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Antropologia cultural

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ETEL SANTANA 
 
Escola de Teologia para Leigos de Santana 
Região Episcopal Santana - Arquidiocese de São Paulo 
 
 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
Prof. Claudio Eduardo França 
 
 
EMENTA 
 
Campo mais amplo da ciência antropológica, a Antropologia Cultural abrange o 
estudo do ser humano como ser cultural, isto é, produtor de cultura. Investiga as culturas 
humanas no tempo e no espaço, suas origens e desenvolvimento, suas semelhanças e 
diferenças. Tem foco voltado para o conhecimento do comportamento cultural humano, 
adquirido por aprendizado, analisando-o em todas as suas dimensões. 
 
Como ciência social, seu objetivo básico consiste no problema da relação entre 
modos de comportamento instintivo (hereditário) e adquirido (por aprendizagem), bem 
como o comportamento das bases biológicas gerais que servem de estrutura às capacidades 
culturais do homem. É o Ser Humano (estrutura biológica) criando o seu meio cultural, 
mediante formas diferenciadas de comportamento e evidenciando o caráter biocultural do 
desenvolvimento humano. 
 
Todas as sociedades humanas passadas, presentes e futuras interessam ao 
antropólogo cultural. 
 
 
OBJETIVO 
 
 A proposta da disciplina de Antropologia Cultural para o Curso de Teologia para 
Leigos tem como objetivo buscar uma compreensão mais profunda da condição humana, 
sua forma de organização em sociedades e culturas, e, principalmente, abordar questões 
sobre a dimensão religiosa do ser humano (organização, função, simbologia, 
celebrações, fenômenos sociais) fornecendo instrumentos eficientes que auxiliem na 
reflexão e no desenvolvimento do estudo das disciplinas teológicas e coligadas: Sistemática 
(Cristologia, Escatologia, Teologia da Graça, Soteriologia), Exegese e Hermenêutica 
Bíblicas, Ecumenismo e Diálogo Interreligioso, Liturgia, Teologia Moral e de Virtudes, 
Pastoral (Missiologia; Catequese; Comunicações), Direito Canônico e outras. 
 
 
 
 
 
2 
PROGRAMAÇÃO 
 
 
I – Introdução à Antropologia Cultural 
 . Definição 
 . Conceitos 
 (O que é Cultura; Natureza, Ciência, Senso comum, Raça, Economia, Política, 
 Cidade, Grupos Urbanos, Mobilidade humana, Família, Símbolos, Felicidade, 
 Inculturação, Aculturação, outros) 
 . Reflexão: “O que significa Evangelizar “ 
 
 
II – Antropologia Cultural e Religião 
 . Religião e Magia 
 . o “Sagrado” e o “Profano” 
 . O “Sobrenatural”, Ritos e Rituais 
 . A Dádiva e os Dons 
 . A questão da “Morte” versus “Imortalidade” 
 . Fé e ateísmo 
 . A Função da Religião 
 . Reflexão: “O que significa Fundamentalismo” 
 
 
III – O Ser Humano nas três grandes religiões Monoteístas 
 . Judaísmo (“Imagem e semelhança de Deus”) 
.Cristianismo (Jesus Cristo; As bem aventuranças e o homem virtuoso; a 
 redenção) 
 . Islamismo (religião em expansão; além de „fundamentalismos‟) 
 . Reflexão: “Hospitalidade, Convivência e Tolerância” 
 
 
IV – Matizes antropológicos 
 . Algumas considerações gerais sobre cultura indígena e cultura africana 
 . O Ser Humano contemporâneo 
 . Reflexão: “A sociedade de consumo” 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. São Paulo: Contexto,2008 
 
 
 
3 
LINTON, Ralph. O Homem. Uma introdução à Antropologia. 12ª Ed. São Paulo: 
Martins Fontes,2000 
 
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia M. Neves. Antropologia, uma 
introdução. 7ª Ed. São Paulo: Atlas,2008 
 
MELLO, Luiz Gonzaga. Antropologia Cultural. Iniciação, Teoria e Temas. 16ª Ed. 
Petrópolis,RJ: Vozes,2009 
 
OLIVEN, Rúben George. A Antropologia de grupos humanos. 6ª Ed. Petrópolis,RJ: 
 Vozes,2007 
 
RAMPAZZO, Lino. Antropologia, Religiões e Valores cristãos. 3ª Ed. São Paulo: 
Loyola,2004 
 
RÚBIO, Alfonso García. (org.) O Humano integrado. Abordagens de antropologia 
 Teológica. Petrópolis,RJ: Vozes,2007 
 
 
 
LEITURA RECOMENDADA 
 
BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo possível. Petrópolis, RJ; Vozes 
 Vol.1 : A Hospitalidade: direito e deveres de todos (2005) 
 Vol.2 : Convivência, respeito e tolerância (2006) 
 Vol.3 : A Comensalidade: Comer e beber juntos e viver em paz (2006) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
Prof. Claudio Eduardo França 
 
 
. 
ANTROPOLOGIA 
 
A antropologia é comumente definida como o estudo do homem e seus trabalhos. Assim 
definida, deverá incluir algumas das ciências naturais e todas as ciências sociais; mas, por 
uma espécie de acordo tácito, os antropólogos tomaram como campos principais o estudo 
das origens do homem, a classificação de suas variedades e a investigação da vida dos 
chamados povos primitivos. 
A definição mais curta de antropologia pode ser tirada do próprio sentido etimológico do 
termo, de origem grega: 
Anthropos = Homem + Logia = lógos, estudo; ciência 
(A ciência/O Estudo sobre o Homem / Ser Humano) 
 
O que caracteriza a antropologia como disciplina científica não é apenas o objeto material 
(„O ser humano”). Ao contrário, o que , na verdade, caracteriza as disciplinas científicas – 
dando-lhes forma – é o objeto formal. Inúmeras disciplinas tratam do homem e seu 
comportamento (a psicologia, a sociologia, a biologia, a genética, a medicina, etc.). No 
entanto, o que distingue a antropologia das demais ciências sociais e humanas é o objetivo 
que nutre de estudar o homem como um todo.“Está no fato importantíssimo de que a 
antropologia, centrando sua atenção no homem, leva em conta todos os aspectos da 
existência humana, biológica e cultural, passada e presente, combinando estes diversos 
materiais numa abordagem integrada do problema da existência humana. Diversamente 
das disciplinas que tratam de aspectos mais restritos do ser humano, a antropologia frisa o 
princípio de que a vida não se vive por categorias, mas é uma corrente contínua”. 
(Melville J.HERSKOVITS. Antropologia Cultural, Tomo I.) 
 
ANTROPOLOGIA 
 
Antropologia FÍSICA Antropologia CULTURAL 
 
 
ANTROPOLOGIA FÍSICA 
 
 a antropologia Física estuda os aspectos biológicos do homem, misto de história natural e 
ciência natural do homem. A ela interessa não só o estudo das populações hodiernas, mas 
também o estudo da evolução da espécie humana. Estuda os problemas da origem do 
homem, as diferenças e semelhanças entre os povos. É de sua alçada o estudo das raças. 
“O corpo humano é, indubitavelmente, a maravilha da criação, a maravilha das maravilhas. 
Todavia, nele se descortina uma gama enorme de características que são exclusivas do 
homem. A esse conjunto de características do comportamento humano se denominou 
‘cultura’ – objeto do outro grande ramo da antropologia.” 
 
 
5 
 
ANTROPOLOGIA CULTURAL 
 
 A antropologia CULTURAL é o nome que se dá ao outro grande ramo da antropologia. 
O campo dessa disciplina é vastíssimo, pois ele se propõe estudar a obra humana. Ora, essa 
obra que se denomina 
cultura é “este conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, 
lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem 
enquanto membro da sociedade” 
 
 
Outras definições de Cultura 
 
# “é o modo próprio de ser do homem em coletividade, que se realiza em parte 
consciente, em parte inconsciente, constituindo um sistema mais ou menos coerente de 
pensar, agir, fazer, relacionar-se, posicionar-se perante o Absoluto,e, enfim, reproduzir-
se”(Mércio Pereira Gomes); 
# “Consiste na soma total de idéias, reações emocionais condicionadas a padrões 
de comportamento habitual que seus membros adquiriram por meio da instrução ouimitação e de que todos, em maior ou menor grau, participam”; “(sentido geral) A herança 
total da humanidade”; “(sentido específico) uma determinada variante da herança social” 
(Ralph Linton); 
# “A totalidade das reações e atividades mentais e físicas que caracterizam o 
comportamento dos indivíduos que compõem um grupo social...” (Franz Boas); 
# “O todo global consistente de implementos e bens de consumo, de cartas 
constitucionais para os vários agrupamentos sociais, de idéias e ofícios humanos, de 
crenças e costumes” (Malinowski); 
# “a parte do ambiente feito pelo homem” (Herskovits). 
 
