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Terapia Ocupacional para Pacientes com Câncer

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1 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
CAP. 50 
 
ONCOLOGIA 
Glossário 
Glossário 
Carcinoma – Cânceres originados em tecidos de órgãos do corpo. 
Hematopoiese – Processo de produção do sangue. 
Leucemia – Cânceres que afetam as células do sangue e os órgãos que produzem o sangue. 
Linfoma – Cânceres que surgem no sistema linfático; afetam linfócitos T e B. 
Lesão lítica – Lesão da medula óssea por invasão tumoral colocando a pessoa em risco de fratura patológica. 
Paliativo (cuidados) – Cuidados de suporte com objetivo de aliviar os sintomas; relevante ao longo de todo o tratamento; tipicamente utilizado 
no final da vida quando todos os tratamentos deixam de ser efetivos. 
Sarcomas – Cânceres de ossos e/ou tecidos conjuntivos. 
Câncer: a palavra por si só evoca medo e estigma. As pessoas comparam o diagnóstico de câncer com a 
morte. Porém, as doenças cardíacas, e não o câncer, são a principal causa de morte nos Estados Unidos (American 
Cancer Society, 2006). Um entre dois homens e uma entre três mulheres nos Estados Unidos poderão receber o 
diagnóstico de câncer ao longo da vida. Todos os grupos étnicos são afetados pela doença, embora alguns grupos 
tenham acesso ao diagnóstico e tratamento mais precoce que os demais. Acesso à avaliação e ao tratamento são 
determinantes para o prognóstico e para a sobrevivência. 
Um diagnóstico de câncer desafia, assim, significados e prioridades de vida. A pessoa que vive com esse 
diagnóstico bem como os membros de sua família ou de seu grupo social de apoio, precisam se adaptar às mudanças e 
às perdas. A pessoa com câncer é considerada um sobrevivente desde o momento do diagnóstico e ao longo do resto 
de sua vida. Tanto a doença como seu tratamento, podem alterar o funcionamento ocupacional da pessoa e de seu 
grupo de apoio. Rotinas podem ser quebradas, papéis importantes e atividades associadas a esses papéis podem ser 
perdidos, os comprometimentos podem levar à incapacidade de longo prazo, em alguns casos. 
Embora esse capítulo tenha foco na pessoa com câncer, os terapeutas ocupacionais que trabalham com a população 
desse diagnóstico, devem estar conscientes do impacto do resultado sobre o grupo social da pessoa. Ainda mais, o 
tratamento da pessoa com câncer precisa levar em consideração necessidades físicas, emocionais, cognitivas, 
espirituais para facilitar o ajustamento e maximizar o desempenho ocupacional. 
ESTATÍSTICAS DO CÂNCER: INCIDÊNCIA E ETIOLOGIA 
A Sociedade Americana para o Câncer (ACS) (2006) estimou que 1,4 milhões de novos casos de câncer seriam 
relatados em 2006. A maioria dos novos casos são carcinomas, cânceres originados de tecidos de órgãos do corpo 
(Centro M.D. Anderson de Tratamento do Câncer da Universidade do Texas [MDACC], 2006). Em termos de 
incidência relatada, os homens são mais afetados pelos cânceres de próstata (33% dos casos previstos), pulmão (13%), 
e colorretal (10%), enquanto as mulheres estão em maior risco de câncer de mama (31%), pulmão (12%), colorretal 
(10%). Outros tipos de câncer como leucemia (cânceres de células do sangue, medula óssea e outros órgão produtores 
de sangue), linfomas (cânceres que surgem no sistema linfático), e sarcomas (cânceres do osso e/ou tecidos 
conjuntivos) apresentam menores taxas de incidência (ACS, 2006). 
 
2 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
Os cânceres a grosso modo, representam doenças das células do corpo. Qualquer evento que afete a função de 
replicação das células, alterando sua estrutura genética, pode ser considerado como um fator de risco ou uma causa 
para o câncer. Fatores ambientais e celulares constituem as duas principais fontes de risco para o desenvolvimento do 
câncer e contribuem para causas subjacentes de câncer (ACS, 2006; Rohan & Fontham, 2001; MDACC, 2006; Rohan 
& Budds, 2004). 
Fatores ambientais podem ser considerados quanto ao estilo de vida e à exposição ambiental. Os fatores de risco 
relacionados ao estilo de vida incluem dieta (ou seja, exposição alimentar a cancerígenos), obesidade e nível de 
atividade física ou de lazer (ACS, 2006; Heath & Fontham, 2001). Fumar é parte do estilo de vida de 90% das pessoas 
que recebem diagnóstico de câncer de pulmão (Van Cleave & Cooley, 2004). Outros fatores ambientais incluem 
exposição a substâncias químicas como amianto ou benzeno; a fontes de radiação como raios ultravioleta presentes na 
luz solar; ou a processos infecciosos como hepatite pelo vírus Epstein-Barr ou hepatite C. Fatores celulares (ou 
moleculares) incluem a predisposição genética ao câncer por causa da hereditariedade ou comprometimento da função 
do sistema imunológico (Heath & Fontham, 2001). 
MECANISMOS DO CÂNCER: BASES FISIOPATOLÓGICAS DA REDUÇÃO DE 
CAPACIDADES E HABILIDADES 
Uma vez que o DNA da célula ou componentes genéticos sejam modificados, essas modificações são copiadas para as 
novas células à medida que as células alteradas se replicam. Se o corpo não tem função imunológica ou capacidade 
para restaurar esse DNA e interromper a divisão celular das células mutantes, se forma um câncer. As células em 
mutação perdem a função e as características que as definem histologicamente como um tipo determinado de célula. 
Elas proliferam para agredir outras células ou outros órgãos (Workman, 2004). 
Os cânceres podem ser classificados e estagiados. Os tumores são classificados pelo grau de diferenciação, ou seja, 
o grau de semelhança com o tecido originário (Hutson, 2004). Estagiamento é o processo de determinação de quanto o 
câncer já desenvolveu (Lenhard & Osteen, 2001). O sistema TNM de estagiamento adotado pela União Internacional 
Contra o Câncer e pelo Comitê Americano sobre o Câncer, é o método mais comum. Consiste na identificação de (1) 
tamanho do tumor, (2) número de linfonodos afetados, pelos quais o câncer se espalhou, e (3) presença de metástase 
(chegada a locais distantes no corpo). O estagiamento ajuda os médicos a selecionar o tipo de tratamento que será 
mais apropriado para o paciente e isso contribui para a estimativa do prognóstico. Um câncer estágio I, grau I é aquele 
que o tumor está presente, mas não infiltrado nos tecidos adjacentes e suas células são bem diferenciadas. Em um 
câncer estágio III, grau III, o tumor é grande, invadiu outros tecidos e linfonodos e suas células são pouco 
diferenciadas. Embora, esteja além do escopo desse capítulo, os terapeutas ocupacionais que trabalham com oncologia 
devem conhecer processos específicos que ocorrem na formação e no crescimento do tumor (angiogênese) e na 
metástase (RECURSOS 50-1). 
Cânceres de Pulmão 
Thomas et al. (2001) e Van Cleave e Cooley (2004) descrevem duas categorias de câncer de pulmão. Cânceres de 
pulmão de pequenas células (CPPC) são derivados das células neuroendócrinas, enquanto os cânceres de pulmão de 
não pequenas células (CPNPC) surgem dos tecidos epiteliais encontrados nos pulmões. Os cânceres de pulmão 
tendem a ser diagnosticados em estágios tardios quando já emitiram metástase para outros locais e quando os sintomas 
como a perda de peso, fadiga, dor, ou osteoartropatia (semelhante à artrite óssea e dor articular) já se tornaram mais 
evidentes e prejudicam as rotinas diárias. Esses e outros sintomas como a fraqueza, falta de ar, dispneia, ou alterações 
neurológicas indicativas de metástase para o cérebro, contribuem para a redução das capacidades e habilidades da 
pessoa. Os terapeutas ocupacionais podem atuar para ajudar as pessoas com câncer de pulmão a modificar seu estilo 
de vida para se adaptar a essas mudanças nas funções corporais, como observado no Estudo de Caso 50-1 a respeito de 
Joan. 
Cânceres HematológicosCânceres hematológicos correspondem aos três principais tipos de doença das células-tronco: leucemias, linfomas e 
mielomas múltiplos. Como um grupo, esses cânceres correspondem ao quinto tipo mais comum e a segunda causa de 
morte por câncer nos Estados Unidos (Decreto de investimento em pesquisa e educação para o câncer hematológico de 
2001: S 1094, 2002). Mais de 100.000 residentes nos Estados Unidos são diagnosticados a cada ano com cânceres do 
sangue, e 60.000 pessoas morrem anualmente. No momento, cerca de 700.000 pessoas vivem com cânceres do sangue 
nos Estados Unidos, e o controle é uma tarefa monumental. Tipicamente, os pacientes diagnosticados com cânceres do 
sangue são tratados por equipes de saúde multidisciplinares; terapeutas ocupacionais são, em geral, membros 
fundamentais dessa equipes de saúde. 
 
