Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ORGANIZADORAS CRISTIANA ARAÚJO GONTIJO ISIS DANYELLE DIAS CUSTÓDIO FITOTERAPIA EM NUTRIÇÃO CLÍNICA UNITRI Centro Universitário do Triângulo 2017 Fitoterapia em Nutrição Clínica Direitos de edição reservados à UNITRI – Centro Universitário do Triângulo. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, apropriada e estocada, por qualquer forma ou meio, sem autorização do detentor dos seus direitos de edição. Fitoterapia em nutrição clínica / [organizadoras] Cristiana Araújo Gontijo, Isis Danyelle Dias Custódio. - Uberlândia, Minas Gerais: UNITRI Centro Universitário do Triângulo, 2017. Inclui bibliografia. ISBN 978-85–60926-09-1 1. Fitoterapia. 2. Nutrição Clínica. I. Gontijo, Cristiana Araújo. II. Custódio, Isis Danyelle Dias. CDD 612.3 SUMÁRIO CAPÍTULO I - FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA DISLIPIDEMIA----------------- 4 CAPÍTULO II - PLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DA DISLIPIDEMIA: Cynara scolymus, Camellia sinensis, Ilex paraguariensis, Solanum melongena L. e Plantago ovata --------------------------------------------------------------------------------- 25 CAPÍTULO III - FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA -------------------------------------------------------------------------------------------- 35 CAPÍTULO IV - FITOTERAPIA E OBESIDADE --------------------------------------------- 48 CAPÍTULO V - FITOTERAPIA E DIABETES MELLITUS -------------------------------- 61 CAPÍTULO VI - FITOTERAPIA E SISTEMA IMUNOLÓGICO: Bowdichia virgiloides Kunth ----------------------------------------------------------------------------------- 74 CAPÍTULO VII - FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DE GASTROPATIAS -------- 84 CAPÍTULO VIII - FITOTERAPIA E SISTEMA OSTEOARTICULAR ------------------ 95 CAPÍTULO IX - FITOTERAPIA E SISTEMA INTESTINAL ----------------------------- 119 CAPÍTULO X - FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA RETOCOLITE ULCERATIVA --------------------------------------------------------------------------------------- 132 CAPÍTULO XI - ADAPTÓGENOS ------------------------------------------------------------- 138 CAPÍTULO XII- FITOTERÁPICOS NO CICLO DE VIDA MATERNO-INFANTIL - 162 CAPÍTULO I - FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA DISLIPIDEMIA Flávia Fernandes de Oliveira Rodrigues e Lúcia Endriukaite DISLIPIDEMIA A dislipidemia compreende um dos principais fatores de riscos para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e o aparecimento da aterosclerose (SBC, 2013). Caracteriza-se por altos níveis plasmáticos de colesterol total (CT), lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), triglicerídeos (TG) e baixas concentrações de lipoproteína de alta densidade (HDL-C) (MILLER, 2003). As doenças cardiovasculares são responsáveis pelas altas taxas de mortalidade e morbidade em todo o mundo. Diante dessas consequências, o tratamento da dislipidemia é de extrema importância para a prevenção de infarto agudo do miocárdio, doença aterosclerótica arterial coronária, acidente vascular cerebral e doenças coronarianas (SBC, 2007). Dentre os tratamentos utilizados para combater a dislipidemia cita-se o uso de medicamentos hipolipemiantes, redução do consumo de alimentos ricos em carboidratos e gorduras, adoção de hábitos alimentares saudáveis e prática de atividade física (ALIBASIC et al., 2015; MUSUNURU, 2010). O uso de estatinas, drogas inibidoras da HMG-COA Redutase (3-hidroxi-3methyl-glutaril-Coa redutase) que é uma enzima que participa da via metabólica de produção de colesterol, apresentam eficácia na redução da hipercolesterolemia e prevenção de doenças cardiovasculares (SBC, 2013). Apesar de sua eficácia, pode causar efeitos colaterais, como aumento das transaminases hepáticas e dor ou fraqueza muscular (ARMITAGE et al., 2009). A fitoterapia tem sido utilizada na medicina popular, desde a antiguidade, para tratamentos de diversas patologias (AKINDAHUNSI; OLALEVE, 2003). Constitui uma das alternativas que vem complementar a prescrição dietética desde que tenham embasamento científico ou uso tradicional reconhecido. Contudo, a utilização dos fitoterápicos deve ser prescrita por profissionais especialistas em fitoterapia, para maior segurança (CNF, 2013). 4 FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA DISLIPIDEMIA A dislipidemia pode resultar em várias complicações como doenças cardiovasculares, aterosclerose e acidente vascular cerebral, além de estar associada à síndrome metabólica (SBC, 2013). A manutenção dos níveis de HDL-C, CT e LDL-C dentro dos valores de referências auxiliam na proteção contra estas enfermidades (SBC, 2007). A prevenção e o tratamento são importantes para evitar complicações futuras. O uso da fitoterapia tem se destacado por ser de origem vegetal e possuir fitoquímicos que são capazes de promover benefícios no tratamento de patologias quando utilizados adequadamente (BRASIL, 2006; CNF, 2013). Este capítulo apresenta quatro fitoterápicos com propriedades hipolipemiantes, mostrando benefícios no tratamento da dislipidemia: Alho (Allium sativum L.), Uva (Vitis vinifera L.), “Sementes pretas” (Nigella sativa L.) e Hibisco (Hibiscus sabdariffa L.). Os efeitos hipolipemiantes mencionados apresentam relevância significativa, baseada em evidências científicas. ALHO (Allium sativum L.) O alho (Allium sativum L.) da família Liliaceae é constituído por compostos de enxofre, destacando-se a alicina, que possui atividade antioxidante e hipolipemiante, sendo indicado como coadjuvante na proteção de doenças cardiovasculares e aterosclerose (LAU, 2006; YIN et al., 2012). Além desses benefícios, o alho possui também propriedades antibacteriana, antitrombótica, hipotensora e antioxidante (LAU, 2006; MOZAFFARI et al, 2014; RIED; TRAVICA; SALI, 2016; RAHMAN; LOWE; SMITTH, 2016). As propriedades hipolipemiantes do alho podem estar relacionadas com redução da enzima HMG-Coa Redutase, que participa da via metabólica de produção de colesterol (RAI; SHARMA; TIWARI, 2009). O Allium sativum L. em cinco artigos identificados (ASHRAF et al., 2005; SOBENIN et al., 2008; SOBENIN et al., 2010; YIN et al., 2012; EBRAHIMI et al., 2015) apresentou redução do perfil lipídico, conforme pode ser verificado no Quadro 1. 5 Quadro 1. Efeitos do Allium sativum L. no tratamento da dislipidemia. Referência Alvo Planta medicinal Estudo Dose Tempo Resultados Ashraf et al., 2005 Dislipidemia Allium sativum L. comprimido Humanos (n=70) 300mg (contendo 1,3% alicinas) duas vezes ao dia 12 semanas ↓ CT, ↓ LDL-C e ↑ HDL-C Sobetin et al., 2008 Hipercolesterolemia Allium sativum L. em pó Humanos (n=42) 600mg/dia 12 semanas ↓ CT, ↓ LDL-C e ↑ HDL-C Sobenin et al., 2010 Hipercolesterolemia e doença cardíaca Allium sativum L. em pó comprimido Humanos (Homens n=28; mulheres n=23). 150mg duas vezes por dia 12 meses ↓ CT, ↓ LDL-C (homens e mulheres). ↓ 1,5 vezes risco cardíaco (Homens) ↓ 1,3 vezes risco cardíaco (Mulheres) Yin et al., 2012 Hipercolesterolemia Alicina em pó Ratos (n=24) 5, 10 e 20mg/kg/dia 12 semanas ↓ CT, ↓ LDL-C e ↓ TG em todas as doses, principalmente na dose de 20mg/kg/dia. Ebrahimi et al., 2015 Hipercolesterolemia Extrato seco de Allium sativum L. Ratos(n=40) 200 e 400mg/kg/dia Duas e quatro semanas ↓ LDL-C e ↑ HDL-C, principalmente na dose de 400mg/kg/dia. LDL-C= Lipoproteína de baixa densidade; CT=Colesterol total; TG= Triglicerídeos; HDL-C= Lipoproteína de alta densidade; ↓ Redução; ↑ Aumento; mg: Miligramas; kg: quilogramas; n=número. 6 Em estudo duplo-cego randomizado de Ashraf et al. (2005), foi utilizado comprimido de alho com dose de 300mg (contendo 1,3% de alicina) duas vezes ao dia, durante 12 meses em pacientes com dislipidemia e portadores de Diabetes Mellitus Tipo 2, tendo sido verificada redução significativa de CT (-28mg/dL, -12,03% p=<0,001), LDL-C (-30mg/dL, -17,99% p=<0,001) e aumento de HDL-C (3,35mg/dL, 8,81% p=<0,05). Entretanto, houve um pequeno aumento de TG, mas não significativo em relação ao grupo placebo. O estudo mostrou que o alho apresenta benefícios no tratamento da dislipidemia e, além disso, teve uma boa tolerância pelos pacientes. Sobenin et al. (2008) em estudo duplo-cego randomizado, utilizaram comprimidos de alho na dose de 600mg/dia, observando-se ao final de 12 semanas, redução de 11,5% no CT (p=0,005) e 13,8% do LDL-C (p=0,009), em comparação com o grupo placebo. O HDL-C aumentou significativamente após oito semanas, apresentando no final aumento de 11,5% (p<0,0013) (SOBENIN et al., 2008). O alho apresentou efeitos moderados e significativos após oito e 12 semanas de tratamento, respectivamente, em 42 homens com hipercolesterolemia leve (SOBENIN et al., 2008). Em outro estudo duplo-cego randomizado de Sobenin et al. (2010), a dose de 150mg de alho em comprimido, duas vezes por dia, durante 12 meses, em 51 pacientes com doença arterial coronariana, apresentou reduções no CT e LDL-C de 32,9 mg/dL em homens (p<0,05) e de 27,3mg/dL em mulheres. Houve melhorias do TG e HDL-C, mas não atingiu as estatísticas. O efeito do alho sobre o LDL-C foi o principal contribuinte para as reduções do risco cardiovascular de 1,5 vezes menor em homens (p<0,05) e cerca de 1,3 vezes menor em mulheres (SOBENIN et