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Aula 4

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Aula 4 – O Instituído e o Instituinte nas Escolas do Ensino Básico: Problematizando o Currículo
Olá! Você já deve ter percebido durante a seus estudos acadêmicos que as sociedades humanas são singulares e possuem uma historicidade, não é? Estas são instituídas, ou seja, ao longo dos anos passaram por um processo de construção de diversos hábitos, conceitos e instituições, como linguagens, discursos, costumes e valores, estabelecidos por um coletivo anônimo, um imaginário social, dessa forma o instituído, conceito que será trabalhado ao longo desta aula, refere-se ao que já está na sociedade: o legitimado. Já o instituinte é a possibilidade do novo. Segundo Castoriadis, “Enquanto instituinte e enquanto instituída, a sociedade é intrinsecamente história – ou seja, auto alteração. A sociedade instituída não se opõe à sociedade instituinte como um produto morto a uma atividade que o originou; ela representa a fixidez/estabilidade relativa e transitória das formas-figuras instituídas em e pelas quais somente o imaginário radical pode ser e se fazer ser como social-histórico.”.
O que é hoje visto como instituinte, amanhã pode ser o instituído, surgindo um novo instituinte? Vejamos:
Instituído ( Atua por meio da tradição e de hegemonias dominantes presentes no Estado e através de outras instituições como a religião, o direito, a clínica e a escola, por exemplo.
Instituinte ( Esses pensamentos hegemônicos atuam fortemente, contudo, ao mesmo tempo a sociedade também possui um polo instituinte, ou, determinante, que interage com o instituído por meio da elaboração de significados diferenciados, de discursos, ações, subversões da ordem dos pequenos poderes.
Esse polo é originado pela experiência dos sujeitos, por suas estruturas emocionais ou por sua consciência, influenciando a sociedade e a cultura a fim de mantê-la nos padrões vigentes ou alterá-la. Ambos, instituído e instituinte, interagem a partir de uma relação de permanente dialética.
Como vimos, a escola é uma dessas instituições da sociedade e, como tal, também tem e constrói os seus saberes. Então, partindo dessas referências, vamos analisar relações entre o “instituído” e o “instituinte” na educação brasileira?
Educação ( Usaremos o entendimento de Libâneo tem sobre esses conceitos, aplicados à educação: instituídos e instituinte.
Instituído ( Conjunto de normas legais para a organização da estrutura escolar determinada pelos órgãos oficiais e vigentes para a educação básica.
Instituinte ( Se refere à organização da escola criada pelos próprios membros da instituição no seu cotidiano.
Vamos agora fazer uma breve visita à história da educação no Brasil para observamos como as normas e leis na escola brasileira foram instituídas, isso o ajudará a perceber que o que está observando ao longo da prática de estágio está inserido em um contexto muito mais amplo e dinâmico. Isso também nos ajudará a conhecer o processo histórico social de elaboração das políticas públicas em educação no Brasil. Lembre-se de que o objetivo dessa aula não é esgotar esse assunto, visto que ele é tratado nas disciplinas História da educação no Brasil e Políticas públicas.
A Colonização e a Educação no Brasil
Durante o período colonial, a educação institucionalizada e oficial no Brasil era responsabilidade dos jesuítas. Nos primeiros anos da Companhia de Jesus voltou-se para a catequese e o ensino de ler e escrever para índios e filhos dos colonos que dividiam, por vezes, o mesmo espaço pedagógico chamado de colégios. Os colégios da Companhia de Jesus tinham uma função que iam além do próprio ensino formal, pois também possuíam um objetivo religioso, qualquer comportamento desviante da moral cristão deveria ser identificado e corrigido. Caso fosse necessário, castigos e punições eram aplicados. Os conteúdos e métodos utilizados pela companhia, a partir de 1570, estavam contidos em um documento chamado Ratio Studiorum, portanto, o currículo formal dos colégios, definido pelo Ratio era composto de: Gramática média; a Gramática superior; as Humanidades; a Retórica; a Filosofia e a Teologia, em um estágio mais avançado. Entre 1549 e 1570 o ensino foi pautado pelo plano de instrução elaborado pelo Padre Manuel da Nóbrega.
Na primeira metade do século XVIII, Portugal foi administrado pelo Marquês de Pombal que, inspirado em ideias iluministas, determinou diversas reformas educacionais que repercutiram no Brasil.
