Buscar

DESIGUALDADES DE GENERO E RAÇA


Continue navegando


Prévia do material em texto

GÊNERO, RAÇA, DESIGUALDADES, POLÍTICAS AFIRMATIVAS NO SERVIÇO SOCIAL
 
BARBIERI, Carmelita Grocelli e Silva
RESUMO 
 Passaram-se 120 anos desde a abolição dos escravos, e “seus descendentes ainda reivindicam medidas compensatórias na área educacional, capazes de eliminar os efeitos persistentes das barreiras impostas no passado e equiparar as oportunidades de desenvolvimento que deveriam ser oferecidas a todos” (SILVA e ARAÚJO, 2005: p. 75). Isso mostrar a lentidão com que se caminha na conquista do direito á educação para a população negra no Brasil.
	A adoção de políticas públicas para redução das desigualdades em relação aos afro-descendentes vem de uma dívida histórica, sabendo que se tem consciência de que as ações afirmativas são indispensáveis a qualquer grupo social marginalizado por preconceito, no entanto, o destaque concentra-se nos afro-descendentes, por configurar o grupo social que encontra maior resistência por parte da sociedade pretensamente “branca”. 
	A Constituição Federal de 1988 garante, no artigo 5º, direitos fundamentais, entre eles a liberdade, igualdade, inviolabilidade da vida, propriedade e, de igual modo, a segurança (Brasil, 1988). Considerando este princípio constitucional, compreende-se a política de segurança pública um aspecto de cidadania. (Mendes. Juvanira, 2018) Assim compreendemos que o conjunto de órgãos que compõem a política de segurança pública brasileira atua em diversas frentes e áreas, sabendo que segurança não é apenas repressão, mas sobre tudo prevenção.
	
