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Sistemas de Secagem
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SISTEMAS DE SECAGEM
No Brasil, conforme os aspectos tecnológicos envolvidos,
utilizam-se basicamente três métodos para secagem de grãos:
secagem no campo, secagem em terreiro e secagem utilizando
secadores mecânicos.
Secagem em terreiros
Neste tipo de secagem, esparrama-se o produto em pisos,
que podem ser de cimento, tijolo, chão batido ou asfalto. Este
método é o mais utilizado pelos produtores, pelo menos, na fase
inicial do processo de secagem. Entretanto, a baixa taxa de
secagem e a exposição do produto a agentes biológicos, juntamente
com a possibilidade de ocorrência de condições climáticas
desfavoráveis, ocasionam perdas de qualidade do produto.
No Brasil, além da predominância do café, outro produto de
grande expressividade e tradicional cultivo no sul da Bahia, no
norte do Espírito Santo e em Rondônia e que também utiliza a
energia solar para a secagem é o cacau (Figura 14).
O uso apenas do terreiro com piso de terra por muitos que
trabalham com a agricultura familiar deve-se à falta de informação
tecnológica e, em muitas vezes, ao desconhecimento da redução
nas características qualitativas do produto ou ao baixo poder
aquisitivo e nível técnico da propriedade agrícola.
Nos terreiros de terra ou de qualidade inferior, o
desenvolvimento de microrganismos na superfície dos grãos e o
aumento da respiração e da temperatura do produto são fatores que
aceleram o processo de fermentação. Apesar desses riscos,
pequenos produtores utilizam intensivamente os terreiros como
única etapa na secagem do café.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
18
Figura 14 - Secador de cacau
No processo de secagem em terreiro, o grão é secado pela
ação dos raios solares. No caso do café, é aconselhável, durante o
processo, trabalhar com lotes homogêneos, considerando-se tanto a
época de colheita quanto o estádio de maturação ou teor de
umidade, para obtenção de um produto final uniforme e de boa
qualidade.
Apesar de não serem encontrados no comércio secadores
mecânicos compatíveis, em tamanho e custo, com as características
da agricultura familiar, os sistemas de secagem disponíveis
apresentam problemas de fluidez com produtos muito úmidos,
como é o caso do café e do cacau, necessitando de investimentos
em pré-secadores. Para resolver o problema, deve-se combinar a
secagem artificial com pré-secagem em terreiro. Uma prática
recomendada é fazer uma secagem inicial até o teor de umidade em
que o produto possa fluir com mais facilidade e, em seguida,
continuar a secagem em secador mecânico até o ponto de
armazenamento ou fazer a secagem na própria tulha armazenadora,
como se verá mais adiante.
No terreiro, o produto deve ser distribuído em camada de,
no máximo, 5 cm de altura para o café e de 10 cm para o arroz
(camada muito fina para o arroz causa secagem rápida, que induz à
produção excessiva de grãos trincados). Além de contaminar
facilmente o produto, o terreiro com piso de terra apresenta menor
rendimento de secagem e pior aspecto visual do produto em relação
Sistemas de Secagem
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àquele secado em terreiros pavimentados. Preferencialmente, a
secagem deve ser feita em terreiros de cimento, que são mais
eficientes, permitem boa higienização, são duráveis e apresentam
menores riscos de comprometimento da qualidade do produto,
quando comparado com terreiros de baixa qualidade ou que sofre
aquecimento excessivo.
Ultimamente, com a intenção de baratear a construção do
terreiro e torná-lo compatível com a capacidade de investimento da
cafeicultura familiar, alguns técnicos, sem um estudo mais
detalhado sobre o assunto, vêm difundindo a construção de
terreiros com o chamado “piso de lama asfáltica”. Para que não
fique nenhuma dúvida, gostaríamos que o leitor estudasse com
mais detalhes essa alternativa de terreiro e verificasse com rigor a
seqüência fotográfica que ilustra os problemas encontrados em um
terreiro demonstrativo com utilização da tecnologia “lama
asfáltica”, construído e utilizado na safra de 2003, na região de
Viçosa, MG.
 Argumentam os difusores da tecnologia que as
características da “lama asfáltica” como piso do terreiro aceleram
o processo de secagem e reduzem o investimento em terreiros. A
nosso ver, existem outros fatores que afetam a viabilidade da
técnica. Quando somos questionados sobre a eficiência do terreiro
de “lama asfáltica” na secagem de café, salientamos que temos
restrições quanto à aplicação da técnica. Em nossas pesquisas,
foram observados problemas de ordem prática em relação à
tecnologia com pavimentação asfáltica em pequenas áreas
(aderência, resistência e uniformidade da superfície, alta
porosidade, aparecimento de vegetação, etc.). Assim, deixamos que
o futuro usuário tire suas próprias conclusões com as imagens
apresentadas (Figuras 15 a 19) (Vídeo) ou procure exemplos de
sucesso.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
20
 
(a) (b)
Figura 15 - Área retificada, com com plantas invasoras (a); o
pavimento é fino e não resiste ao pisoteio (b).
 
 (a) (b)
Figura 16 - A retificação do piso é problemática (a); visão geral
de pontos danificados e retificados (b).
 
 (a) (b)
Figura 17 - Fragmentos se soltam e contaminam o produto (a);
ervas daninhas danificam o pavimento (b).
Sistemas de Secagem
21
 
 (a) (b)
Figura 18 - Com pequeno esforço, remove-se o pavimento (a);
rachaduras são freqüentes e se tornam focos de
contaminação (b).
 .
 (a) (b)
Figura 19 - Ocorrência de escamas (a); piso retificado com
presença de depressões e elevações (b). (Vídeo)
Além do terreiro anteriormente descrito, somos também
questionados sobre que tipo de terreiro seria recomendado. Temos
tecnologias alternativas ao terreiro, e a restrição que fazemos se
refere ao baixo nível de certeza que o terreiro apresenta em
produzir um produto de qualidade. A eficiência de um terreiro é
altamente dependente das condições climáticas por ocasião da
colheita, ou seja, nem sempre se pode produzir um produto bom,
higiênico e livre de impurezas. No caso do café, se as condições de
insolação, vento e característica do piso não forem favoráveis,
dificilmente se produzirá uma bebida tipo exportação.
Se o uso do terreiro for compulsório, ou seja, se o terreiro
for a única ou a melhor alternativa, recomendamos um bom terreiro
com piso de concreto, que, segundo dados de pesquisa, é ainda o
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
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mais eficiente. Se o produtor não puder evitar o uso do terreiro,
deve usá-lo o mínimo possível, construindo muretas sem quinas
vivas (Figura 20) e divisórias móveis (Figura 21), para separação
dos diferentes tipos de produto. Para se ter sucesso com o terreiro, é
obrigatório fazer manutenções periódicas, como correção e
retificação do piso, verificação e correção do sistema de drenagem.
Além de tudo isso, é de fundamental importância que o terreiro seja
manejado corretamente e que seja mantida a higienização diária de
todo o sistema.
Figura 20 – Detalhes da mureta lateral ou divisória fixa dos
terreiros.
Figura 21 – Detalhes das divisórias móveis para separação de
diferentes produtos.
Manejo do terreiro para secagem de café
O café, logo após a colheita, apresenta uma grande faixa de
umidade (65% - 25% b.u.), o que exige um correto manejo para
cada tipo e/ou faixa de umidade dos grãos. Ao chegar à unidade de
secagem ele pode ser submetido ao processo de lavagem para a
separação do café cereja dos cafésverdes e dos parcialmente secos.
Se o café for preparado por via seca, estes tipos de cafés devem ser
Sistemas de Secagem
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esparramados em grupos separados no terreiro, usando carrinhos
distribuidores dotados de sistema de drenagem da água de lavagem.
Ao ser empurrado, o carrinho libera uma camada de café, com
altura regular, na superfície do terreiro (Figura 22). No início do
processo de secagem, a espessura da camada deve ser de
aproximadamente, 4 cm e, com o progresso da secagem, deverá ser
aumentada gradativamente até 10 cm de altura, no final da
secagem.
(a) (b)
Figura 22 - Carrinho espalhador de café em terreiros. (Vídeo)
O café vindo do lavador ou direto da lavoura apresenta um elevado
teor de umidade, que, no início da secagem, deixa a superfície do
terreiro completamente molhada (Figura 23). O excesso de
umidade na parte inferior da camada deixa o produto altamente
suscetível à contaminação. Para reduzir esse risco, deve-se abrir a
camada de café pelo menos nos cinco primeiros dias, de maneira a
formar pequenas leiras, como mostram as Figuras 24 e 25. As leiras
devem ser quebradas e refeitas continuamente ou em intervalos
regulares de tempo nunca superior a 60 minutos. Esse trabalho
deve ser realizado com o auxílio de um rodo especial (Figura 26),
cujos detalhes de construção, em chapa No 12, estão apresentados
na Figura 27. Em todos os casos, o operador deve ter cuidado para
que parte do terreiro seja raspada, de modo a ficar exposta ao sol, a
fim de que a sua secagem e o seu aquecimento propiciem,
indiretamente, a secagem do café na próximo revolvimento da leira
(Figuras 24, 25) (Vídeo). Ao abrir as leiras de café, o operador
deve ter cuidado com a orientação ou posição do sol. As leiras de
café devem ficar paralelas à sombra do operador (Figura 24 b).
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
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Figura 23 – Detalhe do terreiro após a distribuição do café
vindo do lavador, mostrando a umidade do piso.
Figura 24 - Operação real de distribuição e revolvimento do
café no terreiro.
