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CONTEÚDO PROCESSO PENAL I – N2 Ação Penal Conceito: É o direito público subjetivo, com previsão constitucional, de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito objetivo a um caso concreto, para a solução da demanda penal. Ação penal seria o direito que a parte acusadora – Ministério Público ou o ofendido (querelante) – tem de, mediante o devido processo legal, provocar o Estado-Juiz a dizer o direito objetivo no caso concreto. Fundamento Constitucional: Art. 5o, CF/88. XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; A ação penal é tratada tanto no Código Penal (arts. 100 a 106), quanto no Código de Processo Penal (arts. 24 a 62). Não obstante sua previsão no CPP, como a ação penal tem estreita relação com o direito de punir do Estado, não deixa de ter também caráter penal. Disso resulta a possibilidade de aplicação da lei mais favorável que versa sobre as condições da ação, sobre causas extintivas da punibilidade relacionadas à representação e à ação penal de iniciativa privada, por força do previsto no art. 5o, XL, da CF/88. (Renato Brasileiro, Nestor Távora) Ex.: modificações introduzidas pela Lei no. 12.015/09, nos delitos contra a dignidade sexual, onde as hipóteses de ação penal de iniciativa privada foram alteradas para, em regra, ação penal pública condicionada à representação. Como a ação penal de iniciativa privada enseja maiores chances ao acusado de ser beneficiado por causa extintivas da punibilidade, a lei nova só se aplica aos fatos cometidos após a sua vigência, mesmo no ponto referente à iniciativa da ação penal. Condições da ação: São as condições necessárias e condicionantes para o exercício e o desenvolvimento regular do direito de ação. Funciona como uma questão relacionada a um dos elementos da ação (partes, pedido e causa de pedir), que estaria em uma zona intermediária entre as questões de mérito e as questões de admissibilidade. As condições da ação podem ser: • Condições genéricas ou gerais: São as que devem estar presentes em qualquer ação penal. • Condições específicas ou especiais (condições de procedibilidade): São aquelas necessárias em apenas algumas ações penais, a depender do acusado, do procedimento, da natureza do delito, etc. Ex.: representação do ofendido, requisição do Ministro da Justiça, autorização da Câmara dos Deputados para a instauração de processo contra o Presidente e Vice e Ministros de Estado, exame pericial em crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígio (art. 525, CPP), laudo de constatação provisório da droga nos crime de tráfico de drogas, encerramento da instância administrativa nos crimes materiais contra a ordem tributária, entrar o agente no território nacional na hipótese de extraterritorialidade condicionada, etc. →Condições genéricas: Previstas no artigo267, VI, CPC. Art. 267 do CPC. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; Legitimidade para a causa ou ad causam: Quem pode entrar com a ação e contra quem ela pode ser proposta. a) Legitimidade ativa: Se estamos diante de um crime de ação penal pública, a legitimidade é do Ministério Público (art. 129, inciso I, da CF/88). Se estamos diante de um crime de ação penal privada, o ofendido ou seu representante legal. *A pessoa jurídica tem legitimidade ativa? Sim, pois a pessoa jurídica pode ser vítima do crime de difamação (pois é dotada de honra objetiva). Legitimidade passiva: Quem pode ser réu? Pessoa física, maior de 18 anos, capaz. Sucessão Processual: É a alteração (substituição) subjetiva (da parte) do processo. Ocorre quando uma pessoa toma o lugar da outra no processo. No processo penal ocorre no caso do art. 31 do CPP. Art. 31 do CPP No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge (companheiro), ascendente, descendente ou irmão. Se uma vítima de um delito de ação penal privada vem a óbito, seus sucessores poderão ingressar com a ação penal ou, se já estiver em andamento, dar prosseguimento. Justa Causa: É a necessidade de lastro indiciário mínimo dando sustentabilidade à ação e sem o qual a demanda seria temerária. Justa causa = indícios de autoria + prova da materialidade. Art. 395 do CPP. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. Condição de procedibilidade x condição de prosseguibilidade: Condição de procedibilidade é uma condição imposta pela lei para que o processo tenha início. Ex.: representação do ofendido nos casos de ação penal pública condicionada à representação, requisição do Ministro da Justiça nos casos de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça. Condição de prosseguibilidade é uma condição para que o processo tenha continuidade. O processo já está em andamento e uma condição deve ser implementada para que o processo siga seu curso normal. Ex. 1: crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa, que antes da Lei no. 9.099/95 eram de ação penal pública incondicionada e passaram a ser de ação penal pública condicionada à representação. Art. 88 da Lei no. 9.099/95. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. Art. 91 da Lei no. 9.099/95. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência. *A representação do ofendido no crime de lesão leve é condição de procedibilidade ou de prosseguibilidade? Quando a lei dos juizados especiais criminais entrou em vigor, a representação funcionava como uma condição de prosseguibilidade para os processos penais que já estavam em andamento, e como uma condição de procedibilidade para os processos que ainda não tinham tido início. Ex. 2: crime de estupro cometido com emprego de violência real, que antes da Lei no. 12.015/09 era de ação penal pública incondicionada e passou a ser de ação penal pública condicionada à representação. Neste caso surgiram duas correntes: - 1a corrente: se o processo já estava em andamento não haverá necessidade de representação, já que a Lei no. 12.015/09 não trouxe dispositivo semelhante ao art. 91 da Lei 9.099/95. (prevalece) Classificação das ações penais: A classificação é feita conforme quem é o titular da ação penal. Ao direito de ação corresponde a obrigação da prestação da tutela jurisdicional. Trata-se de um evidente caráter público da ação. Por tudo isso, a rigor, constitui uma impropriedade falar em ação penal pública e privada, eis que toda ação penal é pública, posto que é uma declaração petitória, que provoca a atuação jurisdicional para instrumentalizar o Direito Penal e permitir a atuação da função punitiva estatal. Seu conteúdo é de interesse geral. O correto é classificar em acusação pública e acusação privada, ou, se preferirem seguir classificando a partir do crime, teremos ação penal de iniciativa pública e ação penal de iniciativa privada. A. Ação penal pública: Titular: Ministério Público (art. 129, I, da CF/88 e art. 257, I, do CPP); Princípios da Ação Penal Pública: • Princípio da Intranscendência ou pessoalidade: A peça acusatória só pode ser oferecida em face do suposto autor ou partícipe do fato delituoso, ou seja, os efeitos da ação penal pública não poderão ultrapassar a figura do demandado. É decorrência do princípio penal e constitucional da personalidade da pena. • Princípio da obrigatoriedade, legalidade processual ou compulsoriedade: Presentes as condições da ação penal e os pressupostos processuais e havendo justa causa, o MinistérioPúblico é obrigado a oferecer a denúncia, ou seja, a atividade da iniciativa pública não é discricionária; Exceções ao princípio da obrigatoriedade (Princípio da Obrigatoriedade Mitigada ou da Discricionariedade Regrada): 1. Transação Penal (art. 76 da Lei 9.099/95): instituiu uma contemporização ao princípio da obrigatoriedade, que ganhou o nome de princípio da obrigatoriedade mitigada ou regrada, onde o suposto autor da infração tem a possibilidade de aceitar a proposta de transação penal, ou seja, a submissão a uma medida alternativa, não privativa de liberdade, em troca do não início do processo. 2. Termo de ajustamento de conduta: com previsão nas leis Lei o. 7.347/85 e n° 9.605/98. Lavrado um termo de ajustamento de conduta, e desde que o acordo esteja sendo cumprido, o oferecimento de denúncia em razão de ilícito ambiental praticado perde completamente o sentido e, em especial, a utilidade, condição da ação penal sem a qual não é possível a deflagração da persecutio criminis in judício. • Princípio da indisponibilidade: O MP não pode dispor da ação penal em andamento, devendo impulsioná-la até o fim. É decorrência lógica do princípio da obrigatoriedade. Obs. 1: nada impede que o promotor requeira a absolvição, recorra em favor do réu, ou até mesmo, impetre Habeas Corpus, o que não significa desistência. Obs. 2: os recursos do MP são essencialmente voluntários, e o promotor só recorrerá se for estratégico. Todavia, se o promotor recorrer ele não poderá desistir, já que, segundo Magalhães Gomes Filho, o recurso é um desdobramento do direito de ação (art. 576, CPP). - Exceção ao princípio da indisponibilidade (disponibilidade regrada): 1. Suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95), onde, a requerimento do MP, o processo será paralisado por um período de 2 a 4 anos, e se as obrigações impostas ao réu forem cumpridas, será declarada a extinção da punibilidade (art. 89, Lei 9099/95). • Princípio da (in)divisibilidade: Segundo a doutrina majoritária (Fauzi Hassan Choukr), a ação penal pública é indivisível já que todos que contribuíram para o delito devem ser processados, desde que exista justa causa. Obs.: esse é o aspecto subjetivo do Princípio da