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Exclusão do herdeiro por indignidade necessidade de uma sentença penal Família Âmbito Jurídico

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30/06/2018 Exclusão do herdeiro por indignidade: necessidade de uma sentença penal - Família - Âmbito Jurídico
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16467 1/10
Família
 
Exclusão do herdeiro por indignidade: necessidade de uma sentença penal
Lorena Alves Costa Ferreira
Resumo: O presente trabalho monográfico tem como objetivo demonstrar o entendimento jurídico sobre a exclusão do herdeiro por indignidade no nosso ordenamento
jurídico atual. O presente estudo faz uma breve demonstração do escopo histórico e do surgimento do instituto da indignidade. Além do mais, faz resumidas exposições do
direito sucessório através de jurisprudências e grandes doutrinas. Como fontes foram utilizados livros e decisões dos tribunais brasileiros. É relevante o presente trabalho, já
que a falta de uma sentença penal transitada em julgado, para declaração de indignidade, acarreta ao herdeiro vários prejuízos.[1]
Palavras-chave: Sucessões; Indignidade; Exclusão; Herança.
Introdução
Com o presente trabalho monográfico se pretende analisar a necessidade ou não do trânsito em julgado da sentença penal para que um herdeiro seja considerado como
indigno.
Para que tal análise seja possível, necessário será que seja feita uma análise minuciosa sobre o instituto do direito sucessório que é um ramo de suma importância e
relevância para o mundo jurídico e prático. Já que, é o presente ramo que cuida de disciplinar a transmissão do patrimônio do falecido a seus herdeiros determinando quem
são os herdeiros e qual é a parte de cada um deles.
Conforme se objetiva demonstrar no presente trabalho, a capacidade e legitimidade para o recebimento da herança é a regra, sendo que, somente em casos excepcionais
uma pessoa será excluída do recebimento da herança.
Para que seja possível o desenvolvimento do presente trabalho, necessário foi que o mesmo fosse dividido em 05 capítulos diversos. No primeiro capítulo cuidou-se de
analisar de forma sucinta sobre a origem e a evolução histórica do instituto das sucessões. Já no segundo capítulo, fora explanado, de modo geral, sobre o direito sucessório,
as espécies de sucessões, quando se dá a abertura da sucessão, bem como a transmissão da posse e também sobre as possibilidades de aceitação e renúncia dos bens, pelo
herdeiro.
O terceiro capítulo ficou responsável pela introdução do tema do presente estudo, qual seja a exclusão do herdeiro, as possibilidades de exclusão, bem como um breve
discurso sobre o instituto da deserdação. Por sua vez, no quarto capítulo, será analisado a fundo sobre o instituto da indignidade, momento pelo qual foram expostas as
possibilidades de exclusão do herdeiro por indignidade, o procedimento pelo qual os herdeiros dignos devem respeitar para que vejam o indigno excluído da herança e,
também, fora estudado neste capítulo, quais são os efeitos da indignidade, bem como a possibilidade do excluído ter sua “dignidade” de volta, através da reabilitação.
Por fim, no quinto capítulo se enfrenta o tema principal, oportunidade em que, se analisará a necessidade ou não do trânsito em julgado da sentença penal, para que um
herdeiro seja considerado como indigno.
Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada a metodologia descritiva e qualitativa, já que, pretende-se verificar a necessidade de uma sentença penal, para posterior
declaração de indignidade, por meio de estudos já realizados, observação de opiniões, interpretação e reflexões de dados e informações.
Percebe-se por todo o exposto que, o tema mostra-se de grande relevância já que, com a mesma se permite ampliar e fomentar a discussão de tema de tamanha
importância e utilização nos dias atuais.
1. Origem e evolução histórica
Antes de adentrar ao assunto central do presente estudo, faz-se necessário expor, de forma sucinta, o surgimento e evolução histórica do instituto das sucessões,
juridicamente reconhecido no atual direito brasileiro, mas que passou por diversas mudanças ao longo dos tempos.
Vários doutrinadores, ao lecionar sobre o direito sucessório, apontam a existência de vestígios de normas a respeito do direito de suceder nos códigos mais antigos.
Ressalta-se ainda, que o direito sucessório teve como fundamento inicial as questões religiosas e não o cunho econômico. De acordo com César Fiuza:
“A concepção religiosa exigia que tivesse o defunto um continuador de seu culto, que lhe fizesse os sacrifícios propiciatórios e lhe oferecesse o banquete fúnebre. O
patrimônio era da família, que cultuava seus antepassados, na categoria de deuses domésticos. A sucessão era, assim, calcada no direito de primogenitura. O primogênito
sucedia ao pater-familias na chefia da família e do patrimônio familiar.”(FIUZA, 2010, p. 1029)
Sílvio Rodrigues explica que o direito sucessório possui surgimento na antiguidade, e diz que:
“A possibilidade de alguém transmitir seus bens, por sua morte, é instituição de grande antiguidade, encontrando-se consagrada, entre outros, nos direitos egípcio, hindu, e
babilônico, dezenas de séculos antes da Era Cristã. Todavia, as razões pelas quais a lei agasalha o direito hereditário têm variado no correr dos tempos. Por outro lado, não
são poucas as vozes que, hoje como no passado, contestam tanto a legitimidade quanto a conveniência da sucessão hereditária”. (RODRIGUES, 2003, p. 4)
Neste mesmo sentido, Carlos Roberto Gonçalves menciona que:
“O direito sucessório, remonta a mais alta antiguidade, sempre ligado Índia, a religião desempenha grande importância na agregação familiar. Relata Fustel de Coulanges, a
propósito, que o culto dos antepassados desenvolve-se diante do altar doméstico, não havendo castigo maior para uma pessoa do que falecer sem deixar quem lhe cultue, de
modo a ficar seu túmulo ao abandono. Cabe ao herdeiro o sacerdócio desse culto”. (GONÇALVES, 2006, p. 3)
Já nas lições de César Fiuza, ao se expressar sobre o direito sucessório, aponta que:
“Originariamente não se cogitava de herança ou de sucessão causa mortis, pois não havia propriedade individual. Os bens pertenciam ao grupo. Posteriormente, a
propriedade adquiriu caráter familiar e havia, então, a sucessão do novo chefe nos bens que se achavam sob a direção do chefe pré-morto”. (FIUZA, 2010, p. 1029)
Ainda, nos termos dos demais doutrinadores, Arnaldo Rizzardo nos ensina que o aparecimento da sucessão se deu em três momentos:
“Primeiramente, havia uma comunhão familiar, ou seja, os bens ficavam como grupo familiar, já que persistia a comunidade agrária, sendo as terras de propriedade coletiva
da gens. Isto numa fase anterior, o que também se verificou em outros povos. Posteriormente, foram prevalecendo os sentimentos individualistas, surgindo a propriedade
familiar, um grupo restrito e ligado ao parentesco próximo. Transmitia-se a propriedade do varão aos descendentes, considerado como um pequeno grupo. Finalmente,
firma-se a propriedade individual, com o arrefecimento dos laços políticos, religiosos e de parentesco. Opera-se a transmissão não aos membros da família, mas aos
herdeiros, assim considerados os que estavam submetidos diretamente à potestade do pai, e aos escravos instituídos herdeiros por testamento”(RIZZARDO, 2008, p. 06)
Após algum tempo, a ideia de sucessão ampliou-se, tendo como alicerce a própria continuidade patrimonial, ou seja, a sucessão deixou de acontecer por motivos religiosos,
passando a ser de cunho totalmente econômico. Em outras palavras, de acordo com César Fiuza, “o desejo de segurança inspira a acumulação patrimonial; a proteção da
prole inspira sua transmissão”. (FIUZA, 2010, p. 1029)
A ideia de sucessão como conhecemos hoje surgiu no Direito Romano, já que em Roma, naquela época mais remota, já havia diferença entre sucessão legítima e
testamentária. (FIUZA, 2010). Diferença esta que continua a existir nos dias atuais.
Em conformidade com Sílvio de Salvo Venosa, que faz pequena alusão do direito sucessório em Roma, esclareceque:
“Os romanos, assim como os gregos, admitiam as duas formas de sucessão, com ou sem testamento. O direito grego, contudo, só admitia a sucessão por testamento, na falta
de filhos. No direito romano a sucessão testamentária era a regra, daí a grande importância do testamento na época. Isso era consequência da necessidade de o romano ter
sempre após sua morte quem continuasse o culto familiar.”(VENOSA, 2010, p. 3)
Todavia, naquela época, a sucessão nem sempre era vista como um benefício, já que o herdeiro não recebia apenas os bens móveis e valiosos da herança, mas também
sucedia o de cujus em todas as relações jurídicas, ativa e passivamente, tanto em nível de relações jurídicas propriamente ditas, como relações religiosas. Assim sendo, o
sucessor também se tornava responsável ante os credores do espólio. Destarte, Sílvio de Salvo Venosa explica que “a única forma que tinha o herdeiro para safar-se dessa
responsabilidade era a renúncia da herança”. (VENOSA, 2010, pp. 23-24). Sendo eu, ao renunciar, renunciava o ativo e o passivo.
No Brasil, de acordo com os ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves, o princípio da droit de saisinefoi introduzido no Direito português. (GONÇALVES, 2006). Portanto, a
codificação europeia influenciou o direito pátrio.
 
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30/06/2018 Exclusão do herdeiro por indignidade: necessidade de uma sentença penal - Família - Âmbito Jurídico
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Nos dizeres de ElpídioDonizetti, droit de saisine é “a transmissão imediata da propriedade e da posse da herança aos herdeiros, e da propriedade e da posse indireta dos
legados aos legatários”. (DONIZETTI, 2012, p. 1105). Vale dizer que, embora o princípio da saisine determine a transmissão direta, na realidade, a mesma fica pendente de
aceitação ou renúncia por parte do herdeiro.
