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Desafios da Orientação Educacional no Contexto Escolar

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A Orientação Educacional e os desafios presentes no contexto escolar: A Orientação Educacional, no contexto escolar, não pode ser compreendida de forma isolada, tendo sua organização e desenvolvimento atrelado a diversos fenômenos e aspectos presentes no cotidiano escolar e, até mesmo, no contexto social. Assim, podemos destacar como um desses aspectos, a globalização como marco de mudança política e cultural mundial, possibilitando novas posturas quanto ao acesso à informação e transformações na sociedade e nas instituições.
GLOBALIZAÇÃO: “Processo de integração entre as economias e sociedades dos vários países, no que se refere à produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e à difusão de informações”.[1: In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: o dicionário da língua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2008, p.266]
As transformações na sociedade e nas instituições acabam gerando novas questões no interior da escola, influenciando o seu cotidiano como: intolerância, violência, diferenças e desigualdades, que necessitam de um olhar atencioso da Orientação Educacional. É verdade que essas questões durante muito tempo ficaram veladas na escola, cabendo apenas ao aluno o ajuste às normas preestabelecidas pela mesma. Hoje, compete à escola um tratamento dessas questões de forma mais critica, possibilitando ao aluno a construção de sua identidade numa cultura democrática e de paz. Destacamos, então, que a ação da Orientação Educacional deve ser de forma contextualizada quanto ao aspecto cultural, ou seja, é necessária a compreensão da realidade cultural brasileira. A realidade cultural do país é um aspecto importante para a compreensão da própria realidade social e histórica, já que a Educação possui como um dos seus objetivos a conservação e a transmissão do patrimônio cultural. 
Sendo assim, a Orientação Educacional tem a função de promover o resgate cultural em toda a sua complexidade, ou seja, características, diferenças, hábitos, normas e valores, promovendo um ambiente propício para a realização de ações que fortalecem a compreensão e o respeito à diversidade cultural presente no espaço escolar na atualidade. Percebe-se que o termo cultura possui significado variado, alterando-se conforme seu emprego em determinado tempo histórico.  Segundo o dicionário Aurélio (2008), cultura pode ser definida como: “1. Ato, efeito ou modo de cultivar. 2. O complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas,  intelectuais, etc., transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade. 3. O conjunto dos conhecimentos adquiridos em determinado campo...”(p. 172). Nesse sentido, verificamos que no espaço escolar a questão cultural está muito presente nas relações interpessoais, pois é um campo que se cruzam e se chocam padrões de comportamento, crenças e conhecimentos diferenciados, gerando, às vezes, atos de intolerância e violência.[2: Cultura: “Provém do verbo latino colere e significa o ato, modo ou efeito de cuidar, tomar conta”. ]
A diversidade cultural e outras questões presentes na escola: Segundo Grinspun (2006), proporcionar o debate e a reflexão sobre a questão cultural poderá auxiliar o aluno no desvelamento de sua história cultural e social a partir do desenvolvimento de projetos, pesquisas e planos de ação que promovam o conhecimento e a reflexão sobre a cultura da comunidade escolar. Assim, mediante o envolvimento do aluno com a sua própria cultura desencadeará a compreensão dos valores e tradições, como também o desenvolvimento da visão da realidade que está em seu entorno. Percebemos a necessidade de a escola possuir uma proposta política pedagógica que contemple e valorize o aspecto cultural, sendo eixo norteador de um currículo. 
“A cultura é tudo aquilo que complementa a atividade escolar, do mesmo modo que é tudo aquilo em que se baseia o currículo da escola, portanto, para todos, inclusive, é claro, para a Orientação, ela é imprescindível, como fonte e origem, como fruto e produção.” (GRINSPUM, 2006, p. 72). O orientador será o mediador da compreensão e resgate da questão cultural no seio da instituição de ensino a partir do diálogo com os membros da comunidade escolar. Com essa ação, é possível que, também, sejam tratadas outras temáticas que de certa forma estão associadas ao aspecto cultural, pois dependem muito dos valores e padrões de comportamentos construídos por cada indivíduo. Uma dessas temáticas que podemos assinalar é o nosso modo de olhar e interpretar o mundo e a realidade que estamos inseridos.  Geralmente, o indivíduo desenvolve um olhar etnocêntrico sobre os fenômenos e as coisas, tendo o próprio padrão cultural como referencial para avaliação dos comportamentos e fenômenos alheios. É na perspectiva desse olhar etnocêntrico que muitas vezes eclodem conflitos no cotidiano escolar, já que atitudes de intolerância em relação ao outro geram também atitudes de reprodução de desigualdades e de violência de forma implícita e explícita. A escola, então, torna-se um espaço no qual forças variadas encontram-se e desencontram-se carecendo de estratégias para uma coexistência democrática.
