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Imunologia - Fernando Zanette

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Imunologia 3ª Fase – Fernando Netto Zanette – Med. UFSC 13.2 
 Distúrbios de hipersensibilidade 
Não obstante a imunidade inata desempenhe importante papel no combate a organismos invasores, as 
resposta imunológicas – quando demasiadas - possuem também a capacidade de acarretar lesão tecidual e 
doenças. Os distúrbios causados pela resposta imunológica recebem a denominação de doenças de hipersensibi-
lidade. 
 Causas de doenças de hiper-
sensibilidade 
De modo geral, as reações de hipersensibili-
dade requerem um estado pré-sensibilizado (imune) 
do hospedeiro para que se manifestem. As respostas 
imunológicas contra antígenos de diferentes fontes 
podem ser causa subjacente de distúrbios de 
hipersensibilidade. 
 Autoimunidade: a falha dos me-
canismos normais de autotolerância resulta em 
reações contra células e tecidos próprios, o que é 
chamado de autoimunidade. As doenças causadas 
pela autoimunidade recebem a denominação de 
doenças autoimunes. Estima-se que as doenças 
autoimunes afetem cerca de 2% a 5% da população 
de países desenvolvidos, com o número crescendo 
cada ano. Muitas dessas doenças são comuns em 
indivíduos com faixa etária entre 20 e 40 anos, além 
de se mostrarem mais comuns no sexo feminino. As 
doenças autoimunes são crônicas e debilitantes e 
apresentam um enorme custo médico e econômico. 
 Reações contra microrganismos: 
respostas imunológicas contra antígenos 
microbianos podem causar doenças se as reações 
forem excessivas ou se os microrganismos forem 
incomumente persistentes. A resposta medida por 
células T contra microrganismos persistentes pode 
originar uma inflamação grave, certas vezes, com 
formação de granulomas; essa é a causa de lesão 
tecidual na tuberculose e algumas outras infecções 
crônicas. Caso anticorpos sejam produzidos contra 
antígenos microbianos, os anticorpos podem se ligar aos antígenos produzindo complexos (os imunocomplexos, 
aprofundados adiante), que se depositam nos tecidos e desencadeiam inflamação. Mais raramente, no entanto, 
anticorpos ou células T contra microrganismos podem provocar uma reação cruzada com o tecido hospedeiro. 
Em algumas doenças que envolvem o trato intestinal – denominadas doença intestinal inflamatória – a 
resposta imunológica é dirigida diretamente contra bactérias comensais que normalmente residem no intestino e 
não acarretam nenhum dano. Algumas vezes, a resposta imunológica que causa a doença pode ser totalmente 
normal, contudo, no processo de erradicação da doença, os tecidos hospedeiros sofrem lesão. 
Ilustração esquemática de exemplos de doenças autoimunes recorrentes 
 Reações contra antígenos ambientais: a maioria dos indivíduos saudáveis não reage contra 
substâncias ambientais comuns, em geral, inofensivas. Contudo, cerca de da população responde de forma 
anormal a uma ou mais dessas substâncias. Esses indivíduos produzem anticorpos imunoglobulina E (IgE), que 
provocam doenças alérgicas. Alguns indivíduos tornam-se sensíveis a antígenos ambientais e químicos, quando 
em contato com a pele, e desenvolvem reações mediadas por células T que desencadeiam inflamação mediada por 
citocinas, resultando em sensibilidade de contato. 
Em todas essas ocasiões, os mecanismos de lesão tecidual são os mesmo que normalmente apresentam a 
função de eliminar patógenos infecciosos. Esses mecanismos incluem resposta imunológica inata, anticorpos, 
linfócitos T, várias outras células efetoras e mediadores de inflamação. O problema nas doenças de 
hipersensibilidade é que a resposta é desencadeada e mantida de forma inadequada. Como o estimula para essa 
resposta imunológica anormal é difícil ou impossível de ser eliminado, e o sistema imunológico possui muitos 
mecanismos de retroalimentação positivos (mecanismos de amplificação), uma vez que a resposta imune 
patológica inicia, é difícil controla-la ou interrompê-la. Por isso essas doenças de hipersensibilidade tendem a se 
tornar crônicas e a progredir, tornando-se grandes desafios terapêuticos para a medicina clínica. 
 Classificação das reações de hipersensibilidade (Gell-Coombs) 
As doenças de hipersensibilidade costumam ser classificadas de acordo com o tipo de resposta imunológi-
ca e o mecanismo efetor responsável pela lesão celular e tecidual. 
 Hipersensibilidade do tipo I (imediata) 
Também denominada de anafilática, esse tipo de hipersensibilidade tem como mediadores IgE específicos 
para antígenos solúveis ambientais e mastócitos, sendo que essa reação sofre amplificação ou modificação pelas 
plaquetas, neutrófilos e eosinófilos. A hipersensibilidade imediata enquadra-se como o tipo de doença de 
hipersensibilidade mais prevalente do mundo e recebe comumente a denominação de alergias ou desordens 
atópicas. Esse tipo de desordem constitui o protótipo das doenças causadas pela ativação da subpopulação de 
células TH2 de linfócitos T auxiliares (helper), em que as células T estimulam a produção de IgE e inflamação. 
As reações de hipersensibilida-
de imediata – também chamadas de 
atopias ou alergias - podem causar 
uma gama muito grande de sintomas, 
desde desconfortos e inconveniências 
mínimas até a morte. Essas reações 
tendem a ocorrer entre 15-30 minutos 
após o contato com o antígeno, não 
obstante, às vezes, possa ter um início 
mais demorado, de 10 a 12 horas. O 
mecanismo de reação envolve 
produção preferencial de IgE em 
resposta a certos antígenos (mais 
precisamente, os alérgenos). 
 Ativação de célu-
las Th2 
Deve-se ressaltar, aqui, a 
importância das células Th2. Células 
dendríticas nos epitélios por onde os 
alérgenos adentram o corpo – como olfatório – capturam esses antígenos, processam-nos e os apresentam a 
células T CD4
+
 virgens (naïve), as quais se diferenciam em células Th2. Estas, então, induzem a células B - por 
meio de ações do ligante CD40 e das citocinas IL-4 e IL-13 - a produzir IgE específicos para o antígeno em 
questão. 
Esquematização dos mecanismos e efeitos por trás da hipersensibilidade de Tipo I ou imediata 
O IgE produzido se liga a receptores específicos nos mastócitos (Fcε) e nos basófilos. Quando esses 
anticorpos IgE associados às células realizam ligação cruzada – imprescindível para a ativação celular - com um 
antígeno conhecido, as células sofrem ativação (degranulação) para liberar rapidamente uma variedade de 
mediadores, os quais, coletivamente, promovem um aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação e 
contração do músculo liso brônquico e visceral. Esses mediadores se responsabilizam, logo, pela resposta 
alérgica do indivíduo. 
Os mastócitos podem, ainda, ser iniciados por meio de outros estímulos não alergênicos, tais como o 
exercício, estresse emocional, agentes químicos, anafilotoxinas (C4a, C3a, C5a). Essas, todavia, não se qualificam 
como reações de hipersensibilidade, não obstante produzam os mesmos sintomas clínicos. 
Uma produção acentuada de anafilotoxinas, 
como a C5a, pode desencadear um quadro de 
choque anafilático. 
Nucleotídeos cíclicos apresentam um papel 
significante sobre a intensidade e efeitos da 
hipersensibilidade imediata, embora sua função 
exata ainda não esteja completamente 
compreendida. Substâncias que alteram os níveis 
de AMPc e GMPc modificam de modo 
significativo os sintomas alérgicos. Dessa maneira, 
substâncias que aumentam AMPc intracelular – 
como a teofilina e o isoproterenol, para tratamento 
de asma – parecem aliviar os sintomas alérgicos, 
sendo utilizados terapeuticamente. Por outro lado, 
agentes que diminuem AMPc ou estimulam GMPc 
tendem a agravar as condições alérgicas. 
A hipersensibilidade imediata pode ser 
dividida por meio de duas fases: 
 Reação de fase rápida: originária dos mediadoresmastocitários, como a histamina princi-
palmente, que promove todo o espectro celular e molecular já explicado, com aumento da vascularização local, 
por exemplo. As primeiras mudanças clínicas perceptíveis se demonstram pela reação de pápula e de halo 
eritematoso (borda vermelha característica) para a injeção intradérmica de um alérgeno. Isso tudo tende a ocorrer 
entre 5 a 10 minutos após a exposição ao antígeno conhecido; 
 Reação de fase tardia ou lenta: caracterizada pelo acúmulo de neutrófilos, eosinófilos, basó-
filos e células CD4
+
 Th2. Processa-se entre 2 a 4 horas após a reação imediata de pápula e eritema. As citocinas 
proveniente desta subpopulação de Thelper e os mastócitos – bem como os mediadores lipídicos produzidos por 
estes – responsabilizam-se por essa reação. Essa reação se encontra mediadas por leucotrienos. 
Testes diagnósticos para hipersensibilidade imediata incluem testes de pele (perfuração e intradérmico), e 
por uma modificação do ensaio imunoenzimático (ELISA), em que se mede os níveis de anticorpos IgE totais e 
anticorpos IgE específicos para o antígeno. 
Estudos revelaram que há certa predisposição genética ao desenvolvimento de alergias e doenças atópicas, 
estando mutações no próprio MHC humano (HLA) envolvidas com essa hipersensibilidade. Podemos citar, como 
exemplo, a associação de mutações no MHC de classe II com o 
desenvolvimento de asma. 
O tratamento sintomático dessas doenças, usualmente, conse-
gue-se por meio de anti-histamínicos que bloqueiam os receptores de 
histamina. Juntamente a isso, o uso de anticorpos IgG contra porções 
Fc de IgE que se ligam a mastócitos tem sido aprovado no tratamento 
de certas alergias, visto que bloqueia a sensibilização de mastócitos. 