De acordo com Orlando Gomes, no direito pátrio, a ordem de vocação hereditária até 1907, era a seguinte, respectivamente: Descendente; Ascendentes; Colaterais até o 10º
grau; Cônjuge sobrevivente; Fisco. Ainda, de acordo com o renomado doutrinador Orlando Gomes, a lei nº 1.839 de 31 de Dezembro de 1907, alterou este regramento,
trazendo para o terceiro grau o cônjuge supérstite e limitando o parentesco até o 6º grau. Assim, o Código Civil de 1916 seguiu as mesmas diretrizes, mas a sucessão dos
colaterais foi reduzida para o 4º grau. (GOMES, 1970, p. 24)
Desta feita, após explanar, em resumo, a origem e evolução do direito de sucessão do direito romano até o Código Civil de 1916, faz-se imperioso elucidar o conteúdo do
direito de sucessão no ordenamento jurídico brasileiro nos dias atuais e o instituto com o surgimento do Código Civil de 2002, a luz da Constituição Federal de 1988. Citadas
alterações serão expostas ao longo desse trabalho, na forma que se passa a explicar a seguir.
2. O direito sucessório
O direito sucessório é um dos ramos do direito civil de maior complexidade e divergência, isto porque, cuida de disciplinar exatamente a transmissão do patrimônio de uma
pessoa aos seus herdeiros em razão da morte. Pode-se dizer que, a sucessão é o termo dado ao ato de transferir os bens de uma pessoa para outra. É a transferência de
direitos entre as pessoas.
Nos dizeres de César Fiuza, sucessão “é a continuação de uma pessoa em relação jurídica, que cessou para o sujeito anterior e continua com outro. É a transferência de
direitos de uma pessoa para outra”. (FIUZA, 2010, p. 1025)
Corroborando, ElpídioDonizetti define sucessão como “a transmissão de uma situação de uma pessoa para outra. O direito admite que essa transmissão se dê não apenas
entre vivos, mas também após a morte do transmitente”. (DONIZETTI, 2012, p. 1093)
Pode-se dizer então, que a palavra sucessão, ora é empregada no seu vocábulo amplo, ou seja, como sucessão de todo e qualquer ato, sejainter vivos ou mortis causa, ou no
vocábulo restrito, significando a sucessão em razão da morte de uma pessoa.
Quando ocorre a sucessão por manifestação de vontades dá-se o nome de sucessão inter vivos e se a mesma acontece em função da morte denomina-se sucessão causa
mortis. A que interesse no desenvolvimento do presente trabalho é a sucessão causa mortis.A sucessão causa mortis tem como pressuposto a morte de uma pessoa, daí, a
transmissão de sua herança a seus herdeiros ou legatários.
Portanto, o Direto das Sucessões tem como objeto esta transmissão hereditária, aquela que se dá aos herdeiros em razão da morte de alguém que faleceu deixando
patrimônio.A sucessão pode ocorrer nas espécies a seguir analisadas.
2.1. Das Espécies de Sucessões
As sucessões podem ser divididas em quatro espécies, sendo que sucessão legítima e testamentária é quanto às fontes das quais deriva e quanto aos efeitos que a sucessão
produz, tem-se a sucessão universal e singular. A seguir será analisada cada uma delas.
2.1.1. Sucessão legítima e testamentária
Quanto à fonte, a sucessão pode ser legítima ou testamentária.
A sucessão legítima poderá ocorrer nos casos de inexistência de um testamento. Se não existe testamento ou se o mesmo não possui eficácia, a transmissão da herança será
definida de acordo com a lei, conforme os artigos 1786 a 1788 do Código Civil Brasileiro de 2002 (CC/02).
Nos dizeres de Roberto Senise Lisboa:
“Sucessão legítima ou ab intestato é aquela que decorre de lei cogente que estabelece quais pessoas tem o direito de suceder, em conformidade com a ordem de vocação
hereditária disposta pelo legislador.”(LISBOA, 2010, p. 347)
Confirmando, Sílvio Rodrigues nos ensina que a sucessão legítima ocorre quando:
“O defunto, por exemplo, deixou de fazer testamento, seu patrimônio, por força de lei, irá à seus descendentes; inexistindo descentes aos seus ascendentes; não havendo
nem descendentes nem ascendentes, ao seu cônjuge; à falta daqueles parentes ou do cônjuge, aos colaterais até quarto grau[...] Nota-se que a transmissão da herança aos
sucessores efetua-se sem manifestação de última vontade da falecida, mas decorrente da lei.”(RODRIGUES, 2003, p. 16)
Vale ressaltar o posicionamento de César Fiuza, para ele, sucessão legítima “é sucessão deferida por determinação da lei, quando o sucedendo morre intestado, ou seja, sem
deixar testamento”. (FIUZA, 2010, p. 1039)
Por fim, a sucessão legítima também ocorre em outros momentos diversos da falta de testamento deixado pelo de cujus. Pode se dar em razão de testamento anulado ou
quando há a caducidade do mesmo; quando o testador deixar parte da herança sem destinação ou ainda quando houver herdeiros necessários sendo que o testador só poderá
dispor de metade de seu patrimônio.
Sendo assim, sucessão legítima é direito fundamental e o herdeiro só pode ser afastado por motivo de exclusão da herança. Vale dizer que, dentre os herdeiros legítimos
tem-se os herdeiros denominados herdeiros necessários.
Os herdeiros necessários são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge do de cujus, conforme previsão do artigo1.845 do CC/02. De acordo com Sílvio Rodrigues, tais
herdeiros, como o próprio nome já diz, não podem ser afastados inteiramente da sucessão, a não ser nos casos excepcionais de deserdação ou indignidade. (RODRIGUES,
2003)
Nestes mesmos termos, Washington de Barros Monteiro nos ensina que os herdeiros necessários são assim chamados porque sucedem de forma obrigatória, mesmo contra a
vontade do autor da herança. (MONTEIRO, 2009)
Válido ressaltar que, tendo o de cujus algum dos herdeiros necessários, não poderá dispor, por testamento, de mais da metade de seus bens, pois, é de pleno direito, a
metade do patrimônio do de cujus, aos herdeiros necessários. Sendo esta metade denominada de reserva ou legítima desses herdeiros.[2](RODRIGUES, 2003)
Contudo, de acordo com Maria Berenice Dias,
“A parte da herança chamada “legítima” não se destina aos herdeiros legítimos,mas aos herdeiros necessários. Todos os herdeiros necessários são herdeiros legítimos, mas a
recíproca não é verdadeira. Aos herdeiros necessários é assegurado a legítima, isto é, a metade da herança. Os herdeiros legítimos têm mera expectativa de direito. Herdam
se não existirem herdeiros necessários nem testamento destinando os bens a terceiros”. (DIAS, 2013, p. 137)
Já a sucessão testamentária,por sua vez, é aquela em que existiu a vontade do falecido expressa em testamento. Maria Helena Diniz citada por Maria Berenice Dias define
sucessão testamentária como sendo:
“A transmissão da herança por meio de testamento. Ocorre quando houve manifestação de vontade da pessoa, elegendo quem deseja que fique com seu patrimônio depois
de sua morte. A sucessão legitima é a regra e a testamentária a exceção”. (DIAS, 2013, p. 115)
Faz-se necessário mencionar que, para César Fiuza, a sucessão testamentária “é aquela que se dá em obediência a vontade do de cujus, vontade esta estabelecida em
testamento válido. Apesar do testamento, prevalecem as disposições legais naquilo que constitua norma cogente, bem como naquilo em que for omisso o testamento”.
(FIUZA, 2010, p. 1060)
Portanto, toda pessoa tem o direito e liberdade de realizar seu testamento, porém, este direito é limitado, uma vez que o autor da herança não pode dispor da totalidade de
seus bens quando possui herdeiros necessários, conforme determina o artigo 1.857, §1º do Código Civil Brasileiro[3]. Ressalta-se ainda que, de acordo com o artigo 1.860,
parágrafo único[4] do mesmo código, a capacidade para a feitura do testamento é atingida aos 16 anos de idade.
O testamento tem como características o fato de ser um negócio jurídico unilateral e personalíssimo, que no entendimentode Maria Helena Diniz significam:
“Unilateralidade, que significa dizer que somente pode ser feito pelo testador, motivo porque é dito personalíssimo, ou seja, não é permitido que haja participação de
representante legal ou convencional. Por ser personalíssimo e unilateral, a lei veda o testamento conjunto, ou seja, aquele realizado por mais de uma pessoa”. (DINIZ, 2010,
p. 72)
Além do mais, o testamento é gratuito, já que o testador não objetiva nenhuma vantagem em troca de sua causa mortis e também revogável, pois o testador tem a
liberdade de dispor novamente de seu testamento no momento em que o desejar. (RODRIGUES, 2003)
Por fim, tem-se que o testamento é ato solene e que só produz seus efeitos após a morte do testador. E os beneficiários da herança deixada através de testamento poderão
ser qualquer pessoa, tanto pessoas estranhas quanto os próprios herdeiros. (CATEB, 2003)
Várias são as espécies de testamentos existentes no ordenamento jurídico brasileiro, quais sejam, o testamento público, particular, cerrado (denominados de ordinários) e
marítimo, aeronáutico e militar (denominados de especiais). Os requisitos variam de acordo com o tipo de testamento que está sendo feito.
2.1.2. Sucessão universal e singular
Essas duas espécies que se passa a mencionar a seguir dizem respeito aos efeitos que a sucessão produz, podendo a sucessão ser universal ou singular.
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A sucessão universal decorre da transferência aos sucessores de todo patrimônio ou ainda um conjunto de bens que não sejam individualizados. Somente é admitida causa
mortis.
