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AT 1 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DOS PODERES 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 – Introdução 5 UNIDADE 2 - Organização políticoadministrativa 5 2.1 Formas de Estado 7 2.2 Formas de Governo 8 2.3 Sistemas de governo 10 2.4 Regimes de Governo 12 UNIDADE 3 - O Federalismo Brasileiro 18 UNIDADE 4 - Repartição de competências 18 4.1 Métodos de repartição de competências 23 UNIDADE 5 - Poder Legislativo 24 5.1 O Congresso Nacional (arts. 44 a 50) 24 5.2 A Câmara dos Deputados (art.51) 25 5.3 O processo legislativo (art. 59) 26 5.4 Senado Federal (art. 52) 28 UNIDADE 6 - Poder Executivo 28 6.1 Investidura 29 6.2 Responsabilidades e tipos de crimes 34 6.3 Das funções exercidas e dos Ministros de Estado 34 6.4 Os Conselhos 36 UNIDADE 7 - Poder Judiciário 37 7.1 Garantias do poder judiciário 39 7.2 Estrutura do poder judiciário 42 7.3 Das funções essenciais da justiça 45 UNIDADE 8 - Defesa do estado e das instituções democráticas 46 8.1 Estado de defesa 46 8.2 Estado de sítio 47 8.3 Forças armadas 48 8.4 Segurança Pública 50 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 – Introdução O Estado existe quando possui três ele- mentos essenciais: povo, território e gover- no soberano e tem como funções primárias, legislar, executar e fiscalizar, ou seja, o Esta- do precisa de três poderes que são o Legis- lativo (elabora as leis), Executivo (executa as leis, é uma função administrativa) e Judi- ciário (aplicador das leis). Esses três poderes são distintos, independentes e harmônicos entre si, conforme o art. 2º da nossa Consti- tuição Federal de 1988 e conforme os pre- ceitos estabelecidos por Montesquieu. Legislativo: é exercido por um sistema bicameral, o Congresso Nacional, composto pela Câmara dos Deputados e o Senado Fe- deral e a sua função é a elaboração das leis. Executivo: é exercido pelo Presidente da República com o auxílio dos Ministros de Estado e a sua função principal é a transfor- mação da lei em fato concreto. Judiciário: é exercido pelo Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justi- ça, Tribunais Superiores e demais tribunais, cuja função é a aplicação coativa da lei nos casos de litígio. A Constituição Federal estabelece que a organização político-administrativa da Re- pública Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos do texto constitucional (art. 18). Esse dispositivo constitucional indica a opção do legislador constituinte pela for- ma federativa de Estado para a repartição territorial de poderes. Aponta, também, a adoção da forma republicana de governo, para a regulação dos meios de aquisição e exercício do poder pelos governantes. Apresenta, ainda, a enumeração dos entes federativos que compõem a federação bra- sileira – União, estados, Distrito Federal e municípios –, todos dotados de autonomia política, nos termos delineados pela própria Constituição. Essas premissas acima mostram clara- mente o que se propõe estudar neste mó- dulo não é mesmo? Ou seja, vamos analisar alguns dos aspectos da organização políti- co-administrativa do Estado. Falamos “alguns” porque o assunto é ex- tenso, as regras são muitas e algumas po- dem ficar para pesquisas posteriores. Passaremos pelas formas de Estado, go- verno, regime, o federalismo típico adotado no Brasil, a repartição de competências, os poderes legislativo, executivo e judiciário, as funções essenciais da justiça e a questão da defesa do Estado e das instituições de- mocráticas. Boa leitura a todos! Ressaltamos em primeiro lugar que em- bora a escrita acadêmica tenha como pre- missa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos cla- ro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratan- do, portanto, de uma redação original e ten- do em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. 4 54 Especificamente neste módulo muito nos embasamos nos ensinamentos de VI- CENTE PAULO e MARCELO ALEXANDRINO (2008), renomados e consagrados estudio- sos de matérias diversas na seara do Direi- to, os quais possuem uma didática simples, sendo capazes de transportar para o “papel” a mesma forma perfeita com que ministram aulas sobre os temas percorridos pelos ope- radores do Direito. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consulta- das, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. 4 55 UNIDADE 2 - Organização político- administrativa 2.1 Formas de Estado O conceito de forma de Estado está relacionado com o modo de exercício do poder político em função do território de um dado Estado. A existência (ou não) da repartição regional de poderes autô- nomos é, pois, o núcleo caracterizador do conceito de forma de Estado (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). O Estado será federado (federal, com- plexo ou composto) se o poder político estiver repartido entre diferentes enti- dades governamentais autônomas, ge- rando uma multiplicidade de organiza- ções governamentais que coexistem em um mesmo território. O Estado federado é caracterizado por ser um modelo de descentralização política, a partir da re- partição constitucional de competências entre as entidades federadas autônomas que o integram. O poder político, em vez de permanecer concentrado na entida- de central, é dividido entre as diferentes entidades federadas dotadas de autono- mia. O Estado federado – nascido nos Esta- dos Unidos, em 1789, com a promulgação da Constituição dos Estados Unidos da América – compõe-se de diferentes en- tidades políticas autônomas que, em um vínculo indissolúvel, formam uma unida- de, diversa das entidades componentes, que é o Estado soberano. Não há subor- dinação hierárquica entre as entidades políticas que compõem o Estado fede- rado. Todas elas encontram-se no mes- mo patamar hierárquico, para o exercício autônomo das competências que lhes são atribuídas pela Constituição Federal. Porém, a nenhuma delas é reconhecido o direito de secessão 1 , pois não poderão dissolver a unidade, imprescindível para a manutenção do próprio Estado sobera- no. O Estado será unitário (ou simples) se existir um único centro de poder político no respectivo território. A centralização política em uma só unidade de poder é a marca dessa forma de Estado. É o que ocorre no Uruguai, por exemplo, em que só existe um centro de poder político (na- cional), que se estende por todo o territó- rio e sobre toda a população, controlando todas as coletividades regionais e locais. O Estado unitário pode assumir a fei- ção de Estado unitário puro ou Estado unitário descentralizado administrativa- mente. O Estado unitário puro (ou centraliza- do) é aquele em que as competências es- tatais são exercidas de maneira centrali- zada pela unidade que concentra o poder político. A centralização do exercício do poder será a característica dessa forma de Estado unitário. O Estado unitário descentralizado ad- ministrativamente (ou regional) é aquele em que as decisões políticas estão con- centradas no poder central, mas a exe- cução das políticas adotadas é delegada por este a pessoas e órgãos criados para esse fim administrativo. 1 - Ação de desligar ou separar daquele ou daquilo a que se estava unido. 6 7 No Estado unitário, a opção por exer- cer suas atribuições de maneira centrali- zada (sem divisão administrativa) oudes- centralizada (com divisão administrativa) cabe unicamente ao poder central, que poderá, portanto, promover a descentra- lização ou regredir para a centralização absoluta, com a extinção das unidades administrativas, criadas na forma e no momento em que entender conveniente. Modernamente, predominam os Es- tados unitários descentralizados, admi- tindo-se, inclusive, a outorga de certa autonomia política para as entidades e órgãos de execução, para que eles, no momento da execução das decisões po- líticas do poder central, tenham alguma discricionariedade para avaliar a melhor solução a ser dada ao caso concreto. En- tretanto, essa descentralização, por mais ampla que seja, não confere aos entes de execução autonomia política, como se dá numa federação. Temos, no máximo, uma descentralização do tipo autárquico (em contraposição ao tipo federativo), for- mando-se uma autarquia territorial, em que as coletividades internas, responsá- veis pela execução, ficam na dependên- cia do poder unitário, nacional e central (SILVA, 2007). Para UADI LAMMÊGO BULOS (2008, p. 722), “a federação é uma genuína técnica de distribuição do poder, destinada em coordenar competências constitucionais das pessoas políticas de Direito Público Interno”. O mesmo autor em outra obra prolata que “a federação é um pluribus in unum, ou seja, uma pluralidade de Esta- dos-membros dentro da unidade que é o Estado Federal (2009, p. 377)”. Para DALMO DE ABREU DALLARI (1985, p. 227), “os Estados que ingres- sam na federação perdem sua soberania no momento mesmo do ingresso, preser- vando, contudo, uma autonomia política limitada”. Não se pode deixar de registrar que o estabelecimento do Estado Federal, além da referida autonomia dos Esta- dos-membros, deverá ser aliado a outros elementos e características como a ne- cessidade de uma Constituição Federal e a vedação ao direito de secessão (OLIVEI- RA, 2010). Outra forma de organização de Estado reconhecida é a denominada confedera- ção. Segundo CELSO RIBEIRO BASTOS (2002), a confederação consiste numa união dissolúvel de Estados soberanos, que se vinculam, mediante