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DPC4 Tema 03 Ação de Exigir contas Atualizada NCPC


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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR - UCSAL
FACULDADE DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV
Tema 03.	AÇÃO DE EXIGIR CONTAS. Generalidades. Natureza Jurídica. Caráter Dúplice. Ação de exigir contas e de dar contas. Procedimentos. Sentença e decisão. Hipóteses.
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS. 
Toda vez que alguém realiza, por força de relação jurídica emergente de lei ou de contrato, ou de convenção, a administração de bens, valores ou interesses alheios, está passivo de apresentar as contas, as quais encerram a demonstração de todas as receitas e despesas realizadas pelo responsável pelas coisas, valores, e/ou interesses de outrem, inclusive inventariante, tutor, depositário e curador, por exemplo. A demonstração das contas se consubstancia em relações e/ou, relatórios e em todo e qualquer documento comprobatório que seja possível e próprio. Mas tudo isso de forma mercantil (Art. 551).
O objetivo da ação de prestação de contas pode ser extintivo da relação jurídica que vincula as partes, de modo a que fiquem QUITADAS quanto ao aspecto econômico, após a decisão final do processo; ou determinar com exatidão a existência, ou não, de SALDO, com a fixação do seu montante, quando for o caso, para os efeitos da condenação da parte vencida, assumindo esta uma realidade de devedora.
A ação de Prestação de Contas está prevista nos arts. 550/553 do CPC.
Nesta ação, não se trata, contudo, de um simples encontro entre crédito e débito, tão só do ponto de vista aritmético, mas também, e primeiramente, de se apurar sobre o dever de prestar ou não as contas, para os fins apontados, como também da procedência de cada uma das parcelas de crédito ou débito, quanto à constituição de uma obrigação, na busca de um preciso, justo e devido saldo final, eis que este saldo, em havendo, é o futuro conteúdo de um possível título executivo, conforme se pode depreender do dispositivo do Art. 552 do CPC:
 “A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial”.
Consoante se pode deduzir desse dispositivo, o fim último desse procedimento poderá ser a obtenção de saldo para que se possa exigir o pagamento. A prestação de contas, por essa ação especial, no caso de exigir contas, principalmente, é precipuamente, o meio de se obter a sentença que fixa o valor do saldo a ser cobrado.
Em consequência, a natureza jurídica dessa ação é condenatória, tanto mais quando o que se objetiva é dotar, aquele a quem se reconhecer a qualidade de credor, de título executável, nos moldes do cumprimento da sentença, em face de título executivo judicial. Isto, se do acerto de contas resultar saldo. A eventualidade da ausência de saldo credor não pode ser relevante para caracterizar a natureza jurídica dessa ação.
Em conclusão do aspecto genérico, pode-se inferir que o procedimento especial da prestação de contas tem duas funções:
 I -	Torna certa e quite a relação jurídica e econômica entre as pessoas interessadas e vinculadas, quando a sentença conclui pela inexistência de saldo credor, ou seja, a receita é igual a despesa (aí a sentença toma uma conotação declaratória).
 II -	Quantifica o saldo credor, tornando certa a expressão numérica da relação jurídico-econômica, de modo a permitir que seja imposta a cobrança ao devedor e, havendo resistência ao pagamento, poder-se-á promover o cumprimento da sentença (sentença condenatória).
CARÁTER DÚPLICE. 
Em verdade, toda relação jurídica que importe em responsabilidade pela guarda, depósito ou administração de coisa alheia, etc., pode ensejar a ação de prestação de contas, não importando qual das partes se tornará devedora ou credora, ou, ainda, se há saldo, ou mesmo inexiste saldo porque se equivaleram receita e despesa.
A iniciativa da postulação está assentada na disposição do Art. 550 do CPC:
 
“	Art. 550 – aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias”.
Oportuno é, em razão do que já foi afirmado, conhecermos a doutrina pensada por Humberto Theodoro Júnior:
“Ação de dar contas e ação de exigir contas
A obrigação de prestar contas, derivadas de qualquer relação jurídico-patrimonial pode ter caráter unilateral ou seja, pode sujeitar uma só das partes – como se dá com o mandatário, o administrador do condomínio, o sindico, o curador, etc., – ou pode ter caráter bilateral, a teor do que se dá com o contrato de conta corrente.
