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Doenças Cerebrovasculares

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Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.1 
 
 
Representam importante problema em 
Neurologia, visto que são a segunda maior causa de 
morte no Brasil e uma das três principais nos países 
industrializados. 
É a principal doença causadora de incapacidade 
física. Nas últimas 2 décadas, o prognóstico melhorou 
devido aos avanços na neuroimagem. 
 
 
EPIDEMIOLOGIA 
 
A incidência situa-se entre 81-150 
casos/100.000hab. A faixa etária avançada é o 
principal fator de risco. Cerca de 75% dos pacientes 
tem AVC agudo tem idade superior a 65 anos e a 
incidência dobra por década a partir de 55 anos. 
Predominam sexo masculino até 75 anos e em negros 
praticamente dobram. Negros e asiáticos tem taxas 
altas de aterosclerose IC. 
 
CLASSIFICAÇÃO 
 
É classificada em três grupos: 
 Acidente vascular cerebral isquêmico 
 Hemorragia cerebral intraparenquimatosa 
 Hemorragia subaracnóidea 
 
80-85% dos AVC’s são isquêmicos. O diagnóstico 
de AVC é fundamentalmente por uma anamnese 
acurada. Déficit neurológico focal, central, de 
instalação aguda ocorre em todo AVC. 
Pode haver manifestações de difícil localização 
como comprometimento da memória e rebaixamento 
do nível de consciência. Diagnósticos alternativos 
devem ser excluídos, como hipoglicemia, 
hiperglicemia, encefalopatia hepática, epilepsia e etc. 
Défictis neurológicos focais devem ser investigados 
para diagnósticos diferenciais. 
A diferenciação entre os tipos de AVC é 
importante para o manejo da fase aguda. 
 
ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL 
ISQUÊMICO 
 
FISIOPATOLOGIA 
 
O fluxo sanguíneo cerebral é calculado pela 
seguinte fórmula: 
 
A pressão arterial média menos a pressão 
intracraniana (PIC) é igual a pressão de perfusão 
cerebral. 
A autoregulação do FSC permite fluxo constante. 
A gravidade da redução do FSC depende do grau de 
oclusão arterial, se parcial ou total, e a patência da 
circulação colateral. O comprometimento isquêmico 
cerebral agudo se traduz em 2 áreas. 
 Zona central isquêmica – redução drástica do 
FSC, menor que 8-10mL/100g/minuto, abaixo 
do limiar de falência da membrana, com morte 
neuronal irreversível 
 Penumbra isquêmica – Neurônios 
comprometidos, mas viáveis. Rapidamente 
torna-se zona central. 
 
A terapêutica trombolítica tem como objetivo 
salvar neurônios da penumbra isquêmica, no tempo 
denominado janela terapêutica. 
Há subtipos de AVCI, e estes definem o tipo de 
intervenção terapêutica. Se outras causas excluídas, o 
subtipo é diagnosticado. 
Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.1 
 
 
ATEROSCLEROSE DE GRANDES ARTÉRIAS 
 
A aterosclerose das grandes artérias é chamado 
de AVC aterotrombótico. Oclusão distal por embolia 
arterioarterial por trombos fibrinoplaquetários, 
frequentemente em bifurcações de grandes artérias 
cervicais supraórtica (carótidas e vertebrais). 
A aterosclerose do arco aórtico, mostrada por 
ecocardiograma do arco aórtico, pode ser fonte de 
embolia cerebral aterogênica. 
Pacientes apresentam estenose significativa 
(>50%). As manifestações clínicas envolvem o 
comprometimento cortical (afasia, negligência, 
motricidade alterada), cerebelar ou do tronco. História 
de claudicação intermitente, ataque isquêmico 
transitório, sopro carotídeo ou diminuição de pulsos 
ajudam no diagnóstico clínico. A principal artéria 
acometida é a artéria carótida interna. 
Lesões isquêmicas corticais maiores que 15mm de 
diâmetro, definidas por TC ou RM, são potencialmente 
ateroscleróticas de grandes artérias. O dupplex, 
angiotomografia, angiografia por RM ou mesmo 
angiografia digital devem trazer grandes alterações. 
Endarterectomia é tratamento profilático. 
 