al., 2010). O alho possui efeitos terapêuticos significativos e seguros em relação aos efeitos adversos, assim pode ser utilizado como coadjuvante no tratamento da dislipidemia e pode proporcionar prevenção secundária da aterosclerose em pacientes portadores de doenças cardiovasculares (SOBENIN et al., 2010). Yin et al. (2012) realizaram estudo experimental em ratos, com utilização de doses de 5mg/kg, 10mg/kg e 20mg/kg peso/dia de alicina, uma substância presente no alho. Houve redução do CT, LDL-C e triglicerídeos nas três doses. Não houve relatos de alterações significativas do HDL-C em nenhuma das doses. Com a dose de 20mg/kg peso/dia, houve maior redução de LDL-C, menor acúmulo de lipídeos 7 nas células hepáticas, além de ter proporcionado maior redução de peso e menor consumo de alimentos nos animais. A alicina possui potencial para baixar o colesterol, prevenir doenças ateroscleróticas e sem evidencias de toxicidade. O extrato seco de alho possui propriedades hipolipemiantes significativas comprovadas em estudo com ratos alimentados com dieta rica em gordura, no qual foi utilizado extrato de alho na dose de 200mg/kg/dia e 400mg/kg/dia durante duas e quatro semanas. Houve redução das concentrações de LDL-C e aumento de HDL-C nas duas doses, especialmente na dose de 400mg/kg/dia. (EBRAHIMI et al., 2015). A redução do LDL-C e o aumento de HDL-C possui efeito favorável para a prevenção de doença arterial coronariana (EBRAHIMI et al., 2015). UVA (Vitis vinifera L.) Vitis vinifera L. (uva) pertence à família das vitáceas, de origem europeia, é muito cultivada para a produção de vinhos (KAMMER et al., 2004). Esta planta é rica em polifenóis, antocianinas, catequinas e flavonoides presentes nas cascas e sementes (KAMMER et al., 2004). As proantocianidinas, encontradas nas sementes, são eficazes na redução da adipogênese, proteção contra radicais livres, inibição da trombogênese, modulação da atividade de enzimas na ciclooxigenase e lipooxigenase. (SANO et al., 2007). Vitis vinifera L. possui eficácia na proteção e tratamento de doenças cardiovasculares (SANO et al., 2005). Nos quatros artigos selecionados (YUBERO et al., 2013; CAO et al., 2015; THIRUCHENDURAN et al., 2010; RAZAVI et al., 2013) sobre a utilização da Vitis vinifera L., foram identificados resultados positivos com relação à redução do perfil lipídico e, principalmente, contra a oxidação de radicais livres, conforme pode ser verificado no Quadro 2. 8 Quadro 2. Efeitos de Vitis vinifera L. no tratamento da dislipidemia. Referência Alvo Planta medicinal Estudo Dose Tempo Resultados Thiruchenduran et al., 2010 Hipercolesterolemia Sementes de Vitis vinifera L. em pó (proantocianidinas) Ratos (n=24) 100mg/kg peso/dia 30 dias ↓ da oxidação de LDL-C e ↑ do HDL-C Razavi et al., 2013 Hipercolesterolemia leve Extrato seco de semente de Vitis vinifera L. Humanos (n= 52) 100mg 2 vezes ao dia 8 semanas ↓ CT; ↓ LDL-C;↓ OX-LDL-C Yubero et al., 2013 Hipercolesterolemia Extrato seco de Vitis vinifera L. (cascas - polifenóis) Humanos (Homens n=29) (Mulheres n=31) 700mg/dia 56 dias ↓ CT; ↓LDL-C; ↓ LDL/HDL-C Cao et al., 2015 Placa na artéria carótida Extrato seco de semente de Vitis vinifera L. Humanos (n= 287) 200mg/dia 24 meses ↓ da progressão e do Índice da placa da artéria carótida; Desaparecimento de 39 placas ateroscleróticas. LDL-C= Lipoproteína de baixa densidade; CT=Colesterol total; OX-LDL-C= partícula de lipoproteína de baixa densidade oxidativa; HDL-C= Lipoproteína de alta densidade; ↓ Redução; ↑ Aumento; mg: Miligramas; kg: quilogramas; n=número. 9 Em um estudo de Thiruchenduran et al. (2010), o extrato de proantocianidinas de sementes de Vitis vinifera L. na dose de 100mg/kg/peso durante 30 dias apresentou efeito cardioprotetor em ratos com hipercolesterolemia induzida por dieta contendo 4% de colesterol e 1% de ácido eólico. Vitis vinifera L. foi capaz de reduzir lipídios para próximo dos níveis normais, atenuar os efeitos da oxidação de LDL-C, aumentar HDL-C e reduzir apoptose. O estudo sugere que proantocianidinas possui capacidade de reduzir os radicais livres e inibir a absorção de colesterol. Razavi et al. (2013), em um ensaio clínico cruzado com 52 indivíduos com hipercolesterolemia leve, relataram que extrato seco de sementes de uva na dose de 100mg, duas vezes ao dia, manhã e noite, durante oito semanas, reduziu CT (- 10,68±26,76mg/dL) (p=0,015); LDL-C (-9,66±23,92mg/dL) (p=0,014) e OX-LDL-C (- 5,47±12,12mg/dL) (p=0,008). O OX-LDL-C representa partículas de lipoproteína de baixa densidade oxidativa que leva ao desenvolvimento de aterosclerose. Houve reduções de TG e VLDL-C e aumento de HDL-C, mas não considerados significantes. Extrato de sementes de uva possui efeito antioxidante, hipolipemiante e cardioprotetor (RAZAVI et al., 2013). Em ensaio clínico randomizado com 60 voluntários, Yubero et al. (2013) identificaram que o extrato seco de Vitis vinifera L. na dose de 700mg/dia, durante 56 dias, foi benéfico na redução dos níveis sanguíneos de colesterol e LDL-C. O colesterol inicial com média de 247,43mg/dl reduziu para 213,77 mg/dl (p=0,01); LDL-C inicial de 166,67mg/dl reduziu para 142,17mg/dl (p=0,02); e relação de LDL/HDL inicial de 3,84mg/dl reduziu para 3,08mg/dl (p=0,018), ressaltando o efeito deste extrato na redução do risco de doenças cardiovasculares. O extrato seco de sementes de Vitis vinifera L. na dose de 200mg/dia foi eficaz na reduçãode 4,2% e 5,8% da progressão da placa da artéria carótida após seis e 24 meses, respectivamente, em 287 pacientes (CAO et al., 2015). Além disso, foi verificada redução do Índice da placa em 10,9% após seis meses e em 33,1% após 24 meses, em relação ao grupo placebo (CAO et al., 2015). Após o tratamento por 24 meses, o extrato seco de semente de uva foi capaz de reduzir a placa, impedir o crescimento e causar o desaparecimento de 39 placas da artéria carótida, umas das consequências mais avançadas da dislipidemia (CAO et al., 2015). Os pacientes não relataram nenhum efeito adverso. O extrato seco de sementes de 10 Vitis Vinifera L. possui efeitos benéficos na redução de lesão aterosclerótica e eventos cardiovasculares (CAO et al., 2015). SEMENTES PRETAS (Nigella sativa L.) A Nigella sativa L., da família Ranunculaceae, é conhecida popularmente como “sementes pretas”, muito utilizadas nas áreas do Mediterrâneo e na Índia para o tratamento de patologias (MAHMOUD; EL-ABHAR; SAHEH, 2002). As sementes são altamente nutritivas, fontes ricas em ácidos graxos linoleicos e oleicos e possui composto como a timoquinona que podem conferir a atividade hipolipemiante (NICKAVAR et al., 2003).O seu mecanismo de ação no tratamento da dislipidemia pode estar relacionado com a redução da síntese de colesterol pelos hepatócitos, estimulação da síntese de ácidos biliares, redução da peroxidação lipídica, aumento dos receptores de LDL-C e menor absorção de colesterol dietético pelo intestino (AL-NOGEEP et al., 2009). Nigella sativa L. promoveu reduções do perfil de lipídeos em sete artigos selecionados (TASAWAR et al., 2011; SABZAGHABAEE et al., 2012; KAATABI et al., 2012; AHMAD; BEG, 2013; ALOBAIDI, 2014; IBRAHIM et al., 2014; MUNEERA; MAJEED; NAVEED, 2015), conforme presente no Quadro 3. 11 Quadro 3. Efeitos de Nigella sativa L. no tratamento da dislipidemia. Referência Alvo Planta medicinal Estudo Dose Tempo Resultados Tasawar et al., 2011 Dislipidemia e doença coronariana Cápsula de sementes de Nigella sativa L. Humanos (n=80) 500mg/dia 6 meses ↓ CT, ↓ LDL-C, ↓VLDL-C, ↓TG e ↑HDL-C Sabzahabaee et al., 2012 Dislipidemia Cápsulas de sementes de Nigella sativa L. Humanos (n=74) 2g/dia 4 semanas ↓CT, ↓LDL-C e ↓TG. Kaatabi et al., 2012 Dislipidemia em pacientes diabéticos tipo 2 Cápsulas de sementes de Nigella sativa L. Humanos (n=71) 1, 2 e 3g/dia 12 semanas 1g= ↑ HDL-C 2g= ↓CT, ↓ TG, ↓LDL-C e ↑ HDL-C/LDL-c (dose mais eficaz) 3g= ↓ CT Ahmad; Beg, 2013 Hipercolesterolemia Extrato metanólico de óleo de Nigella sativa L. e óleo volátil Ratos (n=20) 100mg/dia de extrato metanólico e 20mg/dia de óleo volátil 30 dias 100mg/dia extrato metanólico: ↓ LDL-C, ↓ TG, ↓TC, ↓VLDL-C e ↑HDL-C (mais eficaz) 20mg/dia de óleo volátil: ↓ LDL-C, ↓ TG, ↓CT, ↓VLDL-C e ↑HDL-C Alobaidi, 2014 Dislipidemia Cápsula de pó de Nigella sativa L. e cápsula de óleo de Allium sativum L. Humanos (Homens n=127; mulheres n=131) 500mg/dia Nigella sativa L., 250mg/dia Allium sativum L. e 10mg/dia sinvastatina 8 semanas ↓CT, ↓TG, ↓LDL-C e ↑HDL-C Ibrahim et al., 2014 Mulheres com menopausa Cápsula de sementes de Nigella sativa L. Mulheres (n=30) 1g/dia 8 semanas ↓ LDL-C, ↓TG, ↓ CT, ↑ HDL-C Muneera; Majeed; Naveed, 2015 Hipercolesterolemia Sementes de Nigella sativa L. em pó Ratos (n=30) 1000mg/kg/dia 6 semanas ↓CT, ↓ LDL-C, ↓ TG e ↑ HDL-C. LDL-C= Lipoproteína de baixa densidade; CT=colesterol total; TG= triglicerídeos; VLDL-C= lipoproteína de muita baixa densidade; HDL-C= lipoproteína de alta densidade; ↓ Redução; ↑ Aumento; mg: miligramas; kg: quilogramas; n=número. 