Figura 25 - Formação e quebra das leiras e revolvimento do
café no terreiro. (Vídeo)
Sistemas de Secagem
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Figura 26 – Raspador-enleirador para café em terreiro
Passados os primeiros dias de secagem (em torno do quinto
dia), quando o café já estiver parcialmente seco, às 3 horas da tarde
aproximadamente, o produto deve ser distribuído em grandes leiras,
no sentido da maior declividade do terreiro, as quais devem ser
cobertas com lonas plásticas (Figura 28). A cobertura do produto
enleirado favorecerá a conservação do calor absorvido durante a
exposição aos raios solares, garantindo melhor uniformização e
distribuição da umidade no interior da massa de grãos.
Ao amanhecer, aproximadamente às 9 horas, as leiras
devem ser descobertas e removidas do local de pernoite, para que o
piso seja secado. Em seguida, o produto deve ser espalhado sobre o
terreiro, repetindo-se as operações feitas nos dias anteriores
(Figuras 8 e 9c), até atingir o teor de umidade ideal para o
armazenamento (12% b.u.), ou até o ponto de meia-seca (35%
b.u.), que é o ideal para o início da secagem em secadores
mecânicos (secagem complementar).
A secagem em terreiros para o café despolpado ou
descascado segue os mesmos procedimentos usados para o café
cereja. A principal diferença é que o café descascado tem umidade
inicial menos elevada e necessita de menor tempo de secagem que
o café cereja e deve ser revolvido com mais freqüência.
Como o café “verde maduro” ou verdoengo, que tem
densidade semelhante ao café cereja, não pode ser facilmente
descascado, é separado no descascamento das cerejas. A secagem
do café verde maduro tem que ser feita de uma maneira mais lenta.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
26
O operador de terreiro deve escolher, preferencialmente, uma área
que fique menos exposta à radiação solar e espalhar o café
verdoengo em camadas mais profundas, fazendo leiras mais altas (o
café verdoengo deve ser sempre secado em leiras). Secagem rápida
do café verde ou verdoengo causa forte retenção e escurecimento
profundo da película prateada, o que é considerado um defeito na
classificação do café.
Passados os primeiros dias de secagem (em torno do quinto
dia), quando o café já estiver parcialmente seco, às 3 horas da tarde
aproximadamente, o produto deve ser distribuído em grandes leiras,
no sentido da maior declividade do terreiro, as quais devem ser
cobertas com lonas plásticas (Figura 28). A cobertura do produto
enleirado favorecerá a conservação do calor absorvido durante a
exposição aos raios solares, garantindo melhor uniformização e
distribuição da umidade no interior da massa de grãos.
Ao amanhecer, aproximadamente às 9 horas, as leiras
devem ser descobertas e removidas do local de pernoite, para que o
piso seja secado. Em seguida, o produto deve ser espalhado sobre o
terreiro, repetindo-se as operações feitas nos dias anteriores
(Figuras 8 e 9c), até atingir o teor de umidade ideal para o
armazenamento (12% b.u.), ou até o ponto de meia-seca (35%
b.u.), que é o ideal para o início da secagem em secadores
mecânicos (secagem complementar).
A secagem em terreiros para o café despolpado ou
descascado segue os mesmos procedimentos usados para o café
cereja. A principal diferença é que o café descascado tem umidade
inicial menos elevada e necessita de menor tempo de secagem que
o café cereja e deve ser revolvido com mais freqüência.
Como o café “verde maduro” ou verdoengo, que tem
densidade semelhante ao café cereja, não pode ser facilmente
descascado, é separado no descascamento das cerejas. A secagem
do café verde maduro tem que ser feita de uma maneira mais lenta.
O operador de terreiro deve escolher, preferencialmente, uma área
que fique menos exposta à radiação solar e espalhar o café
verdoengo em camadas mais profundas, fazendo leiras mais altas (o
café verdoengo deve ser sempre secado em leiras). Secagem rápida
do café verde ou verdoengo causa forte retenção e escurecimento
profundo da película prateada, o que é considerado um defeito na
Sistemas de Secagem
27
classificação do café.
Figura 27 – Detalhes da construção do raspador-enleirador
para café em terreiro.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
28
Figura 28 – Leira de café protegido com lona plástica.
(Palestra)
Localização e Construção do Terreiro Convencional
O terreiro deve ser localizado em área plana e bem drenado,
ensolarado, ventilado, em nível inferior às instalações de recepção
e preparo inicial e superior às instalações de armazenamento e
beneficiamento.
A área do terreiro deve ser calculada em função da
produção média da lavoura por mil covas, do número de cafeeiros e
das condições climáticas da região.
Na hipótese de se utilizar apenas o terreiro para a secagem,
o cálculo da área poderá ser feito segundo a equação 1:
S = 0,0005 Q.T eq. 1
em que:
S = área do terreiro, m2 (para produção de 1.000
pés);
Q = média anual de produção de café cereja, no
litros/1.000 pés; e
 T = tempo médio de secagem na região, dias.
Quando da utilização somente do terreiro para realizar a
meia-seca, ou seja, para reduzir o teor de umidade de 60% para
aproximadamente 35% b.u. (o que ocorre em cerca de seis dias) e
complementar a secagem em secadores mecânicos, a área do
terreiro poderá ser reduzida para 1/3 do valor original.
Sempre que possível, o terreiro deverá ser dividido em
Sistemas de Secagem
29
quadras, a fim de facilitar a secagem dos lotes, segundo sua origem,
seu teor de umidade e sua qualidade. Para facilitar o escoamento
das águas pluviais, ele deverá ser construído com declividade
média de 1,0% e provido de ralos na parte inferior. Estes ralos,
medindo 0,4 x 0,25 m, devem ser construídos em chapa de aço com
50% de perfuração,com furos quadrados de 4 mm de lado, no
máximo, para impedir a passagem dos grãos de café. No caso de se
adotarem perfurações circulares, deve-se usar a mesma
porcentagem de perfuração, com furos de menores dimensões
(diâmetro máximo de 2,0 mm).
Aconselha-se construir muretas de proteção medindo 0,20
m de altura por 0,15 m de espessura ao redor do terreiro (Figura
20), para evitar perdas ou misturas de material dos diferentes tipos
de café.
No final, após o ponto de meia-seca, a secagem do café
deverá ocorrer em montes ou em grandes leiras, onde se
estabelecerá o equilíbrio entre a camada externa e a parte interna do
grão e dos grãos entre si. Para isso, diariamente, o café deve ser
revirado e exposto por duas ou três horas ao sol e, a seguir,
amontoado e coberto.
Resumo dos cuidados com o uso dos terreiros
a) Não misturar lotes diferentes de café.
b) Esparramar o café, lavado ou não, no mesmo dia da
colheita, preferencialmente, em camadas finas de 3 a 5
cm e proceder à formação das leiras. Caso haja grande
percentagem de frutos verdes, podem-se usar leiras
maiores (cerca de 10 a 15 cm de altura), porém haverá
necessidade de revolver o café com maior freqüência
(no máximo a cada hora).
c) Revolver o café pelo menos oito vezes ao dia, de acordo
com a posição do sol. A sombra do trabalhador deve
ficar à sua frente ou atrás (Figura 24 b), para que as
pequenas leiras feitas durante o revolvimento não
sombreiem o café.
d) Fazer com o café, após o segundo dia de seca, pequenas
leiras de 15 a 20 cm de altura, no final da tarde, e
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
30
esparramar no dia seguinte bem cedo, o que acelera a
secagem e impede que o sereno umedeça muito o café.
e) Fazer leiras grandes, no sentido da maior declividade do
terreiro, em caso de chuvas. Estas leiras devem ser
trocadas de lugar o maior número de vezes possível, a
fim de aumentar o contato do ar com a massa de café.
Quando a chuva terminar, deve-se continuar a revolver
as leiras até que o terreiro seque. Logo após esparramar
o café, deve-se proceder como no item b.
f) Nunca amontoar o café cereja antes do ponto de meia-
seca (quando ele não estará mais colando na mão ao ser
apertado). A amontoa, a partir desta fase, é uma
operação muito importante, devido à propriedade que o
grão de café em coco tem de trocar calor entre si,
proporcionando maior igualdade na seca.
g) Amontoar o café por volta das 15 horas e, se possível,
deixá-lo coberto com lona até o dia seguinte.
h) Esparramar o café por volta das 9 horas, quando a
umidade do ar é adequada e, como no item c,
movimentá-lo até às 15 horas, quando deve ser
novamente amontoado.
i) Continuar o processo até a secagem final, recolhendo o
café frio pela manhã, para a tulha, com 11 a 12% de
umidade.
Dentro do terreiro podem ser construídas “coroas ou meias-
luas” (Figura 29), que são muretas de 5 cm de altura e 3 m de
diâmetro, cuja finalidade é servir de local para se amontoar o café,
evitando escorrimento da água de chuva sob a lona.
Deve-se evitar a construção de terreiros em lugares úmidos,
como baixadas, e próximos a represas ou locais sombreados e com
construções adjacentes.
Sistemas de Secagem
31
Figura 29 - Barreiras circulares construídas no terreiro.
A construção de bons terreiros em pequenas e médias
propriedades representa grande investimento, o que onera o custo
de produção do café. Assim, muitos produtores secam o café em
terreiros de chão batido, que, por sua vez, são contra-indicados na
maioria das regiões produtoras, em conseqüência da má qualidade
final do café. Para facilitar a construção de terreiros revestidos,
especialmente em relação à redução de custo, pode-se utilizar o
sistema saibro-cimento. Pelas Tabelas 1 e 2, pode-se fazer uma
avaliação do custo do terreiro de saibro-cimento em comparação
com o piso de concreto. O terreiro de saibro, com espessura de 5
cm, pode ser construído com uma mistura de oito partes de saibro e
uma de cimento. Verifica-se que o terreiro de saibro-cimento tem
um custo cerca de 45% inferior ao do terreiro concretado.
Tabela 1 - Custo estimado para a construção de 100 m2 de terreiro
de saibro-cimento.