ADVERTÊNCIA! 
Nas acepções técnicas do termo “cultura”, jamais o antropólogo poderá dizer que uma 
cultura é superior à outra(s). O que se pode dizer é que determinada cultura dispõe de uma 
tecnologia avançada ou instituições sofisticadas e desenvolvidas. O antropólogo jamais se 
escandalizará com os costumes dos povos, por mais extravagantes que possam parecer. 
Porquanto, embora, à primeira vista, pareçam desconexos e extravagantes, devem ser 
vistos dentro do contexto cultural que forma uma unidade harmônica e lógica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
ANTROPOLOGIA CULTURAL E RELIGIÃO 
Prof. Claudio Eduardo França 
 
 
RELIGIÃO 
A palavra RELIGIÃO, como lembram os teólogos, vem do latim re-ligare, que 
quer dizer mais ou menos o sentimento de voltar a algo inerente ao homem, o qual 
o homem teria perdido. Talvez tenha sido a sua essência primordial ou sua 
finalidade última. O paraíso perdido ou o tempo em que seu pensamento coincidia 
com sua vivência. Os teólogos cristãos interpretam esta etimologia dizendo que a 
religião é a busca do reencontro do homem com seu criador, que estaria antes dele, 
que seria a origem de tudo e a essência do todo universal. 
“... o importante é que em todas as culturas existe um sentimento que reconhece 
algo que está além da materialidade dela própria, além da vida como é vivida. 
Talvez, podemos chamar o objeto deste sentimento de Absoluto ou Transcendental, 
o além do humano, reconhecendo desde já que tal sentimento não deixa de ser 
humano, por ser próprio das culturas.” 
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer o conceito de Religião. Georges Dumézil 
mostrou continuamente que Religião não é apenas um amontoado de mitos, ritos e 
práticas diversificadas. Ela é antes de tudo um pensamento estruturado. Por outro 
lado, graças à visão de mundo que uma religião propõe, o homo religiosus 
(“homem religioso”) se situa no cosmos e na sociedade, especificando sua relação 
com a divindade. Seu pensamento e sua inserção no mundo desembocam em um 
comportamen to existencial específico. Assim, toda religião é um fenômeno 
histórico, vivido por homens e mulheres em um contexto social, cultural, histórico, 
econômico e lingüístico preciso. Toda religião é vivida em um contexto 
social e individual e ocupa um lugar no espaço e no tempo. 
A religião é coexistente com a própria vida humana, mas seu estudo crítico é 
sistemático e recente, sendo que seus vários métodos e tradições interpretativas 
tiveram desenvolvimento especial na modernidade. Isto indica dois aspectos 
centrais em toda a pesquisa. Por um lado, é importante ver a Religião não como 
aparição exótica de grupos específicos, mas como história humana ou ligada 
intrinsecamente à trajetória humana. A história da humanidade é história 
da religião, e a história da religião tem na constituição do humano 
sua maior expressão. A religião nasce com o ser humano. Se não cremos 
mais num Deus criador, não deveríamos deixar de crer na religião como criação da 
humanidade, pois todas as dimensões da vida humana, tal qual como nós a 
 
 
7 
conhecemos hoje, seriam impensáveis sem o alcance do poder formador da 
religião. O humano, em sua capacidade cognitiva e simbólica, seria impensável, 
sem a forma como a religião constituiu a própria humanidade. Ser humano é ser 
religioso em termos históricos. Neste conceito, a religião emerge, portanto, como a 
experiência humana mais antiga, confundindo-se com o próprio tornar-se humano. 
A religião é a experiência fundamental que constitui a rede de significados mais 
antiga sobre a condição humana. (Antônio Magalhães, Rodrigo Portella) 
 
A Antropologia, por modesta que queira ser, sem almejar decifrar o mistério 
religioso, não pode se omitir sobre a realidade desse sentimento, da realidade 
sobre o sagrado, presente em todas as culturas. Parte da visão de que a religião está 
em todas as culturas, sendo, portanto, um fundamento essencial do homem. Pouco 
discute sobre o que é sagrado em si, a não ser em contraste com o profano, mas 
busca descrever e explanar as variantes multifárias desta manifestação e constituir 
um significado que demonstre a sua efetividade nas culturas. 
A religião é um aspecto universal da cultura. Todas as populações 
estudadas apelos antropólogos demonstraram possuir um conjunto de crenças em 
poderes sobrenaturais de alguma espécie. As sociedades, freqüentemente, 
desenvolvem normas de comportamento com a finalidade de se precaver contra o 
inesperado, o imprevisível, o desconhecido, e de estabelecer certo controle sobre as 
relações entre o homem e o mundo que o cerca. 
As normas religiosas de comportamento baseiam-se nas incertezas da vida e 
variam muito de uma sociedade para outra. 
Por meio de cultos e rituais, públicos e privados, os homens tentam conquistar ou 
dominar pela oração, oferendas, sacrifícios, cantos, danças,etc., a área de seu 
universo não submetida à tecnologia. 
 
Algumas definições de RELIGIÃO 
1 - (Edward Tylor) 
 Religião seria “a crença em seres espirituais; crença no sobrenatural” 
(SOBRENATURAL: Tudo aquilo que escapa aos sentidos do homem, que foge à compreensão 
humana, à observação e ao entendimento, é considerado sobrenatural. Está acima das leis 
naturais ou físicas, ou seja em outra dimensão. O sobrenatural pode ser considerado o cerne da 
religião, a base dos sistemas religiosos. Não há como comprová-lo cientificamente ou por meios 
 
 
8 
mecânicos. As forças ou poderes sobrenaturais, generalizados, impessoais, encontram-se no 
universo, mas de modo invisível e independente de seres sobrenaturais determinados.) 
Aí encontram-se dois elementos importantes presentes, de maneira implícita ou 
explícita, em todas as religiões: a fé (ou a crença, ato de confiança, de respeito e 
de reconhecimento, que não supõe a compreensão e o conheci mento) e o 
sobrenatural (objeto da fé, tudo aquilo que escapa ao entendimento humano, 
tudo o que está acima das leis naturais e físicas; aquilo que pode ser considerado 
„uma outra dimensão da vida‟). 
2 - (Belas e Hoijer) 
 “A crença em seres sobrenaturais cujas ações relativas ao homem 
podem ser influenciadas e dirigidas” 
3 - (Hoebel e Frost) 
 “A crença em seres sobrenaturais e os conseqüentes modos e 
comportamentos, em virtude desta crença” 
 
As crenças em poderes sobrenaturais ou misteriosos estão sempre associadas a 
sentimentos de respeito e veneração, expressos em atividades públicas ou não. 
Os antropólogos em geral, concordam que a religião é formada por um sistema de 
crenças e práticas e que todas as sociedades possuem a sua „visão de universo‟. 
“... (Religião e Cosmovisão): Quando se fala em religião como cosmovisão – 
„visão do mundo, da realidade em sua totalidade‟ -, procura-se salientar um 
aspecto do religioso: o sistema de conhecimentos. Na verdade, o homem sempre 
procurou desenvolver um sistema de conhecimento globalizante que servisse para 
dar sentido à sua vida social. O conhecimento religioso tem um objeto vastíssimo. 
Ao contrário da ciência, que restringe seu campo deconhecimento e de estudos 
apenas ao mundo sensível, isto é, suscetível de ser experimentado pelos sentidos, a 
religião existe para explicar tudo, sem exceção. Ela é tida como autoridade, em 
todos os domínios. Tem explicação para o sentido da vida, para a origem da vid 
a.” (Luiz Gonzaga de Mello) 
 
 
 
 
 
9 
OS FENÔMENOS RELIGIOSOS 
Conforme o sociólogo francês Émile Durkheim (“A forma elementar da vida religiosa”, 
Tomo I): 
“Os fenômenos religiosos colocam-se naturalmente em duas categorias 
fundamentais: as crenças e os ritos. As primeiras são estados de opinião e 
consistem de representações; as segundas constituem tipos determinados de ação. 
Entre estas duas ordens de fato está toda a diferença que separa o pensamento do 
movimento. 
Os ritos podem ser definidos e distinguidos das outras práticas humanas, 
especialmente daquelas morais, apenas pela natureza particular do seu objeto. 
Um lei moral se prescreve de fato, exatamente como um rito, são modos de agir 
que se voltam, porém a objetos de um gênero diverso (...). 
Todas as crenças religiosas conhecidas, sejam elas simples ou complexas, têm um 
mesmo caráter comum: pressupõem uma classificação das coisas reais ou ideais 
que se apresentam aos homens em duas classes ou em dois gêneros opostos, 
definidas geralmente com dois termos distintos – traduzidos bastante bem pelas 
designações de PROFANO E SAGRADO. A divisão do mundo em dois domínios 
que compreendem um: tudo o que é sagrado, e o outro: tudo o que é profano, é o 
caráter distintivo do pensamento religioso: as crenças, os mitos, as gnomas, as 
lendas são representações, ou sistemas de representações que exprimem a 
natureza das coisas sacras, as virtudes e os poderes a elas atribuídos, sua 
história, suas relações recíprocas e com as coisas profanas. Mas por coisas 
sagradas não é preciso entender apenas aqueles seres pessoais que vêm 
denominados como deuses ou espíritos: uma rocha, uma árvore, uma fonte, uma 
pedra, um pedaço de lenha, uma casa, em suma, qualquer coisa pode ser 
sagrada.” 
 