a celebração de um tratado, sob a regência do Direito Internacional, no qual estabelecem obri- gações recíprocas e podem chegar, mes- mo, a criar um órgão central encarregado de levar a efeito as decisões tomadas. O Estado confederado assenta-se na aderência de Estados soberanos interes- sados a um dado tratado internacional, que o disciplina. A principal característica dessa forma de Estado é a denominada dissolubilidade, isto é, cada Estado ade- rente mantém o direito de, a qualquer momento, retirar-se da confederação, de acordo, exclusivamente, com seus inte- resses e conveniências. Reconhece-se, pois, aos Estados inte- grantes da confederação o direito de se- cessão. A confederação não pode ser confun- 6 7 dida com a federação, pois, conforme nos ensina CELSO RIBEIRO BASTOS (2002, p. 146), na Confederação os Estados que a compõem não per- dem sua individualidade do ponto de vista do Direito Internacional. Todos eles continuam plenamente detentores da soberania, podendo, livremente, desli- gar-se a qualquer momento da Confede- ração. Além do mais, esta não tem pode- res de imiscuir-se nos assuntos internos de cada um dos Estados que a formam. Quer dizer, as decisões tomadas no nível da Confederação dependerão sempre de leis internas de cada um dos Estados, para que se tornem efetivas. Guarde o quadro comparativo abai- xo: A nossa Constituição de 1988 adotou como forma de Estado o federado, integra- do por diferentes centros de poder políti- co. Assim, temos um poder político central (União), poderes políticos regionais (esta- dos) e poderes políticos locais (municípios), além do Distrito Federal, que, em virtude da vedação constitucional à sua divisão em municípios, acumula os poderes regionais e locais (CF, art. 32, § 1º). 2.2 Formas de Governo O conceito de forma de governo refere- -se à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade, e como se dá a relação entre governantes e governados. Caso a instituição do poder se dê por meio de eleições, por um período certo de tempo, e o governante represente o povo, bem como tenha o dever de prestar contas de seus atos, teremos a forma de governo republicana (res publica, coisa do povo). Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA (2007), o princípio republicano impõe, no Brasil, a necessidade de legitimidade popular do Presidente da República, governadores de estado e prefeitos municipais, a existência de assembleias e câmaras populares nas três órbitas de governo da Federação, elei- ções periódicas por tempo limitado – que se traduz na temporalidade dos mandatos ele- tivos e, consequentemente, não-vitalicie- dade dos cargos políticos – e prestação de contas da Administração Pública. Portanto, são as seguintes as carac- terísticas básicas da república: a) eletividade, seja ela direta ou indireta; b) temporalidade no exercício do poder; c) representatividade popular; d) responsabilidade do governante (de- ver de prestar contas). Guarde... A República não é uma mera Forma de Governo. O princípio republicano veicula as ideias de soberania popular, como base do poder político, ausência de privilégios e am- pla responsabilidade dos agentes públicos. Se a forma de governo for marcada pela hereditariedade, vitaliciedade e ausência de representação popular, teremos a mo- narquia. Na monarquia, a instituição do poder não 8 9 se dá por meio de eleições (e sim pela he- reditariedade), o mandato é vitalício (e não temporário) e o monarca não representa o povo (e sim a linhagem de alguma família), tampouco responde perante o povo pelos atos de governo (não há o dever de prestar contas) (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). Logo, são as seguintes as principais características da monarquia: a) hereditariedade; b) vitaliciedade; c) inexistência de representação popu- lar; d) irresponsabilidade do governante. O Brasil não nasceu república. A primeira forma de governo adotada no País foi a mo- narquia, com a chegada da família real por- tuguesa. Somente com a Constituição de 1891 im- plantou-se a forma republicana de governo. 2.3 Sistemas de governo O conceito de sistema de governo está li- gado ao modo como se relacionam ou como se processam os Poderes Legislativo e Exe- cutivo no exercício das funções governa- mentais. Se há uma maior independência entre esses Poderes, temos o presidencialismo. Se há maior colaboração, uma corresponsa- bilidade entre esses Poderes, na condução das funções governamentais, estaremos diante do sistema parlamentarista. O presidencialismo é um sistema de governo que tem as seguintes caracte- rísticas: a) O Presidente da República exerce o Poder Executivo em toda a sua inteireza, acumulando as funções de Chefe de Estado (quando representa o Estado frente a ou- tros Estados soberanos), Chefe de Governo (quando cuida da política interna) e Chefe da Administração Pública (quando exerce a chefia superior da Administração Pública). Entre nós, por exemplo, a chefia do Execu- tivo é monocrática, concentrada na figura do Presidente da República, porquanto os Ministros são meros auxiliares, de livre no- meação e exoneração. b) O Presidente da República cumpre mandato autônomo, por tempo certo, não dependendo do Legislativo, nem para sua investidura, nem para sua permanência no poder. c) O órgão do Legislativo (Congresso, As- sembleia, Câmara) não é propriamente Par- lamento, sendo seus membros eleitos por período fixo de mandato. d) O órgão do Legislativo não está sujeito à dissolução, porque os seus membros são eleitos para um período certo de mandato. e) As relaçõesentre os Poderes são mais rígidas, vigorando o princípio da divisão de Poderes, que são independentes e autôno- mos entre si (embora não mais com a clás- sica rigidez; modernamente fala-se em har- monia). f) A responsabilidade pela execução dos planos de governo, mesmo quando aprova- dos por lei, cabe exclusivamente ao Execu- tivo (significa que, bem ou mal executados 8 9 tais planos, ou mesmo não executados, o Chefe do Executivo tem assegurado o direi- to à permanência no poder até o término do mandato). g) É sistema típico das repúblicas. No sistema parlamentarista, a relação entre os Poderes Executivo e Legislativo é bem diferente. Em vez de independência, fala-se em colaboração entre os Poderes Executivo e Legislativo no exercício do po- der, isto é, a manutenção do poder no âm- bito de um depende da vontade do outro (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). Em resumo, temos o seguinte: i) o Chefe do Executivo, que exerce a chefia de Estado, escolhe o Primeiro Minis- tro, para que exerça a chefia de Governo; ii) uma vez escolhido, o Primeiro Ministro elabora um plano de governo e o submete à apreciação do Parlamento; iii) a partir de então, o Primeiro Ministro somente permanecerá no poder enquan- to o seu plano de governo obtiver apoio do Parlamento; iv) por outro lado, o governo poderá, em certas circunstâncias, dissolver o Parlamen- to, convocando novas eleições, como forma de renovar a composição parlamentar e, em consequência, aumentar o apoio ao seu pla- no de governo. Assim, o parlamentarismo é um sis- tema de governo que tem as seguintes características: a) o Poder Executivo se divide em duas frentes distintas: chefia de Estado (exercida pelo Monarca ou Presidente da República) e chefia de Governo (exercida pelo Primeiro Ministro); por isso, ao contrário do presiden- cialismo, em que o Executivo é monocrático, no parlamentarismo, diz-se que sua chefia é dual; b) o Primeiro Ministro é indicado pelo Presidente da República (feita a indicação, cabe a ele elaborar um plano de governo e submetê-lo à aprovação do Legislativo, a fim de obter apoio da maioria; aprovado o plano de governo, aprovada estará sua in- dicação; constata-se, destarte, que o Legis- lativo assume responsabilidade de gover- no, vinculando-se politicamente perante o povo); c) o Legislativo (Parlamento) assume função político-governamental mais ampla, uma vez que compreende o próprio Gover- no, na figura do Primeiro Ministro; d) o Governo é responsável ante o Parla- mento, dependendo de seu apoio e confian- ça para manter-se (assim, se o Parlamento, a qualquer tempo, retirar a confiança no Go- verno, ele cai, exonera-se, para dar lugar à constituição de um novo Governo); e) o Parlamento é responsável perante o povo (forma-se, então, a seguinte cadeia: há responsabilidade política do Governo para com o Parlamento e deste para com os eleitores; se o Governo perde a confiança no Parlamento, poderá dissolvê-lo e convo- car novas eleições para a formação de um novo Parlamento); f) classicamente é sistema típico das mo- narquias, embora atualmente seja muito adotado nas repúblicas da Europa. Com base nessa enumeração das carac- terísticas dos sistemas presidencialista e parlamentarista, extraímos facilmente as suas diferenças essenciais, que podem ser 10 11 assim resumidas: a) no presidencialismo, existe inde- pendência entre os Poderes no exercício das funções governamentais, ao passo que no parlamentarismo há colaboração, cor- responsabilidade entre o Legislativo e o Executivo na condução da política governa- mental; b) no presidencialismo, os governan- tes possuem mandatos com prazo certo, enquanto no parlamentarismo não há pra- zo determinado para o exercício do poder (o Primeiro Ministro permanecerá na chefia de Governo somente enquanto possuir maio- ria parlamentar, o que pode ocorrer durante vários anos, ou por apenas alguns meses; por outro lado, é possível que os mandatos dos parlamentares sejam abreviados, me- diante a dissolução do Parlamento e a con- vocação de novas eleições); c) no presidencialismo, a chefia do Exe- cutivo é monocrática (unipessoal, concen- trada em uma só pessoa), diversamente do que ocorre no parlamentarismo, em que a chefia do Executivo é dual (o Chefe do Exe- cutivo exerce a chefia de Estado; o Primeiro Ministro exerce a chefia de Governo); d) no presidencialismo, há responsa- bilidade de governo diretamente perante o povo, enquanto no parlamentarismo a res- ponsabilidade ocorre ante o parlamento (se o plano de governo perde o apoio parlamen- tar, o Primeiro Ministro exonera-se imedia- tamente) (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). Anote o quadro resumo abaixo: O sistema adotado pela Constituição Fe- deral de 1988 é o presidencialismo. Entre- tanto, vale notar que o Brasil já viveu, na sua história política, duas experiências parla- mentaristas: uma, na época do Império; ou- tra, de curta duração, às vésperas do golpe militar de 1964 (1961-1963). 