O sucessor universal é aquele que assume toda herança do de cujus, trazendo para si todos os direitos e deveres, inclusive débitos, créditos e demais obrigações. Este é
chamado de herdeiro, uma vez que sucede no todo a herança. (DIAS, 2013)
Segundo Sílvio Rodrigues, o sucessor universal se:
“Sub-roga na posição do finado, como titular da totalidade ou parte da universitas iuris, que é seu patrimônio, de modo que, da maneira que se investe na titularidade do
seu ativo, assume a responsabilidade por seu passivo”. (RODRIGUES, 2003, p.17)
Deste modo, na sucessão universal o herdeiro sucede como suplente do de cujus, e como o próprio nome já diz, sucede em caráter universal, ou seja, de maneira completa,
tomando o seu lugar na relação jurídica universal.
Quanto à sucessão a título singular, esta ocorre quando se é transmitido ao beneficiário bens pré-determinados, ou seja, bens individualizados. O herdeiro somente recebe o
bem designado no testamento. (DIAS, 2013)
Neste caso, há disposição do testador sobre itens específicos da herança. Nas palavras de Rizzardo:
“A sucessão a título singular tem em vista mais o objeto em que se sucede do que o sujeito a quem se sucede. Tal é sucessão em uma dívida ativa ou passiva, a sucessão em
um imóvel, em uma coisa ou em uma universalidade de coisas”. (RIZZARDO, 2005, p. 08)
Ademais, a sucessão a título singular pode ocorrer tanto por causa mortis como por ato inter vivos, porém, somente através de testamento poderão ser discriminados os bens
a serem transmitidos e quem serão os beneficiários. (DIAS, 2013)
Em síntese, na sucessão singular, o bem que será reservado ao sucessor será específico e determinado, sendo o sucessor chamado de legatário (GOMES, 2004), recebendo
este, apenas a parte determinada da herança, fazendo jus a um legado, que, nas palavras de Washington de Barros, não se confunde com a herança, pois:
“No primeiro, o objeto transmitido é definido, concreto, individualizado, por exemplo, o prédio da Rua Direito, n. 230, a quantia de R$ 100.000,00, ou tal joia. Na segunda,
existe uma universalidade, abrangendo a totalidade da massa hereditária, ou parte da alíquota dela”. (MONTEIRO, 2009, p. 189)
Assim sendo, enquanto na sucessão universal o herdeiro receberá os bens em sua totalidade ou em partes iguais aos demais herdeiros, na sucessão singular, o legatário
receberá de forma individualizada os bens deixados em testamento pelo de cujus. Para que um herdeiro seja denominado de singular, necessário se faz que seja, também,
testamentário.
2.2. Abertura da sucessão e transmissão da posse
O momento da abertura da sucessão se dá com o falecimento do autor da herança, e nos dizeres de Maria Berenice Dias a abertura da sucessão “nada mais significa do que o
momento da morte de alguém e o nascimento do direito dos herdeiros aos bens do falecido”. (DIAS, 2013, p. 103)
Ainda, neste mesmo sentido, Maria Helena Diniz nos ensina que:
“Com o falecimento do de cujus a herança é oferecida a quem possa adquiri-la, o que envolve a questão da prova da morte, que é feita pela Certidão de Óbito passada pelo
oficial de Registro (...). O domínio os bens da herança transfere-se, portanto, ao herdeiro do de cujus automaticamente no momento do passamento, e não no instante da
transcrição da partilha feita no inventário, de modo que o fisco só poderá cobrar o imposto causa mortis baseado nos valores do instante do óbito”. (DINIZ, 2010, pp. 27-28)
Como já vimos acima, hoje em dia o Brasil adota o princípio da droitde Saisine, ou seja, no momento da abertura da sucessão, o patrimônio do de cujus, com o nome de
herança, se transmite aos herdeiros legítimos e aos testamentários, e esta transferência ocorre de forma imediata, para fins de que o patrimônio não reste sem dono por
qualquer momento. (DIAS, 2013)
Adiante, continua a ilustre doutrinadora, diferenciando a abertura da sucessão da abertura do inventário:
“Abertura da sucessão não se confunde com abertura do inventário. São momentos distintos. A transmissão ocorre independentemente do inventário, porque é inadmissível
relação jurídica decapitada, sem um sujeito de direito para titularizá-la. A abertura da sucessão se dá no momento da morte, termo final da personalidade natural, e a
abertura do inventário ocorre quando do ingresso em juízo da ação correspondente, sempre depois da abertura da sucessão.”(DIAS, 2013, p. 103 apud NOGUEIRA, 2007, p.
01)Em breve apanhado, abre-se a sucessão com a morte do autor da herança, e o patrimônio do de cujus é automaticamente transmitido aos herdeiros, sejam eles legítimos ou
testamentários, ainda que tais herdeiros e legatários não tenham conhecimento da morte do seu titular.[5]
Porém, há que se fazer uma distinção, quanto à transmissão da posse e da propriedade. O herdeiro legítimo, com a morte do autor da herança, recebe tanto a propriedade
dos bens deixados pelo de cujus, como, também, a posse indireta, já que a direta ficará a cargo do inventariante. Já o herdeiro legatário (testamentário e singular), com o
falecimento recebe apenas a propriedade, devendo aguardar a aprovação do testamento para ter direito à posse.
Apesar do princípio da saisine determinar que a transmissão seja automática, na realidade, com a morte do autor da herança, nasce para o herdeiro o direito de acertar
(confirmar) ou renunciar a herança, conforme se verá no tópico a seguir.
2.3. Aceitação e renúncia
A aceitação, nos dizeres de Maria Berenice Dias, se trata de uma ficção, já que é instantânea a transmissão dos bens do de cujus aos herdeiros, sendo o simples silêncio
suficiente para se reconhecer a aceitação. E ainda, de acordo com seus ensinamentos, “por uma espécie de artifício, os momentos da morte, da aceitação e da atribuição
dos bens aos herdeiros se confundem”. (DIAS, 2013, p. 193)
Portanto, apesar da aceitação ser um ato meramente confirmativo, o herdeiro poderá aceitá-la de forma expressa ou tácita. E a aceitação se faz necessária para que o
herdeiro manifeste sobre o seu desejo de receber o seu acervo hereditário.
De acordo com César Fiúza, “a aceitação pode ser expressa, quando resultar de declaração escrita; nunca verbal, ainda que perante testemunhas”. E pode ser também de
forma tácita, “quando o herdeiro pratica atos compatíveis com sua condição hereditária, tais como administração”. (FIUZA, 2010, p. 1034)
Ademais, a ilustre doutrinadora Maria Berenice Dias leciona que:
“O herdeiro não precisa manifestar-se para que ocorra a transmissão. A aquisição da herança é tácita e se dá no momento da morte do de cujus. A lei simplesmente assinala
que a transmissão é definitiva desde a abertura da sucessão. A herança é deferida ao herdeiro com a ocorrência da morte. Apenas tem ele a faculdade de renunciar”. (DIAS,
2013, p. 194)
Segundo os ensinamentos de Washington de Barros Monteiro:
“Com a morte do de cujus, o domínio e a posse da herança transmitem-se ipso jure ao herdeiro, independentemente de qualquer outro ato deste. A aceitação não passa,
pois, de mera confirmação, por parte do herdeiro, da transferência que lhe havia sido feita. Não se imagine, porém, se trate de ato supérfluo ou desnecessário. Ninguém
deve ser herdeiro contra a própria vontade, sabido que não mais vige a parêmia filius ergo heres. Requer-se, por isso, aceitação, por via da qual o herdeiro manifesta o
propósito de adir a herança”. (MONTEIRO, 2009, p. 51)
Ressalta-se que, mesmo não sendo imposta por lei, a aceitação se faz necessária de forma que servirá como uma mera confirmação do recebimento da herança.
Assim sendo, a aceitação não tem uma forma rigorosa prevista em lei. Pode a mesma ser expressa ou tácita, previstas no artigo 1.805 do CC/02[6] ou presumida, conforme o
artigo 1.807 do CC/02[7].
A aceitação é expressa quando manifestada por escrito. Em conformidade com os ensinamentos de Sílvio Rodrigues, esta maneira de aceitação não é a maneira mais
utilizada hoje em dia.(RODRIGUES, 2003)
Nos dizeres de Washington de Barros Monteiro, ocorre a aceitação expressa “quando o herdeiro declara por escrito, público ou particular, que deseja receber a herança”
(MONTEIRO, 2009, p. 51), ou seja, há aceitação expressa, como o próprio nome já diz, quando o herdeiro declara, de forma expressa e por escrito, a sua vontade de herdar
os bens que lhe cabem.
A aceitação pode ser também tácita. Nesta modalidade, basta o herdeiro praticar atos compatíveis com o caráter de herdeiro para caracterizar a sua aceitação.
Sobre aceitação tácita, Silvio Rodrigues nos ensina que:
“Essa aceitação manifesta-se tacitamente, inferindo-se da prática de atos peculiares e específicos de herdeiros. A aceitação tácita resulta, portanto, de qualquer ato,
positivo ou negativo, que demonstre, de modo seguro e certo, intenção de adir a herança. Assim, se o herdeiro intervém no inventário e nele se faz representar por
advogado, concordando com as primeiras declarações, avaliações e outros atos do processo; se administra, sem ser em caráter provisório, os bens herdados, benfeitorizando-
os, satisfazendo-lhes os impostos, praticando, em suma, atos privativos ou característicos do herdeiro; de semelhante atuação se dessume, indiscutivelmente, intento do
herdeiro em adir a herança”. (RODRIGUES, 2003, p. 52)
Ressalta-se que, hoje em dia, a aceitação tácita impera, não sendo habitual que o herdeiro compareça ao processo de inventário para externar sua aceitação. (MONTEIRO,
2009)
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Outra modalidade de aceitação da herança é a aceitação presumida, prevista no artigo 1807 do Código Civil, que diz que “o interessado em que o herdeiro declarese aceita,
ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se
haver a herança por aceita”.[8]
Nas palavras de Maria Berenice Dias, “não se manifestando o herdeiro quando intimado, considera-se presumida a aceitação”, ou seja, havendo o silencio do herdeiro, após
intimação, será entendido que o mesmo aceitou a herança, sem qualquer outra formalidade.(DIAS, 2013, p. 195)
Conforme se viu acima, a aceitação da herança é automática, e caberá ao herdeiro a possibilidade de renunciá-la, ou seja, recusar o recebimento do patrimônio, abrindo
mão de sua titularidade.