Como já falado, nos casos de reação alérgica se costuma utilizar 
antiistamínicos – já que a principal substância liberada pelos 
Esquematização dos mecanismos da asma alérgica 
Sintomatologia típica de reação anafilática 
mastócitos é a histamina – e corticoides. Por outro lado, no caso de choque anafilático, recomenda-se o 
tratamento com adrenalina/epinefrina pela via muscular, sendo considerado uma manobra emergencial. 
Por fim, a hipossensibilização (imunoterapia ou dessensibilização) qualifica-se como outra modalidade de 
tratamento bem sucedida para certas alergias, particularmente relacionado a venenos de insetos e, até certo ponto, 
pólens. O mecanismo ainda não está claro, no entanto existe certa correlação entre o aparecimento de anticorpos 
bloqueadores de IgG e o alívios dos sintomas. Além disso, células T supressoras (Treg) que inibem especificamen-
te anticorpos IgG também participam dessa hipossensibilização. 
 Não há cura para as reações de hipersensibilidade tipo I, apenas a profilaxia de não exposi-
ção ao antígeno desencadeador da reação. 
Exemplos de reações alérgicas de tipo I: 
 Reação alérgica sistêmica (anafilaxia). O tipo mais grave de anafilaxia – o choque anafilático 
– provoca inchaço e obstrução das vias aéreas superiores e/ou hipotensão imediata, e, caso não tratado, pode ser 
fatal; 
 Asma atópica/alérgica; 
 Urticária; 
 Rinite alérgica; 
 Dermatite atópica (ou eczema atópico); 
 Alergias alimentares e farmacológicas; 
 Gastroenterite; 
 Hipersensibilidade de tipo II (citotóxica) 
A hipersensibilidade citotóxica tem com causa anticorpos IgG e IgM que provocam lesão tecidual por 
meio da ativação do sistema complemento, pelo recrutamento de células inflamatórias (leucócitos) e/ou por 
interferir nas funções celulares normais. Em outras palavras, são doenças causadas por anticorpos contra 
antígenos celulares e teciduais, atacando especificamente células ou tecidos onde os antígenos se encontram e, em 
geral, tais doenças não apresentam caráter 
sistêmico. Alguns desses anticorpos são 
específicos para antígenos de determinadas 
células ou da matriz extracelular, sendo 
encontrados ligados a células, tecidos ou 
anticorpos livres na circulação. 
Os antígenos desencadeadores dessa 
reação mostram-se, usualmente, de origem 
endógena, embora agentes químicos exógenos 
(haptenos) que conseguem se ligar a 
membranas celulares apresentam a capacidade 
de promover a hipersensibilidade tipo II. O 
tempo de reação costuma durar de minutos a 
horas. 
Anticorpos (IgG ou IgM) são direcio-
nados contra antígenos nas células do próprio 
indivíduo ou contra anticorpos estranhos ao 
hospedeiro, como os adquiridos por meio de 
uma transfusão sanguínea. Isso pode 
desencadear uma ação citotóxica pelas células 
NK, ou uma lise mediada pelo sistema 
complemento. 
Esquematização dos três mecanismos da hipersensibilidade citotóxica 
Os anticorpos que causam doenças celulares ou teciduais específicas normalmente são autoanticorpos 
produzidos como parte de uma reação autoimune contra antígenos nessas células ou tecidos. 
Testes diagnósticos incluem detecção de anticorpos circulantes contra tecidos envolvidos e a presença de 
anticorpos e complemento no local da lesão (biópsia) por imunofluorescência. O padrão de coloração é 
normalmente suave e linear, tal como visto na nefrite de Goodpasture (membrana basal renal e pulmonar) e 
pênfigo (proteína intercelular da pele, desmossomo). 
O tratamento, de forma geral, envolve agentes antiinflamatórios e imunossupressores. 
Exemplos de doenças de hipersensibilidade tipo II: 
 Anemia hemolítica autoimune; 
 Síndrome de Goodpasture (cria anticorpos contra o constituinte de membrana basal dos glomé-
rulos) A membrana basal das células pulmonares é semelhante ao dos glomérulos, podendo, assim afetar também 
os pulmões. Por isso é uma síndrome; 
 Trombocitopenia hemolítica autoimune (púrpura trombocitopenia autoimune; tratamento com 
soro anti-Rh); 
 Doença hemolítica do recém-nascido (eritroblastose fetal); 
 Miastenia grave (produção de anticorpo contra o receptor de acetilcolina; sintoma principal é 
fraqueza muscular); 
 Pênfigo vulgar; 
 Vasculite causada por anticorpos citoplasmáticos antineutrófilos (ANCA); 
 Febre reumática aguda; 
 Doença de Graves (estímulo dos receptores TSH; hipertireoidismo); 
 Anemia perniciosa (bloqueio do fator intrínseco, diminuindo absorção de B12; eritropoi
 ese anormal); 
 Tireoidite de Hashimoto (bloqueia os receptores TSH; hipotireoidismo); 
 Diabetes insulina resistente; 
 Hipersensibilidade de tipo III (por imunocomplexos) 
A hipersensibilidade responsável pelo lúpus eritematoso sistêmico (SEL) possui como causa principal os 
agregados antígenos-anticorpos conhecidos como complexos imunes ou imunocomplexos. Nesses casos, os 
imunocomplexos acabam por se formar na circulação e, subsequentemente, depositam-se nos tecidos, o que 
acarreta lesão. 
Citemos um exemplo clássico na 
literatura: anticorpos de um animal (um 
cavalo, por exemplo) introduzidos em 
nossa circulação – como nos casos de 
tratamento de veneno de cobra – funcionam 
como antígenos ao organismo, 
desencadeando uma resposta imunológica, 
com a consequente produção de anticorpos. 
Estes, unidos aos anticorpos do animal, 
acabam por formar os agregados ou 
imunocomplexos. A doença promovida por 
meio desses imunocomplexos (anticorpos e 
proteínas séricas do cavalo) ficou 
conhecida com doença do soro. 
 Deve-se ressaltar que os imunocom-
Ilustração esquemática do processo pelo qual os imunocomplexos acarretam a lesão tecidual 
plexos não se restringem, no entanto, a anticorpos ligados a antígenos estranhos, mas também abrangem 
anticorpos ligados a antígenos próprios. 
As características patológicas das doenças causadas por imunocomplexos refletem o local da deposição 
dos agregados, e não da fonte celular do antígeno. Dessa maneira, esse tipo de doenças tende a acometer 
múltiplos tecidose órgãos, apesar de que alguns se mostram particularmente mais susceptíveis, tais como os rins 
e a articulações. 
Os imunocomplexos de tamanho diminutos sofrem excreção renal; os maiores, destruição pelos anticorpos; 
por fim, os intermediários se depositam nos tecidos, essencialmente em vasos sanguíneos, serosas - pleura, 
pericárdio, membrana sinovial (articulações) - e glomérulos renais. Graças à ação da IgG e IgM, esses 
imunocomplexos ativam o sistema complemento, provocando inflamação e hipersensibilidade. 
A reação do tipo III pode ser classificada como geral (doença do soro) ou localizada, envolvendo órgãos 
individuais, como pele (lúpus eritematoso sistêmico, reação de Arthus), rins (nefrite do lúpus), pulmões 
(aspergilose), vasos sanguíneos (poliarterite), juntas (artrite reumatoide) ou outros tecidos. 
Os complexos antígeno-anticorpo são produzidos durante as respostas imunes normais, todavia eles causam 
enfermidade somente quando produzidos em quantidades excessivas, não são eliminados de forma eficiente e se 
depositam nos tecidos. 
A quantidade de deposição dos imunocomplexos se determina pela natureza do complexo e as característi-
cas dos vasos sanguíneos. Complexos pequenos, muitas vezes, não sofrem fagocitose e tendem a se depositar nos 
vasos mais comumente que complexos grandes, os quais costumam ser eliminados pelos fagócitos. Os 
imunocomplexos tendem a se depositar nos rins e na sinóvia das articulações devido ao fato de o plasma nessas 
regiões ser ultrafiltrado (para formar urina e líquido sinovial, respectivamente) pela passagem através da parede 
dos capilares em alta pressão hidrostática. 
Além de se depositarem nos tecidos, os imunocomplexos apresentam a capacidade de se ligar a receptores 
Fc de mastócitos e leucócitos e ativar essas células para secretarem citocinas e mediadores vasoativos. Esses 
mediadores podem causar a deposição de mais imunocomplexos por aumentarem a permeabilidade vascular e o 
fluxo sanguíneo. 
A reação costuma levar de três a dez 
horas após a exposição ao antígeno (como na 
reação de Arthus), sendo mediada por 
complexos imunes solúveis – na maioria de 
classe IgG, embora IgM também possa estar 
envolvida. Os antígenos que compõem os 
complexos podem possuir caráter exógeno 
(bacteriano crônico, viral ou infecção 
parasitárias) ou endógeno (autoimunidade 
não órgão-específica). 
A deposição de imunocomplexos nas 
paredes dos vasos desencadeia uma 
inflamação mediada por receptores Fc e 
complemento, bem como lesão dos vasos e 
tecidos adjacentes. 
O diagnóstico envolve exame de 
biópsia do tecido para depósitos de Ig e 
complemento por imunofluorescência. A 
coloração imunofluorescente na 
hipersensibilidade tipo III é granular (ao 
contrário da linear no tipo II, como visto na 
Síndrome de Goodpasture). A presença de 
complexos imunes no soro e a diminuição do 
nível do complemento também são bons 
meios de diagnóstico. Turbidez mediada por 
polietileno-glicol (nefelometria), ligação de Gráfico ilustrativo resumindo as características principais dos três primeiro tipos de 
hipersensibilidade 
C1q e teste celular de Raji se utilizam para detectar imunocomplexos. 
O tratamento inclui agentes antiinflamatórios. 
