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06 - Fred Didier (Aula LFG)

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�LFG – PROCESSO CIVIL – Aula 06 – Prof. Fredie Didier – Intensivo I – 09/03/2009
Art. 109, X: “Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) as causas relativas à nacionalidade e à naturalização.”
	Este inciso segue uma linha que o professor já apontou: questões relacionadas a foro internacional, é a Justiça Federal que julga. 
Art. 109, XI: “Aos juízes federais compete processar e julgar: as causas que versam sobre direitos indígenas.”
Quarta hipótese de competência em razão da matéria. Fala das causas que versam sobre direito indígena. A competência aqui é em razão da matéria. Não é porque um índio é parte que a causa é da Justiça federal. Para ser da Justiça Federal , a causa tem que versar sobre direitos indígenas, direitos coletivos, de uma comunidade, do índio considerado coletivamente. Direitos indígenas aí, são direitos dos índios. Se uma comunidade indígena entra com ação possessória porque alguém invadiu a tribo, a Justiça competente é a Federal porque aí são indígenas como grupo. Se o índio compra uma bicicleta com defeito, ele tem que reclamar é a na Justiça comum Estadual. Uma súmula muito antiga do STF, que embora seja súmula que envolve direito penal, é interessante para a gente neste momento. É a súmula 140 do STJ e diz respeito a esse inciso XI. Pode ser aplicada por analogia:
Súmula 140, STJ: “Compete à Justiça comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou vítima de um crime.” 
Competência em razão da FUNÇÃO, ou FUNCIONAL
Art. 109, X: “Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação (...).”
A competência funcional dos juízes federais está prevista também no inciso X (que também trata da competência em razão da matéria): compete ao juízo federal executar sentenças estrangeiras e cumprir cartas rogatórias. Essa competência é funcional porque pouco importa a matéria da sentença estrangeira. Quem executa sentença estrangeira no Brasil é a Justiça Federal. Não importa a pessoa envolvida e não importa a matéria. De novo matéria relacionada ao âmbito internacional: juiz federal é que cuida.
Competência em razão da PESSOA
É a competência mais importante da Justiça Federal. O primeiro inciso do assunto é o inciso I, do art. 109. A presença de alguns sujeitos no processo (e veremos quais são) faz com que a causa seja da Justiça Federal. Basta que um dos sujeitos faça parte do processo. Se os sujeitos são a União, as entidades autárquicas federais e as empresas públicas federais, a causa vai ser processada e julgada por um juiz federal. Isso está no texto da Constituição.
Algumas observações precisam ser feitas para ser lembradas quando se trata da competência em razão da pessoa:
1ª Observação – União é o nome da União. Não é União Federal. A União é uma só. Não há que se falar em União Federal. No concurso, não falar em União Federal porque isso é ridículo. 
2ª Observação – Entidade autárquica é gênero. Há várias espécies de entidades autárquicas. Há as autarquias como o INSS, o Banco Central, as fundações autárquicas, que também estão dentro dessa rubrica, como a FUNAI, como a FUNASA, as universidades federais, as agências reguladoras federais. Os conselhos de fiscalização profissional, que são entidades autárquicas muito peculiares (cheias de graça, cheias de capricho), como a OAB. Tudo isso está dentro da rubrica “entidade autárquica federal”, que é bem amplo.
3ª Observação – notem que só as empresas públicas federais fazem com que a causa seja da Justiça Federal. Causa envolvendo sociedade de economia mista federal é julgada na justiça estadual. Cuidado com isso! Petrobras, por exemplo, Banco do Brasil, Banco do Nordeste. São todas as sociedades de economia mista federais e vão para a Justiça Estadual. Empresas públicas: Correios, Caixa Econômica Federal, BNDES, INFRAERO: Justiça Federal. 
4ª Observação – há uma questão muito tormentosa que o professor não sabe como poderia ser perguntada em concurso. A CF não fala em Administração Direta, autarquia, fundação pública, empresa pública, mas não fala no MPF. A pergunta que se faz é: a presença do MPF basta para que a causa seja da Justiça Federal? É suficiente que o MPF seja parte para que a causa seja da Justiça Federal? Ele é um desses entes cuja presença em juízo faz com que a competência seja da Justiça Federal? O professor segue a orientação no sentido de que não. A presença do MPF não basta. O MPF só levará a causa da JF se a causa se encaixar em uma das hipóteses tradicionalmente cabíveis. Embora, haja decisão do STJ dizendo que a presença do MPF é o suficiente para que a causa seja da Justiça Federal (Recurso Especial nº 440002), entendendo que a presença do MPF em juízo é suficiente para atrair a causa para a Justiça Federal, essa não é uma causa muito debatida e, quando é, há controvérsia.
5ª Observação – Vimos, então, quais são as pessoas cuja presença remete o processo à Justiça Federal. Há três súmulas do STJ que estão relacionadas ao que acabamos de ver e que tem que ser estudadas conjuntamente, como se fossem capítulos de uma história. Elas juntas contam uma história. É preciso ler uma depois da outra para entender. São as súmulas 150, 224 e 254. Elas caem demais em concurso. A história é:
Pensem numa causa que esteja tramitando na Justiça Estadual e vem a União (um desses entes federais, v.g., INSS) e pede para intervir nesta causa. Quando há esse pedido de intervenção, o juiz estadual não pode decidir a respeito disso. Ele tem que, automaticamente, remeter a causa à Justiça Federal. Caberá a um juiz federal decidir se a União pode ou não intervir. Pediu para intervir na Justiça Estadual, o juiz estadual remete ao federal. Isso é o que está na Sumula 150.
Súmula 150, STJ. “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.”
Aí a causa vai para a Justiça Federal. Chegando lá, o juiz federal decide se a União vai ou não intervir. Se ele entender que a União não pode intervir e exclui a União do processo. Ao fazer isso, o juiz federal perde a competência para julgar a causa, já que a União não fará parte do processo, a causa terá que ser devolvida à Justiça Estadual. E o que diz a Súmula 224:
Súmula 224, STJ. “Excluído do feito o ente federal cuja presença levara o juízo estadual a declinar da competência, deve o juiz federal restituir os autos e não suscitar conflito.”
Os autos voltam à Justiça Estadual, ao juiz estadual estupefato. O que ele faz diante desse retorno surpreendente? Não faz nada. Não pode fazer nada. Vai ter que aceitar. É o que diz a Súmula 254:
Súmula 254, STJ. “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada pelo Juízo Estadual.”
