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1922-Questionamentos e Projetos de Modernidade
Introdução
Nosso objetivo aqui será discutir as crises que desestabilizaram a Primeira República brasileira, o que deixou claro que a sociedade estava se modernizando e que os velhos mecanismos de dominação oligárquica começavam a dar sinais de esgotamento. Outras oligarquias regionais que até então ocupavam posição periférica no jogo político emergiram no cenário nacional e questionaram a validade do pacto entre mineiros e paulistas. Esse esgotamento se tornou mais explícito na década de 1920, chegando ao término em outubro de 1930, quando o presidente Washington Luís foi deposto por um golpe de Estado que pôs o gaúcho Getúlio Vargas na chefia do Estado brasileiro. Nesta oitava aula, estudaremos o ano de 1922, que tem a particularidade de ter sido marcado por claros movimentos de contestação aos padrões sociais, políticos e culturais vigentes na República Oligárquica. Estamos falando especificamente da Semana de Arte Moderna, da Revolta do Forte de Copacabana e da Reação Republicana.
Relembrando
Conforme vimos na última aula, quando examinamos a economia brasileira durante a Primeira República, a segunda metade da década de 1910 foi caracterizada pelo impulso industrial e pela diversificação social.
Como a Europa estava em guerra, o Brasil foi obrigado a produzir internamente aquilo que antes era importado. É isso que a bibliografia especializada chama de “industrialização pela substituição das importações”.
Os desdobramentos desse processo não podem ser observados apenas no plano econômico e produtivo; é preciso atentar também para o plano social.
O contexto da crise dos anos 1920
A década de 1920 tem importância fundamental para a história política da Primeira República brasileira. Tratou-se do momento de crise da República Oligárquica(Somente é possível compreender essa crise se tivermos o cuidado de situá-la, na especificidade de seu tempo, como produto da história do Brasil e do mundo nas primeiras décadas do século XX), mais especificamente do notório enfraquecimento dos mecanismos de dominação política que até então eram os principais responsáveis pela estabilidade do sistema.
O desenvolvimento industrial modificou sensivelmente a sociedade brasileira à medida que fez crescer os núcleos urbanos e fortaleceu politicamente setores da sociedade que não estavam sob o controle dos velhos mecanismos de dominação oligárquica.
Esses setores da sociedade tendiam a apoiar figuras e movimentos que levantassem a bandeira de um liberalismo mais autêntico, capaz de levar à prática as normas da Constituição e as leis do país, transformando a República oligárquica em República liberal. Isso significava, entre outras coisas, eleições limpas e respeito aos direitos individuais. Falava-se, nesses meios, de reforma social, mas a maior esperança era depositada na educação do povo, no voto secreto e na criação de uma justiça eleitoral autônoma.
                                Fausto, 1995, p. 171
As considerações do historiador fazem todo o sentido se observarmos com mais cuidado alguns hábitos dessa classe média urbana, grupo que, na década de 1920, se constituiu como importante força no cenário político brasileiro. Podemos tomar como exemplo as práticas de socialização dessa classe em São Paulo e no Rio de Janeiro, que eram as duas principais cidades brasileiras da época.
O prestígio que o Magazine Mappin( FUNDADA EM 1913) e a Confeitaria Colombo( FUNDADA EM 1894) ganharam em suas respectivas cidades está diretamente relacionado à formação, que tem suas origens na última década do século XIX, de uma classe média urbana influente, dotada de certo poder de consumo e desejosa de mudanças que levassem à modernização do Estado e da sociedade. 
Na análise desse grupo, tanto as práticas políticas “coronelistas” quanto à dependência da estrutura econômica agroexportadora eram sinais do atraso do Brasil em relação aos países mais desenvolvidos do mundo. É na conjuntura dessa insatisfação que precisamos buscar o principal motor da crise dos anos 1920.
De acordo com a historiadora Marieta de Moraes Ferreira, a eleição presidencial de 1919 foi um claro indício da importância da participação política dessa população urbana. O político baiano Rui Barbosa, que já havia sido candidato em 1910 e em 1914, novamente se apresentou para a corrida eleitoral e, sem nenhuma ajuda das grandes máquinas oligárquicas, que apoiaram a candidatura de Epitácio Pessoa, obteve cerca de um terço dos votos válidos e venceu no Distrito Federal.