EMBOLIA CARDIOGÊNICA 
 
Oclusão arterial presumivelmente decorrente de 
um êmbolo originado do coração. 
Fontes de alto risco: 
 Válvula prostética mecânica 
 Estenose mitral com fibrilação atrial 
 Trombo no átrio esquerdo 
 Trombo no ventrículo esquerdo 
 Infarto recente no miocárdio 
 Miocardiopatia dilatada 
 Acinesia ventricular esquerda 
 Mixoma atrial 
 Endocardite infecciosa 
Fontes de médio risco: 
 Estenose mitral SEM fibrilação atrial 
 Contraste espontâneo do átrio esquerdo 
 Flutter atrial 
 FA isolada 
 Válvula cardíaca bioprostética 
 Endocardite trombótica não infecciosa 
 Insuficiência cardíaca congestiva 
 Hipocinesia ventricular esquerda 
 Infato do miocárdio com 4 semanas a 6 meses 
de evolução 
 
Deve se identificar a fonte cardíaca do êmbolo 
para diagnóstico. Embolia prévia em mais de um 
território é sugestivo de diagnóstico de embolia 
cardíaca. 
Achados clínicos e imagens semelhantes a 
aterosclerose de grandes artérias, mas com 
transformação hemorrágica. 
 
OCLUSÃO DE PEQUENAS ARTÉRIAS 
 
Também chamados de infartos lacunares, são 
pequenos e profundos, <15mm de diâmetro, e tem 
como substratos a lipo-hialinose e lesões 
microateromatosas, acometendo o óstio de artérias 
perfurantes profundas: 
 Ramos lenticuloestriados da artéria cerebral média 
 Ramos talamoperfurantes da artéria cerebral 
posterior 
 Ramos paramedianos pontinos da artéria basilar 
 
O paciente apresente uma das 5 clássicas síndromes: 
 Hemiparesia motora pura: hemiparesia completa 
com ausência de alterações sensitivas, por lesão na 
cápsula interna ou ponte por compromisso das 
artérias lenticuloestriadas ou perfurantes pontinas, 
respectivamente. 
 Hemiparesia atáxica: hemiparesia e ataxia com 
predomínio de paresia crual, por lesão na ponte ou 
cápsula interna por compromisso das artérias 
perfurantes pontinas e lenticuloestriadas 
 AVC sensitivo puro 
 AVC sensitivo-motor 
 Disartria-mão-desajeitada 
 
NÃO apresenta sinais de disfunção cortical. A 
história de HAS e DM reforça diagnóstico. O TC e RM 
são normais ou com lesão no tronco e subcortical. 
 
AVC DE OUTRAS ETIOLOGIAS 
 
Ocorre geralmente adultos jovens (<45anos) e 
compreende causas incomuns de AVC, como: 
arteriopatias não ateroscleróticas (dissecções arteriais 
cervicocefálicas, displasia fibromuscular, vasculites e 
etc), e outras afecções (hipercoagubilidade e 
distúrbios hematológicos, deficiência de proteína C, S e 
ATIII e etc). 
As disseções arteriais correpondem a ~20%. 
Acometem artéria carótida interna cervical e artéria 
vertebral intra e extracraniana, e ocorrem por traumas 
trivias como exercício e quiropraxia, mas com 
influência genética e do ambiente. 
Fontes cardíacas de êmbolo e aterosclerose de 
grandes artérias devem ser excluídas. 
 
AVC DE ETIOLOGIA INDETERMINADA 
 
A causa do AVCI permanece indeterminada em 
quase um terço dos pacientes. Pacientes com duas ou 
mais causas potenciais são incluídos nesta categoria. 
Cada subtipo de AVCI tem frequência relativa a suas 
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características étnicas, geográficas e 
socioeconômicas. 
 
