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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS ECONOMIA E FINANÇAS PÚBLICAS NO BRASIL: Um guia de leitura FABRÍCIO AUGUSTO DE OLIVEIRA ORÇAMENTO PÚBLICO: Origens, papeis e gestão. O Segundo capítulo contempla, a evolução do papel do Estado na economia que teve como propósito demonstrar que de acordo com as tarefas que lhe são atribuídas historicamente, ele dispõe de um determinado montante de recursos para desempenha- los. A distribuição do seu ônus entre os membros da sociedade tem profundas implicações, pelos impactos que podem acarretar para o aparelho produtivo como também pelos efeitos que engendram a distribuição como um todo. Avaliar as tentativas de impactos macroeconômicos e sociais da política fiscal deve considerar avaliar: os mecanismos e instrumentos de que ele dispõe para obtenção desses recursos; a forma que assumem as relações entre o Estado e a sociedade, que conferem ao primeiro o poder de extração de recursos, com a anuência da segunda; e os princípios que norteiam a distribuição do ônus que a tributação representa para os membros que compõem a sociedade. Stricto sensu as receitas públicas do Estado moderno provêm de duas fontes: da exploração de seu patrimônio e das atividades de suas empresas, resultante do desempenho do seu papel de Estado- Empresário e da tributação imposta à sociedade. No Lato sensu costumam-se incluir no rol das receitas, os empréstimos – dívidas - realizados pelo setor público, na forma de títulos ou contatos, à medida que eles configuram entradas de recursos nos cofres públicos. As receitas provenientes da atividade empresarial do Estado não constituem ônus para a sociedade – a não ser em casos em que o governo tenha que abrir mão de recursos fiscais para viabilizar sua implantação ou cobrir eventuais prejuízos apresentados. Mas, afeta de forma positiva a riqueza do país, contribuindo para a valorização do capital, uma vez que ordinário se trata de empresas que fornecem matérias primas e bens intermediários para o setor privado a preços subsidiados. No final do século XIX, nos países de industrialização, a atuação do empresarial do Estado foi de grande importância, pois supriu a demanda do sistema por infraestrutura econômica e capital social básico que impediam a acumulação. Com o avanço das ideias liberais, ganhou força em 1980 e um vigoroso processo de privatização das empresas estatais, com a tese de necessidade de recolhimento do Estado se tornou dominante no mundo capitalista, disseminando uma ideologia no mundo de que reduzindo expressivamente o plantel das empresas estatais do setor produtivo estariam contribuindo para o crescimento sócio econômico da sociedade. A tributação pode ser perversa para o aparelho produtivo se não forem avaliados os princípios relativos à sua neutralidade e à capacidade da economia de suportar o peso de sua incidência e como representa ônus direto para a sociedade pode afetar, de forma positiva ou negativa, a estrutura de distribuição de renda prévia à sua cobrança. O autor faz uma análise da área de atuação do Estado que ocorre dentro do espaço orçamentário, avaliando o significado e as origens da peça orçamentária e os determinantes e implicações para a economia e a sociedade das receitas e dos gastos estatais, seu papel como instrumento de política econômica, de planejamento e a sua importância para a valorização do capital para a reprodução do sistema. O orçamento público onde estão dispostas as receitas e os gastos pelo Estado é onde são tomadas decisões sobre os objetivos de gastos do Estado e dos recursos necessários para o seu financiamento, que afetarão ou não, positiva ou negativamente, a vida dos cidadãos e historicamente assumiu diferentes períodos, papeis e feições que variavam de acordo com a opinião e atitudes em relação ao processo de negociação da peça orçamentária entre poderes executivos e legislativos. As adversidades econômicas resultantes da crise de 1929, com a difusão das ideias keynesianas sobre o papel do Estado na economia, provocou uma ruptura com essa concepção e o orçamento evoluiu de mera peça de escrituração contábil para importante instrumento de política econômica e transformou-se em elemento indispensável para o processo de planejamento, para amortecer as flutuações cíclicas da economia, ao ser direcionado para influir sobre o nível de investimento e de emprego, combatendo as oscilações do nível de preços e promover melhor distribuição de renda. Onde reside a feição política da peça orçamentária, da qual travam os embates entre os representantes das classes e de suas frações que definem a direção e a forma de ação do Estado, ao mesmo tempo, que se transforma ela em importante instrumento de controle que a sociedade possui sobre o executivo, por meio de seus representantes políticos. O autor faz uma breve incursão histórica do orçamento e confirma que, na origem, sua