3 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
A Hematopoiese (produção do sangue) é um processo biológico ordenado em que células-tronco pluripotenciais 
formam células sanguíneas normais e maduras como linfócitos, granulócitos, eritrócitos e plaquetas (Weisman, 2000). 
Nos cânceres hematológicos, alterações na sinalização celular resultam em crescimento ou divisão descontrolados 
seguidos de “comprometimento do desenvolvimento”, ou pouca diferenciação das células durante a conversão de 
células-tronco em células sanguíneas maduras. Essas alterações muitas vezes resultam em acúmulo de células 
sanguíneas imaturas que não realizam suas funções fisiológicas normais. Além disso, a proliferação de um tipo de 
célula supera as funções normais das outras células resultando em doença. O restante dessa discussão irá abordar a 
leucemia. 
Leucemias são doenças do sangue originadas em órgãos produtores do sangue (Mandrell, 2004; Miller & Grodman, 
2001). Afetam os linfócitos, células brancas do sangue, células vermelhas e plaquetas. São de natureza aguda ou 
crônica. Nas leucemias agudas, as células não amadurecem à medida que proliferam e infiltram a medula óssea e 
outros órgãos, especialmente os linfonodos, baço e fígado, bem como o sistema nervoso central (SNC) em alguns 
tipos da doença. Nas leucemias crônicas, as células proliferam, mas alcançam a maturidade e diferenciam-se em 
componentes funcionais distintos (Mandrell, 2004; Miller & Grodman, 2001). A proliferação das células, contudo, 
afeta os órgãos. A maturação e diferenciação celular, podem continuar por muitos anos antes de ocorrer uma crise (a 
proliferação de células que não amadurecem). 
No caso de leucemias agudas, numerosos sintomas podem limitar as capacidades e habilidades de uma pessoa. A 
anemia aumenta a sensação de fadiga da pessoa e causa falta de tolerância à atividade pela pouca resistência. Edema 
pode ocorrer limitando a mobilidade. Quando as células infiltram a medula óssea, a pessoa pode experimentar dor 
articular e óssea ou estar em risco de fraturas patológicas (Nota de Segurança 50-1). Quando as células infiltram o 
SNC, a função cognitiva da pessoa pode ser afetada. Susceptibilidade a infecção e a contusão afeta a capacidade 
funcional. Nas leucemias crônicas, a fadiga principalmente afeta as capacidades e habilidades da pessoa. 
Sarcoma 
Como um grupo de doenças, os sarcomas incluem os sarcomas de tecidos moles e tumores ósseos primários. Desses 
dois grupos, os sarcomas de tecidos moles são quatro vezes mais comuns (American Cancer Society, 2005), mas eles 
são raros em adultos (Yasko et al., 2001). Os sarcomas de tecidos moles, incluem tumores que se desenvolvem do 
tecido adiposo, muscular, nervoso e fibroso ao redor de articulações, vasos sanguíneos e tecidos epiteliais profundos. 
Tumores ósseos primários surgem tanto do osso como da cartilagem. A maioria dos sarcomas é descoberta nos 
membros inferiores, mas podem surgir em qualquer parte do corpo. De acordo com Yasko et al. (2001), os sarcomas 
de tecidos moles não apresentam fatores etiológicos identificados, embora algumas condições genéticas e tratamento 
prévio para câncer tenham sido identificados como fatores predisponentes. As pessoas que apresentam tumores 
primários ósseos ou sarcomas de tecidos moles, tipicamente necessitam de serviços de reabilitação durante o curso do 
tratamento, especialmente no período pós-operatório. 
A causa patológica primária da redução da capacidade de participar das ocupações pode ser atribuída diretamente ao 
crescimento do tumor no sítio primário da doença e à doença metastática que se dissemina em sítios secundários. O 
tratamento da doença por si só pode resultar em causas secundárias de redução das capacidades, já que muitas vezes 
causa alterações de estruturas e/ou funções corporais ao ponto de incapacidade. 
O crescimento tumoral seja em sítio primário ou sob a forma de lesão metastática irá geralmente resultar em 
enfraquecimento de estruturas corporais. Tumores ósseos primários e metastáticos, particularmente lesões líticas, 
podem enfraquecer os ossos ao ponto de causar fratura patológica. O crescimento tumoral pode também comprometer 
a função circulatória resultando em edema, e pode comprimir nervos, invadir estruturas musculares, articulares 
causando dor ou alterando a percepção sensorial e limitando a amplitude de movimento. 
 NOTA DE SEGURANÇA 50-1 
Precauções gerais para o tratamento 
●Antes de entrar no quarto do paciente, leia o quadro e converse com o enfermeiro do paciente para saber se ocorreu 
qualquer evento ou mudança desde sua última visita. 
●Pratique as precauções universais. Você estará se protegendo e evitando disseminar infecção para outros. 
●Esteja familiarizado com o atendimento de emergências oncológicas (consulte RECURSOS 50-1) e observe as precauções 
necessárias. Categorias de emergências oncológicas podem ser obstrutivas/compressivas, hematológicas/imunológicas, 
metabólicas, aquelas relacionadas a aumento de pressão ou acúmulo de líquido e fratura patológica (Garrett e 0 Kirchner, 
1995; Hockett, 2004; Tatu, 2005). Embora algumas dessas condições/emergências possam não impedir que você trabalhe 
com pessoas com câncer, você deve conhecer como responder a elas, quando ocorrerem. 
●Quanto ao uso de agentes físicos: 
●Obedeça a todas as precauções padronizadas quanto ao seu uso. 
●Não aplique agentes térmicos ou elétricos sobre áreas de malignidade ativa ou potencial. 
 
