Buscar

4 TEORIA DO CRIME NOÇÕES INTRODUTÓRIAS. SUJEITOS DO CRIME. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TEORIA GERAL DO DELITO
	1 – Conceito de Crime
	A conceituação de crime deve ser analisada sobre três prismas: material, formal ou analítico.
Conceito Material – Crime seria toda ação ou omissão humana que lese ou exponha a perigo de lesão bem jurídico penalmente tutelado. Leva-se em conta a relevância do mal produzido aos interesses e valores selecionados pelo legislador. Esse conceito serve como legitimador do Direito Penal em um Estado Democrático de Direito.
Conceito Legal – O conceito de crime é aquele fornecido pelo legislador. É aquilo que está estabelecido em uma norma penal incriminadora sob ameaça de pena. Destaca-se que o conceito legal não admite o princípio da insignificância, pois não analisa a relevância da lesão;
Conceito Analítico – Também chamado de critério dogmático, concentra-se nos elementos que compõe a estrutura do crime. O conceito analítico conhece, organiza, ordena e sistematiza os elementos e a estrutura do crime, de modo a permitir a aplicação racional e uniforme do Direito Penal.
1.1.1 – O conceito analítico – A depender da quantidade de elementos do crime, é possível adotar a teoria quadripartida, tripartite ou bipartida.
Posição quadripartida – O crime seria composto por 04 elementos – fato típico, ilicitude, culpabilidade e punibilidade. É posição minoritária, pois a punibilidade é mero pressuposto de aplicação da pena.
Posição Tripartida – Seriam elementos do crime o fato típico, ilícito e culpável. Devemos nos lembrar que quem adota a teoria tripartida não necessariamente adota a teoria clássica da conduta, pois o finalismo também a aceita.
Posição Bipartida – Seriam elementos do crime o fato típico e ilícito. A culpabilidade seria mero pressuposto de aplicação da pena. Tal teoria se relaciona com a teoria finalista da conduta.
Em uma visão analítica, o Código Penal adotou qual teoria? Não há uma resposta para a pergunta. Cleber Masson entende que com a Lei 7.209/84, responsável pela nova redação do Código Penal, ficou a impressão que adotou-se a teoria bipartida.
1.2 – Crime x Contravenção
O Brasil adotou o sistema dualista binário ou dicotômico, que divide a infração penal em crime ou contravenção (também chamado de crime-anão, crime vagabundo ou crime liliputiano).
De acordo com a Lei de Introdução ao Código Penal, considera-se crime a infração penal punida com pena de reclusão ou detenção. Por outro lado, se o preceito secundário não apresentar “reclusão” ou “detenção”, estaremos diante de uma contravenção penal, uma vez que a lei comina pena de prisão simples ou multa. 
Logo, ontologicamente, crime e contravenção não se distinguem. A diferença entre os dois é quantitativa e qualitativa, ou seja, puramente axiológica. A opção do que seja crime ou contravenção trata-se de verdadeira opção política do legislador.
1.2.1 – Crime x Contravenção – Distinções – 
Sem prejuízo da distinção quantitativa e qualitativa entre crime e contravenção, o Código Penal e a Lei de Contravenções nos traz outras distinções: Vejamos:
Mais distinções
a) Competência para julgamento – O crime pode ser julgado tanto na Justiça Estadual quanto Federal. A Contravenção tem competência sempre na Justiça Estadual (Art. 109, IV, CF). Todavia, excepcionalmente, a contravenção será julgada na justiça federal caso o autor da contravenção possuir foro por prerrogativa de função na Justiça Federal
1.2.2 – Conceito legal de crime e o art. 28 da Lei 11.343/06 – O art. 28 da Lei de Drogas define o crime de posse de drogas para consumo pessoal, a ele cominando as penas de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e comparecimento à programa ou curso educativo.
Diante disso surgiu a discussão se tal conduta seria crime ou não. Foram criadas duas correntes:
Primeira Corrente – Entende que como não foi previsto as penas de reclusão ou detenção, não se trataria de crime, tampouco de contravenção. Portanto, tal ilícito seria uma verdadeira infração penal sui generis.