QUADRO CLÍNICO 
 
O sistema arterial carotídeo é comprometido em 
cerca de 70% dos casos, e o sistema vertebrobasilar 
envolvido nos 30% restantes. 
O sítio lesional pode ser hemisférico ou 
infratentorial. No hemisférico 2/3 anteriores são irrigados 
pelo sistema carotídeo e 1/3 é irrigado pelo sistema 
vertebrobasilar. No infratentorial, apenas o sistema 
vertebrobasilar irriga, que abrange tronco e cerebelo. 
A isquemia acomete apenas parte de um território 
arterial e a circulação arterial pode ser capaz de 
prevenir lesões. 
Principais ramos das síndromes a. carotídeas: 
 Artéria oftálmica 
 Artéria coróidea anterior 
Artéria cerebral anterior 
 Artéria cerebral média 
A manifestações mais comuns são: Hemiparesia, hemi-
hipoestasia, afasia e negligência. 
 
Principais ramos das síndromes vertebrobasilares: 
 Artéria vertebral 
 Artéria basilar 
 Artéria cerebral posterior 
 Artérias cerebelares 
A manifestações mais comuns são: ataxia, 
síndrome vestibular, diplopia, hemi-hipoestesia 
alternada, rebaixamento do nível de consciência. 
 
ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO 
 
É um déficit neurológico focal, encefálico ou 
retiniano, súbito e reversível, secundário a uma doença 
vascular isquêmica, agudo e com duração menor que 
24 horas. 80% dos casos o paciente se recupera do 
déficit quando chega ao hospital. Quase 50% dos 
pacientes apresentam lesões sugestivas de isquemia 
aguda, e metade exibia evidências de infarto. A nova 
definição de AIT leva em consideração a ausência de 
infarto cerebral nos exames de imagem e duração dos 
sintomas menor que 1h. O AIT é tão grave quando o 
AVC e ambos devem ter sinalização de alerta. 
 
Afasia - perturbação da formulação e 
compreensão da linguagem 
Ataxia - falta de coordenação dos movimentos 
musculares voluntários e do equilíbrio 
Diplopia – Visão dupla 
Hemiparesia – Paralisia branda de uma das partes 
do corpo 
Hipoestesia - diminuição de sensibilidade em 
determinada região do organismo 
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A principal causa do ATI é a oclusão do vaso por 
material embólico proveniente de placa de ateroma 
proximal ao vaso ocluído ou de origem cardíaca. ATIs 
de sintomatologia diferente, sugerem fonte cardíaca. 
Após um AIT, 10-20% têm AVC em 3 meses, e 50% 
em até 48h. Dessa forma, sintomas de isquemia 
cerebral aguda, transitórios ou persistentes, com ou 
sem infarto, devem ser considerados emergência 
médica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL 
 
A investigação pode ser dividida em 3 fases: básica, 
complexa e de risco. 
 
BÁSICA 
 
Aplicáveis a todo paciente em fase aguda do AVC, os 
exames são: 
 Hemograma 
 Ureia 
 Creatinina 
 Glicemia 
 Eletrólitos 
 Coagulograma 
 ECG 
 TC do crânio sem contraste 
 
A TC do crânio pode ser normal nas primeiras 
horas, mas pode revelar alterações sutis no córtex 
(perda de definição do núcleo lentiforme, 
apagamento dos sulcos, hiperdensidade e etc). 
 
FASE COMPLEXA 
 
Ocorre depois da suspeita clínica principal e é 
composta por exames direcionados. RM é superior a TC 
em avaliação da suspeita de isquemia cerebral aguda, 
e é preferida para identificar infartos no Tronco e 
Cerebelo. 
 Se suspeita de vasculite, exame do líquor é 
indicado. Se suspeita de origem embólica, 
ecocardiograma transtorácico e transesofágico são 
indicados. Se suspeita de estenose arterial 
intracraniana e microêmbolos o Doppler transcraniano. 
O duplex de artérias carótidas e vertebrais é exame 
subsidiário para a investigação de risco. 
 
FASE DE RISCO 
 
Nessa fase da investigação, o duplex de artérias 
indicará a necessidade de angiografias por RM, 
helicoidal ou digital. São de risco porque cerca de 1% 
está associado a AVC ou óbito, principalmente em 
pacientes idosos com comprometimento vascular 
cerebral e coronariano. 
 