Ensino Estatal ( O ministro retirou o poder educacional da Igreja e colocou-o nas mãos do Estado, criando assim um ensino Estatal, executado através das aulas régias.
Aulas Régias ( Porém, mesmo após a expulsão dos jesuítas, em 1759, e a instauração das aulas régias, a situação não mudou, permanecendo um grande número de analfabetos, pois o ensino continuou enciclopédico, com objetivos literários e com métodos pedagógicos autoritários e disciplinares. Na verdade, muitos pesquisadores defendem que as reformas pombalinas causaram uma queda no nível do ensino. Pombal, através do alvará de 28 de junho de 1759, suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, introduzindo, posteriormente, as aulas régias de latim, grego e retórica. Cada aula régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não se articulava com as outras.
Objetivos das Reformas Educacionais ( As reformas educacionais de Pombal visavam a três objetivos principais: trazer a educação para o controle do Estado, secularizar a educação e padronizar o currículo. Se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado.
Subsídio Literário ( As reformas educacionais de Pombal visavam a três objetivos principais: trazer a educação para o controle do Estado, secularizar a educação e padronizar o currículo. Se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado.
Um novo modo educacional, público foi implantado com a Reforma Pombalina, visando diversificar o conteúdo, incluir a versão científica e torná-lo mais prático, contudo não havia currículo, no sentido de um conjunto de estudos ordenados e hierarquizados, nem uma duração prefixada se condicionava ao desenvolvimento de qualquer matéria. Cada aula régia constituía uma unidade de ensino, com um único professor, para uma determinada disciplina. Era autônoma e isolada, pois não se articulava com outras e nem pertencia a uma escola. O aluno se matriculava em tantas aulas quantas desejasse. Uma outra fase começa com a transferência da Corte no chamado período joanino onde, o Brasil, como sede do Império português, precisou criar os primeiros cursos superiores como a Academia Real da Marinha e a Academia Real Militar, por exemplo, o que abriu espaços para a circulação de novas ideias. O príncipe regente D. João VI preocupou-se em criar algumas escolas de ensino superior, visando atender às necessidades de instrução dos filhos da nobreza e da aristocracia brasileira.
A Educação após a Independência
A partir da Independência em 1822 foi preciso pensar em uma Constituição para o Brasil. A Constituição é um conjunto de leis que estabelece as principais regras e normas jurídicas, políticas, econômicas e sociais de um país, dentre elas as da educação. Entretanto, na constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, encontramos apenas o seguinte trecho que trata sobre o assunto: “Artigo 179 final: XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos. XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras, e Artes.”.
Observa-se assim a pouca importância dada ao tema, restrito a uma parcela elitizada da população. A Carta estabelecia a gratuidade do ensino primário, entretanto, não especificava as condições para que essa ação se concretizasse. Não é de se estranhar que as taxas de analfabetismo fossem ainda bastante elevadas. A determinação legal da gratuidade da instruçãoelementar não significou, de imediato, investimentos e estruturas suficientes em termos de espaços físicos adequados, professores bem formados, métodos e materiais didáticos. Só com a lei de outubro de 1827 que a instalação das escolas primárias se tornou obrigatória em todas as vilas, cidades e lugares mais populosos do Império, mas a educação não era obrigatória. Por vezes havia escolas, mas não havia aulas. Você já ouviu falar sobre essa situação na atualidade? Pois é lamentavelmente percebemos que existem mudanças, mas algumas permanências desagradáveis ao longo do processo histórico.
A educação sofreu uma pequena mudança na década de 1830, devido a uma reforma na constituição. No Ato Adicional de 1834 foi definido que o ensino elementar, o secundário e a formação de professores seriam de responsabilidade das províncias, e o ensino superior ficaria sob o encargo do poder central. Em 1837 ainda houve a criação do Colégio Pedro II, pelo Regente Araújo Lima. Essa instituição foi criada com o objetivo de se estabelecer um padrão de ensino secundário para atender aos interesses dos filhos daqueles que faziam parte da elite intelectual do país, sendo o único autorizado, segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha, “a realizar exames parcelados para conferir grau de bacharel, indispensável para o acesso aos cursos superiores”. Não podemos esquecer que, de acordo com Francisco Iglésias: “É na Regência que se assiste ao primeiro esforço ou interesse pela historiografia, de real eficácia, com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, de papel importante na vida intelectual, então e depois.”.