Ainda examinando o inciso I, do art. 109, aparece a última coisa a ser dita: há quatro situações em que a causa não será da Justiça Federal, mesmo se envolver entes federais. São quatro exceções à regra, em que a causa não é da Justiça Federal:
Temos uma tendência psicológica de achar que essas 4 hipóteses são aquelas em que juiz estadual julga causa federal, com recurso para o TRF, aquilo que vimos na aula passada. As 4 situações que veremos, não estão dizendo isso. São 4 exceções, em que a causa não é nem será da Justiça Federal. Tramitarão fora da Justiça Federal, sempre! Não é um dos casos excepcionais em que o juiz estadual julga causas federais porque essas 4 hipóteses não são federais. 
1ª Exceção – Causas eleitorais – muito simples. Se é eleitoral, Justiça Eleitoral. Nem tem o que discutir.
2ª Exceção – Causas de falência – aqui tem uma ponderação a fazer. Falência é Justiça Estadual e onde se lê falência é preciso ampliar para incluir insolvência civil e recuperação empresarial. A CF só fala em falência, mas a doutrina e jurisprudência ampliaram e entenderama falência como qualquer execução universal (há vários credores para executar o sujeito). 
3ª Exceção – Causas trabalhistas – Justiça do Trabalho. Aqui uma observação: em causas envolvendo servidores, cujo vínculo é estatutário não são causas trabalhistas. Portanto, questões relacionadas a servidores públicos federais, justiça federal. Só vai para a Justiça do Trabalho se disser respeito a vínculo celetista. Exemplo: Empregados da CEF.
4ª Exceção – Causas relativas a acidente do trabalho não são da Justiça Federal. A CF diz isso. Atenção porque todo mundo vai ter que fazer o esquema que o professor vai passar. É um pouco chato. Acontece um acidente, um fato que o legislador divide em dois tipos: existem os acidentes de trabalho e existem os acidentes de outra natureza. Aqueles que ocorrem durante a relação de trabalho e aqueles de outra natureza (estou fazendo um suco em casa e a lâmina corta a minha cara). 
Acidente de Trabalho: Quando ocorre um acidente do trabalho, surgem para o acidentado duas pretensões: 
Uma pretensão de natureza previdenciária, que é uma pretensão para um benefício previdenciário decorrente do acidente do trabalho, pretensão essa que é contra o INSS. Se é benefício previdenciário, a ação é proposta contra o INSS, mas, pasme! Na Justiça Estadual. Por que estadual? Porque a CF exclui as causas de acidente do trabalho da Justiça Federal. Ações previdenciárias acidentárias trabalhistas são processadas e julgadas, excepcionalmente, por juiz estadual e é Justiça Estadual do começo ao fim, até segunda instância. Essa ação previdenciária não é daquelas que tramitam por favor na justiça estadual com recurso do TRF. Não são aquelas que excepcionalmente vão para a Justiça Estadual se não tiver vara da Justiça Federal. Qual a razão disso? Não tem. E essas ações vão para a Justiça Estadual só porque a Constituição disse que é assim. Isso também inclui ação de revisão desse benefício. Não só as ações de concessão do benefício, mas também aquelas para rever o benefício. Isso foi questão de um concurso para Defensor Público/RJ. É muito importante saber isso. O acidente do trabalho, como dito, gera duas pretensões, uma previdenciária e 
Uma pretensão de natureza indenizatória. Essa indenizatória é contra o empregador e essa é na Justiça do Trabalho. Ação indenizatória decorrente de acidente de trabalho proposta contra o empregador, Justiça do Trabalho. Então, nesses dois casos, nunca vai ser federal. 
Acidente de Outra Natureza: Quando ocorre um acidente comum (a lâmina do liquidificador que destrói a minha cara), também surgem para o acidentado duas pretensões:
Uma previdenciária contra o INSS – Esta será uma ação acidentária previdenciária não trabalhista cujo trâmite se dará na Justiça Federal. A Constituição excepciona o acidente do trabalho mas não excepciona acidentes de outra natureza. 
A pretensão indenizatória de outra natureza será proposta contra o causador, no caso a Arno, a Walita. Essa ação vai ser proposta na Justiça Comum. Por que comum e não estadual? Porque pode ser que o causador seja um ente federal e se for assim, a Justiça será a Federal. Se quem destruiu sua cara foi um caminhão do exército, a ação será proposta contra a União. Ação acidentária indenizatória contra a União. Aqui, o certo é colocar Justiça comum e a competência será de quem tiver que ser: federal ou estadual, conforme o causador do dano. 
Continuemos no estudo da competência em razão da pessoa:
Art. 109, II: “Aos juízes federais compete processar e julgar: as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e município ou pessoa domiciliada ou residente no país.”
Essas são causas que não envolvem nenhum ente federal. Ou é estado estrangeiro ou é organismo internacional contra domicílio ou pessoa residente aqui. O que essa causa nos leva a indagar? São duas as observações quanto ao inciso II:
1ª) Existe um princípio no direito internacional que é o princípio da imunidade de jurisdição segundo o qual um Estado é imune à jurisdição de outro. E esse princípio acaba nos intrigando. Como é que pode a própria CF imaginar causas envolvendo Estado estrangeiro no Brasil? É que esse princípio da imunidade da jurisdição foi mitigado ao longo dos tempos. E de que maneira? Não se aplica às causas em que o Estado estrangeiro age como particular. Essas causas não ficam imunes à jurisdição. Ficam imunes as causas em que o Estado estrangeiro atua como soberano quando, por exemplo, nega um visto de entrada (isso não dá para discutir na Justiça. Todo Conceder ou negar visto é exercício de soberania). A justiça brasileira não pode discutir atos de soberania de outro estado. FD aluga a casa para Obama, Presidente dos EUA, passar as férias e ele não paga o aluguel. Ele vai entrar com uma ação de despejo contra os EUA na Justiça Federal. Carro de embaixada que bate no seu carro. Justiça Federal porque aí é o Estado estrangeiro como um particular que atropelou. Não se discute soberania. Por outro lado, causas trabalhistas envolvendo empregados da embaixada americana: justiça do Trabalho.
2ª) Essas causas têm uma grande peculiaridade, um detalhe importantíssimo: os recursos contra as decisões proferidas nessas causas vão ao STJ e não ao TRF. O STJ funciona como segunda instância nessas causas. Isso é de uma sutileza tamanha. Tem que analisar a Constituição como um todo para entender. MP/BA: “O município de Salvador litiga com os EUA. Quem julga a causa?” A Justiça Federal de Salvador com recurso para o STJ. 
Art. 109, VIII: “Aos juízes federais compete processar e julgar: os mandados de segurança e os habeas data, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais.”
	
