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Resenha Os Sonâmbulos

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - CAMPUS BALNEÁRIO CAMBORIÚ
Disciplina: História das Relações Internacionais I
Professor: Itamar Siebert
Acadêmicas: Ana Paula De Marco e Larissa Pruner
RESENHA: OS SONÂMBULOS
De forma didática e com uma enorme riqueza em detalhes, Christopher Clark descreve, em sua obra ‘Os Sonâmbulos - Como Eclodiu a Primeira Guerra Mundial’, a grande teia de acontecimentos que desencadearam a Primeira Grande Guerra - que, como escreve Clark, todos tentavam evitar e ao mesmo tempo se preparavam para enfrentar. Nesse sentido, o título da obra remete a todos aqueles que tomaram decisões fundamentais que levaram à guerra: reis, diplomatas, comandantes militares e políticos que caminharam, desatentos como sonâmbulos, em direção à enorme tragédia que procuravam evitar. No primeiro capítulo da primeira parte - Caminhos para Sarajevo, Clark remonta minuciosamente os principais acontecimentos que antecederam o assassinato do sucessor do trono austro-húngaro, considerado o eminente pontapé inicial para a Primeira Guerra, numa tentativa de reconstruir o rumo descuidado do continente Europeu até ela.
Nesse contexto, a obra se inicia com uma descrição do sangrento assassinato de Alexandre I, rei da Sérvia, e de sua esposa, a infame rainha Draga, em 1903, pelo grupo terrorista secreto Mão Negra, que, onze anos depois, foi responsável pelo assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando de Habsburgo e sua esposa Sophia, cujas mortes são consideradas o estopim para o começo da Primeira Guerra Mundial. Após a descrição da forma brutal como o palácio foi invadido e de como seus residentes foram assassinados, o autor descreve o porquê de tal carnificina, remontando ao passado do império de Alexandre e às suas escolhas - dentre elas o casamento com Draga - que levaram ao desgosto popular, à revolução dos sérvios e, consequentemente, à sua queda. Tamanha brutalidade, que foi tratada com descaso - e, pode-se dizer, até com um certo ar comemorativo - por parte do povo sérvio, foi fundamental para desestruturar o posicionamento da Sérvia nas relações internacionais. Desse modo, o novo governo regicida era fortemente nacionalista, além de defensor e reivindicador dos direitos sérvios e do pan-eslavismo. 
Como aponta Clark, a Península balcânica é um cruzamento estratégico atravessado por tramas entre acentuados e agressivos nacionalismos em expansão (a exemplo da Sérvia), e choques hegemônicos entre as grandes potências às quais o território interessava, fosse direta ou indiretamente. Assim, ele discorre sobre como interagem a monarquia conservadora dos Habsburgos e o regime radical sérvio que sonha com uma Grande Sérvia e a alcançar, a qualquer custo, a dominação dos Balcãs. Além disso, Clark descreve minuciosamente cada detalhe da complicada trama da arquitetura do assassinato do arquiduque e como a decisão de fazê-lo foi tomada. Esta que foi a responsável por desequilibrar de uma vez por todas o sistema político na Europa. Representando uma potencial ameaça ao projeto de reunificação, o arquiduque foi escolhido para o atentado pois, segundo a lógica dos movimentos terroristas, “é preciso temer mais os reformistas e os moderados do que os inimigos declarados e os linhas-duras”.
Nesse sentido, observa-se a importância do livro para esclarecer os acontecimentos prévios à Primeira Guerra Mundial. Assim, o autor, no primeiro capítulo, utiliza-se de uma rica gama de detalhes para formar uma narrativa a respeito da instabilidade Sérvia. A falta de preocupação de Clark a respeito do recorte temporal e o uso exacerbado de detalhes, todavia, dificulta a leitura. Com o objetivo de livrar a Alemanha do título de única culpada pela guerra, sem apontar culpados, mas sim apontando agentes, o autor esclarece os reais motivos pelos quais a guerra veio a ocorrer. Nesse sentido, todos os atores do sistema político europeu tiveram sua parcela de culpa ao agir como “sonâmbulos” a respeito da política internacional, cegados pela busca de suas identidades nacionais.

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