 PALAVRAS-CHAVE: Desigualdade racial, Políticas afirmativas
 
 INTRODUÇÃO
 Este trabalho tem por objetivo discutir a legitimidade em decorrência do debate no qual se inseriu as políticas de ações afirmativas no Brasil, notadamente aquelas que objetivam favorecer a população afro-descendente. Desde pelo menos as últimas décadas do século XIX, a problemática da raça e das relações raciais na sociedade brasileira tem sido objeto de reflexões teóricas e de tensões políticas.
Essas reflexões e tensões produziram uma trama de discursos dispersos e descontínuos, que mantêm as relações raciais como objeto de uma singular regularidade discursiva no âmbito dos saberes e dos poderes. Por meio desta proposta de trabalho, pretende-se problematizar fatos históricos que vêm sendo sistematicamente omitidos nos currículos escolares e intervir na idéia negativa e hegemônica a respeito desses povos. 
Questionamos também a extensão das políticas de ações afirmativa, a outros grupos que enfrentam dificuldades de inclusão como os portadores de necessidades especiais, os idosos e grupos específicos como das mulheres, demonstrando que já existem experiências acumuladas, e direitos conquistados, que demonstram a eficácia das políticas públicas na diminuição do preconceito e da discriminação, bem como da inclusão social.
POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS, RELAÇOES ÉTNICO-RACIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS
	Desigualdade de raça, gênero e etnia são termos que estão diretamente relacionados, porém são distintos dos fenômenos sociais, pois ninguém nasce desigual, mas sim em condições desiguais. O conceito de “raça” é uma construção social advinda de teorias racistas, no entanto, sob a visão biológica, todos os seres humanos pertencem à mesma raça: a raça humana. Os conceitos de “raça” e “gênero” são entendidos como construções sociais que, historicamente, têm sido associados a formas de desigualdade, bem como a processos de identificação. 
	 No Brasil, a questão racial se caracterizou, por muito tempo, pelo colonialismo/escravismo. Suas regras foram ditadas por Portugal e tudo o que se produzia era para o sustento da metrópole, vivemos quatrocentos anos de escravatura negra que deixaram profundas marcas entre nós, e até os dias atuais carregamos preconceitos estabelecidos durante a história brasileira. Foi o último país latino-americano a abolir a escravatura, pois havia interesses nessa prática, já que o cativo negro gerava tributos para o rei, lucros para a burguesia metropolitana e para os comerciantes da colônia, garantia a honra e a riqueza da nobreza e dos senhores, e sustentava o trabalho de catequização e expansão da fé realizada pela Igreja. ( Nascimento, Sergio Luis do 2018). 
	Políticas Públicas de ações afirmativas tem o objetivo de garantir a igualdade entre os membros de determinada sociedade, inserindo aqueles grupos marginalizados por questões de preconceitos ou de qualquer situação discriminatória, de modo a favorecer o exercício pleno da cidadania e o acesso aos direitos inerentes a todos os seres pertencentes à comunidade. Porém no Brasil tais políticas enfrentam dificuldades de inclusão por parte de todos os grupos marginalizados, essas políticas teriam que garantir tais direitos, porém só garantem os mínimos sociais, o que não são suficientes para garantir uma vida digna a esta população. Já as políticas de segurança pública são formadas por um conjunto de poderes independentes que se articulam entre si ao mesmo tempo em que mantêm sua autonomia e devem, individualmente e em ações conjuntas, promover a paz social, inibindo e coibindo violências, combatendo o crime organizado e o tráfico de drogas. (Mendes. Juvanira, 2018).
	É importante relatar que os seres humanos têm o direito de viver uma vida segura, livre do medo da violência, e para que isso aconteça o Estado tem o dever de programar todos os recursos que lhe forem possíveis para assegurar que esse direito nunca seja violado. 
 Podemos definir as ações afirmativas como conjunto de medidas que prescrevem prerrogativas a certos grupos, por serem vítimas de discriminação ou por se encontrarem em situação que dificulte o acesso a bens e serviços indispensáveis ao pleno gozo do princípio da dignidade humana, visando a acelerar a equiparação, ou melhor, a obtenção de igualdade material e efetivo acesso aos direitos sociais fundamentais, integrantes do mínimo existencial (OLIVEIRA, 2009.)
Um dos principais métodos da política de segurança pública é a ação a coerção, que serve aos interesses do combate da criminalidade, ao combate ao crime, ao tráfico de drogas e de pessoas, aos crimes contra vida, patrimônio e violências em geral. Estas demandas institucionais precisam ser mediadas e resguardadas, fazendo valer os direitos das pessoas institucionalizadas.