12 O estudo experimental com intervenção de Tasawar et al. (2011) avaliou o efeito de cápsulas de 500mg/dia de pó de sementes de Nigella sativa L. em 80 indivíduos durante seis meses. A associação de Nigella sativa L. com estatina apresentou melhores resultados, com reduções de 14,58% no CT, 23% no LDL-C, 15,16% no VLDL-C, 15,16% no TG e aumento de 3,18% no HDL-C (p<0,05), quando comparado ao grupo que recebeu somente estatina, nas doses de 10 e 20 mg/dia (TASAWAR et al., 2011). O grupo que recebeu somente estatinas obteve reduções de 1,17% no CT; 4,13%no LDL-C; 2,12% no TG; 3,10% no VLDL-C, porém não significativas (p>0,05); e aumento de HDL-C em 5,87% (p<0,05) (TASAWAR et al., 2011). Este estudo ressalta benefícios superiores da associação de Nigella sativa L. com estatinas no tratamento da dislipidemia, em comparação à utilização isolada de estatinas (TASAWAR et al., 2011). As estatinas são drogas utilizadas no tratamento da aterosclerose e que podem apresentar efeitos colaterais, principalmente no fígado (LIBBY et al., 2009). Sabzaghabaee et al. (2012) relataram em um estudo de ensaio clínico randomizado que cápsulas de sementes de Nigella sativa L., na dose 2g/dia em 74 indivíduos, reduziram 4,78% no CT; 7,6% no LDL-C e 16,65% no TG, após quatro semanas. Entretanto, não apresentou alterações significativas no HDL-C. Logo, Nigella sativa L. possui efeitos terapêuticos favorável no tratamento da dislipidemia. Kaatabi et al. (2012) em um estudo prospectivo, analisaram cápsulas de 1, 2 e 3g/dia de pó de sementes de Nigella sativa L. sobre o perfil lipídico de pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2, durante 12 semanas. Os pacientes que receberam a dose de 1g/dia apresentaram aumento do HDL-C, após quatro semanas, sem intervenção nos outros parâmetros do perfil de lipídeos. A dose de 2g/dia foi a mais eficaz, tendo sido identificadas reduções no CT de 11,1%; TG de 22,2% e LDL-C de 16,8%, bem como aumento do HDL-C em relação ao LDL-C após 12 semanas. A dose de 3g/dia não foi mais eficiente que a de 2g/dia, tendo resultado significativo apenas na redução de colesterol total. O tratamento da dislipidemia é de extrema importância, pois quando associada à Diabetes Mellitus tipo 2, contribui para o aumento do risco de doenças cardiovasculares (KUMAR; SINGH, 2010). Ahmad e Beg (2013) em estudo experimental mostraram que o extrato metanólico de 100mg/dia de óleo de sementes de Nigella sativa L. reduziu TG em 50%, CT em 60%, LDL-C em 68%, VLDL-C em 49%, e aumentou HDL-C em 23%. 13 Ao passo que, o óleo volátil de 20mg/dia reduziu o TG em 32%, CT em 61%, LDL-C em 67%, VLDL-C em 32%, e aumentou HDL-C em 12%, também durante um período de 30 dias, em ratos hipercolesterolêmicos. Em ambos os casos, ocorreu redução da atividade da HMG-COA Redutase hepática. Os triglicerídeos foram reduzidos para níveis próximos aos normais em ambas às frações de testes. Ácido linoleico, timoquinona e ácido palmítico nos extratos metanólicos, e de timoquinona, timol e carvacrol no óleo volátil, são os compostos que conferem as atividades hipolipemiantes, antioxidantes e antiterogênicas da Nigella sativa L. para o tratamento da dislipidemia e doenças cardiovasculares (AHMAD; BEG, 2013). Alobaidi (2014) em um estudo prospectivo, duplo-cego durante oito semanas com 258 pessoas, encontrou eficácia superior na correção da dislipidemia com a combinação de cápsulas de 500mg/dia de pó de sementes de Nigella sativa L., sinvastatina 10mg/dia e 250mg/dia de cápsulas de óleo de alho, em comparação ao uso isolado de sinvastatina 10mg/dia. O grupo que recebeu sinvastatina, Nigella sativa L. e Allium sativum L. apresentou redução do CT inicial de 217 mg/dL para 176 mg/dL; LDL-C de 139,4 mg/dL para 98,3mg/dL; TG de 199mg/dL para 159mg/dL; e aumento de HDL-C de 37,8 mg/dL para 45mg/dL.O grupo que recebeu apenas sinvastatina apresentou redução de TG inicial de 201 mg/dL para 187mg/dl; LDL-C de 134,7mg para 119,1mg/dl; CT de 213,6mg para 198,6mg/dL (p≤ 0,01); e aumento do HDL-C de 38,1mg/dL para 42,1mg/dL (p=0,02) (ALOBAIDI, 2014). O sinergismo de drogas com o mesmo mecanismo de ação pode trazer eficácia superior no tratamento da dislipidemia (VENKATARAMAN et al., 2004), podendo-se evitar o uso de grandes doses de estatinas, visto que os efeitos colaterais podem ser dose-dependentes (MOREYRA; WISON; KORAYM, 2005). Sementes de Nigella sativa L. em pó também apresentaram benefícios na dose de 1g/dia, em estudo experimental realizado por Ibrahim et al. (2014), durante oito semanas, em mulheres com menopausa. Houve redução de 26,60% no LDL-C; 35,10% no TG; 9,52% no CT; 9,52% na glicose (p<0,05) e aumento de 8,13% no HDL-C (p˂0,05) (IBRAHIM et al., 2014). Nigella sativa L. apresentou neste estudo, melhorias do perfil lipídico e da glicose, que são dois parâmetros da síndrome metabólica (IBRAHIM et al., 2014). A menopausa é uma fase fisiológica em que ocorrem mudanças nos níveis hormonais, estando relacionada ao aumento do risco para síndrome metabólica (SCHEIDER et al., 2006; WELLONS et al., 2012). 14 Muneera; Majeed; Naveed (2015), em um estudo de ensaio randomizado em ratos com dose de 1000mg/kg/dia de sementes de Nigella sativa L., após seis semanas, mostraram efeitos semelhantes quando comparado com sinvastatina na dose de 20mg/dia. O grupo que recebeu Nigella sativa L. apresentou reduções de 48,4% no CT; 70% no LDL-C; 25,3% no TG; e aumento do HDL-C em 53,57%. O grupo que recebeu sinvastatina apresentou aumento significativo dos níveis de ALT (Alanina transaminase), enzima relacionada à disfunção hepática. Nigella sativa L. possui função protetora da função hepática e, portanto, pode ser uma alternativa melhor do que a sinvastatina no tratamento da dislipidemia sem efeitos colaterais. Hibiscus sabdariffa L. Hibiscus sabdariffa L. da família Malvaceae, possui atividade hipocolesterolemica pela presença de polifenóis e antocianinas que são flavonoides que possuem efeitos benéficos na prevenção de doenças cardiovasculares. Hibiscus sabdariffa L. é muito utilizada na medicina popular como antibacteriana, antiespasmódica, anti-hipertensiva e antifúngica, sendo cultivada no Brasil, Caribe, Austrália, Índia, América Central, África, Filipinas e Estados Unidos (MAHADEVAN; KAMBOJ, 2008; MAZAFFARI- KHOSRAVI; JALALI, 2009). Os efeitos hipolipemiantes de Hibiscus sabdariffa L. no tratamento da dislipidemia foram mencionados nos seis artigos selecionados (HIRUNPANICH et al., 2006; LIN et al., 2007; OCHANI; MELLO, 2009; GURROLA et al., 2010; GOSAIN et al., 2010; SABZGHABAEE et al., 2013), conforme apresentado no Quadro 4. 15 Quadro 4. Efeitos de Hibiscus sabdariffa L. no tratamento da dislipidemia. Referência Alvo Planta medicinal Estudo Dose Tempo Resultados Hirunpanich et al., 2006 Hipercolesterolemia Extrato aquoso de cálices de Hibiscus sabdariffa L. Ratos (n=42) 250mg/kg/dia, 500mg/kg/dia e 1000mg/kg/dia 6 semanas Dose de 250mg/kg/dia: (não apresentou alterações significativas no perfil de lipídeos) Dose de 500mg/kg/dia: ↓ CT, ↓ TG, ↓ LDL-C. Dose de 1000mg/kg/dia: ↓ CT, ↓ TG, ↓ LDL-C. Lin et al., 2007 Hipercolesterolemia Extrato seco de flores de Hibiscus sabdariffa L. Humanos (n=42) 500mg (2,5 antocianinas, 1,7% polifenóis e 1,43% de flavonóides) 4 semanas Uma cápsula (três vezes ao dia): ↓ CT Duas cápsulas (três vezes ao dia): ↓CT (mais eficaz) Três cápsulas (três vezes ao dia): ↓ CT Ochani; Mello, 2009 Hipercolesterolemia Extrato etanólico de cálices e Extrato etanólico das folhas de Hibiscus sabdariffa L. Ratos (n=30) 500mg/kg/dia 30 dias Extrato etanólico de cálices: ↓ CT, ↓ LDL-C, ↓ VLDL-C, ↓ TG e ↑ HDL-C. (mais eficaz) Extrato etanólico das folhas: ↓ CT, ↓ LDL-C, ↓ VLDL-C, ↓ TG e ↑ HDL-C. Gurrola et al., 2010 Síndrome metabólica Extrato seco de cálices de Hibiscus sabdariffa L. Humanos (n=152) 100mg/dia 1 mês ↓ CT, ↓ TG e ↑ HDL-C Gosain et al., 2010 Hipercolesterolemia Extrato etanólico de folhas de Hibiscus sabdariffa L. Ratos (n=42) 100, 200 e 300mg/kg/dia 4 semanas 100mg/kg/dia (não apresentou alterações significativas) 200mg/kg/dia: ↓ CT, ↓ TG, ↓ LDL-C e ↓ VLDL-C. 300mg/kg/dia: ↓ CT, ↓ TG, ↓ LDL-C e ↓ VLDL-C. Sabzghabae e et al., 2013 Dislipidemia Hibiscus sabdariffa L. (cálices) em pó Adolesce ntes (n=72) 2 g/dia 1 mês ↓ CT, ↓ LDL-C e ↓ TG LDL-C= Lipoproteína de baixa densidade; CT= Colesterol total; TG= Triglicerídeos; VLDL-C= lipoproteína de muita baixa densidade; HDL-C= lipoproteína de alta densidade; ↓ Redução; ↑ Aumento; mg: Miligramas; kg: kilogramas. 