Caiu esse inciso no último concurso do MP/BA. O segredo aqui é saber o que é ato de autoridade federal. Sabendo isso, vc sabe que mandado de segurança e habeas data contra to dessa autoridade é Justiça Federal. Autoridade federal é aí não apenas aquela que compõe os quadros da administração federal (Delegado da Receita Federal, Superintendente do INSS). o problema aí é que autoridade federal também pode ser autoridade privada no exercício de funções federais. Aí, o MS contra ato dela irá para a Justiça Federal. O que caiu no concurso? “Mandado de segurança ou habeas data contra ato de dirigente de instituição de ensino superior privada (PUC, Estácio de Sá), quem julga?” se a universidade for estadual, a Justiça é estadual. Mas e a universidade for privada, Justiça Federal. O reitor da PUC faz uma bobagem. Mandado de segurança na Justiça Federal. Se vc, em vez de entrar com mandado de segurança, entrar com ação comum, será Justiça Estadual. 
Sobre isso, tem duas Súmulas muito importantes a ser estudadas. São do antigo TFR (Tribunal Federal de Recursos):
 Súmula 15, do TFR: “Compete à Justiça Federal julgar mandado de segurança contra ato que diga respeito ao ensino superior, praticado de dirigente de estabelecimento particular.”
Súmula 60, do TFR: “Compete à Justiça Federal decidir da admissibilidade de mandado de segurança impetrado contra ato de dirigentes de pessoas jurídicas privadas ao argumento de estarem agindo por delegação do poder público federal.”
Até agora o que vimos, foi a competência dos juízes federais. Agora veremos a competência dos Tribunais Regionais Federais.
A Competência dos TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS
A competência do TRF, de que trata o art. 108, da CF, se divide em duas espécies:
Competência originária – Prevista no art. 108, I.
Competência derivada – Prevista no art. 108, II.
Competência ORIGINÁRIA do TRF
O inciso I, do art. 108, que trata da competência originária do TRF, tem cinco letras, mas não veremos todas (porque algumas são criminais). Veremos as letras “b”, “c” e “e” – três regras de competência originária do TRF:
1ª Hipótese de competência originária (letra “b” do art. 108) – é a competência para ação rescisória. Diz o inciso “b” que o TRF vai julgar ações rescisórias de seus julgados ou dosjuízes federais da sua região. Uma observação de importância: aprendam uma regra que não tem exceção: todo tribunal julga as ações rescisórias de seus julgados. Imaginem que a União proponha uma rescisória contra acórdão do TJ do Ceará. Vai propor onde? A União é autora e o acórdão rescindendo é do TJ do Ceará. A União é autora, mas como é autora de uma rescisória do TJ do Ceará é lá que deverá litigar. O TRF só pode julgar rescisória de seus julgados ou de julgados de seus juízes federais. O TRF não pode julgar rescisória do TJ.
2ª Hipótese de Competência originária (letra “c” do art. 108) – é a competência para mandado de segurança e habeas data. Aqui á linha é a mesma linha da letra b: mandado de segurança ou habeas data contra os próprios atos ou atos de juiz federal.
3ª Hipótese de Competência originária (letra “e” do art. 108) – cuida do conflito de competência: entre juízes federais vinculados a um mesmo tribunal. Essa letra só fala em juízes federais. Conflito de competência entre juízes federais vinculados à mesma região é o TRF que julga. Vem o STJ e edita a Súmula 03, dizendo nessa súmula, que o conflito de competência entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição federal na mesma região também é do TRF. percebam que isso não está na Constituição. A CF fala de conflito entre juízes federais. O STJ amplia a regra “e” do art. 108. Para o professor, se a regra “e” foi ampliada por interpretação jurisprudencial, a “b” e a “c” também merecem ser ampliadas para incluir rescisória de decisão de juiz estadual investido de jurisdição federal e mandado de segurança de juiz estadual investido de jurisdição federal. É preciso acrescentar nas letras “b” e “c” também a figura esdrúxula do juiz estadual investido de jurisdição federal, já que o STJ incluiu essa figura na letra e. na letra e tem súmula. Nas outras letras, vc interpreta a partir da súmula.
Competência DERIVADA do TRF
Aqui é muito simples: O TRF vai julgar recursos de juízes federais e de juízes estaduais investidos de jurisdição federal, por expressa determinação do art. 108, II.
Vamos dar uma olhada na Súmula 55, do STJ:
Súmula 55, STJ: “O Tribunal Regional Federal não é competente para julgar recurso de decisão proferida por juiz estadual não investido de jurisdição federal.”
Isso porque o TRF só julga decisão de juiz federal ou de juiz estadual investido. Se o juiz estadual não for investido, o TRF não julga recurso. Ora, o que essa súmula diz? Exatamente o que a CF diz, mas com outras palavras. Sucede que, no final do ano passado (2008), o STJ editou uma nova súmula que, segundo FD contraria a súmula 55. É a súmula 365:
Súmula 365, STJ “A intervenção da União como sucessora da Rede Ferroviária Federal desloca a competência para a Justiça Federal, ainda que a sentença tenha sido proferida por juiz estadual.”
