Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MÓDULO 01 APRESENTAÇÃO Se você perguntar a um comerciante de “secos e molhados” de sua cidade – “secos e molhados” é uma denominação genérica que se utilizava até pouco tempo atrás para designar uma loja que vendia tecidos, alimentos, utensílios de cozinha e outros produtos de natureza semelhante, ou seja, um armazém – como ele forma o seu preço de venda, a resposta, muito provavelmente, será algo do tipo: – Eu considero o preço que eu paguei pelo produto e, então, multiplico por 2. Simples assim, pois não? Não. Pode até ser simples assim. Mas, não deveria ser tão simples. A precificação é uma verdadeira arte no mundo dos negócios. Principalmente quando se tratar de um mercado competitivo, com uma gama variada de produtos e serviços, cada qual com características próprias, com maior ou menor especificidade, o formador de preços de venda assume um papel significativo no processo de geração de caixa e rentabilidade do empreendimento. A formação de preços de venda se insere na formação do administrador como uma síntese de conhecimentos anteriormente adquiridos ao longo deste curso. São importantes para a assimilação do conteúdo teórico que ora se disponibiliza desde os rudimentos da contabilidade até a estrutura de mercado focalizada na disciplina Economia de Mercado, que reúne os aspectos relacionados à demanda e à oferta. Essa disciplina abordou os conceitos relacionados à elasticidade-preço, à elasticidade-preço cruzada e à elasticidade-renda, que tanto afetam a receita da firma, a cada variação percentual do preço do produto ou serviço. Também evidenciou as características técnicas que pesam sobre a oferta de bens e serviços, em especial a elasticidade-preço da oferta, como determinante da quantidade ofertada, coeteris paribus (sem outras interferências, ou seja, permanecendo constantes os demais fatores que exercem pressão sobre a oferta, exceto o preço). Nossa abordagem sobre a formação de preços de venda, que será também denominada simplesmente precificação ou apreçamento em alguns momentos, pretende enfocar fundamentalmente três aspectos: preços e custos; preços e concorrência; preços e clientes. O primeiro desses aspectos revela uma preocupação com os custos do produto ou serviço como determinante do preço de venda. Em alguns casos, é assim mesmo que deve ser. Tome-se, por exemplo, a construção de uma usina hidrelétrica. É difícil imaginar considerações acerca do tipo de concorrência e impulsores do comprador como determinantes do preço a ser cobrado pela obra, não é mesmo? Também no caso de alguns produtos de uso geral, é comum um apreçamento a partir do custo de aquisição de matérias-primas, componentes, mão de obra direta e outros insumos de produção. O segundo aspecto aborda a relação preços e concorrência. É sabido que, em mercados altamente competitivos, a adoção de preços extremamente baixos é uma prática adotada na maioria das vezes. Mas a quem interessa tal fato? Quem será o beneficiário maior de uma prática de preços que não remuneram adequadamente o capital investido, levando a uma concorrência predatória que acaba por não satisfazer nenhum dos ofertantes? Esses casos culminam, na maioria das vezes, com fechamentos de empresas, abandono de determinadas linhas de produtos, fusões e aquisições como forma de sobrevivência de dois ou mais participantes deste mercado. O terceiro aspecto, preços e clientes, constitui uma visão particular na precificação. Não se trata de estabelecer um preço para cada cliente, como pode parecer à primeira vista. Neste capítulo, será abordada a questão da percepção de valor pelo cliente. Ao adquirir um bem ou serviço, o comprador o faz com uma nítida percepção do que a coisa adquirida significa para ele. Trataremos de identificar, neste capítulo, esses impulsores ou motivadores de aquisição e, consequentemente, como tais impulsos repercutem sobre o preço de aquisição e sobre a estratégia e tática de formação de preços. 1 PREÇOS E CUSTOS Introdução Ao indagarmos o atendente de uma loja sobre qual é o preço de determinado produto, geralmente a pergunta que se faz é algo parecido com: – Quanto custa? E já reparou que, invariavelmente, a resposta não nos diz qual é o custo, mas sim qual é o preço de venda daquele produto? Isso porque o senso comum considera que o preço de venda do lojista será um custo para o comprador. Tem certa lógica, não tem? Por isso, para que a assimilação do que vamos tratar neste capítulo seja total, é preciso registrar algumas definições que nos ajudarão a padronizar nosso entendimento. E comecemos pelo próprio conceito de custo: custo é todo e qualquer gasto “pra se colocar o produto na prateleira”. E para entender essa definição, aqui também vamos precisar de outro conceito, existente nessa frase que acabamos de ler: gasto é todo pagamento efetivamente realizado ou compromissado, ou seja, toda saída de caixa, por conta de aquisição de algum bem ou serviço. E despesa, o que é então? Despesa é diferente de custo. Se o custo é o gasto “pra se colocar o produto na prateleira”, despesa é o gasto “pra se levar o produto até o cliente final”. E não estamos nos referindo unicamente a eventuais gastos com fretes e carretos, mas sim a despesas com correio, com cópias, com material de escritório, com energia elétrica da administração do negócio, com as depreciações contábeis por conta do uso do ativo – computadores, por exemplo – nas áreas administrativas da empresa, que não configuram um gasto porque não há saída de caixa nesta rubrica, mas conta como despesa para fins de apuração do lucro contábil e outros gastos de natureza semelhante. Então, como uma dedução natural dessas definições, todo gasto que não seja custo será despesa, não é mesmo? Iniciemos nosso estudo de preços e custos pela análise da natureza destes custos e sua configuração para efeitos da formação de preços de venda. 1.1 Premissas da análise e maximização dos lucros Custos são como as unhas: é preciso cortá-los de forma sistemática e periódica. Se não o fizermos, as unhas grandes farão com que nossos dedos fiquem praticamente inutilizados, perdendo grande parte de sua função. No caso da empresa, os custos fora de controle, crescendo em demasia, acabam por inibir totalmente a geração de caixa do negócio, ou seja, sua capacidade de formação de riqueza, sem o que não há empreendimento que se sustente. Por isso é de todo recomendável que se conheça profundamente a natureza dos custos de produção, para uma eficaz atuação sobre eles, no momento e na intensidade req ueridas. No mundo empresarial, um dos objetivos básicos de toda organização é a maximização dos resultados da empresa. Isso significa que é preciso obter a maior receita possível, com custos mínimos de produção, dado que os lucros totais (que abreviaremos por LT) serão obtidos pela diferença entre as receitas totais (abreviadamente, RT) e os custos totais (simplesmente CT), tal que Para efeitos de elaboração de nossa análise, consideremos que o empresário conhece bem o seu mercado e sabe que, em certo período de tempo, que chamaremos de curto prazo, suas instalações básicas, seus equipamentos e sua capacidade de produção permanecerão inalterados. Não será efetuada, portanto, nenhuma modificação que requeira investimento em ativos produtivos nesse período de análise. Além disso, neste período suficientemente curto para que outras firmas se introduzam na indústria – no sentido de conjunto de firmas que atuam num mesmo setor de produção – em questão, ele não pretende dedicar-se a outra indústria. Temos, então, neste mercado fictício, porém não muito distante da realidade, firmas com uma capacidade de produção determinada e fixa, e não há modo de sair ou entrar na indústria. Estabelecidas as premissas da análise e a maximização dos lucros, já podemos nos dedicar aos custos de produção em si. MÓDULO 02 1.2 A natureza dos custos de produçãoConsideradas as premissas apontadas, os custos totais da empresa – que chamaremos de CT – provêm da soma dos custos fixos totais – que sintetizaremos por CFT – e custos variáveis totais – identificados por CVT –, tal que Por sua natureza, os recursos de produção que não variam em função das variações na quantidade