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As Relações Internacionais na Ótica de Tucídides

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AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA ÓTICA DE TUCÍDIDES
Clara Regina Espíndola
Professor Marcos Dias de Araújo
INTRODUÇÃO:
 A produção deste artigo acadêmico tem como principal finalidade relacionar as teorias do historiador grego Tucídides (Atenas, ca. 460 a.C. — Atenas, ca. 400 a.C.) com os acontecimentos políticos e econômicos que ocorriam durante a época em que vivenciou um dos principais conflitos entre as antigas cidades-estados gregas Atenas e Esparta. Na obra “História da Guerra do Peloponeso’’, o pensador relata os fatos que desencadearam a guerra com precisão e procura explicar as possíveis causas. No campo das Relações Internacionais, observa-se que os fundamentos desse confronto também se aplicam a diversos episódios posteriores na história da humanidade, os quais serão abordados no decorrer do texto. 
ANTECEDENTES:
 O ateniense Tucídides presenciou a tensão que havia entre as duas cidades gregas no período anterior à guerra. O rancor entre Atenas e Esparta foi se acirrando logo após o final das Guerras Médicas (século V a.C), que foi provocada pela disputa hegemônica de um ponto estratégico de comércio. A fim de evitar a invasão pérsica, foi fundada a Confederação de Delos, organizada pelas cidades gregas que se comprometiam a contribuir financeiramente para a formação de exércitos. Entretanto, Atenas passou a usufruir da organização em benefício próprio, atitude que provocou a indignação das demais cidades, especialmente Esparta. Em contrapartida, os espartamos fundaram a Liga do Peloponeso, reunindo aliados com o objetivo de impedir o imperialismo e a expansão ateniense. 
 Nessa passagem da obra, Tucídides condena a maneira que Atenas se comportou diante de seus aliados, de modo que, o crescimento de seu poderio foi resultado da cobrança de altos tributos sem o devido retorno àqueles que participavam da confederação. 
99. Embora houvesse outras causas para revoltas, as principais foram a falta de pagamento dos tributos ou do suprimento de naus e, em alguns casos, a recusa ao serviço militar, pois os atenienses cobravam rigorosa- mente os tributos e se tornavam odiosos ao aplicar medidas coercitivas aos que não estavam acostumados ou relutavam em aceitar as durezas dos deveres. Também sob outros aspectos os atenienses já não agradavam como antes no comando; não participavam de expedições em igualdade de condições e subjugavam facilmente os dissidentes. Mas os responsáveis por essa situação eram os próprios aliados; com efeito, a relutância em prestar o serviço militar havia levado a maioria, avessa a permanecer muito tempo longe do lar, a atribuir-se um valor em dinheiro, correspondente ao valor das naus a suprir, exonerando-se, assim, do serviço; conseqüentemente a frota ateniense cresceu graças aos fundos então obtidos, enquanto os contribuintes, quando se revoltavam, entravam em guerra sem preparação e experiência.[1: Tucídides. A História da Guerra do Peloponeso. Coleção: Clássicos IPRI. Editora: Universidade de Brasília, 1987. Livro I, Capítulos 99 a 125: Os lacedemônios convocam uma assembleia geral de seus aliados e acertam com eles a declaração de guerra aos atenienses, discurso dos coríntios, página 58. ]
 O abuso de poder passou a ocorrer de forma exploratória, já que a cobrança que Atenas realizava era desnecessária para a realidade que viviam, gerando um caráter autoritário, o que provocou um desconforto entre outras cidades gregas. Em face da situação, Esparta que já não concordava com a organização política da pólis rival, se opõe severamente à democracia e os valores adotados em Atenas, pois em Esparta a sociedade era de caráter completamente militarista, e consideravam a educação como um mecanismo de inserção de valores militares. As reformas políticas em Atenas que desencadearam a convenção do governo democrático não procederam da mesma maneira em Esparta, que decidiu manter a Diarquia, privilegiando o poder dos reis. 
