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Realidade, Étnica, social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil 1 A linha do tempo da formação de Goiás explica, paulatinamente, a atual situação do Estado e seu posicionamento dentro do território brasileiro. Fatos e figuras históricas, famosos e anônimos, que construíram um Estado forte, desenvolvido em ciclos de lavoura, gado e mineração, às custas de negociações, estratégias e, mesmo da sorte – por vezes – a arraigar uma estrutura consolidada e, hoje, moderna e dinâmica. Da distribuição espacial dos povos pré-históricos, passando pelo ouro vilaboense, até as marchas de progressos vindas rumo ao oeste, e a criação do Tocantins e de Brasília, Goiás tem, sim, muita história para contar. A ocupação do território de Goiás teve início há milhares de anos com registros arqueológicos mais antigos datados de 11 mil anos atrás. A região de Serranópolis, Caiapônia e Bacia do Paranã reúne a maior parte dos sítios arqueológicos distribuídos no Estado, abrigados em rochosos de arenito e quatzito e em grutas de maciços calcários. Também há indícios da ocupação pré- histórica nos municípios de Uruaçu, em um abrigo de micaxisto, e Niquelândia, cujo grande sítio superficial descoberto por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) guarda abundante material lítico do homem Paranaíba. COLÔNIA Após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, durante os séculos XVI e XVII, o território goiano começou a receber diversas expedições exploratórias. Vindas de São Paulo, as Bandeiras tinham como objetivo a captura de índios para o uso como mão de obra escrava na agricultura e minas. Outras expedições saíam do Pará, nas chamadas Descidas com vistas à catequese e ao aldeamento dos índios da região. Ambas passavam pelo território, mas não criavam vilas permanentes, nem mantinham uma população em número estável na região. A ocupação, propriamente dita, só se tornou mais efetiva com a descoberta de ouro nessas regiões. Na época, havia sido achado ouro em Minas Gerais, próximo a atual cidade de Ouro Preto (1698), e em Mato Grosso, próximo a Cuiabá (1718). Como havia uma crença, vinda do período renascentista, que o ouro era mais abundante quanto mais próximo ao Equador e no sentido leste- oeste, a busca de ouro no “território dos Goyazes”, passou a ser foco de expedições pela região. Bandeiras O território goiano recebeu bandeiras diversas, sendo que a de Francisco Bueno foi a primeira a achar ouro na região (1682), mas em pequena quantidade. Essa expedição explorou até as margens do Rio Araguaia e junto com Francisco Bueno veio seu filho, Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido por Anhanguera (Diabo velho). Segundo se registra, Bartolomeu Bueno da Silva teria se interessado sobre o ouro que adornava algumas índias de uma tribo, mas não obteve êxito em obter informações sobre a procedência desse ouro. Para conseguir a localização, resolveu então ameaçar pôr fogo nas fontes e rios da região, utilizando aguardente para convencer aos índios de que poderia realmente executar o feito – o que lhe conferiu o apelido. Seu filho, também chamado de Bartolomeu Bueno da Silva, 40 anos depois, também tentou retornar aos locais onde seu pai havia passado, indo em busca do mito da “Serra dos Martírios”, um lugar fantástico onde grandes cristais aflorariam, tendo formas semelhantes a coroas, lanças e cravos, referentes à “Paixão de Cristo”. Chegou, então, as regiões próximas ao rio Vermelho, onde achou ouro (1722) em maior quantidade do que noutros achados e acabou fixando na região a Vila de Sant'Anna (1727), chamada depois Vila Boa de Goyaz. Após retornar para São Paulo para apresentar os achados, foi nomeado capitão-mor das “minas das terras do povo Goiá”. Entretanto, seu poder foi sendo diminuído à medida que a administração régia se organizava na região. Em 1733, perdeu direitos obtidos junto ao rei, sob a alegação de sonegação de rendas, vindo a falecer em 1740, pobre e praticamente sem poder. Nessa época, as principais regiões ocupadas no período aurífero foram o Centro-Sul (próximo ao caminho para São Paulo), o Alto Tocantins e Norte da capitania, até próximo a cidade de Porto Nacional (hoje Estado do Tocantins). Grandes áreas como o Sul, o Sudoeste, o Vale do Araguaia e as terras ao Norte de Porto Nacional só foram ocupadas mais intensamente no século XIX e XX, com a ampliação da pecuária e da agricultura. O ouro goiano era principalmente de aluvião (retirado na superfície dos rios, pela peneiragem do cascalho), e se tornou escasso depois de 1770. Com o enfraquecimento da extração, a região passou a viver principalmente da pequena agricultura de subsistência e de alguma pecuária. As primeiras divisões do Estado Durante o período colonial e imperial, as divisas entre províncias eram difíceis de serem definidas com exatidão, muitas vezes sendo definidas de forma a serem coincidentes com os limites das paróquias ou através de deliberações políticas vindas do poder central. No entanto, no decorrer do processo de consolidação do Estado de Goiás, o território sofreu diversas divisões, com três perdas significativas no período colonial. Separação da Capitania de São Paulo Durante parte do período colonial o território que hoje é o Estado de Goiás foi administrado pela Capitania de São Paulo, na época a maior delas, estendendo-se do Uruguai até o atual estado de Rondônia. Seu poder não era tão extenso, ficando distante das populações e, também, dos rendimentos. Formação econômica de Goiás: a mineração no século XVIII, a agropecuária nos séculos XIX e XX, a estrada de ferro e a modernização da economia goiana, as transformações econômicas com a construção de Goiânia e Brasília 2 Realidade, Étnica, Social, Histórica, Geográfica, cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil A medida que se achava ouro pelas terras do sertão brasileiro, o governo português buscava aproximar-se da região produtora. Isso aconteceu em Goiás depois da descoberta de ouro em 1722. Como uma forma de controlar melhor a produção de ouro, evitando o contrabando, responder mais rapidamente aos ataques de índios da região e controlar revoltas entre os mineradores, foi criado através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1748, pela chegada do primeiro governador a Vila Boa de Goyaz, Dom Marcos de Noronha. Triângulo mineiro A região que hoje é chamada de “Triângulo Mineiro” pertenceu à capitania de Goiás desde sua criação em 1744 até 1816. Sua incorporação à província de Minas Gerais é resultado de pressões pessoais de integrantes de grupos dirigentes da região, sendo que em 1861 a Assembleia Geral foi palco de discussões acaloradas entre parlamentares de Minas Gerais, que tentavam ampliar ainda mais a incorporação de territórios até o Rio São Marcos e de Goiás. Leste do Mato Grosso Em 1753, começaram as discussões entre a administração da Capitania de Mato Grosso e de Goiás para a definição de divisas entre as duas. Nesse período, a divisa entre elas ficou definida a partir do Rio das Mortes até o Rio Pardo. Em 1838, o Mato Grosso reiniciou as movimentações de contestação de divisa, criando a vila de Sant'Ana do Paranaíba. Apenas em 1864, a Assembleia Geral cria legislação para tentar regular o caso. Durante a república, com a criação do município de Araguaia (1913) por parte do Mato Grosso e de Mineiros por parte de Goiás, o conflito se intensificou.A questão ficou em suspenso até 1975, quando uma nova demarcação foi efetuada. Por fim, em 2001, o STF definitivamente demarcou a nascente A do Rio Araguaia como ponto de partida das linhas demarcatórias entre os estados. IMPÉRIO A partir de 1780, com o esgotamento das jazidas auríferas, a Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização e regressão a uma economia de subsistência, gerando graves problemas financeiros, pela ausência de um produto básico rentável. Para tentar reverter esta situação, o governo português passou a incentivar e promover a agricultura em Goiás, sem grandes resultados, já que havia temor dos agricultores ao pagamento de dízimos; desprezo dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco rentável; a ausência de um mercado consumidor; e dificuldade de exportação, pela ausência de um sistema viário. Com a Independência do Brasil, em 1822, a Capitania de Goiás foi elevada à categoria de província. Porém, essa mudança não alterou a realidade socioeconômica de Goiás, que continuava vivendo um quadro de pobreza e isolamento. As pequenas mudanças que ocorreram foram apenas de ordem política e administrativa. A expansão da pecuária em Goiás, nas três primeiras décadas do século XIX, que alcançou relativo êxito, trouxe como consequência o aumento da população. A Província de Goiás recebeu correntes migratórias oriundas, principalmente, dos Estados do Pará, Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Novas cidades surgiram: no sudoeste goiano, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia (Rio Bonito), Quirinópolis (Capelinha), entre outras. No norte (hoje Estado do Tocantins), além do surgimento de novas cidades, as que já existiam, como Imperatriz, Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina e Arraias, ganharam novo impulso. Os