2.4 Regimes de Governo Distinguem-se os regimes de governo em democrático e autocrático, com base na existência, ou não, de participação do povo – destinatário das ações governamentais – na escolha dos governantes, na elaboração e controle da execução das políticas públi- cas e na elaboração das normas a que o Es- tado e o próprio povo estarão sujeitos (PAU- LO; ALEXANDRINO, 2008). Na autocracia, os destinatários das nor- mas e da política governamental não parti- cipam da sua produção. Trata-se de regime estruturado de cima para baixo, de imposi- ção da vontade do governante ao povo, sem o direito de manifestação deste. Na democracia, temos: a participação dos destinatários das normas e políticas públicas na escolha dos titulares de cargos políticos, na produção do ordenamento jurídico e no controle das ações governamentais, formando o gover- no de baixo para cima – governo do povo; prevalece a vontade da maioria, con- quanto sejam reconhecidos e protegidos os direitos das minorias; suas principais características são: a liberdade do povo para votar, a divisão de poderes e o controle popular da autoridade dos governantes. A democracia poderá ser exercida de di- 10 11 ferentes formas, originando: democracia direta, democracia indireta ou representa- tiva, e democracia semidireta ou participa- tiva. a) Na democracia direta, o povo exerce, por si mesmo, os poderes governamentais, elaborando diretamente as leis, adminis- trando e julgando as questões do Estado. b) A democracia indireta ou democra- cia representativa é aquela na qual o povo, fonte primária do poder, não podendo diri- gir os negócios do Estado diretamente, em face da extensão territorial, da densidade demográfica e da complexidade dos proble- mas sociais, outorga as funções de governo aos seus representantes, que elege perio- dicamente (SILVA, 2007). c) A democracia semidireta ou participa- tiva combina a democracia representativa com alguns institutos de participação direta do povo nas funções do governo, tais como o referendo e o plebiscito. Essa a forma ado- tada pela Constituição Federal de 1988 (art. 1º, parágrafo único, c/c art. 14). Sobre os regimes não democráticos, cabe anotar que podem assumir intensidades di- versas. Assim, são genericamente identifi- cados três tipos: autoritário – existe oposição política aos governantes com sua capacidade de ação relativamente tolhida por vários tipos de atos e procedimentos de força; ditatorial – baseado na repressão e supressão de oposição política aos gover- nantes; totalitário – baseado na extensão do poder do Estado a todos os níveis e aspec- tos da sociedade, notadamente no plano das iniciativas pessoais (CASTRO, 2014). 12 1312 UNIDADE 3 - O FederalismoBrasileiro A utilização do termo federalismo no uni- verso dos manuais jurídicos e em alguns tra- balhos científicos se faz de tal forma que o seu significado se restringe à forma de esta- do adotada nos chamados Estados Federais, ou para ser mais específico, a doutrina do Es- tado Federal. Porém, como não é novidade entre os especialistas e estudiosos no tema, o vocábulo federalismo possui uma acepção bem mais abrangente comparada à expres- são designativa da forma estatal complexa que seria apenas um modo de realização do federalismo, a mais importante, sem dúvida, ao Direito (MUNIZ, 2013). Em termos estritamente jurídicos, e con- forme Pedro Nunes (s.d. apud TRENTO, 2012), Federação é a união de várias províncias, Estados particulares ou unidades federadas, in- dependentes entre si, mas apenas autô- nomas quanto aos seus interesses priva- dos, que formam um só corpo político ou Estado coletivo, onde reside a soberania, e a cujo poder ou governo eles se subme- tem, nas relações recíprocas de uns e ou- tros. O termo Federalismo decorre do latim fo- ederale, derivada da palavra foedus, que significa união ou acordo. Este termo, em sua acepção de base, conforme ressaltou SVEN- TOMIR SKARIC (1998, p. 148 traduzido por MUNIZ, 2013), denota várias formas de livre associa- ção de um vasto número de elementos de diferentes naturezas, assim como: es- tados, regiões, partidos políticos, socie- dades econômicas e associações civis. Esta acepção ampla que confunde fe- deralismo com a união de elementos é claramente vista no modo como se estru- tura algumas instituições, por exemplo, nas sociedades empresárias onde exis- tem o estabelecimento central e as filiais regionais, que em alguns casos possuem uma autonomia considerável com compe- tências próprias dispostas no estatuto. A divisão de competências e a descentrali- zação são características marcantes do modelo federal. Nesta linha, que nitidamente trans- borda o tradicional corte kelseniano do direito, o federalismo seria uma doutrina social, isto pela possibilidade de se apli- car dito plexo teórico em várias estrutu- ras sociais. Dentre as estruturas sociais que adotam a doutrina federalista, há o direito, e uma das formas de associações englobada no campo de estudo do fede- ralismo em seu sentido amplo de doutrina social é a associação entre estados. Sem dúvida, há um substrato social nas socie- dades onde se observa o fenômeno do Estado Federal, neste caso o importante papel desta doutrina social é analisar, es- tudar, solidificar este substrato. A existência de um paradigma organi- zacional federalista em alguns setores nos Estados Federais é fator importan- tíssimo, quiçá até imprescindível para a solidificação desta forma de estado. Por exemplo, a existência de diretórios esta- duais e municipais com competências pró- prias, paralelamente à executiva nacio- nal, na organização dos partidos políticos. Caso os diretórios regionais ou estaduais 12 1313 dos partidos políticos tivessem autono- mia para indicar os candidatos a senado- res dos Estados-Membros, o princípio fe- derativo sairia fortalecido, pois o Senado é o órgão que representa a vontade dos Estados-Membros no poder central, se- gundo JOSÉ ALFREDO DE OLIVEIRA BARA- CHO (1986, p. 48), um elemento de uma “união verdadeiramente federal”. Quanto à essência do federalismo, entendendo por essência os elementos fundamentais que determinam a nature- za ser, ele surgiu nos Estados Unidos da América com a Constituição de 1787. Esta Carta Magna foi o marco de um movimen- to político iniciado com a independência das treze colônias britânicas na América do Norte. Estes novos Estados Sobera- nos se viram obrigados a estabelecer uma união por diversos motivos, mas o princi- pal: garantir a sua independência recém conquistada, defendendo-se das amea- ças externas. Porém, a aceitação da União como cen- tro de poder paralelo aos Estados-Mem- bros não seduziu as lideranças políticas regionais com tanta facilidade, havendo bastante receio por parte de alguns an- tifederalistas sobre quais poderes de- veriam ser concedidos à esfera federal. Nesta situação havia o medo da perda de poderes pelas elites locais e o medo de transformar o Estado em interventor na economia desrespeitando o dogma liberal vigente à época (ARAÚJO, 2001, p. 43). Esta primeira experiência federal é denominada de Federalismo Dual e tem como principal característica o fato das competências terem sido rigidamente distribuídas entre centro e periferia, sen- do os poderes enumerados para a União (Centro) e reservados para os Estados- -Membros (Periferia). Era como se exis- tisse uma barreira intransponível entre as duas esferas de poder. Segundo VICENTE PAULO e MARCELO ALEXANDRINO (2008), o federalismo dual é identificado por uma rígida separação das competências entre a entidade cen- tral (União) e os demais entes federados. Esse modelo de federalismo vem sendo gradativamente substituído pelo federa- lismo de cooperação, em razão das pres- sões e exigências impostas ao novo mode- lo de Estado do bem-estar social, também explicado por JOÃO GUILHERME DE MOU- RA ROCHA PARENTE MUNIZ (2013): um modelo onde há competências privativas, comuns e concorrentes, ou seja, o fede- ralismo cooperativo é caracterizado por uma divisão não-rígida de competências entre a entidade central e os demais en- tes federados. É o caso, por exemplo, da Federação brasileira. Seja qual for a espécie de federalismo, deve-se ressaltar que somente o Estado é soberano, não os entes federados, sepa- radamente considerados; estes possuem apenas autonomia. Existem Estados criados ou reestrutu- rados mais recentemente, onde a forma federal foi utilizada ou onde se propõe a utilização desta não só com o intuito de unir o diverso, mas com outros objetivos, por exemplo, o federalismo como instru- mento que, através da descentralização de um Estado Unitário, objetivaria pro- mover uma maior democratização ou uma divisão de responsabilidades entre os fo- cos de poder, acomodando-os (ARAÚJO, 2001). 