 A formação da Liga do Peloponeso foi o marco do fim do laço que havia entre as duas congregações militares, e o início de um episódio que impactou significativamente a política do mundo grego. Entre os confederados do Peloponeso estavam as cidades de Corinto, Tebas, e Mégara, lideradas por Esparta. Já Atenas aliou-se às cidades de Platéia e Ática. O que hoje chamamos de relações internacionais, Tucídides considerava as inevitáveis competições e conflitos entre as antigas cidades-Estado e entre a Grécia e os impérios vizinhos não gregos, como a Macedônia ou a Pérsia. No final do Primeiro Livro, de um total de oito volumes que compõem a obra, o historiador conclui que as divergências políticas e o rompimento dos tratados firmados no passado foram responsáveis pelo início da guerra.
142. Devemos compreender, todavia, que a guerra é inevitável, e quanto mais dispostos nos mostrarmos a aceitá-la, menos ansiosos estarão nossos inimigos por atacar-nos. Enfim, são os maiores perigos que proporcionam as maiores honras, seja às cidades, seja aos indivíduos. Foi assim que nossos pais enfrentaram os persas, embora não tivessem tantos recursos quanto nós, e tenham tido de abandonar até os que possuíam; mais por sua vontade que por sorte, e com uma coragem maior que a sua força, repeliram o Bárbaro e nos elevaram à grandeza presente. Não devemos ficar atrás deles, e sim defender-nos contra nossos inimigos com todos os recursos disponíveis, para entregar à posteridade um império não menor.[2: Tucídides. A História da Guerra do Peloponeso. Coleção: Clássicos IPRI. Editora: Universidade de Brasília, 1987. Livro I, Capítulos 140 a 146: Os atenienses decidem ir à guerra; primeiro discurso de Péricles. Página 83. ]
 Em 445 a.C., 14 anos anteriores ao início do conflito, foi estabelecido um acordo de paz que devia durar cerca de 30 anos. Há algumas teorias que tentam explicar o conteúdo de tais cláusulas contratuais. As que são reconhecidas hoje envolvem a devolução de terras à Esparta, que foram perdidas durante uma batalha anterior à guerra, o reconhecimento do Império Ateniense pelos espartanos, as divergências deveriam ser submetidas a arbítrio, os aliados de cada liga não deveriam mudar de lado. 
 Porém, por motivos ainda não especificados, Esparta decide que os atenienses romperam com as cláusulas do pacto firmado, e como resultado, em 431 a.C. declara guerra contra Atenas e seus aliados.
 Ao analisar a história contemporânea do século XX, podem-se estabelecer certas analogias com o passado da Grécia Antiga, visto que há vários episódios trágicos que foram consequências das desigualdades de poder entre as potências globais. Entre eles, há de se destacar o ataque da Alemanha nazista contra a União Soviética, no dia 22 de junho de 1941, dois anos posteriores à assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, que foi um compromisso de neutralidade entre as duas nações. Todavia, a aliança entre dois ditadores e dois Estados com regimes completamente opostos é considerada por muitos uma mácula na história. 
 Assim como na antiguidade clássica, ambas as potências pretendiam firmar sua soberania de acordo com suas vontades ideológicas. Hitler invadiu o território russo após o sucesso das rendições que obteve na Europa, por exemplo, na França, na Bélgica e nos Países Baixos. Embora houvesse obtido hesito na ocupação de grande parte do continente europeu, Hitler fracassou na famosa Operação Barbarossa, a qual fora projetada para conquistar a União Soviética, repovoando o território, e se aproveitando do trabalho escravo dos eslavos para fins de guerra. A má execução do plano resultou na inversão da condução da Segunda Guerra, que culminou na derrota da Alemanha em 1945. 
 Retomando a passagem do texto de Tucídides, Atenas estava disposta a combater sua rival, pois detinha o controle sobre o comércio marítimo e vastos territórios da região Grega. Entretanto, ao compactuar com a guerra, as consequências ao final do conflito não foram planejadas para ambas as partes. A aspiração por poder e a crença da invencibilidade foi umerro fatal, tanto para os atenienses que almejavam ir à luta por seu histórico de guerras e pela grandeza da sua liderança, como para os alemães nazistas, que se julgavam a raça pura, e, portanto eram intelectualmente superiores às demais nações, pretendendo impor sua ideologia em uma escala global. 