presidentes de província e outros cargos de importância política, no entanto, eram de livre escolha do poder central e continuavam sendo de nacionalidade portuguesa, o que descontentava os grupos locais. Com a abdicação de D. Pedro I, ocorreu em Goiás um movimento nacionalista liderado pelo bispo Dom Fernando Ferreira, pelo padre Luiz Bartolomeu Marquez e pelo coronel Felipe Antônio, que recebeu o apoio das tropas e conseguiu depor todos os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, inclusive o presidente da província. Nas últimas décadas do século XIX, os grupos locais insatisfeitos fundaram partidos políticos: O Liberal, em 1878, e o Conservador, em 1882. Também fundaram jornais para divulgarem suas ideias: Tribuna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio e Folha de Goyaz. Com isso, representantes próprios foram enviados à Câmara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases para as futuras oligarquias. A abertura da fronteira agrícola na região Centro- Oeste O desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste é intensificado a partir da década de 1930, com o objetivo de atender ao mercado consumidor de produtos agrícolas da região Sudeste, assim, o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste esteve diretamente ligado ao desenvolvimento industrial do país, que se iniciou na região Sudeste nesse período. A necessidade de um custo de mão-obra mais barato levou a indústria a pressionar o setor agrícola, para que ele elevasse a oferta de bens primários, buscando, consequentemente, uma redução dos preços dos produtos agrícolas. Com uma maior oferta de produtos agrícolas, menor seria o custo da força de trabalho industrial, sendo que isso seria fundamental para o fortalecimento do setor industrial brasileiro. Dessa forma, o processo de industrialização da região Sudeste passou a demandar da agricultura uma evolução técnica e produtiva. Com isso, a região Sudeste promoveu uma reestruturação do espaço agrário nacional, reorganizando-o de acordo com os interesses do capitalismo industrial que começava desenvolver-se no país. É nesse contexto que a região Centro-Oeste e, portanto, o estado de Goiás passam a integrar a nova dinâmica capitalista do país, como uma região capaz de contribuir, por meio do fornecimento de bens primários, para a consolidação do capital industrial. A construção de Goiânia, na década de 1930, foi um marco na inserção do estado no processo de divisão inter-regional do trabalho e de interiorização do país, sendo considerada um símbolo governamental na inserção do Centro-Oeste na dinâmica capitalista nacional. Apesar de no período em análise ter ocorrido uma reorientação do padrão de acumulação capitalista no país, passando de agropecuário para industrial, o estado de Goiás não acompanha a tendência da região Sudeste, pois continuou alicerçado na agropecuária. Assim, a ocupação de novas áreas na fronteira e a redução dos custos de produção tornaram-se a base do crescimento da produção agropecuária goiana. Os obstáculos ao processo de integração regional do Centro-Oeste As dimensões continentais do Brasil redundavam sempre em impasses para a sua integração econômica e geográfica, visto que as grandes distâncias entre os centros regionais dificultavam a expansão do capital pelo país, e, como salienta Cunha (2002), a incorporação do interior à economia nacional estava calcada num mercado interno inexpressivo e na precariedade das estruturas de transporte, de energia e de comunicações. Tendo em vista esses aspectos, é importante mostrar o papel que os meios de transportes e comunicações tiveram frente à integração nacional. A ferrovia foi o meio de transporte que iniciou a integração nacional, pois ela contribuiu para estender a fronteira agrícola, criando e ligando os pontos de produção agropecuária. Realidade, Étnica, social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil 3 A construção de ferrovias faz parte da própria gênese do processo de constituição do mercado nacional, permitindo a absorção das mercadorias mais elaboradas que vinham dos núcleos urbanos mais avançados e viabilizando o escoamento dos bens agropecuários as outras regiões. A melhoria das condições do translado das mercadorias induz à maior especialização produtiva de diversas áreas geográficas, possibilitando uma crescente complementaridade entre suas estruturas produtivas. Assim, o papel do aperfeiçoamento das comunicações entre diferentes áreas vai desenhando uma divisão inter-regional do trabalho (BRANDÃO, 1999, p. 51). Dessa forma, como em diversas outras regiões do país, o estado de Goiás possuía as características necessárias para ser considerado uma nova fronteira agrícola, porém existiam algumas barreiras que inibiam a sua inserção no novo processo de acumulação capitalista. Essas barreiras eram as péssimas condições de transportes e comunicação. Devido à localização do estado, o alto custo dos transportes elevava o valor final dos bens e, ao mesmo tempo, reduzia a competitividade do produto goiano na região Sudeste. Para a consolidação do estado como fornecedor de bens primários, seriam necessários meios de transportes mais rápidos e eficientes, a fim de obter custos mais baixos e maiores condições de comercialização na região Sudeste. A Estrada de Ferro Goiás teve suas obras iniciadas na primeira metade do século XX, e, apesar de apresentar graves deficiências, como a grande lentidão de suas obras, problemas técnicos, entre outros, teve papel relevante. Foi o primeiro meio de transporte que propiciou ao estado de Goiás condições reais de escoamento da sua produção para a região Sudeste, embora ainda não atendesse todas as percorriam todas as regiões do estado, servindo,inicialmente, às regiões mais ao sul do estado. O trem-de-ferro – simbolizado na maria-fumaça – com seu silvo estridente e cauda em aço, emplumada em fumaça, serpenteando pelos sertões, despertava Goiás de séculos de isolamento e transformava a paisagem regional através de um processo dialético marcado pela destruição/reconstrução do espaço (BORGES, 2000, p. 41). Além de fazer todo o transporte de produtos destinados à exportação, levava, também, os produtos manufaturados do Sudeste para Goiás. Assim, a estrada de ferro, mais especificamente, os terminais ferroviários desempenharam a função de transformar a vida econômica e social das populações que viviam naqueles locais, pois, aos redores dos terminais ferroviários, desenvolveram-se vilas, vilarejos, acompanhados de um dinâmico comércio. A Estrada de Ferro de Goiás foi importante para a inserção de Goiás no processo de acumulação de capital industrial que estava ocorrendo no país. Porém os problemas financeiros e técnicos, em conjunto com a chegada da rede rodoviária federal na região Centro-Oeste, levaram a Estrada de Ferro de Goiás a assumir um papel secundário como um meio de transporte. Em última análise, a ferrovia, além de ter constituído uma via de transporte estratégica na ocupação do Centro-Oeste, foi um elemento fundamental na reorganização do espaço agrário regional e na estruturação da economia goiana. Nesse contexto, a malha rodoviária viria complementar a infraestrutura de transportes, necessária à plena inserção do estado de Goiás ao mercado nacional. Até a década de 1950, o desenvolvimento das rodovias no estado ficava a cargo da iniciativa privada, dos governos estadual e municipal, não apresentando grande desenvolvimento, em razão da escassez de recursos para aplicar nessa área. A escolha pela expansão da rede rodoviária e não pela expansão e melhorias da rede ferroviária teve como pano de fundo o interesse político, pois os governos estaduais distribuíam subsídios ao capital privado. Com a construção de Brasília, o contexto foi alterado, passando a ser de interesse federal o desenvolvimento da estrutura rodoviária do Centro-Oeste. Com esse objetivo, foram feitos grandes investimentos em melhorias e na construção de novas rodovias, visando atender às necessidades da nova capital do país e, com isto, consolidar a posição da região como fronteira agrícola e grande exportadora de bens primários para a região Sudeste do país. A rodovia Belém-Brasília teve, também, papel relevante ao beneficiar as regiões localizadas mais ao norte do estado, proporcionando a essas áreas maior integração aos mercados das regiões Norte e Sul do país. Mais uma vez, o interesse político foi responsável pela maior vontade governamental em levar o projeto ao fim, visto que a emergente indústria automobilística multinacional, que estava sendo implantada no país, necessitava de novos mercados consumidores, e a expansão da malha rodoviária era o caminho para esse mercado. A consolidação da fronteira agrícola e a industrialização da agricultura A região Centro-Oeste e o estado de Goiás participaram do processo de desenvolvimento do capitalismo no campo, como uma nova região de fronteira agrícola e produtora de bens primários com um baixo custo. O desenvolvimento da produção agropecuária do estado de Goiás, inicialmente, ocorreu de acordo com as necessidades do mercado consumidor existente na região Sudeste. A primeira atividade, que veio substituir o modelo de subsistência, foi a rizicultura. O arroz era plantado de forma tradicional e