Durante o Segundo Reinado, apesar dos debates e da posição favorável por parte do Imperador D. Pedro II, não há muitos avanços em relação à temática educacional, sobretudo no que se relaciona às universidades. Na verdade, o governo central só criaria a primeira universidade brasileira pública em 1920, no Rio de Janeiro, com a fusão dos cursos de Medicina, Engenharia e Direito. Cabe destacar, contudo, que a formação de professores passou a ser uma preocupação do estado, com a criação das primeiras escolas normais no país. Acreditava-se que a instrução elementar seria capaz de promover a disseminação de certas práticas sociais e sentimentos (morais e nacionalistas) que garantiriam a unidade e a elevação do país a estágios civilizatórios mais avançados. O professor exerceria o papel de agente público, formado pelo estado, encarregado de instruir e moralizar difundindo princípios de “ordem” e uma determinada visão de mundo da classe dominante.
A Educação no Período Republicano
A República proclamada em 1889 mudou o regime político no país e, como decorrência, exigiu a elaboração de outro texto constitucional que correspondesse aos novos tempos. Vamos conhecer um pouco mais sobre a Carta Magna de 1891. Art. 35 - Incumbe, outrossim, ao Congresso, mas não privativamente: 
1º) velar na guarda da Constituição e das leis e providenciar sobre as necessidades de caráter federal; 
2º) animar no País o desenvolvimento das letras, artes e ciências, bem como a imigração, a agricultura, a indústria e comércio, sem privilégios que tolham a ação dos Governos locais; 
3º) criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados; 
4º) prover a instrução secundária no Distrito Federal.
A partir do início do século XX, longos debates entre educadores e um movimento social cresceu na sociedade brasileira, exigindo reformas no país, inclusive no campo educacional. 
Principalmente a partir dos anos de 1920, a criação do Ministério da Educação é um exemplo das mudanças resultantes da pressão do movimento conhecido como Escola Nova. 
Em 1924 a Associação Brasileira de Educação – ABE, fundada por Heitor Lira, buscou promover os primeiros grandes debates sobre a educação em nosso País. 
A partir de 1930, quando Getúlio Vargas assume o governo, funda o Ministério da Educação e Saúde. 
Em 1931, através de um decreto, foi criado ainda o Conselho Nacional de Educação, com o objetivo de criar um plano nacional de educação. O ministro Francisco Campos dá início a uma série de reformas, tendo como princípio a unificação do sistema de ensino organizado a partir de um sistema nacional, pois até esse período, o que vigorava eram os sistemas estaduais, muitas vezes, sem articulação o sistema central. Cabe destacar que para o cenário econômico destinado à educação passaria a ter uma importância estratégica. 
Em 1932, alguns intelectuais brasileiros, como Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Cecília Meirelhes e Anísio Teixeira, dentre outros, assinaram o "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova". Dentre as principais aspirações deste documento estão: a necessidade de uma escola pública, obrigatória e laica gratuita. A pedagogia tradicional foi duramente criticada diante da exigência do mundo em transformação. Na verdade, manifesto dos Pioneiros sofreu grande influência de um movimento que surgiu nos Estados Unidos denominado Escola Nova. 
A constituição de 1934 e o manifesto de 1932 desenvolveram pela primeira vez um caminho concreto para uma política educacional brasileira. Contudo, a constituição de 1934 durou pouco e foi substituída pela de 1937, imposta por Vargas. Na década de 1920 havia universidades, como a do Rio de Janeiro (1920) e a Universidade Federal de Minas Gerais (1927) que eram agregação de faculdades. Em 1934, surgiu a USP. 
Em 1942, o ministro Gustavo Capanema incentivou novas leis de reforma do Ensino, que ficaram conhecidas como "Reforma Capanema". Nesse ano surgiram a Lei Orgânica do Ensino Industrial e a Lei Orgânica do Ensino Secundário, além de ter sido fundado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. 
Em 1943 foi aprovada a Lei Orgânica do Ensino Comercial. 
Em 1946, foram aprovadas a Lei Orgânica do Ensino Primário e Normal e a Lei Orgânica do Ensino Agrícola. O Ensino Secundário foi dividido em três modalidades: Clássico, Científico e Normal. Com o fim do Estado Novo, surgiu a Constituição de 1946, que determinava a gratuidade para o Ensino Primário. 