Segunda Corrente – Entendeu pela manutenção do caráter criminoso da conduta. Pois dentre outros motivos, a lei classificou a conduta como crime; processa-se utilizando a Lei 9.099/95, dentre outros. Assim, o STF decidiu não ter havido descriminalização da conduta, mas sim DESPENALIZAÇÃO, em face da supressão da pena privativa de liberdade.
2 – Sujeitos do Crime 
Trata-se das pessoas que estão envolvidas na empreitada criminosa. Podem ser sujeitos ativos ou passivos.
	2.1 – Sujeito Ativo – É a pessoa que realiza direta ou indiretamente a conduta criminosa. O autor e coautor realizam a conduta de forma direta, enquanto o partícipe e o autor mediato o fazem de forma indireta. 
	a) A pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes
	Para melhor compreensão, devemos entender a natureza jurídica de tais institutos. Para a teoria da ficção jurídica, idealizada por Savigny, a pessoa jurídica não tem existência real e nem vontade própria. Para os adeptos dessa corrente, pessoa jurídica jamais prática crime. 
	A outro giro, para a teoria da realidade, orgânica ou da personalidade real, idealizada por Otto Gierke, entende que a PJ é ente autônomo, dotado de vontade própria. É a corrente adotada pela doutrina. Essa corrente possui 02 entendimentos, um que entende pela impossibilidade de PJ ser sujeito ativo de infrações penais e outra que entende que PJ pode ser sujeito ativo de infrações penais.
	A corrente que pugna pela possibilidade de PJ figurar como sujeito ativo de infrações penais, possui os seguintes fundamentos: i) PJ é ente autônomo; ii) a PJ deve responder por seus atos; iii) PJ tem vontade própria; dentre outros motivos.	
	Optando pela segunda correte, a CF/88 em seus arts. 175, §5º e 225, §3º admitiu a responsabilidade penal da PJ nos crimes contra a ordem financeira, economia popular e contra o meio ambiente.
	O STF E STJ entendem também pela admissibilidade da responsabilidade penal da pessoa jurídica em todos os crimes ambientais, dolosos ou culposos.
	Logo, temos o seguinte debate:
1ª Corrente: A pessoa jurídica não pode praticar crime ou ser responsabilizada penalmente. Para essa corrente, a responsabilidade da pessoa jurídica ofende os seguintes princípios constitucionais:[1: Essa corrente relaciona-se com a teoria da ficção jurídica, de Savigny, para a qual a pessoa jurídica não tem existência real, não tem vontade própria.]
Princípio da Responsabilidade Subjetiva – esse princípio diz que não há responsabilidade sem dolo ou culpa.
Princípio da Culpabilidade
Princípio da Responsabilidade Pessoal – segundo o qual a pena não pode passar da pessoa do agente.
Princípio da Personalidade das Penas – porque a punição, ainda que indiretamente, atingiria os integrantes da pessoa jurídica. 
2ª Corrente: A pessoa jurídica pode ser autora de crime e, portanto, responsabilizada penalmente por infrações ambientais. Essa corrente rebate os argumentos da primeira corrente com os seguintes fundamentos:
Trata-se de responsabilidade objetiva autorizada pela Constituição Federal – concorda que viola o princípio da responsabilidade subjetiva, mas é uma exceção prevista na própria CF, que pode excepcionar-se a si mesma.
A pessoa jurídica deve responder por seus atos, adaptando-se o juízo de culpabilidade às suas características – o princípio da culpabilidade deve ser adaptado à realidade atual.
Não viola o princípio da personalidade da pena, transmitindo-se, eventualmente, os efeitos da condenação. Deve-se distinguir a pena dos efeitos da condenação, os quais também se verificam com a punição da pessoa física.
Exemplos de crimes que poderiam ser praticados pela pessoa jurídica: crimes contra a ordem econômica e financeira, crimes contra a economia popular, crimes contra o meio ambiente etc.
3ª Corrente (STJ): Apesar de a pessoa jurídica ser um ente autônomo e distinto de seus membros, dotado de vontade própria, somente pode ser responsabilizada penalmente nas infrações ambientais se houver imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome e em seu benefício.Art. 225, § 3º da CF - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Trata-se de RESPONSABILIDADE PENAL SOCIAL. 
Requisitos:
Dano praticado seguindo ordem da pessoa jurídica, e;
Em benefício da pessoa jurídica (art. 3º da lei 9605/98).