O resultado surpreendente da campanha eleitoral de Rui Barbosa mostrou que algo estava mudando na sociedade brasileira. A década de 1920 confirmaria essa suspeita.
Sabemos que os fenômenos históricos jamais têm uma única explicação e, por isso, não devemos considerar a ação da classe média urbana o único elemento responsável pela crise da República Oligárquica. Outros fatores fazem parte dessa equação; por exemplo, os desgastes na aliança entre as oligarquias mineira e paulista.
A crise no coração do pacto oligárquico
Outro elemento fundamental para a crise dos anos 1920 foi a crise na aliança que até então havia conseguido dar certa estabilidade ao sistema: o pacto entre as oligarquias mineira e paulista(Seria incorreto afirmar que esse acordo não havia passado por crises no período anterior à década examinada aqui. Basta remetermos à nossa quinta aula, quando examinamos as eleições de 1910, que foram marcadas pela disputa entre Rui Barbosa e Hermes da Fonseca.Também nesse pleito eleitoral, as oligarquias mineira e paulista não estavam unidas. No entanto, após a ruptura eleitoral, as oligarquias voltaram a se realinhar e deram o apoio necessário para a “política salvacionista” que caracterizou o governo de Hermes da Fonseca.).
O bloco oligárquico voltaria a rachar somente em 1919, quando Rui Barbosa e Epitácio Pessoa disputaram a Presidência da República.
Nesse momento, a cisão no eixo oligárquico pareceu ser profunda demais para permitir que a aliança entre paulistas e mineiros continuasse a ser tão forte como antes.
As articulações para as eleições começaram ainda em 1918, no último ano do governo de Venceslau Brás, que foi o presidente do Brasil durante a Primeira Guerra Mundial.
Venceslau Brás Pereira Gomes (Brasópolis, 26 de fevereiro de 1868 — Itajubá, 15 de maio de 1966) foi um advogado e político brasileiro; presidente do Brasil entre 1914 e 1918, com um pequeno afastamento de um mês em 1917 por motivo de doença. Seu vice-presidente foi Urbano Santos da Costa Araújo.
O eixo São Paulo-Minas Gerais sabia bem que era necessário derrotar Rui Barbosa, que representava o tipo de homem público considerado inadequado para os objetivos traçados pelas oligarquias regionais. O grupo escolheu o paulista Rodrigues Alves.
Rodrigues Alves, porém, a essa altura um idoso com 70 anos de idade, morreu no início de 1919, o que conduziu o mineiro Delfim Moreira, então o vice-presidente, ao cargo. Como o presidente eleito não havia cumprido sequer um terço do mandato, a Constituição ordenava a realização de novas eleições.
Esse foi o momento em que as discordâncias entre paulistas e mineiros ficaram mais claras, já que ambos os grupos desejavam “fazer” o presidente. Após alguma negociação ― e para a insatisfação dos mineiros ―, foi escolhido o nome do paraibano Epitácio Pessoa.
Contando com o apoio incondicional do Partido Republicano Paulista, Pessoa foi eleito presidente da República Brasileira, cargo no qual permaneceu até novembro de 1922, quando novamente se deu uma acirrada disputa eleitoral, o que demonstrou que o eixo São Paulo-Minas Gerais já não era tão poderoso como antes.
1922: o ano que terminou apenas em 1930
Se o cenário político brasileiro já havia sido tumultuado em 1919, em 1922 a crise se tornou ainda mais aguda. Desnudou-se a fragilidade do mecanismo de dominação política que, desde o final do século XIX, dava certa estabilidade à República brasileira. 
Nesse sentido, podemos dizer que, em 1922,os elementos da crise da República Oligárquica, que já podiam ser percebidos pontualmente na década de 1910, vieram à luz de forma tão explícita que a própria existência desse tipo de lógica política ficou claramente comprometida.
O golpe final viria em 1930, no momento da tomada do poder pelo grupo comandado por políticos gaúchos, tendo especial destaque à figura de Getúlio Vargas. 
Por isso, podemos dizer que a crise de 1922 terminou apenas em 1930. Foi um ano longo aquele em que se comemorou o centenário da independência do Brasil.