O SAGRADO E O PROFANO 
Sagrado e Profano são duas categorias das teorias sociológicas da religião - 
que é vista como um fenômeno social (diferente das teorias psicológicas, que 
tentam explicar a religião tomando por base os sentimentos, uma vez que ela (a 
religião) impregna o pensamento e as emoções das pessoas) 
Teorias Sociológicas Teorias Psicológicas 
Fenômeno social Sentimentos; emoções 
 
 
10 
 
R. Smith e depois Durkheim refutaram o argumento de que a religião teria se 
originado das crenças em seres sobrenaturais. Para eles, a religião iniciou-se a 
partir dos ritos e cerimônias (cânticos e danças) que, intensificando as emoções, 
levaram os participantes ao êxtase. Essas emoções, difundidas entre os presentes, 
fizeram com que eles acreditassem estar “tomados” por poderes sobrenaturais. 
Sobre este enfoque, a religião consiste na solidariedade de expressão e na crença 
coletiva, maneira de fortalecer os laços sociais. Crenças e rituais simbolizam a 
sociedade e distinguem o sagrado do profano. 
Para Durkheim: 
Sagrado: refere-se ao incomum, ao extraordinário, ao sobrenatural; gera atitudes 
de medo, de circunspecção, de sensação do desconhecido; (ao Sagrado cabe o 
silêncio, o respeito e a reverência); 
(Segundo Mircea Eliade, O homem toma consciência e conhecimento do 
fenômeno do sagrado a partir do fato de que tem lugar uma manifestação: “a 
manifestação de algo „completamente diferente‟ de uma realidade que não 
pertence ao nosso mundo, em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo 
„natural, profano”) 
Profano: significa o cotidiano, o natural, o comum: implica atitude de aceitação, 
familiaridade, do conhecido; (ao Profano cabe a balbúrdia, a descontração e a 
irreverência). 
Atualmente, os antropólogos têm procurado uma aproximação entre as duas 
abordagens – psicológica e sociológica -, procurando uma teoria central. 
 
FUNÇÕES DA RELIGIÃO 
Para Keesing, a religião tem duas funções básicas: 
1) Explanatória: à medida que “responde sistematicamente aos porquês 
totais, relacionados diversamente com: 
 A existência: natureza do mundo e do homem; 
 O poder: forças dinâmicas do universo; 
 A providência: funções de manutenção do bem-estar; 
 A mortalidade: vida e morte dos indivíduos”. 
 
 
11 
 
2) Interpenetrativa: dado que “ela tende a interpretar todo comportamento 
importante e valorizado”. Liga-se aos diferentes setores da vida humana 
como a economia, política, família, lazer, estética, segurança, etc. 
As funções sociais da religião, para Raymond Firth, consistem: 
1) “em elemento forte e positivo na composição e organização da vida social; 
2) No estabelecimento da autoridade para a crença e para a ação; 
3) Na provisão de significação para a ação social, fornecendo padrões e ordem 
(...) e permitindo a interpretação em termo de fins últimos; 
4) A expressão de conceitos de criação de estética e de imaginação; 
5) Em força de ajustamento pessoal. 
 
A religião, de modo geral, reforça e mantém os valores culturais, estando muitos 
deles ligados à ética e à moral, pelo menos implicitamente. Sustenta e incute 
normas particulares de comportamento culturalmente aprovadas, 
exercendo, até certo ponto, poder coercitivo. Ajuda na conservação de 
conhecimentos ao transmitir, através de rituais e cerimônias dramatizadas, os 
procedimentos ou normas de conduta importantes em determinada cultura. 
 
A MAGIA 
A Magia, da mesma forma que a religião, deriva da crença na existência de poderes 
sobrenaturais, só que não faz apelos aos espíritos. 
Kessing define magia como “uma variedade de métodos pelos quais o homem 
pretende influir automaticamente no curso dos acontecimentos por meio de 
mecanismos relacionados com o sobrenatural”. 
Para Hoebel e Frost consiste no “controle de forças sobrenaturais por meio de 
fórmulas compulsivas”. 
Maus considera-a como “um conjunto de ritos e crenças”. 
A Magia, portanto, refere-se a um tipo de técnica para controlar a natureza, a fim 
de obter coisas ou precaver-se contra forças misteriosas. É praticada por alguns 
indivíduos, com objetivo específico. 
 
 
12 
Na Magia, o feiticeiro ou mago manipula as forças sobrenaturais através de certos 
rituais. Vale-se de ações, objetos mágicos e fórmulas verbais apropriadas 
(encantamentos), os quais têm poderes intrínsecos ou estes lhe são atribuídos. 
“Se entendermos magia como aplicação ritualística de invocações e encantações 
de espíritos que possam intervir em certos aspectos da vida social, ela é algo que 
tem bases comuns com a religião. A Antropologia tem tradicionalmente tratado 
desses dois assuntos como uma rubrica dupla. Como a religião, a magia requer 
um sistema de crenças, que inclui espíritos e sentimentos, um corpo de crentes e 
mediadores entre esses espíritos e os crentes. A magia é propositadamente um 
sistema de intervenção de ordem das coisas. Os mediadores são capazes de 
manipular esses espíritos para o bem (digamos, curas de doenças provocadas por 
intervenções de mediadores maus, como feiticeiros) ou para o mal. Além de 
feiticeiros, xamãs, paj s, há os adivinhos e seus sistemas de adivinhação, sejam 
tripas de galinha, seja cera de velas em copos de água nas festas de São João, seja 
leitura de mão, e dezenas de outros tipos de adivinhação.” (Mércio Pereira 
Gomes)” 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. A essência das religiões.Tradução: 
Rogério Fernandes. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2008.(Coleção Tópicos) 
___________.Tratado de História das Religiões. Tradução: Fernando Thomaz, 
Natália Nunes. 3ª edição. São Paulo; Martins Fontes, 2008. 
MAGALHÃES, Antônio. PORTELLA, Rodrigo. Expressões do Sagrado. Reflexões 
sobre o fenômeno religioso. Aparecida,SP: Editora Santuário.,2008 (coleção 
Cultura & Religião) 
RIES, Julien. O sentido do sagrado nas culturas e nas religiões. Tradução: Silvana 
Cobucci Leite. Aparecida,SP: Idéias & Letras,2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
ANTROPOLOGIA CULTURAL E ALGUNS 
ASPECTOS DA VISÃO DE SER HUMANO A 
PARTIR DAS TRÊS GRANDES RELIGIÕES 
MONOTEÍSTAS: JUDAÍSMO, 
CRISTIANISMO E ISLAMISMO 
Prof. Claudio Eduardo França 
 
 
 
Judaísmo 
 
 
A palavra judeu deriva de Judéia, nome de uma parte do antigo reino de Israel. 
Judaísmo reflete esta ligação. A Religião é chamada ainda de „Mosaica‟, já que se 
considera Moisés um de seus fundadores. 
 
O Estado de Israel define o judeu como “alguém cuja mãe é judia e que não pratica 
nenhuma outra fé”. Aos poucos essa definição foi ampliada para incluir o cônjuge. 
O Judaísmo não é apenas uma comunidade religiosa, mas também étnica. 
Historicamente, o termo judeu tem conotações raciais, porém estas são inexatas. 
Existem judeus de todas as cores de pele. 
 
Uma das características do judaísmo é ser uma religião intimamente ligada à 
história. As narrativas da Bíblia se baseiam numa crença bem definida de que Deus 
fez uma aliança especial, um pacto com seu povo escolhido, o povo hebreu. 
As narrativas bíblicas começam com Adão e Eva e uma série de relatos dramáticos 
que ilustram as conseqüências da inclinação pecaminosa do ser humano e de seu 
desejo de se rebelar contra Deus. Cada evento histórico é visto pelos autores da 
Bíblia como uma expressa da vontade de Deus. 
 