CUIDADOS CLÍNICOS 
 
O manejo inicial deve começar com o ABC 
primário. Se a isquemia atingir áreas que 
comprometam o nível de consciência ou centros 
respiratórios, como tronco encefálico e lesões bi-
hemisféricas cerebrais ou talâmicas, pode necessitar 
de intubação orotraqueal para manter SatO2 > 94%. 
Isso é exemplo da importância de monitorar as funções 
vitais, algo essencial no cuidado do paciente cm AVC. 
Monitorar a pressão arterial junto com ECG de 12 
canais é primordial. 
Deve-se realizar cateterização de 2 acessos 
calibrosos nas veias periféricas, pois o trombolítico 
precisa ter acesso exclusivo. A avaliação da glicemia 
capilar é de extrema importância, pois podem simular 
lesões neurológicas. 
O próximo passo é a revisão da história, a 
avaliação neurológica deve ser rápida e eficiente no 
diagnóstico e estratificação da gravidade, feita pela 
escala National Institute of Health Stroke Scale (NIHSS) 
abaixo. 
Essa escala possui 11 itens que admitem uma 
pontuação de 0-42. A pontuação obtida pode prever 
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o desfecho do caso, onde o escore menor que 5 indica 
pacientes que tendem a receber alta, entre 6 e 13 há 
necessidade de reabilitação, e maior ou igual a 13 
necessitam de intervenção em enfermarias. 
A maioria não necessita utilizar fármacos 
hipotensores. 
 
 
 
 
TRATAMENTO 
 
TROMBÓLISE 
 
A trombólise intravenosa é considerada método 
de escolha para o tratamento. A trombólise intra-
arterial é menos eficaz na artéria cerebral média 
hiperdensa. 
A trombectomia mecânica com instrumentos tem 
ganhado espaço por janela terapêutica de até 8 
horas, útil quando pacientes não podem usar altas 
doses de fibrinolíticos. Após descarte de hemorragia 
intracraniana, o paciente deve passar pela análise dos 
critérios de inclusão e exclusão. 
O trombolítico de escolha é o alteplase, que é um 
ativador do plasminogênio tecidual (rt-PA), e único 
agente com eficácia comprovada para pacientes 
com AVCI agudo. Usado na dose de 0,9mg/kg 
(máximo de 90mg) sendo 10% em bolus e o restante 
fracionado em 1h, tem janela terapêutica de 3h. 
Drogas anticoagulantes e antiagregantes não 
devem ser usadas nas 24h que se seguem a trombólise. 
 
CONTROLE PRESSÓRICO 
 
Visa minimizar complicações hemorrágicas. 
Quando PAS entre 185-225 ou PAD entre 110-140 
mmHg, em 2 medidas com 5 minutos de intervalo, 
deve-se administrar metoprolol endovenoso, 5mg em 
3min e no máximo 20mg. 
Se a PAS>230mmHg ou PAD>140mmHg, indica-se 
nitroprussiato de sódio endovenoso (0,5-
10mcg/kg/min). O monitoramente da PA deve ocorrer 
caso se infunda droga fibrinolítica. Monitora-se PA a 
cada 15min nas primeiras 2h, e a cada 30min nas 6h, e 
a cada 1h até 24h. 
Trombolítico intra-arterial é inserido com janela 
terapêutica de 6h, particurlamente em casos de 
procedimetntos endovasculares. 
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TERAPÊUTICA ANTITROMBÓTICA 
 
Preconiza-se uso de anticoagulantes na fase 
aguda do AVC, inicialmente com heparina 
endovenosa ou HBPM e seguir com varfarina, desde 
que descartado sangramento intracraniano. 
Pacientes com infartos cerebrais extensos não 
devem receber anticoagulação por 1 semana pelo 
risco de hemorragia. Dissecção arterial 
cervicocefálica e trombofilias são candidatos a 
terapêutica anticoagulante. 
Nos pacientes sem indicação de anticoagulação, 
administra-se ASS 100-300mg/dia. 
O paciente pode piorar de quadro devido a 
trombose progressiva, embolia recorrente ou edema 
secundário, além disso, pneumonia e 
tromboembolismo pulmonar. 
A profilaxia se dá por fisioterapia, mobilização 
precoce, meias elásticas, HBPM e etc. 
 