as condições naturais favoráveis, como o clima e o solo, facilitavam o cultivo. As culturas temporárias foram utilizadas basicamente para desbravar a terra e prepará-la para a atividade pastoril, aliado a isso, havia pouco crédito destinado ao pequeno produtor, promovendo, assim, a sua expulsão gradativa e um processo de concentração fundiária. O processo de desenvolvimento agropecuário goiano acompanhou o estímulo trazido pelos meios de transporte. Dessa forma, na década de 1940, a primeira região a incorporar-se à zona de fronteira foi o sudeste goiano e, consequentemente, a primeira a estagnar-se e entrar em decadência. A expansão da atividade pastoril no estado de Goiás foi assentada no seu relacionamento comercial com a região Sudeste, pois as maiores facilidades de transporte que o gado propiciava e também as condições naturais, tais como clima e solo favoreceram a especialização do estado nessa atividade econômica. Enfim, na década de 1950, o estado de Goiás já estava incorporado ao processo de desenvolvimento capitalista, que ocorria em quase todo país, atendendo à demanda da região Sudeste. Porém, possuía baixos níveis de produtividade, o que era justificado pelas práticas tradicionais utilizadas na agricultura, inclusive no tocante a relações de sociais de trabalho. A consolidação do capital agroindustrial no Centro -Oeste e no estado de Goiás O processo de modernização agrícola no Centro-Oeste e no estado de Goiás trouxe consequências perversas, como impactos ambientais, êxodo rural, problemas populacionais nas grandes cidades, concentração de renda e, principalmente, a subordinação da agropecuária goiana aos setores antes da porteira, ou seja, enquanto o estado se especializava na cultura de commodities e na pecuária, aumentava, assim, a sua dependência aos setores a jusante da agricultura, que estavam instalados na região Sudeste. Essa subordinação da agricultura, como salienta Estevam (2000), significa que, com o tempo, parte substancial dos lucros da produção goiana foi se canalizando para os setores a jusante da agricultura, ou seja, para a região Sudeste do país. A consolidação desse processo ocorreu na década de 1980, e, ao mesmo tempo, o reconhecimento do potencial agroindustrial do Centro-Oeste, sendo que, a região passou a responder por 40% da produção nacional de grãos. Porém o aumento da produção 4 Realidade, Étnica, Social, Histórica, Geográfica, cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil não foi correspondido na mesma proporção pela implantação de unidades de armazenamento e esmagamento. No final da década de 1980, o quadro começa a modificar-se, pois foram implantadas as primeiras agroindústrias na região, que tinham como principal objetivo o aumento da competitividade. Esses investimentos em nova capacidade produtiva ocorreram basicamente na região de cerrado do Centro-Oeste [...] tiveram o objetivo de assegurar o seu acesso privilegiado às fontes de matérias-primas (soja) e a mercados regionais de crescente importância (carne de frango) (CASTRO e FONSECA, 1995, p. 5). Formação socioespacial do estado de Goiás: Goiás, estado brasileiro com o nome de origem tupi, gwaya, da tribo dos guaiás, que quer dizer indivíduo igual, gente semelhante, da mesma raça, fica localizado no leste da região Centro-Oeste, do Planalto Central brasileiro e faz divisa com Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Possui um clima tropical semiúmido, e tem como paisagem predominante o cerrado. Sua história está marcada pela corrida do ouro, que fez com que muitos interessados, principalmente os bandeirantes paulistas, fossem para a região em busca de riqueza. Atualmente, o estado possui muitas outras riquezas para se apreciar e conhecer, como as belas cidades, as águas quentes termais, a culinária exótica, entre outros. Ainda apresenta as belezas naturais dos rios, cachoeiras, parques ecológicos, fauna e flora do cerrado, fazendo doestado um ótimo lugar para se visitar. Dinâmica socioespacial do estado de goiás: Os estudos sobre as cidades, no geral direcionam-se apenas para os grandes centros urbanos do país e do mundo, deixando de lado as pequenas cidades, por estas se encontrarem em outra dinâmica sócio espacial. Desta forma, cabe aos pesquisadores destacar a complexidade e o dinamismo existentes nesses pequenos centros. Principalmente por as cidades brasileiras serem bastante diversificadas, o modo de vida em uma pequena cidade é bastante diferente dos grandes centros. O processo de globalização tem intensificado a fragmentação do espaço e excluindo as áreas menos influentes nas redes de fixos e fluxos. Segundo Santos (1980) estes espaços só aparecem como fornecedores daquilo que é propriamente seu quer seja mão de obra barata, matéria prima em abundância, cérebros eficientes ou qualquer outro produto que o mercado tenha necessidade de adquirir. Mas para a divisão do lucro o que acontece é o oposto, não compete às pequenas cidades participar de tal divisão. O processo de urbanização brasileiro, assim como nos países Subdesenvolvidos, ocorreu de forma desigual, em Goiás este processo concentrou expressiva quantia da população na Região Metropolitana de Goiânia (RMG) e no entorno do Distrito Federal. Isto se deve a transferência da capital do estado para Goiânia e a construção de Brasília que atraíram grande contingente populacional. 1 Disponível em: http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Goias/59963094.html. Acesso em: Março/2016. Formação e ocupação do território goiano: Antes da colonização do Brasil, a região onde atualmente está situado o estado de Goiás, era povoada predominantemente pelos índios Avás-canoeiros (Tronco Linguístico: Tupi-Guarani) e Tapuias. A descoberta de ouro em Minas Gerais foi o primeiro passo para o desbravamento da região do estado de Goiás. No fim do século XVII e início do século XVIII, expedições de Bandeirantes descobriram as primeiras minas de ouro no território de Goiás. Os Bandeirantes tinham como objetivo explorar, em busca de ouro, o interior do país e as margens do rio São Francisco. As primeiras expedições saíram de São Paulo em direção noroeste, seguindo uma trilha de índios, chamada de “Caminho dos Goiases”. No mesmo período, chegaram a região os missionários vindos do norte do país. Bartolomeu Bueno da Silva foi um dos primeiros Bandeirantes a chegar a região. Acompanhado de seu filho de 12 anos, de nome igual ao do pai, Bartolomeu obteve sucesso em sua primeira expedição ao sertão, caçando muitos índios e encontrando várias pepitas de ouro. O sucesso de Bartolomeu atraiu outros Bandeirantes a região. Em 1720, Bartolomeu, o filho, chega a Lagoa Mestre d’Armas, situada próxima de onde foi construída a cidade de Brasília. Nessa expedição, foram coletadas muitas pepitas de diferentes minas, o que acabou por atrair milhares de aventureiros para a região. Bartolomeu, o filho, fundou o primeiro povoado na região, chamado de Barra (atualmente, é o município de Buenolândia), e fundou o Arraial de Sant’Ana, que em 1739 passou a se chamar Vila Boa, e posteriormente de Cidade de Goiás, capital do território. A Capitania foi instituída em 1748. A formação inicial do território muda em 1809, quando Goiás é obrigada a ceder áreas de terras para o Maranhão e para minas Gerais. Em 1863, mudou-se a capital para a cidade de Leopoldina, na região do Araguaia. A partir de 1930, a região já se tornou prospera, graças principalmente a agricultura e a expansão das ferrovias. Como resultado, em 1932 foi iniciado a construção da nova capital do estado, Goiânia, inaugurada em 1942. A escolha do Planalto Central para a construção da capital da Federação também contribuiu com o desenvolvimento da região. 1 Localizado na região Centro-Oeste, na qual a atividade agropecuária tem grande destaque, Goiás apresenta extensas áreas de pastagens e lavouras. Quase metade do território goiano é formada por latifúndios rurais, ou seja, propriedades com mais de mil hectares. A economia do estado de Goiás tem como principais atividades a agricultura, a pecuária e a indústria. Em 2008, a contribuição de Goiás para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi de 2,5% e, no âmbito regional, sua participação foi de 27,6%. A composição do PIB goiano é a seguinte: Agropecuária: 11% Indústria: 27% Serviços: 62% A agropecuária goiana tem grande importância no cenário econômico nacional, uma vez que sua produção de carnes e grãos impulsiona a exportação estadual. A produção agrícola de Goiás é das mais expressivas do país. Industrialização, infra-estrutura e planejamento. Realidade, Étnica, social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil 5 Goiás é um dos maiores produtores de tomate, milho e soja do Brasil. Responsável por 33% da produção nacional de sorgo, Goiás é o principal produtor desse grão no país. Outros cultivos importantes são: algodão, cana-de-açúcar, café, arroz, feijão, trigo e alho. A pecuária, por sua vez, está em constante expansão. O estado possui, atualmente, o terceiro maior rebanho bovino do país. A pecuária de corte é mais desenvolvida do que a pecuária leiteira. No entanto, a atividade é a principal responsável pelo desmatamento e destruição do cerrado, destruindo esse ecossistema e provocando erosões. As criações