De Abraão a Moisés – a fase histórica seguinte teve início quando Abraão saiu 
da cidade de Ur, localizada na Caldéia, atual sul do Iraque, por volta de 1800 a.C. O 
Livro do Gênesis relata este evento. O povo que se forma a partir de Abraão recebe 
o nome de Israel (“Aquele que venceu Deus”) após a dramática batalha em Jacó, 
neto de Abraão, luta com um anjo de Deus. Mais tarde, os doze filhos de Jacó 
geraram as Doze tribos de Israel. 
A história de José, um dos filhos de Jacó, narra como os israelitas foram para no 
Egito, onde foram escravizados pelos faraós. A Bíblia conta de que maneira Moisés 
os tirou dali e, depois de quarenta anos errando no deserto, levou-os a Canaã, a 
Terra Prometida. 
 
Durante a travessia do deserto Deus - Javé – deu a Moisés, no Monte Sinai, as duas 
tábuas da Lei como s Dez Mandamentos a que os israelitas deviam obedecer. Dessa 
 
 
14 
forma, fez-se um pacto segundo o qual os israelitas devem reconhecer a existência 
de um só Deus e em troca se tornariam o povo escolhido de Deus. Receberia a 
ajuda e seu apoio, desde que cumprissem o que lhes cabia no acordo e obedecessem 
às leis de Deus. 
 
Por volta do ano 1200 a.C., os israelitas conquistaram parte de Canaã e por muito 
tempo viveram lado a lado com os habitantes não israelitas. 
 
O judaísmo e a sinagoga – foi depois do retorno da Babilônia que começou a se 
desenvolver a religião que costumamos chamar judaísmo. – o núcleo do judaísmo 
era a vida na sinagoga, local de culto onde os fiéis se reuniam para orar e ler as 
escrituras. Esse tipo de serviço religioso surgira por necessidade durante o exílio 
babilônico, uma vez que ali os judeus não tinham um templo onde orar. Ao voltar 
do exílio, eles continuaram praticando esse serviço nas sinagogas, que foram 
construídas em diversas cidades. Nestas, uma função relevante era exercida pelos 
leigos versados nas escrituras, os quais zelavam por elas, e buscavam interpretá-las 
e explicá-las. Não tardou que a maioria desses homens passassem a vir das fileiras 
dos fariseus. 
 
Os fariseus davam muita importância à Lei escrita nos cinco primeiros livros de 
Moisés – o Pentateuco -, e também às normas relativas à limpeza e ao asseio; 
procuravam interpretar a lei segundo as novas condições que prevaleciam. Nessa 
época, o papel do Templo já se tornara secundário. 
 
O grande Templo de Jerusalém, destruído durante a conquista babilônica de 587 
a.C., foi reerguido em 516 a.C.. O Sumo Sacerdote, os demais sacerdotes e os levitas 
a eles subordinados eram responsáveis pelo culto, que compreendia o sacrifício 
diário de um cordeiro em expiação pelos pecados do povo. Após o exílio babilônico, 
o sumo sacerdote se tornou líder do Sinédrio, o conselho dos anciãos, que mais 
tarde incluiu ainda representantes dos homens mais instruídos. Nessa época, os 
judeus caíram seguidas vezes sob o domínio político estrangeiro. NO ano de 70 
d.C., uma revolta contra os romanos levou ao saque de Jerusalém. O Templo, que 
recentemente fora ampliado e transformado num esplêndido edifício pelo Rei 
Herodes, foi outra vez arrasado; isso selou o fim do papel desempenhado pelos 
antigos sacerdotes. Dessa época em diante, foi o novo formato de judaísmo, 
centrado nas sinagogas, que passou a predominar. Muitos judeus estavam agora 
dispersos pelas terras do Mediterrâneo ou ainda mais longe. Eram chamados de 
judeus da Diáspora, palavra grega que quer dizer „dispersão‟. 
 
Um povo culto, porém perseguido – em várias ocasiões, os judeus assumiram 
um papel de liderança nos países onde se estabeleceram. A cultura judaica 
conheceu o apogeu na Espanha dos séculos XII e XIII. Aí um de seus maiores 
filósofos, o rabino Moisés Bem Maimón (Maimônides), que escreveu várias obras e 
resumiu os ensinamentos judaicos nos Treze princípios da fé judaica. Nesse país 
floresceu também o misticismo judaico, a cabala (ou “tradição”). 
 
 
 
15 
Contudo, desde a baixa Idade Média até hoje os judeus vêm sofrendo perseguições. 
Em diversos períodos, a sociedade cristã os acusou pelo assassinato de Jesus e 
considerou o destino desse povo uma punição. Os judeus foram deportados da 
Inglaterra e da França nos séculos XIII e XIV; Na Espanha, começaram a ser 
perseguidos no século XV e acabaram expulsos em 1492. Na Noruega, uma lei 
aprovada em 1687 negava a qualquer judeu o acesso ao país sem permissão 
especial, e a Constituição norueguesa de 1814 conservou esse embargo. A “cláusula 
judaica” só foi anulada em 1851. 
 
Sem dúvida, a pior de todas as perseguições sofridas pelos judeus ocorreu na 
Alemanha entre 1933 e 1945. Acredita-se que 6 milhões de judeus foram 
exterminados durante o regime nazista. Fazia muito tempo que os judeus vinham 
tendo uma participação proeminente na vida cultural da Europa central, como 
artistas, cineastas, escritores e cientistas. 
 
Mesmo nos períodos em que não havia perseguição direta, com freqüência os 
judeus eram tratados como párias sociais. Eles eram forçados a adotar nomes 
facilmente reconhecíveis e a morar em áreas especiais da cidade, os chamados 
guetos. Numa época em que a agricultura consistia no meio mais comum de 
subsistência, era-lhe proibido possuir terras, o que os impeliu a se destacar no 
comércio. Diferentemente dos católicos e dos muçulmanos, sua religião lhes 
permitia ganhar juros emprestando dinheiro, e muitos deles se tornaram 
importantes banqueiros. 
 
As Sagradas Escrituras – o livro sagrado dos judeus é a Bíblia, uma coleção de 
textos de natureza histórica, literária e religiosa. A Bíblia judaica equivale ao Antigo 
Testamento, porém é organizada de maneira um pouco diferente. O cânone judaico 
foi fixado por concílio em Jabne por volta de 100 d.C.. Compreende 24 livros, 
divididos em três grupos: 
 
 A Lei (Torá) – o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés; 
 Os Profetas (Neviim) – os livros históricos e proféticos; 
 Os Escritos (Ketuvim) – os demais livros (poéticos, salmos, etc.). 
 
 
A noção de Deus – o credo judaico é: “Ouve, Ó Israel: Iahweh nosso Deus é o 
único Iahweh!” (Dt 6,4) 
 
Esse credo, que é repetidopelos judeus devotos todas as manhãs e todas as noites 
de sua vida, mostra que o judaísmo é uma religião monoteísta. Deus, o Deus único, 
é o criador do mundo e o Senhor da história. Toda vida depende dele, e tudo o que 
é bom flui dele. É um Deus pessoal, que se preocupa com as coisas que criou. 
 
Quem é Deus – ou o que é Deus – é algo que não pode ser expresso em palavras. O 
nome de Deus é representado pelas letras IHVH, um acrônimo que em Hebraico 
significa “EU SOU QUEM SOU”. Esse acrônimo costuma ser lido como „Jeová‟ ou 
 
 
16 
„Javé‟, porém o nome real é tão sagrado que sempre se usa algum sinônimo, como 
“o Senhor” ou “o Nome”. 
 
Jeová é o criador e o sustentador do mundo. A idéia de que deus possa não existir é 
alheia a um judeu, Elie Wiesel, que recebeu o prêmio Nobel da Paz, sintetizou: 
“você pode ser a favor de Deus ou contra Deus, mas não pode ser sem Deus”. 
 
O fato de que Deus é um e apenas um se reflete também na existência humana. 
Toda a vida de um homem deve ser consagrada. Não há linha divisória que separe o 
sagrado do profano. Honra-se ao Senhor também na vida secular. A tarefa mais 
importante do homem é cumprir todos os seus deveres para com Deus e para com 
seus semelhantes. 
 
Ética judaica – os judeus não fazem distinção nítida entre a parte ética e a parte 
religiosa de sua doutrina. Tudo pertence à Lei de Deus. Existem 248 ordens 
afirmativas e 365 proibições, totalizando 613 mandamentos. Além desses 
mandamentos, a vida do judeu é regulada por muitos costumes e práticas que 
surgiram ao longo da história. Diz-se que um costume judaico é tão obrigatório 
quanto uma lei. 
 