criação deveu-se à necessidade de se contar com um instrumento de controle efetivo das ações do Estado, no tocante às suas decisões sobre a extração de impostos da sociedade e sobre a realização de seus gastos, época em que a atividade do planejamento governamental, manejo das receitas e gastos para atingir objetivos nem sequer era cogitado, pelo desperdício e esterilidade que representavam as finanças públicas para o pensamento dominante. Destinada ao sustento do Estado, as receitas extraídas da sociedade, passaram a ser administradas por meio do orçamento e fizeram deste instrumento de controle político e financeiro um espelho da vida política que revelava em sua estrutura de gastos e receitas, sobre que classe ou fração de classe recai o maior ou menos ônus da tributação e as que mais se beneficiam com os seus gastos. De uma arena de controle sobre o montante de receitas cobradas para seu sustento, por meio de registros contábeis de suas contas, este se transformou em importante arena de negociações. Visto que, a partir do século XX deslocou parte considerável da riqueza produzida para o orçamento, incorporando a atividade de planejamento para garantir a obtenção de melhores resultados com as suas ações, traduzidas na definição de seus objetivos que afetam a equação da distribuição da renda e da riqueza. As finanças públicas são um dos melhores pontos de partida para uma pesquisa da sociedade, embora não, exclusivamente, de sua política. (Schumpeter apud O’ Connor, 1997, p.16). Para os autores da escola clássica e neoclássica, o orçamento era apenas um instrumento de controle das contas governamentais, elaborado com objetivo de conter suas ações e gastos para que ficassem dentro dos limites e que não se tornassem disfuncionais para eficiência do sistema econômico. E que para obter um orçamento equilibrado de uma situação em que os gastos são superiores às receitas, não somente era vista e apontada como virtude do governante, mas também como condição necessária para garantir o equilíbrio do sistema econômico. Para a escola Keynesiana, que não via o Estado como agente passivo, improdutivo, mas como agente capaz, por maio de suas ações, de influenciar o nível, a intensidade e a trajetória da atividade econômica o orçamento é o instrumento que permitia coordenar e planejar suas atividades visando aperfeiçoar os resultados e alcançar seus objetivos nos campos econômico e social. Mesmo que tenha que operar com um orçamento desequilibrado - déficit público - pois seria justificado como forma de garantir correção e retorno ao equilíbrio, o que propiciava as condiçõesde financiamentos dos déficits gerados. Os representantes da escola neoliberal diferiam da visão de Marxista, que operava com esquema de classes sociais: “no interesse do capitalismo, porque os capitalistas controlam as instituições estatais e as utilizam como instrumentos para realização de seus interesses”, segundo Miliband (1995 pp.116-8). É nessa perspectiva que O’Connor (1997: 203) considera as finanças tributárias como uma forma de exploração econômica que requer análise de classe. Por afetarem de forma diferenciada os interesses das classes e de suas frações envolvem negociações entre seus representantes políticos, canal pelo qual expressam suas reivindicações e sua aprovação obtida apenas quando houvesse um consenso. Os orçamentos eram elaborados de maneiras distintas e dependiam do sistema do governo dominante do país. De acordo com essa definição podiam ser de três tipos: legislativo, misto e executivo. Assim, em princípio, é a peça por meio da qual a sociedade decide, por seus representantes políticos, os objetivos de gastos do Estado e a origem dos recursos para financiá-los, além de exercer controle sobre as ações do Estado. Que só se pode avaliar a situação financeira do governo, fazendo cotejo entre suas receitas e despesas, tendo clareza sobre que ele pode fornecer estratégia da política econômica adotada, ora superavitário ou deficitário em condições financeiras de fragilidades fiscais. Em contrapartida, a observância e vigência de determinado princípio que dão consistência e eficácia à instituição orçamentária é essencial para o processo de planejamento e de controle da sociedade sobre o executivo. Dentre eles destacam-se: os princípios da unidade, da totalidade e da universalidade, princípio do orçamento bruto, princípio da anualidade, o da não afetação das receitas, os da discriminação e especialização, o da exclusividade, os princípios da clareza, transparência, da publicidade e da exatidão da peça orçamentária de um excesso de gastos sobre as receitas. Com o enfraquecimento ou a violação desses princípios pelos governantes, há perdas na peça orçamentária e nas condições para cumprimento de suas funções, além de deixar o caminho livre para que o executivo formule programas de governo que não tenderão a beneficiar as frações de classes que lhe dão sustentação