Exemplos de doenças humanas/reações causadas por imunocomplexos: 
 Poliarterite nodosa; 
 Reação de Arthus (vasculite experimental); 
 Glomerulonefrite pós-estreptocócica; 
 Lúpus eritematoso sistêmico (SLE); 
 Várias formas de nefrites e vasculites; 
 Hipersensibilidade de tipo IV (tardia) 
Conhecida também como hipersensibilidade mediada por células ou DTH (Delayed Hypersensitivity 
Reactions), a de tipo IV tem sua causa localizada nos linfócitos T. A lesão tecidual por esses linfócitos pode 
ocorrer, basicamente, de duas maneiras: 
 Devido ao desencadeamento de processos inflamatórios mediado por citocinas de células T 
auxiliares; 
 Por meio da eliminação direta das células-alvo pelas células T citotóxicas; 
 Inflamação mediada por citocinas 
Na inflamação imunomediada, 
as células Th1, Th2 e Th17 das células 
T CD4
+
 secretam citocinas que 
recrutam e ativam leucócitos – como 
a IL-17, produzida pela subpopulação 
Th17. A lesão tecidual, dessa maneira, 
resulta de produtos de neutrófilos e 
macrófagos ativados, como enzimas 
lisossomais, espécies reativas de 
oxigênio (ROS), óxido nítrico e 
citocinas pró-inflamatórias. 
A inflamação associada a 
doenças mediadas por células T se 
mostra, usualmente, crônica, no 
entanto episódios de inflamação 
aguda podem se sobrepor em um 
histórico crônico. As lesões 
inflamatórias crônicas, com 
frequência, acarretam fibrose como 
resultado da secreção de citocinas e 
de fatores de crescimento pelos macrófagos. 
Muitas doenças autoimunes específicas de órgãos são causadas pela interação de células T autorreativas 
com antígenos próprios, levando à liberação de citocinas e inflamação, como é o caso da artrite reumatoide, da 
esclerose sistêmica, do diabetes tipo I, da psoríase e de outras doenças autoimunes. 
As reações das células T contra microrganismos e outros antígenos estranhos também podem levar à 
inflamação e lesão tecidual nos locais da infecção ou de exposição do antígeno. A tuberculose se mostra um bom 
exemplo de doença infecciosa na qual a lesão tecidual se deve principalmente à resposta imunológica do 
hospedeiro. Grande parte da dispneia associada à tuberculose u infecção fúngica crônica pulmonar tem origem na 
substituição de tecido pulmonar normal por tecido fibrótico devido à resposta inflamatória exagerada. 
Ilustração dos processos responsáveis pela hipersensibilidade tardia mediada por citocinas 
As doenças cutâneas resultando de exposição tópica a substâncias químicas e antígenos ambientais - 
denominadas sensibilidade de contato – devem-se a reações inflamatórias, presumivelmente desencadeadas por 
neoantígenos formados pela ligação das substâncias químicas a proteínas próprias. Temos, como exemplos, o 
rash cutâneo por hera venenosa e carvalho venenoso, e o eritema induzido/dermatite de contato pelo contato 
com substâncias químicas, com o tiuram (utilizado na confecção de luvas de látex). Algumas dessas reações se 
tornam crônicas e, clinicamente, recebem a denominação de eczema. 
As linfocinas importantes envolvidas na reação da hipersensibilidade tardia incluem fator quimiotático dos 
monócitos, interleucina-2 (IL-2), interferon-gama (IFN-gama) e TFN alfa/beta. 
 Eliminação direta via linfócitos T citotóxicos 
As células T citotóxicas possuem como função vital eliminar microrganismos intracelulares – como vírus 
- por meio da destruição da célula infectada. Dessa 
maneira, a resposta das células T citotóxicas a uma 
infecção viral pode desencadear lesão tecidual em 
decorrência da morte celular demasiada, mesmo que o 
vírus em si não apresente efeito citopático – ou seja, 
não lese diretamente a célula parasitada. Pode-se citar, 
como exemplo de infecção viral na qual as lesões se 
devem à resposta por CTL do hospedeiro, certas 
formas de hepatite viral. 
As células T citotóxicas, além disso, apresentam 
a capacidade de contribuir para o dano tecidual em 
distúrbios autoimunes causados em sua maior parte por 
células T CD4
+
, como o diabetes tipo I. Existem 
poucos exemplos na literatura acerca de doenças 
autoimunes mediadas exclusivamente por CTL. 
Testes diagnósticos in vivo incluem reação 
cutânea tardia (por exemplo, Mantoux, teste 
intradérmico para avaliação da exposição ao 
Mycobacterium tuberculosis) e teste local (para 
dermatite de contato). Cita-se, como exemplos de teste 
in vitro para essa hipersensibilidade, resposta 
mitogênica, linfo-citotoxicidade e produção de IL-2.Para o tratamento dessas doenças, costuma-se 
utilizar corticosteroides e outros agentes 
imunossupressores. 
A hipersensibilidade do tipo IV se encontra 
envolvida na patogênese de muitas doenças autoimunes 
e infecciosas (como tuberculose, hanseníase, 
blastomicose, toxoplasmose) e granulomas devido a infecções e antígenos estranhos. Outra forma importante de 
hipersensibilidade tardia é a dermatite de contato (por hera venenosa, agentes químicos, metais pesados) nos 
quais as lesões se dispõem com característica papular. 
Várias formas de hipersensibilidade do tipo IV encontram-se na literatura: hipersensibilidade por contato 
(48-72 horas), hipersensibilidade tipo tuberculínica (48-72 horas) e hipersensibilidade granulomatosa (21-28 
dias). 
Exemplos de doenças/reações por hipersensibilidade tardia: 
 Doença de Crohn; 
 Dermatite de contato; 
 Hanseníase; 
Esquematização da hipersensibilidade tardia e seus principais mecanismos 
de ação; 
 Tuberculose; 
 Sarcoidose; 
 Esquistossomose; 
 
 Testes cutâneos mais relevantes 
A sensibilidade de um teste está relacionada à sua capacidade de detectar determinada substância a partir de 
sua concentração. Um teste que consegue detectar pequenas concentrações de determinada substância apresenta 
uma alta sensibilidade. 
 Prick-test 
O teste de punctura ou puntura – também conhecido como 
“prick-test” – qualifica-se como o mais utilizado na prática clínica 
diária devido à sua fácil execução e alta segurança. Esse teste tem 
como objetivo a avaliação da hipersensibilidade mediada por IgE 
ou imediata. O local preferencial para a técnica é a face média 
ventral dos antebraços, limpando-se a pele não lesada do paciente 
com algodão e álcool etílico. 
Após a limpeza, uma gota de cada substância a ser testada, 
em duplicata, em cada antebraço, é colocada na epiderme do 
paciente. A pele, então, sofre perfuração perpendicularmente 
através da gota com uma lanceta individual para cada antígeno, 
fazendo-se pressão suficiente durante cinco segundos para que a 
ponta da lanceta penetre a epiderme. Imediatamente após, a pele é 
enxugada com papel toalha. Usualmente, utiliza-se um controle 
para eliminar falso-positivos (como soro fisiológico para a 
Tipo de sensibilidade Mecanismos imunopa-
tológicos 
Mecanismos de lesão teci-
dual e doença 
Exemplos 
Hipersensibilidade imedi-
ata: Tipo I 
Anticorpos IgE; Mastócitos e seus mediado-
res (aminas vasoativas, me-
diadores lipídicos, citoci-
nas); 
Anafilaxia, rinite alér-
gica, dermatite atópica, 
asma atópica; 
Mediada por anticorpos: 
Tipo II 
Anticorpos IgM e IgG 
contra antígenos de 
superfície celular ou de 
matriz extracelular; 
Opsonização e fagocitose de 
células; 
Recrutamento e ativação de 
leucócitos mediados por 
receptor Fc e complemento; 
Anormalidades nas funções 
celulares; 
Rejeição hiperaguda a 
transplantes de órgãos, 
incompatibilidade sis-
tema ABO em transfu-
sões, Tireoidite de 
Hashimoto, Síndrome 
de Goodpasture; 
Mediada por complexos 
imunes: Tipo III 
Complexos imunes de 
antígenos circulantes e 
anticorpos; 
Recrutamento e ativação de 
leucócitos mediados por 
receptor Fc e complemento; 
Lúpus Eritematoso 
Sistêmico (SLE), rea-
ção de Arthus, artrite 
reumatoide; 
Mediada por células T: 
Tipo IV 
Células T CD4
+
 (infla-
mação mediada por 
citocinas); 
Células T CD8
+
 (citóli-
se mediada por células 
T); 
Recrutamento e ativação de 
leucócitos; 
Morte celular direta, infla-
mação mediada por citoci-
nas; 
Dermatite de contato, 
asma crônica, tubercu-
lose, Doença de Crohn, 
hanseníase, toxoplas-
mose, leishmaniose; 
Ilustração do método cutâneo de prick-test 
substância controle, já que o soro dificilmente desencadeará alguma reação). 
A leitura se faz após 15 minutos à exposição do antígeno. As pápulas obtidas são delimitadas com uma 
caneta esferográfica de ponta fina, sendo considerados positivos os testes cujas pápulas apresentam diâmetro igual 
ou superior a 3mm. 
 Teste intradérmico 
Esse teste possui a capacidade de ser utilizado para avaliação de hipersensibilidade imediata, hipersensibi-
lidade mediada por imunocomplexos ou hipersensibilidade tardia a um determinado antígeno, o qual é injetado na 
derme superior com seringa e agulha apropriadas. O teste intradérmico se mostra indicado quando o teste de 
punctura for negativo. A via intradérmica não se recomenda para testes com alimentos pelo maior risco de 
reações anafiláticas. 
A preparação se mostra igual à para o teste de punctura, com o antebraço sendo sítio preferencial para a 
aplicação. Injeta-se 0,05 a 0,1 mL do antígeno com a agulha, e a leitura se faz após 15 a 30 minutos no caso da 
reação de Tipo I; após quatro a oito horas, na reação de Tipo III; ou após 24 a 48 horas, na reação de Tipo IV. 
 Testes de contato (TC) 
O teste de contato – ou patch test - utiliza-se para detectar e definir 
possíveis agentes químicos exógenos que possam causar determinada dermatite 
alérgica de contato (reação de Tipo IV). O teste de contato é uma exposição 
experimental feita em condição especial, limitada local e temporalmente. Não 
se deve aplicar o TC em locais lesados ou com dermatites, sendo a região 
dorsal do tronco o sítio mais recomendado. 