Em 1948 também surgiu a discussão para uma primeira Lei de Diretrizes Básicas, a partir da proposta do deputado Clemente Mariani. 
Entre os anos de 1945 e 1964, durante os chamados governos populistas, o país viveu um período de experiência democrática, o que permitiu algum o desenvolvimento de algumas campanhas para a educação.
Após treze longos anos de debates entre escolanovistas e católicos tradicionalistas, além do "Manifesto dos Educadores Mais Uma Vez Convocados" (1959), foi aprovada a Lei nº 4.024/61, que instigou o desencadeamento de vários debates acerca do tema. Destacamos que, por meio da Constituição de 1946, a educação aparece como “um direito de todos”, princípio que fora omitido na Constituição de 1937. Com o advento do regime militar, houve um aumento do autoritarismo, marcado na área da educação com o fechamento de organizações estudantis como a UNE - União Nacional dos Estudantes em 1967, consideradas "subversivas". Em 1969 foi tornado obrigatório o ensino de Educação Moral e Cívica em todos os graus de ensino, sendo que no ensino secundário era chamado de Organização Social e Política Brasileira (OSPB). A partir do Decreto 68.908/71 foi criado o "Vestibular Classificatório", garantindo a vaga nas universidades apenas até o preenchimento das vagas existentes. Tentando dar à Educação contornos tecnicistas, para atender fundamentalmente ao mercado de trabalho, o Brasil assinaria em 1964 os acordos MEC-Usaid (Ministério da Educação e Cultura e United States Agency for International Development). Será que a educação deve servir apenas para atender ao mercado de trabalho?
A Lei de Diretrizes e Bases de 1961 não foi revogada, mas modificada com a Lei 5.540/68. O Mobral foi criado em 1967, objetivando diminuir os níveis de analfabetismo entre os adultos. Uma reforma do Ensino Fundamental e Médio foi feita durante o Governo Médici, com a Lei 5.692/71. Foram integrados o primário, ginásio, secundário e técnico.Disciplinas como Filosofia (no 2º grau) desapareceram e outras foram unidas, como História e Geografia, que dariam origem no 1º grau aos chamados Estudos Sociais. Se hoje fala-se tanto em interdisciplinaridade, qual é o problema de união de duas disciplinas? Por que a criação da disciplina Estudos Sociais foi tão criticada? Lembre-se de que nosso objetivo é instigar a reflexão. Não estamos concordando necessariamente com o questionamento ao levantarmos tal pergunta. Assista, a seguir, ao vídeo sobre história da educação no Brasil.
A Educação Hoje: O Saber Instituído
Na atualidade, a forma de organizar a escola brasileira - o saber instituído - está fundamentada na legislação educacional para a Educação Básica. Nesses documentos legais observam-se princípios comuns, entre eles, para a educação básica, calcados “na ética, na autonomia, na responsabilidade, na solidariedade, no respeito ao bem comum; nos princípios políticos dos direitos e deveres da cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática; nos princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais” (PRINCÍPIOS BÁSICOS DAS DCNS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA). Vimos como essas normas foram instituídas através da através da história educacional brasileira. Agora precisamos refletir sobre o que é um currículo (Refletir sobre o currículo é fundamental, pois ele está diretamente relacionado ao que será ensinado em sala de aula, ou seja: nele se corporificavam as diversas ações do processo de ensino-aprendizagem. Discutir currículo é, portanto, discutir a ação educativa. Refletir sobre o currículo implica analisar criticamente cada ação que constitui o “educar”.).