14 15 Um exemplo da possibilidade de utiliza- ção do federalismo como instrumento para a democratização do Estado é o debate que ainda ocorre na República da Mace- dônia, estado reconhecido pela ONU com o nome de Fyron, sobre qual forma de es- tado esta nação deveria moldar-se para acomodar uma população tão diversa. As diversas minorias que compõem a popu- lação – aproximadamente 30% da popu- lação total – deste país clamam pelo poder de reger o seu destino e a sua terra, porém o cenário mundial indica a inviabilidade de uma ruptura sustentável e a necessidade da união (MUNIZ, 2013). A discussão, ainda no nível doutriná- rio na República da Macedônia, também foi elaborada na Bélgica e teve por final a transformação deste Estado num Estado Federal em 1993, onde foi explicitamente posta na Constituição a lealdade federal com a finalidade de prevenir e solucionar o choque de interesses entre o governo fe- deral de um lado e as comunidades linguís- ticas do outro (SKARIC, 1998, p. 150 apud MUNIZ, 2013). No primeiro exemplo, nota-se que os partidários da instauração de um Estado Federal na República da Macedônia obje- tivam com esta reestruturação uma maior democratização daquele Estado, obser- vando-se as prerrogativas almejadas pelas minorias – albaneses, turcos, entre outras que hoje se submetem ao poder da maio- ria. No caso Belga, diferentemente, já se observa a existência de um sentimento democrático mais amadurecido, portanto o federalismo neste Estado teria por esco- po principal a divisão de responsabilidades entre focos de poder do que uma forma de democratizar a sociedade belga. Esta divi- são de competências foi misterpara a ma- nutenção da unidade do país harmonizan- do as diversas comunidades linguísticas que clamavam por mais autonomia. Antes de passarmos a discutir o federa- lismo brasileiro, é importante pontuar que a essência do federalismo não está no ob- jetivo que justificou a sua instauração em determinado estado, não é apenas um ins- trumento de defesa da unidade territorial, ou de democratização, ou de repartição de responsabilidades. Ele pode ser utilizado para estes e outros escopos diversos, po- rém será sempre necessário existir a uni- dade dialética, em que de um lado estará a união e do outro a diversidade. Não poderá haver apenas a união, pois geraria um esta- do unitário ou uma empresa centralizada, do mesmo modo em que não poderia haver só diversidade, pois encontraríamos uma cooperação entre associações civis ou es- tados soberanos confederados. Ao cabo, a união e a diversidade são essenciais ao Federalismo, cada uma em certa dosagem, a depender da estrutura social e dos desíg- nios daquela sociedade (MUNIZ, 2013). O Brasil, desde a instauração da Repú- blica, em 1889, adotou a forma federativa inspirado no constitucionalismo norte-a- mericano (TRENTO, 2012). A nossa Federação é indissolúvel se- gundo princípio estabelecido desde a pri- meira constituição (1891). Esse princípio da indissolubilidade tem duas finalidades: a primeira, a unidade nacional; a segunda, a necessidade descentralizadora das suas ações. A atual Constituição Federal reafirma o princípio da indissolubilidade no caput do 14 15 seu artigo 1º. A organização político-administrativa federal compreende a União, que repre- senta o estado perante o direito público in- terno, bem como perante o direito público internacional; os estados-membros, o Dis- trito Federal e os municípios. A União, internamente, é pessoa jurídica de direito público e existência necessária, autônoma em relação aos estados-mem- bros e municípios, possuindo órgãos e sis- tema de governo que lhe são próprios, e organização política lastreada na divisão entre os Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), que guardam independência e harmonia entre si (MASCARENHAS, 2008). O símbolo do pacto federativo é a Cons- tituição Federal, que é o instrumento de manifestação da soberania popular, e é quem determina as competências da União e dos demais entes da Federação (Esta- dos-membros, Distrito Federal e municí- pios), “todos autônomos possuidores da tríplice capacidade de auto-organização e normatização própria, autogoverno e au- toadministração” (MORAES, 2004, P. 270). Outra característica que encontramos está na existência do Supremo Tribunal Fe- deral como órgão competente para interpretar e proteger a Constitui- ção Federal, e dirimir litígios ou confli- tos entre a União, os Estados, outras pessoas jurídicas de direito interno, e as questões relativas à aplicação ou vi- gência de lei federal (HORTA, 1995, p. 348). O controle de constitucionalidade e a resolução dos conflitos entre os entes federativos são elementos essenciais no Estado Federal brasileiro e estão previs- tos como competência do STF no artigo 102, I, a e f. (MUNIZ, 2013). Mais uma característica do nosso fede- ralismo, que, diga-se de passagem, é fun- damental em um Estado Federal: a exis- tência de uma Câmara de representantes dos Estados-Membros no poder central que no Brasil é denominada Senado Fede- ral. VICENTE PAULO e MARCELO ALE- XANDRINO (2008) expõem alguns pontos sobre o federalismo brasileiro que merecem ser elencados: a) A República Federativa do Brasil, é pessoa jurídica reconhecida pelo Direito Internacional, o único titular de soberania. b) Os entes federados – União, estados, Distrito Federal e municípios – são pesso- as jurídicas de direito público interno que gozam, apenas, de autonomia, traduzida na tríplice capacidade de auto-organiza- ção e legislação própria, autogoverno e autoadministração. c) Os entes federados são todos autô- nomos (nunca soberanos), nos termos es- tabelecidos na Constituição Federal, ine- xistindo subordinação entre eles. d) Todos os entes federados retiram sua autonomia do texto da Constituição, isto é, das competências que lhes são por ela outorgadas. Não há precedência de um ente federado sobre outro, mas sim distribuição de competências, em caráter privativo ou concorrente. e) No exercício de suas atribuições fi- xadas constitucionalmente, o município é tão autônomo quanto, por exemplo, a União, quando esta atua no desempenho 16 17 de suas competências próprias. Se qual- quer um dos entes federados extrapo- lar suas competências constitucionais, invadindo as atribuições de outro ente, estará agindo inconstitucionalmente, em flagrante desrespeito à Constituição Fe- deral. f) Embora a regra seja a autonomia dos entes federados, há situações em que uma entidade federada poderá intervir em outra, afastando temporariamente sua autonomia. Nas excepcionalíssimas hipóteses permitidas pela Constituição Federal, a União poderá intervir nos esta- dos, no Distrito Federal e nos municípios localizados em Territórios (arts. 34 e 35), e os estados poderão intervir nos municí- pios localizados em seu território (art. 35). g) A Constituição Federal não admite nenhuma pretensão de separação de um estado-membro, do Distrito Federal ou de qualquer município da Federação, ou seja, inexiste, entre nós, o denominado direi- to de secessão. Movimentos de um dado estado-membro que tendam à secessão poderão ensejar a decretação de inter- venção federal para manter a integridade nacional (CF, art. 34, I). h) Ainda que não houvesse vedação expressa na Constituição Federal (nossa Federação é indissolúvel, reza o art. 1º), entende-se, doutrinariamente, que nos Estados federados não existe o direito de secessão. Uma vez efetivada a adesão de um Estado a uma federação, este não pode mais se retirar por meios legais. Ha- veria, portanto, uma vedação implícita ao direito de secessão. i) A Constituição Federal de 1988 con- feriu à federação brasileira um alto nível de centralização, concentrando as mais relevantes competências na entidade central (União). j) Na República Federativa do Brasil, nem todos os entes federados participam da formação da vontade nacional. Os es- tados-membros e o Distrito Federal têm efetiva participação, por meio dos seus representantes no Senado Federal (CF, art. 46) e da possibilidade de apresenta- ção de proposta de emenda à Constituição Federal (CF, art. 60, III). Os Municípios, di- ferentemente, não participam de nenhum modo na formação da ordem jurídica na- cional, pois não possuem representação no Poder Legislativo federal, nem atuam no processo legislativo de modificação da Constituição Federal. k) A República Federativa do Brasil en- quadra-se no tipo federação de equilíbrio, o que significa que está fundada no equi- líbrio entre as competências e a autono- mia conferidas aos entes federados pela Constituição Federal. l) Esse equilíbrio está consubstancia- do, também, nas regras constitucionais de criação de regiões de desenvolvimento entre os estados (CF, art. 43) e de regiões metropolitanas entre os municípios (CF, art. 25, § 3º), de concessão de benefícios fiscais (CF, art. 151, I) e da repartição de receitas tributárias (CF, arte. 157 a 159). m) Modificações no modelo de equilí- brio delineado pelo legislador constituin- te originário, que