Nas lições de César Fiuza, “a renúncia é o direito que tem o herdeiro de rechaçar a herança”. (FIUZA, 2010, p. 1035). Ou seja, a renúncia é um direito pelo qual o herdeiro
declara não aceitar a herança que lhe cabe.
Para ElpídioDonizetti, a renúncia é:
“Um ato jurídico voluntário, puro e simples (art. 1808) e irrevogável (art.1812). Ou seja, não se admite renúncia parcial, nem a imposição de condições, termo ou encargo,
nem retratação”. (DONIZETTI, 2012, p. 1113)
Neste mesmo sentido, Dimas Messias de Carvalho nos ensina que “a renúncia surge como o ato jurídico unilateral, por meio do qual o herdeiro declara não aceitar a herança,
repudiando a transmissão que a lei opera em razão da ordem de vocação hereditária ou testamentária, despojando-se da sua titularidade”. (CARVALHO, 2009, p. 21)
Portanto, com a renúncia, o herdeiro abre mão de ter qualquer direito, e fica estimado como se nunca tivesse existido, ou melhor, como se jamais houvesse herdado.
Ademais, ainda de acordo com os ensinamentos do ilustre doutrinador ElpídioDonizetti, a renúncia “trata-se de ato solene, que deve tomar a forma de instrumento público
ou termo judicial (artigo 1.806 do Código Civil/02), sob pena de nulidade”. (DONIZETTI, 2012, p. 1113). Ou seja, diferentemente da aceitação, a renúncia não ocorrerá de
forma tácita, devendo sempre ser feita por instrumento público ou termo judicial para que se tenha validade.[9]
2.4. Capacidade para sucessão legítima e testamentária
Como se viu acima, a sucessão testamentária é uma sucessão regulada por um testamento válido e eficaz, proveniente de um ato de última vontade. Já a sucessão legítima,
é a determinada por lei, quando o de cujus, por qualquer motivo, não deixou testamento.
A capacidade passiva para sucessão, seja ela testamentária ou legítima, nada mais é do que a aptidão do herdeiro para receber o patrimônio deixado pelo falecido. E nosdizeres de Silvio Salvo Venosa, “para que uma pessoa possa ser considerada herdeira, há que se atentar para três requisitos: deve existir, estar vivo ou já concebido na
época da morte, ter aptidão específica para aquela herança e não ser considerado indigno”. (VENOSA, 2010, p. 47)
Em regra, é capaz para suceder, qualquer pessoa física ou jurídica que exista ou já concebida ao tempo da abertura da sucessão. (CARVALHO, 2009)
Nas lições de Maria Berenice Dias, a legitimidade passiva para suceder “é regida pela lei vigente ao tempo da abertura. Trata-se de regra de direito intertemporal (art.
1.787, CC). Nesta data o herdeiro precisa ter nascido ou já ter sido concebido (art. 1.798, CC)”.(DIAS, 2013, p. 120)
O Código Civil Brasileiro de 2002, em seu artigo 1.798, inovou ao incluir o nascituro na regra geral, ou seja, as pessoas já concebidas no instante da abertura da sucessão,
nascendo com vida, receberão os bens, frutos e rendimentos desde o falecimento do autor da herança. Porém, se nascer sem vida, nada herdará, por não ter possuído
capacidade civil. (CARVALHO, 2009)
Além dos já concebidos, as pessoas ainda não concebidas têm legitimidade para ser herdeiro, contudo, apenas na sucessão testamentária. Estes serão os chamados de
filiação eventual (DIAS, 2013), ou seja, os filhos ainda não concebidos de pessoas certas, desde que vivas no momento da morte do testador terão direito aos frutos e ao
patrimônio do falecido. (CARVALHO, 2009, p. 80)
Quanto às pessoas jurídicas, estas não possuem capacidade ativa para testar, porém, do mesmo modo da filiação eventual, as pessoas jurídicas possuem capacidade para
tomar parte na sucessão testamentária.
De acordo com os preceitos de Maria Berenice Dias, as pessoas jurídicas,
“Possuem legitimidade passiva de receber por testamento, como herdeiras testamentárias ou legatárias. Mas precisam já estar constituídas (art. 1799, II, CC). Ainda assim, é
possível que o testador determine a organização de fundação para que sejam contempladas” (1799, III). (DIAS, 2013, p. 122)
Ressalta-se que, a capacidade sucessória em nada se confunde com capacidade civil, uma vez que, alguém pode ser incapaz civilmente e isso nada prejudicar em sua
capacidade para suceder, como também, alguém pode ser absolutamente capaz para seus atos da vida civil e não ter capacidade para suceder. Ou seja, “a capacidade civil
é a aptidão de uma pessoa para exercer, por si, os atos da vida civil (...). Legitimidade sucessória é a aptidão da pessoa para receber os bens deixados pelo de cujus”. (DIAS,
2013, p. 120)
Por fim, oportuno registrar, que em nosso ordenamento jurídico somente possui legitimidade para suceder quem pertence à espécie humana, ou seja, “coisas e animais não
podem suceder, posto que não são sujeitos de direito e não têm capacidade”. (CARVALHO, 2009, p. 82)
Porém, embora a capacidade passiva para suceder seja a regra, algumas pessoas são consideradas como incapazes para o recebimento de herança testamentária, sendo elas
as descritas no artigo 1.801 do CC/02:
“Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.”[10]
O objetivo de se afastar do recebimento da herança as pessoas elencadas no artigo 1801 é evitar que algumas pessoas utilizem de má-fé para se auto beneficiarem.
3. Da exclusão do herdeiro: considerações gerais
Conforme elucidado anteriormente, é com a abertura da sucessão que se dá início ao direito hereditário e onde o domínio e a posse da herança transferem-se, desde logo,
aos herdeiros legítimos e testamentários. E, em regra, todas as pessoas, nascidas ou concebidas, possuem capacidades para suceder.
No ordenamento jurídico pátrio, existem duas formas pela qual o herdeiro poderá ser excluído da sucessão, quais sejam, a deserdação e a indignidade. E são os artigos 1.814
a 1.818 e 1.961 a 1.965 do Código Civil que nos trazem as hipóteses de exclusão do herdeiro da sucessão, tratando também de suas espécies.
Segundo o que ensina Maria Berenice Dias:
“O afastamento do direito sucessório não ocorre exclusivamente por desejo do herdeiro. É possível ser imposto judicialmente. Tanto herdeiros como legatários podem ser
excluídos da sucessão por razões de ordem ética. Trata-se da perda de direito com natureza punitiva. Dois institutos preveem tal possibilidade: a indignidade e a
deserdação. Ambos são formas de penalizar o herdeiro que se conduziu de forma injusta contra o autor da herança de modo a merecer reprimenda, tanto do ponto de vista
moral como legal. No entanto, são institutos que não se confundem, apesar de quase identidade de motivos e a consequência ser a mesma: a exclusão do herdeiro”.(DIAS,
2013, p. 297)
Ambas as modalidades de exclusão do herdeiro serão melhor abrangidas posteriormente, mas no momento, podemos conceituar a exclusão por indignidade como sendo
aquela onde há o cometimento de uma das ações descritas nos incisos do artigo 1.814 do Código Civil Brasileiro[11] e, necessitando para sua declaração de indigno uma ação
declaratória de indignidade. A deserdação, por sua vez, acontece quando o testador dispuser, em seu testamento, de modo expresso, a exclusão da sucessão de um dos seus
herdeiros por ter agido na prática de um dos comportamentos descritos no artigo 1.962 do CC/02[12].
3.1. Formas de exclusão
Como se viu acima, existem duas formas de exclusão do herdeiro, a indignidade, prevista nos artigos 1.814 a 1.818 do Código Civil de 2002; e a deserdação, expressa nos
artigos 1.961 a 1.965 do mesmo código.
De acordo com Silvio Rodrigues, nesses dois episódios, o herdeiro não se mostra digno de embolsar a parte da herança que lhe cabe já que:
“(...) a sucessão hereditária assenta na afeição real ou presumida do defunto pelo sucessor, afeição que deve despertar nesse último um sentimento de gratidão. A quebra
desse dever de gratidão acarreta a perda da sucessão; nisso se combinam a indignidade e a deserdação.” (RODRIGUES, 2003, p. 66)
Vale ressaltar que, embora a indignidade e a deserdação, sejam formas de excluir do recebimento da herança herdeiros, no primeiro caso, legítimos e testamentários e, no
segundo caso, herdeiro necessário, são institutos distintos. A diferença básica entre a indignidade e a deserção, nos dizeres de Dias é:
“(...) a indignidade alcança todos os herdeiros: legítimos, necessários, facultativos, testamentários e legatários. A deserdação é restrita aos herdeiros necessários, e só pode
ser imposta por testamento, com expressa declaração da causa que motivou o testador a querer privá-los da herança”. (DIAS, 2013, p. 298)
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Por fim, diante de tais considerações, faz-se-á, nesse momento, uma análise a respeito de cada um dos institutos.
3.2. Da deserdação
A deserdação acontece quando o herdeiro necessário é excluído da sucessão. Essa exclusão se dará através de testamento válido deixado pelo autor da herança, com
expressa manifestação do evento causador da deserdação.