Qualquer um, porém, dos sujeitos da relação patrimonial que envolve a obrigação de prestar contas dos atos praticados no interesse comum ou de outrem, pode ser forçado ao procedimento da ação de prestação de contas, bem como qualquer um deles pode tomar a iniciativa de apresentar as contas cabíveis. 
O Código anterior, ao instituir o procedimento especial previsto no seu Art. 914, dispunha textualmente que ‘ a ação de prestação de contas competirá a quem tiver: I – o direito de exigí-las; II – a obrigação de prestá-las’. O Código novo, porém, só trata como procedimento especial aquele que se destina a exigir contas. Logo, a pretensão de dar contas ficou relegada ao procedimento comum.
Vê-se, assim, que a demanda sobre contas autorizada pelo Art. 550 do NCPC só pode partir da iniciativa de quem tem o direito de exigi-las. No entanto, na composição das verbas reunidas das contas discutidas em juízo a iniciativa é bilateral. Ambas as partes podem reclamar inserção e exclusão de parcelas e podem pretender alterações quantitativas.
Diz-se, por isso, que se trata de ação dúplice, já que qualquer dos sujeitos da relação litigiosa pode ocupar indistintamente a posição ativa ou passiva da relação processual. Ou mais precisamente, durante o desenvolvimento do processo, tanto o autor como o réu podem formular pedidos no tocante às verbas e respectivos montantes sem depender de reconvenção. É nesse sentido que se pode considerar dúplice a ação de prestação de contas, seja ela intentada para apresentar ou exigir as contas. Na ação simples, as posições das partes são completamente distintas: só o autor formula pedido e o réu apenas resiste, passivamente, ao pedido do autor. Nas dúplices, como as de prestação de contas, a formulação de pedidos é comum ao autor e ao réu. Daí afirmar-se que não há distinção entre as posições processuais dos litigantes em tais ações. Ambos atuam, a todo tempo, como autores e réus.
Sendo a ação do Art. 550, proposta pela parte que invoca para si o direito de exigir contas, a causa apresenta-se complexa, provocando o desdobramento do objeto processual em duas questões distintas. Em primeiro lugar, ter-se-á de solucionar a questão prejudicial sobre a existência ou não do dever de prestar contas, por parte do réu. Somente quando for positiva a decisão, quanto a essa primeira questão, é que o procedimento prosseguirá com a condenação do demandado a cumprir a obrigação de fazer, qual seja, a de elaborar as contas, a que tem direito o autor. Exibidas as contas, abre-se uma nova fase procedimental destinada à discussão de suas verbas e à fixação do saldo final do relacionamento patrimonial existente entre os litigantes.
Descumprida a condenação, incide um efeito cominatório que transfere do réu para o autor a faculdade de elaborar as contas, ficando o inadimplente da obrigação de dar contas privado do direito de discutir as que os autor organizou (CPC, Art. 550, § 5º).
Há, portanto, sempre duas pretensões: (i) a de exercitar o direito à prestação de contas e (ii) a de acertar o conteúdo patrimonial das contas. Se porém, dupla é a pretensão, una é a ação, porque o que se demanda por meio da tutela jurisdicional é, realmente, o acerto final do relacionamento econômico estabelecido entre os litigantes. A elaboração e aprovação das contas é apenas o caminho para atingir-se a meta final”.
In Humberto Theodoro Júnior, Curso de Direito Processual Civil, VolumeII – 50ª Edição, Forense, 2016 – pags. 71/72.
Isso torna irrelevante, como se vê, ou mesmo desconsubstanciada, a distinção entre legitimação ativa e passiva, até porque as posições de autor e réu, na evolução do procedimento, podem ser ocupadas por quaisquer umas das pessoas incorporadas à relação jurídica objeto do estudo, desde que haja comprovada necessidade da intervenção do judiciário.