A primeira leitura se faz após 48 horas, ao passo que a segunda se realiza 
após 96 horas da colocação do teste. As reações alérgicas de contato por 
hipersensibilidade tendem a aumentar entre a primeira e a segunda leitura, ao 
contrário das reações irritantes que, no geral, diminuem entre a primeira e a 
segunda leitura. 
Os pacientes não deverão estar em uso de corticoides sistêmicos ou 
imunossupressores 30 antes do Tc, enquanto que corticoides tópicos não devem 
ser aplicados no local da aplicação do TC pelo menos 72 horas antes destes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Método de teste de contato, ou patch test 
 Imunodeficiência 
A imunodeficiência se caracteriza como a falha do sistema imunológico em proteger o corpo contra 
doenças ou malignidades. A imunodeficiência pode ser dividida em imunodeficiência primária – causada por 
defeitos no desenvolvimento do sistema imune ou mutações genéticas – e em imunodeficiência secundária ou 
adquirida – composta pela perda da função do sistema imune mediante resultado da exposição a agentes de 
doenças, fatores ambientais, imunossupressão ou envelhecimento. 
A principal consequência da imunodeficiência é 
um aumento da susceptibilidade à infecção. A 
imunidade humoral deficiente, por exemplo, acarreta 
maior facilidade à instalação de infecções por 
encapsulados, bactérias de formação de pus e alguns 
vírus, ao passo que os defeitos na imunidade mediada 
por células levam às infecções por vírus e outros 
microrganismos intracelulares. Pacientes 
imunodeficientes costumam apresentam quadros de 
infecções que, em indivíduos imunocompetentes, se 
resolveriam espontaneamente, as chamadas infecções 
oportunistas. 
Além disso, indivíduos imunodeficientes 
possuem maior susceptibilidade também ao 
desenvolvimento de certos tipos de câncer, como 
aqueles provocados por vírus oncogênicos. 
 A maior causa de imunodeficiência 
em escala global é a desnutrição. 
Os linfócitos B costumam ser os mais afetados na imunodeficiência primária. Cerca de 50% das imunode-
ficiências primárias, logo, afetam os anticorpos. A IgA se mostra a mais comprometida, devido ao fato de se 
encontrar em todas as mucosas do organismo. 
 Imunodeficiência primária 
Como dito, as imunodeficiências 
primárias – também denominadas 
imunodeficiênciascongênitas – provém de 
defeitos herdados do sistema imune. A 
anormalidade etiológica nesse tipo de 
imunodeficiência pode residir em 
componentes do sistema inato, em estágios 
diferentes do desenvolvimento dos 
linfócitos, ou nas respostas de linfócitos 
maduros à estimulação antigênica, 
participando nos mecanismos específicos ou 
não específicos. Os defeitos se classificam 
com base no local da lesão nas vias do 
desenvolvimento ou de diferenciação do 
sistema imune. 
 Defeitos no sistema 
imune específico 
Existe uma variedade gigantesca de 
imunodeficiências que resultam de defeitos 
Esquematização dos principais exemplos de imunodeficiência adquirida 
Ilustração das principais causas de imunodeficiências 
na diferenciação de células-tronco e envolvem células T, células B e/ou imunoglobulinas de diferentes classes e 
subclasses. 
Um defeito no início da hematopoiese que envolve células-tronco resulta em disgenesia reticular que 
acarreta defeitos imunes gerais e subsequente susceptibilidade a infecções. Tal condição se mostra 
frequentemente fatal, mas muito rara. 
 Imunodeficiência Combinada Grave 
A imunodeficiência combinada grave (SCID) caracteriza-se como uma 
desordem imune marcada por deficiência de células T e prejuízo direto ou indireto 
de células B. Esse quadro – que pode acometer a imunidade na infância – advém de 
diferentes causas genéticas, as quais promovem uma resposta inadequada a processos 
infecciosos. 
Em cerca de 50% dos pacientes de SCID a imunodeficiência se encontra 
relacionado ao X – manifestando-se mais comumente, logo, indivíduos do sexo 
masculino -, ao passo que na outra metade a deficiência possui caráter autossômico. 
Ambas se caracterizam por uma ausência de imunidade por células T e B e 
consequente ausência ou redução no número de linfócitos circulantes T e B. 
A SCID ligada ao X é devida a um defeito na cadeia gama da IL-2 que também 
é compartilhada com IL-4, IL-7, IL-11 e IL-15, todas elas envolvidas na proliferação 
e/ou diferenciação linfocitária. Por outro lado, as SCIDs autossômicos ocorrem por 
defeitos em genes da ADA ou da PNP, que levam ao acúmulo de dATP ou dGTP, e 
causam toxicidade em células tronco linfoides. Em suspeita de SCID, o paciente não 
deve receber vacinas com vírus atenuado, pois isso levará ao desenvolvimento da 
doença. 
O diagnóstico se baseia na enumeração de células T e B e na medida da 
imunoglobulina. As imunodeficiências combinadas graves podem ser tratadas por 
meio do transplante de medula óssea. 
 Desordens de células T 
 Síndrome de DiGeorge 
Essa síndrome se qualifica como a mais claramente definida imunodeficiência 
de células T, sendo também conhecida como aplasia tímica congênita ou 
imunodeficiência com hipoparatireoidismo. A síndrome está associada com hipoparatireoidismo, doença 
cardíaca congênita, orelhas de implantação baixa e boca pequena. Em pacientes com DiGeorge severamente 
imunodeficientes, as vacinas atenuadas podem acarretar infecções progressivas. 
 Síndrome de Wiskott-Aldrich 
A Síndrome de Wiskott-Aldrich salienta-se como uma doença ligada ao X que leva à disfunção da 
proteína Wiskott-Aldrich (Wap), essencial para inúmeros processos de maturação e funcionalidade de células 
hematopoiéticas. O espectro clínico da doença se mostra com manifestação de eczema, trombocitopenia e 
susceptibilidade à infecção bacteriana. Algumas das anormalidades nesse distúrbio podem ser atribuídas à 
ativação defeituosa das células T – a qual piora progressivamente com a doença, não obstante a perda intrínseca 
da função das células B também contribua para a patogênese. 
Exemplo de mecanismo envolvido na 
manifestação de SCID (note a não 
diferenciação dos percursores linfoides 
com consequente ausência de células 
NK e células T) 
 Síndrome do Linfócito Desnudo 
A síndrome do linfócito desnudo - conhecida também como deficiência de MHC II – caracteriza-se por 
anormalidades de expressão do complexo de histocompatibilidade de classe II, levando à ausência da molécula 
em inúmeras APC. Isso pode resultar na diminuição de células T CD4
+
 por falhas nos processos de ativação e 
amadurecimento celular dependentes da apresentação de antígenos ligados ao MHC II para esses linfócitos no 
timo. Os indivíduos afetados se demonstram deficientes nas respostas de hipersensibilidade tardia e nas 
respostas dos anticorpos aos antígenos proteicos dependentes das células T. A doença surge no primeiro ano de 
vida e, a menos que seja realizado um transplante de medula óssea, possui caráter fatal. 
 Distúrbios multissistêmicos com imunodeficiência: Ataxia-Telangiectasia 
A ataxia-telangiectasia (A-T) classifica-se como uma deficiência de células T associada a uma ausência 
de coordenação de movimentos (ataxia) e malformações vasculares (telangiectases), déficits neurológicos 
aumento da incidência de tumores e imunodeficiência. Células T e suas funções se encontram reduzidas em 
vários graus, e a doença pode afetar também as células B. Os defeitos imunológicos humorais mais comuns são 
deficiência ou redução pronunciada nos níveis de IgA e IgG2. O espectro da doença ocorre devido a mutações 
no gene da proteína ATM, a qual se encontra envolvida na proteção da célula contra danos genéticos 
 Desordens de linfócitos B 
Algumas das doenças nesse grupo podem surgir pelos defeitos no desenvolvimento das células B, ao passo 
que outras provêm da ativação anormal de células B e produção de anticorpos. De modo geral, a anormalidade 
primária nas desordens de células B reside na síntese dos anticorpos. 
 Agamaglobulinemia ligada ao X 
A agamaglobulinemia ligada ao X (ALX) – também denominada Doença de Bruton – salienta-se como 
uma imunodeficiência humana provocada por mutações ou deleções no gene que codifica uma enzima chamada 
Bruton tirosina cinase (Btk), o que resulta em uma falha no amadurecimento de células B além do estágio da 
célula pré-B na medula óssea. Observa-se, assim, uma redução (hipogamaglobulinemia) ou ausência 
(agamaglobulinemia) dos isotipos de imunoglobulinas no soro – em especial IgG -, todavia a imunidade 
dependente de células T se encontra normal nessa condição patológica. 
A ALX se destaca como uma das imunodeficiências congênitas mais comuns e o protótipo de uma falha 
da maturação das células B. Frequentemente, quadros de infecções bacterianas se evidenciam. Medidas 
terapêuticas recorrentes envolvem a reposição de imunoglobulinas – anticorpos pré-formados contra os 
patógenos comuns, fornecendo imunidade passiva eficaz - e o controle dos processos infecciosos. 
 Hipogamaglobulinemia transitória da infância 
A hipogamaglobulinemia transitória da infância (HTI) caracteriza-se pela acentuada e prolongada 
hipogamaglobulinemia fisiológica que se processa no inicio da vida – entre os três e seis meses de idade -, 
momento no qual há decréscimo dos níveis de IgG materna, e a criança – com sistema imunológico ainda em 
desenvolvimento – não produz de maneira adequada seus anticorpos próprios. As crianças saudáveis tendem a 
iniciar a produção de suas próprias IgG por volta do terceiro mês de vida, ao passo que em crianças acometidas, 
contudo, a síntese pode não começar antes dos dois ou três anos. A recuperação espontânea tende a ocorrer entre 
os 18 e 36 meses de idade. Crianças com HTI podem permanecer assintomáticas ou desenvolver recorrentes 
infecções sinusais e pulmonares. Casos de infecções graves, no entanto, mostram-se raras. 