A GUERRA:
 A guerra do Peloponeso pode ser dividida em três períodos e seis etapas.
Primeiro Período: 432-421 a.C
A Guerra Arquidâmica, ou de Arquidamo, rei de Esparta. Nessa época Atenas estava sob o comando de Péricles (432- 427 a.C)
 Iniciada a Guerra, os ataques iniciaram com Tebas invadindo a cidade de Plateia, e com Esparta invadindo a Ática. Os peloponésios apostavam na tradicional estratégia militar, destruindo os campos da Ática a fim de desabastecer as reservas de alimento de Atenas. Entretanto, o general ateniense Péricles adotou diante da situação uma contra estratégia defensiva e imperial, que se fundamentava não na conquista, mas apenas ao respeito dos acordos firmados e a aceitação espartana de um arbítrio internacional. Sempre cauteloso, jamais concordou em tomar parte de qualquer batalha que envolvesse extrema incerteza ou risco. 
 Péricles ao avaliar a situação militar de Atenas, conclui que a superioridade do exército espartano em terra, culminaria na completa derrota do Império em curto tempo, pois os rivais eram muito mais numerosos e mais disciplinados que os combatentes atenienses. Para tentar minimizar as vantagens de Esparta, o estadista convenceu o povo livre e soberano a aceitar uma estratégia de exaustão que era muito dura, e por isso, impopular. Consistia no deslocamento de toda a população camponesa para dentro dos muros da cidade, que estava ligada ao porto. O líder ordenou a reconstrução das muralhas, segundo o americano Josiah Ober, professor de Estudos Clássicos, da Universidade de Standford, essa estratégia alterou radicalmente o uso da força nas relações internacionais gregas. O historiador reconhece a grandiosidade de Péricles, colocando-o entre os maiores generais da história mundial, pela sua capacidade de oratória e pela liderança carismática, que o caracterizava como um governante popular. [3: Ober, Josiah. Thucydides on Athens Democratic Advantage in the Archidamian War. Princeton, Stanford University, August 2009. ]
 Tucídides, em sua obra, (II, capítulos 35-46 - Oração Fúnebre pronunciada por Péricles) relata o discurso anunciado pelo general aos cidadãos e aos aristocratas atenienses. 
37. Vivemos sob uma forma de governo que não se baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao contrário, servimos de modelo a alguns ao invés de imitar outros. Seu nome, como tudo depende não de poucos, mas da maioria, é democracia. Nela, enquanto no tocante às leis todos são iguais para a solução de suas divergências privadas, quando se trata de escolher, não é o fato de pertencer a uma classe, mas o mérito, que dá acesso aos postos mais honrosos; inversamente, a pobreza não é razão para que alguém, sendo capaz de prestar serviços à cidade, seja impedido de fazê-lo pela obscuridade de sua condição. [4: Tucídides. A História da Guerra do Peloponeso. Coleção: Clássicos IPRI. Editora: Universidade de Brasília, 1987. Livro II, Capítulo 35 a 46: Oração Fúnebre pronunciada por Péricles, páginas 108 a 111. ]
 No trecho acima, a democracia é descrita como um conjunto de decisões dos interesses do coletivo, e o entendimento dela é o resultado do equilíbrio entre as escolhas racionais dos participantes da vida política. 
40. Somos amantes da beleza sem extravagâncias e amantes da filosofia sem indolência. Usamos a riqueza mais como uma oportunidade para agir que como um motivo de vanglória; entre nós não há vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não fazer o possível para evitá-la.