O grande doutrinador Roberto Senise Lisboa nos explica que:
“(...) a deserdação é o ato voluntário do testador de afastar o herdeiro necessário do direito à sucessão, mediante cláusula testamentária, por causa de infração grave por
ele cometida, prevista em lei”. (LISBOA, 2004, p. 444)
Nessa mesma linha de raciocínio, César Fiuza afirma que a deserdação nada mais é do que a:
“Exclusão de um ou mais herdeiros necessários,pelo próprio testador, no testamento. Só terá validade se o testador explicitar a causa da deserdação. Assim é que a
deserdação só atinge os herdeiros necessários, uma vez que, em relação aos demais, basta que o testador não os contemple. Mas os necessários que, como vimos, têm que
ser contemplados com 50% da herança, estes sim pode ser deserdado pelo sucedido, desde que o faça em testamento. Para deserdar, não basta que o testador queira. A
deserdação, assim como a exclusão por indignidade tem que ter fundamento. E este fundamento é dado pela própria lei”. (FIUZA, 2004, p. 996)
Como já visto anteriormente, os casos de deserdação encontram-se previstos nos artigos 1.961 a 1.965 do Código Civil de 2002, e caberão, exclusivamente, contra os
herdeiros necessários.
As hipóteses de exclusão por deserdação mais comuns são também as causas que motivam a exclusão por indignidade (FIUZA, 2004). Contudo, a deserdação possui um leque
ainda mais amplo de motivos. Conforme expresso no artigo 1.962 do CC/02, também permite a deserção a ofensa física (mesmo que de natureza leve), a injúria grave, a
ocorrência de relações ilícitas com o cônjuge ou companheiro do autor da herança e o desamparo do testador quando este estiver em alienação mental ou gravemente
enfermo.
“Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I – ofensa física;
II – injúria grave;
III – relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
IV – desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.”[13]
O artigo 1.962 do CC/02 supra mencionado, prescreve as hipóteses em que o ascendente pode deserdar descendente, porém, esta não é a única hipótese. O descendente,
também, pode deserdar o ascendente. Os casos estão previstos no artigo 1963 do CC/02. Veja-se:
“Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade”.[14]
A deserdação somente atinge os herdeiros necessários, ou seja, ascendente deserda descendente e descendente deserda ascendente. O cônjuge, embora seja herdeiro
necessário, não pode ser deserdado, não havendo previsão para tanto. Por outro lado, vale dizer que, para afastar o cônjuge do recebimento da herança, basta o divórcio,
meio mais rápido e eficaz.
Ademais, os efeitos da deserdação são pessoais, e atingirá somente o culpado, ou seja, somente alcançará aquele que cometeu o ato censurado por lei. Assim, nos casos de
deserdação e nos de indignidade, diferentemente dos casos de renúncia da herança,
“(...) o afastamento do herdeiro tem caráter punitivo. Como a pena não pode ir além da pessoa, os descendentes do indigno e do deserdado são convocados a receber o
quinhão em nome do excluído, ou seja, representam quem foi afastado, herdam por direito de representação”. (DIAS, 2013, p. 298)
Por fim, conforme visto acima, para que haja a deserdação, necessário se faz a presença dos requisitos básicos para tal, quais sejam, a existência de um testamento válido,
bem como a cláusula expressa dos motivos previstos em lei que ensejaram a deserdação.
Além do mais, vale dizer, que a deserdação, para surtir os efeitos desejados, necessário é o ajuizamento de ação, após a morte do de cujus, provando a veracidade dos
motivos alegados pelo testador. O prazo para que, tal ação seja ajuizada é de 4 anos sob pena do objetivo da deserdação não ser atingido. (DIAS, 2013)
A partir deste momento, será estudado de maneira detalhada e completa o instituto da exclusão da sucessão por indignidade, núcleo deste trabalho.
4. Da indignidade: noções gerais
A palavra indignidade vem do latim, e seu significado diz respeito à ausência de honra e respeitabilidade, assim como as palavras ultraje, afronta e a injúria.(VENOSA, 2004)
De modo geral, sabe-se que o instituto da indignidade está previsto entre os artigos 1.814 a 1.818 do Código Civil Brasileiro, e diz respeito à situação onde, tanto o herdeiro
legatário, quanto o herdeiro testamentário, nas circunstâncias previstas em lei, pode ser excluído da herança.
No entendimento de Salomão de Araújo Cateb, tem-se que indignidade é uma:
“Forma de exclusão de herdeiros legítimos e testamentário, e abrange, portanto, a sucessão legítima e a testamentária; embora tendo a capacidade para suceder, o
excluído perde-a, como pena civil, pela prática de determinados atos determinados pela lei, como danosos à vida, à honra ou à liberdade de testar do autor da
herança.”(CATEB, 2007, p. 97)
Seguindo o mesmo ensinamento de Cateb, o doutrinador Roberto Senise Lisboa diz que “a indignidade é a pena civil causada por ato reprovável cometido contra o autor da
herança, em desfavor do herdeiro ou legatário, o que significa que poderá ser aplicada tanto na sucessão legítima como na testamentária”. (SENISE, 2004, p.438-439)
Na mesma linha de entendimento dos renomados doutrinadores Cateb e Senise, Cláudia de Almeida Nogueira entende a indignidade como sendo uma pena civil imposta aos
herdeiros e/ou legatários que participem de qualquer das hipóteses expressas no artigo 1.814 do CC/02[15], ficando privados do recebimento dos bens da pessoa ofendida
(autor da herança). (NOGUEIRA, 2007)
Em síntese, na indignidade, os herdeiros são afastados por causas posteriores ou anteriores a abertura da sucessão, podendo ser derrubado tanto os herdeiros legítimos como
os herdeiros testamentários e estes no momento em que são declarados indignos serão destituídos por indignidade de todo o direito sucessório.
Nota-se que, apesar de semelhantes, há muitas diferenças entre a exclusão por indignidade e o afastamento por deserdação. Sílvio Rodrigues afirma que:
“Exclusão por indignidade e deserdação, todavia, são institutos paralelos, que remedeiam a mesma situação, visto que por intermédio deles se afasta da sucessão o
beneficiário ingrato, pois, como observa LACERDA DE ALMEIDA, a sucessão hereditária assenta na afeição real ou presumida do defunto pelo sucessor, afeição que deve nesse
último o sentimento de gratidão. A quebra desse dever de gratidão acarreta a perda da sucessão; nisso se combinam a indignidade e a deserdação”.(RODRIGUES, 2003, p. 66)
Já Washington de Barros Monteiro define a indignidade, preferindo por distingui-la da deserdação:
“A indignidade constitui pena civil cominada a herdeiro acusado de atos criminosos ou reprováveis contra o de cujus. Com a prática desses atos, incompatibiliza –se ele com
a posição de herdeiro, tornando-se incapaz de suceder. Não se deve confundir indignidade com deserdação. Certamente, têm ambas a mesma finalidade, a punção de quem
se portou ignobilmente com o falecido, e o mesmo fundamento, a vontade presumida do de cujus, que não desejaria, por cetro, fossem seus bens recolhidos por quem se
mostrou capaz de tão grave insídia. Ambos os institutos procuram afastar aquele que não em razão do reprovável que teve em relação ao autor da herança. Mas a pena de
indignidade é cominada pela própria lei, nos casos expressos que enumera, ao passo que a de deserdação repousa na vontade exclusiva do autor da herança, que a impõe ao
culpado no ato de última vontade, desde que fundada em motivo legal.”(MONTEIRO, 2009, p. 62)
Além do mais, vale ressaltar que, não se pode confundir o instituto da indignidade com a incapacidade sucessória, uma vez que, a “incapacidade para suceder, é a inaptidão
de alguém para receber uma herança, por razões de ordem geral que independem de seu mérito ou demérito, e indignidade, é a perda da herança como pena imposta ao
sucessor capaz, em virtude de atos de ingratidão por ele praticados contra o defunto”. (RODRIGUES, 2003, p. 66)
Nesse mesmo sentido, com o intuito de não se confundir a indignidadecom a incapacidade sucessória, Cateb:
“Difere, também, a indignidade da incapacidade: na indignidade, a pessoa recebe a coisa e a perde; na incapacidade, a pessoa nunca recebeu, pois não tinha a capacidade
para tal; a indignidade é uma pena civil aplicada a determinada pessoa pela prática de atos, enquanto na incapacidade existe um fato, decorrente da personalidade do
herdeiro; o incapaz não existe para a sucessão, o indigno existe, recolhe a herança, perdendo-a”. (CATEB, 2007, p. 97)
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Entretanto, o ordenamento jurídico pátrio apenas permite que um herdeiro seja considerado indigno após sentença transitada em julgado e assim, conforme dito no artigo
1.815 do Código Civil Brasileiro, quando aberta a sucessão, o herdeiro está hábil a ganhar a parte da herança que lhe compete, sendo compelido a proceder com a
restituição no caso de haver a declaração por indignidade.[16]
Deste modo, para que um herdeiro legítimo ou legatário seja estimado indigno, necessário se faz a propositura da ação ordinária pertinente, cujos legitimados são as pessoas
que têm interesse na sucessão e na exclusão do indigno. (DIAS, 2013). Ainda, para que esta ação seja julgada procedente, o requerente terá que demonstrar que o herdeiro
praticou algum dos casos explícitos de indignidade, previstos no art. 1.814 e incisos do Código, casos estes que será melhor ponderado em itens futuros do presente estudo.