 Imunodeficiência variável comum 
A imunodeficiência variável comum (IDVC) consiste no grupo heterogêneo de alterações marcadas na 
deficiência na síntese de imunoglobulinas, respostas prejudicadas de anticorpos a diversas moléculas 
antigênicas, e aumento da incidência de infecções. Essaimunodeficiência requer uma grande atenção médica. 
A IDVC pode se manifestar em qualquer idade, caracterizada frequentemente por infecções bacterianas 
recorrentes – especialmente nas vias aéreas -, distúrbios autoimunes e neoplasia. 
A maioria dos casos se classifica como esporádico, e por volta de 10% de caráter familial com predomínio 
de formas autossômicas dominantes. 
Essa doença apresenta prejuízos quanto à sobrevivência de células B, número de células B de memória 
CD27
+
 circulantes, ativação de células B, sinalização de células T e expressão de citocinas. O variado leque 
sintomatológico se deve à diversidade das causas dessa enfermidade. Abaixo, aprofundamo-nos na imunoglobuli-
na mais afetada pela IDVC e pelas imunodeficiências primárias, a IgA. 
 Deficiência de IgA 
A deficiência de IgA é apontada como a mais comum de todas as imunodeficiências – visto que se 
encontra em, basicamente, todas as mucosas do corpo -, caracterizada pela ausência ou níveis muito baixos de 
IgA sérica. Pacientes deficientes em IgA apresentam alta susceptibilidade a infecções das mucosas em geral, 
como gastrintestinais, oculares e nasofaríngeas. O diagnóstico laboratorial se baseia na medição de IgA. 
 Defeitos na ativação das células B dependentes da célula T: Síndromes de Hiper-
IgM 
A síndrome de Hiper-IgM ligada ao X se classifica como uma imunodeficiência primária composta por 
níveis normais ou elevados de IgM no soro, com ausência ou níveis extremamente baixos de IgA e IgG. Esse 
fato decorre de mutações da molécula CD40L, expressa em células T, prejudicando sua interação com a molécula 
CD40 de células B. O comprometimento dessa ligação molecular leva a defeitos no processo de recombinação na 
troca de classes de imunoglobulinas (Igs) e falhas a imunidade celular. Os pacientes afetados tendem a 
desenvolver infecções semelhantes àquelas observadas em outras hipogamaglobulinemias, e devem ser tratados 
com gamaglobulinas intravenosas. 
 Na imunodeficiência de células T e na imunodeficiência de imunoglobulinas, os exames la-
boratoriais de triagem são, respectivamente, hemograma e eletroforese de proteínas (EFP). 
 Defeitos no sistema imune inato 
As imunodeficiências primárias do sistema imune específico incluem defeitos nas células fagocitárias, 
células NK e no sistema complemento. 
 Doença granulomatosa crônica 
A doença granulomatosa crônica 
(DGC) resulta de mutações genéticas nas 
proteínas do sistema NADPH oxidase – 
um complexo enzimático localizado na 
membrana de células fagocitárias, capaz 
de gerar íons superóxido a partir de 
oxigênio molecular. A produção defeituosa 
das espécies reativas de oxigênio resulta em 
falha para matar microrganismos 
fagocitados. 
Ilustração dos mecanismos por trás da doença granulomatosa crônica. As mutações na 
NADPH oxidase permitem a sobrevivência de microrganismos no interior dos fagócitos, 
levando à formação do granuloma 
Essa enfermidade rara afeta cerca de 1 em 1 milhão de indivíduos. A maioria dos casos se detecta antes dos 
cinco anos de idade – 90% diagnosticados antes dos 15 anos – pelo histórico recorrente e infecções persistentes. 
Pacientes com essa doença apresentam defeitos nos fagócitos respiratórios, acarretando a incapacidade de 
inativar certos microrganismos. A forma mais comum de DGC – em cerca de 60% a 65% dos casos – apresenta 
mutações em uma proteína ligada ao X. Dentre o espectro clínico da doença, podemos citar como principais 
sintomas a formação de granuloma, linfadenite, pneumonia e hepatoesplenomegalia. 
A doença se mostra frequentemente fatal, mesmo com a terapia agressiva à base de antibióticos. O trans-
plante de medula óssea e seu aperfeiçoamento por meio de engenharia genética de células-tronco hematopoiéti-
cas autólogas demonstram futuras implicações da terapia gênica para o tratamento da doença. 
 Deficiência de adesão leucocitária 
As deficiências de adesão leucocitária (LAD) classificam-se como um grupo de distúrbios autossômicos 
recessivos provocados por defeitos nas moléculas de adesão leucocitárias e endoteliais, com consequente falta 
de adesão de leucócitos – em especial neutrófilos – ao endotélio, e o não recrutamento deles aos sítios 
inflamatórios, acarretando aumento na susceptibilidade a infecções. Diferentes genes se encontram envolvidos 
nos tipos diferentes de deficiência de adesão leucocitária. 
Na patogênese desses distúrbios, observam-se infecções de pele recorrentes – sem secreção purulenta, 
apesar da leucocitose crônica – e aumento do número de neutrófilos circulantes, ainda que estes se mostrem 
incapazes de se aderir efetivamente ao endotélio dos vasos. 
Deve ser oferecido aconselhamento genético aos doentes e aos seus familiares. A orientação clínica 
depende do tipo de LAD. O tratamento deve ser focado no controle das infecções e inclui o uso de antibióticos 
sendo, em diversos casos, recomendado o transplante de medula óssea. 
 Defeitos nas células NK e em outros leucócitos: Síndrome de Chédiak-Higashi 
A Síndrome de Chédiak-Higashi se classifica como um distúrbio autossômico recessivo de caráter raro 
provocada por mutações no gene que codifica a proteína reguladora do tráfico lisossômico LYST. Como 
resultado, há fusão defeituosa do lisossomo com o fagossomo em neutrófilos e macrófagos (provocando 
resistência reduzida a infecções), formação defeituosa de melanossoma nos melanócitos (acarretando albinismo), 
e anormalidades lisossômicas nas células do sistema nervoso (desencadeando defeitos nos nervos) e plaquetas 
(levando a distúrbios hemorrágicos). 
De forma geral, os neutrófilos, monócitos e linfócitos desses pacientes contêm lisossomos gigantes. Estes 
se formam nos neutrófilos durante a maturação destas células de precursores mieloides, sendo que alguns dos 
precursores acabam por morrer prematuramente, o que resulta em leucopenia moderada. Os sobreviventes 
podem conter níveis reduzidos de enzimas lisossômicas que normalmente funcionam na morte microbiana. 
 Desordens do sistema complemento 
Anormalidades nos diversos constituintes do sistema complemento também levam à susceptibilidade 
aumentada a infecções. A mais severa entre elas é a deficiência de C3, que surge a partir da baixa síntese de C3 
ou deficiência no fator I ou fator H. 
 Imunodeficiência secundária 
As deficiências do sistema imune muitas vezes se desenvolvem devido às anormalidades que não possuem 
caráter genético, e sim adquiridas durante a vida. A mais relevante dessas anormalidades salienta-se como a 
infecção pelo HIV. As doenças de imunodeficiência secundária – também chamada de imunodeficiência 
adquirida – surgem por meio de dois tipos de mecanismos patogênicos. 
 Primeiro, a imunossupressão pode ocorrer como uma complicação 
biológica de outro processo de doença; 
 Segundo, as chamadas imunodeficiências iatrogênicas podem se 
desenvolver como complicações da terapia de outras doenças; 
Podemos listar, como os principais fatores que predispõem as imunodefici-
ências secundárias, a desnutrição proteico-calórica (maior causa de 
imunodeficiências no mundo), as neoplasias e diversos tipos de infecções. 
 Imunodeficiências associadas a infecções 
Vários tipos de infecções – além da provocada pelo vírus HIV - levam à 
imunossupressão, como é o caso do vírus do sarampo e do vírus linfotrópico das 
células T humanas (HTLV-1). Ambos podem infectar os linfócitos, que pode ser 
uma base para seus efeitos imunossupressores. 
 Imunodeficiências associadas com o envelhecimento 
Essas incluem um decréscimo progressivo no córtex tímico, hipocelulari-
dade e redução no tamanho do timo, um decréscimo nas funções celulares e, 
logo, um aumento na autorreatividade, além de uma diminuição nas funções das 
células CD4
+
. 
 Imunodeficiências associadascom neoplasias 
Um exemplo de imunodeficiência associada à neoplasia é a deficiência na 
função das células T comumente observada nos pacientes com uma doença 
denominada Linfoma de Hodgkin. Por outro lado, deficiências de células B têm 
sido notadas no mieloma múltiplo, macroglobulinemia de Waldenstrom, leucemia linfocítica crônica e em 
linfomas bem diferenciados. Juntamente a isso, a maioria dos agentes quimioterapêuticos que são utilizados no 
tratamento de malignidades também são imunossupressores. 
 Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) 
A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS ou SIDA) tem origem nos efeitos patogênicos do vírus 
da imunodeficiência humana (HIV), caracterizando-se por uma elevada susceptibilidade a infecções por 
patógenos oportunistas – em decorrência, principalmente, da queda pronunciada no número de células TCD4+ nos 
estágios mais avançados da doença. 
Tipos de imunodeficiência congênita Incidência 
Deficiência predominantemente de anticorpos 55.23% 
Imunodeficiência primária associada a outros defeitos maiores 
15.78% 
 
Deficiências de fagócitos 8.33% 
Imunodeficiências combinadas de células T e B 7.83% 
Deficiências de Complemento 4.54% 
Síndromes autoimunes e desregulação autoimune 3.78% 
Síndromes autoinflamatórios 1.89% 
Defeitos na imunidade inata 0.82% 
Mecanismo simplificado do surgimento da AIDS 
por meio da infecção pelo HIV 
 Imunologia do Transplante 
Um transplante se qualifica como o processo de retirada de células, tecidos ou órgãos – chamados de 
enxerto – de um indivíduo e a sua inserção em um indivíduo (geralmente) diferente. Aquele que oferece o enxerto 
se denomina doador, ao passo que o indivíduo que recebe se chama receptor ou hospedeiro. 