O judaísmo dá destaque a uma série de qualidades eticamente boas: generosidade, 
hospitalidade, boa vontade para ajudar, honestidade e respeito pelos pais. Um 
princípio fundamental é não fazer mal aos outros, ou, de maneira afirmativa: 
“Amarás teu próximo como a ti mesmo!” (Lv 19,18). 
 
Muitos judeus dão um dízimo (10%) de sua renda para causa dignas, mas as 
doações podem ser grandes ou pequenas. A Bíblia exige que sejam dados de 
presente aos pobres os frutos da terra. Desde os tempos antigos era hábito não 
colher o que desse nos cantos dos campos para que os pobres pudessem ali entrar e 
colher para si. Do mesmo modo, parte das azeitonas e das uvas era deixada nas 
árvores e nos vinhedos para ser apanhada pelos pobres. 
 
A palavra usada na Bíblia para se referir a ajuda aos pobres é justiça. Dar esmolas 
não é fazer caridade, e sim cumprir o dever de combater a pobreza, baseado nas 
palavras de Deus: “Jamais haverá nenhum pobre entre vós”. A exigência de justiça 
tem lugar proeminente na ética e inclui, além dos pobres, também os fracos 
(viúvas e órfãos) e os estrangeiros. “O estrangeiro que habita convosco será para 
vós como um compatriota, e tu o amarás como a ti mesmo, pois fostes estrangeiros 
na terra do Egito” (Lv 19,34). 
 
Como há (muitos) outros mandamentos, é natural que em certas circunstâncias 
eles entrem em conflito. Quando isso acontece, a vida humana está acima de tudo. 
Por exemplo, uma vida humana deve ser salva mesmo que isso quebre as leis do 
Shabat (Sábado). 
 
 
 
 
 
17 
Fases da vida – 
 Circuncisão; 
 Bar Mitsvá e Bat Mitsvá; 
 Casamento; 
 Enterro; 
 
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Cristianismo 
 
 
O Cristianismo é a filosofia de vida que mais fortemente caracteriza a sociedade 
ocidental. Há 2 mil anos permeia a história, a literatura, a filosofia, a arte e a 
arquitetura da Europa. Assim, conhecer o cristianismo é pré-requisito para 
compreender a sociedade e a cultura em que vivemos. 
 
A Bíblia é o livro mais lido do mundo, hoje e em toda a história humana. Nenhum 
outro livro teve maior influência literária. 
 
A visão cristã da humanidade – os seguintes pontos têm importância 
considerável na visão cristã do ser humano: 
 
 A posição de destaque do ser humano: por um lado, as histórias da 
criação realçam os vínculos do homem com o restante da criação: “Então 
Iahweh Deus modelou o homem com argila do solo, insuflou em suas 
narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2,7). 
O lado natural do homem também é expresso no jogo de palavras, no 
original hebraico, entre Adam (homem) e Adamá (terra). O homem é 
formado do mesmo material que as plantas e os animais. Somos feitos de 
pó e ao pó retornaremos. Por outro lado, o homem foi feito senhor da 
criação. Pode-se dizer que o ser humano é um ser orgânico e, ao mesmo 
tempo, é também algo mais. 
 O Homem foi criado à imagem de Deus: a expressão „criado à 
imagem de Deus‟ destaca a idéia de que o homem tem um lugar especial 
na criação. É claro que o homem tem um lugar na ordem natural geral, 
sendo a última coisa que Deus criou, ele tem dotes especiais e uma tarefa 
que o diferencia de todas as outras coisas criadas. Diz-se comumente que 
Deus criou o homem por amor – a fim de compartilhar o mundo com ele. 
Pois o homem não é apenas uma coisa viva, como as outras coisas vivas. 
O homem é uma pessoa e um indivíduo. 
A idéia de que o homem foi criado à imagem de Deus também implica 
que ele foi feito para viver em harmonia com seu criador. Ele foi dotado 
de capacidade de experimentar o sagrado e de participar de atos de 
adoração divina. 
 O ser humano é um ser social: o ser humano não foi criado somente 
para viver com Deus, nós também fomos feitos para existir em comunhão 
 
 
18 
uns com os outros. Tanto o Antigo como o Novo Testamento ressaltam 
que devemos nos amar uns aos outros assim como Deus nos amou; As 
duas narrativas da criação do Livro do Gênesis também destacam, cada 
uma a sua maneira, a idéia de que Deus nos criou como homem e 
mulher. Podemos dizer que o casamento e a família são parte da criação. 
Por isso, muitas igrejas cristãs vêem o casamento como uma instituição 
sagrada. 
 O ser humano tem livre-arbítrio: outro dom do homem é distinguir 
entre certo e o errado. Uma das idéias fundamentais da Bíblia é que o 
homem é responsável por suas ações. O homem é capaz de ir contra a 
vontade de Deus. Podemos abusar da posição especial de Deus nos deu. 
A Bíblia chama isso de “pecado”. 
 
 
 
Jesus Cristo – O Messias, Filho do Homem, Filho de Deus 
 
“...E o verbo se fez carne” (Jo 1,14) 
 
O Messias – A palavra Messias significa, na verdade,„o Ungido”, uma referência à 
maneira como o rei de Israel era ungido com óleo ao subir trono. A tradução grega 
da palavra Messias é Christos. Assim, originalmente o nome de Jesus Cristo é 
um reconhecimento de que Jesus é o prometido messias. Embora, segundo os 
evangelhos, em várias ocasiões, Jesus tenha admitido ser o messias, há provas de 
que ele não usava esse título para falar de si mesmo. Ainda que possa ter aparecido 
como Messias para seus discípulos, é muito pouco provável que tivesse se referido a 
si mesmo dessa maneira em público, decerto porque não queria ser visto como o 
libertador político de seu país. 
 
O Filho do Homem – esse título também é tomado do Antigo testamento, onde 
se referia ao salvador que os judeus esperavam que fosse enviado por Deus. Em 
oposição à coloração nacionalista e política do Messias, o Filho do Homem era uma 
figura celestial que haveria de chegar. O fato de que Jesus chamava a si mesmo de 
Filho do Homem indica que ele se considerava um ser divino – desta forma, 
associava à si próprio a figura do „servo sofredor‟ relatada nas profecias de Isaías. 
 
O Filho de Deus – a maneira exata como Jesus considerava o relacionamento 
filial (com Deus-Pai) é um tópico muito discutido. Mas, decerto, tudo indica que 
Jesus acreditava ter uma associação especial com Deus. O uso da expressão 
hebraica ABBÁ, ou „pai‟, não tem paralelo nos círculos judaicos. (...) a idéia é que 
Jesus foi enviado ao mundo para revelar Deus aos homens: “Quem me vê, vê o Pai” 
(Jo 14,9)19 
A pregação de Jesus e a ética cristã 
 
 
“Agora mesmo” e “ainda não” – “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está 
próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15) 
 
No Evangelho de Marcos, Jesus aparece pregando esta mensagem. Assim, a 
expressão “Reino de Deus” deve ser considerada uma esperança de um futuro reino 
da salvação. O Reino de Deus começaria no final dos tempos, quando o Messias 
chegasse. Alguns o interpretavam como um reino político terreno, tendo como 
centro Jerusalém e o povo de Israel. Outros o viam mais como um reino do além, 
com vida eterna para os redimidos, o que viria depois de uma catástrofe global em 
que todos poderes iníquos seriam vencidos. Contudo, não havia uma linha divisória 
nítida entre os dois modos de pensar. Com freqüência, ambos se encontram no 
mesmo grupo. 
 
A afirmação “O Reino de Deus está próximo” não era original na época de Jesus. 
Antes dele, João Batista e vários outros como ele já haviam pregado a mesma 
mensagem: este mundo está caminhado para a destruição – e Deus assumirá o 
poder como rei. A idéia radicalmente nova nas prédicas de Jesus é que a vinda do 
Reino de Deus estava ligada à pessoa dele. Jesus não apenas diz que o Reino de 
Deus virá no futuro imediato ( embora diga isso também), mas em várias ocasiões 
ele menciona que o Reino de Deus já chegou. 
 
Essa dicotomia na proclamação que faz Jesus do Reino de Deus está ligada à 
maneira como Jesus via a si mesmo. Era ele quem haveria de revelar e 
implementar o Reino de Deus. Por meio de suas prédicas e de suas curas, o Reino 
de Deus já passara a existir. A nova era – a era messiânica – já começara. 
 
Ao mesmo tempo, muitas das palavras de Jesus deixam claro que o Reino de Deus 
é algo que pertence ao futuro. O sucesso final da vitória de Deus sobre o mal virá 
quando o Filho do Homem chegar „vindo sobre as nuvens do céu com grande poder 
e glória‟ (Mt 24,30). 
 