ETNOCENTRISMO: “Tendência a considerar as normas e valores da própria sociedade ou cultura como critério de avaliação de todas as demais”.[3: In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: o dicionário da língua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2008, p.234]
A promoção de uma educação pautada no desenvolvimento da cidadania exige também o reconhecimento que a comunidade escolar é plural e diversificada, sendo necessário a oferta de oportunidades igualmente para todos os alunos e o rompimento com a prática de reprodução da diferença e desigualdade social. Segundo Grinspun (2006), compete aos sistemas de ensino o estímulo do exercício da cidadania, preocupando-se com a formação de sujeitos participativos e conscientes de seu papel na formação e transformação da sociedade. Logo, surge a concepção e desenvolvimento de um currículo que englobe conhecimentos ligados ao campo racional, mas também sentimentos e valores ligados ao campo emocional. A formação do indivíduo de forma integral com base numa educação inclusiva com princípios democráticos e de qualidade está associada a uma visão da comunidade escolar de forma plural. Esta concepção de certa forma é recente e ainda está em processo. “A cultura escolar predominante nas nossas escolas se revela como “engessada”, pouco permeável ao contexto em que se insere, aos universos culturais das crianças e jovens a que se dirige e a multiculturalidade das nossas sociedades” (CANDAU, 2010, p. 53)
Com esse “engessamento” da cultura escolar quanto à valorização da organização de estrutura em modelos padronizados e consecutivamente o ajustamento de todos aos mesmos modelos sem o debate, compreensão e reflexão da realidade, percebe-se que cada vez mais surgem conflitos no cotidiano escolar como forma de resistência ou até mesmo de intolerância ao outro e ao diferente. É comum vermos na mídia manchetes relacionadas a conflitos no cotidiano escolar como agressão entre alunos, agressão aos professores, exclusão e bullying. Esses se dão de forma explícita, mas às vezes ocorrem de forma implícita a partir da negligência ou velamento da sua presença no cotidiano, tornando-se algo natural. Compete à escola proporcionar em sua proposta política pedagógica e, consecutivamente, em seu currículo espaço que contemple a abordagem de forma crítica dessas questões que estão presentes no contexto escolar como meio de reflexão do cotidiano escolar, extraindo do próprio, subsídios para a elaboração de estratégias para compreensão e superação das mesmas. Podemos destacar o multiculturalismo como movimento de reflexão do caráter monocultural da educação. Segundo Silva (2005), entende-se o multiculturalismo como um movimento político originário dos países dominantes do Norte, nos quais os grupos dominados culturamente reivindicavam o reconhecimento e a representação de suas práticas na cultura nacional.Essa concepção é fundamentada na Antropologia, como se vê a seguir: “ela contribuiu para tornar aceitável a ideia de que não se pode estabelecer uma hierarquia entre as culturas humanas, de que todas as culturas são epistemologicamente e antropologicamente equivalentes. 
Não é possível estabelecer nenhum critério transcendente pelo qual uma determinada cultura possa ser julgada superior à outra” (SILVA, 2005, p. 86). No âmbito educacional, podemos identificar o multiculturalismo como mecanismo de reflexão de variados aspectos presentes na cultura, salientando não somente o pensamento crítico quanto às diferenças no meio escolar, mas também como são construídas e promovidas essas diferenças. Atualmente, já desponta um novo olhar sobre a temática: a interculturalidade. Essa corrente amplia a percepção referente à cultura, pois propõe não somente o reconhecimento da diversidade cultural e sim o diálogo e a interrelação entre as diversas culturas, como nos destaca Candau: “Nesse sentido, trata-se de um processo permanente, sempre inacabado, marcado por uma deliberada intenção de promover uma relação dialógica e democrática entre as culturas e os grupos involucrados e não unicamente de uma coexistência pacífica num mesmo território. Esta seria a condição fundamental para qualquer processo ser qualificado de intercultural.” (CANDAU, 2010, p. 56). 
Conforme assinalado, há no espaço escolar a manifestação de conflitos no seu cotidiano como forma de resistência ou de intolerância ao outro e ao diferente. Uma dessas manifestações que frequentemente solicitam a presença da Orientação Educacional é a questão da indisciplina dos alunos. Devemos destacar que o papel da Orientação Educacional ao longo da sua trajetória evolutiva sempre esteve associado ao atendimento individual com caráter preventivo a partir de uma perspectiva psicológica, o qual tinha como objetivo o ajustamento do aluno ao meio social e, consecutivamente, às normas estabelecidas. Hoje, para Grinspun (2006), a Orientação Educacional possui uma ação mais abrangente e política, não se limitando à prática assinalada anteriormente. Sua atividade possui um aspecto mediador juntamente com os outros educadores e membros do contexto escolar na busca da compreensão dos fenômenos ocorridos e solução conjunta pautada na criticidade, nos direitos humanos e na ética profissional.