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
O parágrafo único do art. 3º indica a adoção do SISTEMA DA DUPLA IMPUTAÇÃO. 
Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação da pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio. STJ – Resp 889528/SC, de 17/04/2007.	
O STJ entende que não é possível denunciar apenas a pessoa jurídica, sendo necessário que a denúncia abranja a pessoa física que houver praticado o crime em nome e benefício da pessoa jurídica, juntamente com a pessoa jurídica. Na denúncia devem figurar, simultaneamente, tanto a pessoa física autora da infração quanto a pessoa jurídica beneficiária ou interessada.
Art. 3º, Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.
Cleber Masson ressalva que somente podem ser praticados pela pessoa jurídica os crimes previstos na Constituição, desde que regulamentados por lei ordinária, a qual deverá instituir expressamente sua responsabilidade penal.
 	ATENÇÃO – NOVO ENTENDIMENTO STF 1ª TURMA- É de se observar, entretanto, que a condenação da pessoa jurídica não acarreta, automaticamente, em igual medida no tocante à pessoa física, pelo mesmo crime. Exigem-se provas seguras da autoria e da materialidade do fato delituoso relativamente a todos os envolvidos na infração penal. De fato, nada impede a absolvição das pessoas físicas às quais se imputou a responsabilidade pelo crime ambiental, simultaneamente à condenação da pessoa jurídica beneficiada pelo delito. Assim, o STF adotou posição que dispensa a imputação concomitante do delito ambiental à pessoa física, ao lado da pessoa jurídica. Por sua vez, as decisões mais recentes do STJ trilham o mesmo caminho.
2.1.1 - Classificação do crime quanto ao sujeito ativo
Comum – O tipo penal NÃO exige qualidade ou condição especial do agente. Admite co-autoria e participação. Ex: matar alguém (qualquer um pode matar alguém);
Próprio – o tipo penal EXIGE qualidade ou condição especial do agente. Admite co-autoria e participação. Ex: peculato (exige que o autor seja funcionário público); 
Mão própria – O tipo penal EXIGE qualidade ou condição especial do agente. O que diferencia do crime próprio é que só admite participação; não admite co-autoria. Por isso, o crime de mão própria também é chamado de crime de conduta infungível. Ex: falso testemunho. 
QUESTÃO: O advogado que induz a testemunha a mentir, pratica falso testemunho? 
Para a doutrina, o advogado também pratica o crime, na condição de partícipe, pois o crime de falso testemunho é crime de mão própria.
O STF, porém, entendeu que o advogado que induz a testemunha a mentir é co-autor do crime de falso testemunho, gerando uma EXCEÇÃO do crime de mão própria que admite co-autoria.
	2.2 – Sujeito passivo – Trata-se do titular do bem jurídico tutelado pela norma penal. Pode ser:
Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral, genérico ou indireto – É o Estado. Figura como sujeito passivo de todos os crimes.
Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular ou direto – é o titular do bem jurídico lesado. Pode ser o Estado também
Sujeito passivo indeterminado – É o que ocorre nos crimes vagos, aqueles que têm como vítima um ente destituído de personalidade jurídica.
Morto pode ser vítima de crime? O art. 138 do CP afirma ser punível a calúnia praticada contra pessoas mortas. Contudo, o morto, não sendo titular de direitos, não é sujeito passivo de crime. Pune-se, entretanto, delito contra o morto, figurando como vítima a família do morto, interessada na manutenção de sua reputação, de seu bom nome.
Animais podem ser vítimas de crime? Os animais não são vítimas de crime, podendo aparecer como objeto material do delito, figurando como sujeito passivo o proprietário do animal ou a coletividade, no caso das infrações ambientais.
É possível a pessoa ser sujeito passivo e ativo do mesmo crime?
O homem não pode ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo.
Pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão mediante seqüestro? Sim, quando a pessoa jurídica for a pagadora do resgate. Na extorsão mediante seqüestro há duas vítimas, que nem sempre recaem na mesma pessoa: a pessoa privada da liberdade de locomoção e a pessoa lesada em seu patrimônio.
Ex: no seqüestro de Silvo Santos, quando o resgate é pago pelo Banco Panamericano, há duas vítimas: Silvo Santos (privado de sua liberdade) e o Banco (lesado em seu patrimônio).