produzida são chamados de custos fixos – ou custos indiretos. Constituem, basicamente, os custos relativos à capacidade instalada da empresa, tais como o aluguel de edifícios, aluguel de equipamentos, a depreciação, os salários e encargos do pessoal administrativo etc. A consideração de uma situação de curto prazo em nossas premissas para esta análise se deve ao fato de que, a médio e longo prazos, certos custos fixos poderão variar sim. Por exemplo, com o crescimento das operações, pode ser necessário alugar um novo local, mais amplo, para acomodar o negócio. E, com isso, este típico custo fixo – o aluguel – irá sofrer um aumento. Alguns autores consideram que, a rigor, existem alguns custos que poderiam ser classificados de semifixos, porque apresentam aumentos, ainda que “por degraus”, como consequência de uma elevação significativa da produção. Tome-se o caso, por exemplo, de aquisição de novas máquinas. Com isso, haverá uma despesa de depreciação que, de forma calculada, será maior, na proporção do aumento dos ativos de produção, conforme facultado pela legislação que regula tais considerações na determinação do lucro contábil. Já os custos variáveis se referem aos recursos que, necessariamente, variam de acordo com variações da quantidade produzida. Consome-se mais matéria-prima quanto maior seja a quantidade produzida. Também são utilizadas mais partes e peças que compõem o produto final, os chamados semiacabados, na razão direta do aumento da produção. E também haverá maior consumo de energia elétrica quanto mais tempo as máquinas ligadas à produção estiverem operando. E, é claro, os custos com mão de obra direta de produção serão maiores quanto mais tempo os horistas estiverem no “chão de fábrica” produzindo e, eventualmente, recebendo conforme a produção obtida. Agora, é chegada a hora de visualizarmos esses conceitos sob a forma de números. Reuniremos alguns dados hipotéticos em uma tabela, configurando, na primeira coluna, a quantidade produzida de determinado bem. Na coluna seguinte, registramos o custo fixo total (CFT) e, nas demais, o custo variável total (CVT) e o custo total de produção (CT), dado pela soma desses dois custos. Os números entre parênteses que aparecem no topo de cada coluna servem de referência do número da coluna, facilitando, assim, a compreensão de eventuais operações aritméticas que se processam entre os dados das colunas indicadas, como é o caso da coluna (4), que compreende a soma das colunas (2) e (3), conforme indicado na tabela 1. Tabela 1 - Custos fixos, variáveis e custos totais Em unidades monetárias, exceto quantidade Gráfico 1 - Custos fixos, variáveis e custos totais Esses dados foram dispostos graficamente, lado a lado, conforme apontado no gráfico 1. Observa-se aí, facilmente, o valor constante dos custos fixos totais – preenchimento horizontal do histograma –, anteriormente definidos, qualquer que seja a quantidade produzida. Esses custos existem mesmo quando a quantidade produzida é zero. Um desses custos fixos, o aluguel, por exemplo, tem que ser pago, independentemente da existência ou não de produção. Também os salários da administração, os gastos com energia elétrica da parte administrativa e outros semelhantes. Já os custos variáveis totais – preenchimento vertical do histograma – irão crescer na razão direta do crescimento da produção. Se a produção é zero, não existirão custos variáveis. Mas, na medida em que aumenta a produção, crescem também os custos va riáveis. Na maioria das vezes, o crescimento desses custos variáveis não se faz de maneira uniforme, constante. Existem ganhos de escala na aquisição de determinadas matérias- primas que podem provocar uma redução do custo unitário da matéria-prima. Por exemplo, em uma indústria de armários elétricos, adquirir bobinas de aço carbono para a produção de perfis especiais pode ser mais barato do que comprar chapas. Além disso, não seriam necessários trabalhos de corte da chapa em tiras. Mas tudo dependerá da quantidade que será produzida: quanto maior a quantidade, maiores as possibilidades de economias de escala, ou seja, maior obtenção de produto com a utilização de menores quantidades de fatores de produção, conforme focalizado na disciplina Economia de Mercado. Observando os dados numéricos, os eventuais ganhos de escala, senão na aquisição de insumos de produção, na própria operação do negócio, foram transferidos ao cliente, que adquire quantidades maiores a preços unitários menores. Também são comuns as ocorrências de deseconomias de escala, ou seja, um aumento médio do custo unitário variável, em função do aumento da quantidade produzida. Tome-se, por exemplo, um segundo turno de produção que, no entanto, não corresponda ao dobro da quantidade produzida, mas sim a algo em torno de 70% a mais na quantidade produzida. No entanto, determinados custos diretos variáveis são apropriados a toda a produção, forçando um aumento do custo variável do produto. Este fenômeno ficará mais fácil de ser entendido quando analisarmos os próximos conceitos de custos: os custos fixos médios, os custos variáveis médios e, da soma desses dois, os custos totais médios, obtidos pela divisão desses custos pela quantidade produzida. Também veremos o conceito de custo marginal, de suma importância na determinação da maximização do lucro. Então: a.O custo fixo médio (CFMe), a um dado nível de produção (Q), é igual ao custo fixo total (CFT) dividido por este nível de produção: b. O custo variável médio (CVMe), a um dado nível de produção (Q), é igual ao custo variável total (CVT) dividido por este nível de produção: c.O custo total médio (CTMe), a um dado nível de produção (Q), é igual ao custo total de produção (CT) dividido pela quantidade correspondente a este nível: Este custo total médio também pode ser determinado pela soma do CFMe com o CVMe, ou seja, d. O custo marginal (CMg) compreende a adição feita ao custo total, como consequência da produção de uma unidade a mais. Esse custo marginal, que também é conhecido por custo incremental, demonstra qual é o incremento no custo total de produção proveniente de uma unidade a mais que é produzida e é dado pela relação entre um acréscimo no custo total (CT) como decorrência de um acréscimo na quantidade produzida (Q), ou seja, A tabela 2 é uma versão ampliada da tabela 1, incorporando os números correspondentes ao custo marginal, custo fixo médio, custo variável médio e custo total médio. Dispostos graficamente, tais valores configuram as curvas do gráfico 2. MÓDULO 03 Tabela 2 - Custos fixos, custos variáveis, custos totais, custo marginal e custos médios Gráfico 2 - Curva de Custos Fixos Médios (CFMe), Custos Variáveis Médios (CVMe), Custos Totais Médios (CTMe) e Custos Marginais (CMg) Observa-se que os custos fixos médios – marcador quadrado, no gráfico 2 – são decrescentes à medida que aumenta a quantidade produzida. Na configuração adotada, os custos variáveis médios – marcador losango – são crescentes e também o custo marginal – marcador triângulo. Esse fato impactará diretamente na maximização do lucro, conforme se verá um pouco mais à frente. 