 Tipos de enxerto 
 Autoenxerto: o tecido do próprio 
indivíduo é transferido de um local para outro do 
organismo; 
 Isoenxerto: tecido transferido en-
tre indivíduos geneticamente idênticos (gêmeos 
univitelinos); 
 Aloenxerto: tecido transferido 
entre membros geneticamente distintos de uma 
mesma espécie; 
 Xenoenxerto: transferência de 
tecido entre diferentes espécies; 
 Princípios do transplante 
Um hospedeiro imunocompetentes reconhece 
os antígenos estranhos em tecidos transplantados 
(ou células) e monta uma resposta imune, resultando 
em rejeição. Por outro lado, caso um hospedeiro 
imunocomprometido seja enxertado com células 
linfoides imunocompetentes, as células T 
imunorreativas no enxerto reconhecem os antígenos estranhos no tecido hospedeiro, levando ao dano do tecido 
do receptor. 
 A importância do HLA se mostra em relação à duração do transplante, e não somente do trans-
plante em si. Quanto maior a semelhante antigênica do MHC (como no caso de autoenxertos ou isoenxertos) 
maior a duração do enxerto sem que haja uma rejeição. 
Deve-se ressaltar como possíveis contraindicações para a realização de transplantes: 
 Sistema ABO incompatível: a incompatibilidade provoca rejeição hiperaguda do órgão ou 
tecido transplantado. Os diversos tipos de rejeição serão melhor explicados mais adiante; 
 Infecções por HIV ou hepatite C; 
 Cross-matching positivo: conhecida como reação cruzada entre receptor e doador. Os anti-
corpos do receptor desencadeiam resposta agressiva ao HLA do doador. 
Por sua vez, utilizando a exemplo o transplante renal, o doador pode ser classificado em: 
 Doador Cadáver: a doação post mortem deve ser precedida de diagnóstico de morte encefálica. 
O dador cadáver precisa apresentar boa função renal, ausência de infecções (como sepse clínica), de doenças 
sistêmicas ou malignas, e o rim precisa ser doado no menor tempo possível após a morte. 
 Parente vivo: o doador, nesse caso, necessita possuir os dois rins funcionais, ausência de doen-
ças transmissíveis (como HIV e hepatite C), sistêmicas e malignas, de vasos sanguíneos anômalos, precisa se 
encontra em estado psicológico estável, além de um excelente estado de saúde. 
Para ambos os tipos, deve-se lembrar das contraindicações já citadas. 
Representação esquemática dos tipos de transplantes possíveis 
 Reação hospedeiro versus enxerto (HGV) 
A duração da sobrevivência do enxerto segue a ordem decrescente de xenoenxerto, aloenxerto, isoenxerto 
e autoenxerto. Em outras palavras, quanto maior a diferença genética entre o enxerto e o hospedeiro, menor a 
sobrevivência do enxerto. O tempo de rejeição também depende da disparidade antigênica entre os doadores e o 
receptor. Antígenos de MHC salientam-se como os principais contribuintes no processo de rejeição. Como em 
outras respostas imunes, existe memória 
imunológica e resposta secundária em 
rejeição a enxertos. Dessa maneira, uma 
vez que determinado enxerto sofre 
rejeição pelo receptor (rejeição primária), 
um segundo enxerto do mesmo doador – 
ou um doador com mesmos antígenos de 
histocompatibilidade – será rejeitado em 
um tempo muito menor (rejeição 
secundária). 
 Reação enxerto 
versus hospedeiro (GHV) 
Células linfoides histocompatíveis, 
quando injetadas em um hospedeiro 
imunocomprometido, são rapidamente 
aceitas. Todavia, os linfócitos T 
imunocompetentes entre as células 
enxertadas reconhecem os aloantígenos – 
antígenos do hospedeiro – e, em resposta, eles proliferam e progressivamente provocam danos aos tecidos e às 
células do receptor. Tal condição fica conhecida como Doença Enxerto Versus Hospedeiro (GHV), sendo, na 
grande maioria das vezes, fatal. Dentre as manifestações comuns da reação GHV, podemos citar diarreia, eritema, 
perda de peso, mal-estar, febre, artralgia, entre outras, culminando, finalmente, em óbito. 
 Complexo de Histocompatibilidade 
O complexo de histocompatibilidade humano – conhecido 
como HLA - contém vários genes que controlam inúmeros 
antígenos, a maioria dos quais influenciando a rejeição de 
transplantes. Esses antígenos, bem como seus genes, podem se 
dividir em três grupos principais: classe I, classe II e classe III. 
 MHC classe I 
Os genes das moléculas MHC I codificam para glicoprote-
ínas expressas na superfície de praticamente todas as células 
nucleadas. Dentre suas funções – como a de reconhecimento 
celular -, a mais importante delas se é a apresentação de 
peptídeos antigênicos a linfócitos TCD8
+
 (citotóxico). A função 
efetora dos CTL CD8
+
 restritos à classe I consiste, basicamente, 
em eliminar as células infectadas por microrganismos intracelulares – como vírus -, bem como tumores que 
expressam antígenos tumorais. 
 O MHC de classe I possui três classes principais de genes: HLA-A, HLA-B e HLA-C. 
Ilustração do processo de rejeição primária e rejeição secundária em camundongos. Note o terceiro 
quadro onde, embora seja o primeiro transplante da cobaia, a injeção de linfócitos B sensibilizados ao 
antígeno do enxerto promove a resposta de rejeição de modo muito mais rápido que na rejeição 
primária. 
Esquematização dos dois principais grupos de MHC e suas 
respectivas funções 
 MHC classe II 
Os genes das moléculas de MHC II codificam para glicoproteínas expressas em células apresentadoras de 
antígenos (APCs), como células dendríticas, linfócitos B e macrófagos. A função mais importante dessa classe 
de MHC se mostra a apresentação de peptídeos antigênicos a linfócitos TCD4
+
 (Thelper). Os linfócitos TCD4
+
 
auxiliares diferenciados após o contato com o antígeno funcionam principalmente para ativar os macrófagos a 
eliminar os microrganismos extracelulares que foram fagocitados e para ativar os linfócitos B a produzir 
anticorpos que também eliminam microrganismos extracelulares. 
 O MHC de classe II possui quatro classes principais de genes: HLA-DP, HLA-DM, HLA-DQ e 
HLA-DR; O HLA-DM apresenta uma função de catalisar a ligação do peptídeo com moléculasde MHC classe II. 
 MHC classe III 
Esses genes codificam várias proteínas com funções diferentes no sistema imune, como em proteínas 
séricas, incluindo componentes do sistema complemente e moléculas envolvidas na inflamação. Os antígenos 
produtos dessa classe de MHC não possuem papel na rejeição de enxertos. 
 Antígenos MHC 
Especificidades de HLA são identificadas por uma letra por lócus e um número (A1, B5, B7), ao passo 
que os haplótipos (conjunto de genes em um cromossomo) identificam-se por especificidades individuais, 
exemplificado na imagem ao lado. Cada 
indivíduo possui dois cromossomos 
homólogos, logo há a presença de dois 
haplótipos (um paterno e um materno). 
As especificidades do MHC de 
ratos (H-2), por sua vez, identificam-se 
por um número. Levando em 
consideração que os ratos de laboratório 
são endocruzados, cada linhagem se 
mostra homozigota com o mesmo 
haplótipo. O haplótipo nessas linhagens 
se designa por meio de uma letra pequena 
(a, b, d, k, q, s); por exemplo, o haplótipo 
de MHC de rato Balb/c mice é H2
d
. 
 Herança 
Genes de MHC herdam-se como um grupo (haplótipo), um proveniente de cada progenitor. Dessa manei-
ra, um humano heterozigoto herda um haplótipo paterno e outro materno, cada um contendo três loci de classe I 
(A, B e C) e três loci de classe II (DP, DQ e DR). 
Embora os haplótipos sejam, usualmente, herdados intactos, ocasionalmente há o processo de crossing 
over entre os cromossomos parentais, resultando em novos haplótipo recombinantes. Isso permite que uma vasta 
heterogeneidade na combinação de MHC em uma dada população. 
 Rejeição de enxertos 
Com as características básicas do HLA explicadas, 
podemos entrar em um dos principais significados clínicos do 
MHC: o transplante de órgãos. Células e tecidos são 
rotineiramente transplantados por inúmeros motivos, seja por 
complicações de determinada doença, seja por funcionamento 
defeituoso ou insuficiente do órgão. Nesse mundo de 
transplantes, as reações do hospedeiro contra antígenos do 
Representação aleatória de dois haplótipos distintos. Haplótipo 1 (paterno): DR4, B43, Cw3, 
A23; Haplótipo 2 (materno): DR10, B7, Cw5, A33; 
Tabela esquemática dos tipos de rejeição de enxerto 
enxerto (HVG), como em aloenxertos, leva à sua rejeição, qualificando-se como o principal obstáculo no 
transplante de órgãos. 
O tempo de rejeição de um enxerto varia de acordo com a natureza antigênica do enxerto, bem como com a 
condição imunológica do hospedeiro. Com base na experiência com transplantes renais, podemos classificar os 
tipos de rejeição em hiperaguda, aguda, acelerada e crônica. 
 Rejeição hiperaguda 
A rejeição hiperaguda se caracteriza pela oclusão trombótica da vasculatura do 
enxerto que se inicia minutos ou horas após o transplante e a anastomose entre os 
vasos sanguíneos do hospedeiro e do enxerto. Tal resposta inflamatória é mediada por 
anticorpos sensibilizados preexistentes na circulação do hospedeiro que se ligam 
aos antígenos endoteliais do doador, tendo a participação posterior, também, do 
sistema complemento. 
A rejeição hiperaguda de aloenxertos, quando se processa, é em geral mediada 
por anticorpos IgG dirigidos contra aloantígenos proteicos – como moléculas do 
MHC do doador – ou contra aloantígenos menos bem definidos, expressos nas 
células endoteliais vasculares. Tais anticorpos geralmente surgem como resultado de 
uma exposição prévia a aloantígenos mediante transfusão sanguínea, transplante 
prévio ou gestações múltiplas. Caso a titulação desses anticorpos alorreativos for 
baixa, a rejeição hiperaguda pode se desenvolver lentamente, durante vários dias. A 
rejeição hiperaguda por anticorpos anti-ABO se mostra muito rara devido ao fato 
de todos os doadores e receptores serem selecionados para que tenham o mesmo tipo 
ABO. 