 Nesta parte do discurso, Péricles afirma que a cidade de Atenas é caracterizada pela cultura de livre acesso, exaltando as artes e a filosofia que estavam presentes no cotidiano dos atenienses. Ao longo da história, o discurso tornou-se um modelo adotado por oradores políticos para enaltecer o orgulho dos integrantes de uma sociedade, celebrando as virtudes e as qualidades que a tornam superior ética e politicamente em comparação a outras nações. Péricles sugere que o método espartano em aproximar-se de seus cidadãos é baseado na coerção, ou seja, na imposição de ensinamentos. Exemplificado no seguinte trecho da obra de Tucídides (II, 39)
39. Na educação, ao contrário de outros que impõem desde a adolescência exercícios penosos para estimular a coragem, nós, com nossa maneira liberal de viver, enfrentamos pelo menos tão bem quanto eles perigos comparáveis.
 Para o general, essa imposição de autoridade resulta na educação como meio de doutrinação dos jovens, na aprendizagem subordinada às vontades do Estado, e a rejeição de qualquer expressão individual que vá contra os princípios e aos bons costumes. Em contrapartida, o modelo ateniense proposto por Péricles visa não somente a pólis grega, mas a uma ideia universal, que deveria ser imitada pelas demais cidades gregas. 
 Ademais, o político demonstra sua capacidade de entender o espírito da sua comunidade, estabelecendo uma comunhão de sentimentos com seus ouvintes, homenageando os combatentes que haviam perdido suas vidas em batalhas anteriores. Ele vincula em sua identidade as virtudes admiradas pelo povo. Nos tempos modernos, a utilização desta tática serviu como inspiração para demais políticos, entre eles, pode-se destacar o famoso discurso de posse de John Kennedy, no dia 20 de Janeiro de 1960.
Desde a fundação deste país, cada geração de americanos foi convocada a prestar testemunho de sua lealdade à nação. Os túmulos de jovens americanos que responderam ao chamado para servir espalham-se pelo mundo.[5: Kennedy, John. Uma visão de paz. Editora: Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2006. Parte II: 1961, O discurso inaugural, páginas 89 a 99. ]
Creio que nenhum de nós trocaria de lugar com qualquer outro povo ou qualquer outra geração. A energia, a fé, a devoção que trouxermos para esta empreitada vão iluminar o nosso país e a todos os que a ele servem - e o brilho desse fogo pode de fato iluminar o mundo.
 O presidente norte americano, assim como Péricles, homenageia as vidas dos soldados perdidos durante a I e a II Guerra Mundial, com o efeito de produzir um sentimento de empatia com aqueles que se sacrificaram pela pátria. É notável que em seu discurso os ideais de patriotismo e liberdade são predominantes para a persuasão do povo, o que garantiria seu respeito e contemplação. Os feitos militares de Péricles tiveram uma importância fundamental no andamento do conflito, visto que a derrota imediata de Atenas não ocorreu devido à técnica defensiva adotada por seus estrategistas. 
 Ao final do primeiro período da guerra, a aglomeração humana provocada pela imobilização da cidade permitiu a proliferação de uma praga vinda dos grãos da Líbia e do Egito, resultando na morte de muitos atenienses, incluindo a do general Péricles. Ambos os lados estavam empatados. 
[6: Imagem publicada por Crabben, Jan van der. No dia 26 de Abril de 2012 pela Academia Militar dos Estados Unidos. Domínio Público. Disponível em: https://www.ancient.eu/image/153/.]
Mapa assinalando os territórios das duas ligas durante o Primeiro Período da Guerra do Peloponeso. Esparta e aliados representados pela cor verde, e Atenas e aliados pela cor amarela. 
Crédito: Courtesy of the United States Military Academy Department of History.
 As novas estratégias atenienses (426- 421 a.C) 
 Paz e Guerra (421-416 a.C.);
Segundo Período: 416- 413 a.C
 A Guerra no teatro de operações ocidental (Sicília) e a derrota ateniense (416-413 a.C.);
 A crise do Império Ateniense foi se atenuando nos anos consecutivos à guerra. Desde a morte de Péricles, o regime democrático de Atenas enfrentava uma divisão profunda entre as facções oligárquicas e populares e sob a nova liderança de Alcibíades e de Nícias as dissensõesse aprofundavam cada vez mais. As lutas atenienses levariam, nos anos seguintes, a ausência de engajamento, brigas e expurgos, o que terminaria, ao final, por destruir a própria autoridade ateniense, vencendo a liderança ática (hegemonía).
