Buscar

Geopolitica e Segurança Internacional

Prévia do material em texto

TEORIA DA SECURITIZAÇÃO 
Estudos de securitização buscam entender "quem securitiza (ator da securitização), quais questões (threats), de quem (objeto referente), por quê, com quais resultados e, não menos importante, sob quais condições"
No âmbito das relações internacionais, o conceito é ligado à Escola de Copenhague e é visto como uma síntese do construtivismo e do realismo político clássico em suas abordagens.
A securitização é uma concepção de segurança orientada para o processo, que contrasta com as abordagens materialistas dos estudos clássicos de segurança. As abordagens clássicas de segurança se concentram nas disposições materiais da ameaça, incluindo a distribuição de poder, as capacidades militares e a polaridade, enquanto a securitização examina como uma determinada questão é transformada por um ator em uma questão de segurança para permitir o uso de medidas extraordinárias.
ESCOLA DE COPENHAGUE
O artigo aborda a contribuição da Escola de Copenhague para os estudos de
segurança, passando pela contextualização de suas teorias a respeito das relações
internacionais e sobre a área de segurança internacional, propondo uma visão não
ligada a lógica da teoria realista, mas que compreendesse diversos setores, sua lógica
interna de funcionamento e sua contribuição a segurança internacional, tirando do
estado a responsabilidade total pelas questões de segurança.
Criada em 1985 com a finalidade de promover estudos para a paz, a hoje
conhecida Escola de Copenhague é referência na área de segurança internacional. Seu
início esta ligado ao debate acadêmico dos anos 80 e também a reinserção do continente
europeu no cenário internacional pós-Guerra Fria, período em que a manutenção da
ordem havia se tornado perigosa devido a nova postura norte-americana, criando
desconfiança e gerando críticas a ordem internacional. Nos Estados Unidos, o auxílio
governamental às instituições de pesquisa havia influenciado a natureza dos trabalhos
que confirmavam diretrizes políticas nacionais de acordo com a teoria realista vigente.
Na academia europeia, a defesa de interesses é menos associado a lógicas nacionais e
mais direcionados à lógica internacional. A partir disso é possível compreender a grande
quantidade de centros de estudos para a paz na Europa, em contraposição a institutos
destinados à conformação de estratégias nacionais nos Estados Unidos que associavam
a segurança exclusivamente ao Estado e aos aspectos militares e estratégicos.
Na área de segurança internacional surgiram três vertentes teóricas: a
tradicionalista, a abrangente e a crítica. A primeira defende que os estudos devem se
restringir às questões militares e perceber o Estado como unidade básica de análise, o
segundo, ao qual a Escola de Copenhague se enquadra, sustenta que os estudos de
segurança devem incorporar tanto as ameaças militares quanto aquelas das áreas
política, econômica, ambiental e societal, e a última propõe que as pesquisas de
segurança devam colaborar para a emancipação humana, com valores como igualdade e
liberdade sendo priorizados por acadêmicos. A autora cita Jef Huysmans (1998) que diz
que uma das características da escola é seu teor europeu, explicado por três motivos: a
forma como a Escola integra empiria e teoria, a vinculação com os estudos para a paz e,
o tratamento de questões europeias de segurança.
Nos trabalhos da Escola de Copenhague, os desenvolvimentos empíricos são
apresentados junto às considerações teóricas, com uma abordagem interpretativa, os
fatos nem comprovam nem falseiam a teoria, mas sim fazem parte do fazer teórico. Já
na academia norte-americana, o material empírico comprova ou falseia a teoria. Os
pesquisadores europeus, em oposição americanos, dão um caráter mais internacionalista
que nacionalista, sendo destinadas à conformação de ordem internacional mais pacífica,
diferente da relação entre russos e americanos no fim dos anos 80, no que foi chamado
de um processo de europeização, retomando suas políticas de defesa e segurança. Nesse
ambiente, a Escola de Copenhague busca compreender um novo sentido ao conceito de
segurança, separando-o da lógica estatal, e também da lógica realista predominante.
No início, a Escola de Copenhague ainda utilizava o conceito de segurança
atrelado à lógica realista, que a autora demonstra por meio da análise de algumas obras.
Em1983, Buzan publicou o livro: People, States and Fear: The National Security
Problem in International Relations, que foi reeditado em 1991 com o nome de: People,
States and Fear: An Agenda for International Security Studies in the Post-Cold War Era.