Itens NecessidadeValor Unitário
(R$)
Custo total
(R$)
Lajotas 320 un. 0,20 64,00
Areia 0,75 m3 25,00 18,75
Brita 0,75 m3 50,00 37,50
Saibro 8 m3 - 100,00
Cimento
(mureta e piso) 34 sc. 17,00 578,00
Pedreiro 2 d 30,00 60,00
Ajudantes 16 d 15,00 240,00
Subtotal - - 1.098,25
Eventuais (10%)- - 109,82
TOTAL 1.208,07
Custo/m2 = R$ 12,08 – Fevereiro/2005.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
32
Tabela 2 - Custo estimado para a construção de 100 m2 de terreiro
de concreto.
Itens Necessidade Valor Unitário
(R$)
Custo total
(R$)
Tijolos 320 un 0,20 64,00
Areia 6,4 m3 25,00 160,00
Cimento 70 sc. 17,00 1.190,00
Pedra de mão 2,5 m3 40,00 100,00
Brita 6 m3 50,00 300,00
Pedreiro 10 d 30,00 300,00
Ajudantes 20 d 15,00 300,00
Subtotal - - 2.414,00
Eventuais (10%)- - 241,30
TOTAL 2.655,30
Custo/m2 = R$ 26,55 – Fevereiro/2005
Secagem em Terreiro Híbrido e em Terreiro Convencional
O terreiro híbrido, ou terreiro secador, é um terreiro
convencional, preferencialmente concretado, adaptado com um
sistema de ventilação com ar aquecido por uma fornalha, para
secagem do produto na ausência de radiação solar direta ou em
período chuvoso.
Cada módulo do terreiro híbrido deve ser constituído com
as dimensões de 10,0 por 15,0 m, aproximadamente (Figuras 30 e
31) (Vídeo). Na direção do comprimento do terreiro convencional é
adaptado, sob o piso, um duto de ventilação (duto principal) com
seis saídas para o ar quente. Sobre estas saídas de ar, na mesma
direção do duto principal, é adaptado um duto trapezoidal metálico
perfurado (20% de perfuração). O produto (café, grãos, feno, cana
picada) é então uniformemente distribuído sobre o duto de aeração
(Figuras 32 a 35).
A secagem do café em terreiro híbrido pode ser feita
continuamente, usando a energia solar nos dias ensolarados e ar
aquecido durante a noite ou em períodos chuvosos. Durante o
período chuvoso o produto deve ser coberto por uma lona
Sistemas de Secagem
33
impermeável (polietileno) e sem perfurações, fixada ao longo e
sobre a leira do produto, de maneira que o ar de exaustão escape
(Figura 36). Assim, a secagem poderá ser realizada durante as 24
horas, por meio da energia solar em dias ensolarados e da energia
proveniente da combustão de biomassa (lenha ou carvão vegetal)
ou gás durante a ausência da radiação solar direta.
Usando o terreiro híbrido, o café úmido, recém-saído do
lavador, pode ser secado até atingir a umidade ideal para o
beneficiamento (12% b.u.), em quatro dias ou oito horas de
ventilação com ar aquecido.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
34
Figura 30 – Vista superior do terreiro híbrido.
Figura 31 - Planta baixa e corte AA do terreiro híbrido, módulo
de 150 m2 e detalhes do sistema de ventilação.
 
 (a) (b)
Figura 32 - Vista geral do terreiro híbrido antes da montagem
dos dutos de aeração (a); detalhes da saída de ar
para os dutos de ventilação (b).
Sistemas de Secagem
35
 
 (a) (b)
 
(c) (d)
Figura 33 – Entrada do ar de secagem no duto de aeração (a);
montagem dos dutos de ventilação sobre as saídas
de ar do terreiro (b, c, d).
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
36
 
(a) (b)
Figura 34 – Detalhes da distribuição do café sobre o duto de
ventilação.
Figura 35 – Leira de café no processo de secagem e pronta para
receber a cobertura plástica.Sistemas de Secagem
37
 
 (a) (b)
Figura 36 - Cobertura de proteção da leira (a); Ventilação
ligada (b). (Vídeo) (Palestra)
Um estudo foi realizado utilizando-se terreiros híbridos com
150 m2 ou 7.000 litros de capacidade para a secagem de café. Para
os terreiros estudados, o ar quente foi forçado a passar através da
leira de produto por um ventilador com motor de 5 cv acoplado a
uma fornalha capaz de aquecer 1,5 m3/s de ar até,
aproximadamente, 60oC. De julho a setembro foram testados,
simultaneamente, dois terreiros para a secagem de café em dois
modos de operação e com o ar de secagem a 40 e 60oC.
No primeiro procedimento (Terreiro Híbrido 1 – TH1), a
secagem foi executada da maneira tradicional, das 9 às 15 horas, e
com ar forçado, aquecido por uma fornalha a carvão, das 16 às 8
horas do dia seguinte. Para o segundo procedimento de secagem
(Terreiro Híbrido 2 – TH2), o sistema de ar aquecido foi mantido
em funcionamento, continuamente, durante 24 horas sem o uso de
energia solar. Para este procedimento, a camada de café foi
revolvida a cada três horas, para adquirir umidade homogênea. Os
mesmos tipos de café foram secados num terreiro convencional das
9 às 15 horas.
Tratamentos de secagem do café:
· T1 = cereja descascado (TH 2), temperatura do ar de 60oC;
· T2 = cereja descascado (TH 1), temperatura do ar de 60oC;
· T3 = café cereja (TH 2), temperatura do ar de 60oC;
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
38
· T4 = café cereja (TH 1), temperatura do ar de 60oC;
· T5 = cereja descascado (TH 2), temperatura do ar de 40oC;
· T6 = cereja descascado (TH 1), temperatura do ar de 40oC;
· T7 = café cereja (TH 2), temperatura do ar de 40oC;
· T8 = café cereja (TH 1), temperatura do ar de 40oC;
· T9 = cereja descascado (terreiro convencional), testemunha
para os testes (T1 e T5);
· T10 = cereja descascado (terreiro convencional),
testemunha para os testes (T2 e T6);
· T11 = café cereja (terreiro convencional), testemunha para
os testes (T3 e T7);
· T12 = café cereja (terreiro convencional), testemunha para
os testes (T4 e T8).
Em função da temperatura média de secagem, os resultados
mostraram que os tempos para a secagem dos cafés dos tratamentos
T1, T2, T3 e T4 foram menores do que aqueles dos tratamentos T5,
T6, T7 e T8, independentemente do sistema de secagem e do tipo
de café. Os tempos necessários para a secagem dos cafés nos
terreiros híbridos foram, em média, 4,6 e 5,6 vezes menores do que
o tempo necessário para secar o café natural e o cereja descascado,
respectivamente, em terreiro convencional (Figuras 37 a 39) .
Pelos resultados mostrados na Tabela 3, os grãos de café
secos foram considerados de excelente qualidade para as condições
climáticas da região produtora “secagem em terreiro na Zona da
Mata –MG”. Os testes de bebida não diferiram entre os modos de
uso dos terreiros híbridos (TH1 e TH2) para o mesmo tipo de café.
Entretanto, entre o sistema “Terreiro Híbrido” e a secagem com o
terreiro convencional os testes de bebida apresentaram diferenças.
Sistemas de Secagem
39
Café cereja
0
10
20
30
40
50
60
70
0 20 40 60 80 100 120
Tempo em horas
T
eo
r 
d
e 
u
m
id
ad
e 
(%
 b
.u
.)
H1T40 H2T40 H1T60 H2T60
Figura 37 – Curvas de secagem para o café cereja usando os
terreiros com ar aquecido - H1 (solar + biomassa) e
H2 (somente biomassa).
Café cereja descascado
0
10
20
30
40
50
0 20 40 60 80
Tempo em horas
T
eo
r 
d
e 
u
m
id
ad
e 
(%
 
b
.u
.)
H1T40 H2T40 H1T60 H2T60
Figura 38 – Curvas de secagem para café cereja descascado, em
terreiro com ar aquecido – H1 (solar + biomassa) e
H2 (somente biomassa).
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
40
H1 T40
0
10
20
30
40
50
60
70
0 50 100 150
T e m p o e m h o r a s
Cereja Descascado
Figura 39 – Curvas de secagem para cereja descascado e cereja
natural em terreiro com ar aquecido a 40oC – H1
(solar + biomassa).
Tabela 3 – Qualidade de bebida e características do café após secagem.
Tratamento Bebida Tipo Aspecto
HT2 (descascado) 60oC Apenas mole 4/5 Bom
HT2 (descascado) 40oC Apenas mole 4/5 Bom
ConvTD* (descascado) Duro 6/7 Bom
HT1 (descascado) 60oC Apenas mole 4/5 Bom
HT1 (descascado) 40oC Apenas mole 4/5 Bom
Terreiro Conv.(descascado) Duro 6/7 Bom
HT2 (cereja) 60oC Duro 5 Bom
HT2(cereja) 40oC Duro 5 Bom
 Terreiro Conv. (cerejal) Duro /Rio 6/7 Bom
HT1(cereja) 60oC Duro 5 Bom
HT1(cereja) 40oC Duro 5 Bom
Terreiro Conv.(cereja) Duro /Rio 6/7 Bom
*Terreiro convencional de cimento.
Sistemas de Secagem
41
Secagem a Baixas Temperaturas
Quando a temperatura do ar de secagem estiver até 10ºC
acima da temperatura ambiente, os sistemas de secagem são
denominados de “baixas temperaturas”. Das alternativas
disponíveis para a secagem na fazenda, aquela que usa o ar a baixas
temperaturas em silos tem-se mostrado de grande potencial para a
manutenção da qualidade dos grãos e para a redução de energia
utilizada no aquecimento do ar de secagem.
