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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Fundamentos Histórico Teórico Metodológicos do Serviço Social – Dimensão Metodológica Metodologia na Gênese do Serviço Social Aula 1 Prof. Neiva Silvana Hack CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa inicial Caro(a) aluno(a), damos início agora à nossa aula sobre “Métodos e técnicas na gênese do Serviço Social”. Trataremos das expressões do fazer profissional do Serviço Social na sua origem, que difere bastante do que se observou ao longo da história da profissão e do que se aplica na contemporaneidade. Assim, trata-se de um estudo de métodos e técnicas, de acordo com um dado momento histórico e toda a compreensão de conteúdo deve levar este fator em consideração. Temos como objetivos desta aula: ■ Conhecer e aplicar o conceito de metodologia; ■ Reconhecer o papel da perspectiva de ajuda na construção da metodologia da profissão; ■ Compreender a influência da Igreja Católica nos métodos adotados pelo Serviço Social, por meio das ações baseadas na experiência de São Vicente de Paulo; ■ Compreender a influência da Igreja Católica nos métodos adotados pelo Serviço Social, por meio das ações baseadas no método “ver, julgar e agir”; desenvolvido pelo Movimento de Ação Católica; ■ Correlacionar aspectos metodológicos das primeiras práticas do Serviço Social com a formação obtida nas primeiras escolas da área. Para realizar este processo de aprendizagem contaremos com recursos variados, tais como explicações escritas; vídeos gravados pela professora; indicações de leituras e atividades. Serão várias formas de enriquecer o seu conhecimento. Bons estudos! Acesse o material on-line e assista ao vídeo de introdução que a professora Neiva preparou! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Contextualizando Quando iniciamos como alunos em um curso de Serviço Social, são muitas as nossas motivações e curiosidades. Queremos conhecer mais sobre essa profissão, tirar dúvidas, saber em que lugares os Assistentes Sociais atuam e como procedem e temos muito interesse pela prática do Serviço Social. Quais são as suas curiosidades e interesses sobre o curso de Serviço Social? Já conseguiu fazer novas descobertas desde o início do curso até este momento? Certamente, você ainda tem muito a descobrir! Mas trazemos uma problematização neste momento: você sabe como se originou a profissão do Serviço Social e como atuavam os primeiros Assistentes Sociais? Será que as formas de atuação praticadas no início da profissão perduram até os dias de hoje? Não vamos responder a estas questões agora! Podemos adiantar que desde sua origem até os tempos atuais, o Serviço Social passou por diferentes influências teóricas e adotou também distintas formas de intervenção. Com esta aula, pretendemos conhecer melhor sobre este processo histórico e conseguir responder com clareza as questões aqui apresentadas. Vamos aos estudos e boa aula! Para os comentários da professora Neiva, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Dimensão metodológica Neste momento queremos discutir sobre o significado da dimensão metodológica para o Serviço Social. Desde sua origem, o Serviço Social esteve muito ligado ao fazer, ao executar. Foi e é considerado uma profissão interventiva. Contudo, ao longo da história existiram avanços na perspectiva de sustentar teórica, ética, política e cientificamente esta ação. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Num momento inicial, o Serviço Social mostrava-se mais como o executor de teorias desenvolvidas pela psicologia, medicina, sociologia ou mesmo pela doutrina social da Igreja Católica. Sob essa perspectiva, houve grande busca para se qualificar a intervenção, com amplo enfoque na qualidade das técnicas a serem utilizadas (LIMA,1978). Ao amadurecer da profissão, foi identificada a necessidade de se produzir conhecimento em Serviço Social. A vivência prática dos profissionais desta área permite a realização de reflexões fundamentadas teoricamente, capazes de questionar a própria técnica. Quando pretendemos tratar dos fundamentos histórico, teóricos e metodológicos do Serviço Social sob a dimensão metodológica, estamos propondo um conhecimento, reflexão e análise sobre os métodos adotados histórica e contemporaneamente pela profissão. Cabe, neste sentido, destacar a diferenciação dos conceitos de “método” e “metodologia”, segundo nos apresenta o autor Boris