4 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
●Evite áreas com alteração da integridade da pele (ou seja, locais de irradiação, enxerto ou doença, queimadura de 
quimioterapia, etc.). 
●Uso inadequado dos agentes físicos pode exacerbar condições como o linfedema. 
●Quanto ao uso de exercícios 
●Considere o comprometimento ou a condição. Exercícios agressivos podem estar contraindicados na presença de 
compressão de medula espinhal, linfedema, ou fratura patológica. 
●Em caso de mielossupressão, a contagem de plaquetas deve ser uma preocupação. É SEGURO fazer o paciente praticar 
AVD leve ou vencer resistência até 2,5 kg quando a contagem de plaquetas está abaixo de 20k/mL. 
●Quando em dúvida, consulte seu instrutor ou supervisor clínico. 
Efeitos do Tratamento sobre as Capacidades e as Habilidades Funcionais 
Como observado anteriormente, não apenas os diferentes tipos de cânceres afetam as capacidades funcionais da 
pessoa, mas o tratamento para esses cânceres também afeta a função e a habilidade de participar de papéis e atividades 
valorizadas. O curso do tratamento para os diferentes tipos de câncer, podem envolver múltiplas modalidades como 
cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia, bem como terapias experimentais. Esses tratamentos acontecem em 
diferentes intervalos e representam desafios físicos, cognitivose emocionais para a pessoa. O tratamento pode levar a 
frequente modificação do estilo de vida e das atividades. Além disso, o câncer e o seu tratamento em geral, 
desencadeiam sentimento de incerteza sobre o futuro, o que torna difícil para algumas pessoas participar do 
planejamento de atividades e rotinas diárias. Em casos em que o câncer progride e o tratamento produz efeitos 
colaterais, as pessoas experimentam uma perda funcional progressiva (Bertero, Eriksson & Ek, 1997; Schumacher et 
al., 1998). 
Em geral, as pessoas com câncer podem chegar à clínica de terapia ocupacional com uma miríade de problemas 
somáticos, cognitivos e psicossociais. Comprometimentos que impactam as estruturas e as funções corporais, podem 
limitar padrões de desempenho e ameaçar o desempenho em áreas ocupacionais (American Occupational Terapy 
Association [AOTA], 2002). Neuropatia periférica induzida por quimioterapia pode ser extremamente dolorosa e 
limitar a mobilidade, bem como a destreza manual. As pessoas podem também apresentar tremores após a 
quimioterapia, o que interfere na função motora fina. A radioterapia causa fibrose (endurecimento de estruturas 
internas), o que pode limitar o movimento e algumas vezes comprimir nervos causando lesão nervosa periférica 
(Cooper, 1998). O edema pode ocorrer independentemente do tratamento do câncer, enquanto o linfedema é uma 
sequela típica de cirurgia e/ou radioterapia que afeta um ou mais linfonodos. Eventualmente, o linfedema pode se 
tornar um risco ao longo de toda a vida, e os terapeutas ocupacionais devem buscar treinamento para poder oferecer 
tratamento especializado (consulte o Exemplo de Caso 50-2). Não é incomum observar alterações 
musculoesqueléticas como artrite ou artropatia, retração fascial ou ombro congelado, em pessoas submetidas ao 
tratamento do câncer. Fadiga, dor e náusea são efeitos colaterais frequentes do tratamento. 
A disfunção cognitiva também é um resultado do tratamento do câncer. Pacientes que estão isolados algumas vezes 
sentem os efeitos da privação. Em alguns a disfunção se manifesta como comprometimento de funções executivas, 
lentificação do processamento de informações, redução do período de atenção e comprometimento da memória de 
curto prazo. Os sintomas podem levar ao afastamento social. Um terapeuta ocupacional pode também observar 
alteração da consciência de segurança, julgamento, e de solução de problemas em algumas pessoas. Algumas vezes o 
tratamento de câncer pode revelar distúrbios cognitivos subjacentes como demência ou alterações neurológicas como 
o parkinsonismo. Os efeitos do tratamento sobre o ajustamento psicossocial serão discutidos adiante. 
A medida que a pessoa conhece melhor diferentes tipos de câncer, ela pode prever os problemas relacionados ao 
diagnóstico e ao tratamento, do mesmo modo que em relação a outras doenças. Por exemplo, no caso do sarcoma, as 
alterações relacionadas ao tratamento de estruturas corporais, pode também limitar a participação em ocupações. Uma 
cirurgia pode ser necessária para remover parte ou todo um membro. A preservação de um membro, por outro lado, 
pode levar a restrições pós-operatórias significativas, em geral para toda a vida. Tratamentos menos invasivos para o 
sarcoma como a quimioterapia estão geralmente associados a sintomas como fadiga, náusea e vômito, alopecia, febre 
neutropênica relacionada à anemia, leucopenia e trombocitopenia. A quimioterapia também pode resultar em 
alterações neurológicas como perda da audição e neuropatia periférica. A radioterapia, um tratamento pré--operatório 
frequente (Yasko et al., 1997), pode resultar em diminuição da elasticidade da pele ou de outros tecidos moles e em 
diminuição ou ausência de respostas de proteção nos sítios da irradiação. 
 CURSO ESPERADO PARA A RECUPERAÇÃO (OU DECLÍNIO) 
O curso esperado para a recuperação depende de quando o câncer é detectado, do estágio em que se encontra e da 
resposta da pessoa ao tratamento. Geralmente, quanto mais cedo o câncer é detectado e tratado, melhor é o 
 
