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à reação do hospedeiro promoverá reabsorção do osso alveolar. Clinicamente, a gengiva marginal apresenta-se congestionada, vermelha e com sangramento ao toque6. A exposição radicular em consequência da recessão gengival pode levar à sensibi- lidade dentinária, abrasão, cáries radiculares e comprometi- mento estético, especialmente em pacientes que apresentam linha alta do sorriso7. Em caso de recessões com instabilidade periodontal e/ou comprometimento radicular, intervenções corretivas podem e devem ser realizadas em conjunto com a reabilitação protética, a fi m de restabelecer a saúde e a função do paciente5. Com o tecido gengival infl amado, resultando em altera- ções do contorno gengival, aumento da profundidade do sulco gengival, presença de sangramento e exsudato, torna-se im- possível a execução correta das manobras clínicas como: prepa- ro do dente, moldagem, prova de estrutura e ainda mais grave seria a colocação defi nitiva de prótese fi xa em tal condição, o que poderia acarretar perda de todo o trabalho e agravamento do quadro periodontal em um curto espaço de tempo8. Com o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas apropria- das, o tratamento de recessões gengivais tem se mostrado altamente previsível, principalmente em defeitos Classe I e II1. Destaca-se a técnica de enxerto de tecido conjuntivo subepi- telial (ETCSE) com a fi nalidade de recobrimento radicular total9. Este procedimento apresenta vantagens sobre os enxertos gengivais livres epitelizados, tais como: similaridade de colo- ração entre o enxerto e o tecido gengival adjacente e melhor vascularização do enxerto ao leito receptor, permitindo o tra- tamento de retrações unitárias ou múltiplas, hipersensibilidade dentinária e pequenas abfrações cervicais. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi apresentar a im- portância do tratamento periodontal prévio, com a técnica de tecido conjuntivo subepitelial e deslocamento coronal do reta- lho, para posterior reabilitação protética do paciente. RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente do gênero feminino, 45 anos, leucoderma, pro- curou a Clínica de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara-Unesp para tratamento dentário, relatando não es- tar satisfeita com a estética facial na região da maxila superior direita (Figuras 1 e 2). Durante a anamnese, a paciente mostrou boas condições de saúde, não era fumante e demonstrou au- sência de doenças sistêmicas. Durante o exame clínico foi possível notar a presença de uma prótese parcial fi xa nos elementos 13, 14 e 15, com de- fi ciências na adaptação marginal e contorno, o que favorecia o acúmulo de placa e difi cultava a higienização. A paciente apresentava-se com recessão gengival Classe I de Miller com 3 mm de extensão vertical no canino superior direito, com rasa profundidade de sondagem e com sinal clínico evidente de gengivite10 (Figura 3). Durante avaliação da estética do sorriso, a recessão gengival se tornava aparente causando desconten- tamento do paciente e sendo, portanto, considerada a princi- pal causa da queixa do mesmo. Em primeiro momento, a paciente foi submetida a uma preparação inicial com instrução de higiene oral, raspagem, alisamento radicular e profi laxia para o adequado controle do biofi lme. Antes do procedimento cirúrgico, a paciente foi in- formada sobre todos os detalhes cirúrgicos e assinou um ter- 528 Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 Periodontia mo de esclarecimento e consentimento autorizando a execu- ção do tratamento. Duas semanas após a preparação inicial, o procedimento cirúrgico para cobertura radicular foi realizado utilizando a téc- nica de ETCSE associado com deslocamento coronário do reta- lho. No pré-operatório, a paciente recebeu uma única dose de 4 mg de dexametasona para minimizar o edema pós-cirúrgico. Mepivacaína 2% com 1:100.000 de epinefrina foi utilizada para anestesia. A intervenção cirúrgica foi realizada com uma inci- são intrassulcular no contorno cervical vestibular do canino, seguida de duas incisões horizontais na base das papilas adja- centes, na altura da JCE e duas incisões verticais divergentes, ultrapassando a linha mucogengival (Figura 4). Ambas as inci- sões foram feitas com uma lâmina de bisturi 15 C. As incisões ultrapassaram a junção mucogengival e um retalho dividido foi rebatido para promover a livre movimentação do retalho e seu reposicionamento coronário passivo (Figuras 5 e 6). O retalho foi posicionado sobre a raiz e tracionado para garantir a permanência sem tensão no local. Após o preparo do retalho, a raiz exposta foi raspada com uma cureta de Gracey (Figura 7) e alisada com uma broca diamantada tronco-cônica (Figura 8). Em seguida foi realizado o condicionamento da superfície radicular, com a aplicação de EDTA 24% durante um minuto (Figura 9). A área foi então abundantemente irrigada com soro fi siológico. O local foi medido com uma sonda periodontal para estimar a quantidade necessária de tecido para a enxertia. O comprimen- to do enxerto teve a mesma distância entre o centro da papila distal e a mesial. Figura 1 – Aspecto clínico inicial frontal mostrando desarmonia estética dos elementos 13, 14 e 15. Figura 2 – Aspecto lateral evidenciando recessão gengival no canino. Figura 3 – Perda de tecido gengival com consequente retração de 3 mm, sem sinais clínicos de infl amação. Figura 4 – Incisão inicial delimitando a área a ser enxertada. 529 Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 de Molon RS Borges Filho FF de Avila ED Mollo-Jr. FA Barros LAB Cirelli JA Figura 5 – Retalho dividido além da junção cemento-esmalte para permitir exposição da superfície radicular e deslocamento do retalho. Figura 6 – Tracionamento do retalho evidenciando total liberação do mesmo sem tensão. Figura 7 – Raspagem e alisamento radicular da raiz envolvida. Figura 8 – Aplainamento radicular com broca diamantada tronca cônica. Figura 9 – Condicionamento da superfície radicular com EDTA 24%. Figura 10 – Remoção do tecido conjuntivo da região palatina. 530 Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 Periodontia O enxerto de tecido conjuntivo foi removido do palato, seguindo uma técnica já descrita11, com a realização de uma única incisão, perpendicular ao longo eixo dos dentes, se es- tendendo profundamente até atingir a tábua óssea palatina na região entre a distal do canino até a mesial do primeiro molar. Uma segunda incisão no mesmo ponto, direcionada para o centro do palato, porém, mais superfi cial, foi feita para permi- tir a remoção do tecido conjuntivo, com uma espessura apro- ximada de 1,5 mm (Figura 10). Depois de removido, o enxerto de tecido conjuntivo foi posicionado na área doadora e sutura- do com fi o Vicryl 5.0 (Figuras 11). Os retalhos foram suturados sobre o enxerto com uma sutura simples e fi o de Nylon 5.0 (Fi- gura 12). O palato, também, foi suturado com fi o de seda 4.0. Posteriormente, os provisórios foram reembasados para favo- recer a perfeita adaptação à região recém-operada (Figura 13). A paciente foi medicada com analgésico (500 mg de dipi- rona sódica) e instruída a fazer bochechos duas vezes por dia com digluconato de clorexidina a 0,12% durante dez dias. Uma semana após a cirurgia, as suturas da região do pala- to e da área enxertada foram removidas. Exames clínicos foram realizados semanalmente no primeiro mês, quinzenalmente até completar três meses e trimestralmente até o término do primeiro ano de pós-operatório, para avaliação da adaptação dos provisórios e ajuste, quando necessário, do mesmo. A pa- ciente está em pós-operatório de dois anos, já com as próteses defi nitivas e mostra