Até a primeira parte do dispositivo tudo bem. Nada demais: A RFF era uma sociedade de economia mista, com causas na Justiça Estadual, como a União é sucessora, desloca para a Federal. Até aí, tudo certo. Só que vem a vírgula e desloca a causa para a Justiça Federal. Imaginem João contra Rede Ferroviária Federal. Essa ação tramitava na Justiça Estadual. Aí, João ganha. O juiz sentenciou, a RFF recorreu e foi para o TJ julgar apelação (apelação contra sentença de juiz estadual é o TJ que julga). No julgamento da apelação, vem a União e sucede a RFF (que desapareceu), já em grau de apelação depois de proferida a sentença. A União entra no processo que é uma apelação de um juiz estadual. E quem julga isso é só o TJ. O TRF não julga recurso de decisão do juiz estadual. Então, essa intervenção da União, em grau de recurso deveria fazer com que a causa ficasse no mesmo lugar porque vc não pode deslocar para a Justiça Federal (TRF julgar) uma apelação proferida por um juiz estadual. Só que a súmula diz o contrário. Esta súmula, segundo o professor, não tem respaldo constitucional e contraria a Súmula 55. Para ele, só o TJ poderia julgar esse recurso porque eu não poderia remeter uma apelação para o TRF julgar se essa apelação é de decisão de juiz estadual. Fica, então, essa novidade. É súmula nova e tem que ter cuidado com ela. 
Feitas essas considerações, vamos abandonar esse assunto e vamos começar outro assunto, tão longo quanto, mas 300 mil vezes mais importante. Talvez seja o assunto mais importante do semestre. Se vc terminar o curso sabendo com firmeza isso que o professor vai dar agora, os demais assuntos se tornarão para vc assuntos muito mais fáceis. Nas reflexões sobre o ensino do direito processual, ele tem uma certeza: as pessoas têm horror a processo porque todas elas desconhecem em absoluto esse assunto e porque não sabem isso tudo o mais vira um mistério. Nós vamos estudar agora, a TEORIA DA AÇÃO.
TEORIA DA AÇÃO
CONCEITO DE AÇÃO
Existem três acepções da palavra ação:
1ª) 	Acepção de natureza constitucional
2ª)	Acepção de natureza processual
3ª)	Acepção de natureza material
1ª) 	AÇÃO: Acepção de natureza CONSTITUCIONAL 
Qual é o sentido constitucional da palavra ação? É o sentido de direito de ação, de ir a juízo, o direito de acesso aos tribunais. Esse é o sentido do direito de ação associado ao princípio da inafastabilidade. Quando examinamos isso, lá na aula de jurisdição, examinamos o direito de ação. Vimos, inclusive, que o direito de ação é um direito fundamental, que é um direito incondicionado, e o direito de ação é autônomo. Em que sentido? Eu tenho o direito de ir a juízo, independentemente de ter razão. Eu posso estar falando a maior barbaridade do mundo. Eu tenho direito de acesso à Justiça, de fazer valer as minhas alegações. Eu posso ou não ter o direito que alego, mas sempre tenho o direito de ir a juízo dizer isso. E ele também é um direito abstrato. Em que sentido? Eu posso ir a juízo afirmar qualquer coisa, qualquer tipo de problema. Abstraia a situação! Eu tenho direito de ir a juízo, pouco importa o que eu alego. Essa acepção não é a que a gente vai estudar hoje. Por que? Porque essa já estudamos. Ao estudar o princípio da inafastabilidade, já estudamos essa acepção. 
Quando pegamos um programa de concurso para estudar, vai estar lá: ação, conceito, elementos, condições da ação, classificação. Todos esses subtemas (elementos, condições, classificação...) não tem nada a ver com essa acepção constitucional da palavra ação porque a acepção de natureza constitucional tem a ver com o princípio da inafastabilidade. E qual o perigo de não separar isso? O perigo é que nos livros, normalmente, quando aparece o capítulo ação, os autores conceituam a ação como direito de ir a juízo e logo depois começam a classificar as ações, logo depois começam a falar em condições da ação. E aí, esse é o erro lamentável e que compromete toda a compreensão do tema. Isso porque elementos, condições e classificação da ação, não dizem respeito a essa acepção constitucional. O que precisamos saber sobre essa acepção é aquilo que o professor falou sobre o princípio da inafastabilidade. E o assunto “ação” que cai em concurso é com outra dessas acepções, mas especificamente, com a acepção “b”, que é a acepção da ação como ato.
(fim da primeira parte da aula)
Obs.: A Acepção de natureza PROCESSUAL, que dá o sentido de ato à ação, será estudada pós a acepção da ação na sua natureza material. Essa é uma ordem que se justifica didaticamente. Sucede que, para compreender a acepção processual, temos que saber a 1ª e a 3ª acepção. Por isso, vamos estudar a acepção de natureza material primeiro.
3ª) 	AÇÃO: Acepção de natureza MATERIAL
Aqui a palavra ação aparece no sentido de direito.
Todos nós sabemos que temos vários direitos. Direito de crédito, direito à herança, direito de não ser invadido na sua posse, direito a cortar galho de árvore que invade o meu terreno. Esses direitos que estão no Código Civil, por exemplo, nos conferem direitos: de crédito, deanular, etc. Os vários direitos que temos (direito ao crédito, à herança, de cortar o galho) são ações em sentido material, de modo que, acontece muito de a gente achar um texto de lei que diga assim, por exemplo: “o titular do direito tal tem ação contra outra pessoa, o incapaz tem ação contra o seu representante.” 
A palavra ação aí, que é a que está no Código Civil como, por exemplo, o art. 195: “os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus representantes que deram causa à prescrição”, por exemplo. Esse artigo usa a palavra ação nesse sentido, no sentido de “direito”. Que direito? Exatamente o direito que eu afirmo ter quando vou a juízo. Quando provoco a atividade jurisdicional eu afirmo que tenho algum direito: “juiz, eu tenho direito de regresso contra tal pessoa, tenho direito de anular tal contrato, tenho o direito de mudar meu nome.” Sempre que se vai ao Judiciário se leva a afirmação de algum direito material e esse direito material costumava ser chamado de ação. E esse direito material que era uma acepção da palavra ação ainda é utilizado. A palavra ação no sentido de direito. 