4.1. Das causas de exclusão por indignidade
Observa-se até aqui que a indignidade decorre de Lei, deste modo, as possibilidades que acarretam a indignidade do herdeiro e o levam a ser excluído da herança são
taxativas. Tais possibilidades, como se sabe, estão previstas no Código Civil, artigo 1.814 em seus incisos:
“Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I – que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade”.[17]
Logo, as causas trazidas no artigo supracitado, são numerusclausus (limitados/taxativos), não havendo qualquer possibilidade de que seja ampliado os motivos que acarretam
a indignidade, ante ao princípio nullapoenasine lege (princípio da legalidade). Conforme entendimento de Maria Helena Diniz:
“As causas que autorizam a exclusão do herdeiro ou do legatário da sucessão estão arroladas no art. 1.814 do Código Civil, podendo ser resumidas em: atentados contra a
vida, a honra e a liberdade do de cujus ou de membros de sua família. Como se trata de pena civil, a exclusão por indignidade só pode ocorrer nos casos expressamente
mencionados em lei, não comportando interpretação extensiva ou aplicação analógica ante o princípio nullapoenasinelege.”(DINIZ, 2010, p. 51)
Como se pode notar, as causas que excluem o herdeiro da sucessão podem ser abreviadas em: a) atentados contra a vida (inciso I); b) à honra (inciso II); c) e a liberdade do
de cujus (inciso III). E, a partir de agora, far-se-à, de forma sucinta, a análise de cada respectiva causa que caracteriza a indignidade.
4.1.1. Do atentado contra a vida
No que se refere o inciso I do artigo 1.814 do CC/02[18], é tido como indigno aquele herdeiro que atentar, for co-autor ou cúmplice de homicídio contra a vida do autor da
herança, de seu descendente, ascendente, cônjuge ou companheiro. “Assim, quem mata ou tenta matar o pai, a esposa ou a companheira dele, o avô ou algum irmão, pode
perder o direito à herança do genitor”. (DIAS, 2013, p. 309)
Seguindo os preceitos da ilustre doutrinadora, ressalva-se que, só gerará indignidade quando o atentado contra a vida for de forma dolosa, seja o crime tentado ou
consumado, não sendo aceitável, portanto, a declaração de indignidade nas hipóteses de homicídio de forma culposa. (DIAS, 2013)
Segundo Cateb, a indignidade:
“Não se estende, no caso, ao delito culposo, como não tem cabimento no error in persona e na aberractioictius. O dolo é elementar na determinação do fato causal da
exclusão, não se podendo cogitar desta em qualquer situação e que a perda da vida resultou de uma ausência de animus necandi. A vontade dirigida, o resultado alcançado
ou pretendido, o homicídio voluntário ou a tentativa deste, não basta o simples planejamento ou querência. A ação criminosa é condição indiscutível para a exclusão do
herdeiro por esse motivo.”(CATEB, 2007, p. 56)
É válido lembrar que, quando o parente colateral que for herdeiro ou legatário e atentar contra a vida do irmão do autor da herança, seja dolosa ou culposamente, não se
caracterizará causa de indignidade e assim não poderá ser retirado do monte hereditário, assim como aquele que cometer lesão corporal.
Outro ponto a ser ressaltado é que não se pode reconhecer como causa de afastamento por indignidade se a morte decorreu de culpa, ou seja, por imprudência, imperícia ou
negligência, como nos casos de acidente de trânsito. (DIAS, 2013)
Ademais, da mesma forma que nos casos supracitados não se pode falar em exclusão por indignidade, nas hipóteses de legítima defesa, estado de necessidade, exercício
regular de um direito[19], loucura[20] e embriaguez[21] também não poderão ser causas geradoras da indignidade, pois em todos esses fatos, a conduta lesiva não foi
voluntária, não havendo animus necandi (intenção de matar) e como já foi dito, o dolo é característica principal para que se determine como hipótese de exclusão prevista
no inciso I do artigo 1814, do CC/02. (GONÇALVES, 2010)
Completando o que vem sendo estudado, Monteiro diz que:
“No direito pátrio, porém, o reconhecimento da indignidade não depende de prévia condenação do indigno no juízo criminal. Não há interdependência entre as duas
jurisdições; a prova da indignidade pode ser produzida no juízo cível. Mas, se há sentença no juízo criminal, absolvendo o réu, por não lhe ser imputável o fato, ou por não
ter este existido, não mais será possível questionar a respeito no juízo cível, de acordo com o art. 935 do Código Civil de 2002. A sentença criminal produz efeito de coisa
julgada e lícito não será reconhecer a indignidade no juízo cível.” (MONTEIRO, 2010, p. 64)
Em síntese, conclui-se que, conforme já foi explanado acima, o dolo é fundamental para que se caracterize o caso de exclusão prevista no inciso I do artigo 1.814 do Código
Civil Brasileiro.
4.1.2. Do atentado contra a honra
Quanto ao atentado contra a honra do autor da herança, previsto no inciso II do artigo 1.814 do CC/02[22], sabe-se que, “os que acusarem caluniosamente em juízo ou
incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro” (PEREIRA, 2007, p. 33) serão excluídos da sucessão, sendo privados de receber o quinhão que
lhes cabe.
Com relação ao assunto em questão, este pode ser dividido em duas formas. O primeiro caso está previsto no artigo 339 do Código Penal (CP)[23], e diz respeito ao indigno
que acusar caluniosamente o de cujus em juízo, ou seja, o indigno, mesmo sabendo que o autor da herança é inocente, comete a denunciação caluniosa contra ele. A
segunda parte do dispositivo está relacionada aos crimes contra a honra da pessoa cuja sucessão se trata, ou de seu cônjuge ou companheiro. Em outras palavras, esta
segunda hipótese, diz respeito aos crimes de calúnia, difamação e injúria expressos nos artigos 138[24], 139[25] e 140[26] do CP. (RODRIGUES, 2003)
Vale ressaltar que, “o Código exige a acusação caluniosa no juízo criminal, seja com a formulação de queixa, sejamediante representação ao Ministério Público”. (PEREIRA,
2010, p. 33). Deste modo, a denunciação caluniosa deve ser levada em juízo criminal, mesmo que a lei não imponha a condenação criminal daquele que praticou o ato
contra a honra do autor da herança, como requisito para que o mesmo seja excluído da herança.
Para melhor explicar, Caio Mário da Silva Pereira diz que “não é necessária a condenação do herdeiro, bastando haja este provocado a ação penal contra o de cujus. O
vocábulo “acusar” não é tomado no sentido estrito de um trâmite da ação penal, porém na acepção comum, de denunciação de um fato delituoso”. (PEREIRA, 2010, p. 33)
4.1.3. Do atentado contra a liberdade de testar
Essa hipótese, prevista no inciso III do já mencionado artigo 1.814 do CC/02[27], refere-se apenas à liberdade do autor da herança, não podendo se estender aos seus
parentes, cônjuge ou companheiro e, diz respeito aos herdeiros que, inibirem ou obstarem o autor da herança de livremente dispor de seus bens em testamento ou codicilo
usando de violência ou qualquer meio fraudulento. (PEREIRA, 2010)
Sobre o referido inciso, Maria Berenice Dias entende que:
“O herdeiro que, por violência física ou psicológica, ou por meios fraudulentos, inibiu ou obstou o autor da herança de livremente dispor de seus bens por testamento ou
codicilo. A proteção é somente à liberdade do testador e não se estende aos seus familiares. Qualquer interferência causada por violência física ou psicológica, ou ainda por
meio fraudulento, gera a possibilidade de exclusão”. (DIAS, 2013, pp. 310-311)
Na mesma linha de ideias, Fiuza manifesta que:
“O atentado ocorre por violência ou fraude, consistindo em inibir alguém de livremente dispor de seus bens por testamento ou codicilo, ou obstar a execução dos atos de
última vontade. As espécies de comportamento são as mais variadas: o indigno pode coagir o testador a testar-lhe favoravelmente. Pode falsificar o testamento, destruí-lo,
esconde-lo”. (FIUZA, 2010, p. 1.058)
Sabe-se que, todos têm liberdade para dispor de seus bens para após o falecimento. Esta manifestação de vontade é um direito assegurado ao autor da herança e, está
previsto no artigo 1.857 do Código Civil Brasileiro[28].
Cateb nos ensina que:
“A liberdade de testar, de dispor de bens após sua morte, é uma manifestação livre e espontânea, e deve ser preservada pelo Direito. É bastante antiga essa forma de
manifestação, sabendo-se que, na primeira fase do direito romano, era ampla e irrestrita, existindo, sem dúvida uma liberdade absoluta de dispor por meio de liberalidade.
Data dessa época a preocupação do pater com a continuação de sua família, dos seus costumes religiosos, a preservação desses princípios e, muitas vezes, a ideia de
idolatria do próprio pater”. (CATEB, 2007, pp. 71-72)
Deste modo, sendo o autor da herança impedido pelo herdeiro, obrigatoriamente através de violência (ação física) ou meios fraudulentos (ação psicológica), de fazer seu
testamento ou codicilo, violando sua liberdade de testar, acarretará sua exclusão por indignidade. Carlos Roberto Gonçalves manifesta a respeito, conceituando que inibir o
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autor da herança é cercear a liberdade do mesmo da disposição dos bens e obstar corresponde a impedir tal disposição. (GONÇALVES, 2010)
Nas palavras de Sílvio de Salvo Venosa, fraude nada mais é do que:
“Todo artifício malicioso que uma pessoa emprega com a intenção de transgredir o Direito ou prejudicar interesses de terceiros. Portanto, a fraude é aquela conduta que
ilude a lei ou terceiros por via indireta, sem que haja um ato ostensivo de desrespeito ao direito”. (VENOSA, 2003, p. 155)
Em suma, o que o legislador almejou com a criação desse inciso III do artigo 1.814 do CC/02, foi proteger a liberdade que o de cujus tem de dispor de seus bens, castigando
o herdeiro que tenha praticado alguma conduta fraudulenta, dolosa ou coercitiva, contra o testador, de forma que violou o seu direito de dispor de seus bens, o privando de
expressar sua vontade. De modo geral, Venosa entende que, esse inciso veio para defender a liberdade de testar, cominando uma punição ao herdeiro ou legatário que por
algum motivo corromperam a vontade do testador, privando - o de sua liberdade. (VENOSA, 2003)
Por fim, ressalva-se que, caso não consiga comprovar que o herdeiro inibiu ou obstou, por violência ou meio fraudulento, a liberdade do autor da herança de fazer um
testamento ou codicilo, a indignidade deverá ser afastada.