Alexis Lima (1978, p. 20): ■ Método: “um conjunto de procedimentos estruturados, formais, sistematizados, cientificamente fundamentados, característicos da profissão e/ou da investigação. Os métodos variarão de acordo com os propósitos a que se destinem e segundo a estratégia social que prevaleça”. ■ Metodologia: “estudo dos métodos objetivando conhecimento. Circunscreve o aprendizado da teoria dos métodos que ordenam as operações cognoscitivas e práticas na ação profissional racional”. Assim, a opção pelo estudo de uma dimensão metodológica compreende conhecer e discutir os diferentes métodos desenvolvidos, adotados e empregados pelo Serviço Social ao longo de seu percurso enquanto profissão. Demanda correlacionar tais métodos com seus contextos históricos e políticos e compreender para quais objetivos foram criados e implementados. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Importante destacar que o Serviço Social contou, ao longo de sua história, com diferentes propostas de métodos, bem como com diferentes matrizes teóricas que referenciaram sua produção e respaldaram sua avaliação. Assim, o estudo contemporâneo da metodologia do Serviço Social requer compreender a conjuntura teórico-política em que se desenvolveu cada método. Deve considerar também a análise crítica fundamentada nas literaturas convergentes com o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social, na atualidade. Por isso, recomendamos, para seu melhor aproveitamento, que o estudo dos Fundamentos Histórico, Teórico e Metodológicos do Serviço Social realize- se de maneira integrada entre as disciplinas que tratam destas diferentes dimensões: histórica, teórica (positivismo), teórica (marxismo) e metodológica. Para conhecer mais sobre os aspectos da dimensão metodológica, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Ajuda como motivador da ação Em sua gênese, ou seja, em suas origens, a profissão do Serviço Social contou com um forte motivador de sua intervenção: a relação de ajuda. Tratava- se de uma atitude motivada por ideários religiosos, com forte influência da Igreja Católica, e mesmo políticos, na intenção da manutenção da ordem. É importante destacar que a origem do Serviço Social se dá no contexto histórico de avanço do capitalismo, no período de intensa industrialização e de transformações no Estado que asseguravam a ascensão da burguesia ao poder. Neste período, era crescente o empobrecimento dos trabalhadores e suas péssimas condições de sobrevivência (MARTINELLI, 2011). A relação de ajuda proposta pelo Serviço Social nos Estados Unidos possuía características vinculadas a um apoio terapêutico, na lógica do tratamento. Tinha como referenciais teóricos os conhecimentos desenvolvidos pela medicina e pela psicologia (LIMA, 1978). A ajuda que motivou a criação do Serviço Social na Europa tinha base na doutrina social da Igreja Católica. Possuía caráter de missão pessoal, de CCDD – Centro de Criaçãoe Desenvolvimento Dialógico 6 vocação, de doação de vida em favor de uma causa. Assim, o Serviço Social surgia com características de “profissionalização da ajuda”. Neste caso, o amparo teórico para a ação encontrava-se na filosofia e mesmo na explicação religiosa da vida e da sociedade, segundo a doutrina católica. A ajuda realizada por motivações religiosas era conduzida com estratégias do trabalho pastoral da Igreja Católica. Foi marcante nesse processo o Movimento de Ação Católica, que compreendia grupos de reflexão sobre a situação social, ações de evangelização de intelectuais e iniciativas de apoio aos fiéis empobrecidos. Dentro deste Movimento, era designado um grupo específico para o atendimento de indivíduos e pequenas comunidades com suporte material e aconselhamentos. Esse grupo era formado em geral por mulheres da alta sociedade da época e deu origem às primeiras iniciativas de formalização do Serviço Social na Europa (AGUIAR, 1982). A atitude do Serviço Social, neste período, confundia-se facilmente com um processo de prática religiosa católica. A intervenção era pontual, com características de assistencialismo. O fundamento da ação era a crença, o amor a Deus e o ensinamento sobre a prática da caridade como socorro aos mais necessitados. Tanto na experiência norte-americana quanto na experiência europeia, com grande influência católica, não havia uma intenção crítica de questionar a conjuntura social em que o indivíduo estava localizado e mesmo de pretender mudanças