Na edição de 1983, a ênfase foi dada ao aspecto militar das questões de segurança
nacional, já na edição de 1991, o autor adotou uma perspectiva abrangente que
corroborava a perspectiva realista. Apesar de ter defendido a importância das ameaças
sociais, ambientais e econômicas nas análises de segurança, Buzan manteve a
importância do Estado. Em 1993 foram identificados alguns limites empíricos, expostos
no livro Identity, Migration and the New Security Agenda in Europe (Waever 1993). A
ocorrência de guerras étnicas no Leste Europeu demonstrou ser incapaz de analisar
outras unidades além do Estado. Aqui, há um processo de desvinculação do conceito de
segurança a lógica do Estado. Torna-se necessário estudar tanto a segurança estatal
quanto a segurança societal. Com o livro Security: a New Framework for Analysis
(Wæver, 1998). descrito como pós-construtivista, a contribuição individual é crucial
para o desenvolvimento teórico da Escola. As pesquisas de Ole Waever chamaram
atenção para uma análise construtivista de segurança. Processos de construção de
questões de segurança ocorrem por meio de discursos proferidos pelos atores
interessados em estabelecer agendas de segurança. Questões políticas podem, portanto,
sofrer de securitização ou desecuritização. O sucesso de uma iniciativa de securitização
não depende, apenas do esforço dos agentes: é preciso que a questão seja reconhecida
socialmente como uma ameaça à segurança.
A percepção de agendas serem construídas por agentes tornou necessária uma
análise específica para os setores político, econômico, societal, ambiental e militar, pois
cada um destes possui sua lógica própria. O setor militar seria dominado pelas relações
de força, o setor político pelas relações de autoridade e reconhecimento externo, o setor
econômico pelas relações de comércio, produção e finanças, o setor societal pelas
relações entre identidades coletivas e o setor ambiental pelas relações entre as atividades
humanas e a biosfera. Nesse cenário, nenhum setor isolado seria capaz de fornecer uma
análise completa da segurança internacional. Buzan (1991) argumenta que o Estado
possui três componentes: uma base física, uma ideia de Estado e um conjunto de
instituições.
O componente físico do Estado é sua população, território, recursos e riquezas. A
ideia de Estado está vinculada à identidade nacional, dando coesão, e a identidade
nacional vem de noções como Nação, língua, religião, ideologias, raça, história e cultura
(Buzan, 1991:78-79). O terceiro componente do Estado são as instituições (executivo,
legislativo, judiciários, leis, procedimentos e normas). A qualidade entre esses
elementos forma o que Buzan chamou de Estados fortes e Estados fracos.A força do
Estado será diretamente proporcional ao nível de coesão político-social. Há também os
poderes fortes ou fracos, cuja classificação depende das capacidades militares e
econômicas relativas. Pode-se concluir que um Estado forte não necessariamente
constituirá poder forte.
A teoria desenvolvida por Buzan sofisticou a análise das relações de segurança
internacional, pois tornou necessárias investigações sobre a relação entre aspectos
domésticos e regionais e sobre a relação entre aspectos regionais e internacionais. Tal
análise tem inicio na identificação da forma como o poder está distribuído em determinada
região, o quetorna a interdependência variável, sendo menor em regiões de
Estados fracos ou com pouco poder, e maior em regiões com Estados fortes e/ou
poderosos. Com a introdução de novos atores à análise de segurança foi necessário a
revisão da teoria clássica. Com isso, esse tipo de análise estendeu-se a todos os cinco
setores, passando da análise de Estados para a análise de unidades, onde complexos de
segurança podem ser definidos de cima para baixo ou de baixo para cima, levando em
conta novos atores como organizações internacionais, movimentos sociais, etc.
Para finalizar, a Escola de Copenhague surge como uma necessidade de se
pensar a formação de uma paz na Europa pós-guerra fria, desvinculada da visão norte
americana. Ao fazer isso, fornece toda uma nova percepção acerca dos estudos do tema
segurança internacional, ao se afastar da perspectiva realista, e tirar a exclusividade do
Estado como atore responsável pela segurança. A contribuição teórica desta escola
abrange uma variedade maior de atores, tais como o setor Econômico, Ambiental e
Societal, dando maior especificidade e atualidade aos estudos do tema.
ESCOLA DE GALES E PARIS 
As escolas de Copenhague e Paris compartilham uma visão crítica e pessimista da segurança do mundo contemporâneo.
A Escola de Gales é a que mais se aproxima da agenda de segurança humana, tendo uma abordagem normativa. 