tendam à quebra do pacto federativo, são inconstitucionais, por ofensa à cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º, I). Assim, preocupado em assegurar a au- tonomia dos entes federativos, núcleo do 16 17 equilíbrio federativo, o legislador consti- tuinte originário estabeleceu, no próprio texto constitucional, mecanismosque visam a estabelecer proteção ao pacto federativo por ele desenhado. São vários os dispositivos constitucionais que, em maior ou menor grau, têm essa preocupa- ção. Vejamos alguns destes comandos constitucionais que, segundo a dou- trina publicista pátria, representam as mais expressivas garantias consti- tucionais da nossa Federação: a) Repartição de competências: ao distribuir as competências públicas entre os diferentes entes políticos, a Constitui- ção Federal outorga-lhes autonomia para a atuação no âmbito das respectivas áre- as, assim assegurando o equilíbrio fede- rativo. b) Rigidez da Constituição: o fato de a Constituição Federal ser rígida, dificulta a modificação da repartição de compe- tências entre os entes políticos, haja vista que esta somente será possível mediante a aprovação de emenda à Constituição, pelo procedimento especial e árduo, exi- gido constitucionalmente. c) Controle de constitucionalidade: a atribuição ao Poder Judiciário da com- petência para exercer o controle de cons- titucionalidade possibilita que ele fiscalize o exercício pelos entes federados das com- petências delineadas no texto constitucio- nal, porquanto a atuação de qualquer um dos entes federados fora de suas compe- tências próprias configura atuação incons- titucional, passível de anulação pelo Poder Judiciário, por meio dos mecanismos de controle de constitucionalidade. d) O processo de intervenção, previs- to nos arts. 34 a 36 da CF/88: em certas hipóteses, a intervenção de um ente fe- derado sobre outro tem por fim específico assegurar a manutenção e o equilíbrio de nossa Federação. e) Imunidade recíproca de impos- tos, prevista no art. 150, VI, “a”, da CF/88: forma de expressão do princípio federa- tivo que, além de explicitar a isonomia política entre os entes federados, impõe a vedação constitucional à exigência de impostos uns dos outros, impedindo que a autonomia de um ente político seja pre- judicada por outro, mediante a imposição gravosa de impostos, com o que resultam afastadas eventuais pressões que umas e outras poderiam exercer entre si de forma recíproca, comprometendo a unidade po- lítica essencial ao perfeito funcionamen- to do regime federativo. f) Repartição das receitas tributá- rias, prevista nos arts. 157 a 159 da CF/88: ao estabelecer a obrigatoriedade da repartição das receitas de certos tri- butos entre os entes federados, buscou o legislador constituinte assegurar uma re- lativa equivalência econômico-financeira entre eles, aspecto fundamental para o equilíbrio federativo (PAULO; ALEXAN- DRINO, 2008). 18 1918 UNIDADE 4 - Repartição de competências Repartição de competências é a técnica que a Constituição utiliza para partilhar entre os entes federados as diferentes atividades do Estado federal. Trata-se do ponto nuclear do conceito jurídico de Estado federal, haja vista que a autonomia dos entes federativos assenta-se, precisamente, na existência de competências que lhes são atribuídas como próprias diretamente pela Constituição da Federação (PAULO; ALEXANDRINO, 2008). Os ensinamentos de JOSÉ AFONSO DA SIL- VA (2005) corroboram com a assertiva aci- ma: a autonomia das entidades federativas pressupõe repartição de competências para o exercício e desenvolvimento de sua ativi- dade. Esta distribuição constitucional de po- deres é o ponto nuclear da noção de Estado federal. São notórias as dificuldades quanto a saber que matérias devem ser entregues à competência da União, as que competirão aos Estados e quais as que se indicarão aos Municípios. 4.1 Métodos de repartição de competências O princípio fundamental que orienta o Legislador Constituinte na divisão de com- petências entre os entes federativos é o da predominância do interesse. Neste, compe- tirão à União as matérias de predominante interesse nacional, v.g., manter relações com Estados Estrangeiros e participar de organi- zações internacionais (CF, art. 21, I), aos Esta- dos, as matérias de predominante interesse regional, v.g., instituir, mediante lei comple- mentar, regiões metropolitanas, aglomera- ções urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes (CF, art. 25, §3º), restando aos Municípios as matérias de predominante interesse muni- cipal, v.g., criar, organizar e suprimir distritos (CF, art. 30, IV). É importante salientar que ao Distrito Federal, em face da vedação de sua divisão em Municípios, são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios. Neste sentido, a título de exemplo, partin- do das premissas oriundas da predominância do interesse, o Legislador Constituinte Origi- nário estabeleceu que compete à União ex- plorar os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros (CF, art. 21, XII, e), que compete aos Municí- pios explorar os serviços de transporte intra- municipal (CF, art. 30, V) e aos Estados, em virtude de sua competência reservada (art. 25, § 1º), competirá explorar o transporte in- termunicipal (BALTAZAR, 2007). Indo direto para nosso modelo de reparti- ção de competências (lembrando que exis- tem outros modelos para outros países), a partir da técnica originária de repartição de competências baseada na organização da federação norte-americana, e, em decor- rência da evolução conceitual e orgânica do federalismo, houve a adoção de técnicas complexas de distribuição de poderes, onde se verifica o encaminhamento a um federa- lismo cooperativo, com competências con- correntes (CF, art. 24), competências comuns (CF, art. 23) e delegação de competências (CF, art. 22, parágrafo único). a) Competência residual e reservada: Na competência residual, certa matéria jurídica é atribuída pela Constituição Federal 18 1919 a título de competência a todos os entes da federação de forma exaustiva, específica e exclusiva. No entanto, se houver fato novo a respeito desta matéria, tem que estar ex- pressamente atribuída na Constituição Fe- deral para um dos entes da federação. No nosso caso, temos como exemplo a com- petência residual em relação aos impostos, conforme art. 154, I, da Constituição Federal, in verbis: Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos dis- criminados nesta Constituição. De outro lado, na competência reserva- da ou remanescente, certa matéria jurídica é atribuída parcialmente a algumas das ca- tegorias dos entes da federação de forma expressa. A parcela da matéria que não foi expressamente atribuída presume-se como sendo daquela categoria de ente da federa- ção que não recebeu competências enume- radas. A competência reservada ou rema- nescente, no caso brasileiro, foi atribuída aos Estados-membros, conforme art. 25, § 1º, da Constituição Federal. b) Competências administrativas e competências legislativas: Teremos competências administrativas quando a Constituição outorgar ao ente po- lítico a competência para realizar atos de execução, administração, ou seja, o núcleo conceitual destas competências se expressa por verbos que estabelecem atos de fazer, v.g., manter, executar, explorar, emitir, ad- ministrar, organizar. Em relação ao nosso or- denamento jurídico constitucional, podemos apontar como competências administrativas as normas constantes do art. 21 do Texto Constitucional, onde são expostas as com- petências exclusivas da União, e as normas constantes do art. 23, onde figuram as com- petências comuns dos entes federativos. De outro lado, teremos competências le- gislativas quando a Constituição outorgar ao ente político a competência para legislar, ou seja, para a ediçãode atos normativos gerais e abstratos. Como expressão das competên- cias legislativas, a Carta de Outubro estabe- lece competências legislativas privativas da União no art. 21 e competências legislativas concorrentes dos entes políticos no art. 24. c) Competência exclusiva e competên- cia privativa: A doutrina constitucional nacional, comu- mente, diferencia a competência exclusiva da privativa, apontando que naquela a dele- gação de competências é proibida, isto é, é indelegável, enquanto nesta ela é possível. JOSÉ AFONSO DA SILVA (2004, p. 478) assim as distingue: a diferença que se faz entre compe- tência exclusiva e competência privativa é que aquela é indelegável e esta é dele- gável (...) Mas a Constituição não é rigoro- samente técnica neste assunto. Veja-se, por exemplo, que nos arts. 51 e 52 traz matérias de competência exclusiva, res- pectivamente da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, mas diz que se trata de competência privativa. Não é deste úl- timo tipo, porque são atribuições indele- gáveis. Portanto, adotando tal técnica, o consti- tuinte originário estabeleceu, no art. 21 da Constituição Federal, competências mate- 20 21 riais ou administrativas que serão exercidas de modo exclusivo pela União, não podendo haver o exercício de qualquer dos outros en- tes políticos, ou seja, impossível a delegação para eles (BALTAZAR, 2007). Necessário ressaltar, por imprescindível, que os Estados-membros, embora possuam, em regra, competências remanescentes ou reservadas, foram presenteados com o es- tabelecimento de duas competências exclu- sivas, a saber: (i) a competência