1.3 A precificação e as receitas da firma Conhecidos os vários tipos de custo e sua natureza, retomemos a questão da maximização dos lucros. Vimos que os lucros totais (LT) são o resultado da diferença entre as receitas totais (RT) e os custos totais (CT) do negócio, tal que É fácil deduzir que as receitas se contrapõem aos custos. Portanto, quanto maior for a receita originada das operações, maior será o incentivo para apermanência da empresa no seu particular segmento de mercado. A receita total (RT) de uma empresa é dada pela multiplicação da quantidade vendida (Q) de um determinado produto ou serviço pelo seu respectivo preço de venda (P): Por sua vez, a receita média (RMe) é definida como sendo o resultado da divisão da receita total (RT) pela quantidade comercializada (Q): Substituindo RT por P . Q, conforme equação (1) tem-se: Essa relação indica que a receita média da firma (RMe) é igual ao próprio preço do produto (P), ou seja, decorrente do cancelamento de Q existente tanto no numerador quanto no denominador da fração acima. Por sua vez, outro conceito importante pode ser depreendido das relações entre receita e quantidade: tal como no conceito de custo marginal (CMg), a receita marginal (RMg) compreende o acréscimo de receita observadaRT, devido ao acréscimo de uma unidade a maisQ na quantidade vendida, tal que: É de se supor que parte dos ganhos de escala seja transferida ao comprador do produto ou serviço. É por isso que, na atividade real, quando a quantidade adquirida é grande, o preço unitário será menor do que aquele que seria válido para uma única unidade do produto. Esse ganho de escala está presente quando, por exemplo, um cliente compra uma grande parte do volume de produto estocado. As atividades de logística envolvidas, desde a separação do material, sua embalagem, emissão de documentos contábeis e até mesmo a negociação dos recebíveis – as duplicatas daí derivadas – junto ao sistema bancário podem ser executadas de maneira tal que daí decorram economias ou ganhos de escala. Vamos dispor estes conceitos em números, para facilitar a compreensão. Coloquemos o preço de venda unitário P na primeira coluna, seguido da quantidade Q hipoteticamente vendida a cada preço unitário e, assim, computemos a Receita Total (RT), a Receita Média (RMe) e a Receita Marginal (RMg), conforme disposto na tabela 3: Tabela 3 - Receita Total, Receita Média e Receita Marginal O gráfico 3 mostra as curvas obtidas a partir dos valores da tabela 3. Gráfico 3 - Preço de Venda, Receita Total (RT), Receita Média (RMe) e Receita Marginal (RMg) MÓDULO 04 1.4 Break-even point, ou ponto de equilíbrio ou, ainda, ponto de nivelamento Que tal juntar as informações de receita e custo num só gráfico? Assim, poderemos visualizar qual é a quantidade que torna a receita total (RT) igual ao custo total (CT). Essa quantidade indica, portanto, o ponto de nivelamento entre a receita total e o custo total, também chamado de break-even point ou ponto de equilíbrio. Em tal quantidade produzida e comercializada o lucro será, portanto, igual a zero. No caso de venda inferior a essa quantidade, é de se esperar que haja prejuízo, porque, como vimos, os custos fixos exercem uma forte pressão sobre a lucratividade de qualquer empreendimento. Acima dessa quantidade de equilíbrio entre receita e custos totais, é de se esperar que as receitas sejam superiores ao custo do produto vendido, caracterizando, assim, uma área de lucro. Vejamos graficamente como é que fica: Gráfico 4 - Break-even point, ou ponto de equilíbrio, ou, ainda, ponto de nivelamento 1.5 Calculando a quantidade de equilíbrio Q* Diz-se que há equilíbrio – ou nivelação – entre a receita total de um empreendimento e os seus correspondentes custos totais quando Vimos que Como se trata de quantidade de equilíbrio, vamos denominá-la Q*. Este asterisco será utilizado para indicar uma situação de equilíbrio. No caso, equilíbrio entre a receita total e o custo total. Então, De (1), substituindo RT por CT, tem-se: Também já foi visto anteriormente que os custos totais (CT) compreendem a soma dos custos fixos totais (CFT) com os custos variáveis totais (CVT). Logo, Por sua vez, os custos variáveis totais são o resultado da multiplicação do custo variável unitário (CVun) pela quantidade de equilíbrio (Q*), ou seja, Substituindo (3) em (2), teremos Transpondo as variáveis comuns e isolando CFT, tem-se que Isolando a incógnita Q*, resultará Deduz-se, portanto, que a quantidade de equilíbrio será determinada pela divisão dos custos fixos totais (CFT) pela diferença entre o preço de venda unitário (P) e os custos variáveis unitários (CVun). No Apêndice 3A de sua obra, páginas 62 e 63, Nagle e Holden (2003) apresentam uma interessante derivação da fórmula do ponto de equilíbrio. Recomendamos uma análise, neste estágio de nosso estudo. MÓDULO 05 1.6 A maximização do lucro O conhecimento do Custo Marginal (CMg) e da Receita Marginal (RMg) permite deduzir qual é o lucro máximo possibilitado pelo bem ou serviço em questão. Vamos isolar esses dois elementos, extraídos dos dados anteriores, em uma nova tabela, ao lado da quantidade comercializada, da receita total, do custo total e do lucro total, dispondo-os na tabela 4: Tabela 4 - Receita marginal, custo marginal e a maximização do lucro Com base nos dados hipotéticos trabalhados até agora, observa-se, na tabela 4, o lucro máximo deste negócio, dado pela equivalência entre a Receita Marginal (RMg) e o Custo Marginal (CMg), entre a 13ª e a 14ª unidades produzidas e comercializadas, quando o lucro total atinge a importância máxima de $188,00. O gráfico 5 retoma as curvas de custos, agregando-se, agora, a curva designativa do lucro total e a receita marginal. Fica fácil perceber, nesse gráfico, o ponto máximo de lucro entre as quantidades 13 e 14, na interseção da reta de Receita Marginal (RMg) com a reta de Custo Marginal (CMg). Portanto, o lucro total máximo é definido quando RMg = CMg. Gráfico 5 - Receita Marginal, Custo Marginal e a Maximização do Lucro 1.7 Custo de produção Para uma visão contábil do custo de produção, consideremos preliminarmente três definições básicas: 1. Material direto Compreende todos os componentes físicos do produto final. São enquadrados nesta categoria a matéria-prima, partes, peças e componentes, assim como a própria embalagem do produto. 2. Mão de obra direta Esta rubrica deve incorporar todos os gastos efetivos com o pessoal diretamente alocado na fabricação do produto, desde que plenamente identificado como tal. 3. Custos Indiretos de Fabricação (CIFs) Aqui devem ser lançados todos os custos que são relacionados com a fabricação, mas que, por algum motivo, não podem ser economicamente alocados no produto. Classificam-se aí os aluguéis de imóveis destinados exclusivamente à produção, aluguéis de equipamentos, instrumentos e veículos utilizados pelas diversas áreas da fábrica para a concretização da produção, materiais indiretos como panos e outros materiais de limpeza, mão de obra indireta, depreciação de ativos destinados à produção, seguros e impostos relacionados a esses ativos e outros de natureza semelhante. A soma do material direto com a mão de obra direta configura o custo primário ou custo direto. Por sua vez, a soma da mão de obra direta com os custos indiretos de fabricação irá conformar o custo de transformação. Da soma desses três componentes, resulta o custo total de produção, custo contábil ou custo de fabricação, conforme apontado no quadro 1. Quadro 1 - As diferentes composições do custo de produção Neste estágio de nosso estudo sobre formação de preços de venda, já estamos em condições de analisar mais de perto as diferentes formas de apropriação dos custos diretos e indiretos de fabricação de um ou mais produtos. Essas formas de apropriação de custos serão chamadas genericamente de custeio. Não é nossa intenção um aprofundamento do estudo sobre custeio, mas, tão-somente, a evidenciação de que os diversos critérios têm por objetivo uma tentativa de apropriação dos custos diretos e indiretos de fabricação a cada grupo de produtos ou mesmo um determinado produto em particular, com vistas à sua penetração no mercado, manutenção de uma determinada participação nestemercado e sua consolidação na carteira de produtos da empresa. Para isso, é necessária uma clara visão estratégica do negócio como um todo, com toda a profundidade requerida para tal, analisando-se, detalhadamente, o mercado, os concorrentes, as vantagens competitivas do negócio, a estrutura organizacional do empreendimento. E, sobretudo, seu planejamento orçamentário com todos os elementos de vendas e custos, investimentos, despesas e estrutura de pessoal, dando substância a um demonstrativo do resultado, capital de giro, fluxo de caixa e balanço projetado, além dos quadros analíticos da situação patrimonial do empreendimento. Estes aspectos serão oportunamente analisados no âmbito da precificação de bens e serviços. Da literatura disponível sobre a matéria, depreende-se que a escolha de um método de custeio para a empresa está condicionada a diversos aspectos. Dentre eles, considerem-se, em especial, os seguintes: o ramo de atuação da empresa, ou seja, comércio, indústria ou serviços. Para cada um desses ramos existem características especiais de produção e/ou