 Em 416 a.C, Alcebíades comandou o ataque à Siracusa, somente desse modo dominaria a Sicília. A região era localizada na península Itálica, importante colônia espartana de onde provinham os alimentos e vários recursos para os membros da Liga do Peloponeso. A reação de Esparta ao constatar a presença rival no território aliado foi imediata. Um poderoso exército foi enviado para os campos de combate, e o resultado foi o lamentável fracasso da expedição à Sicília. Demóstenes e Nícias foram executados, a maioria dos soldados foi morta em combate, e os sobreviventes escravizados pelo exército espartano.
Terceiro Período: 413- 404 a.C
 Revoltas no Império de Atenas (413-410 a.C.), também conhecida como Guerra na Jônia;
 Após diversas conquistas terrestres contra os atenienses e seus aliados, Esparta decidiu partir para o enfrentamento marítimo, aliando-se ao Império Persa em troca do financiamento de uma frota de navios para invadir a cidade rival, deixando, assim, o caminho livre para a conquista das colônias gregas da Jônia. Em meio a esses ataques, a democracia de Atenas via-se cada vez mais enfraquecida, grupos oligarcas procuravam apoio dos peloponésios, oferecendo em troca o apoio da cidade e a rendição absoluta. Em Atenas, o movimento oligárquico tomava corpo. Os filósofos pós-socráticos contribuíram para a elaboração de um documento que condenava o regime da pólis. Após a morte de Sócrates, as ideias de Platão e Aristóteles foram fundamentadas em uma obra chamada: A Constituição dos Atenienses, a qual revela desprezo pelo regime democrático, reconhecendo o mal funcionamento desse sistema. [7: Aristóteles. A Constituição de Atenas. Editora HUCITEC, São Paulo, 1995.]
 A Restauração da Democracia em Atenas e a queda de Atenas (410-404 a.C).
 Apesar da grande perda de tropas na Sicília, da crise econômica, e o tormento das convulsões políticas, a sorte de Atenas ressurgiu, com algumas vitórias navais nas cidades de Cinosema, e Cícico, e com a reconquista de Bizâncio, prolongando, assim, a duração da guerra. Todavia, Esparta já havia tomado o controle de diversas aliadas da Liga de Delos, a insatisfação popular resultou na execução de dois almirantes. Os novos líderes também não foram apoiados pelo povo. A má gestão dos planos resultou na captura da marinha ateniense pelas tropas espartanas. O general Lisandro impôs o bloqueio naval a Atenas, e o corte do abastecimento de grãos para a cidade, enquanto o rei aliado persa cercava-a por terra. 
 Após seis meses de sítio e resistência, sem ter mais acesso a alimentos, com todas as suas muralhas destruídas e seu império dissolvido, Atenas declara seu rendimento incondicional à Esparta, em abril de 404 a.C.
CONSEQUÊNCIAS: 
 A narrativa de Tucídides é rompida repentinamente no oitavo volume da obra. Pressupõe-se que o autor faleceu próximo ao ano 411 a.C, durante a escrita do livro, que não foi finalizado. Portanto, o autor não presenciou uma série de fatos que se desenvolveram nos anos posteriores a sua morte. O chamado Governo dos Trinta Tiranos, ou Tirania dos Trinta, foi um golpe oligárquico em Atenas, apoiado por Esparta. A tomada do governo por trinta tiranos e dez no porto de Pireu favoreceu o interesse dos espartamos, os quais atribuíram tributos aos atenienses e dissolveram por completo a Confederação de Delos. Porém em 403 a.C há a retomada da democracia em Atenas, os novos líderes adotam uma politica moderada, voltando-se para a reconstrução da cidade. Durante três décadas, Atenas obtém êxito na melhoria do exército e na infraestrutura da cidade, aos poucos vão reconquistando muitos dos antigos aliados. Contudo, a ascensão de Esparta desfez a única via possível para a unificação do mundo grego, as demais aliadas sofreram com as consequências do conflito, os regimes oligárquicos predominavam pós-guerra, a substituição do império ateniense por um sistema militarista causou um desgaste no mundo helênico. Os custos da guerra enfraqueceram a economia, devido ao alto valor demandando para o suprimento dos exércitos. Aproveitando-se da fragilidade das pólis gregas, as potências imperiais planejavam gradativamente a invasão do território grego. Primeiro o Império Persa, e mais tarde, a Macedônia, com Felipe II e seu filho Alexandre, o Grande.