Na secagem a baixas temperaturas, força-se, com o auxílio
de um ventilador, o ar nas condições ambientais a passar pela
camada de grãos, para retirada do excesso de água. Fatores como as
condições ambientes e, em alguns casos, dependendo do produto, a
velocidade de colheita podem levar ao insucesso no uso da
tecnologia. Entretanto, nenhum dos fatores mencionados tem grau
de limitação que impeça a adoção do sistema na maioria das
regiões brasileiras, e a secagem com temperatura do ar próxima da
temperatura ambiente pode, facilmente, ser aplicada em pequenas
propriedades, se o agricultor decidir construir o seu próprio silo
secador.
Um sistema de secagem com ar natural, geralmente,
envolve a secagem em silos ou tulhas. Devido ao pequeno fluxo de
ar utilizado, apresenta baixa velocidade de secagem e necessita de
mais tempo para finalizar o processo que os sistemas tradicionais
com o ar aquecido a altas temperaturas. Esse tipo de secagem é,
portanto, muito dependente das condições atmosféricas do local
onde está localizada a unidade secadora-armazenadora.
Na secagem em silos, a pequena quantidade de ar por
unidade de massa de grãos é que torna o processo lento. Em virtude
de a temperatura do ar ser baixa, sua capacidade de evaporar a água
fica reduzida e o processo também é dificultado em regiões de alta
umidade relativa (média acima de 70%). Por exemplo, em regiões
muito úmidas, como em algumas localidades da Zona da Mata
mineira, deve-se providenciar, para os períodos com umidade
relativa do ar superior a 70%, alguma forma de aquecer o ar para
que ela caia para valores próximos a 60% (verificar Tabela 4).
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
42
Tabela 4 - Incremento aproximado de temperatura (ºC) para reduzir
a umidade relativa do ar a valores próximos a 60%.
 UR (%) 
T (ºC)
90 85 80 75 70
18 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
19 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
20 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
21 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
22 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
23 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
24 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
25 + 6 + 5 + 4 + 3 + 2
Na realidade, o que se deseja é um par de valores
(temperatura e umidade relativa do ar) que mantenha o café, por
exemplo, com aproximadamente 12% de umidade no final da
secagem; para isso, indicamos os valores da Tabela 5. A fim de
contornar o problema, em locais com a alta umidade relativa do ar,
podem-se utilizar fontes suplementares para o seu aquecimento
(fornalha a carvão vegetal, GLP, energia solar ou outra fonte viável
de energia calorífica).
Tabela 5 – Pares de valores Temperatura (°C) x Umidade Relativa
(%) que mantêm o produto com a umidade de equilíbrio
ao final da secagem
Produto 18° 19° 20° 21° 22°23° 24° 25°
Café 56,0 % 56,4 % 56,9 % 57,4 % 57,8 % 58,2 % 58,7 % 59,1 %
Milho 55,5 % 56,1 % 56,8 % 57,4 % 58,0 % 58,6 % 59,2 % 59,8 %
Arroz em
casca
58,2 % 58,7 % 59,3 % 59,9 % 60,4 % 60,9 % 61,4 % 61,9 %
Soja 54,1 % 54,4 % 54,7 % 54,9 % 55,2 % 55,5 % 55,7 % 56,0 %
* Fonte: SILVA et al. (2000).
O uso em excesso de energia suplementar pode, no entanto,
provocar secagem excessiva, que resultaria em prejuízo para o
usuário. No caso de se usar gás ou energia elétrica, o problema
pode ser solucionado pela adaptação, na câmara “plenum” do silo,
de um umidistato (controle de umidade) e de um termostato
(controle de temperatura) para acionamento automático do
ventilador e da fonte de aquecimento.
Sistemas de Secagem
43
Em boa parte das regiões produtoras de grãos, o potencial
de secagem do ar ambiente e o pequeno aquecimento provocado
pelo ventilador (3 a 4ºC) são suficientes para propiciar a obtenção
do teor de umidade final recomendado para um armazenamento
seguro.
O sistema de secagem a baixa temperatura deve ser
manejado da seguinte forma: instalar um ventilador com fluxo de ar
(m3.min-1.m-3 de grãos) adequado para determinado teor de
umidade inicial da massa de grãos, conforme estabelece a Tabela 6.
Para o carregamento adequado de pequenos silos com arroz,
feijão, milho ou café despolpado com umidade de 18% ou 20%
b.u., deve-se considerar a cadência de colheita.
Para unidades comunitárias ou para médias a grandes
produções, o operador deve se orientar pela Tabela 7.
Se bem projetados e manejados, esses sistemas, além de
melhores e preservarem as qualidades dos grãos, são eficientes,
econômicos e os mais adequados para serem utilizados em
propriedades que desejam reter o produto, aguardando por
melhores preços.
Tabela 6 - Fluxo de ar em função da umidade inicial do produto
Produto Teor de umidade
inicial
Fluxo (m3 de ar .
min-1.m-3 de grão)
Feijão, milho e arroz 18 – 20 1,5
Café em coco 20 – 22 2,5
Café despolpado 22 – 25 1,5
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
44
Tabela 7 - Formas de carregamento do silo para secagem à baixa
temperatura.
TEOR DE UMIDADE INICIAL x FLUXO DE AR
DIÂMETRO E 18% b.u. x 0,7 m3/min.m3 20% b.u. x 1,5 m3/min.m3
CAPACIDADE ALTURA TEMPO DE POT ALTURA TEMPO DE POT
DO SILO DA CARGA SECAGEM DA CARGA SECAGEM
(m) ** (dias) (cv)* (m) (dias) (cv)*
4,5 m 4 19 0,5 3 12 1,5
16,2 m3.m-1 5 19 1,0 4 12 4,0
6 19 2,0 5 12 7,0
5,5 m 5 20 2,0 3 13 1,5
23,1 m3.m-1 6 20 3,0 4 13 5,0
7 20 5,0 5 13 10,0
4 20 1,0 2 13 0,5
6,5 m 5 20 2,0 3 13 2,0
33,0 m3.m-1 6 20 4,0 4 13 6,0
7 20 6,0
* Para potências superiores a 3 cv, recomenda-se a utilização de ventiladores
centrífugos
** Recomenda-se atingir a altura estabelecida em, no mínimo, três dias.
Silo secador
O silo secador-armazenador, como mostrado na Figura 40,
apresenta algumas características especiais que não são exigidas
para os silos empregados apenas para a armazenagem, como será
visto a seguir.
O piso deve ser construído com chapas metálicas perfuradas
ou com material alternativo, como tela de arame ou ripado, com no
mínimo 20% de área livre, para promover a distribuição uniforme
do ar.
O ventilador deve fornecer quantidade de ar suficiente para
realizar a secagem de toda a massa de grãos sem que ocorra a
deterioração nas camadas superiores. As dimensões do silo
(diâmetro e altura) e as características iniciais do produto
determinam a potência do ventilador para o sistema.
Sistemas de Secagem
45
Figura 40 - Silo para secagem com ar natural.
Carregamento do silo
No sistema tradicional de secagem com ar natural
(enchimento em camada única), depois de transcorrido determinado
tempo de secagem, distinguem-se três faixas de umidade (Figura
29). Na primeira faixa, formada pela massa de grãos já secos, o
produto já atingiu o equilíbrio higroscópico com o ar de secagem e
o ar não ganha nem perde umidade. Na segunda faixa, denominada
frente de secagem, está ocorrendo a transferência de umidade do
grão para o ar de secagem. A terceira ou última faixa é formada por
grãos úmidos, cujo teor de umidade está próximo da umidade
inicial. Ao passar por essa subcamada, o ar está com sua
capacidade de secagem esgotada e pode, dependendo da umidade
inicial, provocar pequeno aumento no teor de umidade das camadas
superiores. A temperatura na última faixa é inferior à temperatura
do ar de secagem, visto que o ar é resfriado devido à troca de calor
com o produto na frente de secagem.
Dependendo do teor de umidade, é desaconselhável
adicionar uma nova subcamada sem que a anterior tenha atingido o
equilíbrio com o ar de secagem. Cada subcamada deve ser
dimensionada de forma que não seja maior que uma frente de
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
46
secagem calculada, ou seja, a subcamada a ser adicionada deve,
preferencialmente, constituir a própria frente de secagem.
Figura 29 – Silo com detalhe da frente de secagem (FS).
Dentro do silo, a secagem com ar natural inicia-se na
subcamada inferior, rente à chapa perfurada que forma o fundo
falso do silo, e, com o decorrer do tempo, atinge a superfície
superior da camada de grãos.
O silo pode ser carregado de duas formas:
a) Enchimento em uma etapa - consiste em carregar o silo
em até três dias. Este tempo é curto em relação ao tempo total de
secagem, o qual, dependendo das condições atmosféricas, pode
durar mais de 20 dias. Vantagens: poucos danos mecânicos, em
virtude da redução no manuseio do produto; baixo custo em regiões
de baixa umidade relativa; pouca mão-de-obra; o recebimento do
produto não está condicionado ao andamento da secagem do
material carregado. Desvantagens: elevado tempo de secagem;
risco de deterioração das camadas superiores com alto teor de
umidade, podendo haver condensação de umidade; risco de
secagem excessiva das camadas inferiores, quando for usada fonte
suplementar de aquecimento sem controle adequado.
b) Enchimento por etapas: uma nova camada só é colocada
se a última já estiver parcialmente seca. Acrescentam-se camadas
até o limite estabelecido pela capacidade do silo e pelo fluxo do ar
de secagem. Vantagens: secagem mais rápida que a do método de
enchimento em uma etapa; menores riscos de deterioração; o fluxo
Sistemas de Secagem
47
mínimo necessário é menor que o do método de uma etapa.