Os transplantes renais se mostram muito susceptíveis à rejeição hiperaguda. 
Atualmente, esse tipo de rejeição pode ser prevenido detectando os anticorpos com 
cross-matching positivo antes da transplantação. 
 Rejeição aguda 
A rejeição aguda – também conhecida como rejeição primária – caracteriza-
se por um processo de lesão do parênquima do enxerto e dos vasos sanguíneos 
mediada por células T e anticorpos. Logo, podemos classificar essa rejeição em 
celular – que acarreta morte mediada por célula TCD8+ e leva à necrose do 
parênquima do enxerto – e em humoral – onde os anticorpos se ligam ao HLA 
promovendo a trombose intravascular. 
Antes da imunossupressão moderna, esse tipo de rejeição costumava levar de 
vários dias a algumas semanas após o transplante. O tempo retardado do início da 
rejeição se deve ao fato de células T efetoras alorreativas e anticorpos levarem 
tempo para serem gerados a partir de células T virgens ou de memória em repouso 
em resposta ao enxerto. Na prática clínica, episódios de rejeição aguda podem 
ocorrer muito mais tarde – até mesmo anos após o transplante – caso a 
imunossupressão seja reduzida por qualquer razão. 
As drogas imunossupressoras salientam-se como muito eficazes na prevenção 
desse tipo de rejeição. 
 Rejeição acelerada 
A rejeição acelerada – também chamada de rejeição secundária – classifica-
se como aquela que ocorre devido ao transplante de um segundo enxerto que 
Esquematização do processo básico 
por trás da rejeição hiperaguda e seu 
espectro clínico 
Esquematização do processo básico por 
trás da rejeição aguda e seu espectro 
clínico 
compartilha um número significativo de determinantes antigênicos com o primeiro, o que leva à rejeição 
rápida, entre dois e cinco dias. Isso se deve à presença de linfócitos T sensibilizados durante a primeira 
rejeição, sendo a rejeição secundária mediada pela produção imediata de linfocinas, ativação de monócitos e 
macrófagos e a indução de linfócitos TCD8
+
. 
 Rejeição crônica 
Com os avanços e sucessos no tratamento das rejeições agudas, a principal causa 
de falha dos aloenxertos e órgãos vascularizados tem sido a rejeição crônica. Esta se 
desenvolve insidiosamente durante meses ou anos, e pode ou não ser precedida por 
episódios de rejeição. Os mecanismos e causas responsáveis pela rejeição crônica ainda 
se mostram pouco compreendido, no entanto é provável que envolvam uma combinação 
de processos imunológicos e não imunológicos. Dentre as hipóteses, podemos listar 
infecções virais crônicas, perda de tolerância induzida pelo enxerto com ativação de 
células T alorreativas e secreção de citocinas, efeitos tóxicos de fármacos 
imunossupressores, entre ouras. 
Uma lesão dominante da rejeição crônica em enxertos vascularizados é a oclusão 
arterial como consequência da proliferação de células musculares lisas da íntima, e os 
enxertos falham no fim, principalmente devido ao dano isquêmico resultante. 
A rejeição crônica pode afetar os mais diversos órgãos do organismo. No rim e no 
coração, resulta na oclusão vascular e na fibrose intersticial; nos pulmões, em vias 
aéreas pequenas espessadas (bronquiolite obliterante); no fígado, em ductos biliares 
fibróticos e não funcionais – conhecido como síndrome do desaparecimento dos 
ductos biliares). 
Infelizmente não existe um tratamento padrão para rejeições crônicas. 
 Locais e tecidos imunologicamente privilegiados 
Há certos locais no corpo em que os antígenos alógrafos não são prontamente 
rejeitados. Tais sítios incluem o cérebro, a câmara anterior dos olhos, testículos, túbulo 
renal, útero, entre outros. Esses tecidos recebem a denominação de tecidos privilegiados, e isso se deve ao fato 
de que tais locais não apresentam uma boa drenagem linfática. Dessa maneira, os aloantígenos do enxerto não 
sensibilizam os linfócitos do receptor, e o enxerto pode ser aceito mesmo naincompatibilidade entre HLAs. 
 Prevenção e tratamento da rejeição de aloenxertos 
Caso o receptor de um aloenxerto apresenta um sistema imune plenamente funcionante, o transplante 
resulta, quase invariavelmente, em alguma forma de rejeição. Dentre as estratégias utilizadas na prática clínica 
para evitar ou retardar a rejeição, destacam-se a imunossupressão geral e a minimização da força da reação 
alogênica específica – por meio, por exemplo, da seleção de doadores adequados ou mais apropriados. 
 Seleção de doadores 
Baseados nas variadas experiência com transplantes renais, certos guidelines podem ser obedecidos na 
seleção de doadores e receptores na preparação para a maioria dos transplantes de órgãos. O mais importante na 
escolha de doares reside na identidade de MHC com o hospedeiro, encabeçando os gêmeos idênticos como 
doadores ideais. Enxertos de um irmão HLA compatível apresentam boas chances de sucesso, sendo que o loci D 
do MHC II precisa ser compatível para o sucesso do transplante. Além disso, na escolha do doador, deve-se 
atentar à presença do sistema ABO-compatível (para evitar a rejeição hiperaguda) e o cross-match sérico 
negativo com os linfócitos T do doador. 
Esquematização do processo básico por 
trás da rejeição crônica e seu espectro 
clínico 
 Teste de compatibilidade cruza-
da 
Caso um doador potencial seja identificado, realiza-se 
um teste denominado teste de compatibilidade cruzada 
(crossmatching), onde se verifica a existência, no receptor, 
de anticorpos sensibilizados às células do doador. Faz-se o 
teste misturando o soro do receptor com os linfócitos 
sanguíneos do doador. Testes de citotoxicidade mediados 
por complementos ou avaliações por citometria de fluxo 
podem, então, ser utilizados para determinar se anticorpos 
no soro do receptor se ligaram às células do doador. 
Por exemplo, acrescenta-se o complemento à mistura 
de células e soro, e caso anticorpos pré-formados - 
normalmente contra as moléculas de MHC do doador - 
estiverem presentes no soro do receptor, as células do 
doador sofrerão lise. Este seria o cruzamento positivo, que 
indica que o doador não é adequado para aquele receptor. 
 Imunossupressão 
A terapia de imunossupressão se mostra a parte 
essencial para transplantes alogênicos. Fármacos 
imunossupressores que inibem ou destroem os linfócitos T 
classificam-se como os principais agentes para o 
tratamento ou prevenção a rejeição de enxertos. Em 
decorrência disso, fica claro entender por que a 
imunossupressão sustentada necessária para a sobrevida 
prolongada do enxerto leva a um aumento na susceptibilida-
de a infecções virais e tumores associados, já que promove a 
redução na produção e/ou funcionalidade das células T. 
Dentre os agentes recentes mais eficientes, podemos citar a 
ciclosporina A, FK506 (tacrolimus) e a rapamicina. A 
ciclosporina A e FK506 participam inibindo a síntese de citocinas – em especial a IL-2 – após a ligação do 
antígeno ao receptor, ao passo que a rapamicina interfere na transdução de sinal após a interação IL-2 com o 
receptor de IL-2. Dessa maneira, todos os três agentes possuem o poder de bloquear a proliferação de células T 
em resposta ao antígeno. 
Outros agentes químicos utilizados para impedir a rejeição de 
enxertos e seus efeitos generalizados listam-se na tabela ao lado. 
A irradiação de corpo inteiro apresenta papel especial em 
pacientes de leucemia antes do transplante de medula óssea. 
Anticorpos anti-células T (globulina antitimocítica: ATG) ou 
contra estruturas de superfície das células T (como CD3, CD4, 
C45) estão sendo utilizados também para conseguir imunossupres-
são. Juntamente a isso, anticorpos monoclonais contra as moléculas 
de adesão de superfície celular ICAM-1 e LFA-1 salientam-se 
como outro alvo das terapias imunossupressoras. Utilizam-se 
rotineiramente também agentes inflamatórios (corticosteroides 
como a dexametasona e a prednisona) na prevenção e tratamento 
da rejeição de enxertos pelo seu efeito bloqueador de TNF e IL-1. 
Teste de compatibilidade cruzada entre receptor e doador. 
Em (a), a sensibilidade é aumentada ao se adicionar antiglobulina 
humana (AHG) antes de colocar o complemento no teste de compati-
bilidade cruzada de citotoxicidade dependente de complemento 
(CDC). 
Em (b) temos o teste de compatibilidade cruzada por citometria de 
fluxo, a qual não depende da ativação do complemento para a detec-
ção de anticorpos, além de apresentar sensibilidade muito maior do 
que o teste de CDC. 
PMBC: Células mononucleares do sangue periférico. 
P 
 
 Transplante de medula óssea 
No transplante de medula óssea, o fator crucial na seleção do doador reside na compatibilidade com o 
MHC classe II. Mais uma vez, repete-se os gêmeos idênticos como doadores ideias. Adota-se o transplante para 
o tratamento de leucemias, certos linfomas, anemia aplásica, talassemia e doenças de imunodeficiência, como a 
imunodeficiência combinada grave (SCID). Para tal procedimento, necessita-se que o receptor esteja 
imunossuprimido, utilizando-se ciclofosfamida e irradiação de corpo inteiro para eliminar todas as células 
cancerosas ou defeituosas. Em casos de rejeição, manifestar-se-á no hospedeiro a doença enxerto versus 
hospedeiro (GVHD), já falada no começo desse capítulo. Para controlar a GVHD, usam-se metotrexato, 
ciclosporina e prednisona, como comentado mais acima. 