de suínos e de aves também são significativas no estado Goiás também possui reservas minerais. Entre essas, destacam-se os municípios de Minaçu (extração de amianto), Niquelândia e Barro Alto (níquel), além de Catalão (fosfato). A indústria goiana é responsável por 27% do PIB regional, esse setor da economia vem se diversificando constantemente. A cidade de Goiânia, capital do estado, abriga boa parte dos complexos industriais. Outras cidades que se destacam são: Aparecida de Goiânia, Anápolis, Catalão, Rio Verde e Itumbiara. O setor industrial está em expansão. A variedade de indústrias no estado é grande, com destaque para as indústrias de transformação, alimentícias, têxteis, metalúrgicas, madeireira, mobiliaria, automobilísticas, de mineração e farmacêutica. Em Goiás, especificamente no Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA), está situado o maior polo farmoquímico da América Latina, abrigando também, indústrias alimentícias, automobilísticas, têxteis, além de possuir o único porto seco brasileiro. O estado é um dos maiores produtores de medicamentos genéricos do Brasil. Produz ainda açúcar e álcool em quantidades significativas. Goiás é o único estado brasileiro que possui um porto seco. 2 O extrativismo, tanto mineral como vegetal contribuem com a economia do estado. Goiás possui reserva de vários minerais, sendo os de maior destaque, o calcário, o amianto, o fosfato e o níquel. Existem ainda jazidas de ardósia, cobre, rutilo, argila, manganês, estanho, talco, dolomita e cromita. Ouro, pedras preciosas (esmeraldas), pedras semipreciosas e cristais-de-rocha também são encontradas. Os vegetais extraídos são: madeira (mogno), pequi, babaçu e casca de angico. O turismo é outra atividade de fundamental importância para a economia goiana. As cidades de Caldas Novas e Rio Quente, principais estâncias hidrotermais do país, atraem milhares de visitantes. O turismo histórico é cultuado na Cidade de Goiás (Goiás Velho), Corumbá e Pirenópolis. Na região da Chapada dos Veadeiros edo Rio Araguaia, o turismo ecológico é proporcionado. Dados referentes à exportação e importação de Goiás: Exportações – 4,1 bilhões de dólares: Soja: 27% Carne bovina: 16% Resíduos da extração do óleo de soja: 12% Sulfeto de cobre: 12% 2 PACIEVITCH, Thais. Economia de Goiás. Disponível em: http://www.infoescola.com/economia/economia-de-goias/. Acesso em: Março/2016. Carne de aves: 7% Ferro-nióbio: 3% Milho em grãos: 3% Outros: 20%. Importações – 3 bilhões de dólares: Carros e peças: 37% Adubos e fertilizantes: 20% Produtos farmacêuticos: 12% Máquinas e equipamentos: 8% Enxofre: 3% Outros: 20%. 3 Assim, com localização privilegiada, potência agropecuária e política de incentivos fiscais, o território goiano é visto como a nova fronteira dos investimentos no Brasil, sendo que o Estado ficou na dianteira da retomada dos investimentos previstos pelo governo federal desde 2015. A economia de Goiás vai viver um dos maiores saltos de sua histórica nos próximos anos com os investimentos em logística e infraestrutura realizados pelo poder público e iniciativa privada. O Aeroporto de Cargas de Anápolis, que integra a Plataforma Multimodal, vai gerar o maior up grade da história da economia de Goiás. Além da plataforma, o transporte ferroviário é outra vertente de investimento trabalhada pelo poder público e pela iniciativa privada em Goiás. Outro projeto férreo é o que promoverá a ligação entre Goiânia e Brasília. GOIÂNIA Goiânia é um município brasileiro, capital do estado de Goiás, distando 209 km de Brasília, a capital nacional, sendo assim, a capital estadual mais próxima da capital federal. Localizada no centro do seu estado, foi planejada e construída para ser a capital política e administrativa de Goiás sob influência da Marcha para o Oeste, política desenvolvida pelo governo Vargas para acelerar o desenvolvimento e incentivar a ocupação do Centro-Oeste brasileiro. Os estreitos laços de amizade e inteirações políticas entre Pedro Ludovico Teixeira e Vargas contribuíram bastante para essa empreitada. Sofreu um acelerado crescimento populacional desde a década de 1960, atingindo um milhão de habitantes em 1996. Desde seu início, a sua arquitetura teve influência do Art Déco, que definiu a fisionomia dos primeiros prédios da cidade. É a segunda cidade mais populosa do Centro-Oeste, sendo superada apenas por Brasília. É um importante polo econômico da região, sendo considerada um centro estratégico para áreas como indústria, medicina, moda e agricultura. De acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população é de 1 430 697 habitantes em 2015, sendo a sexta maior cidade do Brasil em tamanho, com 256,8 quilômetros quadrados de área urbana e o décimo segundo município mais populoso do Brasil. A Região Metropolitana de Goiânia possui 2 421 831 habitantes, o que a torna a 13ª região metropolitana mais populosa do país. Goiânia pertence à Mesorregião do Centro Goiano e à Microrregião de Goiânia. Com uma área de aproximadamente 739 km², possui uma geografia contínua, com poucos morros e baixadas, tendo terras planas na maior parte de seu território, 3 FRANCISCO, Wagner De Cerqueria E. "A Economia de Goiás "; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/a- economia-goias.htm>. Acesso em 09 de marco de 2016. 6 Realidade, Étnica, Social, Histórica, Geográfica, cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil com destaque para o rio Meia Ponte, além dos córregos Botafogo e Capim Puba. Goiânia destaca-se entre as capitais brasileiras por possuir o maior índice de área verde por habitante do Brasil, ultrapassada apenas por Edmonton em todo o mundo. (Acima, à esquerda, o Monumento às Três Raças; à direita o Parque Vaca Brava; ao meio uma vista panorâmica da cidade; abaixo, à direita o Viaduto Latif Sebba; ao lado o Jardim Botânico). Bandeira e Brasão: (Localização de Goiânia em Goiás) (Localização de Goiânia no Brasil) Goiânia é a capital do décimo segundo estado mais populoso do Brasil, Goiás, situando-se próximo ao paralelo 16º40'43'' sul e do meridiano 49º15'14'' oeste. A área do município é controversa, e varia conforme fonte de dados. A própria prefeitura refere 739 km² e o IBGE indica 733 km². Suas cidades limítrofes são Nerópolis e Goianápolis ao norte; Aparecida de Goiânia ao sul; Senador Canedo e Bela Vista de Goiás ao leste; e Goianira e Trindade ao oeste. Região Metropolitana de Goiânia O intenso processo de conurbação atualmente em curso na chamada Grande Goiânia vem criando uma metrópole cujo centro está em Goiânia e atinge os municípios de Abadia de Goiás, Aparecida de Goiânia, Aragoiânia, Bela Vista de Goiás, Bonfinópolis, Brazabrantes, Caldazinha, Caturaí, Goianápolis, Goianira, Guapó, Hidrolândia, Inhumas, Nerópolis, Nova Veneza, Santo Antônio de Goiás, Senador Canedo, Terezópolis de Goiás e Trindade. A Região Metropolitana de Goiânia foi criada no ano de 1999 e atualmente é constituída por 20 municípios, sendo a décima maior aglomeração urbana do Brasil, com 2 206 134 habitantes. Seu Produto Interno Bruto (PIB) representou menos de 40% do estado em 2005. Cenário econômico recente: Na década de 1970, teve início um período de intenso desenvolvimento econômico nos estados do Centro-Oeste, motivado principalmente pela modernização da agricultura. A mecanização, a introdução de novas culturas e o desenvolvimento de tecnologias e técnicas como a adubação e correção dos solos de cerrados impulsionaram a produtividade da agricultura regional, que se tornou altamente competitiva nos mercados internacionais. No entanto, essa modernização tem sido responsável por diferentes impactos ambientais, em especial o desmatamento. Desde a década de 1980, o incremento da produção agropecuária e os incentivos fiscais atraem para o Centro- Oeste indústrias ligadas à transformação de matérias-primas de origem animal ou vegetal. É o caso dos frigoríficos, das empresas de avicultura, do setor sucroalcooleiro e das indústrias que processam os grãos de soja. Instaladas próximos aos polos produtores, essas indústrias lucraram com a redução de despesas com fretes. Sendo assim, o panorama industrial da região é pouco diversificado. A exceção fica por conta de alguns polos produtivos instalados no eixo Brasília-Goiânia, em especial em Anápolis, que concentra empresas do setor farmoquímico e farmacêutico. Nas últimas décadas, o Mato Grosso do Sul foi o estado da região que apresentou maior crescimento econômico. A agricultura, praticada principalmente na porção leste do estado, beneficiou-se da proximidade com os grandes mercados consumidores do Sul e do Sudeste. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicam que somente no estado de Mato Grosso, o crescimento da área plantada de soja foi de 28,7% entre os anos de 2008 e 2011. A expansão dos canaviais para o Centro-Oeste também é fato recente. Os maiores índices de crescimento da produção de cana- de-açúcar são encontrados em Goiás e Mato Grosso do Sul. Além do aumento da área cultivada, destaca-se a instalação de usinas na região, o que fortalece a cadeia agroindustrial sucroalcooleira. A indústria do turismo também tem apresentado rápido crescimento na Região Centro-Oeste. O pantanal é a área mais visitada,embora os parques nacionais da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e das Esmas, no sudeste goiano, também contribuam para Realidade, Étnica, social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil 7 o aumento do número de turistas, atraídos pelas chapadas, cânions, quedas-d’água, cavernas e diversos sítios arqueológicos. No Rio Araguaia, na época da estiagem (junho a setembro), o nível das águas cai formando praias, tornando a região uma atração turística. Cidades históricas como Pirenópolis e Goiás, antiga capital goiana, atraem visitantes pelos sobrados coloniais preservados e pelas igrejas de arquitetura barroca. Em direção ao sul do estado, a cidade de Caldas Novas recebe em média um milhão de turistas por ano, em busca de suas fontes de água quente. Brasília apresenta arquitetura moderna e é considerada Patrimônio da Humanidade. Os centros urbanos: A rede urbana do Centro-Oeste desenvolveu-se de maneira linear, seguindo as rodovias de integração e as ferrovias que ligam à Região Sudeste. Brasília, metrópole nacional, Goiânia, metrópole, assim como Campo Grande e Cuiabá, capitais regionais, situam-se sobre os grandes eixos viários. As cidades que exibem forte crescimento – como Dourados (MS), Rondonópolis (MT) e Anápolis (GO) – estão também situadas nesses eixos. A cidade-capital: Brasília representa um caso especial, entre as grandes cidades brasileiras. Não simplesmente por ser uma cidade planejada: Belo Horizonte, fundada em 1897, e Goiânia, fundada em 1933, constituem outros exemplos de cidades planejadas no Brasil. A singularidade de Brasília reside na finalidade específica que orientou seu planejamento urbano – a criação de uma cidade- capital, condição que determinou a expansão demográfica e econômica da região. O Plano Piloto constitui o cerne da nova capital. É ele que está submetido ao plano urbanístico, com seu rígido sistema de aprovação de plantas destinado a conservar as características originais da cidade. Ideologicamente, esse plano, de autoria de Lúcio Costa, vinculava-se à tradição de pensamento urbanístico do francês Le Corbusier e da escola arquitetônica da Carta de Atenas, cujos princípios remontam ao IV Congresso de Arquitetura Moderna, realizado em 1933. A cidade deveria ser, a um só tempo, funcional e harmônica: uma engrenagem de residências, consumo e trabalho. Para isso, os planejadores deveriam dispor da capacidade de organizar o espaço de forma absoluta, excluindo as incertezas e os conflitos inerentes ao desenvolvimento espontâneo das aglomerações urbanas. A ordem seria um produto da autoridade e do saber urbanístico. A base espacial do plano urbanístico reside na segregação funcional. No interior do Plano Piloto, definiram-se as áreas reservadas às diferentes funções urbanas – administração pública, residências, comércio local e central, etc. Um eixo viário retilíneo, chamado Eixo Monumental, foi implantado e reservado aos palácios e edifícios destinados aos órgãos de poder político, à administração e às embaixadas. Esse eixo é cortado por um outro, arqueado, chamado Eixo Rodoviário, destinado à circulação expressa. Com 13 quilômetros de extensão e cinco pistas sem cruzamentos, ele separa a circulação municipal da circulação local. Juntos, os dois eixos têm o formato de asas de avião. Ao longo do Eixo Rodoviário alinham-se as superquadras, destinadas à moradia. Nessas áreas encontram-se escolas, igrejas e espaços de comércio local. Esses serviços localizam-se no interior dos conjuntos de superquadras, direcionado a circulação de pessoas para dentro e não para as ruas. O comércio de grande 4 Disponível em: http://w3.ufsm.br/engrup/iiengrup/pdf/t30.pdf. porte foi alocado em uma zona separada, no cruzamento entre os dois grandes eixos da cidade. Todo o sistema de zoneamento e circulação da cidade prioriza o automóvel, a circulação expressa. Concebida por Oscar Niemeyer, a arquitetura da capital é coerente com o plano urbanístico, visando reforçar simbolicamente a função de sede dos órgãos de poder político, que constitui a razão de ser de Brasília. A cidade polinucleada: O plano urbanístico não eliminou a clássica estruturação espacial das grandes cidades brasileiras: o contraste entre as áreas centrais reservada às classes médias e às elites, de um lado, e as periferias populares, de outro. No entanto, operou uma transformação radical nesse esquema, abrindo um espaço vazio entre a área central (o Plano Piloto) e a periferia (as cidades- satélite). O elevado preço dos terrenos no Plano Piloto empurrou os mais pobres para os núcleos urbanos satélites, que cresceram como verdadeiras cidades-dormitório. Embora não estivessem formalmente previstas no plano, as cidades-satélite desenvolveram-se para, de certa forma, protege- lo, evitando a concentração da pobreza. Dessa maneira, a capital cresceu como cidade polinucleada: uma única aglomeração urbana dispersa territorialmente em diversos núcleos separados. Esses núcleos são chamados de regiões administrativas, já que a Constituição impede a formação de municípios autônomos no Distrito Federal. A maioria da população ativa que reside nas cidades-satélite trabalha no Plano Piloto e consome horas diárias em deslocamentos entre o local de moradia e o local de emprego. A concentração de recursos financeiros no Plano Piloto – que abriga uma elite de políticos, burocratas da administração pública e diplomatas estrangeiros – dinamiza a economia do Distrito Federal, atraindo migrantes para as cidades-satélite. Assim, o crescimento demográfico dos núcleos urbanos ao redor é muito superior ao da área central: em 1960, o Plano Piloto concentrava cerca de metade da população do Distrito Federal; atualmente essa proporção é inferior a 15%. As mudanças na estrutura produtiva da região Centro-Oeste, como em uma parte considerável das áreas de cerrados no Brasil, ocorreram, primordialmente, por meio da modernização da agricultura e associação da produção agropecuária à indústria, fato que se processou tanto pelo consumo de mercadorias industrializadas no processo produtivo (consumo produtivo), quanto pelo processamento industrial dos produtos agropecuários. 4 A implantação do processo de modernização agrícola e pecuária nas áreas de cerrados ocorreu, sobretudo, a partir da década de 1970, apesar de que no cenário nacional já fazia parte das prioridades políticas para a agropecuária brasileira desde os anos de 1960. A modernização da agricultura enquanto um processo inerente ao sistema capitalista se caracteriza principalmente pela utilização de técnicas modernas de cultivo, marcadas pelo Modernização da agricultura e urbanização do território goiano. 8 Realidade, Étnica, Social, Histórica, Geográfica, cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil emprego de maquinários, insumos químicos e sementes melhoradas na produção de grãos, como a soja, destinados ao mercado externo. Com a modernização, a agricultura passou a fazer parte de uma dinâmica econômica que agrega setores a jusante e a montante da produção agrícola, tornando-se dependente da produção industrial. Para Graziano da Silva (1982), houve, com a modernização ocorrida no campo brasileiro, um processo de “industrialização da agricultura” marcado pela subornação da produção agrícola à indústria e ao capital financeiro. Conforme Graziano da Silva(1982, p. 46), a agricultura deixa gradativamente o seu papel de “mercado de bens de consumo” para cada vez mais assumir a posição de “meios industriais de produção”, quer como consumidora de certos insumos, quer como vendedora de outros. É a isso que chamamos processo de industrialização da agricultura brasileira, num duplo sentido: o da elevação da composição técnica nas suas unidades de produção e o da subordinação do setor aos interesses do capital industrial e financeiro. Esta forma de produção necessita de elevados investimentos em tecnologia, daí a demanda por financiamentos. O Estado associado aos ditames do capital internacional foi o principal agente na inserção de modernização agrícola no país, sobretudo, pela criação dos meios essenciais à expansão desse novo modelo de produção no campo. Conforme explicou Santos (2004, p. 279), “a participação nas condições da modernização tecnológica conduz o aparelho do Estado a uma série de obrigações, seja nas relações com o mundo exterior, seja para estar em condições de responder às novas necessidades da população nacional”. Destaca-se no caso brasileiro a atuação estatal por meio da implantação de equipamentos técnicos como a construção de estradas de rodagens, usinas hidrelétricas e ampliação da eletrificação rural, criação de armazéns de grãos e melhoramento da capacidade estática dos já existentes; ações político- administrativas para amparar, divulgar e desenvolver os novos processos produtivos; liberação de linhas de crédito, subsídios financeiros e também, pelas políticas regionais e municipais específicas. Ressalta-se que as mudanças processadas no campo pela modernização foram acompanhadas de outras tantas nas cidades, no conteúdo do processo de urbanização e na distribuição espacial da população. Ambas em função do novo processo produtivo instalado e das modificações nas relações de trabalho e da intensificação da concentração fundiária. Nas relações sociais de produção destacam-se como