O assistente social é um trabalhador com relativa autonomia por vezes na objetividade da realidade concreta das relações de força e poder, das imposições institucionais. Há uma tensão exacerbada entre o projeto ética político profissional e a defesa de considerações trabalhistas e as condições de trabalho e intencionalidade arbitrária das instituições de poder, a guerra entre a ética e a coerção, entre a defesa de direitos constitucionais, humanos, políticos, sociais inalienáveis e regras mortificadores da humanidade (Braz, 2012; Forti, 2010, 2013; Iasi, 2013).
Os assistentes sociais respondem institucionalmente aos interesses autoritários dos órgãos em que está inserido profissionalmente, o que poderá comprometer a criatividade, a intencionalidade por causa da cultura alienante do mundo do trabalho, que impõe uma rotina de resposta imediatista, pouco reflexiva, e bastante conservadora de práticas reprodutoras da antipatia a projetos populares de emancipação humana que se diluem por reducionismo imposto sem pudor pela correção comum neste âmbito da justiça. MENDES,Juvanira; 2018. (Cfess, 2007; Freitas, 2003; Iamamoto, 2008; Iasi, 2013). 
A atuação do Assistente Social no âmbito sócio jurídico promove uma visão fragmentada da questão social, pois as contradições e os conflitos que pulverizam os processos podem ser apenas apontados em análises pontuais sem articular a totalidade. Havendo uma naturalização do indivíduo culpado, sem considerar as contradições impostas pela desigualdade social, ausência de equidade e má distribuição de renda, da ausência de acesso às políticas públicas, da alta taxa de inclusão social marginalizada e visceral que estigmatiza epromove divisões entre iguais e pertencentes à mesma classe (Braz, 2012; Forti, 2010, 2013; Guerra, 2009; Iamamoto, 2008). Por tanto é indispensável que trabalhemos na defesa dos direitos, da cidadania, da equidade, da justiça, da liberdade, da qualidade do trabalho e da erradicação de preconceitos em todas as áreas que possamos atuar, trabalhando dentro do código de ética da profissão.
Ao longo da história, foram sendo travadas muitas lutas por parte da população afro-descendentes, para conseguir vários direitos sociais, uma delas foi a aprovação da Lei 10639/03, que altera a Lei nº. 9394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tornando obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira na Educação Básica. Tal lei introduziu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana afro-brasileira. Em março de 2008, entrou em vigor a Lei 11.465/08, que novamente alterou o Art. 26-A da LDBEN, acrescentando a obrigatoriedade do estudo de História e Cultura Indígena, juntamente com o estudo de Historia e Cultura Africana e Afro-brasileira. 
A lei foi um passo importante e teve na seqüência a aprovação das Diretrizes Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira pelo Conselho Nacional de Educação, traduzindo os princípios da lei de forma a colaborar para sua implementação nas escolas. A fim de oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afro-descendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura e identidade. 
A Constituição de 1824 coibia o ingresso da população escrava nas escolas (art. 6º, item I) a qual se restringia a brasileiros e os escravos eram na maioria africanos de nascimento. A Reforma Couto Ferraz (decreto nº. 1.331 de 17 de fevereiro de 1854) institui a obrigatoriedade da escola primária para crianças de sete anos. Porém não aceitariam crianças com doenças contagiosas e nem crianças escravas. Somente ao final do século XIX, com o advento do ensino popular e o ensino profissionalizante é que a população negra tem oportunidades concretas de escolarização. O ensino profissionalizante vem pela criação das primeiras escolas, por decreto de Nilo Peçanha, objetivando a formação de um mercado interno de mão-de-obra. (SILVA e ARAÚJO, 2005: p. 72)
A escola começou a ser vista como um importante espaço de luta contra o racismo e conscientização das mentes. Essas políticas são iniciativas para estabelecer políticas públicas voltadas para o combate às desigualdades sociais, porém só aconteceram a partir de 1980, e teve apoio da Constituição de 1988, que revolucionou as bases legais da defesa dos direitos humanos no país e também reconheceu os princípios de tolerância, do multiculturalismo e da dignidade individual. Neste contexto o primeiro passo dessas políticas públicas foi o de abordar, juntamente com a sociedade, a História da emergência dos movimentos sociais negros. (NASCIMENTO, Sergio Luis)
 A luta pela implantação das ações afirmativas é um mérito do histórico protagonismo do Movimento Social Negro Brasileiro, porém a escolaridade é um fator significativo, não somente para a população negra, pois a maioria da população carcerária tem déficit de escolaridade mulheres também configuram no mapa, que não aponta o crime como feminicídio: (Lei n. 13.104/2015). Elas totalizam 385 nos dados de 2015, ainda segundo o IPEA. Desconhecemos se 1% dos crimes domésticos compreendem a morte de mulheres por seus parceiros, mas certamente a morte delas compõe o percentual de 14% de homicídios desse quadro.
METODOLOGIA 