CIRURGIA DESCOMPRESSIVA 
 
Lesões isquêmicas hemisféricas maciças com 
volumoso edema cerebral e grande efeito de massa, 
os infartos malignos da artéria cerebral média, 
sintomático no 2º ao 5º dia, presente em 1-10% dos 
pacientes, e mortalidade em 70-80%, mesmo com 
medidas clínicas. 
A craniectomia descompressiva precoce em até 
48h do AVC reduz significativamente a mortalidade. 
Infartos cerebelares extensos cursam com compressão 
do IV ventrículo e hidrocefalia, caso indicativo da 
cirurgia, antes da herniação causadora de 
agravamento. Craniectomiade fossa posterior é 
indicada. 
 
ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS 
 
Antiagregantes plaquetários são 
comprovadamente eficazes na prevenção da 
trombose arterial e embolia arterioarterial, reduzindo 
em 25% o AVC. 
A aspirina for a primeira comprovada, e ainda é 
primeira linha. Ela causa bloqueio total e permanente 
da cicloxigenase, levando a inibição da síntese de 
tromboxano A2 a partir do ácido araquidônico, tal 
efeito antiagregante persiste por até 10 dias (meia-vida 
da plaqueta), e a dose recomendada é de 100-
300mg/dia. Usado também na fase aguda. 
A ticlopidina, antiagregante plaquetário que inibe 
a exposição, induzida pelo ADP, do sítio de ligação do 
fibrinogênio, é ligeiramente superior a aspirina, porém 
de custo maior e 2x/dia, e deve ser monitorado por 
riscos de neutropenia grave e púrpura 
trombocitopênica trombolítica. 
O dipirimadol, droga inibidora de fosfodiesterase, 
+aspirina é prevenção do AVC e é superior a aspirina 
isolada em 13%. 
Cloridrogel é semelhante a ticlopidina, mas com 
efeitos semelhantes a aspirina e menos efeitos 
colaterais. Habitualmente se uso Cloridrogel+Asprina 30 
dias antes e depois de angioplastia com instalação de 
stent, após isso somente um antiagregante é mantido. 
 
ANTICOAGULAÇÃO 
 
A heparina ou HBPM não são recomendadas para 
tratamento agudo do AVC. Pacientes com fonte 
cardíaca do AVC devem ser submetidos à 
anticoagulação com varfarina ou novos 
anticoagulantes orais (dagigatrana, rivaroxabana ou 
apixabana). Estado de hipercoagubilidade e 
dissecação arterial cervicocefálica também sugerem 
tratamento com varfarina. Estudos provaram a 
endarterectomia carotídea em situações de estenose 
severa, entre 70-99%, na prevenção de AVC severo ou 
fatal. Mas, indicação controversa para pacientes 
assimtomáticos. A angioplastia com stent é menos 
invasiva e indicada para pacientes com alto risco 
cirúrgico, visto que a angioplastia com stent, aliada a 
sistemas de proteção distal, não é inferior a 
endarterectomia carotídea. 
Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.1 
 
HEMORRAGIA CEREBRAL 
INTRAPARENQUIMATOSA 
 
CONCEITO 
 
Consiste na ruptura de um vaso intracraniano com 
extravasamento de sangue diretamente no 
parênquima cerebral. Ocorre em 15-33hab/100.000. 
Apresenta elevada morbidade e mortalidade, mais de 
1/3 dos pacientes morrem em 30 dias. Representa 10-
20% dos AVC. 
Há dois tipos de localização: 
1. Profunda: Acomete núcleos da base, tálamo, 
ponte e cerebelo 
2. Lobar: Acomete lobos cerebrais (<1cm da 
superfície) 
 
Tem múltiplos mecanismos, a HAS é seu principal 
agente etiológico sendo responsável pela maioria dos 
casos. 
Em adultos jovens malformações vasculares e uso 
de drogas predominam como causa. Em pacientes 
com 50 a 70 anos predomina a HAS. Em idosos não 
hipertensos, a angiopatia amilóide cerebral é causa 
comum de HIP de localização lobar. 
As HIP hipertensivas acometem mais comumente 
putâmen e tálamo. Surgem da ruptura de pequenas 
artérias perfurantes, pelo processo degenerativo de 
lipo-hialinose. O período de sangramento pode ser 
breve e autolimitado, mas em um terço o volume 
aumenta dramaticamente em 3h. 
 