No sentido constitucional, ação é o direito de ir a juízo. No sentido material é o direito que eu levo quando vou a juízo. É o direito que eu afirmo ter quando vou a juízo. Sempre que vou ao judiciário, eu vou exercitando o meu direito de ir a juízo, levando a afirmação de um direito que eu tenho contra o réu: “juiz, sou cidadão, vim aqui e eu digo que tenho direito de crédito contra o réu que me deve uma grana.” Então, eu tenho o direito de ir a juízo e tenho (ou alego ter) o direito contra o réu (direito de crédito, direito de anular, direito disso, direito daquilo). Está aí a ligação entre esses dois. Obviamente que ação em sentido material não é um assunto que vamos estudar aqui porque esse é um assunto de direito material, que trata do estudo dos diversos direitos que existem. Isso é direito material. Em sentido constitucional nós já estudamos e em sentido material não é com o professor. Passemos, então ao estudo da ação como ato, na sua natureza processual , que é o que nos interessa.
2ª) 	AÇÃO: Acepção de natureza PROCESSUAL 
Aqui a palavra ação aparece no sentido de ato. 
O que é a ação como ato? A ação como ato é o exercício do direito de ação, de ir a juízo, exercício pelo qual eu afirmo ter um determinado direito, pelo qual eu afirmo a titularidade em alguma situação material. Por isso, a gente só consegue entender esse segundo sentido sabendo os outros dois. Porque o sentido processual pressupõe que vc saiba o que é o direito de ir a juízo, já que a ação-ato é o exercício do direito de ir a juízo, e pressupõe que vc lembre que há direitos que se levam a juízo. E o ato de fazer isso se chama ação. Esse é o ato que provoca a atividade jurisdicional, que faz com que o processo nasça. O processo nasce a partir desse ato que se chama ação. E é esse ato que vai ser estudado a partir de agora. Vamos estudar a provocação do Judiciário, como pode ser provocado para resolver um determinado problema. 
Percebam que a ação exercida, que é o ato-ação exercido, é sempre concreta. Essa ação é sempre concreta! Por que? Porque ela sempre se refere a um problema concreto. Quando eu provoco a atividade jurisdicional, eu levo, no mínimo, um problema para ser resolvido. Às vezes levo vários problemas para o juiz resolver. Por isso, ela é sempre concreta. Ela sempre se refere a uma situação específica. Na aula sobre jurisdição, o professor falou que uma marca da jurisdição é que ela atua sobre situações concretas que são levadas ao Judiciário por meio deste ato que é o ato que provoca a atividade jurisdicional. Esse ato se chama ação e também se chama demanda. 
“A demanda, ou ação exercida, é o ato que provoca a atividade jurisdicional, sendo o exercício do direito de ação pelo qual se afirma a titularidade de alguma situação material.”
Ação ou demanda é o ato de provocação da atividade jurisdicional (exercido do direito de ir a juízo), que é também o ato pelo qual eu afirmo titularizar uma determinada situação jurídica. 
Tudo o que o professor disser a partir de agora se refere à demanda. Aquilo que está nos programas dos concursos como condições da ação são condições da demanda. Se aparece: elementos da ação, leia-se elementos da demanda. Se aparece classificações das ações, é a classificação das demandas. Eu classifico os atos! Não teria sentido classificar o direito de ação, porque o direito de ação é um só. Então, é preciso entender que a classificação da ação abrange os atos da demanda.
ELEMENTOS DA DEMANDA ou DA AÇÃO
Para compreender os elementos da demanda, é preciso atenção para o seguinte: essa situação material afirmada pelo demandante está em uma relação jurídica. Em toda demanda, o demandante afirma, pelo menos, a existência de uma relação jurídica. No mínimo, o demandante afirma existir uma relação jurídica. Essa relação jurídica afirmada em juízo é um dado fundamental para compreender o processo. É fundamental entender que em todo processo afirma-se, pelo menos, uma relação jurídica. É com base nela, que a gente vai saber, por exemplo, qual é o juízo competente. A questão da definição da competência, parte da relação jurídica discutida.
O professor quer que aprendamos a usar sempre o termo relação jurídica discutida. Sempre que ele falar nisso, temos que remeter à relação jurídica afirmada na demanda. A relação jurídica discutida pode vir no concurso como uma expressão em latim: res in judicio deducta. Ou seja, coisa em juízo deduzida. Relação deduzida em juízo é o objeto da discussão. 
Quem se lembra quais são os elementos de uma relação jurídica? Essa é a pergunta mais básica que existe em direito civil: partes, objeto e fato. Uma relação jurídica é exatamente isso: uma relação de pessoas em torno de um objeto por conta de um fato. A Parte Geral do Código Civil, que vai até o art. 232 é dividida em três partes. Será coincidência? O primeiro assunto no estudo do direito civil: pessoas. A primeira coisa que o Código Civil cuida é das pessoas. Depois ele fala dos bens e depois dos bens, os fatos jurídicos. E depois acabou a parte geral. Por que? Porque a parte geral do Código Civil cuida exatamente dos elementos da relação jurídica: sujeito, objeto e fato. Não é por acaso. Não é coincidência. Isso é fruto de anos de estudo. As pessoas perceberam que a parte geral do Código Civil tem que estudar aquilo que é geral, que pertence a qualquer relação jurídica. 