Os veem a possibilidade de emancipação e postulam que ambas (segurança e emancipação) são duas faces da mesma moeda, onde a ação emancipatória deve ser capaz de fornecer segurança sustentável, solucionando o problema pela raiz, tendo como valor fundamental um conceito igualitário da liberdade, ampliando a universalidade dos Direitos Humanos. 
ÁUDIO LEO 
A escola de copenhague tem uma abordagem construtivista, fundamentalmente por questões ideacionais e pelo ato da fala. Toda a ameaça se dá pela o ato da fala, a securitização é uma dessas narrativas que se dá pelo o ato da fala, quando nós priorizamos uma ameaça. 
A gente parte de um assunto que não é politizado, quando o assunto não é discutido, por exemplo das drogas, começou a ser politizado quando passou a ser uma questão de segurança pelos estados. Ser politizado é tratar um assunto dentro das normas que já existem. Este assunto passa de politizado a securitizado é quando passa por uma audiência, tendo que convencer que esta ameaça existe. Na questão das drogas, o ator securitizador, que vai tentar convencer a audiência, é o governo (o Estado), de que o assunto das drogas é uma problemática que pode interferir na vida do indivíduo e do Estado. A securitização só ocorre quando há medidas de exceção, que é o estado de exceção, que é quando você burla os procedimentos convencionais para tratar o assunto de uma forma diferente do convencional, tratando de outras regras. 
NOVAS GUERRAS
Hoje neste mundo atual não podemos tratar as novas guerras da mesma forma que tratava as velhas guerras, pois esta nomenclatura de novas guerras significa que devemos tratar as guerras de formas diferentes das demais do século passado, pois o tempo mudou, a sociedade, os objetivos, as formas de iniciar uma guerra são outras. 
A nomenclatura de novas guerras é importante para as relações internacionais pois estipula que trata-se diferente as futuras guerras. 
Em meio à aceleração de fenômenos de transnacionalização e demais processos de globalização, a multiplicação de conflitos distintos de caráter distinto daquele que define a guerra entre Estados modernos – as novas guerras estabelecem um novo padrão de conflitos transnacionais. 
Pioneira na análise de tais novas modalidades de violência organizada, Mary Kaldor (1999) introduziu o conceito de novas guerras, que entende ser uma das faces do processo de globalização que define a contemporaneidade desde o fim da Guerra Fria. 
Ao propor o termo novas guerras - empregado largamente até o presente para definir os novos padrões de conflito da contemporaneidade - Kaldor (1999; 2005; 2006) descreve tais fenômenos como novos não devido ao seu ineditismo, uma vez que muitos de seus elementos constitutivos pode ser facilmente identificados ao longo da história das guerras, mas para distinguir tais conflitos das percepções prevalentes de guerra que marcaram Períodos históricos anteriores. Quanto ao termo guerra, este é empregado para ressaltar a natureza política das novas modalidades de violência organizada. As novas guerras são, para a autora, substancialmente distintas das guerras tradicionais, as velhas guerras ou as guerras clausewitzianas. Kaldor (2005, p. 2) 
Diferentemente, as novas guerras seriam guerras assimétricas, empreendidas por estruturas de autoridade complexas de atores estatais e nãoestatais. Para Kaldor (1999; 2005; 2006), tais novas guerras se distinguem, ainda, por seu caráter transnacional; pela crescente informalidade; por serem comumente permeadas por disputas políticas de caráter identitário; e por se desenvolver na esfera civil, ao passo que as guerras tradicionais tinham a esfera pública como cenário da violência. 
Ainda quanto às características distintivas das novas guerras, Kaldor (1999; 2006) pontua que estas diferem essencialmente das modalidades de conflito que as precederam em seus objetivos, métodos e modos de financiamento. Quanto aos objetivos, as novas guerras seriam permeadas por questões políticas de cunho identitário, em oposição às questões geopolíticas e ideológicas que envolviam as guerras tradicionais. Os processos de globalização seriam responsáveis pela suplantação de clivagens de cunho ideológico ou geopolítico por choques entre 9 políticas identitárias – ou a reivindicação de poder em função de uma identidade particular, seja de caráter nacional, religiosa, étnica etc. Tais conflitos entre políticas identitárias se dariam entre políticas identitárias distintas, bem como entre o “cosmopolitism, based on inclusive, univesalist, multicultural values, and the politics of particularist identities” (KALDOR, 2006, p. 7). Muitos são os autores que, em acordo com Kaldor, entendem que questões de caráter identitário constituem elemento determinante das novas guerras (NEWMAN, 2004; SNOW, 1996). Quanto aos métodos empregados no conflito, as novas guerras, tal qual entende Kaldor (1999; 2006), em oposição às velhas guerras, seriam definidas pelas práticas executadas por grupos descentralizados inspiradas em técnicas de guerrilha e de contra-isurgência: a intenção de evitar o confronto direto, a batalha, e controlar o território através do controle político da população. Tais práticas fariam, enfim, da sociedade civil simultaneamente palco e alvo da violência organizada (MOURA, 2005). 