A polaridade entre agora mesmo e ainda não sempre caracterizou o cristianismo e 
os ensinamentos dos cristãos. E os caracteriza até os dias de hoje. 
 
Jesus como mestre - Jesus era chamado como rabi – „mestre‟ ou „professor‟ -, e 
muitas pessoas do mundo inteiro, cristãs e não cristãs, se impressionaram com ele 
como pregador. Seus ensinamentos podem ser divididos em quatro categorias 
diferentes: 
 
 Alguns ensinamentos estão sob forma de pequenas máximas. Muitas 
destas são paradoxais (isto é, afirmações em aparente contradição), 
como: “pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la mas o que 
perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,25) ; 
 
 
20 
 Uma parte importante dos ensinamentos de Jesus eram suas muitas 
conversas com os discípulos, com homens instruídos ou com outras 
pessoas que ele encontrava; 
 Um terceiro método de instrução eram os freqüentes discursos ou 
sermões mais longos e mais significativos foi o que fez a seus discípulos 
pouco antes de ser preso em Jerusalém (ver Mt 24 ----- 25); 
 O que mais caracterizava os ensinamentos de Jesus era o uso das 
parábolas. Estas geralmente estão inseridas em conversas ou pregações 
mais longas. Uma parábola é uma comparação ou imagem que serve para 
exemplificar uma verdade mais profunda. 
 
O Sermão da Montanha – as diversas parábolas relativas ao Reino de Deus 
deixam claro que Jesus não o considerava sob uma luz política, diferentemente de 
muitos judeus da época. Ele estava expressando algo totalmente distinto do que era 
normal em sua época. É por isso que, quando foi interrogado por Pilatos, ele 
respondeu que seu reino “não era desse mundo”. Isso não quer dizer que ele dava 
as costas ao mundo, e sim que ele vem de Deus e, portanto, não é deste mundo. 
 
A expressão que traduzimos por “Reino de Deus” significa, na verdade, “domínio de 
Deus”. Em outras palavras, o Reino de Deus é onde Deus é o Senhor – e ali o mal 
deve ceder. O sentido disso na prática foi revelado por Jesus em seu Sermão da 
Montanha, que descreve a vida no Reino de Deus. 
 
São características do Sermão da Montanha suas rigorosas exigências éticas e 
insistência básica na caridade. Em oposição a todos os mandamentos e todas as 
interdições, tão típicos do judaísmo daquela época. Jesus insistia numa amor 
incondicional a Deus e ao próximo. Isso não significa que ele „rescindiu‟ os velhos 
mandamentos. Bem ao contrário: ele os enfatizou e ampliou sua validade. Por 
exemplo, não é suficiente “amar o próximo”. Você deve amar até mesmo seu 
inimigo. 
 
Como a linguagem é tão precisa e as exigências tão absolutas, o Sermão da 
Montanha já foi interpretado de várias maneiras diferentes. Um de seus aspectos 
mais debatidos é a exortação de Jesus para pagar o mal com o bem. 
 
O mandamento principal / “tal como fiz para vós” – um pequeno versículo 
do Sermão da Montanha se tornou muito conhecido e é chamado de „Regra de 
Ouro‟ – “tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a 
eles, pois esta é a Lei e os profetas” (Mt 7,21) 
 
 Em todas as pregações de Jesus, a caridade é proclamada como o mandamento 
chave. Repetidas vezes se enfatiza que a caridade não deve ser expressa apenas 
àqueles de quem se gosta, às pessoas da própria comunidade, ou àqueles que se 
encontram em dificuldades, sem ter culpa por isso. Todas as pessoas devem receber 
amor – mesmo as que, segundo a opinião comum, merecem a dureza de seu 
destino. Como já foi mencionado, Jesus chega a dizer que devemos amar nossos 
inimigos. 
 
 
21 
 
É importante ressaltar que amor, no sentido em que Jesus empregava a palavra, 
não era principalmente um sentimento ou uma emoção. Isso está sublinhado e m 
várias passagens dos ensinamentos de Jesus, talvez da melhor forma na parábola 
do Bom Samaritano. 
 
A exortação à caridade deve levar à ação. Desse mandamento brota uma série de 
outros valores: fidelidade, compaixão, justiça, veracidade e honestidade,. Mas 
todos esses são meros ideais abstratos se não aplicarmos à situações reais que nos 
encontramos. 
 
Jesus não apenas proclamou o Evangelho do Reino de Deus; ele o pôs em prática. 
Demonstrou o que queria dizer com “caridade” em situações reais. Tais ações 
incluíam curar os doentes. Os milagres da cura não foram simplesmente uma 
expressão da compaixão de Jesus, mas uma prova de que o poder do Reino de Deus 
está ativo. 
 
Foi em parte por causa de seu amor incondicional ao próximo que Jesus entrou em 
conflito com os escribas e os fariseus. Atacaram-no por comer juntamente com 
„coletores de impostos e pecadores‟, por expulsar „demônios‟ e em especial por 
distribuir o „perdão dos pecados‟. „Que direito tinha ele de fazer isso?‟, 
perguntavam. 
 
Jesus defendeu suas ações numa série de parábolas que criticam diretamente o tipo 
de religiosidade representada pelos escribas e fariseus. Estes acreditavam que a 
questão era entrar num relacionamento correto com Deus mediante os esforços da 
própria pessoa. Aqueles que mantinham a Lei eram o verdadeiro povo de Deus, ao 
passo que os que a infringiam, mereciam o castigo de Deus. Assim, misturar-se aos 
coletores de impostos e aos pecadores era ignorar as exigências de pureza e de uma 
vida moral. E o cumprimento dos muitos mandamentos e das muitas regras acerca 
da pureza constituía um pré-requisito para a vinda do Reino de Deus. 
 
Todo tipo de religiosidade autocentrada foi descartada por Jesus. O homem não 
pode tornar si mesmo merecedor da redenção divina. O amor de Deus oferece 
perdão e comunhão, sem questionar se o homem de fato os merece. 
 
Uma história do Novo Testamento que comprova como o próprio Jesus praticava 
esse amor sem reservas é a do Lava-pés. Ao se encontrar com seus discípulos 
durante a Última Ceia, Jesus se ajoelhou e lavou-lhes os pés. Foi um gesto inaudito, 
pois os servos é que costumavam fazer tarefas como essas, e Jesus era o amo e 
senhor de seus discípulos. 
 
Essa históriaconfirma que o reino de Deus não é um mero presente de Deus ao 
homem, mas uma tarefa que o homem é chamado a realizar. Jesus não viu como 
seu dever simplesmente dar aos homens uma imagem melhor de Deus; ele quis 
atraí-los para uma comunhão com Deus. O amor de Deus exige que o homem imite 
esse amor. 
 
 
22 
 
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Islamismo 
 
 
O Islamismo foi a última das grandes tradições a surgir na história. O termo 
ISLAM, muitas vezes traduzido como “submissão”, reflete a decisão do 
muçulmano (“aquele que se submete ou se entrega”) de manter-se fiel, na 
mente e no corpo, à vontade de Deus (em árabe: Allah, o “Deus único”). 
Submeter-se à vontade divina é, portanto, trazer uma ordem harmoniosa ao 
universo. Neste sentido, islam não se refere somente ao ato de submissão, mas, o 
que é mais importante, à sua conseqüência – ou seja, a Paz (Salam). 
 
A tradição islâmica tem sua origem em fatos que aconteceram no início do século 
VII d.C. na cidade árabe de Meca. De acordo com a tradição, um comerciante de 42 
anos, Muhammad ibn Abdalla – Maomé -, comumente chamado „O Profeta 
ou Mensageiro de Deus‟ – recebeu de Deus uma série de revelações, que 
começaram em 610 d.C. e terminaram pouco antes de sua morte em 632 d.C. Estas 
revelações, conhecidas em seu conjunto como Quran (Corão ou Alcorão) , são 
consideradas pelos muçulmanos palavra direta e inalterável de Deus. O Alcorão é, 
conforme suas próprias palavras, o símbolo e encarnação da íntima relação entre 
Deus e a humanidade: “Este livro é, sem dúvida, um guia para os que temem (a 
Deus)” (Sura 2.2). 
 
Complementando o Alcorão, temos volumoso registro da vida de Muhammad, 
conhecido com Hadith, que transmite a Suna (Sunna) ou “Tradição” de como 
o profeta pensava, falava e conduzia seus negócios. O Alcorão e a Hadith funcionam 
em síntese e, juntos, constituem a fonte central de orientação religiosa e jurídica 
islâmica. Os encarregados de interpretar o Alcorão e a Hadith são conhecidos como 
Ulemás (ulama, “letrados”) ou sábios religiosos. Dos seus esforços, surgiu um 
complexo código de normas chamado Sharía, que constitui a base da lei islâmica. 
 