política. Somente com mudanças na correlação das forças sociais ou situações que provoquem o debilitamento das bases do autoritarismo, é que se torna possível resgatar o orçamento como uma peça que permita à sociedade, impedir que seus governantes continuem decidindo como os Deuses do Olimpo, sobre os desígnios da nação. Com isso um novo arranjo orçamentário institucional teria de ser constituído ou revista fórmula proposta por Montesquieu sobre a soberania dos poderes para contrabalancear o excessivo avanço do Poder Executivo, vide obra O espírito das leis, a respeito da divisão de atribuições e de equilíbrio entre os poderes executivos. O processo orçamentário no Brasil e a evolução do processo orçamentário de 1824-1964, foi marcada por dificuldades na sua implementação fazendo com que alguns autores a considerassem, segundo Giacomoni (1992) a Lei de 14/12/1827 como a primeira Lei de orçamento do Brasil. No período compreendido entre 1964-1984 , quando vigorou o Estado burocrático-autoritário, constituiu um exemplo conspícuo de ocorrência de completa desconfiguração do processo orçamentário. Princípios violados, como os da unidade e transparência e do equilíbrio, e o orçamento transformado em instrumento funcional para os novos donos do poder viabilizar seus planos e projetos, descaracterizando-os enquanto instrumento de controle do Estado, da gestão de suas contas e de planejamento. O resultado desses anos de arbítrio foi um Estado falido, desestruturado institucional e financeiramente, mergulhado em déficits colossais e incapazes de cumprir, minimamente, suas tarefas sociais. Com o fim do regime militar em meados da década de 1930, seguiu-se a convocação de um Congresso constituinte para elaborar uma nova Carta Constitucional para o país, onde se desmontou a armadilha orçamentária que havia sido erigida pelo Estado autoritário em seu benefício. Passaram a integrar o sistema e o novo processo orçamentário: o Plano Plurianual de aplicações (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e os Orçamentos Anuais (Lei Orçamentária). As etapas do processo orçamentário anual no Brasil definidas na nova moldura que brotou da constituição 1988 e de seus desdobramentos, incluindo as inovações contempladas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) representou uma grande contribuição para a construção de um Estado democrático, recuperando as condições para o processo de planejamento. Fortalecendo o poder Legislativo na sua definição, integrando os níveis nacionais, regionais e setoriais, em relação às desigualdades regionais de renda, transformando-o em um instrumento com potencial de controle da sociedade sobre o Estado. Entretanto, apesar dos avanços, na prática quase nada funcionou e o orçamento, longe de se transformar em eficiente instrumento de administração e planejamento das contas públicas funcionou como um grande esquema de corrupção e malversação de recursos públicos. Com a Crise e reformas no campo orçamentário, abriu-se uma nova oportunidade com a finalidade de mais uma vez avançar no aprimoramento da gestão. As melhorias introduzidas pelo congresso no processo orçamentário, como resultado dos trabalhos da “CPI do orçamento”, somadas à aprovação da LRF, que apresentou um importante avanço institucional para tornar o orçamento mais realista e mais eficiente controle de gastos governamentais, justamente com a estabilidade monetária alcançada com o Plano Real (1994). Contudo, a partir da segunda metade dos anos 1990, houve a reprise de um período de grandes incertezas e de acentuada desorganização orçamentária e que se mantem até os dias atuais. Pois, o orçamento é um documento simples, “inocente”, que apenas registra as receitas e despesas do governo e os resultados financeiros alcançados pela administração pública. Mesmo quando a classificação das despesas aparece divulgada por funções, ou por áreas de atuação do Estado, isso pouco muda, porque muitas das ações ficam escondidas em atividades do Estado e não estão claras no documento fiscal. Há forças políticas e sociais que produzem esses resultados, tanto receitas como de gastos, que por sua dimensão, afetam de forma importante, até essencial, a situação econômica e social da população, pelos impactos que exercem sobre a produção e a estrutura de distribuição de renda. A necessidade de ir além com investigação dos objetivos de gastos do Estado está implícita, bem como as fontes que financiam e as forças que influenciam e determinam mais as classes e frações de classes, setores e regiões, que se beneficiam com suas despesas, e os que arcam com o seu ônus adentrando essa arena onde as decisões foram tomadas sem traduzir em incertezas à sociedade como um todo. REFERÊNCIAS OLIVEIRA, Fabrício Augusto de. Economia e política das finanças públicas no Brasil: um guia de leitura. 1 ed. São Paulo: Editora Hucitec, 2009.
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