Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ Curso de graduação em Relações Internacionais Formação Histórica do Brasil II Aluna: Vanessa Barroso Barreto – Matrícula: 201649531-4 1) Cidadania é o conjunto dos direitos e deveres de um indivíduo dentro de uma sociedade, dessa forma, o povo pode intervir nas ações do Estado e utilizar os serviços do seu território. O processo eleitoral vigente no Brasil é baseado pelo voto direto e secreto, onde todo cidadão tem o direito do voto, realizado de maneira sigilosa, não sendo divulgado. Todavia, não se deu sempre assim, antes do período Republicano, o Brasil passou pelos períodos Pré-Colonial, Colonial e Imperial. Com a Proclamação da República, foi instaurada no país a forma republicana presidencialista de governo, que trouxe diversas novidades. Segundo o autor José Murilo de Carvalho, o período de mudança de Império para a República foi apropriado para clarear a questão do exercício da cidadania. O objetivo deste regime era de aproximar mais o povo das atividades políticas, presumia-se que a participação do povo na República seria estimulada. O Rio de Janeiro era o melhor espaço para desenvolver a cidadania, pois era o centro político-nacional, mas, de acordo com os reformistas, a população do Rio não parecia estar consciente dos direitos e deveres próprios do cidadão ativo, por exemplo, não se preocupavam em comparecer às urnas para votar. Esta interpretação era incorreta, porque os cidadãos sabiam defender seus direitos e cumprir seu papel na sociedade, mas não do jeito que esperavam. Para orientar sua abordagem, o autor menciona algumas festas, como o Carnaval, onde ele afirma que propiciou algumas das associações cariocas mais antigas. O espírito associativo manifestava- se, em especial nas comunidades religiosas, bem como as associações operárias foram criando forças. Carvalho apontava que “a luta da liderança radical contra o assistencialismo, o cooperativismo, era árdua e frequentemente inglória.” (CARVALHO, 2004: p. 145). O Jacobismo foi o movimento que mais chegou perto de ser uma ação política clássica, porém, não era organizado, era contraditório e voltado ao fanatismo. O autor também se utiliza das ideias de Max Weber acerca de cidade, onde a nova legitimidade da cidade se embasava na associação dos direitos dos burgueses, o que os tornavam cidadãos, o Estado passava a ter autonomia, com direito, justiça, finanças, defesa e governo próprios, surgia uma sociedade fundamentada na associação livre de produtores. Seguindo os estudos de Weber, o autor afirmava que o Rio de Janeiro era uma cidade consumidora e de tradição escravista, sua população estava em torno do comércio, transporte, administração e serviços domésticos. Não obstante, arquitetaram ocasiões de auto reconhecimento dentro da metrópole moderna, que aos poucos se construía. Em relação à política, ela era inexistente, existia um desinteresse em relação ao poder, a República não era levada a sério. Para eles, “o bestializado era quem levasse a política a sério, era o que se prestasse a manipulação [...] quem apenas assistia, como fazia o povo do Rio por ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia, estava longe de ser bestializado. Era bilontra.” (CARVALHO, 2004: p. 160). A Primeira República, ou República Velha (1889–1930) passou por significativas revisões historiográficas, segundo Cláudia Viscardi, os interesses corporativos dos cafeicultores que moldavam o Estado Republicano. Nesse período, as elites políticas brasileiras designaram políticas monetária, cambial e creditícia, no entanto, o período foi marcado por estabilidade assegurada pela instabilidade das alianças entre os Estados relevantes, o que pôde conter rupturas internas, sem que o modelo político fosse ameaçado. A primeira medida adotada na República foi a de garantir a exclusão da participação dos setores populares, pelo voto alfabetizado, e foram criados meios que visavam facilitar a fraude eleitoral. A segunda medida foi a de revisar os critérios de recrutamento político predominantes na