A maioria dos muçulmanos contemporâneos são membros da comunidade sunita. 
Este ramo do islamismo surgiu no século X d.C. dos círculos eruditos de Damasco, 
Cairo, Bagdá e das grandes cidades iranianas. O islamismo sunita formou-se, em 
parte, através da tendência inevitável das tradições religiosas organizadas de 
definir o que se chamou de „ortopraxis‟ e, em parte, como reação à articulação de 
outras formas de islamismo. A mais importante destas é o xíismo, às vezes, 
chamada de comunidade „minoritária‟ do islamismo. Dos ramos do islamismo xiita, 
o maior é o xíismo “dos Doze” (ou „duodecimano‟), cujos adeptos são maioria no Irã 
e no sul do Iraque e uma minoria substancial no Líbano, Kwait, Paquistão e em 
outros lugares. Os xiitas ismaelitas, que formam diversos sub-ramos, situam-se 
sobretudo na Índia, África Ocidental e, cada vez mais, no Canadá urbano e no 
Reino Unido. O ramo menor dos zaiditas está representado principalmente no 
Iêmen. 
 
 
 
23 
O islamismo, como outras crenças, tem sido considerado uma „tradição 
cumulativa‟. Desenvolveu-se inicialmente no Oriente Próximo, mas em seguida 
espalhou-se para regiões como Irã, Índia, Ásia Central e Norte da África. No 
período mais primitivo interagiu como o helenismo, o judaísmo e o cristianismo, 
com o zoroastrismo no Irã e com os modelos legais e políticos dos impérios 
bizantino e sassânida e com o mundo prevalentemente turcomano da estepes da 
Ásia Central. Hoje a comunidade islâmica reflete um amplo leque de experiências 
nacionais, étnicas, socioeconômicas e lingüísticas. 
 
Uma proporção cada vez maior da população mundial segue a fé islâmica. Cita-se 
muitas vezes a cifra de um bilhão, embora seja difícil obter números exatos em 
muitas regiões de predominância muçulmana. Um mal-entendido comum é supor 
que a maioria dos muçulmanos são árabes, idéia derivada do fato de a maioria dos 
árabes serem muçulmanos, de suas origens estarem no Oriente próximo e de haver 
uma estreita associação entre o árabe e o Alcorão. Na verdade, apenas cerca de 18-
21% dos muçulmanos residem no mundo árabe, enquanto, dentre os muçulmanos 
existentes no mundo todo, aproximadamente 80% são não-árabes. O país com a 
mais numerosa população muçulmana é a Indonésia, seguida pelo Paquistão, 
Bangladesh e Índia. A maioria dos iranianos e turcos é de muçulmanos., como 
também vastos seguimentos da população na China, na Rússia e na África 
Subsaariana. A Europa e a América do Norte abrigam comunidades muçulmanas 
cada vez mais numerosas. Grande número de muçulmanos procedentes do Sul da 
Ásia reside no Reino Unido, muitos muçulmanos norte-africanos vivem na França 
e na Bélgica e muitos turcos e iranianos estabeleceram-se na Alemanha nas últimas 
décadas. Na Europa e na América do Norte o islamismo é representado também 
por um número cada vez maior de convertidos de comunidades não-imigrantes. 
 
Princípios éticos – a tradição islâmica, baseada nos ensinamentos do Alcorão e 
da Hadith e como foi elaborada pelos sábios religiosos muçulmanos (ulemás), 
orienta os muçulmanos a acatar a vontade divina, não apenas enquanto indivíduos, 
mas também enquanto comunidade. De acordo com o Alcorão, a humanidade foi 
escolhida por Deus para ser sua representante (khalifa) na Terra e, por isso, todos 
os muçulmanos devem assumir responsabilidade pela criação de uma ordem social 
justa e moral. 
 
As prescrições expostas no Alcorão e na Hadith constituem fundamento daquilo 
que é conhecido coletivamente como Sharía, o “caminho islâmico”. Desse conjunto 
de ensinamentos deriva a lei do sistema social islâmico ideal. A Sharía é 
oniabrangente e, para prestar culto a Deus, o muçulmano precisa reconhecer que 
todas as esferas da atividade humana têm significado religioso. 
 
O estudo formal da Sharía é conhecido como fiqh ou „jurisprudência‟. Os que 
estudam a Sharía e assim elaboram o direito islâmico são conhecidos como fuqaha 
(singular faqih). 
 
Os sábios sunitas distinguem quatro fontes de direito islâmico. A primeira é o 
Alcorão, expressão direta da vontade divina. A segunda fonte autoritativa é a 
 
 
24 
Hadith, os ensinamentos do próprio profeta. A terceira fonte é a IJMA ou 
„consenso‟, que indica uma interpretação consensual de determinada questão 
jurídica entre os sábios. A IJMA foi um instrumento eficaz para estabelecer a 
conformidade de opiniões. O QIYAS, ou „raciocínio baseado na analogia‟, é a quarta 
fonte de direito – revelou-se um instrumento útil com o qual os sábios podiam 
chegar a decisões jurídicas sobre questões para as quais o Alcorão e a Hadith não 
forneciam orientação clara. Os sábios Os sábios xiitas diferem de seus colegas 
sunitas ao dar maior valor ao exercício da razão e do intelecto humanos. Por isso, 
em vez de QIYAS, os xiitas têm AQL ou IJTIHAD, “raciocínio individual”. 
 
Desde bem cedo, na história da tradição jurídica islâmica, as leis forma divididas 
em duas categorias: leis referentes à relação entre a humanidade e Deus e leis 
referentes à integridade da comunidade humana. Cada conjunto de leis dividia-se, 
por sua vez, em cinco categorias de conduta ética humana: „exigida (ou obrigatória, 
recomendada, indiferente ou admissível, repreensível, proibida)‟. Na esfera das 
relações humanas com Deus, cinco atos de devoção constituem a prática „exigida‟ 
dos muçulmanos. Estes atos são chamados muitas vezes como “Os Cinco Pilares 
do Islamismo”: 
 
1. Proferir a Shahada, a profissão islâmica da fé: “Não existe outro 
deus senão Deus, e Muhammad é seu mensageiro”; 
 
2. A oração (salat); 
 
3. A doação obrigatória de esmolas (zakat); 
 
4. o jejum (sawn) que ocorre no Ramadã –o nono mês islâmico, que 
marca o inícioda revelação a Muhammad; 
 
5. A peregrinação (hajj) à cidade santa de Meca. 
. 
A tradição islâmica está longe de ser monolítica e é produto de muitos séculos de 
erudição e debate interno. Os debates internos que moldaram o pensamento 
islâmico podem ser vistos no tocante do conceito JIHAD - termo que muitas vezes 
foi interpretado erroneamente no Ocidente. 
 
No Alcorão e na tradição, JIHAD é entendida como “lutar em nome ou em defesa 
da fé”. O complexo termo, amplamente discutido na literatura islâmica, tem sido 
tema de considerável interpretação e debate no decorrer dos tempos. No entanto, a 
maioria dos sábios concorda em que ele contém um imperativo de cada 
muçulmano, e da comunidade em geral, de lutar contra tudo quanto possa 
corromper a Palavra de Deus e causar desarmonia. 
 
Quase todas as análises do termo realçam o seguinte: que a Jihad é um meio para 
servir a Deus e que um componente essencial da „luta‟ é interno ou espiritual, pelo 
qual o muçulmano se empenha individualmente o quanto possível em ser um bom 
„servo de Deus‟. Segundo um Hadith, o Profeta, ao retornar de uma jihad (aqui, 
 
 
25 
uma campanha militar), teria dito: “... retornamos de uma jihad menor para uma 
jihad maior‟. Alude-se aqui a dois tipos de „luta‟ ou „guerra‟. A luta maior, interior, 
consiste em empenhar-se em resistir ao mal („pecado‟), à negligência e à 
imoralidade – esta luta é travada ao realizar os deveres rituais do islamismo e, por 
outro lado, servindo como exemplo de piedade e retidão para os outros 
(muçulmanos e não-muçulmanos). A segunda luta, externa („jihad menor‟), 
convoca os muçulmanos a agir com força, e até empreender guerra, quando se 
observa que o Islã, ou a comunidade islâmica (umma) sofrem ameaça – por 
exemplo, de invasão, domínio estrangeiro opressivo ou conversão forçada. O 
Alcorão e a Hadith falam da necessidade, em tais circunstâncias, de os 
muçulmanos empunharem “a espada” em defesa da fé. 
 