para a exploração direta, ou mediante concessão, dos serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regu- lamentação (CF, art. 25, § 2º); e, (ii) a possibilidade de instituição, via lei complementar, de regiões metropolitanas, conglomerados urbanos ou microrregiões, constituídas por agrupamentos de muni- cípios limítrofes, para melhor execução da prestação do serviço público (CF, art. 25, § 3º). Em relação aos municípios, foram indica- das as competências previstas no art. 30 da Carta Política. No que tange às competências privativas, é possível afirmar que se permite a delega- bilidade. Portanto, o constituinte, ao atribuir as competências privativas da União, que são sempre legislativas (CF, art.22), possibilitou sua delegação, desde que realizada através de Lei complementar, aos Estados-membros (CF, art. 22, parágrafo único) (BALTAZAR, 2007). Para que a aventada delegabilidade ve- nha a ocorrer de forma válida, é necessária a observância dos requisitos estabelecidos no parágrafo único do art. 22. São eles: o Instrumento normativo autorizador da Delegação será a Lei complementar fede- ral; embora não haja disposição expressa a delegação também é estendida ao Distrito Federal, haja vista que cabe ao Distrito Fede- ral as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios (CF, art. 32, § 1º); a União só poderá delegar questões es- pecíficas e não toda a matéria que lhe é origi- nariamente estabelecida; observância do respeito ao princípio da isonomia, isto é, a delegação deve ser esta- belecida a todos os Estados-membros e não só a um deles, pois a Constituição Federal, no art. 19, veda o estabelecimento de preferên- cias entre os Estados. c) Competência comum e concorrente: A competência comum, cumulativa ou paralela é modelo típico de repartição de competências do moderno federalismo co- operativo. Nela distribuem-se competências administrativas a todos os entes federativos para que as exerçam sem preponderância de um ente sobre o outro, ou seja, sem hierar- quia. Em nosso ordenamento jurídico-cons- titucional sua delimitação foi estabelecida no art. 23 da Constituição Federal, onde se apresentam as atividades administrativas que podem ser exercidas de modo parale- lo entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, onde todos os entes federativos atuam em igualdade, sem nenhuma priorida- de de um sobre o outro. Deste modo, a atuação de um ente fede- rativo não depende da atuação de outro, e, da mesma forma, a atuação de um ente fede- rativo não afasta a possibilidade de atuação 20 21 de outro. A competência comum, ou parale- la, se expressa na possibilidade da prática de atos administrativos pelas entidades fede- rativas, onde esta prática pode ser realizada por quaisquer delas, em perfeita igualdade, de forma cumulativa (CF, art. 23). Portanto, com o objetivo de fomentar o cooperativismo estatal, dispôs o Legislador Constituinte que, no âmbito da competência comum, lei complementar deverá fixar nor- mas para a cooperação entre a União e os Es- tados, o Distrito Federal e os Municípios, ten- do em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional (CF, art. 23, parágrafo único). Importante é assinalar que a competência comum não se refere a atividades legislati- vas, sob pena de os entes da federação le- gislarem diferentemente sobre o mesmo as- sunto, com a possibilidade de imperar o caos social (BALTAZAR, 2007). A competência concorrente é típico caso de repartição vertical de competência em nosso país. Ela se expressa na possibilidade de que sobre uma mesma matéria diferentes entes políticos atuem de maneira a legislar sobre determinada matéria, adotando-se, em nosso caso, a predominância da União, que irá legislar normas gerais (CF, art. 24, § 1º), e aos Estados estabelece-se a possibili- dade, em virtude do poder suplementar, de legislar sobre assuntos referentes aos seus interesses locais (CF, art. 24, § 2º), onde su- plementar tem alcance semântico de porme- norização, detalhamento, minudenciamento (BALTAZAR, 2007). Guarde... Grosso modo, a repartição de competên- cias constitui a maior garantia da autonomia política de cada ente federado. Vejamos a ilustração abaixo: Fonte: Neves e Loyola (2011, p. 24). Anote: Competência exclusiva da União (art. 21 da CF) - Indelegável enumerada. Competência privativa da União (art. 22 da CF). Só pode delegar por lei complementar federal editada pelo Conselho Nacional (ver mudanças constitucionais da EC nº 61/2009 no art. 103-B da CF, modificando a composi- ção do CNJ). Só pode delegar sobre “questões especí- ficas”. Ex.: a lei complementar não pode de- legar competência para o Estado membro legislar sobre direito do trabalho (normas ge- rais), mas para questões específicas no âm- bito do direito do trabalho. Se houver delegação tem de ser para to- dos os entes. Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos da Polícia Civil militar e do Distrito Federal. Compete à União legislar privativamen- te sobre crimes de responsabilidade, ainda relacionados ao governador, prefeito (art. 22, I, CF). Competência comum (art. 23 da CF) – a todos os entes. Cabe à lei complementar fi- xar normas para cooperação entre a União, os Estados, Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvi- mento e do bem-estar em âmbito nacional. 22 2322 Competência Iegislativa concorrente: Só entre a União, os Estados e o Distrito Fe- deral. Repartição vertical - art. 24 da CF: - para a União, reserva-se as normas ge- rais (limitação). - é inconstitucional a União legislar esta- belecendo relações para os Estados-mem- bros e Distrito Federal, ressalvando as nor- mas gerais, pois senão geraria invasão de competência. Quando a União estabelecer normas ge- rais caberá aos Estados e Distrito Federal adequação às peculiaridades locais, por meio de normas específicas no uso de atividades suplementares. Caso a União não edite normas gerais, os Estados e o Distrito Federalexercerão a competência plena para atender suas pecu- liaridades (art. 24, § 3º, da CF), automatica- mente. A superveniência de lei federal sobre nor- mas gerais suspende (e não revoga) a lei es- tadual ou do Distrito Federal, no que apenas lhe for contrária. Competência dos Estados – não é nu- merada (taxativa), mas remanescentes (CF, art. 25, § 1º). Porém encontramos na Constituição Fe- deral alguns poucos competentes, expres- samente, a saber: criação, incorporação, fusão e desmembramentos de Municípios direta ou mediante concessão, dos serviços locais de gás canalizados; instituição de re- gulamentação metropolitana (lei comple- mentar); aglomerados urbanos e microrregi- ões, organização de justiça. Competência do Distrito Federal (art. 32 da CF) – ao Distrito Federal são atribuídas competências legais do Estado e Município. Competência municipal (art. 30 da CF) – suplementar dos Estados e União e exclu- siva. Faz parte da competência municipal: sa- ber o horário de funcionamento do comércio, dispor sobre segurança (portal eletrônico), serviço funerário, competência enumerada municipal (NEVES; LOYOLA, 2011). 22 2323 UNIDADE 5 - Poder Legislativo Na maioria dos países, o princípio basilar de organização estatal é o da separação dos poderes. PAULO MASCARENHAS (2008) nos lem- bra que o americano John Locke foi quem primeiro separou os poderes em Legislativo, Executivo e Federativo. Montesquieu aper- feiçoou o princípio da organização estatal no seu livro O Espírito das Leis, dividindo-o, como conhecemos hoje, em Legislativo, Exe- cutivo e Judiciário. A ideia da divisão dos poderes foi no senti- do de se evitar o abuso do poder. Assim, ‘po- der freando poder’ a separação dos poderes promove a limitação do potencial despótico do estado, de modo a que ninguém fique obrigado, por exemplo, a fazer coisas que a lei não obriga e não fazer as que a lei permite. A separação de poderes é compatível com o estado liberal, porque visa à limitação dos poderes, e possibilita a formação do Estado Democrático de Direito porque previne os abusos dos governantes, submetendo-os ao império da lei. No Brasil, o Poder Legislativo é exercido tanto através da União – Congresso Nacional –, como dos estados – Assembleias Legislati- vas – e dos municípios – Câmaras Municipais. Somente no caso da União, o sistema é bicameral, sendo o Congresso nacional com- posto de Senado Federal e Câmara dos De- putados. Ao Poder Legislativo compete legislar e fiscalizar o estado. Por legislar se entende a capacidade de fazer, alterar, emendar e re- vogar as leis do estado. Essas são as funções típicas do Poder Legislativo. Ou como explicam VICENTE PAULO e MAR- CELO ALEXANDRINO (2008): no desempe- nho da função legislativa, cabe a ele, obede- cidas as regras constitucionais do processo legislativo, elaborar as normas jurídicas ge- rais e abstratas. Em cumprimento à função fiscalizadora, cabe ao Congresso Nacional: realizar a fiscalização contábil, fi- nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial do Poder Executivo (CF, art. 70); fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da adminis- tração indireta (CF, art. 49, X); bem como, investigar fato determinado, por meio da criação de comissões parlamen- tares de inquérito - CPI (CF, art. 58, § 3º). É importante destacar que essas duas funções típicas do Poder Legislativo dis- põem da mesma dignidade, do mesmo grau de importância, vale dizer, não há hierarquia entre elas. As duas foram atri- buídas pelo constituinte originário ao Po- der Legislativo, sem nenhuma relação de subordinação entre elas. As funções atípicas são as de adminis- trar e julgar. A primeira, quando dispõe sobre sua organização e operacionalida- de interna, provimento de cargos, promo- ção de seus servidores; a de julgar ocorre no processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabili- dade (MASCARENHAS, 2008). 