Obrigatoriedade. Para os tribunais superiores, a ação penal pública é divisível por admitir desmembramento e complementação incidental via aditamento, ou seja, o MP pode oferecer denúncia contra alguns investigados, sem prejuízo do prosseguimento das investigações em relação aos demais. Crítica Doutrinária: para a doutrina, esta análise jurisprudencial, apresenta um desvio de percepção, afinal se a denúncia for aditada para inclusão de mais réus no processo (aditamento subjetivo) ratifica-se o entendimento de que todos devem ser processados, e o mais adequado é falarmos em indivisibilidade. Obs.: Fernando Capez, propõe a existência de mais 3 princípios reitores da Ação Penal Pública, quais sejam: • Princípio da autoritariedade: por ele, a ação penal pública, será exercida por uma autoridade pública que atua como verdadeiro presentante do MP; • Princípio da oficialidade: por ele, a ação penal pública será exercida por um órgão oficial do Estado; • Princípio da oficiosidade (ex officio): por ele, em regra, a atividade persecutória pública ocorre ofício, independente da manifestação de terceiros, pela qualidade dos bens jurídicos em jogo. Ação penal pública condicionada: É aquela titularizada pelo MP, mas que depende de uma prévia manifestação de vontade do legítimo interessado. A atuação do Ministério Público depende da representação da vítima ou do seu representante legal ou ainda de requisição do Ministro da Justiça. Obs.: almeja-se, aqui, evitar o escândalo do processo, trazendo para o legítimo interessado o poder de autorizar, ou não, o início da persecução penal. Representação do ofendido: É a manifestação de vontade do ofendido ou seu representante legal no sentido de que possui interesse na persecução penal do fato. Ela é pedido e, ao mesmo tempo, autorização que condiciona o início da persecução penal, nas hipóteses legalmente exigidas. Sem representação não haverá ação penal, inquérito e nem mesmo lavratura de auto de prisão em flagrante. Segundo os Tribunais Superiores e a maioria da doutrina é peça sem rigor formal, que tem forma livre. Prescinde-se, portanto, de que haja uma peça escrita com o nomen juris de representação nos autos do IP ou do processo criminal. Basta que haja a manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal, evidenciando a intenção de que o autor do fato delituoso seja responsabilizado penalmente. Não por outro motivo, já se considerou como representação um mero boletim de ocorrência, declarações prestadas na polícia. Obs.: Aury Lopes Jr., entende que pelo menos deve constar da representação a data, para que possa ser controlado o prazo decadencial de 6 meses. Natureza jurídica: • Se a ação penal já estiver em andamento será uma condição de prosseguilibidade; • Se a ação penal ainda não teve início será condição específica de procedibilidade. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO O prazo para representar é de seis meses e tem natureza decadencial, o que significa dizer que ele é fatal e não admite suspensão, interrupção ou prorrogação. Obs.: prazo decadencial não flui para aqueles que não possuem plena capacidade. Forma de Contagem: o prazo para representar é contado de acordo com o artigo 10 do CP, de forma que o 1o dia é incluído e o último excluído, ressalta-se que o prazo começa a ser contado a partir do momento que a vítima toma conhecimento de quem é o autor do crime. Retratação da Representação: Art. 25 do CPP. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia. Se a vítima representar, nada impede que ela se arrependa e retire a representação, o que pode ocorrer até a oferta da denúncia. Obs.: a denúncia encontra-se oferecida com o protocolo no setor de distribuição ou na secretaria da respectiva Vara Criminal. Exceção: art. 16 da Lei Maria da Penha. Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. A Lei Maria da Penha admite que a vítima se arrependa da representação, trazendo, contudo as seguintes peculiaridades: a) Exige-se a designação de audiência específica, com a presença do MP e do magistrado, para aferir se a vítima está sendo coagida a se retratar; Obs.: Não se exige a presença do advogado ou do defensor público. b) Na violência doméstica, o marco de retratação é especial e caracterizado pelo recebimento da denúncia; c) Em que pese o artigo 16 da Lei Maria da Penha (Lei no. 11340/06) falar em renúncia da representação, a doutrina majoritária entende que estamos diante de uma mera retratação. Denúncia: • Requisitos formais: Art. 41 do CPP. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. 