5 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
prognóstico para a pessoa. Tendências sugerem que a sobrevivência de longo prazo está aumentando para diferentes 
tipos de câncer (ACS, 2006). 
A morbidade associada ao tratamento do câncer pode ser debilitante se não abordada corretamente. A futura 
habilidade de uma pessoa para participar de uma ocupação pode estar diretamente relacionada ao tratamento 
fornecido, e os terapeutas ocupacionais são fundamentais por sua compreensão sobre os fatores dos pacientes que irão 
influenciar o desempenho. Infelizmente, o estigma persiste em relação ao potencial de reabilitação de pacientes com 
câncer, o que pode e, quase sempre, limitar seu acesso ao tratamento. Pandey e Thomas (2001) identificaram a 
necessidade de promover tanto a reabilitação física como a reabilitação psicossocial de pacientes com câncer e ao 
mesmo tempo utilizar uma abordagem abrangente, multidisciplinar para prevenir e tratar a incapacidade. Os terapeutas 
ocupacionais precisam estar conscientes de seu papel na reabilitação de pacientes com doenças crônicas. 
Cânceres de Pulmão 
Os cânceres de pulmão podem ser curáveis nos estágios iniciais, mas não existe método de investigação efetivo para 
detectá-los. Eles tendem a ser detectados em estágios avançados e apresentam uma taxa geral de sobrevivência de 5 
anos em 15% dos casos (ACS, 2006). O tratamento desses cânceres pode envolver cirurgia, quimioterapia, e/ou 
radioterapia, o que será determinado pelo tipo e pelo estágio do câncer e pelas metas do tratamento (curativo 
ou paliativo). As pessoas com câncer de pulmão tendem a ser encaminhadas para a terapia ocupacional para 
abordagem de aspectos da qualidade de vida para maximizar o desempenho em caso de declínio gradativo ou 
acentuado. 
Cânceres Hematológicos 
As pessoas que têm cânceres hematológicos apresentam períodos de estabilidade funcional intercalados com variadas 
taxas de declínio. Inicialmente, elas podem tentar permanecer em atividade nas áreas de desempenho ocupacional, 
mas a imunossupressão, a fadiga e o estresse emocional, podem impedi-las de se manter assim (Mandrell, 2004). Esse 
grupo de cânceres apresenta uma taxa de sobrevivência relativa de 5 anos em 49% dos casos (ACS, 2006). A trajetória 
desses cânceres varia de pessoa para pessoa, dependendo dos períodos de exacerbação, tipo de tratamento, resposta ao 
tratamento. As leucemias são tratadas tipicamente com múltiplos episódios de quimioterapia para induzir e manter a 
remissão e para reinduzir a remissão em caso de recorrência. Seguindo esse curso, a pessoa pode considerar opções 
para transplante alogênico (doador familiar ou desconhecido) de medula óssea ou de células-tronco sanguíneas 
periféricas. O tratamento pode levar à debilidade e as pessoas com cânceres hematológicos, se beneficiam com a 
reabilitação e com os tratamentos, que têm como objetivo facilitar o ajustamento psicossocial e o planejamento de 
atividades. 
Sarcomas 
Os sarcomas também podem ser curados se forem diagnosticados precocemente. A taxa de sobrevivência de 5 anos 
para sarcomas de tecidos moles é maior do que 90%. Como discutido anteriormente, o curso esperado da recuperação 
está diretamente relacionado à severidade e à extensão do tratamento necessário para se conseguir a completa retirada 
do tumor (se possível). No passado, a amputação era considerada com a única opção de tratamento cirúrgico. Estudos 
recentes, porém, têm demonstrado que não existe diferença significativa entre a taxa de sobrevivência de 5 anos com 
amputação do membro contra a preservação do membro (Bacci et al., 2002; Veth et al., 2003). 
A preservação do membro é a cirurgiaque preserva, repara ou reconstrói estruturas fundamentais necessárias para a 
função do membro (Yasko et al., 1997). O período de reabilitação típico para o membro preservado é maior do que 
para o membro amputado. Com o tratamento, seja a amputação, ou seja a preservação a técnica escolhida, o paciente 
tipicamente retoma a participação na ocupação. Por exemplo, pessoas com preservação de membro e pessoas com 
amputação, relatam alto percentual de retorno à direção de automóvel, percentual relativamente alto de retomada de 
emprego e prática em relações sexuais, e níveis moderados de participação em esportes (Tabela 50-1) (Refaat et al., 
2002). 
Tabela 50-1. Percentual de Pessoas que Retomam a Função Ocupacional após Amputação de Membro contra Preservação de 
Membro Relacionada ao Sarcoma. 
Atividade Amputação de Membro 
(%) 
Preservação de Membro (%) 
Necessidade de dispositivo para marcha 83 50 
Emprego 74 77 
Capacidade para dirigir 90 92 
 