comercialização, commaioroumenorfacilidadedeobtençãodeinformações detalhadas a serem consideradas no custeio; a existência de produtos e processos padronizados na empresa, notadamente no ramo industrial ou mesmo na construção civil; o tamanho da empresa, indicativo de sua real capacidade de geração de caixa para atividades organizacionais, geradoras das necessárias informações e controles para o custeio; significância dos custos indiretos no custo unitário do prod uto; utilização de recursos de informática e sistemas de gestão nas atividades- meio; cultura organizacional voltada para resultados e geração de caixa. MÓDULO 06 Dentre os diversos sistemas de custeio, estudaremos os seguintes: a. Sistema de custeio por absorção Como o nome sugere, o custo estabelecido por este método considera como custos que devem ser levados em conta no custeio do produto os custos variáveis e os custos fixos. Estes, no entanto, podem ser integralmente ou parcialmente considerados, sob a forma de rateio. São comumente adotadas as seguintes bases de rateio: área ocupada: em especial para rateio de gastos com aluguel de edificações, gastos com energia elétrica, gastos com serviços de limpeza e outros casos em que seja possível situar a ocupação de determinada área física; quantidade de empregados: parâmetro utilizado para gastos com refeitório, serviços de limpeza e outros; valor do imobilizado: especificamente para gastos com depreciação; valor da folha de pagamento: para rateio de encargos e direitos sociais; capital operacional: para a consideração de juros calculados sobre o capital próprio ou de terceiros utilizados na composição das despesas financeiras a serem cobertas com a margem de contribuição. A consideração dos custos fixos no custeio da produção enseja que tais custos, distribuídos por unidade de produto, reduzem-se com o aumento da produção – vide o “jeitão” da curva de custo fixo médio CFMe no gráfico 5. Mas, em momentos de queda de produção, aumenta o custo unitário do produto. Tem-se, portanto, em uma visão esquemática, a elaboração do custeio por absorção pelo cumprimento de algumas etapas, a saber: I. uma clara separação entre o que seja custo e o que seja despesa. As despesas deverão ser cobertas pela margem de contribuição, resultante da diferença entre o preço de venda e o custo do produto, mercadoria ou serviço vendido; II. cômputo de todos os custos relacionados a matérias-primas, materiais e componentes diretos, bem como custos indiretos e mão de obra direta utilizada no processo produtivo num determinado período de tempo de apuração dos custos; III. cômputo do custo de todos os produtos acabados; IV. cômputo do custo dos produtos vendidos no período; V. apuração do resultado no período. Destaque-se que o custeio por absorção é o único sistema legalmente aceito pela Receita Federal para a apuração do resultado tributável, bem como para a avaliação de estoques para fins de elaboração de balanço patrimonial e outras demonstrações contábeis. Um esquema do custeio por absorção é apresentado em Ferreira (2007), ora reproduzido, com pequenas variações, na figura 1. Figura 1 - Esquema do custeio por absorção Fonte: Ferreira (2007) b. Sistema de custeio direto ou variável Também conhecido como custeio marginal e custeio por não absorção, este sistema considera unicamente os custos variáveis na composição do custo unitário do produto. Todas as demais despesas e custos fixos são cobertos pelo lucro do período e, portanto, lançados diretamente na demonstração de resultado do período, uma das peças fundamentais das demonstrações contábeis das empresas. Neste caso, não são necessárias quaisquer fórmulas ou critérios de rateio, já que são computados no custo unitário do produto unicamente os custos variáveis perfeitamente identificados como tal. Sintetizamos, na figura 2, o esquema de custeio direto ou variável, adaptado de Ferreira (2007), utilizando a mesma base vista no esquema do custeio por absorção. Aí se nota o tratamento separado dos custos fixos de produção, no retângulo achuriado, o que irá exigir, portanto, uma margem de contribuição maior para tal cobertura. Figura 2 - Esquema do custeio direto ou variável MÓDULO 07 c. Sistema de custeio por atividades ou ABC – Activity-based Costing Como o nome indica, este sistema de custeio leva em consideração as atividades dos processos de produção. Logo, este sistema possibilita uma acurada medição do custo e do próprio desempenho das atividades e dos correspondentes objetos de custo. Parte do suposto de que a) os produtos requerem atividades; b) tais atividades consomem recursos; e c) estes recursos envolvem gastos financeiros. No sistema de custeio ABC, “atividade é tudo aquilo que é executado em uma empresa e que consome recursos para a concretização de um processo”, segundo Ferreira (2007). E prossegue o autor: As atividades serão custeadas pelo rastreamento dos recursos absorvidos em sua execução ou elaboração – como materiais, mão-de-obra, seguro, consumo de energia elétrica – e definidos pelos direcionadores de custo (grifo nosso), que são os fatores ou medidas de consumo que fazem que as atividades sejam realizadas. A implantação de um sistema de custeio ABC requer, dentre outros predicados da empresa e de sua estrutura funcional, as etapas indicadas no quadro 2: Quadro 2 - Etapas para a implantação do custeio ABC O sistema de custeio ABC apresenta como principal vantagem uma alocação dos custos indiretos efetuada de maneira mais racional do que nos demais sistemas de custeio. No entanto, trata-se de um sistema complexo de custeio, exigindo maior dispêndio de tempo e de recursos, tornando difícil a mensuração custo versus benefício de sua aplicação. O quadro 3 traz alguns exemplos das atividades e direcionadores de custo a que nos referimos. Quadro 3 - Atividades e direcionadores de custo Fonte: Ferreira (2007) d. Sistema de custo-alvo e custo Kaizen Este sistema, amplamente utilizado por americanos – base para o lançamento e sucesso do Mustang, um automóvel esportivo lançado pela Ford Motors comandada por Lee Iacocca, em abril de 1964 a um custo de US$ 2.368, após pesquisa entre os potenciais consumidores que afirmaram que estariam dispostos a pagar menos de US$ 2.500 por um veículo com aquelas características, conforme relatam Nagle e Holden (2003) no Destaque 1.1 de sua obra, página 5 – e também por japoneses e, mais recentemente, coreanos, surge no bojo da competição entre as empresas, aliando custo baixo e diferenciação nesta competição, como sugere Porter (1992). A redução de custos é uma necessidade frente aos desafios impostos pela competição acirrada entre as empresas. Trata-se da única forma de manter a lucratividade do negócioem nível satisfatório. O sistema de custo-alvo, ao lado do exemplo citado no parágrafo anterior, já sugere a que se refere: a uma redução de custos desde a fase de planejamento e desenvolvimento do produto. E este produto deverá atender aos requisitos de qualidade e funcionalidade desejados pelo comprador. Trata-se, portanto, de um esforço de toda a empresa, que passa pelas etapas de planejamento do produto com os requisitos do mercado, estabelecimento de custos- alvo, incluindo os custos referentes aos investimentos que serão necessários para o próprio desenvolvimento e para a produção e, ainda, objetivos de processo de produção com vistas ao alcance dos custos-alvo pré-determinados. Um efeito indireto desta gestão de custos consiste, portanto, na inovação, verificada tanto na tecnologia de produto quanto na tecnologia de processo. Ela estará presente em todas as iniciativas com vistas à redução dos custos. Provocará uma verdadeira revolução no que deve ser feito, quando deve ser feito, por que deve ser feito, quem deve fazer e como deve fazer. Os conceitos abordados até aqui, em especial aqueles que permitem a elaboração do equilíbrio econômico da operação, serão de grande valia para uma eventual implantação da metodologia de custo-alvo. Se o custo-alvo se presta ao planejamento e desenvolvimento de novos produtos, o custo Kaizen estabelece metas de reduções de custo em todas as etapas de produção. Pode ser relativo a um produto em particular e/ou aplicado para redução de custos por departamento da organização, de