A indisciplina é um fenômeno que se manifesta independente da realidade socioeconômica e cultural nos espaços escolares ou em outros, tendo sua origem na motivação diversa. É caracterizada por condutas que se opõem ao ideal de disciplina prevista pela instituição para o desenvolvimento do ato educativo de forma harmoniosa. A caracterização de um ato como indisciplina está associada à concepção de disciplina de um indivíduo ou dado grupo, variando conforme os valores construídos e instituídos por uma comunidade. Pode-se considerar que um aluno sentar em uma mesa em dada escola seja identificado como indisciplina e em outra escola seja identificado como normal, ou seja, varia conforme a concepção da mesma em cada comunidade escolar. Aquino (2003) destaca que: “Se partimos da suposição de que a indisciplina revela uma recusa a um tipo de vinculação inócua ou obsoleta entre os pares escolares, haveremos de convir que, em última instância, ela traria consigo os novos ventos democráticos” (p. 51)
E também: “Sendo assim, é imprescindível reconhecer que o manejo das questões disciplinares requer alternativas buscadas coletivamente, que apontem para a presença inconteste e a participação ativa dos alunos na vida escolar, bem como um teor mais inclusivo das ações levadas a cabo pelos educadores.” (p. 52).
Verificamos que o tratamento da escola, no tocante à indisciplina, deve ser refletido de forma coletiva por toda a comunidade escolar englobando ações não somente relacionadas a posturas, como também em sua organização estrutural quanto ao projeto político pedagógico valorizando a pluralidade. Desta forma, distanciamos o caráter milagroso embutido no orientador quanto ao ajustamento imediato do aluno aos padrões da escola ou de viabilização de “receita” eficaz de como lidar e solucionar os problemas decorrentes da questão da indisciplina. Podemos ressaltar o bullying como fenômeno que já ultrapassou a fronteira de um ato indisciplinar, caracterizando-se como uma violência e agressão física, moral ou material de forma intencional e sem motivação específica. Tal fenômeno durante muito tempo foi considerado como irrelevante, mas atualmente especialistas afirmam que, às vezes, promovem marcas para a vida inteira.
A ação da Orientação Educacional na construção e reinvenção de espaços escolares de qualidade: Como visto, as instituições de ensino possuem estruturas rígidas que muitas vezes ficam alheias às questões do contexto social e principalmente quanto ao fator da diversidade cultural. A valorização da formação do indivíduo de forma integral, incluindo o aspecto cognitivo e o aspecto emocional, torna-se uma necessidade para que este vivencie experiências para a constituição de sua identidade e a compreensão da sua realidade. Esse enfoque possibilita um olhar crítico sobre si próprio e sobre a sua realidade, dando subsídios para ações conscientes e de mudanças. Nessa perspectiva, o orientador é visto como agente de mediação desse processo no tocante ao estímulo do resgate da cultura brasileira no ato educativo, mediante o desenvolvimento de projetos de caráter interdisciplinar que favoreçam o conhecimento das variadas manifestações culturais existentes. 
É notório que a amplitude do território brasileiro e o processo de miscigenação ao longo da história possibilitam um farto repertório cultural para ser pesquisado e explorado. No entanto, não podemos nos esquecer de que no próprio interior do ambiente escolar, mesmo pertencendo ao mesmo território, micro forças culturais cruzam-se e chocam-se, revelando valores, linguagem, crenças, hábitos entre outros diferenciados, tornando, às vezes, as relações conflituosas. Assim, torna-se válido a garantia na proposta político e pedagógica o debate e diálogo sobre temas associados ao cotidiano escolar para o desenvolvimento e organização de um currículo comprometido com a pluralidade, à perspectiva da cidadania e do direito humano, compreendendo o aluno como sujeito histórico em sua formação, ou seja, no processo de ensino e aprendizagem. Essa contextualização possibilitará ao aluno e aos demais membros da comunidade escolar uma leitura crítica sobre os conflitos e desafios que surgem no cotidiano, utilizando os subsídios do mesmo para a superação, como também, na sua relação com o outro.
Segundo Grinspun (2006), em relação às transformações do contexto social, compete à Orientação Educacional auxiliar o aluno em três pontos básicos: perguntar, pesquisar e criar, sendo esses pilares para uma educação que garanta a sua emancipação e vivência no mundo. Isso, também, pode ser visto em: “Do mesmo modo que na escola se forma o homem conformista, é também na escola que se forma o homem contestador” (MAIA, 1995, p. 43). Tal afirmativa denota que a escola possibilita instrumentos para uma participação plena na sociedade. A partir da concepção de interculturalidade no processo educativo é possível a compreensão que todos possuem voz no ambiente escolar, cabendo a cada indivíduo a responsabilidade de promover espaço de diálogo e interação com o outro, com o similar e com o diferente. 
Nesse contexto, a intolerância, a indisciplina, a violência, o bullying entre outros farão parte do debate no cotidiano de toda a comunidade escolar e não apenas da Orientação Educacional, sendo os mesmos estudados e envolvidos no plano de ação ou contrato pedagógico como forma de conhecimento, prevenção e promoção de uma cultura de paz. De acordo com Candau (2010), a construção e reinvenção de espaços escolares de qualidade está condicionada aos seguintes fatores: a dinamização da estrutura organizacional e diversificação de atividades que contemplem a construção críticae plural; articulação entre desigualdade e diferença numa proposta intercultural, incorporando as variadas contribuições culturais e o reconhecimento da cidadania como prática social do dia a dia. Portanto, compete ao orientador a promoção e a garantia de ambientes favoráveis para a efetivação de espaços escolares comprometidos com a promoção de uma real educação de qualidade.

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