Desvantagens: exigência de maior atenção no controle do processo.
Operação do ventilador
O manejo da ventilação durante a secagem depende do teor
de umidade do produto no silo e do clima da região. O ventilador
deve ficar ligado continuamente enquanto o produto da camada
superior estiver com umidade superior a 17% b.u. Para teor de
umidade inferior, ligar o ventilador somente quando a umidade
relativa estiver abaixo de 70%. O monitoramento consiste na
inspeção periódica (diária ou semanal) da temperatura e da
umidade da massa de grãos, verificando se a massa está secando ou
sofrendo alguma forma de deterioração. Ao final da secagem com
ar levemente aquecido, insufla-se ar natural para manutenção do
produto a uma temperatura próxima à do ambiente.
O cálculo da quantidade do ar de secagem e a escolha dos
equipamentos devem ser feitos com muito cuidado. A vazão de ar
deve ser tal que permita que a frente de secagem alcance as
camadas superiores sem ocorrência de deterioração do produto ou
que uma nova subcamada seja adicionada quando a anterior já
estiver seca.
Duração da secagem
O tempo de secagem é diminuído quando se aumenta a
temperatura do ar ou a sua vazão. O aumento da temperatura do ar
só é recomendado em regiões onde o potencial de secagem com ar
natural é baixo. Tanto para uso como semente quanto para
consumo humano, os métodos de secagem de grãos e café com
baixas temperaturas resultam em um produto com melhor
qualidade final. Suas principais limitações,umidade inicial do
produto e clima local, fazem com que o método seja substituído
pela secagem com altas temperaturas, que é um método mais
rápido e independente do clima.
A maior vantagem da secagem com ar natural é que, além
da economia global de energia e do aumento no rendimento dos
terreiros ou dos secadores na pré-secagem, o produto final
apresenta coloração e umidade bastante uniformes e boa qualidade
do produto seco.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
48
Para que haja sucesso na secagem com ar natural, é
indispensável que a umidade inicial nesse processo seja bem
definida. Umidade inicial acima de 25% para café e acima de 18%
para milho, feijão e arroz podem trazer alguns problemas caso o
fluxo de ar não seja adequado para secar a camada de grãos em um
tempo tal que não ocorra o desenvolvimento de microrganismos.
Trabalhos realizados no setor de armazenamento do
Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de
Viçosa mostraram que, em condições climáticas semelhantes às de
Viçosa, é técnica e economicamente viável secar café cereja
descascado ou despolpado com teor de umidade inicial de até 25%.
Para grãos em geral, a umidade inicial nunca deve ser superior a
18%.
Para que a secagem complementar, em silos, seja viável,
antes de ser levado para o silo secador (com ventilação) o produto
deve, primeiramente, passar por uma pré-secagem em terreiro, em
qualquer tipo de pré-secador mecânico ou mesmo na planta. Para o
armazenamento do produto seco, pode-se dispensar o sistema de
ventilação, e o silo passa a ser simplesmente uma unidade
armazenadora.
A secagem, em silos, com ar natural ou a baixas
temperaturas é abordada com mais detalhes nos livros: Secagem e
Armazenagem de Produtos Agrícolas (capítulo 5), Secagem e
Armazenagem de Café – tecnologias e custos (capítulo 1),
Produção Integrada de Café (capítulo 17) e Estado da Arte de
Tecnologias na Produção de Café (capítulo 14).
(Palestra)
Alternativas tecnológicas de secagem
Como dito anteriormente, temos algumas restrições quanto
ao uso do terreiro; quando construído corretamente, é o sistema de
secagem de mais alto custo, quando comparado com outros tipos de
secadores. Por outro lado, não existe no Brasil indústria de
máquinas que forneça secadores compatíveis em capacidade e em
preço com a necessidade do agricultor familiar. Caso a pequena
agricultura seja feita em sistema de associação, não se vê nenhum
problema na adoção de melhores técnicas de secagem e
Sistemas de Secagem
49
armazenagem, pois a indústria brasileira é um dos melhores
fornecedores da América Latina de equipamentos de médio e
grande porte.
Para solucionar o problema de aquisição de sistemas e
equipamentos de secagem e armazenagem compatíveis, técnica e
economicamente, com as necessidades da agricultura familiar,
serão fornecidas idéias de projetos simples e eficientes que poderão
atender às operações de secagem e armazenagem de grãos e café e
que podem, facilmente, ser construídos com parte dos recursos
locais a custo compatível com a atividade agrícola familiar.
Em publicações anteriores e em muitas outras que tratam do
tema “Secagem e armazenagem de produtos agrícolas”, podem ser
encontrados bons projetos de pequenos secadores que atendem às
necessidades de secagem da pequena e média propriedade.
A seguir, além de apresentar alguns sistemas de secagem e
armazenagem tradicionais, vamos introduzir as seguintes
alternativas tecnológicas:
· Secador híbrido (solar - biomassa).
· Secador multicombustível ou FLEX.
· Silo secador e armazenador.
Secagem com energia solar
Apesar de ser a fonte primária de energia mais utilizada e
apresentar relativo sucesso quando se usa o terreiro, o emprego da
energia solar direta para secagem de grãos em camadas profundas
só poderá se tornar viável em sistemas de secagem a baixas
temperaturas. A intermitência no fornecimento e o tamanho do
coletor necessário para atingir diferenças de temperatura superiores
a 10oC, que caracteriza a secagem em altas temperaturas, seriam
economicamente inviáveis. Entretanto, se a energia solar, apesar de
sua intermitência, for usada como energia complementar, o
consumo de combustível para pequenos secadores será reduzido.
Se a incidência de energia solar fosse regular durante a
safra, e considerando a jornada de trabalho apenas durante o dia,
para manter um secador de camada fixa, modelo UFV, com 6.000
litros de capacidade funcionando a 45 oC, nas condições de Viçosa,
haveria necessidade de um coletor de 100 m2, ou seja, o coletor
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
50
teria praticamente a mesma área de terreiro necessária para
espalhar a mesma quantidade. Entretanto, se for considerado que o
referido secador necessita de uma cobertura mínima de 56 m2, e se
esta fosse transformada em coletor solar acoplado à fornalha,
poder-se-ia economizar durante o dia, até 100 kg de lenha,
mantenso o funcionamento contínuo do secador, usando lenha
durante a noite ou na ausência de radiação solar.
O coletor de energia solar
Pode-se encontrar na literatura especializada, apesar de
muita semelhança, grande variedade de coletores solares. Será
descrito neste trabalho um tipo que é o recomendável em caso de se
adotar a transformação do telhado do secador em coletor de energia
solar para suprir parte da exigência energética para secagem. Ao
construir o secador, deve-se ter a preocupação de orientá-lo de tal
maneira que o telhado receba o máximo possível de energia solar.
O “telhado coletor solar” deve ser do tipo “uma água”, com o
comprimento orientado na direção leste-oeste e com a superfície
absorvedora voltada para o norte (hemisfério sul). Para o
hemisfério norte, a face do coletor deverá estar voltada para o sul.
Outro ponto importante e que deve ser obedecido é quanto à
inclinação do telhado ou superfície absorvedora com a horizontal
(nível do solo). Uma inclinação ótima para a variação anual pode
ser tomada como igual ao valor da latitude onde o secador será
instalado (Figura 41).
Figura 41 - Inclinação ótima para o “telhado coletor” de energia
solar.
Uma grande vantagem do “telhado coletor” é que ele irá
absorver a energia diretamente do sol, em forma de radiação direta,
Sistemas de Secagem
51
e também difusa (radiação refletida pela terra e pelas nuvens). Com
o “telhado coletor” é possível, dependendo do fluxo de ar adotado e
do isolamento do telhado, incrementar a temperatura do ar em até
30 oC, em dias de céu descoberto. Um incremento de 10oC é
considerado um bom valor para se obter eficiência razoável do
sistema.
Como o coletor substituirá o telhado, o custo total do
sistema não será muito elevado, pois grande parte do material que
seria usado para construir o telhado do secador também será
utilizada para o coletor. Além dos fatores mencionados, o “telhado
coletor” de energia solar é de construção relativamente simples e de
custo mais baixo que o dos outros tipos de coletores.
Há vários modelos de coletores planos, mas todos eles
possuem duas características básicas:
a) Uma placa preta, para absorver a energia solar.
b) Um fluido circulante (ar ambiente), para retirar o calor
da chapa e levá-lo para o ponto de utilização – no caso
em pauta, para a câmara de secagem do secador ou
câmara “plenum” do silo que contém os grãos a serem
secados.
Um “telhado coletor” pode ser construído com telhas
metálicas ou com telha de cimento-amianto, pintadas em preto
fosco. As telhas deverão formar um canal com a estrutura por onde
deverá ser forçada a passagem do ar. A estrutura possuirá uma tela
metálica tipo galinheiro, para suportar a cobertura de plástico
transparente. Além de permitir a canalização do ar de secagem, a
cobertura transparente tem a finalidade de aumentar o rendimento
total do coletor e evitar as perdas de calor da chapacoletora para o
ambiente (Figura 42).
Há diferentes maneiras de melhorar a eficiência de um
coletor. Entretanto, para que essa melhoria seja levada a cabo,
deve-se analisar o benefício do investimento adicional no
isolamento do fundo do coletor. Usualmente, os coletores mais
eficientes são também os mais caros.
As características desejáveis de um telhado coletor são:
· Absorver o máximo da radiação solar.
· Perder o mínimo de calor para o ambiente.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
52
· Transferir facilmente o calor absorvido para o ar
circulante.