24 25 5.1 O Congresso Nacional (arts. 44 a 50) O Poder Legislativo Federal é bicame- ral, ou seja, é composto de duas Casas Le- gislativas, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. Esse bicameralismo decorre da forma federativa do estado brasileiro, onde o Senado representa, de forma paritária, todos os estados brasileiros e o Distrito Federal, consagrando o equilíbrio da Fe- deração. Demais disso, reforça a ideia de que os estados-membros são realmente partícipes ativos da formação da vontade nacional. O Congresso Nacional é dirigido por uma mesa, presidida pelo Presidente do Senado Federal, e os demais cargos se- rão exercidos, de forma alternada, pelos cargos equivalentes na Câmara dos De- putados e no Senado Federal. Assim, o 1º Vice-Presidente do Congresso será o 1º vice-Presidente da Câmara, o 2º vice, o 2º vice-presidente do Senado, e assim su- cessivamente. Muitos devem estar se perguntando: mas não seria ou deveria ser o presidente da Câmara a presidir o Congresso? As razões são decorrentes da tradição e da dogmática constitucional e seria pre- ciso voltar à Grécia e à Roma antiga para encontrar as explicações. Seremos sucintos, talvez não convincen- tes, mas reza no art. 57, § 5º que a Mesa do Congresso Nacional será presidida pelo Pre- sidente do Senado Federal, e os demais car- gos serão exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câ- mara dos Deputados e no Senado Federal. Historicamente encontramos em Ho- mero, Sócrates e no Senado Romano va- lorizações do poder senatorial, devido à idade e sabedoria dos integrantes. Homero, na Ilíada e na Odisseia já mos- trava a valorização dos conselhos advin- dos dos mais idosos, apontados como fon- te de sabedoria, mercê da sua experiência de vida (BARBOSA SOBRINHO, 2011). Outros momentos da história também mostram a questão etária como sendo um diferencial, seja em relação à experiência ou ao respeito. Tanto que no art.14 § 3º, inciso VI, alíneas a e c, da CF temos dentre as condições de elegibilidade dos senado- res a idade mínima de trinta e cinco anos, enquanto a idade mínima para deputado federal é de apenas vinte e um anos. Evidentemente que existem lacunas e muitas outras justificativas. Sugerimos a leitura do artigo “Por que o presidente do Senado preside o Congresso nacional?”, disponível em: http://osoriobarbosa.com. br/node/33 e deixamos que façam suas próprias conclusões ou busquem novas respostas a esse questionamento. 5.2 A Câmara dos Deputa- dos (art.51) A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos pelo sistema proporcional, para mandatos de quatro anos, permitidas sucessivas ree- leições. A representação de cada estado e do Distrito Federal é proporcional à popula- ção, isto é, quanto mais populoso, maior será o número de representantes do ente federado na Câmara dos Deputados. 24 25 A CF determina o número máximo (70) e mínimo (8) de cadeiras por estado na Câ- mara Federal. Assim, estados menos po- pulosos, como Acre e Amapá, por exem- plo, que tem oito (8) cadeiras na Câmara Federal, acabam super-representados enquanto outros, como São Paulo, por exemplo, com uma população muitas e muitas vezes maior que o estado do Acre, pode ter apenas 70 cadeiras. À Câmara Federal compete, privati- vamente: autorizar, por 2/3 de seus membros, a instauração de processo contra o presi- dente e o vice-presidente da República e os ministros de Estado; proceder à tomada de contas do pre- sidente da República, quando não apre- sentadas ao Congresso Nacional dentro de 60 dias após a abertura da sessão le- gislativa; elaborar o seu regimento interno; dispor sobre sua organização, funcio- namento, polícia, criação, transformaçãoou extinção dos cargos, empregos e fun- ções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; eleger dois membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII. 5.3 O processo legislativo (art. 59) Segundo previsão consti- tucional contida no artigo 59, o processo legislativo compreende a elaboração de: emendas à Constituição; leis complementares; leis ordinárias; leis delegadas; medidas provisórias; decretos legislativos; resoluções. Estas são as espécies normativas pri- márias, aquelas que retiram seu funda- mento de validade diretamente da Cons- tituição. Com exceção das emendas constitu- cionais, todas as demais espécies estão situadas no mesmo plano jurídico, cada qual dentro do seu próprio campo de atu- ação, inexistindo, assim, hierarquia entre elas. Daí que, na lição de CELSO RIBEIRO BASTOS (1999, p.357), “se uma espécie invadir campo de atuação de outra esta- rá ofendendo diretamente a Constituição. Será inconstitucional”. O que distingue uma espécie normativa de outra são certos aspectos na elabora- ção e o campo de atuação de cada uma de- las. Lei Complementar não pode cuidar de matéria de lei ordinária, da mesma forma que lei ordinária não pode tratar de maté- ria de lei complementar ou de matéria re- servada a qualquer outra espécie norma- tiva, sob pena de inconstitucionalidade (BASTOS, 1999). O parágrafo único do artigo 59 deter- mina que lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e conso- 26 27 lidação das leis. Para esse efeito foi pro- mulgada a LC nº 95, em 26/02/98 (ver LC nº 107/2001 e Dec. nº 4.176/2002). Cabe falar da Emenda Constitucional que se situa em um plano acima das de- mais espécies normativas, uma vez que, após a sua aprovação através de processo legislativo específico, ela adquire a mes- ma natureza jurídica e o mesmo posicio- namento hierárquico das normas cons- titucionais originárias (MASCARENHAS, 2008). A emenda constitucional sofre limita- ções expressas, de natureza formal (art. 60, caput, §2º e 3º), circunstancial (en- contram-se previstas no art. 60, §§ 1º e 5º), e substancial (ou material) (art. 60, §4º) em razão das vedações e limitações que foram impostas pelo legislador cons- tituinte; e, para alguns doutrinadores, li- mitações implícitas, que são aquelas que visam a assegurar a efetividade das cláu- sulas pétreas. Ressalte-se que o Supremo Tribunal Federal na Adin nº 939/7-DF, decidiu ser cláusula pétrea a garantia constitucional assegurada ao cidadão no art. 150, III, b, da CF – princípio da anterioridade tributá- ria – ao argumento de que emenda cons- titucional que vise a abolir o princípio da anterioridade tributária fere direitos e ga- rantias individuais constitucionalmente assegurados. 5.4 Senado Federal (art. 52) É a casa legislativa composta de repre- sentantes dos estados e do Distrito Fe- deral, eleitos segundo o princípio majori- tário. São três senadores por estado para cada uma unidade federativa, com man- dato de 8 (oito) anos para cada um, eleitos alternadamente a cada quatro anos: em uma eleição elegem-se dois, e, na outra, elege-se um senador. Além das condições mínimas de elegibi- lidade, é exigido, lembre-se, que o sena- dor tenha a idade mínima de 35 anos. O Senado Federal possui a mesma re- levância e força dada à Câmara dos Depu- tados, diferentemente do bicameralismo britânico onde o Senado tem uma função secundária. A competência privativa do Senado Fe- deral encontra-se fixada no art. 52, inci- sos I a XIV, da Constituição Federal. O Congresso Nacional reunir-se-á, anu- almente, na Capital Federal, de 15 de fe- vereiro a 30 de junho e de 1º de agosto a 15 de dezembro. § 1º - As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas para o primeiro dia útil subsequente, quando recaírem em sábados, domingos ou feriados. A Câmara e o Senado podem se reunir separadamente ou em conjunto, depen- dendo da situação prevista na CF. O Con- gresso Nacional vale dizer, a Câmara e o Senado atuando conjuntamente, somen- te atua para os casos previstos na Cons- tituição, em especial os mencionados no art. 57: a) inaugurar a sessão legislativa; b) elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às duas Casas; c) receber o compromisso do presidente e do vice-presidente da República; d) conhecer do veto e sobre ele deliberar. O Congresso Nacional organiza seus 26 27 trabalhos por legislaturas, que tem a du- ração de 4 (quatro) anos, coincidindo com o mandato do Deputado Federal. Cada le- gislatura possui 4 (quatro) sessões legis- lativas ordinárias, constituindo o calendá- rio anual dos trabalhos ordinários. O Congresso Nacional, a partir da emen- da constitucional n° 50, de 14/02/2006, reúne-se, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro, diminuindo, as- sim, o recesso de meio e final de ano que antes totalizavam noventa dias, e que agora perfazem 55 dias. Fora desse período, o Congresso po- derá se reunir em virtude de convocação extraordinária, por convocação do Presi- dente do Senado (em casos de decretação de estado de defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para decretação de estado de sítio e para o compromisso e a posse do Presidente e do Vice-Presidente da República) – é a hipó- tese do inciso I, do §6º, do art. 57 – ou, ain- da, por convocação do Presidente da Re- pública, pelos Presidentes da Câmara e do Senado, ou a requerimento da maioria dos membros de ambas as Casas, em caso de urgência ou interesse público relevante, sendo que, neste último caso, mediante a aprovação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional (in- ciso II, do § 6º, do art. 57). Observar que na sessão legislativa extraordinária o Congresso Nacional so- mente poderá deliberar sobre a matéria para a qual foi convocado, salvo se hou- ver medidas provisórias em vigor na data da convocação, pois, neste caso, serão elas automaticamente incluídas na pauta da convocação, sobrestando as demais, vale dizer, as medidas provisórias terão que ser votadas antes mesmo daquelas constantes da convocação extraordinária (MASCARENHAS, 2008). Por fim, a emenda constitucional de n° 50, em muito boa hora, acabou com o pa- gamento de parcela indenizatória em ra- zão da convocação extraordinária (MAS- CARENHAS, 2008). 