principais efeitos, entre outros: a supressão das formas não capitalistas de produção (formas de subsistência); a difusão do trabalho assalariado com baixa absorção de mão-de-obra, sobretudo, da força não especializada; a constituição de novos atores sociais, muitas vezes pela expulsão dos anteriores (trabalhadores rurais, pequenos produtores, parceiros meeiros), pois, os agentes dessa “nova” forma de produção passaram a ser compostos por migrantes sulistas e paulistas com experiência na atividade bem como pelo grande produtor com potencial em conhecimento e capital para investir em empreendimentos que requerem tecnologia e trabalho técnico-científico. Em Goiás, apesar da expansão da produção agropecuária, não produziu ampliação da geração de empregos no campo. Ocorreu o contrário, deixou de gerar empregos diretos no campo. Esta afirmação é verdadeira diante do dado que, em 1970 criava-se um emprego rural, em Goiás, por aproximadamente cada 14,2 hectares de área aberta para lavoura e pastagens, em 1985, precisavam ser abertos 23 hectares para que um único emprego fosse criado e em 1995 passou a ser necessários 35 hectares, (ABREU, 2001, p. 31). Os dados globais do total de pessoas ocupadas em estabelecimentos rurais em Goiás também validam a afirmação anterior. Demonstram, portanto, reduções no período de 1975 a 1995, foram 216.376 pessoas que deixaram de ocupar-se nas atividades agropecuárias, apesar de ter ocorrido elevação do ano de 1975 para o de 1980, período importante da expansão da fronteira agrícola em Goiás com abertura de novas áreas inicialmente com o cultivo de arroz e depois com a inserção da sojicultora. Do censo agropecuário de 1985 para o de 1995 diminuísse o número de trabalhadores nos estabelecimentos rurais na ordem de aproximadamente 23,47 % Houve também mudanças no tipo de mão-de-obra que passou a ser contratada para as atividades agrícolas. Considerável parte dos empregos diretos e indiretos gerada por esta atividade foi para trabalhadores com qualificações específicas como operadores de máquinas, engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas, mecânicos, entre outros. Informações sobre as quantidades de engenheiro agrônomo e médico veterinário existentes em Jataí, em 1980 e em 2003, exemplificam a ocorrência do aumento por mão-de-obra qualificada no processo produtivo que se instalou em diversas partes do campo goiano. Aponta-se também entre os fatores indicados para a compreensão da dinâmica do emprego no campo o fato de que a pecuária, nos dados do censo agropecuário de 1995, continuou sendo a atividade de maior importância em relação ao número de pessoas ocupadas nos estabelecimentos agropecuários segundo os grupos de atividade econômica em toda a região Centro-Oeste, sendo em Goiás na ordem 67,0 % (IBGE, 1995-96; CUNHA, 2002). Outro dado que evidencia a baixa absorção de mão-de-obra e a expulsão de trabalhadores do campo nesse contexto, é a estrutura fundiária. Em Goiás, no período de 1975 a 1995, houve concentração da posse da terra dada pela ampliação da proporção de estabelecimentos com mais de 1000 hectares e do percentual de área ocupado por estes enquanto a área ocupada pelos estabelecimentos menores de mil hectares se manteve e o percentual de estabelecimentos diminuiu, sobretudo nos estratos menores 100 hectares. Os dados e informações analisadas, anteriormente, reforçam a compreensão de que a modernização agrícola foi na verdade uma “modernização conservadora”. Tornam também evidentes que este processo gerou um outro fluxo migratório na fronteira, com sentido rural urbano e urbano-urbano, o qual se expressa no processo de urbanização. A relação campo-cidade nas áreas que se especializaram na produção agrícola passam por modificações que se expressam em conteúdos e formas específicas. O campo tende a não ser, nesses lugares, por excelência o local da moradia permanente dos produtores, dos trabalhadores agrícolas e das suas relações de vizinhança. Torna-se prioritariamente espaço da produção agrícola e agroindustrial. Este fato se manifesta na elevação das taxas dos residentes nas cidades em detrimento do campo. Na região Centro-Oeste o percentual de residentes urbanos era 25,91 % contra 74,09 % residentes no campo, em 1950, enquanto registrava-se uma taxa de urbanização de 36,16 % para o país. Verifica-se que a partir desse período histórico houve uma aceleração dessa taxa na região pois, em 1980 atingiu um percentual de 67,78 %, superior inclusive ao nacional que era de 67,59 % neste mesmo ano (IBGE, 2004). Esse processo se manifestou igualmente em Goiás que passou de um percentual de residentes urbanos de 21,78 %, em 1950, para 62,20 % em 1980 e atingiu 80,81 % em 1991 quando a fronteira já estava consolidada (IBGE, 2004). Conforme analisou Ferreira (1987), o caráter urbanizador da fronteira agrícola modernizada não se restringe às mudanças processadas nas relações de trabalho. Deve-se destacar, além desse aspecto, o papel urbanizador da grande lavoura pelas atividades que estimula a nível local, a Realidade, Étnica, social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil 9 saber: de transporte, de armazenamento, de serviços bancários, de comércio de produção agrícola, implementos e máquinas, de serviços de reposição de máquinas e veículos (FERREIRA, 1987, p. 21). Nesse mesmo sentido, o fato do novo produtor rural ser de uma classe social diferente dos antigos pequenos produtores, leva a que ele resida na cidade mais equipada, próxima às suas terras. Essanova classe possivelmente média e média alta é mercado para comércio mais diversificado e serviços urbanos, além da demanda por moradia que dinamiza a construção civil ou o setor informal, na cidade (FERREIRA, 1987, p. 21). A partir destas considerações de Ferreira (1987), elaboradas com base em estudos sobre Rio Verde (GO) e Ceres (GO), das análises de Santos (1993) e da pesquisa empírica realizada por Melo (2003) em Jataí (GO), (re)afirma-se que cidades localizadas em áreas especializadas na produção agropecuária moderna, mesmo algumas de pequeno porte, são requisitadas para atender as novas demandas que provém das necessidades de consumo para a realização da produção agrícola (consumo produtivo de mercadorias e serviços especializados) e do consumo das famílias (saúde, educação, lazer, informação, equipamentos tecnológicos, entre outros). Sobre este primeiro tipo de consumo – o consumo produtivo rural –, Santos (1993, p. 56) afirmou que este não se adapta às cidades, mas, ao contrário, as adapta. Estas são chamadas a dar respostas particulares às necessidades das produções particulares, e daí a maior diferenciação entre as cidades. Estas se diferenciam cada vez mais pelo fato de o nexo do consumo produtivo ser ligado à necessidade de encontrar, no lugar e na hora, respostas indispensáveis à marcha da produção. Santos (1993, p. 56) complementou as análises sobre a capacidade da produção agrícola moderna modificar ou fazer surgir novos elementos nas cidades afirmando que “hoje, nas áreas mais desenvolvidas, todos os dados da regulação agrícola se fazem no urbano, novidade que em muito muda a significação, neste período, da urbanização brasileira”. Nesses processos descritos por Ferreira (1987) e Santos (1993) ocorre o desenvolvimento de novas formas e conteúdos urbanos e novos atores sociais que se manifestam na paisagem das cidades, nas funções que passam a desempenhar para sua população, para o entorno rural e até mesmo no contexto regional. Expressam-se também por meio da diversificação cultural e inserção de novas práticas e manifestações culturais. As cidades, sobretudo, as denominadas cidades médias, passam a ser palco da difusão dos equipamentos tecnológicos bem como das ideias e da informação que o campo necessita para a produção agrícola. Conforme Santos e Silveira (2001, p. 281), as cidades médias têm como papel o suprimento imediato e próximo da informação requerida pelas atividades agrícolas e desse modo se constituem em intérpretes da técnica e do mundo. Em muitos casos, a atividade urbana acaba sendo claramente especializada, graças às suas relações próximas e necessárias com a produção regional. Estas se tornam, de acordo com Santos e Silveira (2001, p. 281), “pontes entre o global e o local, em vista das crescentes necessidades de intermediação e da demanda também crescente de relações”. Quanto às pequenas cidades, por sua vez, deve-se primeiramente ressaltar que são altamente heterogêneas, mesmo as localizadas em uma região específica apresentam diferenças importantes no que diz respeito a sua dinâmica econômica e funções urbanas. Na análise de Ferreira (1987, p. 23), as pequenas cidades, em áreas de modernização agrícola, pelo fato de que não são atrativas para os investimentos no setor moderno do comércio, das indústrias ou dos serviços, submetidos à lógica da economia de escala, da concentração espacial e das externalidades e, por conseguinte, a uma alta seletividade espacial. Escapam a esses centros urbanos os capitais gerados na região e a produção de bens e de serviços. Ferreira (1987, p. 23) complementa suas análises afirmando que: a expansão do capital no campo se direciona para as vantagens locacionais das atividades agrárias e não para as ligações necessárias