A Reação Republicana: crise política e rebeldia militar
Já no início de 1922, começaram as articulações para a sucessão de Epitácio Pessoa, processo que deixou ainda mais evidente a cisão entre os partidos: PRM e PRP.
Definitivamente, a República brasileira não era mais a mesma. O eixo São Paulo-Minas Gerais até tentou manter a coesão do pacto oligárquico e lançou a candidatura do governador mineiro Arthur Bernardes à Presidência.
Prontamente, a oligarquia gaúcha, que a essa altura já era um importante elemento de desestabilização nas relações políticas entre os estados mais poderosos da Federação, posicionou-se contra a indicação dos paulistas e mineiros.
Os gaúchos, liderados por Borges de Medeiros, denunciaram o arranjo político como uma forma de as proteções governamentais ao café serem mantidas quando, segundo eles, o país precisava de equilíbrio fiscal e diversidade produtiva.
Os gaúchos temiam também que a Constituição fosse revisada no sentido de enfraquecer seu conteúdo federalista, o que necessariamente resultaria na diminuição da autonomia política e administrativa dos governos estaduais, o que, para as oligarquias gaúchas, era um valor inegociável. 
Realmente, a revisão constitucional ocorreu em 1926, colaborando para aumentar ainda mais a insatisfação das oligarquias secundárias com o eixo do poder político.
Outras oligarquias regionais, como a paraibana e a fluminense, se uniram ao Rio Grande do Sul e formaram a Reação republicana e lançaram e candidatura de Nilo Peçanha a presidência da republica. Este era um político fluminense ligado ao florianismo e já havia sido presidente do Brasil em 1909, quando assumiu o cargo em virtude do falecimento de Afonso Pena.
A disputa eleitoral entre Nilo Peçanha e Arthur Bernardes foi uma das mais acirradas da República Oligárquica. A candidatura de Nilo Peçanha ganhou força e chegou mesmo a assustar o eixo São Paulo-Minas Gerais com a possibilidade de uma derrota inédita. 
Efetivamente, a derrota não veio, mas a força da candidatura de Nilo Peçanha mostrou a todos os homens envolvidos com os negócios públicos que algo havia mudado de forma radical. A situação ficou ainda mais tensa quando, em outubro de 1921, veio à luz o episódios das cartas falsas.
Mesmo com todo o apelo popular, Nilo Peçanha não conseguiu ser eleito e, mais uma vez, o candidato das oligarquias mais poderosas saiu vitorioso. No entanto, a vitória não foi tão fácil como antes nem tão convincente. Prova disso foi dada pelas rebeldias militares de junho de 1922.
Vejamos o que nos diz Boris Fausto:
Foi no curso da disputa eleitoral que veio à tona a insatisfação militar. A sensação corrente nos meios do Exército de que a candidatura de Bernardes era antimilitar ganhou dramaticidade com uma carta publicada no jornal “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, em outubro de 1921. Aparentemente, tratava-se de cartas ―, pois havia duas ― enviadas por Bernardes a um líder político de Minas Gerais, contendo pesadas ofensas aos militares. 
As cartas falsas puseram lenha na fogueira. O objetivo de seus autores de indispor ainda mais as forças armadas contra a candidatura de Bernardes tinha sido alcançado quando, pouco antes das eleições de 1o de março de 1922, dois falsários assumiram a autoria dos “documentos” (Fausto, 1995, p. 174).
Antes de prosseguir seus estudos leia o texto A rebeldia militar na década de 1920: uma polêmica que de nova não tinha nada.
O primeiro centenário da independência e o moderno brasileiro
Junto com as comemorações do primeiro centenário da independência do Brasil, ganhou força nos salões de arte e nos círculos intelectuais a discussão a respeito do moderno brasileiro e da criação de uma cultura estética genuinamente nacional.
O trecho a seguir foi publicado na ocasião das efemérides ( Acontecimento tido por "importante" )do primeiro centenário da independência brasileira.
Penetrar o recinto da grande feira universal no dia em que a franqueamos era recapitular a história da civilização no Brasil. Aberta sobre a Avenida Central, em frente ao Monroe, a porta monumental, construída durante a noite, espiava ainda a cidade e o mar com a surpresa dos gigantes recém-nascidos (...). À meia-noite de 6 para 7 de setembro foi o deslumbramento, a apoteose inicial das nossas festas comemorativas. Há essa hora, a multidão apinhava-se, comprimia-se ofegante, em todos os pontos do litoral da baía (...). A cidade inteira freme, agita-se, palpita, na emoção surpreendente daquela hora.