tempos em tempos. e. Sistema de custo-padrão Este sistema fundamenta-se em um amplo suporte da área de engenharia da organização, que irá determinar as horas de mão de obra e a quantidade de dado material para cada parte ou componente do produto objeto do custeio de produção. Portanto, o custo-padrão irá requerer um padrão físico para a sua efetivação. Trata-se, fundamentalmente, de um instrumento de controle à gestão de custos da empresa. Um custo-padrão ideal é estabelecido com base nos melhores materiais, nível zero de ociosidade de mão de obra, utilização de 100% da capacidade disponível e manutenção real compatível com a manutenção programada. Um custo-padrão corrente considera as condições reais de operacionalização da empresa, em todos os aspectos relacionados à atividade industrial, desde a especialização da mão de obra, disponibilidade de máquinas e efetiva necessidade de manutenção das mesmas, além de materiais adequados à produção da parte, peça ou do componente do produto final. Este custo-padrão corrente é fixado com base em determinados níveis de eficiência no desempenho das atividades produtivas. É, portanto, mais complexo do que uma mera estimativa baseada em dados do passado. A busca da eficiência se dará na perseguição dos custos efetivos próximos aos custos-padrão estabelecidos neste exaustivo processo de definição dos parâmetros básicos a serem seguidos. Os procedimentos para a definição destes parâmetros estão detalhados no quadro 4. Quadro 4 - Procedimentos para definição de elementos-padrão Fonte: Adaptado de Ferreira (2007) O custo-padrão é, geralmente, definido com base no fluxograma da figura 3, composto de cinco etapas fundamentais: na primeira, são definidos os custos-padrão dos diversos fatores de produção, tais como a mão de obra a ser utilizada, os materiais a serem aplicados, as máquinas a serem utilizadas no processo industrial e outros de natureza semelhante. Com base neste histórico, tecnologia e experiência, são estabelecidos os consumos- padrão de cada material, na segunda etapa. A terceira etapa no processo de estabelecimento do custo-padrão comporta os níveis de atividade, em que são definidos os parâmetros para a ocupação corrente dos ativos industriais que serão utilizados no processo. Na quarta etapa são levantados os Custos Indiretos de Fabricação (CIF) e, na quinta etapa, são analisados os desvios em relação ao custo-padrão estabelecido na metodologia de custeio. MÓDULO 08 Figura 3 - Etapas para definição de elementos-padrão A análise dos desvios é efetuada com base tanto no que se refere a preço como no que se refere à quantidade de fatores de produção empregada no processo, obtendo-se, assim, o desvio total em relação ao custo-padrão estabelecido, determinado pela diferença entre o custo real e o custo-padrão, tal que: onde f. Sistema de Unidade Esforço de Produção (UEP) ou Unidade Esforço de Trabalho (UET) Utilizando indicações simples e pontuais sobre os diversos componentes de custo de uma determinada máquina ou célula de produção, este sistema permite quantificar o custo envolvido diretamente na transformação de determinada quantidade de matéria- prima em produto semiacabado ou produto terminado. Somado ao custo dos materiais empregados, ter-se-á o custo deste produto. De fundamental importância para uma incorporação de todos os custos diretos e indiretos envolvidos no processo de fabricação, é a mensuração adequada de todos os fatores de produção. Vai desde a correta apropriação da mão de obra direta, passando pelo valor de reposição dos ativos de produção e sua adequada amortização com base no custo-hora, agregando-se os custos relativos à energia elétrica, à água, ao ar comprimido e a outros insumos diretamente apropriados no tempo de operação das máquinas envolvidas no processo. Também são considerados no cálculo da UEP a incorporação do custo/hora/m2 do aluguel das edificações, auditoria de normas de qualidade, seguro etc., além da agregação dos custos com supervisão – as funções de líder, supervisão etc. – e apoio – auxiliares de produção, setores de engenharia e métodos de trabalho, manutenção industrial, manutenção predial etc. Ficam fora do valor da UEP os custos administrativos e de vendas, que deverão ser cobertos pela margem de contribuição, conforme amplamente focalizado a seguir. A UEP fornece, então, o custo hora-máquina ou hora-célula de produção. Evidentemente, os tempos requeridos para a produção de determinado componente, parte ou peça, são preponderantes na determinação do custo de fabricação. Recomenda-se, em particular, a adoção de médias quadrimestrais móveis para o cômputo deste custo hora-máquina ou hora-célula de produção, para, com isso, serem evitadas inclusões extemporâneas de peças de reposição do maquinário, mão de obra de manutenção e outros. Para tanto, basta acrescentar o mês corrente, eliminando-se o quarto mês anterior da média a ser obtida. Uma comparação entre o custo total obtido para a hipótese de 100% de ocupação da fábrica com os custos efetivamente incorridos indicará o valor da provisão a que se estará procedendo a cada mês, de fundamental importância para a cobertura dos compromissos financeiros decorrentes de obrigações e direitos sociais, reposição de ativos de produção e outros. Como um subproduto da UEP, constata-se que tal método possibilita, ademais, um controle da efetiva ocupação da fábrica, com significativas repercussões na gestão do negócio e, sobretudo, do correto dimensionamento da real capacidade de produção e, por consequência, de cobertura do particular segmento de mercado em que atua. O mark-up A precificação, ou formação de preços de venda pode, sim, ser realizada com base nos custos do produto ou serviço a ser comercializado, como faz o comerciante a que nos referimos na apresentação deste conteúdo. Ao multiplicar por 2 o custo do produto adquirido, o comerciante aplica um mark-up 2, ou seja, um fator sobre o custo igual a 2, daí resultando o preço de venda de tal produto. Se o preço de venda inclui todos os tributos, estamos nos referindo a um “mark-up bruto”. Para preço de venda líquido, utiliza-se a denominação “mark-up líquido”. Mas essa simples operação requer alguns cuidados especiais, como veremos a seguir. Para o bom entendimento do conceito de mark-up, é conveniente uma primeira informaçãosobre outras importantes denominações utilizadas na formação de preços de venda. São elas: a margem de contribuição, o lucro operacional e o lucro líquido, que serão utilizados na composição de nosso Demonstrativo Gerencial de Resultado (DGR). O DGR é uma demonstração com algumas modificações em relação ao modelo da Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) instituído pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conhecida por “Lei das Sociedades Anônimas”, que é apresentada no quadro 5. Vamos dar uma olhada mais de perto nesta DRE, para, depois, apontarmos as principais diferenças entre ela e o DGR que utilizaremos em nossas explanações sobre a formação de preços a partir dos custos. A DRE é um modelo que se aplica a qualquer tipo de empresa, de qualquer tamanho. Por isso, traz na especificação da receita operacional bruta as vendas de produtos, de mercadorias e de serviços. A distinção entre produto e mercadorias diz respeito a um bem produzido pela empresa, ou seja, um bem que sofreu transformação por um processo industrial próprio. Este é o produto. Já a designação mercadoria é aplicada para bens que são revendidos, sem passar por nenhuma modificação significativa que caracterize um processo industrial na sua concepção. Na sequência, observamos que ocorre uma subtração da receita operacional bruta como decorrência de devoluções de vendas, abatimentos e impostos e contribuições que incidiram sobre vendas. E aqui reside uma importante constatação: estes impostos – e também outros impostos incidentes sobre o lucro tributável – variam em função do regime de tributação adotado pela empresa no início do ano fiscal. Não é nossa intenção mergulhar profundamente sobre questões tributárias que incidem sobre a receita e/ou sobre o lucro da empresa, dados os aspectos conjunturais e dinâmicos da legislação tributá ria. Recomendamos uma conversa periódica