6 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
Participação em esportes 68 58 
Prática de relações sexuais 88 75 
Retirado de Refaat et al., 2002. 
PROBLEMAS DO AJUSTAMENTO PSICOSSOCIAL 
Muitas pessoas veem sua experiência com o câncer como uma mudança de vida. Algumas utilizam o diagnóstico 
como mola propulsora para crescimento e desenvolvimento, apesar do desfecho. Quase todas as pessoas com que nós 
tivemos contato na nossa prática profissional tiveram problemas de ajustamento psicossocial, muitas delas observaram 
que tratamento e suporte para ajudar na resolução desses problemas, falta entre os profissionais da saúde. Os 
terapeutas ocupacionais estão bem equipados para abordar esses problemas. 
Um dos problemas mais desafiadores que os pacientes enfrentam é a falta de controle (Bertero, Eriksson & Ek, 
1997; Schumacher et al., 1998). O câncer e seu tratamento quebra padrões de desempenho levando à privação 
ocupacional, a perda de rotinas e de papéis valorizados. Mais do que isso, as pessoas relatam estresse quando perdem 
controle de suas funções corporais por causa dos efeitos colaterais do tratamento como náusea, vômito e diarreia. As 
mudanças no corpo da pessoa como a perda de peso por causa da doença, ganho de peso por causa do uso de 
esteroides, queda do cabelo – também afetam a sensação de bem-estar da pessoa. A perda do controle pode induzir o 
sentimento de inutilidade e dependência, especialmente quando a pessoa não é capaz de realizar atividades prévias 
consideradas banais ou atender às expectativas de um papel. Algumas pessoas expressam incerteza em relação ao 
futuro à luz da progressão da doença e à frequência e os efeitos do tratamento. 
As pessoas com câncer também sofrem com a modificação de seus contextos social e cultural. Elas podem ser 
fisicamente retiradas de seu sistema de suporte, caso precisem buscar tratamento em locais distantes de sua 
comunidade, estado ou país. O estigma do câncer ou a carga percebida do tratamento pode resultar em perda de 
suportes sociais fundamentais, ou inversamente, em afastamento social da pessoa. Por fim, a hospitalização 
prolongada, especialmente quando isolamento está envolvido, pode resultar em institucionalização, onde a pessoa se 
habitua, se torna dependente do ambiente hospitalar e temerosa de viver fora desse ambiente. 
Robinson et al. (1991) estudaram a condição de um grupo de 54 pacientes após preservação de membro para 
determinar a qualidade de vida percebida e a função do membro 2 anos após a cirurgia. Os autores descobriram que o 
déficit relatado foi a redução da participação em atividades de lazer, uma área de ocupação com frequência esquecida 
pelos profissionais que trabalham com pacientes com câncer. Assim, o terapeuta ocupacional pode facilitar o 
ajustamento psicossocial às mudanças nos padrões de desempenho, ajudando o paciente a identificar oportunidades 
alternativas de lazer e a desenvolver habilidades de adaptação necessárias para lidar com a realidade dos resultados 
esperados do tratamento. 
O ajustamento psicossocial certamente parece ser uma área que necessita de atenção. Cerca de 25% das pessoas 
estudadas após se submeter a tratamento cirúrgico para sarcoma relatam problemas de ajustamento como depressão, 
ansiedade, distúrbio de sono, necessidade de medicação para dor e diminuição da satisfação com a vida (Lane et al., 
2001; Refaat et al., 2002). Os Procedimentos para a Prática 50-1 fornecem maior discussão sobre o ajustamento à 
perda. 
Perda do Ajustamento 
O câncer, independente de seu tipo, tratamento ou curso, pode resultar em perda. Muitas dessas perdas são óbvias e por vezes 
temporárias, como mudanças na aparência física por causa do tratamento de quimioterapia (ou seja, queda do cabelo ou 
neuropatia periférica). Outras perdas podem ser permanentes. Elas não são apenas físicas, mas afetam também o senso de 
identidade da pessoa. O senso de “eu” ou a imagem corporal da pessoa pode ser alterada como resultado de mastectomia, 
orquiectomia, ou amputação/preservação de um membro. Perdas adicionais incluem a perda do lócus de controle, isolamento 
social ou retirada, mudança de papéis, e comprometimento ou ausência de funções corporais. 
Tratamentos voltados para facilitar o ajustamento às perdas estão bem documentados e incluem estratégias que variam de um 
diário do paciente (Smith et al., 2005) até o aprendizado de técnicas de controle do estresse pelos cuidadores (Kurtz et al., 2005). 
Alguns pesquisadores sugerem que idade mais precoce no momento do diagnóstico seja preditiva de melhor ajustamento a longo 
prazo (Schroevers, Ranchor e Sanderman, 2004). 
O ajustamento à perda é uma consideração importante para qualquer terapeuta ocupacional que trabalhe com uma pessoa que 
tem câncer. Carver (2005) descreve pessoas como “seres que buscam metas cujos esforços para alcançar os resultados 
desejados são ameaçados pelo câncer” (p. 2602). Carver acredita que a adaptação permite que a pessoa permaneça engajada 
em suas metas de vida. A perda, porém, não é apenas percebida pela pessoa que recebe o diagnóstico de câncer, mas também 
pela família, pelos amigos e pelos cuidadores, e o terapeuta ocupacional precisa considerar isso quando planeja o tratamento. 
 
 
7 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
MEMBROS DA EQUIPE DE TRATAMENTO E SEUS PAPÉIS 
Assim como muitos diagnósticos, a equipe envolvida no tratamento de uma pessoa com câncer pode ser onerosa. O 
pessoal envolvido no tratamento da pessoa varia de acordo com as necessidades específicas de cada uma (Figs. 50-1 e 
50-2). A pessoa com câncer e seu sistema de suporte constituem o núcleo da equipe. Membros da família e outros 
cuidadores são muitas vezes os fornecedores primários do tratamento de rotina em casa, e algumas vezes, quando a 
pessoa está hospitalizada. 
A equipe de enfermagem, enfermeiras registradas e enfermeiras voluntárias, são cuidadores fundamentais quando as 
pessoas estão hospitalizadas. Elas são geralmente o contato primário do cuidado do paciente, tanto em regime de 
internação como ambulatorial. Enfermagem para cuidado de ferida, ostomia, e continência pode ser consultada para 
abordar preocupações e orientar cuidadores quanto ao tratamento de feridas com cicatrização pobre, sítios de incisões 
e de ostomias. Um técnico de enfermagem certificado, pode realizar o cuidado diário de pacientes, ajudá-los em 
muitas das tarefas de autocuidado com banho e vestir-se. 
Os médicos tendem a ser especializados em domínios específicos de tratamento como neurologia, ortopedia, 
cardiopneumologia, fisiologia e psiquiatria. Outros especialistas podem ser esses a seguir. Patologistas que 
determinam tipo,estágio e grau do câncer. Oncologistas clínicos que direcionam o tratamento da doença primária. 
Cirurgiões oncologistas que tratam o câncer com ressecção de tumores e reconstrução dos sítios danificados. 
Oncologistas especializados em radioterapia que determinam e aplicam o tratamento, com radiação de alta energia 
para combater o câncer. Especialistas no controle da dor e em cuidados paliativos para o câncer e que muitas vezes, 
ajudam o paciente e seus familiares a lidar com as questões de transição e de fim da vida. 
Além dos terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, e profissionais que prestam outros serviços 
podem ser consultados durante o curso do tratamento de uma pessoa. 
Eles podem ser ortotistas ou protéticos, gerentes de caso, padres, especialistas na vida de crianças e adolescentes, 
nutricionistas, massoterapeutas, musicoterapeutas, representantes legais do paciente, enfermeiros voluntários, médicos 
assistentes, neuropsicológos e assistentes sociais. 
Por fim, voluntários, especialmente aqueles que sobreviveram ao câncer são parceiros vitais para a equipe clínica. 
Eles funcionam como amigos visitantes em alguns casos, e como conselheiros e líderes do grupo de suporte, em 
outros. Eles ajudam a atender as necessidades do paciente por meio de numerosos programas patrocinados por 
hospitais ou por comunidades. 
Todos os membros da equipe são aconselhados a reconhecer e tentar prevenir esgotamento, de modo que possam 
melhor servir a seus pacientes (Procedimentos para a Prática 50-2). 
VISÃO GERAL DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO E TRATAMENTO EM TERAPIA 
OCUPACIONAL 
De modo ideal, a avaliação e o tratamento de terapia ocupacional são orientados por modelos de prática e diretrizes 
baseadas em evidências. Uma abordagem completa permite que o terapeuta e o paciente identifiquem papéis 
significativos, níveis de competência, níveis de satisfação ao realizar atividades e tarefas que sustentam esses papéis. 
O terapeuta e o paciente também identificam os contextos nos quais os papéis valiosos são desempenhados. O 
paciente define seus valores, metas e qualidade de vida. 
As pessoas com câncer apresentam necessidades e prioridades complexas que podem se modificar, algumas vezes 
rapidamente, dependendo da severidade da doença, do estágio do câncer, da resposta ao tratamento, estágio do 
tratamento e assim por diante. A diversidade dos cânceres e dos tipos de tratamento torna um desafio estabelecer 
diretrizes definitivas para a prática. É essencial a reavaliação contínua do desempenho do cliente, da adaptação, das 
metas e do programa de tratamento. 
Avaliação de Terapia Ocupacional 
Os terapeutas ocupacionais podem estabelecer um relacionamento com o paciente abordando as necessidades 
imediatas e compreendendo quem essa pessoa é, foi e deseja ser, por meio de sua narrativa. O tipo de avaliação 
escolhida e a duração do processo de avaliação dependem da condição clínica e cognitiva da pessoa. A informação 
pode ser obtida com entes queridos, membros da equipe e consulta ao prontuário. O profissional precisa compreender 
o histórico clínico do paciente, respostas prévias e efeitos colaterais de outros tratamentos, prognóstico, impacto atual, 
potencial da doença e do tratamento sobre áreas de desempenho. Além disso, precauções em relação a 
imunossupressão, trombocitopenia, isolamento (para evitar exposição a Enterococccus, Clostridium difficile,fungos, 
etc), resistentes a vancomicina e anemia devem ser observadas porque esses fatores têm impacto sobre o 
funcionamento e o tratamento de terapia ocupacional. 
A Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (Law et al., 1998) e a Entrevista da História do Desempenho 
Ocupacional (Kielhofner et al., 1998) são avaliações baseadas na ocupação que facilitam a identificação da sensação 
 