Observe-se, ainda, quanto a legitimação, as situações de alguns casos, como por exemplo das sociedades e dos condomínios em que, segundo os estatutos e convenções, são determinados os destinatários das prestações de contas, que podem ser pessoas ocupantes de cargos ou funções de gestão, de fiscalização, e/ou administração financeira ou mesmo órgãos colegiados. De modo que, nesses casos, não basta tão só ser sócio ou condômino para legitimar o interesse da prestação de contas em juízo, porquanto isto está disciplinado na legislação específica, nos contratos, convenções, etc. 
Vale notar que a prestação de contas se faz também extrajudicialmente.
PROCEDIMENTOS
As ações de exigir contas e de prestar contas, de caráter dúplice, oferecem à jurisdição procedimentos disciplinados pelos Arts. 550/553, do Código, valendo a pena transcrevê-los para desenvolvimento em sala de aula:
“	Art. 550. Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias.
§1º. Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem.
§2º. Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar, prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro.
§3º. A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e específica, com referência expressa ao lançamento questionado.
§4º.  Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355.
§5º. A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.
§6º.  Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o procedimento do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário.
Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver.
§1º.  Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados.
§2º. As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5o, serão apresentadas na forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo.
Art. 552.  A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial.
Art. 553.  As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado.
Parágrafo único.  Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo”.
SUCUMBÊNCIA
Consoante preleciona Humberto Theodoro Júnior:
“Para compor-se a ação de prestação forçada de contas de duas fases com objetos distintos, a questão da sucumbência (custas e honorários advocatícios), no Código anterior, era mais complexo, já que duas sentenças diferentes aconteciam, ensejando sucumbências também distintas. No Código atual não há mais duplicidade de sentença. A primeira fase encerra-se de ordinário, por mera decisão interlocutória, o que afasta o cabimento de verbas sucumbências. Assim o problema de ressarcimento de gastos processuais, inclusive honorários de advogado da parte vencedora, só virá a ser enfrentada na sentenças pronunciada ao termo da segunda fase. Deve-se ter em conta, porém, a eventualidade de o processo extinguir-se antes da passagem para o segundo estágio, seja por razões processuais (vícios formais), seja por razões de mérito (improcedência do pedido de contas). Se tal acontecer, por certo a decisão extintiva da ação será uma sentença e não mais decisão interlocutória. Ao vencido serão aplicadas sansões sucumbências, portanto.
Atingindo o processo as fases de julgamento das contas, sejam aquelas apresentadas pelo réu, sejam as do autor, a circunstância de o saldo apurado ser contrário a uma das partes, não a faz, só por isso, vencida na causa. O mérito nesse tipo especial de ação gira em torno da obrigação de prestar as contas e não da cobrança propriamente dita do saldo que destas possa resultar. Tanto que o autor que exigiu as contas será a parte vencedora, ainda quando o saldo final seja zero ou represente debito a seu favor. Por isso, não é o saldo das contas um parâmetro que ordinariamente se preste ao cálculo da sucumbência em beneficio do autor.” (Obra citada, pags. 92/93)
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APOSTILA DE RESPONSABILIDADE DO PROFº. LUIZ SOUZA CUNHA.
Ernani Fidélis dos Santos		Manual de Direito Processual Civil 
	3º Volume - 3ª Edição - 1994
Humberto Theodoro Júnior	Curso de Direito Processual Civil
	Volume II – 50ª Edição, Forense, 2016
Marcus Vinicius Gonçalves	Novo Curso de Direito Processual Civil
	Volume 2 – Saraiva – 2005
Atenção:	A apostila é, tão somente, um resumo da matéria que pode ser aprendida pelo aluno. Ela deve servir de guia do ensino-aprendizado, sob orientação pedagógica.
	Esta apostila se destina, pois, exclusivamente ao estudo e discussão do texto em sala de aula, como diretriz do assunto, podendo substituir os apontamentos de sala de aula, a critério do aluno.
	Os artigos e demais dispositivos legais mencionados no texto, são de consulta obrigatória do aluno, para aperfeiçoamento do seu aprendizado.
 	Consulte a bibliografia anteriormente indicada além de outros autores.
 Atualizada em março/2018
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