ao fluxo do capital. Por outro lado, os lucros da produção agrícola fluem para as grandes cidades: as cidades dos negócios. Não atraindo capitais de fora e não retendo os gerados na região não têm essas cidades condições de se dinamizar. Conforme proposições de Ferreira (1987) a expansão do capital no campo via modernização agrícola não está vinculado às potencialidades de fluxo de capital, portanto, das condições das estruturas urbanas de movimentação de capitais, de produção e circulação de mercadorias e outros geradores de fluxos financeiros. Nesse sentido, a existência de centros urbanos dinâmicos economicamente e próximos a área da produção agrícola, não é condição para tal empreendimento, as vantagens observadas são as que dizem respeito às atividades agrárias. Na condição identificada por Ferreira (1987) encontraria justificativas para os casos de pequenas cidades que mesmo tendo um entorno inserido na produção agrícola moderna, não conseguem se dinamizar economicamente e demograficamente. Dado que por não conseguirem reter a renda gerada, não têm condições de diversificar as suas funções urbanas e ao mesmo tempo não conseguem fazer com que permaneça a população “que nela passa a residir ou que para aí veio em decorrência de um push rural mais do que de um pull urbano” (FERREIRA, 1987, p. 23). No entanto, é também inegável o papel modificador e até criador de estruturas urbanas que o processo de desenvolvimento da produção agrícola moderna desempenha, mesmo em pequenas cidades, conforme casos variados e que envolvem fatores locais específicos. Sobre esta afirmação destaca-se o exemplo do ocorrido em Mimoso, a 100 km de Barreiras, no estado da Bahia. Conforme analisou Lavinas (1987, p. 104), na década de 1980, “a associação de interesses – pequeno capital imobiliário e o capital agro-alimentar – consubstancia a essa estratégia de criação de um novo núcleo urbano com vistas à formação de um novo município dentro de alguns anos, dispondo então de uma estrutura administrativa, financeira e política própria, relativamente independente da interferência das elites tradicionais locais que compõem ainda o quadro político- institucional regional”. Para Corrêa (2004, p.75), as mudanças processadas no campo brasileiro, a partir da segunda metade do século XX, com a inserção da modernização econômica e produtiva, gerou alterações no padrão dos pequenos centros urbanos, “criando pelo menos quatro caminhos ao longo dos quais evoluíram”, sendo: Prósperos lugares centrais em áreas agrícolas nas quais a modernização não afetou radicalmente a estrutura fundiária e o quadro demográfico. Esses centros distribuem produtos para as atividades agrícolas e para a população, que tem nível de demanda relativamente elevado. A prestação de serviços é também importante. Podem, em muitos casos, realizar o beneficiamento da produção agrícola. O oeste catarinense fornece bons exemplos desses lugares centrais. Pequenos centros especializados. A modernização do campo esvaziou a hinterlândia desses centros, mas capitais locais ou de fora foram investidos em atividades industriais, via de regra uma ou duas, que garantem a permanência da pequena cidade que, em alguns casos, pode mesmo crescer econômica e demograficamente. O oeste paulista e o norte paranaense apresentam inúmeras cidades que se enquadram nesse tipo. Pequenos centros transformados em reservatórios de força de trabalho ou que assim nasceram. No primeiro subtipo o esvaziamento do campo gerou a perda de inúmeras funções 10 Realidade, Étnica, Social, Histórica, Geográfica, cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil centrais, resultou em centros habitados por assalariados rurais com emprego temporário. O oeste paulista é rico de exemplos desse subtipo. Osegundo subtipo, que ocorre, por exemplo, na Amazônia oriental, resulta de um processo de concentração da força de trabalho, os “peões”, que é assim confinada em pequenos e pobres lugares. Pequenos centros em áreas econômica e demograficamente esvaziadas por um processo migratório que desequilibra ainda mais uma estrutura etária, afetando ainda a proporção dos sexos. A renda da cidade é em grande parte procedente de emigrantes que mensalmente enviam escassas sobras de recursos aos familiares que permanecem, ou procedente de aposentadorias de trabalhadores agrícolas. A pobreza desses centros, frequentes no Nordeste, contrasta com a prosperidade dos centros do primeiro tipo (CORRÊA, 2004, p. 75-76). Além desses quatro tipos, vários outros são esperados em função das especificidades dos processos espaciais e dada à dimensão e complexidade do território brasileiro e mesmo das áreas de cerrados. Não se pode desprezar ainda o papel das características advindas da formação espacial dos lugares, dos agentes locais, das suas potencialidades políticas e naturais, bem como dos aspectos culturais. Entretanto, nos “caminhos” apontados por Corrêa (1999, 2004) admite-se também a ocorrência de processos de refuncionalização em pequenas cidades as quais podem passar a apresentar especializações para o atendimento das necessidades básicas da produção local. Sobre este aspecto, Santos (1993, p. 52) considera que como o campo se torna extremamente diferenciado pela multiplicidade de objetos geográficos que o formam, pelo fato de que esses objetos geográficos têm um conteúdo informacional cada vez mais distinto (o que se impõe, porque o trabalho no campo é cada vez mais carregado de ciência) tudo isso faz com que a cidade local deixe de ser a cidade no campo e se transforme na cidade do campo. Ou seja, as cidades locais – “aquelas aglomerações capazes de responder às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas, de toda uma população, função esta que implica uma vida de relações” - conforme denominação de Santos (1979, 1993), tendem a se especializar de forma a suprir a demanda básica de seu entorno agrícola, tornando-se “cidades do campo”, as que suas funções se voltem para este fim. Observa-se alguns indícios desse processo (refuncionalização) nos espaços das pequenas cidades de Ipameri e Campo Alegres de Goiás, localizadas no sudeste goiano. Essas cidades dispõem de atividades comercias e de serviços que se voltam ao atendimento das demandas básicas da produção agrícola moderna como loja de peças e máquinas agrícolas, escritórios de assistência técnica, armazéns graneleiros, agroindústria, entre outros. Porém, devido ao alto grau de tecnicização exigido pela produção agrícola moderna, as pequenas cidades não atendem às necessidades mais especializadas, dispõem somente de serviços básicos, o que faz com que seu entorno tenha que recorrer constantemente aos centros comerciais e industriais de porte médio e grande. Observamos também na porção sul do estado de Goiás, municípios que por questões variadas, não se integraram à produção agrícola moderna, tendo a pecuária como principal atividade. As cidades destes municípios não apresentam a mesma vitalidade das pequenas cidades de áreas agrícolas. Como exemplo podemos citar o caso de Cumari (GO), Nova Aurora (GO), Goiandira (GO), Corumbaíba (GO), Davinópolis (GO), e Anhanguera (GO). A agricultura moderna além de gerar demandas de serviços e mercadorias para o consumo produtivo, possibilita a transferência de renda do campo para a cidade, ampliando “o consumo consuntivo”. Isso ocorre pela renda dos trabalhadores agrícolas e dos produtores que inseridos no modo de vida urbano, consomem serviços de lazer (bares, festas, clubes), bens duráveis e investem imóveis na cidade. Esse fator expressa na paisagem das pequenas cidades com a presença de bares (locais dos encontros nos finais de semana), restaurantes, supermercados e clubes de lazer. Porém, não promove, nos pequenos centros urbanos, movimento econômico intenso capaz de atrair, por exemplo, concessionárias de automóveis, redes de revendas de eletrodomésticos, franquias e etc. Podemos concluir, com base nas afirmações de Ferreira (1987, p. 14), que essas cidades locais evoluíram como pontos de ligação entre a produção regional e os mercados extra regionais. Beneficiam-se dessa inserção da região numa divisão espacial do trabalho, mas não se tornaram locais de produção e não acumularam capital. O comércio e os serviços foram sempre as atividades que lhes asseguram o dinamismo. Com a concorrência de outros centros mais equipados e não sendo atrativas para os novos investimentos, não têm condições para servir a região quando ela se moderniza. Tal situação é bastante diferente nas chamadas cidades médias que receberam investimentos públicos e privados e equipamentos diversos, tornando-se centros urbanos de expressão regional, regulando e dando respostas as demandas mais especializadas da economia regional. Ocupação territorial e dinâmicas econômicas: Originalmente, os territórios que hoje compõem a Região Centro-Oeste eram habitados por diversos agrupamentos indígenas, especialmente os bororo. Nos termos do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, essas terras pertenceriam à América espanhola. Entretanto, a partir do século XVI, sucessivas ondas de bandeirantes paulistas se dirigiram para a região com a finalidade de aprisionar e escravizar indígenas, desbravando o interior do Brasil. No final do século