28 2928 UNIDADE 6 - Poder Executivo O Poder Executivo, no âmbito federal, é exercido pelo presidente da República, auxi- liado pelos Ministros de Estado. No Brasil, o sistema de governo é o presi- dencialista, a forma de governo é a República e o Estado adota a forma de Federação (PAU- LO; ALEXANDRINO, 2008; MASCARENHAS, 2008; NEVES; LOYOLA, 2011). Dos três poderes, que na doutrina clássica dividem entre si as funções do Estado, sem dúvida é o Poder Executivo o que mais exer- ce atos de administração. Conceitualmente, o Poder Executivo é o que cria e administra os serviços assisten- ciais, comanda a vida econômica e financei- ra, impulsiona e controla os serviços públicos essenciais e, ainda, exerce a gestão das re- lações exteriores, da burocracia, das forças armadas e da polícia. Enquanto o Poder Legislativo traça o rumo, a orientação, cabe ao Poder Executivo zelar para que a legislação proferida pelo le- gislador seja aplicada e cumprida, se preciso for, pela coação. Lembremos que desde a primeira Cons- tituição (1891), vige no Brasil o sistema de governo presidencialista, tendo uma breve passagem pelo parlamentarismo após re- núncia de Jânio Quadros. No sistema presidencialista, o presidente da República concentraas funções de Chefe de Estado e de Chefe de Governo, enquanto no sistema parlamentarista tais funções são exercidas por pessoas distintas, respectiva- mente, o presidente ou o monarca e o pri- meiro-ministro. Como Chefe de Estado o Presidente da República representa o estado nas suas rela- ções internacionais e corporifica a sua unida- de interna. Como Chefe de Governo exerce a gerência dos negócios internos, de natureza política – quando participa do processo legis- lativo – e de natureza administrativa, dirigin- do a máquina administrativa, contando com a ajuda dos ministros de estado, auxiliares do presidente, e que podem ser demitidos a qualquer tempo, ad nutum, a seu livre arbí- trio (MASCARENHAS, 2008). 6.1 Investidura As atribuições do presidente da República encontram-se elencadas no artigo 84 da CF. No Brasil, desde a sua redemocratização, o presidente e o vice-presidente da Repúbli- ca são eleitos pelo povo para um mandato de quatro anos, pelo sistema majoritário, onde é considerado vencedor aquele que obtiver maior número de votos. A eleição deve ser realizada no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do tér- mino do mandato do último presidente (CF, art. 77). O segundo turno da eleição somente se faz necessário se nenhum candidato alcan- çar a maioria absoluta no primeiro turno de votação. Para concorrem na eleição, os can- didatos a presidente e vice-presidente da República devem atender a alguns requisitos básicos de elegibilidade: 28 2929 a) ser brasileiro nato; b) estar no pleno exercício dos seus direi- tos políticos; c) ser eleitor; d) ser filiado a um partido político; e) ter 35 anos de idade, pelo menos; f) não estar inelegível. Com a introdução da Emenda Constitu- cional nº 16, de 04/07/1997, o presidente da República pode ser reeleito para, apenas, mais um mandato consecutivo, sem a neces- sidade de se desincompatibilizar do cargo. Ressalte-se que não há um limite de ve- zes para que o mesmo cidadão seja eleito Presidente da República. O que a Constitui- ção veda, em respeito ao princípio da tempo- ralidade do mandato, marca da forma repu- blicana de governo, é a possibilidade de mais de uma reeleição para períodos sequenciais (é possível uma reeleição para período se- quencial, não duas). Assim, nada impede que um mesmo cidadão exerça a Presidência da República por três, quatro, ou mais vezes, desde que não mediante duas reeleições seguidas, isto é, desde que não exerça três mandatos consecutivos (PAULO; ALEXAN- DRINO, 2008). As posses do presidente e do vice-presi- dente eleitos ocorrem no dia 1º de janeiro do ano imediatamente seguinte ao da eleição. Caso sejam ultrapassados dez (10) dias da data fixada sem que os eleitos tomem posse, salvo motivo de força maior, será declarada a vacância do cargo pelo Poder Legislativo, por se tratar de ato político, e não jurídico. Caso o presidente não compareça à posse, mas o vice compareça, este será empossado na presidência da República, temporariamente. Se a ausência do presidente, motivada ou não, se transformar em impossibilidade ab- soluta, a posse do vice-presidente na presi- dência se tornará definitiva. O vice-presidente da República substitui o presidente nos casos de impedimento – via- gem para o exterior e licenças médicas, por exemplo – e o sucede, no caso de vaga. Caso os dois estejam impedidos a um só tempo, ou havendo a vacância de ambos os cargos, a presidência será exercida pelo Pre- sidente da Câmara dos Deputados (3º na li- nha sucessória), ou, no impedimento deste, e sucessivamente, o Presidente do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Em caso de vacância (afastamento defini- tivo do Presidente, decorrente de morte, de renúncia ou de perda do cargo em razão de pena imposta pela prática de crime comum ou de responsabilidade) dos dois cargos ainda nos dois primeiros anos do mandato, será feita nova eleição 90 (noventa) dias de- pois de aberta a última vaga; se ocorrer nos últimos dois anos do período presidencial, será feita nova eleição no prazo de 30 dias, de forma indireta pelo Congresso Nacional (MASCARENHAS, 2008). 6.2 Responsabilidades e ti- pos de crimes Integra a estrutura dos regimes demo- cráticos a responsabilidade assumida pelos seus dirigentes. No presidencialismo, o pró- prio Presidente da República é responsável, ficando sujeito a sanções de perda de cargo por infrações definidas como crimes de res- ponsabilidade. Os crimes são classificados em comuns ou de responsabilidade. Os crimes comuns são aqueles definidos na legislação penal comum ou especial. Os 30 31 crimes de responsabilidade são aqueles li- gados a infrações políticas ou funcionais. Só podem ser praticado por pessoas investidas em certas funções públicas, entre elas o Pre- sidente da República, segundo demonstra a Constituição Federal/88. O Presidente da República poderá, pois, cometer crimes de responsabilidade e cri- mes comuns. A Câmara dos Deputados Federais com- pete autorizar, por 2/3 (dois terços) de seus membros, a instauração de processo, por crime comum ou por crime de responsabili- dade, contra o Presidente da República, o Vi- ce-Presidente e os Ministros de Estado. Em caso de crime de responsabilidade, recebida a autorização para instaurar o pro- cesso, o Senado Federal se transformará em tribunal de juízo político, sob a Presidência do Presidente do Supremo Tribunal Federal (art. 86 e art. 52,1, da C.F/88). Se o crime for comum, o processo será instaurado pelo Su- premo Tribunal Federal com o recebimento da denúncia ou queixa-crime (art. 86 e art. 102, 1, “b” e “c”, CF/88). Sabe-se que uma das características mar- cantes da forma republicana de governo é a possibilidade de responsabilização daque- les que gerem a coisa pública, quer dizer, os governantes têm o dever de prestar contas sobre sua gestão frente aos administrados. Assim, como corolário do princípio repu- blicano, a Constituição Federal prevê a possi- bilidade de responsabilização do Presidente da República, tanto por infrações político- -administrativas, quanto por infrações pe- nais comuns. Quanto aos crimes de responsabilidade, estes são infrações político-administrativas, definidas em lei especial federal, que pode- rão ser cometidas no desempenho da fun- ção pública e que poderão resultar no impe- dimento para o exercício da função pública (impeachment). A Constituição Federal aponta as condu- tas do Presidente da República que caracte- rizarão crime de responsabilidade, nos ter- mos seguintes: Art. 85. São crimes de responsabili- dade os atos do Presidente da Repúbli- ca que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, indi- viduais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das deci- sões judiciais. Como se vê, não se trata de lista exausti- va, mas, sim, meramente exemplificativa. Na realidade, a Constituição Federal aponta, apenas genericamente, aquelas condutas que poderão configurar a prática de crimes de responsabilidade pelo Presi- dente da República, deixando à lei especial a competência para defini-los e estabelecer as respectivas normas de processo e julgamen- to (art. 85, parágrafo único). Essa lei especial deverá ser, necessariamente, lei federal. De- 30 31 veras, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que somente a União dis-
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