8 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
de autoeficácia e autoestima do paciente, bem como da satisfação com os papéis de vida na automanutenção, no 
autodesenvolvimento e autorrealização. Observar os pacientes enquanto eles desempenham tarefas e atividades, 
fornece informação sobre níveis de desempenho, capacidades, habilidades e hábitos. Outras avaliações podem estar 
indicadas para determinar fatores limitantes e causas subjacentes para redução da capacidade de atender demandas de 
atividades. 
As habilidades de desempenho motor, de processamento e/ou comunicação da pessoa podem estar afetadas por 
efeitos colaterais do tratamento ou por efeitos de tumores primários ou metástases. A avaliação dessas habilidades e de 
fatores específicos do paciente (AOTA, 2002) como funções mentais, funções sensoriais, dor, funções 
musculoesqueléticas outras relacionadas ao movimento, pele e estruturas correlacionadas, funções cardiovascular, 
hematológica, imunológica e respiratória podem estar ameaçadas. Avaliações específicas de habilidades de 
desempenho e fatores do paciente têm sido descritas detalhadamente em outros capítulos desse livro. Alguns 
instrumentos desenvolvidos para monitorar sintomas relacionados ao câncer e seus efeitos sobre a qualidade de vida 
são descritos aqui. 
A fadiga é o problema mais comumente relatado pelas pessoas com câncer. O Breve Inventário de 
Fadiga (Mendoza et al., 1999) fornece uma avaliação rápida da severidade da fadiga e de seu impacto sobre a função 
diária. Cleeland et al. (2000) também desenvolveram uma avaliação global de sintomas, o Inventário M.D. Anderson 
de Sintomas que mensura a severidade de muitos sintomas relacionados ao câncer e o grau em que interferem na 
função diária. Qualquer dessas ferramentas pode ser utilizada rotineiramente para monitorar modificações na condição 
da pessoa, efeitos colaterais do tratamento e efetividade da reabilitação. 
A Medida Funcional do Tratamento do Câncer mensura a qualidade de vida das pessoas submetidas ao tratamento 
do câncer (Cella et al., 1993). Diferentes versões foram desenvolvidas sendo específicas para diferentes tipos de 
câncer. À medida que os profissionais desenvolvem sua prática em oncologia ou com pessoas com outras condições 
desafiadoras, eles podem considerar a incorporação de instrumentos, que mensurem fatores psicológicos como o lócus 
de controle, tomada de significado, autoeficácia e esperança, em seus repertórios. Por fim, a avaliação deve incluir 
investigação sobre o suporte social que está disponível bem como as barreiras ambientais e do suporte. 
 
Reconhecendo e Prevenindo o Esgotamento 
Prestadores de serviços de saúde que são especializados em oncologia são susceptíveis a estresse crônico relacionado 
ao trabalho e que resulta em esgotamento. Esgotamento é uma síndrome identificada por três componentes: exaustão 
emocional, despersonalização e redução do sentimento de realização pessoal. O Inventário Maslach do Esgotamento – 
Questionário de Serviços Humanos (MBI – HSS) é comumente utilizado para avaliar o esgotamento (Chopra, Sotile e 
Sotile, 2004; Maslach, Schaufeli e Leiter, 2001). 
Esgotamento é uma função de fatores pessoais e do contexto. Fatores pessoais incluem traços de personalidade, 
atitudes e percepções como o lócus de controle e o senso de comando. Maslach e Leiter (1997) identificaram carga de 
trabalho, controle, recompensa ou reconhecimento, comunidade, satisfação e valores como seis fatores contextuais que, 
quando sem a sintonia pessoal, contribuem para o esgotamento em oncologia, incluindo a exposição às questões da morte 
e do morrer; estresse emocional do paciente; conflito entre metas curativas da medicina, prognóstico do paciente, e seus 
desejos e metas funcionais e do terapeuta; além da exposição às consequências algumas vezes dolorosas, debilitantes e 
desfigurantes do tratamento médico. Em resumo, os terapeutas ocupacionaispodem ser traumatizados quando trabalham 
com pacientes traumatizados pelo tratamento médico. 
Sintomas de esgotamento podem incluir queixas somáticas (ou seja, dor de cabeça, dor articular, etc), comportamento de 
retirada, falta de criatividade e diminuição da qualidade do tratamento. O esgotamento também pode estar relacionado à 
depressão maior. É importante diferenciar o esgotamento da depressão. Autorreflexão honesta é essencial para 
identificação de fatores de risco para o esgotamento e a implementação de estratégias preventivas. Os profissionais da 
saúde podem implementar as estratégias a seguir para prevenir o esgotamento: 
●Equilíbrio em todas as áreas de desempenho ocupacional. 
●Renovação por meio de atividades significativas. 
●Criação de estruturas de suporte dentro do ambiente de trabalho para abordar limites e fornecer suporte emocional. 
●Incorporação de controle do ritmo de trabalho e períodos de descanso no trabalho. 
●Folgas para refletir sobre valores e prioridades. 
●Estratégias de controle do tempo. 
●Técnicas de relaxamento. 
●Humor. 
●Trabalhar o luto. 
●Desenvolver um sistema de suporte fora do trabalho (Brachtesende, 2004; Lyckholm, 2001). 
O terapeuta ocupacional incentiva uma vida equilibrada e a participação em atividades significativas. Os terapeutas 
ocupacionais são bem versados em estratégias para o controle do estresse de seus pacientes como já mencionado 
 
9 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
anteriormente (Painter et al., 2003). O desafio para os terapeutas ocupacionais é utilizar rotineiramente essas estratégias 
consigo mesmos. 
 