	A metodologia usada foi a pesquisa bibliográfica realizada com o levantamento de referências teóricas publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites e a técnica de observação que é uma técnica que faz uso dos sentidos para a apreensão de determinados aspectos da realidade. Ela consiste em ver, ouvir e examinar os fatos, os fenômenos que se pretende investigar e desempenha importante papel no contexto da descoberta e obriga o investigador a ter um contato mais próximo com o objeto de estudo.
ANALISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE OBSERVAÇÂO 
O Centro Social Marello, no qual pertence o estágio supervisionado, é responsável por executar: Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; Serviço de Proteção Social Básica. Atendendo crianças de cinco a nove anos de idade. No contexto atual são atendidas 75 crianças, mas já chegou a atender mais de 150 crianças. Por falta de verbas e financiamentos públicos, este número vem caindo significativamente, tendo que reduzir esse quadro para que possa fornecer um serviço de qualidade. Seus colaboradores trabalham em coletividade, sendo que observo ter somente uma pessoa de descendência negra a trabalhar no Centro Social Marello, sendo a cozinheira.
Através da observação realizada, conseguimos observar também que na maioria das famílias atendidas em seu contexto familiar tem a mulher como chefe da família, sendo ela a responsável pela mesma. Chegando várias vezes, até o Serviço Social da instituição casos de violência e abusos por parte de seus antigos companheiros. No atendimento são sempre orientadas sobre os recursos que podem ser utilizados para que finde tais agressões.
Os atendimentos realizados são baseados no respeito à heterogeneidade dos arranjos familiares, aos valores, crenças e identidades das famílias. Fundamenta-se no fortalecimento da cultura do diálogo, no combate a todas as formas de violência, preconceito, de discriminação e nas relações familiares
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	A Política de Assistência Social vem se distanciando da tradição histórica do assistencialismo, da caridade, da distribuição de cestas de alimentos para a transferência de renda, dos atendimentos emergenciais para ações sistemáticas, planejadas e contínuas. A busca pela efetivação dos princípios que norteiam o trabalho do assistente social é essencial para ser buscar novas formas de enfrentamento dentro da ética da profissão. O combate ao racismo e à discriminação por questões de raça/etnia se inscreve nessa lógica, e a questão racial pode ser debatida nas concepções teóricas que culminaram as construções desse conceito.
A população negra ainda vive, na sua maioria, em situação de vulnerabilidade social, sujeitas a mortes violentas, a agressões e abusos de autoridade, bem como invisível, nas suas especificidades, para as ações das políticas públicas, principalmente na área da saúde, educação, assistência social, habitação, nas artes e na mídia. O Brasil que imaginamos aqui é como uma sociedade de ‘raças’ e ‘etnias’ distintas, mas pertencentes à mesma nação e com os mesmos direitos garantidos pela constituição. As desigualdades raciais manifestas em todos os indicadores aqui analisados expressam a recorrente exclusão social à qual, homens e mulheres, identificados como pretos ou pardos, são submetidos ao longo do percurso de suas vidas.
O trabalho do assistente social compõe-se de muitos desafios a serem enfrentados, cumprido sua tarefa mais nobre, que é a de favorecer a construção de uma sociedade mais inclusiva, sem preconceito e socialmente justa. Que são profundamente diferentes as histórias da educação do homem e da mulher, da criança e do adulto, do negro, do branco, do indígena e do judeu. Nosso trabalho é fazer a efetivação dessas políticas, e também o reconhecimento da importância da discussão racial para o Serviço Social.
4. REFERÊNCIAS 
CARVALHO. Ana Paula Comin. Desigualdade de gênero, raça e etnia. Curitiba: Intersaberes 2012.(Série Temas Sociais e Contemporâneos)
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas 2018. Disponível em:http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/. Acesso 
DUARTE, S. M. Perfil dos criminosos no Brasil.JE Online, 21 nov. 2016. Acesso em: 08 julho 2018. Disponível em: https://jeonline.com. br/coluna/1798/ criminososnobrasilhttps://www.cidp.pt/publicacoes/revistas/ridb/.pdf
LOPES, E. M. S. T.; GALVÃO, A. M. O. . História da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001 disponivel em: file:///C:/Users/carme_000/Downloads/1452-4879-1-PB.pdf.Acesso 10/07/2018
MENDES, Juvanira. Políticas Sociais: Segurança Pública, AVA Univirtus. Disponível em: http://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/: Acesso em 10/07/2018
NASCIMENTO.Sergio Luis. Estudos das Relações Étnico-raciais para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana e Indígena: AVA Univirtus. Disponível em http://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/: Acesso em 12/07/2018.