1o) Exposição do fato criminoso: A denúncia tem que narrar o fato punível com todas as suas circunstâncias de tempo, local e modo de execução, porque o acusado se defende do fato narrado, não da classificação jurídica dada. Existem três hipóteses em que a materialidade não está comprovada, mas o juiz não pode rejeitar a denúncia: a) JECrim – para o oferecimento da denúncia não precisa do exame de corpo de delito, bastando o boletim médico. Art. 77 da Lei 9.099/95 § 1o Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crimeestiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. b) Lei Maria da Penha – admite a denúncia com base em prontuários médicos. Art. 12 da Lei no. 11.340/06 § 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. c) Lei de drogas – a denúncia pode ser feita com o laudo de constatação provisório. Art. 50 da Lei no. 11.343/06 § 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. 2o) Identificação do acusado: A denúncia deve apontar o autor ou autores do fato de forma inequívoca e individualizá-lo no meio social. Em regra, a identificação é a civil (nome, filiação, profissão, estado civil). 3o) Classificação do crime: A classificação do crime é a indicação do dispositivo legal que descreve o fato criminoso praticado pelo imputado. Não basta a simples menção do nomen juris da figura delituosa (por exemplo, homicídio simples), pois, sob a mesma denominação, podem aparecer crimes diferentes, como o homicídio previsto no Código Penal e o homicídio previsto no Código Penal Militar, no CTB, etc. Deve haver, portanto, a indicação do dispositivo legal em cuja pena se encontra incurso o acusado (por exemplo, CP, art. 121, caput). Obs.: a classificação jurídica dada pelo Delegado no indiciamento não vincula o MP; e a classificação dada pelo Ministério Público na denúncia não vincula o Juiz. *Pode o juiz discordar da classificação dada pelo MP já no recebimento da denúncia? - 1a corrente: (majoritária) o juiz não pode dar definição jurídica diversa no momento do recebimento da inicial. Argumentos: falta de previsão legal. A lei só permite na sentença; assim agindo o juiz estaria antecipando a emendatio libelli; a antecipação da emendatio libelli fere o princípio da ampla acusação. 4o) Rol de testemunhas. Esse é o momento para o Ministério Público arrolar as testemunhas de acusação, sob pena de preclusão temporal. →Procedimento ordinário: MP, 8 testemunhas por fato; Defesa 8 testemunhas por réu. →Procedimento sumário: 5 testemunhas. →Procedimento sumaríssimo: 3 testemunhas. 5o) Tem que ser escrita em nosso vernáculo (língua nacional): não é correto utilizar latim. 6o) A denúncia tem que ser subscrita pelo Promotor de Justiça, ainda que feita pelo estagiário. Prazo para denúncia: • Regra: → indiciado preso - 5 dias → indiciado solto - 15 dias Art. 46 do CPP. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. Princípios da ação penal privada: • Princípio da intranscendência: a peça acusatória só pode ser oferecida em face do suposto autor ou partícipe do fato delituoso, ou seja, os efeitos da ação privada não podem ultrapassar da figura do réu. • Princípio da oportunidade ou conveniência: cabe ao ofendido optar pelo oferecimento ou não da queixa-crime; • Princípio da disponibilidade: o querelante pode dispor do processo em andamento; • Princípio da indivisibilidade: Caso a vítima opte por ingressar com uma ação penal privada, deverá fazê-lo contra todos aqueles que concorrem para o crime de quem ela tem conhecimento, ou seja, o processo contra um dos coautores ou partícipes obriga ao processo de todos, sendo assim, todos que cometeram a infração penal deverão ser processados. FORMAS DE DISPOSIÇÃO DA AÇÃO PENAL A não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime não configura, por si só, renúncia tácita ao direito de queixa. Contudo, para o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma deliberada pelo querelante Caso a vítima voluntariamente não exerça a ação contra todos os infratores conhecidos, teremos a seguinte atuação do MP: - 1a corrente: (Eugênio Pacelli, Tourinho Filho, Júlio Fabbrini Mirabete), em posição minoritária, entendem que deve o promotor aditar a ação incluindo os réus faltantes por ser fiscal da indivisibilidade, independente da voluntariedade ou não da omissão da vítima. Esses autores fazem uma interpretação literal do art. 45 do CPP. Art. 45 do CPP. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo. Obs.: neste caso o Ministério Público seria litisconsorte ativo necessário do querelante, intervindo em todos os termos do processo. - 2a corrente: para a corrente majoritária, caso a vítima voluntariamente não processe todos os infratores, estará renunciando ao direito em favor dos não processados, o que extingue a punibilidade do fato, aproveitando a todos. Por sua vez, se a omissão da vítima é involuntária, cabe a ela processar o réu faltante, no prazo de 6 meses, contados do conhecimento da autoria, já que o MP não tem legitimidade ativa para tanto. O MP tem legitimidade ativa para aditar a ação privada no prazo de 3 dias contados da abertura de vista, mas somente se for um aditamento formal. Ex.: como dia, hora, local, etc. Não pode aditamento substancial ou subjetivo, sobre matéria fática, como incluir réus não contemplados, sob pena de ferir o princípio da oportunidade ou disponibilidade. (Nestor Tavora, Rosmar Rodrigues de Alencar, Renato Brasileiro) Obs.: para Aury Lopes Jr., é mais adequado que a vítima proponha demanda autônoma em razão do réu incidentalmente descoberto, para que não ocorra tumulto processual. A doutrina majoritária só admite essa solução se o processo original já estiver em estágio avançado. - 3a corrente: (Pedro Henrique Demercian e Jorge Assaf Maluly) se a omissão é voluntária, ocorrerá extinção da punibilidade pela renúncia. Todavia, se a omissão é involuntária, cabe à vítima ou ao MP aditar a ação, incluindo o réu faltante. Queixa-crime: Art. 41 do CPP. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Art. 44 do CPP. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. Subespécies de ação penal de iniciativa privada: B.1. Ação penal de iniciativa privada personalíssima: É aquela que possui como único titular a vítima. O direito de queixa só pode ser exercido pelo ofendido. Nesta ação não há intervenção de representante legal nem sucessão processual por morte ou ausência. Se a vítima morrer, será causa extintiva da punibilidade. *Qual o único exemplo de crime de ação penal de iniciativa privada personalíssima? Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. B.2. Ação penal de iniciativa exclusivamente privada ou propriamente dita: É aquela titularizada pela vítima ou por seu representante legal. Em caso de morte ou sendo incapaz o ofendido,o direito de queixa será exercido por seu representante legal. Esta ação admite sucessão por morte ou ausência (art. 31, CPP). Art. 31 do CPP. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. *Quem oferece a queixa-crime no caso da pessoa jurídica vítima? O representante legal da empresa, assim considerado no estatuto ou contrato social. Ação penal privada subsidiária da pública: Art. 5o da CF/88. LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; Art. 29 do CPP. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Art. 100 do CP. § 3o - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal. É aquela exercida pela vítima em delito da ação penal pública, pois o MP não cumpriu o seu papel nos prazos legalmente estabelecidos. Só é cabível na inércia do Ministério Público, ou seja, não fez nenhuma das seguintes hipóteses: denúncia, requerimento de diligências, promoção de arquivamento ou conflito de atribuição ou competência. Além da desídia do MP, é necessário a presença de uma vítima individualizada, já que a falta impede o exercício da queixa subsidiária, por impossibilidade lógica. Ex.: Embriaguez ao volante, tráfico de drogas, etc. *E se o Ministério Público pede o arquivamento do IP, cabe ação penal privada subsidiária da pública? Essa espécie de ação somente é cabível na inércia do Ministério Público. Assim, se o órgão pede o arquivamento do IP, não há inércia e, portanto, não se admite a queixa subsidiária. Prazo para o oferecimento da queixa subsidiária: Art. 38 do CPP. Salvo disposição em contrário, o ofendido ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. Art. 46 do CPP. O prazo para o oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de cinco dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de quinze dias, se o réu estiver solto ou afiançado(...). A partir da inércia consumada por parte do Ministério Público, inicia-se o prazo decadencial do querelante para o oferecimento da queixa subsidiária, o qual se finda no prazo de 6 meses. • Primeiros 5 ou 15 dias, somente o Ministério Público tem legitimidade; • Nos 6 meses seguintes co-legitimidade entre o ofendido ou seu representante legal e o Ministério Público; • Após os 6 meses a legitimidade volta a ser exclusiva do Ministério Público. *O que é a chamada decadência imprópria? É a que ocorre no caso da ação penal privada subsidiária da pública. A perda do prazo decadencial por parte do querelante não acarreta a extinção da punibilidade, pois tal ação penal em sua essência é pública e após os seis meses a legitimidade volta a ser exclusiva do Ministério Público. Poderes do Ministério Público na ação penal privada subsidiária da pública: Art. 29 do CPP. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao MP aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Retomar a ação como parte principal – se o querelante for negligente o Ministério Público pode retomar a ação como parte principal, é a chamada AÇÃO PENAL INDIRETA;
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