Metas e Variáveis Moderadoras que Afetam o Estabelecimento de Metas Realísticas ao Longo do 
Tratamento 
A meta do tratamento é capacitar os pacientes a otimizar suas qualidades de vida pela participação em ocupações 
significativas, independente da expectativa de vida. Muitas das metas que são significativas para o paciente que tem 
câncer, são as mesmas desejadas por pessoas com outros diagnósticos. Com o câncer, porém, variáveis moderadoras 
distintas podem afetar o estabelecimento de metas realísticas. Pessoas com câncer experimentam rápidas mudanças na 
condição clínica e funcional ao longo do tratamento. Algumas vezes é difícil para a pessoa e para o terapeuta 
determinar o quão permanentes essas mudanças podem ser. A severidade da doença e as expectativas da pessoa em 
relação à função e à recuperação podem ser incongruentes. O terapeuta ocupacional deve monitorar continuamente 
essas mudanças e ajudar a pessoa a modificar metas e papéis valorizados de modo apropriado. Ao mesmo tempo, o 
terapeuta precisa tomar cuidado para não ultrapassar a linha tênue da desesperança. 
O papel do terapeuta ocupacional varia de acordo com o ponto em que entra no curso do tratamento do paciente. A 
duração do tratamento depende de quão aguda está a condição e a severidade da doença, além dos desejos do paciente. 
Independente de qualquer aspecto, o programa de tratamento deve ser individualizado e abordar habilidades de 
desempenho necessárias para a função naquele momento do tratamento. 
Nos casos em que ocorre cirurgia, metas pré-operatórias tipicamente têm foco na facilitação da manutenção do 
engajamento em atividades por controle ou compensação de efeitos colaterais do tratamento. Conservação de energia, 
controle da fadiga e exercícios são estratégias comuns que objetivam melhorar a capacidade de controlar a vida diária, 
apesar dos efeitos colaterais da quimioterapia e/ou da radioterapia. Outro objetivo importante do tratamento precoce é 
identificar padrões de desempenho, que possam estar alterados pelo futuro tratamento médico. No pós-operatório, o 
terapeuta e o paciente geralmente focam o aumento da independência em atividades de vida diária (AVD) e atividades 
instrumentais de vida diária (AIVD). Redução das habilidades de desempenho relacionadas às mudanças em estruturas 
corporais, podem tornar o engajamento nessas atividades bastante difícil. À medida que a pessoa se torna capaz ou 
inicia tratamento ambulatorial, muda o foco para a participação social. 
No período pós-operatório, o terapeuta também deve abordar os fatores psicossociais relacionados às estruturas e/ou 
funções corporais alteradas. Pode ser necessário auxiliar o paciente a compreender as expectativas realísticas para a 
recuperação funcional, como um resultado do procedimento e para ajudá-lo a identificar métodos de adaptação a essas 
mudanças. 
As metas de longo prazo do paciente devem orientá-lo para que o mesmo retome atividades como trabalho, dirigir, 
lazer, interação social, brincadeira e educação. Embora alguns procedimentos possam restringir permanentemente as 
atividades de alguns pacientes, a maioria deles é capaz de retomar atividades habituais com certas restrições de longo 
prazo, se houver alguma. Metas semelhantes podem ser consideradas para pacientes que não foram submetidos à 
cirurgia. Os diferentes cânceres e seu tratamento exercem impacto semelhante sobre a função e a imagem corporal. 
Tratamento de Terapia Ocupacional 
Os tipos de tratamento que os terapeutas ocupacionais empregam com seus pacientes com câncer não diferem muito 
daqueles utilizados com pessoas com outras doenças. Os tratamentos têm foco na promoção da saúde em face à 
doença; restauração de habilidades e padrões de desempenho; prevenção de incapacidade; modificação de contextos; 
demandas de atividades, ou padrões de desempenho; e fornecimento de suporte que ajudam o paciente a manter a 
função (AOTA, 2002). Assim, os tratamentos incluem controle da fadiga e conservação de energia; reeducação 
sensorial ou dessensibilização; posicionamento e uso de cadeira de rodas; controle de cicatriz, incluindo fibrose; 
condicionamento (resistência, amplitude de movimento e fortalecimento); prevenção de quedas e outras atividades 
para promoção de segurança domiciliar. Alguns tratamentos, como o uso de agentes físicos (consulte Notas de 
Segurança 50-1) ou o controle do linfedema, requerem treinamento especializado (consulte Exemplo de Caso 50-2 na 
seção sobre competência clínica). 
Os terapeutas ocupacionais também fornecem tratamento cognitivo, conforme necessário para problemas 
específicos. O tratamento pode abordar problemas psicossociais como as preocupações dos cuidadores quanto às 
atividades do cuidar, controle de estresse e ansiedade, técnicas de relaxamento, controle da dor. Os terapeutas 
ocupacionais podem ser solicitados a fornecer tratamento na fase final da vida da pessoa, que é descrito no 
encaminhamento do médico como tratamento paliativo nos estágios avançados do câncer. Mesmo ao final da vida, 
muitas pessoas lutam para se manter produtivas, e os terapeutas ocupacionais podem ajudá-las a planejar e participar 
de atividades em níveis realísticos. Por fim, o uso de atividade propositada, pode facilitar o encerramento do 
relacionamento entre a pessoa que está morrendo e os membros de seu grupo de apoio. 
 