e sistemática com o contabilista encarregado destes aspectos em sua organização, para melhor compreensão da formação de preços de venda, notada mente quando interferirem sobre a rentabilidade líquida do negócio. Informações detalhadas sobre os regimes de tributação também podem ser obtidas no site <http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJu rid ica>. MÓDULO 09 Dentre os regimes tributários, os mais adotados são os seguintes: 1. Lucro presumido Regime de tributação colocado à opção das pessoas jurídicas que tenham perspectiva de faturamento de até R$ 48.000.000,00 no ano fiscal, base junho de 2009, ou “que não estejam obrigadas à tributação pelo lucro real em função da atividade exercida ou da sua constituição societária ou natureza jurídica”. Conforme apontado no site da Receita Federal, “(...) são aquelas pessoas jurídicas que, por determinação legal (Lei nº 9.718, de 1998, Art. 14; e RIR/1999, Art. 246), estão obrigadas à apuração do lucro real, a seguir: a. pessoas jurídicas cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguro privado e de capitalização e entidades de previdência privada aberta; b. pessoas jurídicas que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior; c. pessoas jurídicas que, autorizadas pela legislação tributária, queiram usufruir de benefícios fiscais relativos à isenção ou redução do imposto de renda; d. pessoas jurídicas que, no decorrer do ano-calendário, tenham efetuado o recolhimento mensal com base em estimativa; e. pessoas jurídicas que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring).” Lucro presumido é o regime adotado pela maioria das empresas brasileiras. Neste regime, os impostos incidentes diretamente sobre a receita da empresa são o Imposto de Renda – Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (CO FINS). As aquisições de matéria-prima, partes, peças e componentes que contenham im postos sobre vendas tais como o Im posto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (I PI) constituirão “créditos” desses tributos, a serem compensados por ocasião do recolhimento desses impostos, referentes às vendas da empresa. Esse processo constitui o chamado Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), incidente, como o próprio nome diz, unicamente sobre o valor agregado, ou seja, sobre o valor que foi adicionado pelo vendedor aos custos de produção. Portanto, para efeitos de composição desses custos, os tributos não cumulativos, tais como o ICMS e o IPI, deverão ser deduzidos do preço de aquisição. Já o PIS e a COFINS serão computados sobre o preço final de venda, assim como o IRPJ e a CSLL. 2. Lucro real Regime de tributação disponibilizado para pessoas jurídicas em geral, que não optarem pelo regime de tributação baseada em lucro presumido ou outro regime. Os impostos serão recolhidos com base no lucro tributável, nas condições previstas na legislação específica. Nesse regime de tributação, o PIS e a COFINS são considerados não cumulativos, tais como o ICMS e o IPI. Desta maneira, esses impostos, incidentes nas aquisições de matéria-prima, partes, peças e componentes, constituirão “crédito” a ser compensado destes mesmos tributos incidentes sobre a venda. No entanto, as alíquotas do PIS e COFINS são diferenciadas: no regime lucro presumido, as alíquotas base junho de 2009 são de 0,65% e 3%, respectivamente; já no regime lucro real, as alíquotas são de 1,65% e 7,6%. Essas alíquotas serão consideradas nas simulações que faremos mais à frente. Prosseguindo na leitura do quadro 5, chegamos à receita operacional líquida, resultante da subtração das devoluções de vendas, abatimentos e impostos e contribuições incidentes sobre vendas. Em seguida, aparecem os custos das vendas, separados com base no grupo de produtos, mercadorias e/ou serviços prestados. O resultado operacional bruto será obtido mediante dedução destes custos da receita operacional líquida. E aqui reside uma primeira modificação entre o DGR e o DRE. Adotaremos a denominação “margem de contribuição” para designar a resultante da dedução dos custos da receita líquida, equivalente ao resultado operacional bruto. Esta denominação visa identificar qual a contribuição para cobertura das despesas operacionais, despesas financeiras e outras despesas operacionais provenientes da receita menos custo. A margem de contribuição absoluta será, portanto, um resultado direto da adoção de um mark-up sobre o custo. Ao adotar um mark-up 2, o custo é multiplicado por 2, resultando numa receita – ou preço de venda – duas vezes maior que o custo do produto, com margem de contribuição equivalente ao próprio custo do produto ou serviço comercializado. Mas isso não significa que a margem de contribuição percentual seja de 100%. Ao vender por $ 200 algo que custou $ 100, a margem de contribuição absoluta será $100, que, relacionada com o preço de venda, indicará uma margem de contribuição percentual de 50%. Então, uma margem de 100% só será atingida quando o custo do produto vendido for zero, o que não encontra justificativa no mundo dos negócios, admitidas as exceções como, por exemplo, venda de ativos totalmente depreciados e que, portanto, tenham custo contábil zero. Deduzindo-se do resultado operacional bruto (margem de contribuição, no DGR) as despesas operacionais, compostas pelas despesas com vendas e despesasadministrativas, bem como as despesas financeiras líquidas e as demais receitas e despesas, obtém-se o resultado operacional antes dos impostos. No DGR, o lucro operacional será o resultado da subtração da margem de contribuição das despesas administrativas, comerciais e financeiras, não se considerando quaisquer resultados advindos de variações no patrimônio da organização para efeitos de precificação. Tampouco serão consideradas, na formação de preços de venda que simularemos, as receitas financeiras advindas de aplicações de recursos financeiros ociosos, mas tão- somente as despesas financeiras decorrentes da utilização de um capital operacional, a custo de mercado. Ainda na leitura do quadro 5, subtraindo as provisões para os tributos incidentes sobre o lucro, obtém-se o lucro líquido antes das participações e, depois de eliminadas tais participações, chega-se ao resultado líquido do exercício. Em nossa precificação, simplificaremos o processo de determinação do mark-up incluindo tais participações numa rubrica única que denominaremos remuneração sobre o capital operacional, terminando com o lucro líquido a ser obtido com a venda do produto ou serviço, após as considerações dos impostos diretos que serão deduzidos do lucro operacional bruto. O quadro 6 apresenta um DGR, na forma ora relatada. MÓDULO 10 A formação de preços de venda com base no custo do produto Os cálculos que serão a seguir efetuados foram estabelecidos com base no regime de tributação lucro presumido. Com pequenas variações nos percentuais do PIS e da COFINS, esta sistemática pode ser utilizada também para o regime lucro real. Adotaremos, nesta precificação, a seguinte fórmula: onde PV Preço de Venda contendo todos os tributos. Custo do Produto/Merca doria Compreende todos os custos diretos de prod ução ou custos para obtenção da mercadoria que se pretende comercializar. Margem de Contribuição % A parte do preço de venda necessária para a cobertura das despesas administrativas, comerciais e financeiras, além dos impostos diretos, a remuneração pelo capital operacional e o lucro líquido esperado na negociação. %ICMS Indicação do percentual do ICMS que incidirá sobre a venda. %IPI Indicação do percentual do IPI que incidirá sobre a venda, em se tratando de produto próprio sujeito a esta tributação. %PIS Indicação do percentual referente ao PIS %COFINS Percentual referente a COFINS %IRPJ Indicação do percentual referente ao IRPJ %CSLL Indicação do percentual referente à CSLL Como é possível deduzir da presente fórmula, o IRPJ e a CSLL incidem sobre o valor da venda com todos os tributos, inclusive o IPI. Esse tributo é excluído da base de cálculo, no cômputo do ICMS, do PIS e da COFINS. Essa fórmula de precificação considera que a margem de contribuição (%) é aplicada sobre o custo do produto para a obtenção de determinado preço de venda que chamaremos de “preço de venda