú Cf. Freire, Felisbelo. História Constitucional da República dos Estados Uni dos do Brasil. Brasília: UNB, p. 57-83. 17 Sobre o processo de central ização e o papel da elite cafeeira do Rio de Janeiro, ver CarvaU10, J. M., op. cit., e também A Construçiio ria Ordem: 11 Elite Política Imperial. Brasíl i a : UNB, 1981. Ver também Mntos, I. Rohloff. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec. 1989. 1 S6 1 Wilma Peres Costa vam as tarifas a 15'Yo nd valore11 1 e cuj,1s vantagens foram po�ter ior mente estendidas a outrns naçôes européias 1 �. O impulso p.:i r;1 o fortalecimento do exército de li n11a v inha, con.1.0 é natura l , do Esta do, e seu contexto era a necessidade de reprirnir n:=;_r<=!_�el iQ_cs pro- c. _ ___ - - - · - - - -·-------. -·····- ·· - . ·- vi nciais que se multipl icaram a té 1 848, a principa l de l as, a Revol u - ção Farroupilha, de caráter republ icano e secessio1ústa tendo man tido a província fora do lrnpério enh·e 1835 e 1845. Quando o foco de rebel ião não eram as camad<1s populares (corno rw prime i ra fase da Regência), mas os grandes propr ietários, tornava-se c l a ra a in capacidade de uma força mi l ic iana corno a Guarda Nacional parü controlá-las. Ao conh·ário, era essa mesma força que possibi l i tava a resistência armada dos proprietúrios contra o poder cen tral19 . Qjmpulso centra l izado_r,_ enti:etanto, es(éJ.Vi:J. fa_çl?çlg éJ. $.e.r fre.ac:lo pela persistência da ordem escravista, no tocante ao exérc i to, em várias dünensões: - pelo es�ita����üo da base de recrutamento, uma vez que o escravo, por definiçãô� i-iãô eià ie º érutiivéi; - pela contínua drenagem para a esfera da coerção privada, de largos contingentes de homens livres� necessários � manutenção da ordem no interior déls fozendas (e à contiJ1. uidade do processo de apossam.ento da terra); - pela !llanu.!_�1_são de urna força_de.. cai:áter patrimonial, a Gum da Nacional, que se consti tui no verdadeiro serviço obrigatório par<1 os homens livres, sob conh·o)e semiprivado, impedindo a concen tração dos meios de coerção em. mãos do Estado; - pelo não-desenvolvimento, no senhorio escravista, de voca ções militares que possibilitassem a contribuição direta dos gran des senl1.ores e de seus farniliares no exército de linha, mna vez que a dominação escravista exige a presença concreta do senhor e de seus prepostos, e as formas de apropriação da terra não criam aque las camadas empobrecidas da aristocracia fundiária que sernpre produziram guadros_p9_:ra_a qficialidqde dos exércitos europeus. Esses obstáculos não impediriam que aqui se formasse um exér- ( cito profissional, cuja necessidade emergiu tanto dos desafios ex- ( 1 8 Cf. Furtado, Celso. For111açr7o Eco1 18111icn do Brasil. S5o Pmdo: Cia . Ed. Nacional. 1972 (11 .° ed.), p. 93-106. 1 9 Para uma apreciação sintética do signi ficado das rebel iões regencü1 is ver Carvalho, J. M. Teatro de So111úrns . . . , p. 11-23. O processo de construção do Estado no B1·as i l ( 1 808- 1 850) 1 5 e ' �- :\ �' _ · .. . ' � e . _ rnos cor�o da premência ern co.ibir as pu l s�es centrífugas .. Impe' , , . , . " ia111, pore111, que o exérc i to que se reorganizava fosse urn 1nstru ,'· , \ .. , ,, . n,ento d a monopol ização da v iolência, uma vez que mantin han, a ' .. , , •• 0 • (sociedade _m�l i tar i zada, particu larm_ente a través da G�arda Nacio , , j na l . As res1stcnc1as dél orde1n escravista marcavam, pois, os proces";: '/·f ' (sos corre la tos de consh·ução do Estado e do exército profissional de ' '· ( ' 1/ /'ár.ias m.aneiras. , No gue se refere à �DJ.b..l.ra.iisca l , estreitando a base de élrreca dação, restri ngia-se priori ta rinmente às tarifas _d_g jm portaçfj_o, da ,_� das a