Pintando o telhado em preto, ele irá absorver mais energia
radiante do que em qualquer outra coloração. Uma superfície preto
fosca pode absorver até 95% da radiação que atravessa a cobertura
transparente. Quando o coletor não estiver em operação ou estiver
com a ventilação desligada, a temperatura pode atingir valores
acima de 60oC. Dessa maneira, é aconselhável cobrir o coletor,
para evitar danos ocasionados por essas altas temperaturas, e, se
possível, retirar o lençol plástico, quando não em uso, para maior
durabilidade do sistema.
Se, após análise de custo da energia complementar com o
uso do “telhado coletor”, não for economicamente compensador, o
usuário poderá optar pela construção do telhado que melhor lhe
convier e construir ou não outro tipo de coletor.
Figura 42 – Detalhes da estrutura do telhado coletor de energia
solar.
Outros secadores com energia solar
Mesmo com a existência de vários tipos de secadores que
usam energia solar, como o utilizado para pequenas produções de
café (Figura 43), dois sistemas foram construídos e testados na
Universidade Federal de Viçosa. O primeiro, um secador registrado
como UFV-J2, assemelha-se a um secador de camada fixa
horizontal, possuindo um teto solar (coletor solar), um ventilador,
um duto de conexão e uma câmara de secagem (Figuras 44 e 45).
Sistemas de Secagem
53
Com base nesse tipo de secador que utiliza apenas a energia solar
que foi idealizado o SECADOR FLEX, mostrado mais adiante. O
segundo é um secador solar rotativo, registrado como UFV-JPC1,
que é um melhoramento do secador solar suspenso e fixo (Figura
46), consta apenas de uma caixa formada por laterais de madeira,
com frente e fundos em tela de aço com malha quadrada de 4,0
mm. A caixa possui um eixo central, que é apoiado em dois
pequenos pilares de madeira, para permitir fácil rotação. O próprio
produto a secar (café) constitui o material absorvedor de calor neste
tipo de secador (Figura 35). A ventilação natural é o meio que
retira o calor absorvido e elimina a umidade, como acontece nos
terreiros tradicionais ou secadores suspensos. Nesses secadores, o
café passa simultaneamente por operações de secagem e limpeza,
dispensando, assim, a utilização de terreiros e não requerendo outra
forma de energia.
Nos terreiros suspensos, por não estarem em contato direto
com o piso do terreiro, que apresenta problemas de limpeza e
desinfecção, o produto tem menor chance de ser contaminado por
microrganismos indesejáveis. Já o secador com teto solar necessita
de pequena área de terreiro para a secagem inicial do café com alto
teor de umidade e, ainda, de energia elétrica para o acionamento do
ventilador. Para produtos relativamente secos, como é o caso do
milho, do arroz ou do feijão, a secagem inicial em terreiros é
totalmente dispensada.
 
 (a) Fabricação caseira (b) Industrializado
Figura 43 - Secadores em telas suspensas para secagem solar.
(Vídeo)
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
54
Figura 44 – Vista geral de um secador modelo UFV-J2 (Vídeo).
Figura 45 - Corte transversal do secador UFV-J2.
Figura 46 - Vista geral dos secadores solares rotativos (UFV-
JPC1).
Sistemas de Secagem
55
Terreiro suspenso portátil
O terreiro suspenso transportável ou portátil, de acordo com
Darfet (1896), foi inventado por Geronymo L. C. Souza, em 1888.
O secador consiste, resumidamente, de diversas caixas retangulares
com tela de arame, formando um tabuleiro falso de 3,0 x 1,5 m,
montado em pilares de madeira com 0,8 m de altura (Figura 47).
Como se pode ver, o terreiro suspenso e fixo
comercializado no Brasil (Figura 43b) tem o projeto básico similar
e não difere muito do secador portátil idealizado por Geronymo
Souza. Trabalhos de pesquisa realizados por Vilela (1997) e
Hardoim (2001) indicam que o tempo de secagem nestes secadores
é mais longo que no terreiro convencional com piso de concreto.
Terreiro suspenso móvel
Privilégio registrado em novembro de 1889 por Correia da
Silva, consiste de diversos tabuleiros com fundo telado, para reter
os grãos. Os tabuleiros, com dimensões apropriadas, são montados
em um sistema de trilhos. O conjunto, quando não está em
funcionamento, fica abrigado sob uma cobertura fixa, para proteger
o produto de chuvas ou condensações noturnas. O operador do
secador deve puxar os tabuleiros para expô-los à radiação solar até
secar o produto, que deve ser revolvido periodicamente (Figura
48).
Figura 47 – Esquema básico do terreiro suspenso portátil.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
56
Figura 48 – Esquema básico do terreiro suspenso móvel.
(Vídeo) (Palestra)
Secador por Convecção Natural
O ar, movimentando-se por convecção natural, é uma
alternativa para solucionar os problemas de secagem do pequeno
produtor que não dispõe de energia elétrica, pois este tipo de
secador dispensa o uso de ventiladores e pode ser construído com
materiais facilmente encontrados em mercados locais e mão-de-
obra pouco especializada para a sua construção. A Figura 49
mostra um secador por convecção natural que utiliza um trocador
de calor para transferir o calor recebido dos gases de combustão de
uma fornalha para o ar de secagem que entra lateralmente, por meio
de aberturas na parte inferior das paredes do secador. O movimento
do ar que atravessa a massa de produto se deve à diferença de
pressão produzida pela diferença de temperatura entre o ar de
secagem e o ar ambiente. O secador por convecção natural tem as
seguintes características:
· Dispensa o uso de ventiladores.
· Baixo custo inicial.
· Mão-de-obra pouco especializada para construção.
· Eficiência térmica inferior à dos secadores com
ventilação forçada.
· Projeto inadequado da câmara pode provocar
desuniformidade de temperatura e do fluxo de ar.
· Riscos de contaminação do produto pela fumaça, caso
Sistemas de Secagem
57
haja perfurações ou vazamentos no trocador de calor.
No entanto, quando bem dimensionados e construídos, os
problemas são minimizados. A fusão desse secador com o secador
de camada fixa tradicional e com secador solar UFV-J2 deu origem
ao SECADOR FLEX, que será descrito a seguir.
Figura 49 – Corte longitudinal de um secador por convecção
natural.
Secador Flex
Como dito anteriormente, o SECADOR FLEX é uma fusão
do secador de camada fixa tradicional com o secador por
convecção natural e, ainda, com secador solar UFV-J2.
 O ar de secagem pode ser aquecido com a energia de
combustão da lenha, do carvão e do gás, com energia solar ou com
a mistura de energia solar e energia da combustão. Pelo fato de usar
diferentes fontes de energia, a denominação “Secador Flex”
(Figuras 50 e 51) foi uma homenagem à industria automobilística
brasileira, que produziu o importante motor flex para qualquer
proporção “álcool e gasolina” como combustível.
Basicamente, o secador flex, à semelhança do secador por
convecção natural, é composto por uma fornalha comum, um
trocador de calor de tubo único e uma chaminé. Ao conjunto foi
adicionado um ventilador, para forçar a convecção do ar e vencer
facilmente a resistência oferecida pelas camadas de grãos mais
profundas. Nesse caso, o secador funciona como se fosse um
 Tecnologiasde Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
58
secador de camada fixa tradicional com uma fornalha para o
aquecimento indireto do ar de secagem.
É importante observar que na ausência de eletricidade, fato
muito freqüente no fornecimento ao meio rural, a secagem não será
interrompida, pois o secador terá funcionamento continuado pela
convecção natural. Nesse caso, deve-se reduzir a altura da camada
de grãos ou revolvê-la com mais freqüência.
Além de forçar a convecção na câmara “plenum” do
secador, outra função do ventilador é fazer com que o ar de
secagem passe pelos canais do “telhado coletor” e seja aquecido
pela energia solar. Como dito anteriormente, essa energia, além de
reduzir substancialmente o consumo de outros combustíveis, não é
poluidora, e o “telhado coletor” é apenas um pouco mais caro que
um telhado comum.
Figura 50 - Secador Flex com “telhado coletor” de energia
solar.
Sistemas de Secagem
59
Figura 51 - Detalhes dos componentes do Secador Flex
Secagem em Camada Fixa
Para operação em pequena escala, a secagem de grãos,
feno, feijão em ramas e café em camada fixa já é uma técnica
bastante difundida na Zona da Mata de Minas Gerais. Produtos
agrícolas com diferentes faixas de umidade inicial são colocados no
secador e o ar quente é forçado a passar pela camada de produto,
usando um ventilador acionado por energia elétrica. A carga, o
revolvimento e a descarga do produto são feitos manualmente. Na
secagem em camada fixa, a temperatura do ar é muito superior à do
ambiente (mais de 10 oC acima) e a camada de produto é
geralmente inferior a 0,60 m.
Outro aspecto interessante do secador em camada fixa é
sua versatilidade. Como dito anteriormente, além de ser usado para
secar grãos e sementes em geral, milho em espiga, café de lavoura,
feijão em rama, raspa de mandioca etc., é também usado na
produção de feno ou capim picado, para cama de galinheiro. A
altura da camada de produto pode variar para grãos em geral,
devendo se situar entre 0,4 e 0,6 m. Altura acima desta faixa poderá
acarretar problemas, como o alto gradiente de umidade.
Geralmente, a secagem é interrompida quando o teor de umidade
média da camada de grãos atinge o nível exigido para o
armazenamento seguro. Nesse momento, os grãos da camada
superior estão menos secos do que aqueles próximos à chapa
perfurada.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
60
A operação do secador de camada fixa é simples, embora
exija alguns cuidados. A movimentação do produto em intervalos
de tempo regular é uma operação importante para evitar a
desuniformidade na umidade final do produto. Um revolvimento
manual a cada quatro horas de secagem é uma prática comum para
milho. Para arroz ou café deve-se adotar um intervalo de duas horas
entre cada revolvimento, para temperaturas de secagem superiores
a 45oC.