XVII, estimulados pela descoberta de ouro em Minas Gerais, os bandeirantes passaram a se aventurar em terras cada vez mais distantes. Subindo o Rio Cuiabá e alcançando o território bororo, os bandeirantes encontraram ouro e iniciaram a conquista do território que atualmente corresponde ao Mato Grosso. Enquanto isso, expedições pelo sertão descobriam minas de ouro no território que hoje compreende o estado de Goiás, onde foi fundada a Vila Boa, embrião da atual cidade de Goiás. Em 1726, Rodrigo César de Meneses, capitão-geral de São Paulo, chegou às minas chamadas de Cuiabá, fundando, no ano seguinte, a Vila Real do Bom Jesus, que já contava com dois portos fluviais. Deles, partiam as expedições que visavam ao apresamento de indígenas no Pantanal. A cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho, foi fundada em 1726 pelo filho do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Em 2001 foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Em 1748, preocupada com a posse dessas terras, a Coroa portuguesa criou a capitania de Mato Grosso, com sede em Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada pelo mineradores às margens do Rio Guaporé. Posteriormente, a sede da capitania foi População goiana: povoamento, movimentos migratórios e densidade demográfica. Realidade, Étnica, social, Histórica, Geográfica, Cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil 11 transferida para a Vila de Cuiabá. A Capitania de Goiás, com sede em Vila Bela, também foi criada em 1748. Em 1750, a assinatura do Tratado de Madri entre Portugal e Espanha legalizou a posse efetiva da região pelos portugueses. Porém, com a anulação desse tratado, ocorrida em 1761, a Coroa portuguesa passou a implantar uma rede de fortificações para garantir a posse da margem direta do Rio Guaporé: o Forte de Conceição foi erguido em 1762 e o Forte de Príncipe da Beira, em 1776. O Tratado de Santo Idelfonso, firmado pelas coroas ibéricas em 1777, finalmente ratificou a soberania portuguesa sobre oterritório das duas capitanias ocidentais. A partir de então, o povoamento luso-brasileiro passou a avançar na direção do Rio Tocantins, dizimando os índios caiapó de Goiás, os xavante do Araguaia e, mais tarde, os canoeiro do Tocantins. Do século XIX em diante, com o declínio da mineração, as províncias de Mato Grosso e de Goiás conheceram um longo período de decadência econômica e de isolamento. Apenas as atividades agrícolas de subsistência, como a extração da borracha, a criação de gado e a exploração de erva-mate, sobreviveram na região. A ocupação moderna do Centro-Oeste: Ao longo do século XX, porém, o isolamento da região foi sendo vencido gradativamente com a transformação dos estados do Centro-Oeste em área de atração populacional. A inauguração de Goiânia, em 1936, a Marcha para o Oeste, iniciada por Getúlio Vargas na década de 1940, a construção de Brasília, assim como as políticas de integração nacional consolidadas pela ditadura militar na década de 1970, incentivaram a migração para o Centro-Oeste, contribuindo para acelerar o povoamento da região. No início do século XX, a abertura da Estrada de Ferro Noroeste Brasil (Bauru-Corumbá) ajudou a intensificar os fluxos entre o Sudeste e o Centro-Oeste. A ferrovia abriu a fronteira para a pecuária do Mato Grosso, permitindo o transporte do gado vivo até os frigoríficos de São Paulo e do Rio de Janeiro. A partir da década de 1960, rodovias como a Belém-Brasília, a Cuiabá-Porto Velho e a Brasília-Acre transformaram-se em plataforma para a conquista da Amazônia. Em 1977 o estado de Mato Grosso foi desmembrado, e dois anos depois oficializou-se a criação do estado de Mato Grosso do Sul. Goiás, por sua vez, foi desmembrado em 1998, quando se criou o estado de Tocantins, que atualmente pertence à Região Norte. Em ambos os casos, as justificativas utilizadas para o desmembramento foram a grande extensão desses estados, as dificuldades de planejamento e de administração. (Goiânia, capital e cidade mais populosa de Goiás) 5 Wagner de Cerqueira e Francisco. Disponível em: http://alunosonline.uol.com.br/geografia/populacao-goias.html. Acesso em: Março/2016. A população de Goiás é composta por 6.003.788 habitantes, conforme dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse contingente populacional, o maior do Centro-Oeste e o décimo segundo do país, corresponde a aproximadamente 3,15% da população atual do Brasil. A densidade demográfica, também conhecida como população relativa, é de 17,6 habitantes por quilômetro quadrado, portanto, o estado possui vazios demográficos. A taxa de crescimento demográfico é de 1,8% ao ano, impulsionada pelo crescimento vegetativo e pelo intenso fluxo migratório com destino ao estado. De acordo com dados do IBGE, cerca de 25% da população de Goiás é formada por imigrantes, ou seja, pessoas oriundas de outros estados. Esse fluxo migratório é resultado de algumas políticas públicas para ocupação da porção oeste do território brasileiro, fato que se intensificou a partir da década de 1950. A construção de Goiânia, capital de Goiás, e de Brasília, capital Federal, atraiu pessoas de diferentes partes do país, em especial de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí. A expansão da fronteira agrícola e o desenvolvimento econômico registrado em Goiás também contribuíram para esse processo. Seguindo uma tendência nacional, a população urbana é maioria em Goiás (90%). Goiânia é a cidade mais populosa, com 1.302.001 habitantes. Existem outros 245 municípios, sendo que os mais populosos são: Aparecida de Goiânia (455.657), Anápolis (334.613), Rio Verde (176.424), Luziânia (174.531) e Águas Lindas de Goiás (159.378). No aspecto social, a população de Goiás enfrenta alguns problemas, como, por exemplo, o déficit nos serviços de saneamento ambiental: menos de 50% têm acesso à rede de esgoto. A taxa de mortalidade infantil é de 18,3 óbitos a cada mil nascidos vivos, abaixo da média nacional, que é de 22. Goiás ocupa 9° lugar no ranking nacional de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 5 Goiás é uma das unidades federativas que integram a região Centro-Oeste. Sua extensão territorial é de 340.103,467 quilômetros quadrados, correspondendo a 4% do território nacional. Conforme contagem populacional realizada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população totaliza 6.003.788 habitantes, distribuídos em 246 municípios, sendo o estado mais populoso do Centro-Oeste. O crescimento demográfico é de 1,8% ao ano e a densidade demográfica é de 17,6 habitantes por quilômetro quadrado. O povoamento do estado de Goiás intensificou-se em decorrência de uma série de políticas públicas para a ocupação e desenvolvimento econômico da porção oeste do território brasileiro, a chamada Marcha para o Oeste. Houve a expansão da fronteira agrícola e maiores investimentos em infraestrutura no estado, além da construção da nova capital, Goiânia, e da capital Federal, Brasília. Fatos estes que desencadearam grandes fluxos migratórios para Goiás. Como resultado dessa política de incentivo à ocupação do oeste brasileiro, a população de Goiás teve um aumento significativo, principalmente após o ano de 1950. Neste, segundo dados do IBGE, havia 1.010.880 habitantes no estado, população 12 Realidade, Étnica, Social, Histórica, Geográfica, cultural, Política e Econômica do Estado de Goiás e do Brasil essa que atingiu, conforme dados do mesmo instituto, 6.003.788 habitantes em 2010. Além do crescimento demográfico da população goiana, sendo que pessoas de vários locais do país foram grandes responsáveis por tal ocorrência. Segundo dados do IBGE, aproximadamente 25% da população de Goiás é composta por imigrantes, vindos principalmente, dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Maranhão, Bahia, Piauí, como também do Distrito Federal. A composição étnica da população goiana é a seguinte: Pardos: 50,9%. Brancos: 43,6%. Negros: 5,3% Indígenas: 0,2%. Goiânia, a capital de Goiás, é a cidade mais populosa do estado, sua extensão territorial é de aproximadamente 733 quilômetros quadrados, e possui 1.302.001 habitantes. Outras cidades populosas do estado são: Aparecida de Goiânia (455.657), Anápolis (334.613), Rio Verde (176.424), Luziânia (174.531), Águas Lindas de Goiás (159.378), Valparaíso de Goiás (132.982), Trindade (104.488), Formosa (100.085), Itumbiara (92.883). A expectativa de vida da população goiana é de 72 anos; A taxa de mortalidade infantil é de 18,3 óbitos a cada mil nascidos vivos. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) estadual é de 0,800, ocupando o 9° lugar no ranking nacional e o analfabetismo atinge 8,6% da população. No que se refere à rede de esgoto, a mesma alcança menos da metade das habitações. 6 Povo Goiano: Povos do passado e do presente se reuniram na formação do gentílico goiano. Seguindo a tendência do resto do país, na mistura de povos indígenas, africanos e europeus, mais tarde dos imigrantes e migrantes vindos de todas as partes do globo, Goiás reinventa a cada dia sua identidade. É um povo misturado, com fortes traços do sertanejo original e que contribuíram, cada qual a seu modo, na caracterização desse povo goiano. Goianos e Goianienses:
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