a_u�ê1:cia dc_i nte_graçã? econômica_ e ª. resis�ência das_ cl i;es senJ ,ona 1s a taxaçao dl l'cta (nnposto terntonal) e a tr1bu taçao aas exportações pelo poder cenh·al . O défic i t crôn.ico e o precoce e rei terado endividamento externo_devem ser compreend idos, cm grm, cle parte,'à luz dessas.resis tências . Se as finanças públicas t iveram evidente melhoria a partir do desenvolvimento da cultura cafeeira no Rio ele Janeiro e do envolvimento de setores a ela l i gados no processo de centra l ização, a central ização monárquica continuou a sofrer fortes res istências, gue se aguçaram a partir ele 1870 com 0 cresc imento das demandas federalistas. Por outro lado, as finnnças i m periais permaneceram fráge is durante todo o século X IX e o en d ividamento foi cresccnteW. Quanto às forças a rmadas profissionais, a especific idade do pro cesso bras i le iro produziu uma dissociaçq_o enh:e_ .. gj_g,_e_�§Ões que na \ ,, . experiência européia se desenvolveram como partes de um único . , , ; movimento: a c9ns_t:ruç-ª.o e!.<? Estado e a construção dc;u.::xércim. É \ r \ ' ·: ' . provável gueâqui se encontre a rãi� mais profunda dê uma ideolo- \p · / · �i a m i l i tar que, em lugar d: ver a institui�ão armada_ como criatura ---9 ltctº Estado, tende a ver o Estado, ao reves, como criatura sua, em uma estrm,ha external i dã"de c'ujos da�w-.:;:õ-s' "desdobi.:a�1���t�s até hoje se fazem sentir. Em segundo lugar, as resistências da ordem escravista à concentração do poder armado na esfera do Estado i m primiu l imites e pecul iaridades à formação do Exército. O l imite mais importante verificava-se nos crônicos problemas de recruta mento da lTopa que o exérci to sofreria enquanto persistisse a or- 1 58 20 Cf. Carreira, Libera to C. História Financeira e Orçamentária do l111pério do Brasil. Brasíl ia : Scn . Federal, Casa Rui Barbosa, 1980; Oeveza, Gui lher me. Pol ítica tributária no período i mperial , in Holanda, S. n. (org.) . líistórin Geral do Civiliznçfio Brasileira. São Paulo: Difel . 4:' ed ., 1985, tomo I I, vol . 4 . 1 Wilma Peres Costa .'! · ,r ;l ,j ' 1 dem escravista . A pecu l iaridade ,nais gri tante seria a de que, ern bora parte i ntegrante de u 1na sociedade de cunho acentu adan1.en te el itista, a oficialidade seria _rec1.J1.tada majori tar iamente em fon tes estran ha-;'às camada��oc_ia i ;, d.Qmi.na.ute.â, tendendo <i forma; i:;:;;-1a - C2flt;§:e_li,tc que tÚia papel fundamental n<i crise e na quedâ ciÕ __ _ Impeno. Num Estado que se forma sob os impu lsos contra d i tórios d <i or- dem escrav is ta, a 'll,1estão milJ!E l se torna eslTu tura I porque cons t i tu t i v<i de suas conlTadiçõcs in ternas. A consti tu ição de forças <1r madas profiss iona is como i nstrumento de monopol ização da v io lência pelo Estado encontra obstácu los que, se não i mpedem <l sua cxistênci;:i enquanto p;:irte de um cÕnJunto heterogêneo de forçâs armadas sob con trole pr ivado, i n1]2_<;_g_ �m. o seq _ __gesc;nvol v i mento na direção daquele monopól io e tornam sua inserção-ãl tc"1111ente problemática no corpo social. A contradição viri a à tona no confl i to externo, precisam.ente na Guerra da Trípl ice A l iança contra o Paraguai , cuja anál ise ni:ío se enquadra nos objet ivos desse traba lho. Ressa l ta mos apenas, com base nessas reflexões, seu caráter centra l na crise do Estado I mpe rial e na expl ic i taç5o da relação contrad i tória entre o Est,1do Mo derno e ;:i escravidão2 1 . 2 1 Para uma anál ise da Guerra do Paragua i como fulcro da crise do Esta do Imperial ver Costa, Wi lma Peres, op . ci t. , caps V, VT e V TT O processo d e const.-ução do Est1do n o Brasi l ( 1 808- 1 850) 1 S 9
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