Se durante a operação de revolvimento manual o ventilador
não for desligado, o operador ficará exposto a condições
desconfortáveis, devido ao contato com o ar de secagem. Apesar
de poucas pesquisas sobre a adaptação de revolvedores mecânicos
para melhorar o desempenho dos secadores de camada fixa,
principalmente para o café, a introdução desses dispositivos
aumenta os custos fixos e operacionais do secador.
Vantagens:
· Menor custo operacional.
· Baixo investimento inicial.
· O armazenamento poder ser feito no próprio silo
secador, quando se utiliza o silo convencional
adaptado como secador de camada fixa.
· Fácil construção.
Desvantagens:
· Alto gradiente de umidade ao longo da camada
de grãos.
· Baixa capacidade de processamento, devido a
espessura da camada ser inferior a 0,6 m.
Silva e Lacerda Filho [6] projetaram e construíram um
secador de camada fixa para secagem dos diferentes produtos
agrícolas mais comuns e produzidos pela agricultura familiar
(Figura 52). O secador vem sendo amplamente adotado pelos
pequenos e médios produtores de café que produzem, também,
outros tipos de produtos. O secador pode ser construído com uma
câmara de secagem de até 5,0 m de diâmetro e 0,6 m de
profundidade. A câmara “plenum”, com a mesma altura da câmara
Sistemas de Secagem
61
de secagem, resulta em um secador com altura total de 1,2 m.
Originalmente, a produção de calor para o secador de
camada fixa foi projetada para ser suprida por uma fornalha com
combustão descendente e aquecimento direto que usa a lenha como
combustível. A fornalha original (Figura 53) é equipada com uma
câmara de combustão e um ciclone, onde a cinza é retida e o ar
natural misturado com os gases de combustão para obter a
temperatura desejada do ar de secagem. O gás misturado com o ar
ambiente é succionado pelo mesmo ventilador centrífugo que é
usado para forçar o ar secagem a atravessar a camada do produto a
ser secado. Contudo, qualquer tipo de fonte de calor pode ser
usado para aquecer o ar de secagem para o secador de camada fixa.
A fornalha a carvão vegetal (Figura 54) desenvolvida pela
UFV/CBP&D-café é, ultimamente, a mais usada para aquecer o ar
de secagem nos secadores para café.
O ventilador deve ser selecionado com base em cálculos
prévios, de maneira que forneça a quantidade de ar necessária para
uma combustão completa com queima limpa (sem fumaça). Para a
secagem de café, além das emissões de partículas que devem estar
abaixo de níveis aceitáveis, o produto seco deve estar livre de odor
ou qualquer elemento indesejável.
Experimentos têm mostrado que o secador em camada fixa é
capaz de reduzir a umidade de uma camada de café cereja natural
(0,4 m de altura) de 65% para 12% em 50 horas, desde que a
temperatura do ar seja mantida em 60°C e com a camada sendo
revolvida a cada três horas. A quantidade de energia (6,6 kJ.kg-1)
consumida na secagem da camada de café cereja é
aproximadamente 65% maior do que a quantidade (4,1 kJ.kg-1)
consumida na secagem da mesma camada de cereja descascado.
Esses valores foram obtidos para café com 52% de umidade inicial
e posteriormente secado para 14% com um fluxo de ar de 12
m3.min-1.m-2, temperatura de secagem de 60°C e três horas entre
revolvimentos. A capacidade do secador aumentou de 9,8 kg.h-1.m-
2 (café cereja) para 18,7 kg.h-1.m-2 (cereja descascado) para as
mesmas condições de secagem. De modo geral, o secador em
camada fixa deve ser operado segundo a tabela 8.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
62
Figura 52 – Vista geral do secador em camada fixa (modelo
UFV). (Vídeo)
Figura 53 – Fornalha para aquecimento direto com queima de
lenha. (Vídeo)
Figura 54 – Fornalha para aquecimento direto com queima de
carvão vegetal. (Vídeo)
Sistemas de Secagem
63
Tabela 8 - Parâmetros de secagem para o secador de camada fixa
modelo UFV.
PROD. FINAL. TEMP.
(oC)
FORMA CAMADA
(cm)
REVOL.*
Milho Semente 40 Espiga 100 não há
Consumo 60 Granel 40 120
Semente 45 Rama 60 30
Feijão Semente 40 Granel 40 60
Consumo 45 Granel 40 120
Arroz Semente 40 Granel 40 60
Consumo 45 Granel 40 120
Soja Semente 40 Granel 50 60
Consumo 45 Granel 60 120
Café Consumo 50 Cereja 50 180
Consumo 50 Coco 40 180
Mandioca Ração 40 Raspa 30 180
* intervalo entre revolvimentos (minutos)
Um outro secador que é mais específico para a secagem de
feijão em ramas e feno é visto na Figura 55. O secador é construído
de tal forma que pode ser desmontado após sua utilização; devido
às suas dimensões, vários secadores podem ser construídos sob
uma mesma cobertura. Assim, a cobertura, ou grande parte de um
galpão, pode se usada para outras finalidades após a operação de
secagem. Preferencialmente, em razão do consumo de energia na
secagem das ramas, as fornalhas para este tipo de secador devem
ser de aquecimento direto, ou seja, utilizando os gases da
combustão misturados com o ar ambiente para processar a secagem
e tendo a lenha com combustível.
Figura 55 - Secadorpara feijão em ramas, modelo UFV.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
64
Secador Pneumático
O secador de camada fixa, anteriormente descrito, necessita
de revolvimento periódico para homogeneização da umidade
durante a secagem. Quando executada manualmente, a operação de
revolvimento exige um grande esforço físico, principalmente no
início da secagem, quando o produto está muito úmido. Além
disso, esse tipo de revolvimento apresenta: uso desnecessário de
mão-de-obra, perda de energia e aumento no tempo de secagem.
Para secadores com revolvedores mecânicos, o aumento na
taxa de escoamento dos grãos dentro da câmara de secagem
produz, de maneira geral, um produto final de melhor qualidade.
Entretanto, o aumento da velocidade da massa de grãos irá
aumentar o consumo específico de energia. Os grãos que passam
pela câmara de secagem em alta velocidade irão perder menos
umidade por unidade de tempo. Além dos aspectos mencionados,
os sistemas para carga, descarga e revolvimento de grãos podem
levar a dificuldades na instalação do projeto e aumento dos custos
iniciais e de manutenção.
Um sistema de transporte simples e com um custo
relativamente baixo é o transportador pneumático. Usado em
unidades armazenadoras, este tipo de transportador teve sua origem
nos equipamentos de pressão usados pra carregar e descarregar
navios com material granular.
O transportador pneumático movimenta os grãos pelo uso
de ar em alta velocidade, por meio de um sistema de condutos
fechados. Com o sistema pneumático, o produto pode ser
transportado em qualquer direção, incluindo caminhos curvos. Um
outro aspecto interessante é que o transportador pneumático pode
ser usado em instalações fixas e móveis, as quais podem ser
construídas sem a necessidade de grandes investimentos ou grandes
mudanças estruturais.
Considerando as vantagens do secador de camada
fixa e a simplicidade e o baixo custo do sistema de transporte
pneumático, foi desenvolvido e avaliado um sistema de secagem de
grãos (Figura 43) que faz a movimentação do produto (carga,
descarga e revolvimento) e produz o fluxo de ar para secagem
usando apenas um ventilador centrífugo de alta pressão, acionado
por um motor elétrico de 2 cv. Com essas características, o
Sistemas de Secagem
65
pequeno secador pode produzir até 60 kg de café cereja descascado
por hora.
Dimensões básicas do secador pneumático
· Capacidade estática: 1.000 kg, 20% b.u. (milho)
· Capacidade: 920 kg. 30% b.u. (cereja descascado)
· Câmara de descanso 1: Volume: 1,20 m³
· Parte cilíndrica: (altura: 1,40 m e diâmetro: 1,00 m)
· Parte cônica: (altura: 0,30 m e diâmetro: 1,00 m)
· Câmara de repouso 2: volume: 0,80 m³
· Porção retangular: (altura: 0,80 m e área da base: 1 m²)
· Porção piramidal: (base: 1,00 m e altura: 0,38 m)
· Câmara de secagem: volume: 0,55 m³
· Pirâmide interna: (altura: 0,60 m e base: 2,75 m²)
· Pirâmide externa: (altura: 0,70 m e base: 3,86 m²)
Figura 55 – Vista geral do sistema de secagem pneumático.
(Palestra)
Secagem Combinada
Muito utilizada para milho e arroz, a secagem combinada
vem sendo aplicada com sucesso na secagem de café. Devido à
instabilidade da pré-secagem do café em terreiro, foram realizados
vários estudos utilizando a técnica da secagem em combinação
(alta temperatura na primeira fase e baixa temperatura ou ar natural
na segunda fase) para a secagem do café. Esta técnica foi
desenvolvida para evitar possível deterioração da qualidade e
solucionar problemas em decorrência de condições climáticas
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
66
desfavoráveis e de teor de umidade inicial elevado para a secagem
no silo.
Depois de separar adequadamente o café tipo cereja por
densidade, procede-se ao descascamento e à lavagem para retirar
parte da mucilagem. Em seguida, realiza-se uma pré-secagem, em
terreiro híbrido ou em secador de camada fixa, com revolvimento
da camada de café pelo menos a cada três horas.
A pré-secagem pode também ser realizada em outro sistema
de secagem em alta temperatura que funcione adequadamente para
café com alto teor de umidade e parte da mucilagem, como é o caso
do novo secador rotativo em adiantada fase de testes na UFV
(Figura 56). Em qualquer dos casos, o ar de secagem deve ser
aquecido indiretamente, quando se utiliza lenha, ou diretamente,
por meio de aquecedores a gás ou a carvão.