 Um dos erros fatais que resultaram no fim do poderio grego no mundo antigo foi o não auxilio econômico por parte de Atenas, e principalmente Esparta às cidades gregas no período subsecutivo à guerra. Esta falha inspirou estrategistas a posicionarem-se de modo diferente perante os derrotados. O diplomata americano George F. Kannan (1904- 2005) estudou a obra de Tucídides, e comparava Esparta com a União Soviética, que, segundo ele, julgava a força um instrumento mais eficaz que a razão. No final da II Guerra Mundial, as potências europeias se encontravam devastadas, principalmente a Alemanha, a Itália, a França e a Inglaterra. Kannan propôs ao general George Catlett Marshall um plano de colaboração com os países europeus mais afetados pela guerra, o qual consistia na reconstrução econômica por meio do envio de recursos financeiros. 
 O principal objetivo do Plano Marshall era realizar uma propaganda maciça contra a URSS, impedindo seu avanço na Europa Ocidental. Esta estratégia política trouxe benefícios para a ascensão dos Estados Unidos como uma superpotência no cenário global. Ao contrário dos espartanos que optaram por um posicionamento míope em relação à reedificação das demais cidades gregas, os EUA se aproveitaram da situação, ajudando os antigos aliados e rivais, a fim de intensificar sua influência no âmbito político e econômico.
CONCLUSÃO:
 Por fim, mas não menos importante, a Guerra do Peloponeso teve como principal consequência a dissolução do mundo grego, e o surgimento de novos impérios que agregaram junto a sua cultura elementos da Grécia Antiga. A transmissão de valores relacionados à arte da guerra, à filosofia, e a outras ciências perpetuariam durante todo o transcorrer da história, influenciando o pensamento de muitas civilizações ocidentais. A partir da análise da obra de Tucídides, é possível perceber que o intuito destes acontecimentos relatados pelo autor servisse de modelo para as próximas gerações, e por 2500 anos até os dias atuais a narrativa cumpriu com a meta, constituindo-se como um parâmetro para o tratamento de variados temas sobre guerra. 
	BIBLIOGRAFIA	
ARISTÓTELES. A Constituição de Atenas. Editora HUCITEC, São Paulo, 1995.
FINLEY, M, I. Economia e sociedade na Grécia Antiga. Editora: Martins Fontes, São Paulo, 2013.
GARLAN, Y. Guerra e economia na Grécia Antiga. Campinas: Papirus, 1991.
JACKSON, Robert. Introdução às Relações Internacionais. Editora: Zahar, 2007. 
KENNEDY, John. Uma visão de paz. Editora: Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2006.
NOGUEIRA, João Pontes, e Nizar Messari. Teoria das Relações Internacionais – Correntes e Debates. Editora: Campus, 2005. 
OBER, Josiah. Thucydides on Athens Democratic Advantage in the Archidamian War. Princeton, Stanford University, August 2009. 
TUCÍDIDES. A História da Guerra do Peloponeso. Coleção: Clássicos IPRI. Editora: Universidade de Brasília, 1987.
TUCÍDIDES. A História da Guerra do Peloponeso, livro I – Edição bilíngue. Editora: Martins Fontes, São Paulo, 2013. 
VAISSE, Maurice. As Relações Internacionais depois de 1945. Editora: Martins Fontes, São Paulo, 2013.

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