estruturais. Entendia-se a novidade do capitalismo como um modelo insuperável e definitivo, dentro do qual os indivíduos deveriam ajustar-se. Conforme apresentados por Aguiar (1982, p. 32), escritos do ano de 1949, que registram a Sessão Internacional de Estudos, promovida pelo Secretariado Latino-Americano da União Católica Internacional de Serviço Social, apresentam o seguinte conceito para o Serviço Social católico: uma forma de ação social que, por métodos técnicos apropriados, baseados em dados científicos, quer contribuir para a instauração ou manutenção da ordem social cristã favorecendo, a criação ou o bom funcionamento dos quadros sociais necessários ou úteis ao homem. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 A professora Neiva fala o assunto no vídeo disponível no material on-line! Experiência baseada em São Vicente de Paulo A prática inicial do Serviço Social não contava ainda com uma metodologia consistente, construída por seus profissionais. Era pautada nos ensinamentos filosóficos, sociais e morais da Igreja Católica. Contudo, contava com um conjunto de estratégias de organização. Destacou-se neste processo São Vicente de Paulo. São Vicente (1576-1660), um sacerdote católico, assumiu a missão de cuidado dos pobres de sua época. Uniam-se à sua causa, homens e mulheres que desejavam colaborar nesta ação. Assim, São Vicente de Paulo destacou-se por organizar a caridade. Desta forma, administrava recursos materiais e humanos disponíveis para realizar a ajuda aos empobrecidos. Para conhecer sobre os métodos de trabalho e organização desenvolvidos por São Vicente e sua influência no Serviço Social, contaremos com a produção de Balbina Ottoni Vieira (1984), denominada “Serviço Social: precursores e pioneiros”. São Vicente destacou-se por sua forma de intervenção junto aos pobres, doentes, crianças e mendigos da época. Enquanto religioso, abraçou o serviço aos pobres como missão pessoal e influenciou muitos fiéis católicos a colaborarem neste processo. Incentivou famílias católicas da burguesia a desenvolverem ações de caridade junto às famílias pobres. Tais ações eram organizadas por ele. Em princípio, as mulheres eram incentivadas a visitar duas ou três famílias pobres e ofertar ajuda em suas necessidades. As mulheres que aderiam a esta prática eram de famílias nobres e consideradas damas da sociedade da época. São Vicente desenvolveu um programa de orientação para que essas damas realizassem as visitas domiciliares. Compreendia a formação de que deveriam visitar e orientar as pessoas doentes, e prestar esclarecimentos a estas para que buscassem ajuda médica sempre que necessário. Ainda considerava indicações de que as famílias deveriam ser assistidas materialmente com alimentos e não com dinheiro, de uma forma integral quando não tinham condições de se sustentar, e de forma complementar quando CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 desenvolviam atividades cuja remuneração era insuficiente para a sobrevivência. Os grupos de damas que desenvolviam suas ações sob as orientações de São Vicente foram chamados de Confrarias da Caridade (VIEIRA, 1984). Um segundo tipo de grupo dedicado à ação junto aos pobres foi composto por jovens camponesas que tinham a intenção de dedicar-se às funções religiosas. Estas distinguiam-se das damas por possuírem personalidades mais simples e menos competitivas, bem como possuíam maior disposição de convívio com as pessoas pobres, o que se tornara um problema para algumas damas. Essas jovens, contudo, precisavam passar antes por processos educativos. Recebiam então formação em conhecimentos básicos de linguagem e cálculo e no catecismo. Estas foram consideradas as Filhas da Caridade. Para sua formação e organização do trabalho realizado pelas Filhas da Caridade, São Vicente contou com a ajuda de Luísa de Marillac, mulher da nobreza, viúva e religiosa dedicada. Luísa acompanhava a prática das jovens e orientava como deveriam ser suas atitudes em relação às famílias pobres. Mantinha-se a estratégia das visitas domiciliares, da orientação aos doentes e do apoio material. As ações organizadas por São Vicente compreendiam também a oferta de apoio espiritual e ensinamento doutrinário às famílias visitadas (VIEIRA, 1984). Luísa de Marillac também apoiou São Vicente na organização de ações de apoio às crianças abandonadas de sua época. O fenômeno era comum e contava com o agravante de que tais crianças eram vistas com grande preconceito pela sociedade. Este preconceito se originava no fato de que muitas eram abandonadas por terem sido concebidas em relações fora do casamento, o que lhes atribuía um estigma de “produtos do pecado”. São Vicente e Luísa de Marillac assumiram o cuidado de abrigos para crianças abandonas e organizavam ações educativas para estas. Foram pioneiros nas orientações de educação das crianças evitando o recurso ao castigo físico, que era aceito na época (VIEIRA, 1984). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Outro público alcançado pelas ações de São Vicente foram os mendigos. Para organizar as ações de caridade a estes, foram organizados grupos de voluntários homens, denominados Servos de Deus. Para ação junto aos mendigos, São Vicente os classificou em três diferentes perfis, conforme nos descreve Vieira (1984, p. 41): As categorias de mendigos eram em número de três: 1) os pobres ‘impotentes’, que não tinham meios de subsistência e, portanto, tinham direito a ‘esmolas’ e podiam ser admitidos no ‘Hôtel-Dieu’, o único hospital existente naquele tempo. Até 1665, todos os hospitais criados depois do Hotel-Dieu eram encarregados da triagem dos pobres verdadeiros ou falso; para serem reconhecidos, os pobres verdadeiros levavam uma cruz amarela pregada no ombro direito; 2) os pobres ‘válidos’, que podiam trabalhar e que a municipalidade empregava em trabalhos públicos. A situação destes era revista duas vezes por ano; 3) os ‘capazes’ de trabalhar, que eram encaminhados a empregos e, se continuassem a mendigar, eram presos por vagabundagem. Esta é uma síntese sobre a forma detrabalho de São Vicente de Paulo que tanto influenciou a prática de religiosos e fiéis católicos junto aos pobres. Tais estratégias tiveram forte impacto sobre a formação e a condução das atividades do Serviço Social que surgia na Europa, bem como nas características do trabalho dos primeiros assistentes sociais do Brasil e outros países da América Latina (CASTRO, 2008). As ações dos assistentes sociais, em seus primeiros anos, reproduziam a prática vicentina das visitas domiciliares, do aconselhamento moral e espiritual, da dispensação de donativos materiais e da gestão da caridade. Conheça mais sobre as características do Serviço Social brasileiro, em suas origens, influenciadas pelo trabalho e ensinamentos de São Vicente de Paulo, assistindo ao vídeo que está disponível no material on-line! Método ver, julgar e agir As ações realizadas pelo Serviço Social, em suas origens, na Europa, estavam diretamente vinculadas ao Movimento de Ação Católica. Este movimento compreendia, para além das intervenções realizadas pelo Serviços CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Social, a realização de “círculos de estudos”. Nesses círculos eram discutidas as possibilidades estratégicas e metodológicas para se promover uma maior reflexão pelo público atendido. Pretendiam contribuir para “desenvolver o raciocínio e despertar o sentido social”. Como via de realização deste objetivo o Movimento de Ação Católica desenvolve e lança mão de um método específico: o método “ver, julgar e agir” (AGUIAR, 1982). O método ver, julgar e agir, adotado pela Ação Católica foi recomendado a toda a Igreja Católica pelo Concílio Vaticano II, em 1965. No Brasil, foi adotado inicialmente pela Juventude Universitária Católica, ligada ao Movimento de Ação Católica, em 1935, e teve expansão de seu alcance com a evidência deste mesmo movimento e posteriormente do Movimento Católico de Teologia da Libertação (MAFRA e BARROS, 2008; MORAES, 2012). A organização do método propunha a intervenção em três etapas: ■ Ver: apreciação da realidade vivenciada pela comunidade ou grupo, explorando as diferentes características do problema, principalmente suas causas e consequências. Compreendia o uso de instrumentais de apoio à reflexão como filmes, dinâmicas de grupo, documentários e outros (MAFRA e BARROS, 2008). Esta etapa propunha-se avançar no conhecimento dos problemas para além do imediato, do superficial. Era considerado necessário compreender quais as principais causas de origem das situações vivenciadas, a partir do entendimento que se a solução é definida apenas sobre os elementos superficiais, não ocorre significativa mudança (MORAES, 2012). ■ Julgar: tratava-se da avaliação do problema à luz de textos bíblicos ou outros referenciais teóricos que permitissem a concepção de objetivos a serem alcançado, de mudanças frente às realidades anteriormente