4.2. Ação declaratória de indignidade
Em qualquer dos casos de exclusão do herdeiro (deserdação e indignidade), necessário se faz que a justiça seja provocada, em consonância com princípio da inércia da
jurisdição e da demanda. Assim, é forçoso o ajuizamento de uma ação, a fim de se obter uma sentença, reconhecendo o herdeiro como indigno, impedindo que o mesmo
receba a herança. Ou seja, para ver a indignidade reconhecida judicialmente, “não basta a existência do fato”, é necessário provocar a jurisdição. (PEREIRA, 2010, p. 35)
Melhor dizendo, e usando as palavras de Maria Berenice Dias:
“Ainda que o agir do herdeiro tenha sido indigno e mesmo que o testador tenha deserdado, a inércia para a propositura da ação simplesmente faz desaparecer as causas de
exclusão e o herdeiro é contemplado com o seu quinhão hereditário, como se nada tivesse feito de errado.” (DIAS, 2013, p. 299)
Como essa ação tem a finalidade meramente de reconhecimento de indignidade, é chamada de Ação Declaratória, na qual, ao final, será proferida uma sentença
declaratória. (GONÇALVES, 2010, p. 123)
Segundo Monteiro:
“A indignidade não opera ipso jure. Trata-se de pena que só se aplica mediante provocação dos interessados. Para que se exclua o herdeiro da sucessão preciso se torna que
a indignidade seja reconhecida por sentença, proferida em ação ordinária intentada com esse escopo pelo interessado. A indignidade depende, portanto, de procedimento
judicial, sendo pronunciada officiojudicis. A sentença não é o título constitutivo, mas apenas declarativo da incapacidade para suceder”. (MONTEIRO, 2009, p. 67)
Deste modo, imperioso se faz demonstrar o procedimento e o posicionamento da doutrina sobre a ação declaratória de indignidade.
A ação declaratória de indignidade só pode ser ajuizada a partir da abertura da sucessão. Pereira nos explica que:
“Ação declaratória de indignidade deve ser proposta depois da abertura da sucessão; não tem cabimento em vida do hereditando, pois que até então inexiste a sucessão:
hereditasviventis non datur. Exclui-se, portanto, a iniciativa da ação pelo próprio ofendido. A ele reserva, contudo, a lei o direito de deserdar o ofensor.” (PEREIRA, 2010, p.
35)
Maria Berenice Dias acrescenta que:
“Como se trata de direito potestativo, o prazo é decadencial. Mas o termo inicial para a propositura das demandas é distinto: para a ação de indignidade o dies a quo é a
abertura da sucessão, enquanto para a demanda de deserdação o marco é a abertura do testamento”. (DIAS, 2013, p. 299)
Além do mais, apesar da deserdação e da indignidade ter o mesmo objetivo, ou seja, punir quem ofendeu o autor da herança, ambos os institutos são distintos, pois, de
acordo Maria Helena Diniz:
“a) a indignidade funda-se, exclusivamente, nos casos expresso no art. 1.814 do Código Civil, ao passo que a deserdação repousa na vontade exclusiva do auctorsuccessionis,
que a impõe ao ofensor no ato da última vontade, desde que fundada em motivo legal (CC, arts. 1.814, 1.962 e 1.963); b) a indignidade é própria da sucessão legítima,
embora alcance o legatário (CC, art. 1.814), enquanto a deserdação só opera na seara de sucessão testamentária; c) a indignidade priva da herança sucessores legítimos e
testamentários; e a deserdação é o meio usadopelo testador para afastar de sua sucessão os seus herdeiros necessários (descendentes e ascendentes)”. (DINIZ, 2002, pp. 49-
50)
Conforme se extrai dos ensinamentos de Caio Mário e demais renomados doutrinadores, entende-se que a ação declaratória não pode ser proposta em vida pelo hereditando,
cabendo apenas aos interessados, após abertura da sucessão.
No que se refere à legitimidade para propositura da demanda declaratória, o artigo 1.815 do CC/02[29] deixa claro que, apenas os herdeiros ou legatários são quem pode
compor o polo ativo da ação, uma vez que eles são os interessados na herança deixada pelo de cujus.
Contudo, o ajuizamento da ação declaratória pelo Ministério Público tem se tornado comum nos dias atuais. Essa hipótese já foi comentada por Sílvio Rodrigues, que
manifesta da seguinte forma:
“O que convém ter em vista é que a matéria é de interesse privado, e não público, de sorte que só aqueles que se beneficiariam com a sucessão poderiam propor a exclusão
do indigno. Se o herdeiro legítimo ou testamentário assassinou o hereditando, mas as pessoas a quem sua exclusão beneficiaria preferissem manter-se silentes, o assassino
não perderia a condição de herdeiro e receberia os bens da herança, não podendo a sociedade, através do Ministério Público, impedir tal solução”. (RODRIGUES, 2003, p. 71)
O entendimento de Rodrigues vai de encontro ao entendimento de Maria Helena Diniz. Veja-se:
“Como o novo Código Civil foi omisso a respeito, o Ministério Público poderia também propô-la, por ser o guardião da ordem jurídica (CF, art. 127) e pelo fato de haver
interesse social e público de evitar que herdeiro ou legatário desnaturado receba vantagem, beneficiando-se da fortuna deixada pela sua vítima”. (DINIZ, 2009, p. 70)
Já Dias, sustenta que o Ministério Público possui legitimidade para propor a ação declaratória, contudo, reconhece que este entendimento não é o majoritário. Nas palavras
de Maria Berenice Dias:
“Vem a doutrina sustentando a legitimidade do Ministério Público para propor a ação de indignidade em face de sua condição de guardião da ordem jurídica (CF, 127). Esta
posição, no entanto, não é majoritária, sendo reconhecida a legitimidade ministerial somente na hipótese de haver herdeiros incapazes, ou interesse público. Mister
distinguir. Quando o ato de indignidade constituiu crime de ação pública incondicionada, possível conceder legitimação extraordinária ao agente ministerial. Com referência
às outras causas de indignidade, a omissão do interessado faz desaparecer a possibilidade de ser buscada a exclusão. O indigno herda.”
Nota-se que há uma divergência entre os doutrinadores com relação a legitimidade do Ministério Público, no entanto, sem dúvida, há interesse público e social ao impedir
que um filho desvirtuado, que matou seu próprio genitor, venha desfrutar da riqueza que este deixou, motivo que leva o Ministério Público a intentar contra o indigno.
Porém, existem alguns aspectos que interferem no andamento desse processo, uma vez que, as causas de indignidade estão ligadas a objetos de tutela criminal, e seus
efeitos, ligam-se a objetos de tutela do juízo civil. Causas essas que motivaram o presente estudo. Ao final, se verá uma análise específica sobre a questão.
Em razão do exposto acima é que a jurisprudência tem determinado que a decisão da ação declaratória de indignidade depende da decisão do juízo criminal.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais vem decidindo que:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE EXCLUSÃODE HERDEIRO POR INDIGNIDADE –PROCESSO CRIMINAL EM CURSO –SUSPENSÃO DO PROCESSO NA ESFERA CÍVEL
– POSSIBILIDADE - ARTIGO 265, INCISO IV, ALÍNEA A,DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - QUESTÃO PREJUDICIAL - DECISÃO MANTIDA. 1 - À inteligência do artigo 265, inciso IV,
alínea a, do Código de Processo Civil, suspende-se o processo quando a sentença de mérito depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou
inexistência da relação jurídica, que constitui o objeto principal de outro processo pendente. 2 - Recurso a que se nega provimento.” (TJMG, Agravo de Instrumento nº
100240570080620011, Órgão julgador: 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, Relator Desembargador Batista Franco, Julgado em 07/02/2011,
Publicado em 10/03/2006)[30]
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECLARATÓRIA DE EXCLUSÃO DE HERDEIRO POR INDIGNIDADE. Decreto de suspensão do processo de conhecimento. Independência de jurisdição
restrita à consequência da responsabilidade civil e criminal. Necessidade indispensável à apuração da autoria do disparo mortal (homicídio x suicídio). Aplicação do princípio
da segurança jurídica. Primazia de pronunciamento de único órgão do Poder Judiciário. Justificável cautela para evitar soluções conflitantes sobre a análise de mesmo fato e
provas. Reconhecimento de paralisação até julgamento da ação penal - Decisão interlocutória mantida Recurso desprovido.” (TJSP, Agravo de Instrumento nº 0181258-
60.2011.8.26.0000, Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador Salles Rossi, Julgado em 13/10/2011, Publicado em 14/10/2011)[31]
Assim sendo, conforme se extrai dos entendimentos dos tribunais supramencionados, é imprescindível uma sentença criminal anterior, para o juízo cível declarar a
indignidade do herdeiro. E, sendo o herdeiro culpado na esfera criminal, a ação do juízo civil poderá ser julgada procedente, quando começam os efeitos para o herdeiro
declarado indigno.
4.3. Efeitos da indignidade
Após a ação declaratória, se afirmada a indignidade do herdeiro, começa este sofrer com os efeitos da exclusão. Destarte, vale-se aqui dos mandamentos doutrinários para
melhor compreensão dos reais efeitos provocados pela indignidade.