Pessoa jurídica pode ser vítima de crime contra a honra? Existem duas correntes:
- 1ª Corrente (STF e STJ): Pessoa jurídica PODE ser vítima somente de difamação. Não pode ser vítima de calúnia, porque não pratica crime, nem de injúria, porque não tem honra subjetiva (dignidade/decoro).
- 2ª Corrente (Mirabete): Pessoa jurídica não pode ser vítima de qualquer crime contra honra. Entende que os crimes contra a honra só protegem a pessoa física, por estarem previstos no título do Código que trata dos crimes praticados contra a pessoa.
2.2.1. Classificação dos sujeitos passivos e do crime quanto ao sujeito passivo
Sujeito passivo formal, constante, geral, genérico, mediato ou indireto – É o Estado interessado na manutenção da paz pública e ordem social. Não importa qual seja o crime, ele sempre vai periclitar pelo menos a paz pública ou a ordem social, de modo que o Estado sempre será sujeito passivo de qualquer crime (razão pela qual é chamado de sujeito constante ou formal);
Sujeito passivo material, eventual, particular, acidental, imediato ou direto – É o titular do bem jurídico colocado em risco ou lesado.
Sujeito passivo próprio – O tipo exige qualidade ou condição especial da vítima. Ex: infanticídio (o nascente ou neonato são vítimas).
Crime bipróprio – É o crime que exige condição ou qualidade especial tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo. Ex: infanticídio. O estupro era bipróprio (porque o sujeito ativo tinha que ser homem e o sujeito passivo tinha que ser mulher), mas agora é comum. 
Crime vago – É o crime cujo sujeito passivo é um ente destituído de personalidade jurídica.
Crime de dupla subjetividade passiva – É o crime que, obrigatoriamente, tem pluralidade de vítimas. Ex: violação de correspondência (são vítimas o emitente e o destinatário). OBS: não existe o crime de chacina, mas de homicídio, que pode ser contra apenas uma pessoa. 
3 – Objeto do Crime 
É o bem ou objeto contra o qual se dirige a conduta criminosa. Pode ser jurídico ou material.
Objeto jurídico é o bem jurídico, isto é, o interesse ou valor protegido pela norma penal. No art. 121 do Código Penal, a título ilustrativo, a objetividade jurídica recai na vida humana. É possível crime sem objeto material, como nos casos de crime de mera conduta. 
Objeto material, de seu turno, é a pessoa ou a coisa que suporta a conduta criminosa. No homicídio, exemplificativamente, é o ser humano que teve sua vida ceifada pelo comportamento do agente. Não existe crime sem objeto jurídico.
3.1. Pluriobjetividade jurídica
É possível que os crimes tenham pluriobjetividade jurídica, que violem mais de um bem jurídico ao mesmo tempo. 
O roubo, por exemplo,protege o patrimônio e a incolumidade pessoal da vítima (a doutrina diz que o roubo é crime de dupla objetividade jurídica).
Crimes pluriofensivos – são crimes que lesam ou expõem a perigo de dano mais de um bem jurídico.
4 – Ilícito Penal e Outros Ilícitos
Ilicitude é a relação de contrariedade entre o fato praticado por alguém e o ordenamento jurídico como um todo. Há nesse caso ilícitos penais e de outros ramos do direito. 
O ilícito penal se separa dos demais, em relação à sua gravidade, por força da relevância da conduta praticada e da importância do bem jurídico tutelado. E o critério para essa distinção é meramente político. O que hoje se entende por ilícito tributário no futuro poderá ser compreendido como ilícito penal 
E, por corolário, o ilícito penal se distingue de todos quanto à consequência. Enquanto se reserva a ele uma pena, até mesmo privativa de liberdade, as outras disciplinas jurídicas preveem sanções mais brandas.
– Classificação dos crimes 
5.1 – Crimes comuns, próprios e de mão própria -
Crimes comuns ou gerais: são aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa. O tipo penal não exige, em relação ao sujeito ativo, nenhuma condição especial. Exemplos: homicídio, etc. Fala-se também em crimes bicomuns, compreendidos como aqueles que podem ser cometidos por qualquer pessoa e contra qualquer pessoa, isto é, não se reclama nenhuma situação especial, seja em relação ao sujeito ativo, seja no tocante ao sujeito passivo. É o caso da lesão corporal e do estelionato, entre tantos outros delitos.