Agora, atenção porque é o pulo do gato. Se em toda a demanda afirma-se ao menos uma relação jurídica e a relação jurídica tem três elementos, toda demanda vai ter que envolver sujeito por conta de um fato em torno de um objeto. Por isso, pergunta-se quantos serão os elementos da demanda? 3. São três. Vamos tentar nos lembrar quais são os três elementos da demanda? E é para ser dito na ordem:
Partes 
Pedido 		ELEMENTOS DA AÇÃO
Causa de pedir
	Partes tem a ver com pessoa? O pedido tem a ver com o bem da relação? E a causa de pedir não é o fato? Não por acaso são três os elementos da ação. Os processualistas não acordaram de um dia para o outro com isso na cabeça. São três os elementos da ação porque são três as relações discutidas. E os três elementos da ação se relacionam diretamente. Eles podem perguntar no concurso: “relacione os elementos da ação com os elementos da relação jurídica..” 
Quem se lembra quantas são as condições da ação? Também são 3:
Legitimidade
Possibilidade jurídica do pedido	 CONDIÇOES DA AÇÃO
Interesse de agir
Cada condição da ação se relaciona a cada elemento da ação que, por sua vez, se relaciona com cada elemento da relação jurídica discutida. Isso não é por acaso??
Quantos são os critérios objetivos de distribuição da competência? Também são 3:
Competência em razão da pessoa
Competência em razão do valor	 CRITÉRIOS OBJETIVOS DE DISTIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA
Competência em razão da matéria
São trêsos critérios objetivos, e não é por acaso. Os critérios objetivos estão relacionados com a demanda. Se a demanda tem três elementos, três são os critérios objetivos.
Assim vocês aprendem processo e percebem que processo é, ao menos com relação a essas supostas ciências do direito, aquela que mais se desenvolveu intelectualmente nos últimos 100 anos. Ao passo que a coisa mais moderna que eles falam hoje sobre o direito privado é que o direito civil tem que ser examinado à luz da Constituição. Isso, os processualistas já diziam há uns 60 anos.
Feitas essas considerações, vamos começar a estudar os elementos da ação.
1.	Pedido
É um elemento importante, mas não será examinado agora. Será estudado em abril, quando estudarmos petição inicial. Assim, o professor não vai falar sobre isso neste momento.
2.	Partes
Na demanda existe demandante e demandado. Autor e réu. Demandante e demandado, autor e réu são as partes principais do processo. No processo também existe a chamada parte auxiliar, que é aquela parte que atua no processo com o objetivo de ajudar a outra. É o assistente. O assistente é parte, mas é parte auxiliar. Ele concorreria ao Oscar de melhor ator coadjuvante, mas não deixa de ser personagem da história. Só não é o protagonista. O professor tem medo de a gente achar que assistente não é parte, ou seja de a gente achar que assistente faz tudo o que a parte faz, mas não é parte e só faz para ajudar. Assistente é parte!
Coloquem na cabeça que existem também as chamadas partes incidentais, ou partes do incidente. O que é isso? Existem sujeitos que só são partes em alguns incidentes processuais e não em todo o processo. Exemplo: o juiz não é parte, obviamente, mas no incidente de suspeição, ele é parte. O juiz é parte apenas no incidente em que se alega a sua suspeição.
Outra coisa que vcs precisam compreender é que parte é um contexto processual. A parte é aquela que está no processo. Porque pode ser que a parte do conflito seja uma e a parte do processo seja outra. Pode ocorre que as partes que estão brigando sejam uma e as partes que estão em juízo sejam outras. Pode ser que haja essa não coincidência entre as partes do processo e as partes do litígio, que são as partes em sentido material. As partes em sentido material nem sempre coincidem com as partes do processo. Exemplo: guri e pai estão brigando. O guri quer alimentos e o pai não quer dar. Se o guri vai a juízo contra o pai, as partes do processo são iguais às partes do litígio. Ambos reproduzem essa briga em juízo. Só que pode acontecer de o MP propor a ação pelo guri. Se isso acontecer, o MP será parte no processo, pedindo alimentos para o juiz, mas não é parte do litígio. Não é ele que quer alimentos. O MP não será parte do litígio. Mas ele é parte do processo. Ele pode pedir alimentos para o guri. Partes no processo: Ministério Público e pai. Partes no litígio: guri e pai.
A doutrina criou um termo, chatinho, mas que temos que anotar: Parte Complexa. O que é essa expressão? O que significa? Quando um incapaz está em juízo, ou uma pessoa jurídica está em juízo, ambos precisam de alguém a seu lado. O incapaz precisa do seu representante e a pessoa jurídica precisa do órgão que cuide de seus interesses. Incapaz e pessoa jurídica em juízo sempre vão estar acompanhadas por alguém. Por conta disso, surge uma figura estranha: que é uma parte composta por dois sujeitos: incapaz e representante, pessoa jurídica e seu órgão (diretor, presidente). Esse conjunto incapaz e representante, órgão e pessoa jurídica se chama parte complexa. A esse conjunto dá-se o nome de parte complexa. 
Com isso, terminamos “partes” e agora vamos entrar no elemento da ação, que é mais complicado que é a causa de pedir (36m30s).
3.	Causa de Pedir
	FENÔMENO JURÍDICO
	