política brasileira, a autora da o exemplo de Minas Gerais, onde para fazer parte da elite política necessariamente deveria ser homem, branco, ter curso superior e laços com outros membros da elite. Através da Constituição de 1891, outra medida foi adotada, esta redistribuía o poder, assim ocorreu um significativo aumento das bancadas partidárias, com um percentual elevado de deputados na transição de Império para a República. O Estado Nacional era um ator político muito importante, era representado, sobretudo, pelo Legislativo e pelo Executivo, os dois tinham certa hegemonia perante o regime. Bem como o Exército Nacional, ele “reforçou a composição de eixos alternativos às tentativas de monopolização de poder.” (VISCARDI, 2001: p. 78), o poder deles foi contrário ao poder dos estados-atores hegemônicos. Viscardi menciona que “os destinos da Federação eram decididos por um número restrito de atores, oriundos de um número restrito de estados- membros, eleitos por um corpo restrito de eleitores, os quais por sua vez, detinham restrito entendimento da dimensão de seu voto.” (VISCARDI, 2001: p. 79). Em relação aos nomes dos candidatos, deveria ser levado ao mundo político de que existia um acordo entre dois estados-atores no mínimo, assim os nomes deveriam ser alçados por outros Estados. As manifestações eram frequentes por parte das maiorias excluídas, elas não concordavam com os nomes dos candidatos acordados pelos Estados, o que ocasionava uma disputa eleitoral, onde teriam dois candidatos e vencia aquele apoiado pelos atores mais hegemônicos. Realizaram protestos contra os resultados eleitorais, denunciaram a fraude eleitoral pela imprensa, fizeram a batalha jurídica que incluía o habeas corpus e tentaram formar um tribunal de honra, além disso, fizeram a revolução armada. 2) Com o fim da escravidão, a ordem do mundo rural da época perde o sentido, relações entre senhores e escravos não existem mais, seria necessário reconstruir as identidades sociais. Segundo Hebe Mattos, “os significados de liberdade tornaram-se o campo de luta privilegiado, a partir do qual se reestruturariam as novas relações de poder.” (MATTOS, 2014: p. 281). Os ex-senhores e emancipados, por meio de suas propostas políticas e ação privada, discutiam sobre a liberdade. Para eles, se o trabalho não seria mais obrigatório, não deveria ter vadiagem. Naquele período, ex-escravos foram confundidos com vadios, dessa forma, a repulsa à vadiagem se relacionava à liberdade dos libertos. Mattos afirma que as bases da liberdade se davam pela mobilidade, propriedade e família. Em termos de política, a liberdade conquistada pelos negros bem como para os cidadãos ativos, era uma farsa. Em termos civis, assegurava as liberdades clássicas, de opinião e a integridade física. O direito da mobilidade era praticado em busca de laços, a família era montada pela Igreja e não pelo Estado e a propriedade se estendia até os escravos. No entanto, esses direitos foram redefinidos no Império, o sentido hierárquico das relações pessoais fora preservado durante o Estado Imperial, colocando, assim, a cidadania dos libertos em perigo. A autora aponta que no final da monarquia e na primeira década republicana “os ex- senhores continuaram a tentar acionar sua ascendência sobre os homens nascidos livres, seus dependentes, bem como sua influência sobre as autoridades locais, para forçar os libertos a tomar contrato de trabalho.” (MATTOS, 2014: p. 290). Em suma, os libertos foram entregues a própria sorte, sem terras e instruções, nada além de suas liberdades e os negros libertos ainda permaneciamsendo diferenciados dos demais homens livres. Camillia Cowling em sua obra menciona sobre o “Livro de Ouro”, que era um fundo de emancipação onde os senhores indenizavam os escravos. Os resultados se mostraram insignificantes, simbolizavam cerca de 3% da diminuição da população escravizada da cidade na época. Porém, este fundo concebe uma nova perspectiva a respeito do processo da abolição da escravidão no Rio de Janeiro. Com ele, pôde ser indicado como o ventre