Ainda sobre os método empregados, práticas consideradas resultados indesejados da guerra convencional - entendidas como ilegítimas e, em muitos casos, ilegal, tais como a agressão a não-combatentes, o genocídio, o cerco à cidades e a destruição de monumentos históricos - constituiriam elementos essenciais do repertório de técnicas de violência organizada que definem as novas guerras. O terrorismo contemporâneo seria, assim, uma variação de tais estratégias (KALDOR, 2006). Em boa medida, trata-se do que Shaw (2004, p. 27) definiu como “degenerate warfare”. “Contemporary warfare therefore involves degenerate forms of the models of war that applied in the national- international era. (...) Degenerate warfare does not produce or mobilize so much as trade, loot and steal.” Enfim, quanto aos modos de financiamento, uma econômica da guerra essencialmente nacional daria lugar a uma economia de guerra globalizada. As novas guerras não se sustentariam sobre os sistemas econômicos centralizados e 10 autárquicos característicos das velhas guerras. Em oposição, as novas guerras – transnacionais, descentralizadas, informais – dependeriam de práticas criminosas locais e ajuda externa e seriam financiadas, para Kaldor (1999; 2006), por sistemas econômicos globalizados, igualmente transnacionais, descentralizados e informais.
OPERAÇÕESDE PAZ 
As missões de paz não necessariamente precisam ser feitas pela ONU, porém, para que elas sejam acatadas é preciso do aval do Conselho de Segurança. Durante a Guerra Fria, o número de operações de paz (PKOs) foram poucas, devido ao medo que as operações tendessem a um dos lados, EUA ou URSS. Por esta questão, além da imparcialidade, as PKOs são geralmente realizadas por países imparciais, como Canadá, Austrália e até mesmo o Brasil.
As operações de paz estão categorizadas em: peacemanking, peacekeeping e peacebuilding.
“Peace making: consiste na busca pela restauração da paz por meios pacíficos, utilizando-se normalmente ações diplomáticas neste contexto (ONU, 2008). O CSNU despende os esforços necessários para tentar resolver conflitos sem o uso da força neste contexto, sendo este o primeiro estágio da resolução de tais divergências, podendo ser substituído pelo peace enforcement quando não há grande probabilidade de resolução pacífica dos mesmos.”
“Peace keeping: medidas que visam a preservação da paz, mesmo que frágil, e a assistência na implementação de acordos (ONU, 2008). É a “parte do meio” das intervenções, iniciando-se próximo ao fim do peace making (ou enforcement) e terminando pouco depois do início do peace building.”
“Peace building: caracteriza-se como peace building um processo de longo prazo, que envolve um conjunto de medidas que visam a redução do risco de ocorrência de novos conflitos e o reforço das capacidades nacionais (ONU, 2008). Ou seja, busca-se a paz positiva, criando laços e incentivos para que os lados ora beligerantes busquem a paz entre si, e reforça as instituições locais, e o papel do Estado neste contexto.”
Primeiramente, as partes tentam a prevenção do conflito. Caso isso não ocorra e o conflito de fato aconteça, eles tentam trazer paz à região, seja pelo peace making – por meios diplomáticos – seja pelopeace enforcement – por meio da força. Uma vez que o conflito acaba, as partes instauram o peace keeping, de modo que os conflitantes não voltem a se enfrentar. Durante este tempo, são realizadas políticas de peace building, nas quais é feita a reconstrução do Estado fazendo com que os lados conflitantes vivem em paz entre si. O peace enforcement é uma política de promoção da paz. A diferença entre peace making e peace enforcementé que no peace making, a resolução do conflito e promoção da paz é feita através de meios diplomáticos, em conversas e negociações. Já no peace enforcement, a paz é promovida através da força militar, que policia o conflito no território.

Continue navegando