Crimes próprios ou especiais: são aqueles em que o tipo penal exige uma situação fática ou jurídica diferenciada por parte do sujeito ativo. Exemplos: peculato (só pode ser praticado por funcionário Público). 
Os crimes próprios dividem-se em puros e impuros. Nos puros, a ausência da condição imposta pelo tipo penal leva à atipicidade do fato (exemplo: prevaricação, pois, excluída a elementar “funcionário público”, não subsiste crime algum), enquanto nos impuros, a exclusão da especial posição do sujeito ativo acarreta na desclassificação para outro delito (exemplo: peculato doloso, pois, afastando-se a elementar “funcionário público”, o fato passará a constituir crime de furto ou apropriação indébita, conforme o caso).
 Fala-se ainda em crimes próprios com estrutura inversa, classificação relativa aos crimes praticados por funcionários públicos contra a Administração em geral (crimes funcionais). São aqueles que é necessário indagar sobre o fato antes de concluir que a qualificação subjetiva de funcionário público subsista realmente. 
Existem também os chamados crimes bipróprios, é dizer, delitos que exigem uma peculiar condição (fática ou jurídica) no tocante ao sujeito ativo e ao sujeito passivo. É o caso do infanticídio, que somente pode ser praticado pela mãe contra o próprio filho nascente ou recém-nascido. 
c) Crimes de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infungível: são aqueles que somente podem ser praticados pela pessoa expressamente indicada no tipo penal. É o caso do falso testemunho (CP, art. 342). Tais crimes não admitem coautoria, mas somente participação, eis que a lei não permite delegar a execução do crime a terceira pessoa. No caso do falso testemunho, o advogado do réu pode, por exemplo, induzir, instigar ou auxiliar a testemunha a faltar com a verdade, mas jamais poderá, em juízo, mentir em seu lugar ou juntamente com ela.
5.2 – Crimes simples ou complexos
Simples – É aquele que se amolda a um único tipo penal. Ex.: Furto.
Complexo – Se almolda a mais de um tipo penal. Ex.: Roubo (é a junção crime de furto + constrangimento ilegal ou ameaça. O Crime complexo pode ser: i) em sentido estrito – quando se conjuga dois crimes: ex.: roubo (furto + ameaça ou constrangimento ilegal); ii) quando se conjuga um crime um fato atípico – ex.: denunciação caluniosa – calúnia + informar a autoridade policial a prática de um crime.
– Crimes formais, materiais e de mera conduta
Materiais – O tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um resultado naturalístico. O resultado é obrigatório para consumação do crime. Ex.: Homicídio.
Formais, de consumação antecipada ou de resultado cortado - São aqueles nos quais o tipo penal contém em seu bojo uma conduta e um resultado naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação. Na extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), basta a privação da liberdade da vítima com o escopo de obter futura vantagem patrimonial indevida como condição ou preço do resgate. Ainda que a vantagem não seja obtida pelo agente, o crime estará consumado com a realização da conduta. 
Mera conduta - são aqueles em que o tipo penal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, razão pela qual ele jamais poderá ser verificado. É o caso do ato obsceno (CP, art. 233) e do porte de munição de uso permitido (Estatuto do Desarmamento, art. 14).
– Crimes instantâneos, permanentes, de efeitos permanentes e a prazo
Crimes instantâneos ou de estado – a consumação se verifica em momento determinado, sem continuidade de tempo. É o caso do furto.
Crimes permanentes – A consumação se prolonga no tempo por vontade do agente. Como o ordenamento jurídico é constantemente agredido, cabe flagrante a qualquer momento. Os crimes dos arts. 12 e 16 do Estatuto do Desarmamento são crimes permanentes. Eles podem ser: i) necessariamente permanentes – para consumação é indispensável a manutenção contrária ao Direito por tempo relevante; ii) eventualmente permanentes – em regra, são instantâneos, mas, no caso concreto, a situação de ilicitude pode ser prorrogada no tempo pela vontade do agente.
Crimes instantâneos de efeitos permanentes – O resultado subsiste após a consumação, independente da vontade do agente.
Crimes a prazo – São aqueles que a consumação exige a fluência de determinado período.