10 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
Em todas as fases do tratamento, o terapeuta precisa ser capaz de articular claramente os fundamentos do 
tratamento. Para isso, pode ser útil adotar um exemplo de como a reabilitação pode ser útil mesmo para pacientes em 
declínio (Procedimentos para a Prática 50-3). 
Reorganizando a Justificativa para a Reabilitação de Pacientes em Declínio 
Tem havido discussão acerca da fundamentação para o tratamento de pessoas com processos de doença progressiva e 
degenerativa. Em alguns diagnósticos, tais como as doenças neurodegenerativas, os profissionais da saúde têm adotado o 
pensamento de que essas são condições crônicas,com períodos de remissão, surto e progressão. Os cânceres também podem 
ser considerados de maneira semelhante. Por isso, as pessoas com câncer apresentam diferentes necessidades ocupacionais ao 
longo da trajetória da doença e do processo de tratamento. 
Alguns dos fatores que levam o profissional a considerar o câncer em tratamento como doença crônica são: 
●Campanhas públicas de conscientização para promoção de exame e prevenção de certos tipos de cânceres. 
●Para alguns tipos de câncer, o tratamento médico evoluiu, incluindo terapias hormonais, bioterapias, vacinas tumorais e novas 
técnicas cirúrgicas. 
●Mais pessoas alcançam a sobrevida de 5 anos, de 50% de sobrevivência relativa no período 1974 a 1976 até 65% em 1995 a 
2001 (ACS, 2006). 
●Existe maior interesse no estudo e na promoção da qualidade de vida da pessoa com câncer. 
Além disso, a doença e o tratamento podem afetar de modo adverso a função e a participação das pessoas em papéis e atividades 
valorizados: 
●A frequência do tratamento e os efeitos colaterais podem causar interrupções frequentes nas atividades e no estilo de vida. 
●A progressão da doença e/ou dos efeitos colaterais do tratamento, podem causar perda funcional progressiva em taxas 
variáveis. 
●Psicologicamente, as pessoas experimentam incerteza sobre o futuro, piora potencial e/ou morte. 
Para desenvolver uma justificativa para a reabilitação de pacientes em declínio é importante para os terapeutas ocupacionais: 
●Reconhecer que, embora o tratamento médico possa reduzir a energia da pessoa durante a hospitalização, a pessoa irá 
recuperar alguma (não necessariamente toda) energia à medida que a contagem do sangue melhore. 
●Estar conscientes que as pessoas com câncer podem apresentar fases de declínio e de estabilização, em que o planejamento 
realístico de atividades com foco em aspectos de curto prazo da função e da qualidade de vida, podem ser facilitados pelo 
terapeuta ocupacional. 
●Reconhecer que, mesmo ao final da vida, muitas pessoas com câncer desejam participar de ocupações, embora limitadas. 
●Conscientizar-se de seus sentimentos em relação ao ajustamento de seus pacientes à perda e acerca da morte e do morrer. 
●Ter em mente uma das metas da reabilitação para pessoas com câncer apresentada por Cheville (2001): “Embora a 
reabilitação não possa eliminar os avanços do câncer sobre a autonomia funcional, ela certamente pode atenuar e desacelerá-
los. Também pode levar os pacientes e as famílias a um objetivo construtivo, de modo que o declínio não seja vivenciado como 
inutilidade” (p. 1040). 
EVIDÊNCIA PARA OS RESULTADOS DE REABILITAÇÃO 
Embora a evidência que sustente a reabilitação do paciente com câncer seja limitada quando comparada a outros 
diagnósticos, a evidência que existe, sustenta sua eficácia quando utilizada nessa população. A maioria das fontes 
identificadas tem foco sobre a qualidade de vida e não identificam aspectos específicos de reabilitação que levaram a 
essa melhora. Alguns autores, porém, têm descrito o impacto de técnicas específicas sobre o resultado funcional. A 
evidência é, em alguns casos, de natureza qualitativa. A Tabela de Evidência 50-1 inclui exemplo de fora da literatura 
da terapia ocupacional e dois estudos de terapeutas ocupacionais. Até que mais evidência seja produzida pelos 
profissionais, os estudos produzidos por eles devem ser examinados, incluindo os estudos realizados por cientistas 
psicossociais e comportamentais, médicos, enfermeiros, fisiologistas do exercício e fisioterapeutas. O problema com 
esses estudos é que falta a perspectiva única do terapeuta ocupacional, e o profissional precisa adicionar sua própria 
interpretação aos achados. 
 
 
Tabela de Evidência 50-1 
Melhor Evidência para Tratamento de Câncer 
em Terapia Ocupacional 
 
11 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
Tratamento Descrição 
do 
Tratamento 
Testado 
Participantes Dosagem Tipo de 
Melhor 
Evidência e 
Nível de 
Evidência 
Benefício Probabilidade 
Estatística e 
Tamanho do 
Efeito do 
Resultado 
Referência 
Fadiga Exercício 
aeróbico 
(bicicleta 
estacionária) 
contra 
relaxamento 
progressivo 
72 pacientes 
de pós-
operatório de 
câncer de 
pulmão 
(n=27) e de 
câncer 
gastrintestinal 
(n=42). 
Grupo do 
exercício 
aeróbico: 30 
minutos, 5 
vezes por 
semana; grupo 
de 
relaxamento: 
45 minutos, 3 
vezes por 
semana; 
ambos por 3 
semanas. 
Estudo 
randomizado 
de 
comparação 
entre 
grupos. 
IA2a. 
Ambos os 
grupos 
relataram 
melhora 
semelhante na 
fadiga: 
nenhuma 
diferença entre 
os 
tratamentos; o 
grupo do 
exercício 
melhorou o 
desempenho 
físico. 
Pontuação da 
fadiga (módulo 
principal do 
questionário 
para 
qualidade de 
vida 
para Pesquisa 
e Tratamento 
do Câncer da 
Organização 
Europeia): 
Grupo do 
exercício 
melhorou 
21%, p = 0,01; 
grupo do 
relaxamento 
melhorou 
19%, p = 0,01. 
Nenhuma 
diferença 
entre os 
grupos, p = 
0,67. 
Dimeo et al., 
2004 
Tratamentos 
utilizados 
com 
pacientes de 
câncer de 
mama 
Questionários 
de avaliação, 
tratamento e 
uso 
do tempo 
5 terapeutas 
ocupacionais 
em 2 locais, 
tratando de 
pacientes 
com câncer 
de mama; 
registro do 
tratamento de 
35 mulheres. 
Preenchimento 
diário dos 
formulários 
durante 1 mês. 
Questionário 
(não 
pontuado). 
A3c. 
O tratamento é 
individualizado. 
Tratamentos 
mais comuns: 
programa 
educacional, 
grupos de 
suporte; 
treinamento 
para 
relaxamento; 
avaliação e 
fornecimento 
de cadeira de 
rodas; 
treinamento e 
fornecimento 
de 
equipamento 
para 
transferência. 
Estudo 
descritivo, 
impossível 
calcular. 
Vockins, 
2004. 
Tratamento 
de patologia 
de plexo 
braquial 
Modificação 
de atividade 
com uso de 
dispositivo de 
assistência; 
modificação 
do ambiente 
(oferecida, 
mas 
rejeitada). 
Uma mulher 
de 67 anos 
de idade, 
tratada por 
causa de 
câncer de 
mama com 
mastectomia 
e radioterapia 
12 anos antes 
do tratamento 
para o 
estudo. 
Documentação 
da avaliação e 
do tratamento. 
Estudo de 
narrativa de 
caso. VC3c. 
Tratamento 
baseado nos 
valores do 
paciente; 
individualizado 
de acordo com 
a natureza da 
condição. 
Estudo de 
narrativa, 
impossível 
calcular. 
Cooper, 
1998. 
 
 
12 RADOMSKI, Mary Vining; LATHAM, Catherine A. Trombly. Terapia ocupacional para disfunção física – São Paulo: Santos, 2013. 
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