16 Hirunpanich et al. (2006) avaliaram os efeitos de extratos aquosos de cálice de Hibiscus sabdariffa L. nas doses de 250, 500 e 1000mg/kg/dia em ratos com hipercolesterolemia, durante seis semanas. A dose de 500mg/kg/dia reduziu o CT em 22% (p<0,001), TG em 33% e LDC-C em 22% (p<0,05); a dose de 1000mg/kg/dia reduziu CT em 26% (p<0,001), TG em 28% (p<0,05), LDL-C em 32% (p<0,05); enquanto a dose de 250mg/dia não apresentou reduções significativas no CT, LDL-C e TG. Os níveis de HDL-C não foram alterados em nenhuma das doses testadas. Lin et al. (2007) em estudo cruzado randomizado verificaram o efeito de extrato seco de Hibiscus sabdariffa L. em 42 voluntários, durante quatro semanas. Observou-se que o grupo que recebeu uma cápsula de 500mg três vezes ao dia, após as principais refeições, apresentou redução de 14,4% do CT em 50% dos voluntários; o grupo que recebeu duas cápsulas de 500mg três vezes ao dia apresentou redução de 12% do CT em 71,4% dos voluntários; enquanto o grupo que recebeu três cápsulas três vezes ao dia apresentou redução de 8,3% do CT em 42,9% dos voluntários. Hibiscus sabdariffa L. pode reduzir o nível de CT com eficácia em voluntários com hipercolesterolemia. No estudo de Ochani e Mello (2009), a dose de 500mg/kg/dia de extrato etanólico de cálices de Hibiscus sabdariffa L. durante 30 dias, em ratos alimentados com dieta rica em gordura, reduziu em 26,33% CT (p<0,001), 74,20% TG (p<0,001), 27,35% LDL-C (p<0,001), 74,20% VLDL-C (p<0,001) e aumentou em 36,17% HDL-C (p<0,001). Extrato etanólico das folhas apresentou reduções de 24,85% no CT (p<0,001), 69,80% no TG (p<0,001), 25,23% no LDL-C (p<0,001), 69,80% no VLDL- C (p<0,001) e aumento de 32,74% no HDL-C (p<0,01). O grupo com Lovastatina na dose de 10mg/kg/dia apresentou redução de 28,70% no CT, 48,60% no TG, 32,18% no LDL-C, 48,60% no VLDL-C (p<0,001), sem, contudo, apresentar aumento significativo no HDL-C. A maior atividade hipolipemiante em animais foi de extrato etanólico de cálices seguidos do extrato etanólico de folhas. Hibiscus sabdariffa L. é rico em antioxidantes e possui efeitos hipolipemiantes, provavelmente, devido ao aumento da inibição da absorção intestinal de colesterol e aumento na expressão de receptores de LDL-C. Gurrola et al. (2010), em estudo randomizado de seguimento, observou o efeito de extrato de cálices de Hibiscus sabdariffa L. em cápsulas, administradas no 17 jejum, sobre o perfil de lipídeos de pacientes com e sem síndrome metabólica. A dose de 100mg/dia durante um mês reduziu CT, TG, Glicose, e aumentou HDL-C, em pacientes com síndrome metabólica. O grupo com síndrome metabólicaem uso de Hibiscus apresentou aumento de HDL-C em 37,5% e redução de TG em 19,7%; enquanto o grupo com Hibiscus sabdariffa em conjunto com dieta (30% de gordura, sendo <7% de gordura saturada; 55% de carboidratos, 15% de proteína, 20-30 de fibras e com colesterol <200mg/dia) apresentou aumento de 29,4% no HDL-C e redução de 37,8% no TG. Hibiscus sabdariffa L., além de suas propriedades hipotensora, possui efeitos hipolipemiantes significativos, sendo indicado no tratamento da dislipidemia e síndrome metabólica. Além disso, os exames de uréia, creatinina, ALT (alamina aminotransferase) e AST (aspartato aminotransferase) não apresentaram alterações após o tratamento, mostrando segurança na sua utilização. Gosain et al. (2010), em estudo experimental, avaliaram o extrato etanólico de folhas de Hibiscus sabdariffa L. nas doses de 100, 200 e 300mg/kg/dia em ratos com hipercolesterolemia, durante quatro semanas. A dose de 100mg/kg/dia não revelou efeito significativo no tratamento da dislipidemia; a dose de 200mg/kg/dia reduziu 18,5% do CT, 15,6% do TG, 24% do LDL-C e 15,5% do VLDL-C (p<0,05); enquanto a dose de 300mg/kg/dia reduziu 22% do CT, 20,6% do TG, 30% do LDL-C e 20,5% do VLDL-C (p<0,05). O HDL-C não alterou significativamente em nenhuma das doses testadas. Entre as doses de Hibiscus sabdariffa L. a dose de 300mg/kg/dia foi a mais eficaz. No entanto, a Atorvastatina 10mg/dia foi administrada como a droga padrão e os efeitos hipolipemiantes foram os mais altos. Hibiscus sabdariffa L. possui constituintes químicos como antocianinas, flavonoides, pectina, quercetina e Kaempferol, que se relacionam com efeitos hipolipemiante e antioxidante. O estudo randomizado triplo-cego de Sabzghabaee et al. (2013) obteve resultados positivos e significativos no perfil lipídico, durante um mês, na dose de 2g/dia de Hibiscus sabdariffa L. em pó, em 72 adolescentes com dislipidemia e obesidade. Hibiscus sabdariffa L. proporcionou redução do CT inicial de 186,5mg/dL para 176,11mg/dL (p=0,003), LDL-C de 111,36mg/dL para 103,36mg/dL (p<001) e TG de 146mg/dL para 134,22mg/dL (p=0,022). Entretanto, houve um aumento do HDL-C, mas não considerado significativo no estudo. O estudo relata que os benefícios na redução do perfil lipídico podem estar relacionados com os polifenóis e antioxidantes presentes no Hibiscus sabdariffa L. 18 CONCLUSÃO O uso da fitoterapia apresenta-se como uma alternativa de grande importância, com resultados benéficos no tratamento da dislipidemia. Os resultados desta revisão mostraram que os fitoterápicos Allium sativum L., Vitis vinifera L., Nigella sativa L. e Hibiscus sabdariffa L. possuem efeitos hipolipemiantes e podem ser indicados como coadjuvantes no tratamento da dislipidemia e prevenção de doenças cardiovasculares. Apesar de serem de origem vegetais, deve-se ter cautela quanto ao modo de usar, tempo, posologia e interações com outros medicamentos para maior segurança na sua utilização e para evitar possíveis efeitos colaterais. REFERÊNCIAS AHMAD, S.; BEG, Z. H. Elucidation of mechanisms of actions of thymoquinone- enriched methanolic and volatile oil extracts from Nigella sativa against cardiovascular risk parameters in experimental hyperlipidemia. Lipids in Health and Disease, v. 86, p. 1-12, 2013. AKINDAHUNSI, A. A.; OLALEVE, M. T. Toxicological investigation of aqueous- methanolic extract of the calyces of Hibiscus sabdariffa L. Journal of Ethnopharmacol, v. 89, n. 1, p. 161-164, 2003. AL- NOGEEP, G. et al. Regulation of low- density lipoprotein receptor and 3- hydroxyl-3- methy Iglutaryl coenzyme A reductase gene expression by thymoquinone rich fraction and thymoquinone in HepG2 cells. Journal Nutrigenetics and Nutrigenomics, v.2, n. 4-5, p. 163-172, 2009. ALIBASIC, E. et al. Atherogenic Dyslipidemia and Residual Vascular Risk in Practive of Family Dostor. Medical Archives, v. 69, n.5, p. 339-341, 2015. ALOBAIDI, A. H. A. Effect of Nigella sativa and Allium sativum coadminstered with simvastatin in dyslipimia patients: Aprospective, randomized, double-blind trial. Anti- inflammatory e anti-allegy agents in medicinal chemistry, v.13, p. 68-74, 2014. 19 ARMITAGE, J. et al. Effects of simvastatin 40mg daily on musele and liver adverse effects in a 5-year randomized placebo-controlled trial in 20,536 high-risk people. Bio Med Central Clinical Pharmacology, v.9, p.1-10, 2009. ASHRAF, R. et al. Effects of Garlic on Dyslipidemia in Patients with Type 2 Diabetes Mellitus. Journal of Ayub Medical College Abbottabad, v.17, n. 3, p.60- 64, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Politica nacional de práticas integrativas e complementares no SUS. 2006. Disponível em: < http://goo.glesafe.com/?q=Politica+nacional+de+pr%C3%A1ticas+integrativas+e+co mplementares+no+SUS.+2006> Acesso em 27, abril de 2017. CAO et al. Beneficial clinical effects of grape seed proanthocyanidin extract on the progression of carotid atherosclerotic plaques. Journal of Geriatric Cardiology, v.12, n.4, p.417- 423, 2015. CFN. Conselho Federal de Nutricionistas. Resolução CFN n° 525/2013. Regulamenta a prática da fitoterapia pelo nutricionista atribuindo-lhe competência para, nas modalidades que especifica, prescrever plantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos como complemento da prescrição dietética e, dá outras providencias. Brasília, 2013.Disponível em: < http: //www.cfn.org.br/eficiente/repositório/legislação/resoluções/583.pdf>. Acesso em: 02 ago 2016. EBRAHIMI, T. et al. High doses of garlic extract significantly attenuated the ratio of serum LDL to HDL level in rat-fed with hypercholesterolemia diet. Diagnostic Pathology, v. 10, p. 1-9, 2015. GOSAIN, S. et al. Hypolipidemic effect of ethanolic extract from the leaves of Hibiscus sabdariffa L. in hyperlipidemic rats. Acta Poloniae Pharmaceutica- Drug Research, v. 67, n.2, p. 179-184, 2010. GURROLA, C. M. et al. Effects of Hibiscus sabdariffa extract poder and preventive treatment (diet) on the lipid profiles of patients with metabolic syndrome (MESY). Phytomedicine, v.17, n.7, p. 500-505, 2010. 20 HIRUNPANICH, V. et al. Hypocholesterolemic and antioxidant effects of aqueous extracts from the dried calyx of Hibiscus sabdariffa L.in hypercholesterolemic rats. Journal of Ethnopharmacology, v.103, n.2, p. 252- 260, 2006. IBRAHIM, R. M. et al. Protective effects of Nigella sativa on metabolic syndrome in menopausal women. Advanced Pharmaceutical Bulletin, v.4, n.1, p. 29- 33, 2014. KAATABI, H. et al. Favorable impact of Nigella sativa seeds on lipid profile in type 2 diabetic patients. Journal of Family Community Medicine, v.19, n.3, p. 155-161, 2012. KAMMER, D. et al. Apolyphenol screening of pomece from ted and white grape varieties (Vitis vinifera L.) by HPLc-DAD-MS/MS. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 52, n.14, p. 4360- 4367, 2004. KUMAR, A.; SINGH, V. Atherogenic dyslipidemia and diabetes mellitus: What´s new in the management arena. Vascular Health and Risk Management, v.6, p. 665- 669, 2010. LAU, B. H. Suppression of LDL oxidation by garlic compounds is a possible mechanism of cardiovascular health benefit. Journal of Nutrition, v. 136, n.3, suppl.3, p. 7655-7685, 2006. LIN, T.L. et al. Hibiscus sabdariffa extract reduces serum cholesterol in men and women. Nutrition Research, v. 27, p .140- 145, 2007. LIBBY, P. et al. Inflammation in atherosclerosis: from pathophsiology to practice. Journal Am Coll cardiology, v. 54, n .23, p. 2129-2138, 2009. MAHADEVAN, N.; KAMBOJ, P. Hibiscus sabdariffa Linn an overview. Natural product radiance, v.8, p. 77- 83, 2008. MAHMOUD,M. R.; EL-ABHAR, H.S.; SALEH, S. The effects of Nigella sativa oil against the liver damage induced by Schistosoma mansoni infection in mice. Journal Ethnopharmacology, v. 79, n.1, p. 1- 11, 2002. MILLER, M. Niacin as a component of combination therapy for dyslipidemia. In: Mayo Clinic Proceedings, v. 78, n.6, p. 735-742, 2003. 