FISIOPATOLOGIA 
 
Fatores de risco: 
 Idade avançada 
 Sexo masculino 
 Uso de anticoagulantes plaquetários 
 Consumo excessivo de álcool 
 Controle ineficaz da hipertensão arterial 
sistêmica 
 Presença de microorganismos cerebrais 
 
HAS está presente em 80% dos casos. A ação 
crônica da hipertensão sobre as paredes da artérias 
cerebrais provoca progressiva hiperplasia das células 
musculares lisas com substituição por colágeno, e o 
enfraquecimento da parede das artérias e propensão 
a ruptura vascular. Fenômeno de lipo-hialinose, que 
ocorre principalmente em pequenos vasos profundos, 
o que explica maior localização nos gânglios da base, 
tronco e cerebelo. 
A angiopatia amilóide ocorre por depósitos de 
amilóide em pequenas artérias do córtex e 
leptomeninges com sangramentos lobares, recorrentes, 
e em diferentes regiões simultaneamente. 
HIC associada a hemorragia subaracnóidea é 
mais comum de aneurisma. 
Dentre os tumores os mais comuns são: 
Glioblastomas multiformes, metástases de melanoma, 
carcinoma broncogênico, coreocarcinoma e 
carcinoma de células renais. 
Hemorragias associada ao uso de 
anticoagulantes ocorre porque o risco com uso 
aumenta 8-11x, principalmente em idade avançada, 
diabéticos, hipertensos, e antecedentes de AVC. A 
progressão é mais lenta, 48-72h, com grandes volumes. 
 
QUADRO CLÍNICO 
 
Tem duas vertentes: 
1. HIC aguda (cefaleia, vômitos e rebaixamento do 
nível de consciência) 
2. Específica do sítio de sangramento 
 
Déficit neurológico focal súbito é o sintoma mais 
frequente. Rebaixamento do nível de consciência, 
estupor e coma são por maior volume de hematoma e 
acometimento de fossa posterior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
0 – 0% 
1 – 13% 
2 – 26% 
3 – 72% 
4 – 97% 
5 – 100% 
 
 
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A intensidade do quadro é proporcional ao 
volume do hematoma. Diferente do AVCI, o AVCH é 
progressivo em horas. 
Pode haver extensão do sangramento para 
sistema ventricular podendo causar hidrocefalia se, por 
exemplo, obstruir aqueduto de Sylvius. 
O edema cerebral do tipo vasogênico tem pico 
de 24-48h. 
 
 
EXAMES COMPLEMENTARES 
 
A TC do crânio é essencial e avalia a extensão 
para o sistema ventricular e ocorrência de hidrocefalia. 
Se houver piora, deve-se repetir TC. TC tem vantagem 
de associação como angiotomografia. HIC associadas 
a aneurismas 
A RM pouco acrescenta à TC, mas se o paciente 
for adulto jovem a RM é importante para detectar 
angiomas e malformações arteriovenosas. 
A angiografia cerebral é indicada para pacientes 
com suspeita de aneurismas saculares e malformações 
arteriovenosas. 
 
TRATAMENTO 
 
 
À admissão, verifica-se sinais vitais e estabiliza-se. 
Se Glasgow <8, entubação orotraqueal faz-se 
necessária. Uma boa saturação não é suficiente, 
hipercapnia pode exarcebar HIC. 
A redução agressiva da PA é favorável no 
tratamento. A PAS deve estar abaixo de 140mmHg até 
1 hora da admissão e estabilizar isso em 7 dias, usando 
o nitruprussiato de sódio. Combate rigoroso a 
hipertermia e hiperglicemia. 
Se houver PIC aumentada, deve-se reduzir 
continuamente a pressão até a pressão de perfusão 
cerebral (PPC) >60mmHg. 
 