discutidas (MAFRA e BARROS, 2008). ■ Agir: tratava-se do planejamento e execução de ações capazes de transformar a realidade identificada na etapa “ver”, nas realidades CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 desejadas pela etapa “julgar” (MAFRA e BARROS, 2008). Esta etapa pode ocorrer em curto, médio ou longo prazo, como vemos a seguir: Após o julgar, é preciso conduzir as discussões para o Agir, para a ação transformadora, seja ela imediata, a médio ou a longo prazo. Isso se dá com a organização de um plano. As ações imediatas podem ser resolvidas desta forma, mas, as ações de longo prazo são atingidas de forma parcial e indireta. O enfrentamento e a resolução dos pequenos problemas encorajam as pessoas para os desafios maiores. As mudanças são realizadas nos processos (MORAES, 2012, p.149). Sobre este método, é possível dizer que foi uma alternativa possível ao Serviço Social que se originou dentro do contexto do Movimento de Ação Católica e continuou sendo um método próximo de todos os profissionais que, ao longo dos anos, desenvolveram sua prática profissional vinculada a instituições religiosas católicas, pois este foi um método difundido entre as mais diferentes expressões da ação social católica. Contudo, observa-se a distinção das bases teóricas que subsidiavam o método durante o período de expansão da Ação Católica, com características mais conservadoras, das referências que sustentam o método a partir da evidência do Movimento da Teologia da Libertação. Este último conta com influências teóricas críticas que compreendem o questionamento do sistema e do capital (MORAES, 2012). Saiba mais sobre o método assistindo ao vídeo que está disponível no material on-line! A formação nas primeiras escolas de Serviço Social As primeiras escolas de Serviço Social na Europa contavam com explícita influência da Igreja Católica, pois o Serviço Social era entendido como uma expressão prática da ação social desta. Assim, a formação na área do Serviço Social era constituída tendo os valores, princípios e objetivos católicos como principais balizadores de seus currículos e metodologias. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 No Brasil, as primeiras escolas de Serviço Social possuíam forte influência das escolas europeias da França e Bélgica. Seguia-se, portanto, o mesmo modelo de formação. Primeiras escolas no Brasil: ■ Escola de Serviço Social de São Paulo, criada em 1936; ■ Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro, criada em 1937. Segundo apresentado por Antonio Geraldo de Aguiar (1982), em sua obra “Serviço Social e Filosofia: das origens a Araxá”, as principais características da formação nas primeiras escolas de Serviço Social no Brasil são: ■ Sustentação teórica na visão de mundo desenvolvida pelo neotomismo; ■ Primazia da formação doutrinária e moral sobre a formação técnica; ■ Visava à reconstrução da sociedade em bases cristãs; ■ Reforma, mas com respeito às autoridades; ■ Formação compreendida em quatro pontos: científica, técnica, prática e pessoal. A dimensão metodológica da formação do Serviço Social, neste período, era essencialmente voltada à formação moral e religiosa. O corpo docente precisava comprovar coerência com os valores, saberes e práticas propostas pelo catolicismo, assim como competência para transmitir tais ensinamentos. O corpo discente deveria ser formado nesta coerência e comprovar possuir vocação para o exercício do Serviço Social. Neste período, a escolha pela profissão era concebida como uma resposta a uma missão pessoal dada por Deus (AGUIAR, 1982). Na prática profissional, as ações limitavam-se basicamente em atendimentos individuais pontuais e nas visitas domiciliares às famílias empobrecidas. A orientação teórica para aprimoramento da técnica era de cunho moral, com recomendações de não envolvimento com questões de caráter econômico ou com ideologias políticas (AGUIAR, 1982). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Para conhecer mais, assista ao vídeo em que a professora Neiva fala sobre os aspectos da formação nas primeiras escolas de Serviço Social. Acesse o material on-line! Trocando ideias Caro(a) aluno(a), iniciamos o nosso conhecimento sobre a metodologia do Serviço Social, fazendo um resgate histórico sobre as ações, formação e práticas nos primeiros anos da profissão. Certamente eram muito diferentes da atuação profissional desenvolvida atualmente. Conhecer a história da profissão que desejamos seguir é sempre muito interessante e mesmo fundamental! Tratamos, nesta aula, dos seguintes itens: “ajuda como motivador da ação”; “experiências de São Vicente”; “método ver,julgar e agir”; e “formação nas primeiras escolas”. Qual destes temas te chamou mais a atenção? Por quê? Compartilhe com seus colegas no fórum desta disciplina e saiba também o que os demais alunos consideraram como interessante. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem! Na prática Agora vamos exercitar nosso aprendizado usando nosso conhecimento e nossa imaginação. Neste momento, coloque-se no lugar de uma Assistente Social formada em uma das primeiras escolas de Serviço Social do Brasil. Você foi contratada para atuar num bairro, junto a famílias pobres e soube que deverá atender uma família em que convivem o casal e seus três filhos. Os adultos estão sem trabalho e por isso procuraram ajuda para o sustento familiar. Seguindo as orientações que eram dadas nas primeiras escolas de Serviço Social, como você deveria fazer este atendimento? Quais técnicas poderia utilizar? O que deveria fazer e dizer? Apresente detalhadamente a descrição de quais seriam suas atitudes profissionais neste contexto. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Protocolo de resposta Os alunos deverão indicar que realizarão visitas domiciliares; que providenciarão doação material para a família, prioritariamente em forma de alimentos; que incentivarão os adultos, principalmente o homem a conseguir um trabalho; que levarão orientações morais e doutrinárias para que a família viva bem a fé cristã; que serão um exemplo de caridade e de vivência da fé católica. Para os comentários da professora Neiva, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Síntese Caro(a) aluno(a), nesta aula nós estudamos sobre a metodologia do Serviço Social em sua gênese, ou seja, em suas origens. Compreendemos que metodologia é o estudo dos métodos. E conhecemos as primeiras expressões de método incorporadas pelo Serviço Social, principalmente por influência dos ensinamentos e práticas da Igreja Católica. Entendemos que um dos principais motivadores da atuação do Serviço Social, em seus primeiros anos, foi a ajuda. A atuação dos primeiros assistentes sociais na Europa e no Brasil teve grande influência das práticas de São Vicente de Paulo, voltadas às visitas domiciliares, aconselhamentos e apoio material e espiritual. Outro método católico presente no período inicial da profissão ficou conhecido como “ver, julgar e agir”. Tais práticas e influências católicas estiveram explícitas na formação dos profissionais em suas primeiras escolas. Assim, avançamos no conhecimento da história da profissão do Serviço Social, sob a ótica de análise de sua dimensão metodológica. Em nossa problematização inicial refletimos sobre a origem da profissão do Serviço Social e como atuavam os primeiros Assistentes Sociais. Nos perguntamos se as formas de atuação praticadas no início da profissão perduram até os dias de hoje. Conhecemos estas diferentes formas de atuação e pudemos entender que foram práticas específicas daquele momento histórico CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 e que já foram superadas pelo desenvolvimento da profissão ao longo da história. Saberemos ainda mais sobre isso, seguindo com as próximas aulas. Para as considerações finais da professora Neiva, assista ao vídeo que está disponível no material on-line! Referências AGUIAR, A. G. de. O Serviço Social no Brasil: das origens a Araxá. São Paulo: Cortez: Piracicaba: Universidade Metodista de Piracicaba, 1982. CASTRO, M. M. História do Serviço Social na América Latina. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2008. LIMA, B. A. Contribuição à metodologia do Serviço Social. Tradução de Yonne Grossi. 3. edição. Belo Horizonte: Interlivros, 1978. MAFRA, W. BARROS, J. C. C. A mística da libertação. In. BROSE, M. (org.) Lideranças para a democracia participativa: experiências a partir da teologia da libertação. Goiânia: Editora da UCG, 2008. MARTINELLI, M. L. Serviço Social: identidade e alienação. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2011. MORAES, L. E. P. Materialismo histórico e dialético: método, práxis, educação. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Unimep. São Paulo: Piracicaba: Unimep, 2012. VIEIRA, B. O. Serviço Social: precursores e pioneiros. Rio de Janeiro: Agir, 1984.
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