5.5 – Crimes unissubjetivos, plurissubjetivos e eventualmente coletivos
Unissubjetivos – praticados por um único agente;
Plurissubjetivos – praticados por mais de um agente. Podem ser:
Bilaterias ou de encontro – o tipo exige dois agentes que pratiquem duas condutas que se encontrem – ex.: bigamia;
Coletivos – o crime exige três ou mais agentes. Podem ser:
De condutas contrapostas – os agentes atuam uns contra os outros – Ex.: Rixa;
De condutas paralelas – os agentes se auxiliam mutuamente.
Eventualmente coletivos – apesar de caráter unilateral, a diversidade de agentes atua como causa de majoração da pena. 
– Crime de dano e perigo
Crimes de dano – São aqueles cuja consumação produzem efetiva lesão a bem jurídico.
Crimes de perigo – São aqueles que se consumam com a mera exposição do bem jurídico penalmente tutelado. Subdividem-se em: 
Crimes de perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência: consumam-se com a prática da conduta, automaticamente. Não se exige a comprovação da produção da situação de perigo. Ao contrário, há presunção absoluta (iuris et de iure) de que determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos. É o caso do tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33, caput). Esses crimes estão em sintonia com a Constituição Federal, mas devem ser instituídos pelo legislador com parcimônia, evitando-se a desnecessária inflação legislativa.
OBSERVAÇÃO MÁXIMA – A partir do conceito tradicional de crime de perigo abstrato, uma parte da doutrina passou a sustentar a sua inconstitucionalidade, ao argumento de que viola o princípio da lesividade. Vejamos alguns argumentos: 
- Aline Bianchini – Entende que crimes de perigo abstrato violam o princípio da dignidade da pessoa humana e da culpabilidade. Isso porque o princípio da culpabilidade impede presunções em desfavor do acusado
- Damásio – Não são admissíveis os crimes de perigo abstrato em nossa legislação, pois violam o princípio do estado de inocência. 
- Luís Greco – Afirma que o problema dos crimes de perigo abstrato não tem nada a ver com o princípio da lesividade, mas sim na errônea conceituação de tal princípio. 
Parao autor, os crimes de perigo abstrato exigiria uma constatação do perigo “ex-post” (perigo posterior a conduta realizada). Já nos crimes de perigo abstrato, também se exige uma constatação do perigo (ele não será presumido), mas esta avaliação do perigo será ex ante (avaliação do perigo enquanto a conduta é realizada).
Para constatação do perigo ex ante, coloca-se um hipotético terceiro observador que analisará a conduta enquanto ela é realizada. Se este terceiro observador, durante a conduta, enxergar o perigo, configura o crime de perigo abstrato, ainda que posteriormente à conduta, se verifique que não ocorreu o perigo.
	Ex.: crime de quadrilha (crime de perigo abstrato). Um grupo de pessoas se associam de forma estável para cometer um número indeterminado de crimes. O terceiro observador, que analisará a situação dessa associação, enxergará uma situação perigosa e, por isso, a conduta da associação será típica (avaliação de perigo ex ante). Ainda que posteriormente o terceiro observador se dê conta de que a ação é atrapalhada e não conseguirá por em prática nenhum de seus planejamentos. 
Verifica-se, portanto, que diferentemente do que sustenta a doutrina tradicional, no crime de perigo abstrato não há uma presunção absoluta de perigo (que não admite prova em contrário). 
Art. 253 (Ler) -> Adotando-se uma posição tradicional, tendo em vista que a professora considera como uma posição errada, haveria crime de perigo abstrato, a conduta será típica sempre que o sujeito fosse surpreendido transportando gás tóxico sem licença da autoridade, mesmo que ele estivesse cumprindo todas as regras de segurança, porque o legislador, naquela concepção presume iuris et de iure a existência de perigo. Essa é uma posição equivocada, na verdade, trata-se de um crime de perigo abstrato, mas que exige a comprovação de perigo ex ante. 
No caso do terceiro observador (avaliação do perigo ex ante), este verificará que apesar da ausência de licença da autoridade, o transportador observou todas as regras de segurança e, portanto, não haverá crime. 