veio a se tornar um conceito ligado à escravidão e à emancipação, conseguindo atingir o pensamento das elites, das mulheres e dos homens escravizados. Sobre a liberdade das mulheres e a questão do ventre livre, pela Lei Rio Branco (1871) foi acordado que os filhos nascidos de mulheres escravizadas já nasceriam livres, dessa forma, relacionando o ventre também ao status legal da criança. Esta lógica influenciava no dia a dia dos escravizados e de suas famílias livres, bem como estava no debate da elite acerca do processo de emancipação. Na época, a noção de maternidade foi vista como parte essencial da identidade feminina, a questão das mulheres estava relevante dentro dos discursos abolicionistas, o que tornava uma “moda”. A liberdade de mulheres e crianças era priorizada pelos vereadores, a elite da época, Cowling acha interessante o fato dos vereadores constituírem uma escola para “meninas ingênuas”, para filhos e filhas das mulheres que eram “livres”, enfatiza o relatório do vereador Torquato, que argumentou que “a abolição implicava a necessidade de educar os ex-escravos, “instruindo-os, ensinando-os a trabalhar, moralizando e incutindo-os o hábito do trabalho”, pois de “outro modo o liberto e o ingênuo serão um perigo social”.” (COWLING, 2012: p. 220). Expressavam-se sobre duas formas para a liberdade das ex-escravas, a de servir como criada doméstica e a visão mais idealizada de vê-las somente como mães. Lilia Schwarcz ressalta não existir saída para o governo, a não ser a abolição, as autoridades não davam mais conta dos escravos que estavam se manifestando e fugindo em massa na década de 80. A libertação ocorreu em 1888 e configurou o fim do apoio dos fazendeiros à Monarquia, mesmo esta estando mais popular e presenteando os proprietários rurais com títulos nobres, a falta de indenização continuava sendo o fator de rompimento entre eles e o Estado. Para a sociedade, a “Abolição foi entendida como uma dádiva, um presente que merecia atos recíprocos de obediência e submissão.” (SCHWARCZ, 1993: p. 26), as libertações tornavam-se motivo de festas onde reinavam a falta de ação do escravo e supostamente a bondade de seu dono, representava a continuidade de hierarquias no Brasil. A liberdade, segundo Schwarcz, além de representar mudança, também representava resignação, acomodação e mudança sem nenhuma alteração. Assim, como Hebe Mattos, a autora também fala sobre a vadiagem, que se vinculava a figura do liberto. Os ex-escravos permaneciam trabalhando nas antigas fazendas por não ter outras oportunidades e autonomia. A mentalidade a respeito deles era bastante otimista, eles tinham como objetivo a civilização, enxergavam os escravos da época como senhores no futuro caso possuíssem estudos. Tal lógica da libertação defendida pelas elites expressava a conquista da civilização, lentamente, pelos negros. Mas, para isso acontecer, deveriam destruir elementos da cultura africana do seu cotidiano, assim, sua cultura e religião receberiam acesso à “verdadeira” civilização. A designação de “preto” mudou para “negro”, porque o “preto” remetia ao escravo submisso, violento e sem humildade, e “negro” remetia ao quilombola fugitivo e contrário as regras dos senhores. Submissão, humildade, moderação, caráter serviçal e amor pelos filhos brancos, essas eram algumas das qualidades dos negros pela imprensa. A libertação era vista como algo privado, onde somente os senhores e proprietários detinham o direito, já que o Estado não se mostrava presente. E os ex-escravos continuavam com a imagem de dependentes, gratos ao seu senhor e que se contentavam em pertencer às fazendas com as mesmas condições. A libertação era uma concessão, um presente do proprietário ao seu escravo, que em troca o escravo ofereceria lealdade, gratidão e dedicação. Os libertos foram vistos como objetos, os fazendeiros notavam a libertação como “uma questão pessoal: de consciência e de alma. Em contrapartida, os escravos têm “corações rudes” e respondem os atos com cenas animadas de gratidão”.” (SCHWARCZ, 1993: p. 36).
Compartilhar