Automóveis buzinam. Máquinas apitam. Foguetes ferem o ar. Nos cinemas, nos teatros, nas casas particulares, estruge o hino nacional. A multidão levanta-se eletrizada. E parte de todas as bocas um brado de entusiasmo e de orgulho pelo passado, pelo presente e pelo futuro do Brasil (...). Aqui é o palácio dos Estados, com sua cúpula monumental, faiscante como uma joia. Adiante, é o das festas, vasto suntuoso, como um templo pagão. Ali, é o das grandes indústrias, cuja torre aponta para o céu, num gesto de súplica ou de ameaça. Debruçado nos ares, austero no seu aspecto, harmonioso nas suas linhas, o Pavilhão da Estatística representa a ciência das certezas (...). Franqueado do recinto, precipitaram-se mais de 200 mil visitantes. As avenidas internas, inundadas de luz, haviam se transformado em rios humanos, por onde a multidão tumultuava (Revista A Exposição de 1922, setembro de 1922).
Junto com as comemorações, é possível perceber o projeto de modernização do Brasil, de superação da situação rural e agroexportadora pelo urbanismo industrial. 
O que estava em jogo era sobretudo o anseio das elites urbanas e intelectualizadas em modernizar o Brasil, em inventar uma modernidade específica para a nacionalidade brasileira.
A Semana de Arte Moderna
O grande objetivo dos artistas e intelectuais que se reuniram em fevereiro de 1922 em São Paulo era mostrar que o Brasil estava sintonizado com a modernidade do século XX. 
O grupo era avesso às regras da arte acadêmica e ao parnasianismo(Movimento literário que originou-se na França, representou na poesia o espírito positivista e científico da época, surgindo no século XIX (19) em oposição ao romantism) e estava diretamente vinculado às vanguardas europeias, sendo por isso chamados de “futuristas”.
Escritores e poetas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia; pintores como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti; e músicos como Heitor Villa-Lobos apresentaram ao público brasileiro a arte moderna, constituindo um escândalo. Nas palavras do poeta Menotti Del Picchia:
 Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminés de fábricas, sangue, velocidade, sonho, na nossa arte. E que o rufo de um automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da poesia o último deus homérico que ficou, anacronicamente, a dormir e sonhar, na era do jazz band e do cinema, com a flauta dos pastores da Arcádia e os seios de Helena!
Superação. Era essa a palavra de ordem para os modernistas brasileiros, que desejavam a criação de uma arte genuinamente nacional e antenada com as inovações estéticas europeias e norte-americanas. 
Por isso, alguns modernistas brasileiros propuseram a “antropofagia cultural”( VÁRIAS PARTES), que seria um exercício de apropriação da herança cultural estrangeira em função das demandas nacionais.
Se, de um lado, o diagnóstico do atraso brasileiro era comum entre os membros da geração de 1922,de outro, não podemos supor que havia uma homogeneidade ideológica entre eles. Temos como exemplo os casos de Alberto Torres( acreditava que a verdadeira essência do Brasil era o sertão e afirmava que a modernidade nacional deveria dialogar com a tradição e não superá-las, como defendia os futuristas) e Oliveira Viana( acreditava que o problema do Brasil era copiar esforços dos modelos estrangeiros, a começar pela constituição republicana de 1891, que segundo este escritor, era artificial e incapaz de resolver os problemas brasileiros pois havia sido formulada com base no modelo constitucional norte americano).
Finalizando
Uma das principais causas da crise da República Oligárquica foi a insatisfação das oligarquias secundárias ― destacando-se aqui sobretudo a gaúcha ― com a hegemonia do eixo Minas Gerais-São Paulo.
No entanto, seria incorreto afirmar que os conflitos entre as oligarquias regionais foram o único elemento de crise na história da República brasileira nesse período. 
Houve outros focos de tensão envolvendo, por exemplo, os marujos da Marinha e os operários urbanos. Será esse o tema da próxima aula.

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