A posição de Luís Greco considera que “os problemas do perigo abstrato pouco têm a ver com o bem jurídico. É no “como”, na estrutura do delito, que se deverá examinar a problemática do crime de perigo abstrato.” Luís Greco, ainda neste contexto, dá o exemplo do bem jurídico “vida”, o qual pode ser protegido por normas penais com estruturas diversas. Veja a seguir: 
(i) Nos delitos de lesão, punem-se condutas lesivas ao bem jurídico protegido: homicídio, lesão corporal seguida de morte, estupro com resultado morte, etc. 
(ii) Nos crimes de perigo concreto, é necessário, de uma perspectiva ex post, que resulte efetivamente uma situação de fragilidade para o bem jurídico tutelado, que só se salva por obra do acaso. 
(iii) Nos crimes de perigo abstrato, são proibidas condutas que se sabem perigosas para o bem jurídico (exemplo: rixa), ou condutas ex ante perigosas. 
Assim, nos crimes de perigo abstrato, o problema não está no bem jurídico a ser protegido, pois este é o mesmo dos crimes de perigo concreto e dos crimes de lesão. O problema se encontra na estrutura da norma (na forma de proteção do bem jurídico). 
Com isso, verifica-se que essa ideia de inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato, por violação ao princípio da lesividade, é fruto de um erro de conceituação equivocada da ideia de perigo abstrato.
A visão do Luís Greco, sobre os crimes de perigo abstrato, é a predominante na doutrina estrangeira. Neste sentido, atenção ao Informativo nº 563 do Superior Tribunal de Justiça ano de 2015. Atenção - No Superior Tribunal de Justiça, a jurisprudência parece sufragar a primeira visão dos crimes de perigo abstrato (conceito tradicional). Aponta como de perigo abstrato os crimes previstos nos artigos 306 e 310 do Código de Transito Brasileiro (CTB), e o de porte ilegal de arma de fogo. Alude a “desnecessidade de prova da situação de risco ao bem jurídico” ou da “potencialidade lesiva da conduta” ou da “ocorrência de lesão ou perigo de dano concreto”. Porém, no Informativo nº 826 do Supremo Tribunal Federal, de maio de 2016, ficou assentado que “portar munição como pingente” não configura crime, porque neste caso o paciente “não oferece perigo concreto ou abstrato” (visão de Luís Greco). 
Observação: É oportuno esclarecer como identificar os crimes de perigo concreto e abstrato. Quando for perigo concreto, a situação de perigo estará aludida no tipo penal (ex. arts. 132 e 250). No crime de perigo abstrato, o tipo penal apenas descreve a conduta, sem mencionar a situação de perigo no tipo penal (ex.: crime de quadrilha). Outro exemplo é o do art. 253 do CP.
crimes de perigo concreto: consumam-se com a efetiva comprovação, no caso concreto, da ocorrência da situação de perigo. É o caso do crime de perigo para a vida ou saúde de outrem (CP, art. 132); 
crimes de perigo individual: atingem uma pessoa ou um número determinado de pessoas, tal como no perigo de contágio venéreo (CP, art. 130); 
crimes de perigo comum ou coletivo: atingem um número indeterminado de pessoas, como no caso da explosão criminosa (CP, art. 251); 
crimes de perigo atual: o perigo está ocorrendo, como no abandono de incapaz (CP, art. 133); 
crimes de perigo iminente: o perigo está prestes a ocorrer; 
crimes de perigo futuro ou mediato: a situação de perigo decorrente da conduta se projeta para o futuro, como no porte ilegal de arma de fogo de uso permitido ou restrito (Lei 10.826/2003, arts. 14 e 16), autorizando a criação de tipos penais preventivos.
5.6 Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes 
Dizem respeito ao número de atos executórios que integram a conduta criminosa. 
Crimes unissubsistentes: são aqueles cuja conduta se revela mediante um único ato de execução,capaz de por si só produzir a consumação, tal como nos crimes contra a honra praticados com o emprego da palavra. Não admitem a tentativa, pois a conduta não pode ser fracionada, e, uma vez realizada, acarreta automaticamente na consumação.
b) Crimes plurissubsistentes: são aqueles cuja conduta se exterioriza por meio de dois ou mais atos, os quais devem somar-se para produzir a consumação. É o caso do crime de homicídio praticado por diversos golpes de faca. É possível a tentativa justamente em virtude da pluralidade de atos executórios.

Continue navegando