Os professores têm um papel importante no processo curricular por estarem, muitas vezes, em suas mãos as diferentes decisões e ações que se constituem os atos de currículo. Se analisarmos as práticas escolares ao longo do tempo, podemos constatar que as respostas a essas questões podem variar, pois, de acordo com os diferentes contextos, tempos, atores e espaços, o currículo assume papéis e significações também diferentes. Diferentes fatores socioeconômicos, políticos e culturais contribuem para que o currículo seja entendido como: 
os conteúdos a serem ensinados e aprendidos;
as experiências de aprendizagem escolares a serem vividas pelos alunos;
os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e sistemas educacionais;
os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino;
os processos de avaliação que terminam por influir nos conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização
Os estudos sobre currículo não se pautam em uma única teoria do currículo, mas em “teorias do currículo”, pois nos diferentes discursos ou teorias sobre o assunto estão implicadas diferentes concepções de indivíduo, sociedade e cultura. Apesar de esse estágio não ser voltado diretamente para a prática docente, é importante saber que os professores participam da construção do currículo quando: selecionam os conteúdos que serão abordados, definem abordagens com especificidades históricas e ideológicas, planejam e avaliam, por exemplo.  Desta forma, o currículo se configura a partir da forma como se concebe a sociedade, os alunos, os conhecimentos, a cultura, o processo de ensino-aprendizagem, os métodos, a avaliação.  Ele não se restringe a um domínio técnico-metodológico. O que se ensina e como se ensina, a forma como o processo de ensino-aprendizagem é entendido e mediado, o que, como e por que se avalia são fatores que determinarão o que serão os alunos. Se o conhecimento, que constitui o currículo, não é neutro, então este assume uma importância vital na constituição dos sujeitos e de suas subjetividades. Vamos ver o currículo transitar por diferentes enfoques, cada qual imprimindo a ele sentidos diferentes.
É fundamental, portanto, entender que o currículo tem sentidos que são complexos e envolvem posicionamentos ideológicos e políticos, além de constituir-se como artefato social e cultural, determinado social e historicamente, cujos protagonistas são os professores, que têm em suas mãos o pensar e o fazer educação, a práxis pedagógica. Neste sentido, os currículos instituídos são a todo o momento modificado pelos currículos pensados e praticados, instituindo outras maneiras de ser e estar na escola.
Muito bem, então o estágio é o momento inicial para que possa começar a perceber as diferenças entre o dito (escrito) e o feito. Ao iniciar a sua pesquisa, você encontrará as pistas de como os currículos são pensados, praticados, observando a organização administrativo-pedagógica da sua escola; a existência de espaços democráticos de deliberações; formação continuada de professores; participação de alunos em órgãos decisórios; discussão e (re)organização curricular permanente; integração entre escola e comunidade; avaliação de resultados e medidas com vistas à melhoria do padrão de ensino aprendizagem, entre outras questões que evidenciam como a escola, a partir de suas propostas e ações, ocupa um espaço de autonomia. Essas pistas irão ajudar na sua formação, pois está é uma das fases mais importantes de sua pesquisa, uma vez que reflete a prática de sua formação profissional. Então, mãos à obra, vá a campo, estude os documentos da escola, leia o Projeto Político-pedagógico que será tema de nossa sétima aula e veja as normas seguidas pela instituição na qual você está inserido.
Converse com os professores e veja as diversas outras formas de currículos praticados por eles, dos currículos vivos, dos jeitos e adaptações que fazem para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra naquela comunidade educativa, veja o poder instituinte praticado por esses educadores, desta maneira você iniciará a sua formação como professor reflexivo da sua prática docente, que irá ocorrer de forma continuada no exercício do magistério. É o início de uma bela viagem, por vezes calma, outras tortuosas, cheia de armadilhas, mas que nos impele a ir, pois como nos fala o escritor e biólogo moçambicano Mia Couto: “O que nos leva à errância quando bem podíamos ficar quietos? Essa pergunta suscita outras perguntas. Algumas delas próximas da minha área de saber: Está o desejo da viajem inscrito nos nossos genes? Faz parte da nossa natureza? Acredito que a essência do Homem é não ter essência. Por isso, quando nos interrogamos sobre o gosto de deambular, as respostas devem ser encontradas na nossa história. É nesse terreno que entendemos o nosso tão antigo apetite pela viagem (...). No início- da humanidade- , viajávamos porque líamos e escutávamos, deambulando em barcos de papel, em asas feitas de antigas vozes. Hoje viajamos para sermos escritos, para sermos palavras de um texto maior que é a nossa própria Vida.”.
Nós somos instituídos e ao caminhar, buscar, aperfeiçoar, compreender o mundo que nos cerca, lendo-o nas estrelinhas dos cotidianos, seja escolar ou vivencial, temos a necessidade de tornarmo-nos instituidores de uma nova forma de ser e estar no mundo que acabamos de conhecer, ou melhor, tecer.
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