intermediário”, que servirá de base para o cômputo dos tributos. Desta maneira, não há incidência de margem de contribuição sobre os tributos, o que ocorreria se se considerasse a margem de contribuição % no denominador da fração, ao lado dos tributos. Portanto, a utilização de um “preço de venda intermediário” deve implicar a adoção de uma comparação de todas as despesas a serem cobertas pela margem de contribuição – e também o lucro líquido – com tal “preço de venda intermediário”, estabelecendo-se o percentual adequado de cada despesa e do lucro líquido almejado em relação a este preço de venda. Outra importante observação é que, dada a sua base de incidência ser o preço de venda final, quaisquer outras considerações no preço, tais como comissão de representantes, margem de negociação – um overprice (acréscimo no preço) que serve de anteparo para eventuais descontos a serem atribuídos no momento do fechamento do negócio – devem ser incluídos no denominador da fórmula, no seu percentual correspondente, ao lado do IRPJ e CSLL, já que sua base de incidência é o preço final com IPI, na maioria das vezes. Sejam, então, os seguintes elementos: Custo do produto/Mercadoria $ 250,00 Margem de contribuição % 63,374 %ICMS 18 %IPI 10 % PIS 0,65 %COFINS 3 %IRPJ 1,2 %CSLL 1,08 Incorporando esses dados na fórmula de precificação,obtém-se: Vamos agora dispor estes dados em um DGR, como se este fosse o único produto comercializado pela empresa num determinado período. Teríamos, então, a composição apresentada na tabela 5. Observe-se que o preço de venda obtido, de $ 990,00, é a receita da empresa, com exclusão das devoluções de vendas e dos abatimentos. A adoção de percentual de margem de contribuição com três casas decimais deveu-se à necessidade de obtenção de valores coerentes com tal DGR. Este valor de $ 990,00 configura o preço de venda com todos os tributos. Esta é a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, conforme ressaltado anteriormente. Sem o IPI, computado à razão de 10%, o valor da venda seria, portanto, de $ 900,00, que constitui a base de cálculo dos demais tributos incidentes sobre a venda e a receita, conforme se depreende da tabela 5. Vejamos cada um dos tributos e sua correspondente base e forma de cálculo: a. ICMS Constitui a mais importante fonte de receita de tributos do governo, em suas três esferas: União, Estados e municípios. É um imposto subnacional, ou seja, administrado pelos Estados, que tratam de repassá-lo aos municípios, segundo critério específico. No caso de industrialização ou revenda, conforme legislação em vigor em junho de 2009, a base de cálculo deste imposto é o preço de venda sem IPI. No nosso exemplo, $ 900,00, que, multiplicados pela alíquota de 18%, resultarão no valor de $ 162,00. b. IPI Um imposto federal que retorna parcialmente aos Estados e municípios. Incide sobre o valor da venda com ICMS, no presente caso. Portanto, considerando alíquota de 10% e base de cálculo de $ 900,00, o valor deste tributo será de $ 90,00. c. IRPJ Nas premissas adotadas, incide sobre a receita da empresa, excetuadas as devoluções de vendas e abatimentos, ou seja, sobre $ 990,00. A alíquota estabelecida, de 15% sobre uma base de cálculo de 8% implica 1,2% sobre a receita, de onde resulta um valor de $ 11,88. O Imposto de Renda, tanto aquele que incide sobre a pessoa jurídica quanto o da pessoa física, também retorna parcialmente a Estados e municípios. d. CSLL Com uma alíquota de 9% sobre uma base de 12%, corresponde a 1,08% da receita da empresa, também se excetuando as devoluções e abatimentos, ou seja, $ 990,00, o que perfaz $ 10,69. Esse tributo fica integralmente com a União. e. PIS Na premissa de regime tributário lucro presumido, este tributo corresponde a 0,65% da receita da empresa, excetuando-se o IPI, ou, no caso, $ 900,00. Com isso, o valor obtido corresponde a $ 5,85. Esse tributo fica integralmente com a União. f. COFINS Essa contribuição corresponde a 3% do valor da receita da empresa sem o IPI, perfazendo $ 27,00. Esse tributo fica integralmente com a União. A tabela 5 possibilita, ademais, a visão do mark-up – como foi visto, trata-se de um fator que, multiplicado pelo custo do produto vendido, indica qual deve ser o preço de venda. Para preço com tributos, o mark-up bruto deve ser 3,96 e, para preço líquido, ou seja, preço sem os tributos incidentes sobre a venda e a receita, um mark-up líquido de 2,73. Recomendamos que, após a inclusão de todos os elementos na fórmula básica, seja efetuada uma decomposição do preço, em que conste a base de incidência de qualquer um dos acréscimos ao custo e o correspondente valor, resultando no custo do produto que foi considerado na formulação do preço de venda, conforme se deduz da tabela 5. Utilizando a mesma estrutura da tabela 5, elaboramos outro DGR, focalizando, agora, uma empresa prestadora de serviços. Nesse caso, a tributação relativa ao IRPJ e à CSLLpossui base distinta de uma empresa industrial, conforme legislação em vigor em junho de 2009. Confira os dados da tabela 6. Ressaltamos, como últimas considerações a respeito da precificação a partir dos custos, a necessidade de uma informação atualizada sobre o montante e base de incidência dos tributos sobre a venda e a receita, dados os seus reflexos sobre a rentabilidade do negócio. Para saber mais sobre esta forma de apreçamento, consulte a bibliografia sugerida. A Unidade 2 apresentará as demais considerações sobre a formação de preços de venda, focalizando os aspectos relacionados a preços e concorrentes e preços e clientes. Tabela 5 - Demonstração gerencial do resultado lucro presumido Indústria Tabela 6 - Demonstração gerencial do resultado lucro presumido Prestação de serviços Quadro 5 - Modelo da Demonstração do Resultado do Exercício Quadro 6 - Demonstração Gerencial do Resultado MÓDULO 11 2 PREÇOS E CONCORRÊNCIA Introdução Na maioria das vezes, quando se inicia uma “guerra de preços” entre dois concorrentes, torna-se difícil estabelecer o momento em que tal disputa por um melhor posicionamento de preço sob a ótica do cliente irá terminar. Cada competidor analisa cuidadosamente os movimentos do seu concorrente, esperando o melhor momento para interromper as reduções de preço e, então, desfrutar de um market share (participação de mercado) que lhe seja conveniente frente às suas reais possibilidades de produção, com ampla cobertura de seus custos variáveis e, na medida do possível, de todos os seus custos fixos, como apresentado no capítulo anterior. Uma disputa mercadológica baseada em preço representa uma forma de concorrência predatória, ou seja, que causa mais danos do que benefícios a quem assim compete. Cada empresa tem uma determinada composição de custos que devem ser cobertos pela receita de vendas. Reduções no preço de venda levam fatalmente a reduções de receita de vendas, que, quando efetuadas de forma desregrada, com vistas unicamente a ganhos na participação de mercado, pode inviabilizar a própria subsistência do negócio. Em alguns momentos muito particulares de suas organizações, empresários sacrificam margem de contribuição em prol da obtenção da encomenda tendo em vista a cobertura dos custos fixos de sua empresa. Trata-se de uma operação que requer cuidado especial quanto às reduções, concentrando tal cobertura nos custos fixos que impliquem valores calculados – caso dos custos com depreciação de ativos, por exemplo – ou seja, valores que não signifiquem gastos efetivos e, portanto, não constituem saídas de caixa, operacionais ou não operacionais. A rigor, as concessões sobre o preço de venda podem até significar margem de contribuição zero, mas jamais margem negativa, porque isso significa que nem sequer os custos variáveis diretamente apropriados ao custo do produto foram cobertos pelo preço de venda adotado in extremis (no extremo, como uma extrema-unção, uma última reza para quem está prestes a morrer). Representa, portanto, um verdadeiro “suicídio empresa rial”. Algo assim como enviar um cheque da empresa que está fornecendo o produto devidamente preenchido, assinado e endossado ao comprador, junto com o produto fornecido! Muito provavelmente, existem outras maneiras de se praticar alguma concessão ao comprador, na maioria dos segmentos de atuação, tanto industriais quanto comerciais, antes de se incorrer em uma concorrência predatória. Para isso, são necessárias, sobretudo, muita criatividade e inovação no tratamento desta importante variável – a concorrência – na formação de preços de venda. Vejamos, a seguir, alguns aspectos relacionados à concorrência, de fundamental importância na precificação de produtos e serviços. Mas, antes, vamos nos deter em uma rápida análise de algumas particularidades estratégicas que envolvem uma organização, qualquer que seja o seu tamanho e, sobretudo, sua potencialidade no mundo dos negócios, isto é, a possibilidade que tal organização reúne de sobrevivência, crescimento e perpetuação no particular segmento de atuação. 