Entre os exemplos significativos de Estados ou grupos muçulmanos empreendendo 
esse tipo de guerra estão as campanhas organizadas no século XII contra os 
principados dos Cruzados na Palestina (especialmente, Jerusalém) e, no século XX, 
contra o domínio colonial britânico e francês. Os sábios e eruditos islâmicos têm 
sido cautelosos em definir claramente as circunstâncias sob as quais se deve 
empreender a guerra e em elucidar as normas ou condições a serem observadas 
durante todo o processo. Por exemplo, acentua-se que não se deve causar dano às 
mulheres e crianças nem destruir as casas e outras propriedades privadas. 
 
Alguns muçulmanos preferiram interpretar a jihad em termos mais militares. 
Exemplo-chave nos séculos XIX e XX são as atividades de grupos como a Jihad 
Islâmica no Egito e a Al Qaida sob Osama Bin Laden. Para muitos detratores 
muçulmanos, esses grupos e suas idéias têm representado uma distorção dos 
ensinamentos islâmicos e, em conseqüência, foram amplamente condenados. 
 
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
 
GAARDNER, Jostein. HELLERN,Henry. NOTAKER,Victor. O Livro das religiões. 
Tradução: Isa Mara Lando. Revisão técnica e apêndice: Antônio Flávio Pierucci. 
São Paulo: Cia das Letras,2000 
 
GORDON, Matthew. Conhecendo o Islamismo. Origens, crenças, práticas, textos e 
lugares sagrados. Tradução: Gentil Avelino Titton. Petrópolis,RJ: Vozes,2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
APÊNDICE 
 
 
MISSIOLOGIA 
 
CULTURA 
identidade; história; geografia; tradição; filosofia; linguagem; sistemas de comunicação; 
símbolos; arte; festas; aparato legislativo-jurídico; religiosidade; formas de organização 
social, econômica, política; graus de parentesco; valores universais, particulares, pessoais; 
ética e moral; etc. 
 SUBCULTURA: Unidades menores constitutivas da cultura 
 
INCULTURAÇÃO (NO SENTIDO DA EVANGELIZAÇÃO) 
Não produz submissão, incorporação, integração, fragmentação, dominação cultural (“estas 
são conseqüências da CONQUISTA / COLONIZAÇÃO”); 
Visa a salvação e a libertação integral da cultura (em termos de Evangelho, “portar a 
vida”); a participação de TODOS no banquete da vida; 
Visa uma resposta abrangente a situações desumanas. 
 
O PROCESSO (DE INCULTURAÇÃO) É UM IMPERATIVO DO 
SEGUIMENTO DE JESUS! 
 
 Inaugura na História um novo estilo de vida, uma nova proximidade eclesial na 
diversidade histórico-cultural de cada povo e grupo social (possibilidade de transformação, 
libertação e responsabilidade diante da dignidade humana; realização profunda da cultura; 
A meta: a libertação) 
“NÃO EXISTEM SITUAÇÕES EM QUE O EVANGELHO NADA TERIA A 
DECLARAR; NÃO HÁ LUGARES AONDE O SEGUIMENTO DE JESUS NÃO 
LEVA” 
 O Evangelho torna-se cultura sem se identificar com nenhuma delas porque ele (o 
Evangelho) é dom de Deus que não nasce das culturas. 
 
 
EVANGELHO CULTURA 
Da ordem transcendental e criação humana; da ordem 
Teológica Antropológica 
 
Complementares 
 
 
 
 
27 
 
PRINCIPAIS DOCUMENTOS PONTÍFICIOS SOBRE A MISSÃO DA 
IGREJA 
 
Carta Encíclica ECCLESIAM SUAM (Papa Paulo VI – 06.agosto.1964) 
 “Os caminhos da Igreja”; Igreja = Palavra, Mensagem e Diálogo permanente; 
utilizar as vias legítimas de educação humana (sem coação); pregação associada ao 
testemunho; destinatários: fiéis; não-fiéis; outras religiões; fiéis dentro da própria Igreja). 
Decreto Conciliar AD GENTES (Conc.Ecumênico Vaticano II – 07.dezembro.1965) 
 “Sobre a atividade missionária da Igreja”; Igreja, Sacramento Universal de 
Salvação; Igreja é peregrina (caminha); Natureza missionária; íntima conexão com a 
natureza humana e suas aspirações” 
Exortação Apostólica EVANGELII NUNTIANDI (Papa Paulo VI – 
08.dezembro.1975) 
 “Evangelização no mundo contemporâneo”; Evangelizar, para a Igreja, é levar a 
Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu 
influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria a humanidade. 
Carta Encíclica REDEMPTORIS MISSIO (Papa João Paulo II – 07.dezembro.1990) 
 “A validade permanente do mandato missionário”; Cristo torna presente o Reino 
de Deus e a Igreja está a serviço deste reino; a fé em Jesus Cristo, único salvador, é a Boa 
Notícia a ser proposta a todas as pessoas – “disto, não podemos nos calar”; o Espírito 
Santo é o protagonista da missão. É Ele quem guia a missão e torna missionária toda a 
Igreja. 
ver também: 
1) Documentos do Compêndio do Concílio Ecumênico Vaticano II – Gaudium et Spes; Dei 
Verbum; Lumem Gentium; Apostolicam Actuositatem; Unitatis Redintegratio; Nostra 
Aetate) 
2) Documentos das Conferências Episcopais da AMÉRICA Latina (CELAM): 
Rio de Janeiro/1955; Medellin/1968; Puebla/1979; Santo Domingo/1992; 
Aparecida/2007 
BIBLIOGRAFIA 
PANAZZOLO, João. Missão para todos. Introdução à Missiologia. São Paulo: 
Paulus,2006 
SUESS, Paulo. Introdução à Missiologia. Convocar e enviar: servos e testemunhas do 
Reino. Petrópolis,RJ: Vozes,2007. Coleção Iniciação à Teologia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 JUDAÍSMO CRISTIANISMO ISLAMISMO 
Concepção de 
Deus 
IAHWEH “Eu Sou 
O Que Sou”; Não 
se diz o nome 
DEUS TRINDADE 
(o Pai – O Filho – O 
Espírito Santo) 
ALLAH (Deus 
Único) 
‘Mediação’ Abraão; Isaac; 
Jacó; Moisés; Davi; 
Elias; Profetas; 
Antepassados 
JESUS CRISTO, 
O Filho de Deus 
(Ele é o mesmo 
ontem, hoje e 
eternamente – Hb 
13,8) 
Maomé 
(Muhammad Ibn 
Abdalla) 
Identidade Mãe Judia; 
Circuncisão; Povo 
da Aliança 
Batismo; vida de fé 
+ obras 
Submissão total de 
corpo e mente; 
busca da perfeição 
(Muçulmano = 
aquele que se 
submete ou se 
entrega a Allah) 
Livro Antigo Testamento 
- 
Núcleo: Pentateuco(Torah); 613 Leis 
(248 positivas; 365 
proibições) 
Bíblia – Núcleo: 
Novo Testamento - 
Evangelhos + 
Cartas 
Alcorão (Quran; 
Corão = Palavra 
revelada direta e 
inalterável de 
Deus); 
Hadith (“biografia” 
de Maomé; Sunna 
ou Tradição 
(ensinamentos do 
Alcorão para o 
muçulmano viver 
melhor sua fé) 
Autoridade de 
Interpretação 
Rabinos (Sinagoga) Igreja (instituição): 
Ministério 
ordenado; 
Magistério + 
Tradição 
Ulemás 
(„Letrados‟) 
Características 
Pontuais 
Povo de Deus; 
Povo da Aliança; 
Leis e Profetas; 
Tradições e 
Costumes; 
“Amar o próximo 
como a Ti mesmo” 
(Lv 19,18); 
O Sábado; os Dez 
Mandamentos; 
Shalom: A Justiça 
– „que não haja 
Jesus, Revelação 
plena e definitiva do 
Pai; O Sermão da 
Montanha (Mt 5–
7); 
O Reino de Deus; 
Igreja, „Corpo 
místico de Cristo‟; 
A Misericórdia; A 
Vida Humana é 
Sagrada; 
Shalom, a Paz 
Salam (Paz); 
Sharía (Caminho 
Islâmico); 
Jihad (“Luta”) 
Jihad Maior: a luta 
interior – contra o 
pecado e as 
infidelidades - para 
ser um bom servo 
de Deus; 
Jihad Menor: 
Reação às ameaças 
 
 
29 
nenhum necessitado 
entre vocês‟. 
advinda da justiça; 
Lava Pés (Fazer 
como o Mestre fez); 
Cristo, presença 
permanente na 
Palavra, 
Sacramentos 
(Eucaristia) e na 
vida comunitária; O 
SH torna-se virtuoso 
pelos dons do 
Espírito 
ao Islã ou à 
comunidade; 
Os “Cinco Pilares” 
do Islamismo

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