Com o trânsito em julgado da sentença que declarou o herdeiro como indigno, segundo ElpídioDonizetti, teremos os seguintes efeitos:
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“(1) a exclusão da sucessão; (2) a consideração como morto para fins da sucessão do ofendido; (3) a proibição do usufruto e da administração dos bens ereptícios; (4) a
exclusão da sucessão dos bens ereptícios; (5) a validade das alienações a terceiro de boa fé e o correspondente dever de indenizar os ereptores; (6) a obrigação de restituir
os frutos e o direito à indenização das despesas de conservação.”[32] (sem grifos no original) (DONIZETTI, 2012, p. 1.152)
Já para Venosa, os efeitos são os seguintes:
“1-efeito retroativo, desde a abertura da sucessão (extunc) os descendentes do indigno sucedem como se ele morto fosse (art. 1816); 2- o indigno é obrigado a devolver os
frutos e rendimentos da herança, já que é considerado possuidor de má-fé com relação aos herdeiros, desde a abertura da sucessão (art. 1817); 3- na forma do art. 1817, os
atos da administração e as alienações praticadas pelo indigno antes da sentença de exclusão são válidos. Trata-se de dispositivo que merecerá maior estudo a seguir por
envolver questões de herdeiro aparente. Contudo o efeito, aqui, é ex nunc. Só não valem as alienações praticadas após a sentença de indignidade. E ressalvado o direito
pessoal do novo herdeiro em cobrar perdas e danos do indigno.” (sem grifos no original) (VENOSA, 2003, p. 78)
Portanto, o principal efeito depois de declarada a indignidade, o herdeiro fica excluído da sucessão como se dela nunca tivesse participado e, a sentença declaratória dispõe
de eficácia extunc à data da abertura da sucessão. Deste modo, a herança que se encontrava na posse do indigno é devolvida aos demais herdeiros em sua integralidade,
bem como os frutos e rendimentos provenientes desses bens. (RODRIGUES, 2003).Porém, ao mesmo tempo que o efeito é extunc, os atos praticados pelo excluído terão
validade, não podendo ser atingidos os terceiros de boa-fé, a título oneroso.
Nosdizeres de Maria Berenice dias:
“Ainda que o herdeiro tenha recebido a posse dos bens da herança, é necessário que os devolva, tão logo transite em julgado a sentença que o declarar indigno. Além dos
bens, também tem de devolver os frutos e rendimentos (CC 1.817 parágrafo único). Os demais sucessores podem exigir do herdeiro excluído a reposição patrimonial, bem
como perdas e danos, eis que possuem o direito à integralidade da herança desde a abertura da sucessão.” (DIAS, 2013, p. 311)
Ademais, a devolução dos bens, pelo indigno, aos demais herdeiros, após a declaração de indignidade, não pode ser utilizada como instrumento de enriquecimento por parte
do herdeiro digno. Injusto seria. Assim, conforme o artigo 1.817 do CC/02, o indigno teria direito de reclamar indenização por ampliações e benfeitorias feitas visando à
conservação dos bens hereditários.[33]
Nesse sentido, Cateb explana que se o indigno não agiu exageradamente ou dolosamente com relação às benfeitorias de conservação, deverá ser ressarcido pelas despesas
efetuadas nos bens hereditários. (CATEB, 2007)
Ressalva-se que, os herdeiros não podem exigir nada do terceiro adquirente de boa fé, e nesse sentido Dias sustenta:
“A declaração judicial de exclusão do direito à herança tem efeito extunc à data da abertura da sucessão. Porém, ainda que a sentença tenha efeito retroativo não pode
prejudicar terceiros de boa-fé. Em respeito ao princípio da aparência que visa a resguardar os terceiros de boa-fé, o indigno que esta na posse e administração dos bens da
herança é considerado herdeiro aparente. São válidas as alienações feitas a terceiro de boa-fé (CC 1.827 parágrafo único). Como afirma Maria Helena Diniz, é preciso levar
em conta a boa-fé do adquirente, que acreditou não só na legalidade do ato negocial efetivado, mas também na condição de herdeiro do alienante, que, até o instante da
exclusão, aos olhos de todos, era o “real” herdeiro.” (DIAS, 2013, pp. 311-312)
Também, quanto aos efeitos da exclusão, válido destacar o julgado de um dos casos de indignidade que mais repercutiram em todo o Brasil e no mundo, o caso de Suzane
Louise Von Richthofen. Nesse caso, Andreas Albert Von Richthofen ingressou com um litígio contra sua irmã, que com a ajuda de seu cunhado e seu namorado, assassinou
brutalmente os seus genitores.
“ANDREAS ALBERT VON RICHTHOFEN moveu AÇÃO DE EXCLUSÃO DE HERANÇA em face de sua irmã SUZANE LOUISE VON RICHTHOFEN, por manifesta indignidade desta, pois
teria ela, aos 31 de outubro de 2002, em companhia do seu namorado, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, e do irmão dele, Cristian Cravinhos de Paula e Silva, barbaramente
executado seus pais... Conheço desde logo do pedido, pois se trata de matéria exclusiva de direito, estando a lide definida com a condenação penal, transitada em julgado,
da herdeira Suzane Louise Von Richthofen pela morte de seus pais, pela qual foi condenada a 39 anos de reclusão e seis meses de detenção. A indignidade é uma sanção civil
que causa a perda do direito sucessório, privando da fruição dos bens o herdeiro que se tornou indigno por se conduzir de forma injusta, como fez Suzane, contra quem lhe
iria transmitir a herança... Ante o exposto, julgo PROCEDENTE a presente Ação de Exclusão de Herança que Andreas Albert Von Richthofen moveu em face de Suzane Louise
Von Richthofen e, em conseqüência, declaro a indignidade da requerida em relação à herança deixada por seus pais, Manfred Albert Von Richthofen e Marísia Von
Richthofen, em razão do trânsito em julgado da ação penal que a condenou criminalmente pela morte de ambos os seus genitores, nos exatos termos do disposto no artigo
1.814, I, do Código Civil. Condeno também a requerida a restituir os frutos e rendimentos dos bens da herança que porventura anteriormente percebeu, desde a abertura da
sucessão, nos termos do § único, artigo 1.817, também do Código Civil. Condeno a requerida ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos honorários
advocatícios, que, diante dos critérios do art. 20, do Código de Processo Civil, fixo em 15 % sobre o valor corrigido da causa, ressalvando que tal verba será cobrada, se o
caso, nos termos dos artigos 11, § 2º e 12, da Lei nº 1.060/50. Junte-se cópia deste decisório nos autos principais de inventário dos genitores do autor. P.R.I.”[34]
Conforme demonstrado acima, a Suzane foi declarada indigna sendo excluída da herança de seus pais. Além do mais, foi condenada a devolver ao seu irmão os rendimentos
e frutos dos bens que estavam em sua posse até o momento de sua exclusão, conforme ensina o artigo 1.817 do CC/02.
Por fim, cabe saber que, mesmo que só um interessado nos bens do de cujus ingresse com a declaratória de indignidade, todos os demais interessados se beneficiarão, uma
vez que, a ordem da vocação hereditária não tem caráter individual, e a condição de herdeiro é indivisível. Ademais, a exclusão do herdeiro por indignidade está relacionada
à herança, sendo os demais herdeiros beneficiários do mesmo modo. (VENOSA, 2003)
4.4. Reabilitação do indigno
Existe no ordenamento jurídicoa possibilidade de o herdeiro indigno ser perdoado pelo ofendido. O Código Civil de 2002, em seu artigo 1.818, salienta que:
“Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro
ato autêntico.Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da
indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária.”[35]
Conforme prevê o artigo supramencionado, o perdão deverá ocorrer de modo solene, tendo em vista que a lei só prevê as possibilidades de reabilitação mediante ato
autêntico, ou em testamento, ou seja, o perdão, obrigatoriamente, deve ser expresso.
Dias leciona que:
“O perdão é chamado de reabilitação: declaração expressa do autor da sucessão, perdoando a indignidade de seu herdeiro. A reabilitação precisa ser levada a efeito por
testamento ou ao autentico. Ato autentico não é somente a escritura pública. Também o escrito particular firmado pelo de cujus, subscrito por testemunhas, serve para
traduzir o desejo de que o herdeiro ingrato continue herdeiro. O codicilo pode ser considerado como ato autêntico para perdoar o herdeiro.” (DIAS, 2013, p. 315)
Ressalva-se que, de acordo com Monteiro, apesar de não serem exigidas palavras sacramentais, o perdão, uma vez concedido, torna-se irretratável, sob pena de tolerar-se
arrependimento no perdão, a não ser que, revogue o testamento ou destrua o documento em que havia perdoado o indigno. (MONTEIRO, 2009)
Como o perdão é ato personalíssimo e acontece antes da abertura da sucessão, não se pode dizer que o herdeiro que praticou ato indigno recuperou sua capacidade
sucessória, já que ele não pode reaver o que não perdeu. Simplesmente o herdeiro continua a integrar a ordem de vocação hereditária. (DIAS, 2013)
Washington de Barros Monteiro entende que, não existe o perdão de forma tácita ou presumido, nem pode ele ser concedido oralmente ou por instrumento particular sem
autenticidade (MONTEIRO, 2009).
Nessa mesma linha de raciocínio, Maria Berenice Dias manifesta que:
“Não existe reabilitação tácita (CC 1.818 parágrafo único). Se o autor da herança, em vez de afirmar que perdoa o herdeiro, simplesmente o contempla no testamento, tal
não configura perdão. E, como não houve reabilitação – que a lei quer que seja expressa -, pode ser proposta ação para declaração da indignidade. Declarado indigno, o
herdeiro é excluído da sucessão legítima, mas não perde o direito de receber o legado que lhe deixou o testador.” (DIAS, 2013, p. 316)
Assim sendo, apenas haverá o perdão de forma expressa, de modo que, mesmo o indigno sendo beneficiado em testamento, poderá ser excluído da sucessão legítima,
recebendo apenas o que lhe foi deixado em testamento. Além disso, se por algum motivo

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