Na fase de secagem em alta temperatura, o café deve ser
secado até que o teor de umidade atinja valores próximos a 25%
b.u. (dependendo das condições climáticas) e, em seguida,
transferido para a secagem complementar, em silos com ar natural
ou levemente aquecido (deve-se aquecer o ar a uma temperatura tal
que a umidade relativa atinja valores próximos a 65%).
Além de evitar a deterioração do produto, a secagem em
combinação permite reduzir o tempo de secagem em alta
temperatura, aumentar a capacidade dinâmica dos secadores e
reduzir o consumo específico de energia em até 50%, quando
comparado com alguns processos tradicionais de secagem.
Figura 56 – Protótipo de secador rotativo (pré-secador),
modelo Barra do Choça. (Vídeo)
Sistemas de Secagem
67
Independentemente do tipo de pré-secagem, é importante
ressaltar que, em todas as fases do processamento, deve-se evitar
qualquer tipo de fermentação, a fim de que se obtenha, no caso do
café, alta qualidade e sabor natural. Para isso, o operador do
sistema de secagem em combinação deverá ficar familiarizado com
o processo e estar atento quanto à operação do sistema de
ventilação durante a segunda etapa de secagem.
A secagem combinada do café deve ser processada da
seguinte maneira:
· O café descascado e lavado deve ser transferido para o
sistema de pré-secagem o mais rápido possível e ter o teor
de umidade reduzido a um valor preestabelecido, segundo
as condições ambientais da fazenda (médias de temperatura
e umidade relativa durante a colheita).
· Além dos secadores em leito fixo e rotativo, qualquer tipo
de terreiro de qualidade comprovada pode ser indicado para
esta operação quando as condições climáticas forem
favoráveis. Na pré-secagem, quando utilizados secadores
em alta temperatura, deve-se, se possível, operar o sistema
utilizando fornalha que não contamine o produto e não
permita que a temperatura da massa de grãos ultrapasse
40oC, para não afetar a qualidade do café. Apesar de não ser
tão importante para o milho e para a soja, à semelhança do
café, a temperatura do arroz não deve ultrapassar 40oC.
· Logo após a transferência da primeira carga do produto para
o silo secador, deve-se acionar o sistema de ventilação e
mantê-lo ligado até que o produto da última subcamada
colocada no silo atinja um teor de umidade em torno de
16% b.u. Abaixo deste valor, o ventilador permanecerá
ligado somente durante os períodos em que a umidade
relativa do ar estiver abaixo de 70%, o que normalmente
ocorre durante o dia. O ideal seria acoplar um controlador
automático ao sistema de ventilação, para que este seja
acionado automaticamente para a faixa de umidade relativa
estabelecida. Apesar de se adicionar ao sistema um
dispositivo automático, o operador deve estar sempre atento
e inspecionar diariamente o sistema de secagem, a fim de se
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
68
certificar do funcionamento correto, para que não ocorra o
crescimento de fungos na camada que ainda está secando.
Uma nova camada só deve ser adicionada ao silo quando a
anterior já estiver seca ou em equilíbrio com o ambiente.
· Deve-se desligar o sistema de ventilação quando a umidade
do produto, na última subcamada, atingir o teor de umidade
de equilíbrio (próximo a 12% b.u.). O tempo para que isso
ocorra irá depender da altura total da camada de grãos no
silo, da quantidade adicionada, dos fluxos de ar no início e
no final do carregamentodo silo, das condições climáticas e
do teor de umidade inicial do produto. Na maioria das
regiões produtoras, a umidade de equilíbrio, dependendo do
produto, está próxima a 12,5% b.u. Ao desligar o sistema de
ventilação durante a fase de armazenagem propriamente
dita, o operador deve ter o cuidado de fechar a entrada de ar
do ventilador, para que não ocorram correntes de ar
indesejáveis, que possam possibilitar a reumidificação e
possível deterioração do produto.
· Depois de seco, o monitoramento do sistema consiste na
inspeção periódica (diária ou semanal) da temperatura e do
teor de umidade da massa de grãos. Caso ocorra
aquecimento ou aumento no teor de umidade, deve-se
verificar a causa e providenciar o acionamento do
ventilador, até que toda a massa de grãos volte às condições
normais.
Apesar de ser uma técnica consagrada para outros tipos de
grãos, antes de adotar a tecnologia de secagem em combinação
para café, sugere-se ao cafeicultor que, ao decidir pela aquisição de
tal sistema, consulte um especialista com reconhecido
conhecimento em secagem de café. Apesar de aparentemente
simples e de fácil adaptação a sistemas já existentes em fazendas, o
sistema de secagem em combinação é altamente dependente das
condições climáticas da propriedade, das tecnologias utilizadas
antes da operação de secagem em silos e do nível de treinamento
do cafeicultor. Isso quer dizer que nem sempre um sistema
indicado para uma propriedade será aplicável à propriedade
Sistemas de Secagem
69
vizinha. O especialista deve prestar seus serviços de maneira
individual, ou seja, deve conhecer as condições da propriedade e do
cafeicultor e orientá-lo a tirar o melhor resultado do sistema.
Apesar de o pequeno cafeicultor poder realizar a secagem
combinada com um número reduzido de silos, o que resulta em
menor custo de instalação, é altamente recomendada a adoção de
um sistema composto por sete silos, principalmente para um
produtor médio ou para uma unidade comunitária.
Este sistema consiste na utilização de sete silos ou tulhas
ventiladas (metálicas, de madeira ou em alvenaria), que serão
carregados por subcamadas e devem ser dimensionados para
receber, semanalmente, uma determinada quantidade de produto
com umidade inicial preestabelecida (Figura 57). Cada silo ou tulha
deverá, até o final da colheita, ter a sua carga completada. Quando
a última subcamada estiver seca, todas as outras já estarão em
equilíbrio com o ambiente, indicando o final da secagem. A partir
desse ponto pode-se, finalmente, desligar o sistema de ventilação.
O silo de número 7, ou silo reserva, deve estar sempre vazio para
solucionar problemas eventuais durante o período de colheita.
Figura 57 – Os sete silos.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
70
Seca-aeração
Seca-aeração é uma modificação do sistema convencional
de secagem em alta temperatura com a finalidade de reduzir o
consumo de energia, aumentar a capacidade de secagem e reduzir
os danos térmicos causados pela exposição do produto a altas
temperaturas por longos períodos de tempo.
No processo de seca-aeração, mostrado na Figura 58, um
produto como o milho ou a soja é secado até 2,5 pontos percentuais
acima do teor de umidade recomendado para o armazenamento.
Não utilizando a câmara de resfriamento, o produto ainda quente é
transferido para um silo auxiliar (silo têmpera), onde permanece em
descanso para que o calor residual redistribua a umidade em todo o
interior do grão, facilitando a retirada da umidade em excesso
quando for aplicada ventilação com baixo fluxo de ar.
O sucesso deste sistema depende muito da temperatura do
produto ao sair do secador (o grão deve atingir temperaturas que
não provoquem danos térmicos) e do seu tempo de repouso. Um
repouso de seis a oito horas é recomendado para produtos com
temperatura entre 45 e 50°C. Como dito anteriormente, o
resfriamento da massa de grãos é feito por aeração após o período
de repouso e só termina quando toda a massa de grãos atingir a
temperatura do ambiente.
A seca-aeração tem a desvantagem de requerer maior
investimento inicial, quando se utiliza o silo têmpera, e maior
manuseio do produto. Para sistemas de secagem e armazenamento
em fazendas, um silo ou uma tulha convencional poderá ser
adaptado para seca-aeração, não sendo necessário utilizar um silo
têmpera.
Num sistema de seca-aeração corretamente projetado para
milho, a redução de 25% para 15,0 - 12,5% (b.u.) no teor de
umidade deve resultar em um aumento em torno de 50% na
capacidade dos secadores e redução de 20 a 30% do combustível
gasto por tonelada de produto seco.
Usando o processo de seca-aeração, o teor de umidade do
café ou arroz deixando o sistema de alta temperatura deve ser de
aproximadamente 1,5 a 2,0% maior que o teor desejado para o
armazenamento. Além disso, a temperatura desses produtos dentro
do secador deve atingir, em um curto período, valores próximos a
Sistemas de Secagem
71
45oC para que se obtenha a vantagem da seca-aeração. A seguir, o
café, ou o arroz, deve ser transportado imediatamente para a tulha
de descanso, onde permanecerá por um tempo nunca inferior a seis
horas. Passado esse período, pode ser resfriado no próprio silo de
repouso ou ser transferido para ser resfriado durante o
armazenamento.
A seca-aeração apresenta três vantagens sobre a secagem
tradicional com altas temperaturas:
· Aumenta a capacidade dinâmica do secador.
· Reduz a necessidade energética.
· O produto apresenta secagem homogênea, que, para o caso
especial do café, é de fundamental importância para uma
boa classificação. Um lote de café que apresenta secagem
heterogênea é classificado como de torração “Má”.
Figura 58 – Esquema de funcionamento do processo de seca-
aeração.
 Tecnologias de Secagem e Armazenagem para a Agricultura Familiar
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	Secagem em terreiros
	Manejo do terreiro para secagem de café
	Localização e Construção do Terreiro Convencional
	Resumo dos cuidados com o uso dos terreiros
	Secagem em Terreiro Híbrido e em Terreiro Convencional
	Secagem a Baixas Temperaturas
	Silo secador
	Carregamento do silo
	Operação do ventilador
	Duração da secagem
	Alternativas tecnológicas de secagem
	Secagem com energia solar
	O coletor de energia solar
	Outros secadores com energia solar
	Terreiro suspenso portátil
	Terreiro suspenso móvel
	Secador por Convecção Natural
	Secador Flex
	Secagem em Camada Fixa
	Secador Pneumático
	Secagem Combinada
	Seca-aeração
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