 Associação do MHC com doenças 
Inúmeras doenças têm sido encontradas ocorrendo em frequências maiores em indivíduos com certos 
haplótipos de MHC. As mais proeminentes entre elas são a espondilite anquilosante (B27), a doença celíaca 
(DR23) e a Síndrome de Reiter (B27). Outras doenças associadas com especificidades diferentes do MHC listam-
se na tabela ao lado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Imunidade tumoral 
A proliferação celular de nosso corpo sofre cuidadosa regulação por meio de inúmeros mecanismos e 
sistemas específicos. Todavia, nossas células – quando expostas a carcinogênicos químicos, irradiação e certos 
vírus – podem sofrer mutações em seus componentes, promovendo a proliferação e disseminação descontrolada, 
o que produz um tumor ou neoplasia. 
A neoplasia classifica-se como uma proliferação anormal do tecido, que foge parcial ou totalmente ao 
controle do organismo e tende à autonomia e à perpetuação, com efeitos agressivos sobre o hospedeiro. 
 Classificação 
Podemos caracterizar os tumores, por meio de inúmeras características em dois grupos básicos: benignos e 
malignos. 
 Tumores benignos 
Os tumores benignos tendem a apresentar um 
crescimento lento e expansivo determinando a 
compressão dos tecidos vizinhos, o que leva à 
formação de uma pseudocápsula fibrosa. Devido a 
esse crescimento lento, os tumores benignos também 
possuem estrema e uma rede vascular adequada - 
estruturas essenciais para a sobrevivência dos 
tecidos de modo geral – por isso raramente 
apresentam necrose e hemorragia. 
A morfologia dos tumores benignos – 
chamada de bem diferenciada – mostra-se 
semelhante à das células do tecido que lhe deu origem. Além disso, em tumores, o número de mitoses se encontra 
inversamente relacionado com o grau de diferenciação: quanto mais diferenciado for o tumor, menor será o 
número de mitoses observadas e menor a agressividade. Em tumores benignos, as mitoses se demonstram raras e 
têm aspecto típico. 
Por fim, em relação à antigenicidade tumoral, deve-se ressaltar que as células dos tumores benignos – por 
serem bem diferenciadas – não apresentam a capacidade de produzir antígenos. 
 Tumores malignos 
Nos casos dos tumores malignos, o crescimento 
rápido,desordenado, infiltrativo e destrutivo não 
permite a formação da pseudocápsula, além de que – 
devido à rapidez e desorganização do crescimento, da 
infiltração e do alto nível de duplicação celular – os 
tumores malignos apresentam uma desproporção entre 
o parênquima tumoral e o estroma vascularizado. Isso 
acarreta áreas de necrose ou hemorragia, de graus 
variáveis com a velocidade de crescimento e a “idade” 
tumorais. 
Em relação à morfologia, as células dos tumores 
malignos – células pouco diferenciadas - perdem suas 
características do tecido de origem, têm graus variados 
de diferenciação e, portanto, guardam pouca 
semelhança com as células que as originaram. Em 
Ilustração das principais características de tumores benignos (A) e malignos (B) 
Muitos tipos de tumores benignos, por diversos motivos, podem se tornar 
agressivos e evoluírem para neoplasias malignas (cânceres), como represen-
tado na figura 
neoplasias malignas, as mitoses ocorrem em maior número quando comparadas às benignas e são atípicas. 
Quanta à antigenicidade tumoral, as células malignas – pouco diferenciadas – conseguem produzir 
antígenos tumorais, o que permite o diagnóstico tardio e precoce de alguns tipos de câncer. 
Finalmente, evidencia-se importante salientar as duas propriedades principais das neoplasias malignas: a 
capacidade invasivo-destrutiva local e a produção de metástases. Por definição, a metástase constitui o 
crescimento neoplásico à distância, sem continuidade e sem dependência do foco primário. 
 Evidência da reatividade imune a tumores 
Existem muitas evidências de que tumores podem disparar uma resposta imune. Tais evidências incluem: 
 Tumores com infiltração mononuclear severa apresentam um melhor prognóstico do que os que 
não a tem; 
 Certos tumores regridem espontaneamente (como alguns melanomas e neuroblastomas), suge-
rindo uma resposta imunológica; 
 Algumas metástases tumorais regridem após a remoção do tumor primário, que reduz a carga 
tumoral e, por essa razão, induz o sistema imune a matar o tumor residual (metastático); 
 Não obstante a quimioterapia leve à rejeição de um grande número de células tumorais, as poucas 
que escapam da ação das drogas podem crescer muito mais e levar o hospedeiro a óbito; 
 Há um aumento na incidência de neoplasias malignas em pacientes imunodeficientes, tais como 
os acometidos pela AIDS - os quais são susceptíveis a Sarcoma de Kaposi – e pacientes transplantados – que 
apresentam maior probabilidade em desenvolver o linfoma induzido pelo vírus Epstein Barr (EBV); 
 Anticorpos tumor-específicos e linfócitos T (detectados nos testes de citotoxicidade e resposta 
proliferativa) têm sido observados em pacientes com tumores; 
 A população infantil e de idosos demonstram uma incidência aumentada de tumores, muito 
provavelmente devido ao fato de esses membros da população possuírem frequentemente um sistema imune 
comprometido; 
 Hospedeiros podem ser imunizados especificamente contra vários tipos de tumores, demonstran-
do que antígenos tumorais podem disparar uma resposta imune. 
 Antígenos associados a tumor 
Para que o sistema imune reaja contra um tumor, este deve ter antígenos reconhecidos como estranhos 
pelo organismo. Várias alterações na 
expressão de genes ocorrem em células 
durante a tumorigênese. Esta leva à expressão 
de novos antígenos – os neoantígenos – ou à 
alteração dos antígenos existentes que se 
encontram nas células normais. Esses 
antígenos incluem receptores de membrana – 
como o MHC -, reguladores do ciclo celular e 
apoptótico, ou moléculas envolvidas nas 
vidas de transdução de sinal. 
A primeira classificação de antígenos 
tumorais se baseou nos seus padrões de 
expressão, e os dividiu em duas classes 
A célula tumoral, usualmente, expressa antígenos estranhos ao organismo, os neoantígenos, 
que podem ou não ser reconhecido e eliminado pelas células imunes do organismo 
principais: 
 Antígenos específicos de tumores: os quais se enquadram como antígenos expressos em célu-
las tumorais, mas não em células normais. Alguns desses antígenos se mostram exclusivos a um tumor específico, 
ao passo que outros são compartilhados por tumores do mesmo tipo. 
 Antígenos associados a tumores: esses antígenos se expressam não somente nas células tu-
morais, mas também em células normais. Usualmente, esses antígenos são constituintes celulares normais cuja 
expressão se torna aberrante ou desregulada em tumores. Nessa categoria se enquadram os antígenos de 
transplante associados a tumor (TATA). 
A classificação moderna de antígenos tumorais se baseia na estrutura molecular e fonte de antígenos 
expressos por células tumorais que estimulam respostas de células T ou de anticorpos em seus hospedeiros. 
Incluem-se nos antígenos tumorais, ainda, antígenos de vírus oncogênicos, antígenos oncofetais (OFs), 
antígenos câncer-testículo (CTs), antígenos glicolipídicos e glicoproteicos alterados, antígenos de 
diferenciação tecido-específicos e antígenos hiperexpressados. 
 Antígenos de transplante associados a tumor (TATA) 
Em sistemas experimentais, foi bem demonstrado que certas neoplasias apresentam antígenos na superfí-
cie celular que impedem o transplante tumoral entre camundongos da mesma linhagem e, consequentemente, 
histocompatíveis. Essas substâncias indutoras da uma resposta imune eficaz recebem a denominação de antígenos 
de transplante associados a tumores (TATA). 
 Antígenos oncofetais 
Os mais clássicos e estudos antígenos tumorais humanos são, na realidade, antígenos fetais ou oncofetais, 
os quais se expressam em altos níveis no feto e em células cancerosas, mas se encontram ausentes em tecidos de 
adultos. Eles são o antígeno carcioembriônico (ACE) e a alfa-fetoproteína (AFP). 
 Antígeno carcioembriônico 
O antígeno carcioembriônico (ACE) foi descrito 
como sendo um marcador de adenocarcinomas do 
trato digestivo. Atualmente, sabe-se que os níveis 
séricos dessa proteína se mostram elevados em uma 
gama muito grande de afecções – malignas ou não. Por 
meio de métodos extremamente sensíveis de 
radioimunologia, o ACE secretado pela célula tumoral é 
detectado no soro dos pacientes. Os seus níveis séricos 
se encontram elevado em aproximadamente 75% dos 
casos de tumor colorretal e mais de 90% no de câncer 
de pâncreas, sendo que os níveis normais beiram os 2,5 
ng/mL. 
O CEA (CD66) classifica-se como uma proteína 
integral de membrana altamente glicosilada, pertencente 
à superfamília das imunoglobulinas e funciona como 
uma molécula de adesão intercelular. Devido ao fato 
de os níveis séricos de CEA se demonstrarem elevados 
em pacientes com diversos tipos de carcinomas – como já dito -, eles são utilizados para monitorar a 
persistência ou a recorrência de tumores após o tratamento, bem como monitorar a eficácia do tratamento 
antitumoral. 
A utilidade do CEA como marcador diagnóstico para o câncer se salienta limitada pelo fato de o CEA 
sérico se elevar também em quadros de doenças não neoplásicas, como condições inflamatórias crônicas 
intestinais ou hepáticas. No entanto, na identificação a presença de neoplasia, anticorpos monoclonais anti-ACE 
radiomarcados têm sido utilizados experimentalmente para a detecção de metástases tumorais. 
Diagrama esquemático demonstrando como o antígeno carcioembriônico 
(CEA) induz respostas antitumorais mediadas por células T CD4+ e T CD8+ 
 Alfa-fetoproteína 
A alfa-fetoproteína (AFP) – primeiro antígeno oncofetal identificado - enquadra-se como uma glicoprote-
ína circulante normalmente sintetizada e secretada no desenvolvimento fetal pelo saco vitelino e pelo fígado, 
sendo que na vida adulta ela sofre substituição pela albumina. Níveis séricos de AFP podem estar significativa-
mente

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