Se heparina  Sulfato de protamina 
Se varfarina Concentrado complexo protrombínico 
OU plasma fresco congelado + 
Vitamina K 
 
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Manitol (0,25-1g/kg) em infusão rápida a cada 4h, 
hiperventilação, analgesia e sedação em caso de 
deteriorização neurológica. 
 
TRATAMENTO CIRURGICO 
 
Indicações cirúrgicas: 
 Hematoma lobar <1cm da superfície cortical e 
grande volume 
 Hematoma profundo de grande volume 
 Hemorragia intraventricular com sinais de 
hidrocefalia 
 Piora neurológica em jovens 
 Hemorragia cerebelar 
 Hemorragia temporal 
 Aneurisma sacular 
 Malformações arteriovenosas 
 Angioma cavernoso 
 
HEMORRAGIA SUBARACNÓIDE 
 
CONCEITO 
 
Pode ser definida como extravasamento de 
sangue para o interior do espaço subaracnóideo pela 
ruptura da parede das artérias e/ou veias cerebrais 
que se situam no espaço do LCR. 
Compreende duas formas: traumática e 
espontânea. A forma espontânea compreende 10% 
dos AVC. O principal fator etiológico é o aneurisma 
intracraniano (AIC).10% morrem antes de cuidados por AIC. A taxa de 
mortalidade chega a 40%, e 50% dos pacientes nos 
próximos 6 meses. 
A idade média de ruptura do AIC é de 50-55 anos. 
As mulheres são as mais acometidas. Os pacientes 
negros tem um maior risco. 
Fatores de risco importantes, por nível de 
importância, são: Tabagismo, HAS, etilismo e história de 
HSA. 
O aneurisma sacular ou congênito compreende 
90% dos casos e se localiza no nível das bifurcações 
das grandes artérias intracranianas, no polígono de 
Willis. HAS e aterosclerose interagem com aneurisma. A 
HSA espontânea tem malformações arteriovenosas, 
angiomas, discrasias sanguíneas, uso de drogas, 
tumores intracranianos, TVC e angiites como causas 
comuns. 
 
FISIOPATOLOGIA DO ANEURISMA 
 
Aneurisma é uma dilatação anormal localizada 
num vaso sanguíneo ou coração, congênito ou 
adiquirido. Aneurisma verdadeiro é o que envolve 
parede intacta, já o pseudoaneurisma ou falso 
aneurisma é quando há uma ruptura e formação de 
hematoma extravascular. 
Os aneurismas são classificados por forma e 
tamanho. Os aneurismas saculares são bolsas esféricas 
que variam de 5-20cm e costumam conter trombo. Os 
aneurismas fusiformes são aqueles que tem dilatação 
difusa e circunferencial e variam diâmetro em até 
20cm com amplo comprimento. 
As artérias são íntegras por manterem síntese, 
degradação e reparo dos danos fisiológicos. Se o 
tecido conjuntivo é comprometido o aneurisma pode 
surgir. 
Dentre os motivos temos: 
 Síndromes congênitas (Síndrome de Marfan, Loeys-
Dietz), 
 O equilíbrio entre degradação e colágeno 
alterado. Isso ocorre por aumento de infiltrados 
inflamatórios e enzimas proteolíticas, que aumenta 
macrófagos ativos na placa aterosclerótica ou 
vasculite. Pode haver predisposição genética. 
 Hipertensão sistêmica pode causar estreitamento 
significativo das arteríolas, que causam isquemia 
da camada média externa, que levam a 
alterações degenerativas e formação de cicatrizes 
e perca de fibras elásticas, e perca de células 
musculares lisas 
 Embolização de trombo séptico (Endocardite inf.) 
 Infecções diretas na parede arterial (sífilis terc.) 
 
Por isso HAS e aterosclerose são fatores tão importantes 
de aneurisma. 
 