21 MOREYRA A. E.; WISON A. C.; KORAYM A. Effect of combining Psyllium fiber with Sinvastatin in lowering cholesterol. Jama Internal Medicine, v.165, n.10, p. 1161- 1166, 2005. MOZAFFARI - KHOSRAVI, H.; JALALI, B. A. Effect of Sour tea (Hibiscus sabdariffa) on Blood Glucose, Lipid Profile and Lipoproteins in Diabetics. Iranian Journal of Endocrindogy and Metabolism, v. 10, n.6, p. 589-597, 2009. MOZAFFARI, N. A.S. et al. Antibacterial Effect of Garlic Aqueous Extract on Staphylococcus aureus in Hamburger. Jundishapur Journal of Microbiology, v.7, n.11, p.1-5, 2014. MUNEERA, K. E.; MAJEED, A. NAVEED, A. K. Comparative evaluation of Nigella sativa (Kalonji) and in the induction of hepatotoxicity. Pakistan Journal of Pharmaceutical Sciences, v.28, n.2, p. 493- 498, 2015. MUSUNURU, K. Atherogenic Dyslipidemia, Cardiovascular Risk and Dietary intervention. Lipids, v. 45, n.10, p. 907-914, 2010. NICKAVAR, B. et al. Chemical composition of the fixed and volatile oils of Nigella sativa L. from Iran. Zeitschrift Fur Naturforschung, v. 58, n.9-10, p. 629- 631, 2003. OCHANI, P.C.; MELLO, P. Antioxidant and antihyperlipidemic activity of Hibiscus sabdariffa Linn. leaves and calyces extracts in rats. Indian Journal of Experimental Biology, v.47, n.4, p. 276- 282, 2009. RAHMAN, K.; LOWE, G.M.; SMITH, S. Aged Garlic Extract Inhibits Human Platelet Aggregation by Altering Intracellular Signaling and Platelet Shape Change. Journal of Nutrition, v. 146, n.2, p. 410- 415, 2016. RAI, S. K.; SHARMA, M.; TIWARI, M. Inhibitory effect of novel diallyldisulfide analogs on HMG-COA reductase expression. In hypercholesterolemic rats: CREB as a potential upstream target. Life Sciences, v. 85, n.5-6, p. 211- 219, 2009. 22 RAZAVI, S. M. et al. Red Grape Sees Extract Imroves Lipid Profiles and Decreases Oxidized Low- Density Lipoprotein in Patientes With Mild Hyperlipidemia. Journal of Medicinal Food, v. 16, n.3, p. 255-258, 2013. RIED, K.; TRAVICA, N.; SALI, A. The effect of aged garlic extract on blood pressure and other cardiovascular risk factors in uncontrolled hypertensives: the AGE at Heart trial. Integrated Blood Pressure Control, v.9, p.9-21, 2016. SABZAGHABAEE, A. M. et al. Clinical Evaluation of Nigella sativa seeds for the treatment of hyperlipidemia: a randomized, placebo controlled clinical trial. Medical Archives, v. 66, n.3, p.198- 200, 2012. SABZAGHABAEE, A. M. et al. Effect of Hibiscus sabdariffa Calices on Dyslipidemia in Obese Adolescents: A Triple Masked Randomized Controlled Trial. Journal of The academy of Medical Sciences of Bosnia and Herzegovina, v. 25, n.2, p. 76- 79, 2013. SANO, A. et al. Beneficial effects of grape seed extract on malondialdehyde-modified LDL. Journal of Nutritional Science and Vitaminology, v. 53, n.2, p. 174- 182, 2007. SANO, T. et al. Anti-thrombotic effect of proanthocyanidin, a purified ingredient of grape seed. Thrombosis Research, v.115, n.1-2, p. 115- 121, 2005. SBC. Sociedade Brasileira de Cardiologia. IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose: Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.88, supl.1, p. 1-19, 2007. SBC. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de cardiologia, São Paulo, v. 101, n.4, supl.1, p. 1-18, 2013. SCHNEIDER, J.G. et al. The metabolic syndrome in women. Cardiology Review, v. 14, n.6, p. 286-291, 2006. 23 SINGH, P. K. et al. Evaluation on the efficacy of polyherbal supplement along with exercise in alleviating dyslipidemia, oxidative stress and hepatic and renal toxicology. Journal of Herbal Medicine and Toxicology, v.4, n.2, p. 35-43, 2010. SOBENIN, I. A. et al. Lipid-lowering effects of time-released garlic powder tablets in double-blinded placebo-controlled randomized study. Journal of Atherosclerosis and Thrombosis, v. 15, n.6, p. 334-338, 2008. SOBENIN, I. A. et al. The effects of time-released garlic powder tablets on multifunctional cardiovascular risk in patients with coronary artery disease. Lipids in Health and Disease, v.9, p.1-6, 2010. TASAWAR, Z. et al. The effects of Nigella sativa (Kalonji) on lipid profile in patients with stable coronary artery diasease in Multan, parkistan. Journal of Nutrition, v. 10, n.2, p. 162-167, 2011. THIRUCHENDURAN, M. et al. Protective effect of grape seed proanthocyanidins against cholesterol cholic acid diet-induced hypercholesterolemia in rats. Cardiovascular Pathology, v. 20, n.6, p. 361-368, 2011. VENKATARAMAN, R. et al. Prevalence of Diabetes Mellitus and Related Conditions in Asian Indians living in the United States. American Journal of Cardiology, v. 94, n.7, p. 977-980, 2004. WELLONS, M. et al. Eaarly menopause predicts future coronary heart disease and stroke: the Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis. Menopause, v. 19, n.10, p. 1081- 1087, 2012. YIN, L. et al. Cholesterol-lowering effect of allicin on hypercholesterolemic ICR mice. Oxidative Medicine and Cellular Longevity, v. 2012, p. 1-6, 2012. YUBERO, N. et al. LDL cholesterol – lowering effects of grape extract used as a dietary supllement on healthy volunteers. International Journal of Food Sciences and Nutrition, v. 64, n.4, p. 400- 406, 2012. 24 CAPÍTULO II – PLANTAS MEDICINAIS NO TRATAMENTO DA DISLIPIDEMIA: Cynara scolymus, Camellia sinensis, Ilex paraguariensis, Solanum melongena L. e Plantago ovata Camila Pereira Lemes e Lúcia Endriukaite DISLIPIDEMIA E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS A inflamação é um fator importante no surgimento de diversas patologias (WEBER; NOELS, 2011). Dessa forma, é comum a inflamação crônica estar associada à resistência insulínica, hipertensão e dislipidemia, todas envolvidas na síndrome metabólica (DETOPOULOU, 2010; SIRI-TARINO, 2010). As doenças cardiovasculares tem sido uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo. A hiperlipidemia é um importante fator de risco para estes distúrbios e está associada com o surgimento e progressão da aterosclerose coronariana (SHAMIR; FISHER, 2000). A dislipidemia é caracterizada por elevados níveis de colesterol total (CT), triglicérides (TG), lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), e baixo nível da lipoproteína de alta densidade (HDL-c) (SHAM et al., 2014). Vários medicamentos hipolipemiantes são utilizados para diminuir os níveis de lipídeos séricos em pacientes com suspeita de doença isquêmica cardíaca, todavia, a administração dessas drogas tem sido limitada devido a ocorrências adversas associadas, interações medicamentosas e à impossibilidade de utilizá-las por longos períodos. Desse modo, o uso de plantas medicinais tem mostrado efeitos promissores no tratamento de várias complicações, incluindo a dislipidemia (RAFIEIAN-KOPAEI et al., 2014). As plantas medicinais estão sendo consideradas fonte principal para a preparação de medicamentos mais eficazes na redução de lipídeos no sangue (RAFIEIAN-KOPAEI et al., 2014). Devido aos efeitos colaterais reduzidos, as abordagens terapêuticas alternativas, medicinas tradicionais e fitoterápicos estão disseminando entre a população (XIE et al., 2012). Este capítuloapresenta um levantamento bibliográfico sobre a eficácia de compostos fitoterápicos da Cynara scolymus, Camellia sinensis, Ilex paraguariensis, Solanum melongena L. e Plantag oovata em relação a dislipidemias. 25 ALCACHOFRA (Cynara scolymus) A alcachofra (Cynara scolymus) é uma planta de origem europeia, cultivada no sul da Europa, na Ásia menor e América do Sul, popularmente conhecida por estimular a secreção da bile e sua produção hepática, regular os níveis de açúcar no sangue e reduzir as taxas do colesterol. Os compostos responsáveis por essas ações são os ácidos fenólicos, lactonas sesquiterpênicas, flavonóides, fitoesteróis e inulina. Esta planta é rica em ferro, cálcio e vitamina C, sendo preparadas em saladas, sucos e em infusão (JUNIOR; LEMOS, 2012). Dos 17 artigos selecionados, apenas dois são sobre o efeito da alcachofra no perfil lipídico, sendo um realizado em humanos e o outro em ratos. Rondanelli et al. (2013) avaliaram 92 indivíduos hipercolesterolêmicos e com sobrepeso, utilizou-se 250 mg/dia do extrato da alcachofra por um período de 8 semanas. Como resultado, houve aumento nos níveis de HDL e redução nos níveis de colesterol total e LDL. Küçükgergin et al. (2011), investigaram os efeitos da suplementação de 1,5 g/kg/dia das folhas de alcachofra em 8 ratos com colesterol e triglicérides aumentados. Neste estudo houve redução nos níveis de colesterol total, triglicérides e na relação HDL/CT. CHÁ VERDE (Camellia sinensis) O chá verde é considerado a segunda bebida mais popular em todo mundo, em primeiro lugar está a água (TINAHONES et al., 2008). Os principais tipos de chás preparados com Camellia sinensis são o verde, o preto e o oolong, sendo que se diferenciam devido ao processamento e à composição química. Para a elaboração do chá verde, as folhas são colocadas no vapor, com o objetivo de inativar as enzimas e depois secas; enquanto no preto e oolong as folhas são passadas por processo de fermentação, que diminui as substâncias ativas (SAE-TAN et al.,2011). O chá verde é rico em polifenóis, 