	1
	
FATO DA VIDA *
	
Acidente, murro, beijo...
	
	1
	
	2
	HIPÓTESE NORMATIVA
	
Se sobre o fato da vida em questão incide uma hipótese normativa (incidência ou subsunção – vide seta*), o fato passa a ser um fato jurídico.
	LEI
Direito
	2
	
	3
	FATO JURÍDICO
	
É o fato da vida sobre o qual incide uma norma e cujo efeito mais importante é a relação jurídica. 
Causa de pedir remota :
Ativa – fato gerador do direito
Passiva – fato que gera ida ao Judiciário
	CAUSA DE PEDIR 
(= CPP + CPR)
	3
	
	4
	RELAÇÃO 
JURÍDICA
	Direitos 
	
	
Fundamentos jurídicos da demanda. 
Direito.
Causa de pedir próxima.
	
	4
	
	
	
	Deveres
	
	
	
	
	
	5
	DEMANDA
	
	PEDIDO
	5
Esquema do professor foi feito no quadro (eu não posso ver, por óbvio, mas reproduzi do jeito que entendi, pelo que escutei). 
O fenômeno jurídico se estrutura mais ou menos seguindo essa suposição do professor. Por exemplo: um fato da vida ocorre: um acidente, um murro, um beijo, etc. Se esse fato tiver uma previsão normativa para ele, essa hipótese normativa recairá sobre esse fato, tornando-o um fato jurídico. O fato jurídico é o fato da vida que sofreu a incidência de uma hipótese normativa. A norma dá ao fato um sentido que o fato não tinha. 
Então, vamos pegar o caso da semana: o abortamento da menina pernambucana que foi alvo da excomunhão. Qual é o fato da vida? O abortamento. Hipótese normativa jurídica do direito brasileiro: esse é um fato lícito porque se trata de gravidez de risco e incide hipótese normativa que autoriza a gravidez. Para o direito canônico, este mesmo fato, é um fato jurídico ilícito. Porque o direito dá aos fatos o sentido de que o direito entenda que ele mereça. 
Pontes de Miranda disse o seguinte: “A hipótese normativa colore o fato.” Ou seja, dá ao fato a cor que ele não tinha. Que cor? A cor jurídica. Ele se torna um fato jurídico. O fato jurídico gera efeitos jurídicos e o mais importante efeito jurídico é a relação jurídica. A relação jurídica é um efeito do fato jurídico e na relação jurídica estão os direitos e deveres. Direitos e deveres são efeitos que a lei atribui a determinados fatos jurídicos. Eu tenho direito de ser indenizado porque a lei imputa a determinado fato esse efeito jurídico. A partir do fato, estamos no âmbito dos efeitos do fato jurídico: direitos e deveres.
Fredie tomou um murro. Fato. Esse fato é jurídico e ilícito e gera para Fredie o direito de ser indenizado. Ele vai a juízo e vai acionar o sujeito dizendo: “juiz, eu tomei um murro, esse murro é um fato jurídico que me dá o direito de ser indenizado.” Na minha demanda terei que contar tudo isso, todo o fato e o direito que afirmo ter: direito de ser indenizado e pedir isso. Se assim é, qual é a causa de pedir? Qual é o número no quadro? Eu peço por causa de quê? Qual é a causa do meu pedido? Causa de pedir, no quadro é isso aqui: 3 + 4. Vamos conceituar o que é causa de pedir.
Causa de pedir: são os fatos jurídicos (3 no quadro) e os fundamentos jurídicos da demanda (4 no quadro). 
Fundamento jurídico é o direito que se afirma ter. Direito com “d” maiúsculo ou minúsculo? Minúsculo. Direito com “d” minúsculo. A diferença entre maiúsculo e minúsculo aqui é fundamental. O direito que eu afirmo ter é o direito com “d” minúsculo, direito subjetivo. Que direito é esse? A relação material que vimos (direito de crédito). Vejam como tem sentido: por que peço uma indenização? Porque eu fui lesado e eu tenho o direito de ser indenizado. São dois fundamentos: de fato (lesão) e direito de ser indenizado. A causa do meu pedido é a soma do fundamento de fato com o fundamento de direito. Muitos acham que fundamento jurídico é 2. muita gente acha (e erra) que fundamento jurídico é 2. 2 é a lei, a hipótese normativa. Fundamento jurídico não é a hipótese normativa. Não é o fundamento legal. O fundamento legal é 2, saber qual é a lei que se aplica é 2. Fundamento jurídico é o direito que se afirma ter em juízo. A lei não compõe a causa de pedir. A causa de pedir é composta dos fatos jurídicos e do direito que se afirma ter. 
Fundamento legal é direito com “d” maiúsculo. Direito com “d” maiúsculonão compõe a causa de pedir. Atenção: vcs já devem ter ouvido falar ou devem ter lido em algum lugar a distinção próxima e causa de pedir remota. Duro é saber quem saiba a distinção entre elas, mas esse é um assunto batido. Vamos simplificar. Olhando para o quadro. 
Causa de pedir = a causa de pedir remota (CPR) + causa de pedir próxima (CPP). 
O que temos que saber? Que causa de pedir próxima + causa de pedir remota = causa de pedir. E aí, veja: se vc sabe que causa de pedir é 3 + 4, também sabe que causa de pedir = causa de pedir próxima + causa de pedir remota. Qual é a causa de pedir remota? 3. E causa de pedir próxima? 4. Por isso aparece no livro assim: causa de pedir remota é o fato jurídico. Ora, está certo isso? Sim, porque causa de pedir remota é 3. E aparece assim: causa de pedir próxima é o direito. Minúsculo. E é aí que vcs erram. Os livros, normalmente tem assim: causa de pedir próxima é o direito. Mas que direito? Direito-lei ou direito que a pessoa afirma ter? por isso é importante visualizar: causa de pedir próxima é o direito que se afirma ter. Causa de pedir remota é o fato que gerou esse direito. E por que remota e próxima? Porque a causa é do pedido, já que a causa é de pedir. Onde está o pedido aí no quadro? 5. O que é mais remoto a 5? 3 ou 4? 3 é mais remoto a 5 do que 4. a causa de pedir remota é a mais longe da demanda. 3 está mais longe. Não chutem. Isso é pura lógica. Não tem que decorar. O que está mais longe do meu pedido? O que aconteceu e depois, o direito que eu afirmo ter. 