 
Medicina. UFPE, Campus Agreste Felipe Silvestre, 2018.1 
 
 
QUADRO CLÍNICO 
HSA é decorrente de ruptura de AIC. Apresenta-se 
como cefaléia intensa de instalação ictal (pior dor da 
vida), dor cervical, náuseas, vômitos, fotofobia e perda 
de consciência. 
Exame físico mostra sinais de irritação meníngea, 
hemorragias retinianas e sinais neurológicos focais. 
Paralisia do nervo oculomotor nos aneurismas de 
artéria comunicante posterior e paralisia do nervo 
abducente nas hemorragias de HIC. 
Pode ocorrer cefaléia mais leve precedendo de 2 
a 8 semanas a HSA, que representa instabilização da 
parede do aneurisma (cefaléia sentinela). 
A cefaléia pode ser isolada em até 40% das vezes. 
O mau prognóstico está associado a depressão da 
consciência, idade avançada e sangue visualizado a 
imagem. 
 
DIAGNÓSTICO 
 
TC sem contraste é exame essencial. Revela 
hidrocefalia, hematoma intraparenquimatoso e edema 
cerebral. 
O exame do LCR deve ser indicado a todo 
paciente com TC duvidosa ou negativa, na busca de 
hemácias e xantocromia (cor diferente). Minucioso 
exame dos vasos intracranianos. 
Se a dúvida persistir, arteriografia digital cerebral 
está indicada. 
Sinais de isquemia do miocárdio ocorre em 25% 
dos pacientes com anormalidades no ECG. 
 
TRATAMENTO 
 
Prioritariamente na emergência de alta 
complexidade, garantindo vias aéreas, ventilação 
adequada e estabilidade hemodinâmica. Se 
preocupação com o nível de consciência, deve 
manter-se entubado e prevenir hipercapnia. 
Analgesia – Paracetamol e codeína 
Rigoroso controle de PA 
Combater hipertermia e hiperglicemia 
Nimodipino reduz risco de complicações 
isquêmicas, 60mg 4h/4h por 3 semanas. 
Fenitoína para prevenir crises epilépticas. 
Dexametasona para reduzir inflamação 
O tratamento do aneurisma é por clipagem 
neurocirúrgica microvascular 
 
COMPLICAÇÕES 
 
Vasoespasmo sintomático cerebral refere-se a 
uma série de sintomas de deteriorização neurológica 
por constrição de artérias cerebrais associado ao 
grande volume de sangue. entre 3-12 dias depois do 
HSA. Doppler transcraniano seriado é o melhor para 
prever. 
Nimodipina 60mg/4-4h VO em 21 dias pós-
sangramento é forma de prevenção. Se aneurisma 
tratado, aumentar pressão faz parte do tratamento. Se 
falha terapêutica, angioplastia e drogas 
vasodilatadoras parecem uma opção promissora. 
 
TROMBOSE VENOSA CENTRAL 
 
Geralmente ocorre em adultos jovens ou crianças. 
Mulheres são mais acometidas. 
A TVC pode ser séptica ou asséptica. As formas 
assépticas predominam sobre as tromboflebites, 
podendo acometer seios venosos durais e sistemas 
venosos superficial e profundo. O envolvimento de 
múltiplos seios e veias é regra. 
20% dos TVC não tem causa definida, e 70% estão 
protrombóticos. 
 
QUADRO CLÍNICO 
 
Instalação é gradual, podendo manifestar-se 
aguda, subaguda e crônica. Cefaleia é comum em 
90% dos casos. Sintomatologia focal, déficits 
neurológicos, crises epilépticas parciais e alteração do 
nível de consciência. 
 
DIAGNÓSTICO 
 
 
A TC pode visualizar trombo no interior do seio 
dural. Mas, a RM/Angio-RM é padrão ouro para 
diagnóstico de TVC. LCR encontra-se muitas vezes 
alterado. 
 
TRATAMENTO 
 
Antibioticoterapia se séptico, controlar convulsões 
e manifestações de HIC. 
Anticoagulação com heparina não fracionada ou 
dose de HBPM, seguido de varfarina VO.

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