70% são catequinas que são oxidadas enzimaticamente durante o processamento das folhas, gerando uma mistura constituída principalmente de teaflavinas, teasinensinas e tearubiginas, cuja ação tem sido demonstrada efetiva na redução dos níveis séricos e visceral de colesterol 26 e triglicérides (KOBAYASHI et al., 2005; IKEDA et al., 2005). A ingestão do chá verde também é benéfica contra o risco de doença cardiovascular (MIZUNO, 2006). Neste levantamento bibliográfico são citados quatro artigos científicos sobre Camellia sinensis. Batista et al. (2009) descreveram que o chá verde reduziu em 3,9% os níveis de colesterol total (p=0,006) e em 4,5% os níveis de LDL (p = 0,026), com administração de 250 mg do extrato seco da planta, durante 8 semanas em 33 indivíduos com idade entre 21 e 71 anos. Outro estudo realizado em 15 ratos, publicado por Yousaf et al. (2013), sugere que o extrato alcoólico do chá verde possuiu papel importante na hipercolesterolemia e hiperglicemia. Já estudo realizado por Singh et al. (2009) menciona que tanto o chá verde quanto o chá preto foram capazes de diminuir em até 55% e 78%, respectivamente, a síntese de colesterol através da inibição da HMG-CoAredutase (3-hidroxi-3-methyl-glutaril-CoA redutase), enzima que participa da via metabólica responsável pela produção de colesterol, por promover a sua inativação por AMP-quinase (AMP, adenosina monofostafo), em ratos. Wu et al. (2012) mostraram que a administração da Camellia s., reduziu o LDL (p=0,02) em 103 mulheres na menopausa, tanto com a administração de 400mg quanto de 800mg de epigalocatequina-galato (EGCG), flavonoide antioxidante natural, em um período de 2 meses. Ainda que os estudos mostrem os benefícios do chá verde é recomendado expor seus efeitos adversos (SAIGG; SILVA, 2009). Alguns estudos apontam que a ingestão de chá verde pode causar alguns efeitos negativos em indivíduos com problemas gastrointestinais e disfunção hepática, além de diminuição de apetite, insônia, hiperatividade, aumento da pressão arterial e nervosismo devido à presença de cafeína (LAMARÃO; FIALHO, 2009). ERVA-MATE (Ilex paraguariensis) Ilex paraguariensis, mais conhecida como erva-mate, é uma planta de origem subtropical da América do Sul, inclusive o sul do Brasil, norte da Argentina, Paraguai e Uruguai (MOSIMANN et al., 2006). O I. paraguariensis é rico em compostos fenólicos, saponinas e possui propriedades hipolipemiantes, sendo amplamente utilizado nas preparações do chimarrão, tererê e chá mate. Apreciado por seu sabor amargo, estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas dos países sul-americanos 27 consomem de 1 a 2L por dia de infusão da erva-mate, sendo a principal alternativa ao café e chá verde (MORAIS et al; 2009). De acordo com estudo de Morais et al. (2009) contendo 102 indivíduos, 330 ml/ dia da infusão da erva-mate é capaz de melhorar o perfil lipídico em pacientes normolipidêmicos, dislipidêmicos e, aumentar o efeito hipolipemiante em pacientes em tratamento com estatinas. Bravo et al. (2014) em um estudo realizado com 24 ratos, demonstraram que a erva-mate foi capaz de diminuir os níveis de triglicérides, LDL-c e colesterol total nos animais com alterações no colesterol, já nos normolipidêmicos não houve alterações significativas. Lima (2013) abordou que 330 ml/dia da solução aquosa do mate teve efeito na redução da gordura abdominal, da resistência à leptina e da hipertrigliceridemia em 20 ratas. BERINJELA (Solanum melongena L.) A berinjela (Solanum melongena L.) é um fruto e tem sido muito utilizado popularmente no Brasil como propulsor da redução de colesterol (GUIMARÃES et al., 2000). Jorge et al. (1998) realizaram um estudo com 10 coelhos hipercolesterolêmicos, no qual foi administrado 10 mL/dia do suco da berinjela por 15 dias. Os resultados mostraram que houve redução significativa no peso, colesterol total, LDL-C triglicérides e colesterol tecidual (p<0,05). Já em outros dois estudos realizados em humanos, não houve resultados significativos que comprovassem esse efeito hipolipemiante. Silva et al. (2004) ofertaram 450mg de extrato seco da Solanum melongena para 41 voluntários com dislipidemia por um período de 3 meses, não sendo observada melhora significativa no perfil lipídico. Praça et al. (2004) avaliaram o efeito do suco de berinjela com laranja sobre o perfil lipídico de 21 indivíduos em relação ao medicamento lovastatina, contudo, após seis semanas de estudo, houve melhora significativa apenas no grupo em uso do medicamento. 28 PSYLLIUM (Plantago ovata) O psyllium como é conhecido o Plantago ovata, é uma fibra proveniente da moagem da casca da semente da planta, muito utilizada no controle de diabetes mellitus, constipação e dislipidemia (MONOGRAPH, 2002). Vários estudos abordam os benefícios do psyllium no controle do perfil lipídico. Um estudo com 34 homens diabéticos tipo 2 e com níveis de lipídios alterados, receberam 5,1g de psyllium duas vezes ao dia por 8 semanas, resultando em melhora dos controles glicêmico e lipídico (ANDERSON et al., 1999). Outro estudo com a mesma dosagem foi realizado com 248 mulheres e homens com hipercolesterolemia primária por 26 semanas, constatando a eficácia da fibra na redução dos lipídeos séricos associada a uma dieta terapêutica (ANDERSON et al., 2000). Sartore et al. (2009) introduziram o psyllium juntamente com uma dieta equilibrada nos 40 participantes com diabetes tipo 2, sendo administrados 3,5g da semente trêsvezes ao dia por dois meses, observando-se redução nos níveis de triglicérides, contribuindo na prevenção de doença cardiovascular (SARTORE et al., 2009). CONCLUSÃO As plantas medicinais Cynara scolymus, Camellia sinensis, Ilex paraguariensis, Solanum melongena L. e Plantago ovata melhoram o perfil lipídico, sendo eficazes no tratamento da dislipidemia e, consequentemente, na prevenção das doenças cardiovasculares. O uso de fitoterápicos tem se tornado uma alternativa eficaz no tratamento da dislipidemia pela eficácia, pela maior aceitação por parte da população e por apresentar menos efeitos adversos quando comparados com outros medicamentos para o mesmo fim. 29 Tabela 1. Levantamento de estudos clínicos e experimentais sobre a utilização de plantas medicinais na dislipidemia. Legenda: HDL- lipoproteína de alta densidade; CT-Colesterol Total; LDL- lipoproteína de baixa densidade; EGCG-epigalocatequina-3-galato. Autores Espécime Nomenclatura Botânica N. Popular Parte Utilizada Forma de utilização/ Modo de preparo Posologia/ Modo de usar Tempo de Uso Efeito Rondanelli et al. (2013) Humanos Cynara scolymus Alcachofra Folhas Extrato Seco 250mg/dia 8 semanas �HDL �CT �LDL Küçükgergin et al. (2011) Ratos Cynara scolymus Alcachofra Folhas Extrato Seco 1,5g/kg/dia 2 semanas �CT; �Triglicérides; �HDL/CT Yousaf et al. (2013) Ratos Camellia sinensis Chá verde Folhas Extrato alcoólico - 8 semanas �Colesterol; �Glicemia Wu et al. (2012) Humanos Camellia sinensis Chá verde Folhas Extrato Seco 400 mg de EGCG/ 800mg de ECGC 2 meses Em ambos os grupos: �LDL Batista et al. (2009) Humanos Camellia sinensis Chá verde Folhas Extrato Seco 250 mg/dia 8 semanas �CT; �LDL Singh et al. (2009) Ratos Camellia sinensis Chá verde e chá preto Folhas Extrato - 8 semanas � Colesterol Bravo et al. (2014) Ratos Ilex paraguariensis Erva mate Folhas Infusão - 3 semanas �CT; �LDL; �Triglicérides Lima et al. (2013) Ratos Ilex paraguariensis Erva mate Folhas Solução aquosa 1 g/kg/dia) 30 dias �Gordura abdominal �Resistência à leptina �Triglicérides Morais et al. (2009) Humanos Ilex paraguariensis Erva mate Folhas Infusão 330 mL/dia 40 dias �HDL; �LDL Silva et al. (2004) Humanos Solanum melongena L. Berinjela Fruto Extrato Seco 450mg/dia, 2 vezes ao dia 90 dias Não houve resultados significativos no perfil lipídico. Praça et al. (2004) Humanos Solanum melongena L. Berinjela Fruto Suco 250ml 6 semanas Não houve resultados significativos no perfil lipídico. Jorge et al. (1998) Coelhos Solanum melongena L. Berinjela Fruto Suco 10mL/dia 15 dias �Peso corpóreo; �CT; �LDL �Triglicérides Sartore et al. (2009) Humanos Plantago ovata Psyllium Casca da semente Pó 3,5 g/3x ao dia 2 meses �Triglicérides Anderson et al. (2000) Humanos Plantag ovata Psyllium Casca da semente Pó 5,1 g/2x ao dia 26 semanas �CT; �LDL Anderson et al. (1999) Humanos Plantago ovata Psyllium Casca da semente Pó 5,1 g/2x ao dia 8 semanas �Glicemia �Perfil lipídico 30 REFERÊNCIAS ANDERSON, J.W.; ALGOOD, L.D.; TURNER, J.; OELTGEN, P.R.; DAGGY, B.P. Effects of psyllium on glucose and serum lipid responses in men with type 2 diabetes and hypercholesterolemia. American Journal of Clinical Nutrition, Lexington, v.70, n.4, p.466–73, out.1999. ANDERSON, J.W.; DAVIDSON, M.H; BLONDE, L.;BROWN, W.V.;HOWARD, W.J; GINSHERG, H.; ALLGOOD, L.D; WEINGAND, K.W.. Long-term cholesterol-lowering effects of psyllium as an adjunct to diet therapy in the treatment of hypercholesterolemia. American Journal of Clinical Nutrition, Bethesda, v.71, n.6, p.1433-8, jun. 2000. BATISTA, G.A.P.; CUNHA, C.L.P.; SCARTEZINI, M.; HEYDE, R.V.D.; BITENCOURT, M.G.; MELO, S.F. Prospective double-blind crossover study of Camellia sinensis (green tea) in dylipidemias. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.93, n.2, p.128-34, ago. 2009. BRAVO, L.; MATEOS, R.; SARRIÁ, B.; BAEZA, G.; LECUMBERRI, E.; RAMOS, S.; GOYA, L. Hypocholesterolaemic and antioxidant effects of yerba mate (Ilex paraguariensis) in high-cholesterol fed rats. Fitoterapia, Madrid, v.92, p.219-29, jul./nov.2014. DETOPOULOU, P.; PANAGIOTAKOS, D.B.; CHRYSOHOOU C.; FRAGOPOULOU, E.; NOMIKOS, T.; ANTONOPOULOU, S.; PITSAVOS C.; STEFANADIS, C. Dietary antioxidant capacity and concentration of adiponectin in apparently healthy adults: the ATTICA study. European Journal of Clinical Nutrition, London, v.64, p.161–8, fev. 2010. GUIMARÃES, P.R.; GALVÃO, A.M.P.; BATISTA, C.M.; AZEVEDO, G.S.; OLIVEIRA, R.D; LAMOUNIER, R.P.; FREIRE, N.; BARROS, A.M.D.; SAKURAI, E.; OLIVEIRA, J.P.; VIEIRA, E.C.; ALVAREZ-LEITE, J.I. Eggplant (Solanum melongena) infusion has a modest and transitory effect on hypercholesterolemic subjects. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, São Paulo, v.33, n.9, p.1027-36, set. 2000. IKEDA I.; HAMAMOTO R.; UZU K.; IMAIZUMI K., NAGAO K.; YANAGITA T., SUZUKI Y., KOBAYASHI M., KAKUDA T. Dietary gallate esters of tea catechins reduce deposition of visceral fat, hepatic triacylglycerol, and activities of hepatic enzymes related to fatty acid synthesis in rats. Biosci Biotechnol Biochem, Inglaterra, v.69, n.5, p.1049-53, mai.2005. JORGE P.A.; NEYRA, L.C; OSAKI, R.M.; ALMEIDA, E.; BRAGAGNOLO, N. Effect of eggplant on plasma lipid levels, lipidic peroxidation and reversion of endothelial dysfunction in experimental hypercholesterolemia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.70, n.2, p.87-91, fev.1998. JÚNIOR, H.P.L.; LEMOS, A.L.A. Alcachofra. Diagnóstico e Tratamento. Associação Paulista de Medicina, São Paulo, v.17, n.2, p.59-61, 2012. 31 KOBAYASHI, M.; UNNO, Y., SUZUKI, Y.; NOZAWA, A.; SAGESAKA, Y.; KAKUDA, T.; IKEDA, I. Heat-epimerized tea catechins have the same cholesterol-lowering activity as green tea catechins in cholesterolfed rats. Biosci Biotechnol Biochem, Inglaterra, v.69, n.12, p.2455-8, mai. 2005. KÜÇÜKGERGIN, C.; AYDN, A.F.; OZDEMIRLER-ERATA, G.; MEHMETCJK, G.; KOCAK-TOKER, N.; UYSAL, M. Effect of artichoke leaf extract on hepatic and cardiac oxidative stress in rats fed on high cholesterol diet. Biological Trace Element Research, London, v.135, p.264–74, ago. 2009. LAMARÃO, R. da C.; FIALHO, E. Aspectos funcionais das catequinas do chá verde no metabolismo celular e sua relação com a redução da gordura corporal. Revista de Nutrição, Campinas, v. 22, n. 2, mar./abr. 2009. LIMA, N.S.; FRANCO, J.G.; PEIXOTO, S.N.; MAIA, L.A.; KAEZER, A.; FELZENSWALB, I.; OLIVEIRA, E.; MOURA, E.G.; LISBOA, P.C.Ilexparaguariensis (yerba mate) improves endocrine and metabolic disorders in obese rats primed by early weaning. European Journal of Nutrition, Darmstadt, p.73-82, v.53, n.1, fev.2013. Monograph, Plantago ovata (Psyllium). Alternative Medicine Review, v.7, n.2, p.155-9, 2002. MORAIS, E.C.; STEFANUTO, A.; KLEIN, G.A.; BOAVENTURA, B.C.; ANDRADE, F.; WAZLAWIK, E.; PIETRO, P.F; MARASCHIN, M.; SILVA, E.L. Consumption of yerba maté (Ilex paraguariensis) improves serum lipid parameters in healthy dyslipidemic subjects and provides an additional LDL-cholesterol reduction in individuals on statin therapy. Journal ofAgricultural and Food Chemistral, Washington, v.57, n.18, p.8316-24, set. 2009. MOSIMANN, A.L.; WILHELM-FILHO, D.; SILVA, E.L. Aqueous extract of Ilex paraguariensis attenuates the progression of atherosclerosis in cholesterol-fed rabbits. Biofactors, Oxford, v. 26, n.1, p.59-70, jan.2006. PRAÇA, J.M.; THOMAZ, A.; CARAMELLI, B. Eggplant (Solanummelongea) extract does not alter sérum lipid levels. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.82, n.3, p. 269-72, mar. 2004. RAFIEIAN-KOPAEI,M.; SHAHINFARD, NAJMEH; ROUHI-BOROUJENI, H.; GHARIPOUR, M.; DARVISHZADEH-BOROUJENI, P. Effects of Ferulagoangulata Extract on Serum Lipids and Lipid Peroxidation. Evidence Based Complementary and Alternative Medicine, Thousand Oaksv.2014, p.1-4, fev. 2014. RONDANELLI, M.; GIACOSA, A.; OPIZZI, A.; FALIVA, M.A.; SALA, P.; PERNA, S.; RIVA, A.; MORAZZONI, P.; BOMBARDELLI, E..Beneficial effects of artichoke leaf extract supplementation on increasing HDL-cholesterol in subjects with primary mild hypercholesterolaemia: A double-blind, randomized, placebo- controlled trial. International Journal of Food Sciences and Nutrition, London, v.64, p.7-15, fev.2013. 32 SAIGG, N. L.; SILVA, M. C. Efeitos da utilização do chá verde na saúde humana. Universitas: Ciências da Saúde, Brasília, v. 7, n. 1, p. 69-89, 2009. SARTORE, G.; REITANO, R.; BARISON, A.; MAGNANINI, P.; COSMA, C.; BURLINA, S.; MANZATO, E.; FEDELE, D.; LAPOLLA, A. et al. The effects of psyllium on lipoproteins in type IIdiabetic patients. European Journal of Clinical Nutrition, London, v.63, p.1269–71, jul.2009. SHAM, T.T.et al. A Review on the Traditional Chinese Medicinal Herbs and Formulae with Hypolipidemic Effect. Biomed Research International, New York, v.2014; p.1- 21, 2014. SHAMIR, R.; FISHER, E. A. Dietary therapy for children with hypercholesterolemia. American Family Physician, New York, v.61, n.3, p. 675-686, fev. 2000. SILVA,G.; TAKAHASHI, M.H.; FILHO, W.E.; ALBINO, C.C.; TASIM, G.E. SERRI, L.A.F.; ASSEF, A.H.; CORTEZ, D.A.G.; BAZOTTE, R.B. Ausência de efeito hipolipemiante da solanum melongena L. (berinjela) em pacientes hiperlipidêmicos. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. São Paulo, v.48, n.3, p.368-73, jun. 2004. SINGH, D.K.; BANERIEE, S.; PORTER, T.D. Green and black tea extracts inhibit HMG-CoA reductase and activate AMP-kinase to decrease cholesterol synthesis in hepatoma cells. The Journal of nutritional biochemistry, New York, v.20, n.10, p. 816-22, out. 2009. SIRI-TARINO, P. W.; SUN, Q.; HU; F.B; KRAUSS, R.M. Saturated fatty acids and risk of coronary heart disease: modulation by replacement nutrients. Current Atherosclerosis Reports, Philadelphia, v.12, p.384–90, nov.2010. SAE-TAN, S.; GROVE, K.A.; LAMBERT, J.D. Weight Control and Prevention of Metabolic Syndrome by Green Tea. Pharmacological Research, Pennsylvania, v.64, n.2, p.146-54, ago.2011. TINAHONES, F.J.; RUBIO, M.A.; GARIDO, S.L; RUIZ, C.; GORDILLO, E. CABRERIZO, L.; CARDONA, F. Green tea reduces LDL oxidability and improves vascular function. Journal of the American College of Nutrition, New York, v.27, n.2, p.209-13, abr. 2008. XIE, W., YUNAN, Z., DUC, L. Emerging approaches of traditional Chinese medicine formulas for the treatment of hyperlipidemia. Journal of Ethnopharmacology, Shenzhen, v. 140, p. 345–367, jan. 2012. WEBER, C.; NOELS, H. Atherosclerosis: current pathogenesis and therapeutic options. Nature Medicine, v.17, p.1410–22, nov. 2011. WU, A.N.; SPICER, D.; STANCZYK, F.Z.; TSENG, C.; YANG, C.S.; PIKE, M.C. Effect of 2 month controlled green tea intervention on lipoprotein cholesterol, glucose, and hormone levels in healthy postmenopausal women. Cancer Prevention Research (Phila), New York, v.5, n.3, p.393-402, fev. 2012. 33 YOUSAF, S.; BUTT, M.S.; SULERIA, H.A.R.; IGBAL, M.J.; SOHAIL, M. Role of green tea extract and powder to mitigate metabolic syndromes; special reference to hyperglycemia and hypercholesterolemia. International Proceedings of Social and Behavioral Sciences, v.1, n.1, p.105-22, mar. 2013. 34 CAPÍTULO III - FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA Elaine de Fátima e Silva e Juliana da Silveira Gonçalves HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA A Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença crônica não transmissível causada por diferentes fatores de risco, como excesso de peso e obesidade, ingestão elevada de sódio e sedentarismo (BRASIL, 2016). A HAS estágio 1 é diagnosticada quando os níveis de pressão arterial sistólica (PAS) são ≥ 140 mmHg e/ou quando os níveis de pressão arterial diastólica (PAD) são ≥ 90 mmHg, sendo que estes valores devem refletir pelo menos duas medidas com intervalo de dois minutos entre elas, em pessoas com idade superior a 18 anos. Essa doença pode levar a complicações como insuficiência renal crônica, doença arterial coronariana, dentre outras. Algumas mudanças do hábito e estilo de vida são eficazes na redução dos riscos de mortalidade e morbidade cardiovascular (BRASIL, 2016). A fitoterapia vem ganhando destaque nos últimos anos como uma modalidade de tratamento medicinal, a utilização de plantas medicinais vem sendo utilizada como terapia alternativa no tratamento para HAS. Dentre tantas plantas medicinais, o Alho (Allium sativum) se destaca por apresentar efeitos natriurético e diurético; a uva (Vitis vinifera) por possuir flavonoides e polifenóis, atuando como antioxidantes no tratamento de doenças cardiovasculares, além de haver evidências de que a presença de compostos fenólicos em uvas e vinhos tintos podem prevenir a aterosclerose e a Cavalinha (Equisetum arvense), por possuir atividade hipotensora e diurética (ABE, 2007). FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA A HAS é uma doença crônica que acomete qualquer faixa etária e pode culminar em diferentes complicações, por isso, a prevenção e tratamento devem ser 35 precoces para evitar possíveis efeitos (BRASIL, 2016). Este capítulo cita a revisão de três plantas medicinais com propriedades anti- hipertensivas: Allium sativum, Vitis vinifera e Equisetum arvense. ALHO (Allium sativum) O Alho (Allium sativum) pertence à família Liliaceae, sua parte utilizada é o bulbo e possui importantes nutrientes e constituintes ativos, sendo composto por óleos essenciais, carboidrato, proteínas, vitaminas, além de compostos sulfurados que dão destaque à sua atividade biológica. Além de possuir diferentes benefícios para a saúde por seu efeito antibacteriano, antitrombótico e antioxidante (ASHRAF et al., 2003). Um estudo experimental avaliou os efeitos dos extratos hidroalcóolicos de Allium sativum (alho) e Cymbopongon citratus (capim-limão) sobre a pressão arterial média (PAM) de ratos machos anestesiados, nas dosagens de 1mg de alho, 1mg de Cymbopongon citratus e a associação de 1mg de alho + 1mg de Cymbopongon citratus, em volumes injetados de 0,2mL. A dosagem de 1mg de Allium sativum diminuiu a pressão arterial média, de 124±2 mmHg para 108±2 mmHg; a aplicação de 1 mg de Cymbopongon citratus também reduziu a PAM de 122±2mmHg para 106±2 mmHg, enquanto a dosagem de 1 mg de Allium sativum + 1 mg de Cymbopongon citratus reduziu a PAM de 126±3 mmHg para 113±3 mmHg; nos três casos, após 15 segundos. A associação das plantas não apresentou efeitos diferentes em relação aos obtidos por elas isoladamente (SINGI et al., 2005). Santiago e colaboradores (2009) avaliaram o efeito do Allium sativum em animais com infarto induzido. Os ratos receberam tratamento com Allium sativum uma semana antes e duas semanas após o procedimento cirúrgico, com dose de 125mg/kg/dia por via oral. Os animais foram divididos em grupo controle que recebeu cirurgia fictícia e grupo infartado que recebeu procedimento cirúrgico de ligação da artéria coronariana esquerda, tratados com solução salina 0,9% (grupos SHAM e INF, respectivamente) ou com Allium sativum (grupos SHAMT e INFT, respectivamente). Observou-se uma diminuição da hipertrofiado ventrículo direito da área de infarto e normalização dos níveis de pressão arterial sistólica e média, além de redução do número de óbitos no grupo INFT em relação ao grupo INF (20%, n=2 36 vs. 45,5%, n=5). Essas análises mostraram que o alho tem um importante papel na prevenção e controle de alterações cardíacas, diminuindo o número de mortes pós- infarto e proporcionando melhorias cardiovasculares. Estudo duplo-cego com duração de 24 semanas, avaliou o efeito do alho em pacientes de ambos os sexos com idade entre 20 e 70 anos, que apresentavam hipertensão primária (pressão arterial sistólica entre 140 a 159 mmHg e pressão arterial diástolica entre 90 e 99 mmHg). O total de 210 recrutados foi dividido em 7 grupos, sendo que os grupos A, B, C, D e E receberam comprimidos de alho na dose de 300mg, 600mg, 900mg, 1200mg e 1500mg, divididos durante o dia, concomitantemente, no perído de 24 semanas. O grupo F recebeu o medicamento Atenolol® 100 mg uma vez por dia, e o grupo G recebeu placebo pelo mesmo período. Nesse estudo, avaliou-se os efeitos anti-hipertensivos de alho e o tempo necessário para redução da pressão em comparação com o grupo "placebo" e o “Atenolol®”. As aferições da pressão foram avaliadas na primeira, décima segunda e vigéssima quarta semana, com resultados satisfatórios usando doses mais elevadas do alho, com redução na pressão arterial diastólica, quando comparado com placebo, nas 3 primeiras semanas. Nas semanas 12 e 24, foi observada diferença significativa em todos os grupos comparando-se com o grupo placebo, e similar quando comparado ao grupo de Atenolol® (ASHRAF et al., 2013). Trabalho do tipo randomizado duplo-cego avaliou o efeito da ingestão diária do extrato de alho envelhecido sobre a pressão arterial e outros fatores de risco cardiovascular, como função plaquetária e marcadores inflamatórios, em hipertensos não controlados. Este estudo foi realizado com 88 pacientes, com duração de 12 semanas, tendo sido ingerido diariamente 1,2 g de alho envelhecido com 1,2 mg de S-alicisteína, enquanto outro grupo recebeu placebo. Os autores constataram que os participantes tiveram uma resposta positiva ao tratamento com o uso do alho, uma redução média de 3% ao longo do tratamento correspondendo à pressão arterial sistêmica (PAS) ≥5mmHg ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥3mmHg. Os pacientes estavam com uma média de PAS ≥13,8mmHg e foi reduzida para11,5mmHg comparado com o grupo do placebo (KWAK et al., 2014). No quadro 1, pode-se observar estudos com Allium sativum e sua eficácia no tratamento da hipertensão, no Quadro 2 constam informações gerais sobre as propriedades do alho. 37 Quadro 1. Efeitos do Allium sativum no tratamento da Hipertensão arterial sistêmica Referência Espécie Planta medicinal Parte usada Dose Tempo Resultados SINGI et al., 2005 Ratos Allium sativum Cymbopongon citratus Bulbo 1 mg de alho, 1mg de capim-limão e a associação de 1mg de alho + 1mg de capim-limão 15 segundos Redução da HAS SANTIAGO et al., 2009 Rato Allium sativum Bulbo 125mg/kg/dia por via oral 3 semanas Diminuição da hipertrofia do ventrículo direito, da área de infarto e normalização dos níveis de pressão arterial sistólica. RIZWAN ASHRAF et al., 2013 Humanos n= 210 Allium sativum Bulbo 300mg, 600mg, 900mg, 1200mg e 1500mg, divididos durante o dia, via oral 24 semanas Redução na pressão arterial diastólica quando comparado com placebo em 3 semanas. Diminuição da PAS nas semanas 12 e 24 em comparação com os grupos tratados com placebo e atenolol. mg= Miligramas; kg= quilogramas; n= número; PAM= Pressão arterial média; PAC= Pressão arterial central. Quadro 2. Informações do Allium sativum Nome científico Nome popular Parte utilizada Dose recomendada Forma de uso Indicações de uso Interações Reações adversas Allium sativum Alho Bulbo 1 cálice, 2x/dia, antes das refeições Maceração: 0,5g (1 colher de café) em 30 mL (cálice) de água Hipercolesterolemia/ Expectorante e anti- séptico Não utilizar em hemorragia e em tratamento com anticoagulante Desconforto gastrointestinal 38 UVA (Vitis vinífera) As uvas são ricas em compostos fenólicos classificados em flavonoides e não-flavonoides. Do primeiro grupo fazem parte os flavonóides (catequina, epicatequina e epigalocatequina), não-flavonóides (caempferol, quercetina e miricetina) e antocianinas, e ao segundo grupo pertencem os ácidos fenólicos, hidroxibenzóicos e hidroxicinâmicos (CABRITA, 2003). Além destes compostos, está presente o resveratrol, potente antioxidante encontrado nos vinhos, capaz de reduzir os danos em lesões de reperfusão-isquêmica no coração e também no cérebro, observados em modelos experimentais de ratos (ZHUANG, 2003). Além disso, há evidências de que os fenólicos encontrados em uvas e vinhos tintos podem prevenir a aterosclerose (ABE, 2007) Andrade (2006), em sua tese, publicou a ação do vinho tinto sobre o sistema nervoso simpático e função endotelial em 9 participantes que apresentaram pressão arterial alta, 10 pacientes hipercolesterolêmicos, e 7 pessoas que participaram do grupo controle antes e após a ingestão de vinho durante 15 dias. A frequência cardíaca, a pressão arterial sistólica e a diastólica foram aferidas, além do débito cardíaco e resistência vascular cardíaco. Após 15 dias, observou-se um aumento significativo na atividade simpática dos pacientes, por outro lado, a dilatação mediada pelo fluxo nos hipercolesterolêmicos aumentou. Pode-se dizer que os polifenóis presentes no vinho promovem a redução de ateroma causado pelo LDL- colesterol. As pressões sistólicas e diastólicas nos hipertensos não apresentaram mudanças relevantes, porém, houve melhoria da função endotelial nos hipercolesterolêmicos. Um estudo avaliou o extrato da casca de uva (GSE) na pressão arterial, perfis lipídico, glicídico e estresse oxidativo em ratos Wistar normotensos (W) e ratos espontaneamente hipertensos (SHR). Os animais SHR e W foram separados em quatro grupos, tratados com GSE (200mg/kg, via oral) por 90 dias consecutivos (SHR-GSE, W-GSE) e não tratados (SHR-C, W-C). A pressão arterial foi aferida a partir do 60º dia de vida, em intervalos de 5 dias. Os resultados mostraram que no 45º dia de tratamento com Vittis vinifera houve normalização dos valores de pressão arterial sistólica; a peroxidação lipídica nos SHR-GSE assemelhou-se a dos animais normotensos; a glicemia permaneceu sem melhorias; houve diminuição na 39 peroxidação lipídica no rim dos SHR-GSE, quando comparado com seu grupo controle (SHR-C). Concluiu-se que, possivelmente, o consumo moderado de vinho possui efeito cardioprotetor por ter ação antioxidante e anti-hipertensiva (COSTA, 2008). Peng e colaboradores (2005) em estudo avaliativo dos efeitos anti- hipertensivos e cognitivos de polifenóis de uva em ratas fêmeas jovens espontaneamente hipertensos (SHR) com depleção de estrogênio. Os grupos ingeriram dieta livre em fitoestrógeno, NaCl-basal, NaCl–alto e extrato de semente de uva (Vitis vinifera), por 10 semanas. A pressão arterial e frequência cardíaca foram registradas e obtiveram-se os seguintes resultados: o grupo NaCl-basal apresentou redução significativa da pressão arterial média, após 24 horas, em comparação com grupo controle; o grupo com dieta NaCl-alto aumentou a pressão arterial, porém os ratos com polifenóis de extrato de uva continuaram com a pressão mais baixa do que os não suplementados. Após 10 semanas,
Compartilhar