Tem um autor, que inverte isso. O que me leva a crer que é erro de datilografia. É uma coisa tão bizarra que não pode ter sido feito por ele. Nélson Néri inverte. Ele diz que causa de pedir remota e causa próxima é o fato. Só ele diz isso. Até porque não teria sentido a causa remota ser o direito e a próxima ser o fato. Porque primeiro acontece o fato. Primeiro nasce o fato. Mais longe é o fato, não o direito.
O professor vai dar alguns exemplos para que aprendamos a identificar a causa de pedir. É para exercitar isso. Para aprender esse assunto é preciso parar, pensar numa ação qualquer e dissecar o que é a causa remota e qual é a causa próxima.
Acidente de trânsito. Pára-choque amassado. Quero ser indenizado. Quem é 3 neste caso? O pára-choque amassado decorrente do acidente de trânsito (tem que colocar tudo. Não basta colocar acidente. Tem que ser tudo, completo porque é esse o fato). É o acidente que causou o dano (esse é o fato). Quem é 4? O direito de ser indenizado. Qual é o pedido? Quem é 5? Pedido de condenação à indenização. Então, meu carro amassou, tenho direito de ser indenizado (4), quero indenização.
Fiz um contrato em erro. Não gostei disso, quero anular. Quem é 3? A celebração do contrato em erro. Se colocar só o contrato está errado. Quem é 4? O direito de anular o contrato. Quem é 5? O pedido de anulação do contrato.
A lei nº 10.300 é inconstitucional. Pretende-se propor uma ADI contra ela. 3: A inconstitucionalidade da lei 10.300. Esse é o fato, o fato que propiciona que a pessoa vá a juízo propor a ADI. É a inconstitucionalidade da Lei 10.300, que é claro, o direito difuso de retirar a lei inconstitucional do sistema. É preciso anotar o esquema, é se possível numa página só. 4 é o direito difuso da coletividade de extrair uma norma inconstitucional do sistema e 5 é o pedido de inconstitucionalidade. 
Sentença proferia por juiz corrupto. Quero rescindi-la. Quem é 3? Sentença proferida por juiz corrupto. O fato é esse. É um fato jurídico que gera o direito de rescindir a sentença que é 4. E o 5? É o pedido de rescisão.
Exemplo em causas repetitivas: Collor expurgou as constas de FGTS com o Plano Collor 01, inclusive a de João. Ele quer reajustar o FGTS de acordo com o percentual devido. Quem é 3 aí? Plano Collor 1 que expurgou as contas de João. O fato aí é o expurgo à conta de João. Quem é 4? O direito de João ter as suas contas corrigidas. E o 5? É o pedido de reparação. As causas de pedir nas causas repetitivas são diferentes. O 3 de Antônio vai ser: expurgos da conta de Antônio. Se vcs não dissecarem isso, não aprendem. 
Prestem bem atenção: 3 só 3. Portanto, causa de pedir remota (fato jurídico). 3, que é o fato jurídico, que é a causa de pedir remota, pode ser subdividido em duas partes:
Causa de pedir remota ativa
Causa de pedir remota passiva
Vocês têm que entender que causa ativa e causa passiva não é sinônimo de próxima e remota. Não é. Na hora da prova vcs costumam errar isso. Vcs costumam dar exemplo de causa ativa, achando que é remota, passiva achando que é próxima e vice-versa. Não tem nada a ver. Passiva e ativa são subdivisões da remota. Isso só é difícil porque vcs confundem com a remota e a próxima. Saber o que é ativa e passiva é fácil.
O que é a causa de pedir remota ativa? É o fato-título do direito do sujeito. É o fato gerador do direito. A causa de pedir remota passiva é o fato que impulsiona a ida ao Judiciário. É o fato que gera o interesse de agir. O professor vai dar “o” exemplo, muito fácil de entender: eu tenho um contrato com João. João não cumpre esse contrato. Eu quero ir a juízo cobrar esse contrato. Quem é 3? Portanto, quem é o fato jurídico? 3 é o inadimplemento do contrato. Se o inadimplemento do contrato é 3, e 3 se divide em ativo e passivo, qual é o fato - titulo e qual é o fato interesse de agir aí? No inadimplemento do contrato, qual é o fato-título? O contrato. E qual é o fato que impulsiona o interesse de agir? O inadimplemento. Ora, o inadimplemento do contrato é 3, o contrato (causa de pedir ativa) gera o meu direito e o inadimplemento (causa de pedir passiva) impulsiona a ir a juízo. Tem livro que diz: contrato 3, inadimplemento, 4. Isso é um erro bizarro. Se vc ler num livro que contrato é 3 e inadimplemento é 4, isso é bizarro. Inadimplemento do contrato é uma coisa só: é 3. É o fato que gera o direito de cobrar. Inadimplemento do contrato é o fato jurídico que pode ser subdividido em contrato (causa de pedir remota ativa) e inadimplemento (causa de pedir remota passiva).
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