2.1 O macroambiente e o ambiente setorial A figura 1 sintetiza a localização de uma empresa industrial, comercial e/ou prestadora de serviços de forma universal no seu particular ambiente de atuação. Aí se pode notar que a empresa está inserida num determinado ambiente setorial, ou seja, o setor em que atua. Sendo uma empresa industrial fabricante de autopeças, por exemplo, está inserida no setor automotivo. Um fabricante de armários elétricos está inserido no setor elétrico. Um comerciante de “secos e molhados” (lembra-se dele?) está inserido no setor de comércio. Um escritório de contabilidade pertence ao setor prestador de serviços. Configuram este ambiente operacional, além da própria empresa, quatro outros grupos de agentes interessados nas operações da empresa: os assim chamados stakeholders são os seus fornecedores, os seus clientes, os concorrentes e todos os demais, aí incluídos os agentes de governo – o governo municipal (prefeitura), diretamente responsável pelas licenças de funcionamento do negócio, o governo estadual, responsável pela maior fonte de arrecadação fiscal do país, o ICMS, e o governo federal, que, com sua política econômica, notadamente política fiscal e política monetária, e, para importadores e exportadores, a política cambial, pode interferir diretamente nas operações da empresa, ampliando ou diminuindo a demanda e a oferta, proporcionando melhores ou piores condições de financiamento de capital de giro, capital para investimento e consolidação do negócio, além de sociedades da organização civil diretamente interessadas no negócio, enquanto preservadoras do meio ambiente, prestação de serviços solidários etc. Figura 1 - O ambiente de atuação da empresa O macroambiente é composto por forças que atuam sobre as organizações em geral, a saber: forças econômicas, forças político-legais, forças tecnológicas e forças sociais. Alguns exemplos de tais forças macroambientais estão detalhados no quadro 1. Quadro 1 - Exemplos de forças macroambientais Fonte: Adaptado de Wright (2000). 2.2 A estrutura de mercado como determinante da capacidade de competição de uma empresa O ambiente setorial de atuação da empresa configura uma determinada estrutura de mercado, conforme pode ser visto na disciplina Economia de Mercado. Essa estrutura de mercado, de maneira sintética, compreende basicamente a forma como se dá a interação entre compradores e vendedores num particular setor. Sintetica mente, as estruturas de mercado são determinadas por: a. um fator de ordem quantitativa, indicando o número de empresas vendedoras que atuam neste mercado; b. o “poder de fogo” destas empresas, no que tange à sua capacidade de compra e negociação; c. o grau de correlação entre as diversas empresas que atuam no mercado, no que se refere à sua interdependência; d. o grau de similitude e diferenciação entre os produtos destas diferentes empresas; e. um outro fator de ordem quantitativa, desta vez relacionado ao número de compradores, tanto empresas quanto indivíduos ou famílias; f. o grau de informação que consumidores e demais empresas vendedoras possuem sobre os produtos que são transacionados neste particular mercado, principalmente aqueles referentes a preços e demais condições que influenciam a aquisição do produto; g. a possibilidade de entrada e saída de empresas do particular segmento de atuação, ou seja, da “indústria”, como é conhecido o setor – ou ramo – de produção. A construção sintética de uma matriz estrutural de mercado leva em consideração, como executado por Stakelberg, em 1934, a quantidade de agentes econômicos – vendedores e compradores – que agem no mercado. Este autor concebeu três situações possíveis, tanto do lado da oferta quanto do lado da procura: apenas um agente econômico, uma pequena quantidadede agentes econômicos e uma grande quantidade de agentes. Relacionando cada uma dessas situações com todas as demais, Stakelberg com pôs a seguinte matriz de nove diferentes estruturas possíveis: Quadro 2 - Estrutura de Mercado, segundo Stakelberg Fonte: Jorge; Moreira (2009). Vejamos mais detalhadamente tal classificação: ali, na confluência de uma grande quantidade de vendedores com uma grande quantidade de compradores – o extremo nordeste do quadro – situa-se a concorrência perfeita. Na realidade, uma utopia. Impossível imaginar, nos dias de hoje, um mercado que seja dominado pela existência de elevado número tanto de compradores como de vendedores, tal que nenhum deles, de per si (isolada mente) teria condições de determinar preços e quantidades neste mercado. Mais realista supor que os mercados apresentam, sim, uma típica concorrência imperfeita, o próprio conjunto das demais configurações na matriz de Stakelberg. Ali se denota que um monopólio caracteriza uma situação em que existe somente uma em presa vendedora de determinado produto e/ou serviço, para uma grande quantidade de compradores. É o caso, por exemplo, do abastecimento de energia elétrica, considerado um monopólio “natural”, dadas as condições de economia de escala, preços administrados, regulação do Estado e outras características típicas. No caso em que só existisse uma empresa compradora – a Petrobras, por exemplo, com um determinado tipo de válvula fabricado sob encomenda – e muitos vendedores, ter- se-ia uma situação típica, caracterizada por um monopsônio. No canto inferior esquerdo do quadro – extremo sudoeste – observa-se a zona de interação entre um único vendedor e um único comprador. Este é um mercado em que prevalece o monopólio bilateral. Um quase-monopólio e um quase-monopsônio seriam caracterizados na situação em que o único vendedor interage com um pequeno número de compradores e, no segundo caso, na situação em que um único comprador se relaciona com um pequeno número de vendedores. O uso do termo “quase” também se aplica no estudo da moeda, indicando cartões de crédito, depósito em poupança, vale- refeição e outros como “quase-moeda”. Configurando as situações que mais se aproximam das estruturas de mercado encontradas atualmente, despontam os oligopólios – uma pequena quantidade de empresas vendedoras de algum produto e/ou serviço se relacionando com uma grande quantidade de compradores. É o caso do setor automobilístico, de transporte aéreo de passageiros, de dentifrícios e outros. Também os oligopsônios – que configuram uma interação entre uma pequena quantidade de empresas compradoras e uma grande quantidade de empresas vendedoras, como, por exemplo, no caso de fornecedores de frangos de um dia para a indústria alimentícia especializada – fazem parte da concentração de empresas em diversos segmentos econômicos. No centro do quadro está localizado o oligopólio bilateral, que demonstra uma inter- relação entre uma pequena quantidade de vendedores e, do outro lado, uma pequena quantidade de com pradores. Cada um desses agentes vendedores considera os seus concorrentes de maneira peculiar na sua formação de preços de venda. Evidentemente, no caso de um monopolista, sua maior preocupação consiste em oferecer a quantidade de produto que maximiza seu lucro, dada pela igualdade entre receita marginal RMg e custo marginal CMg vista na Unidade 1 desta disciplina e, por outro lado, um preço tal que impossibilite a entrada de novos competidores. Se o seu preço for muito elevado, isso certamente irá atrair outros potenciais ofertantes, significando um fator a mais a ser considerado na competitividade entre as empresas, ao lado de outros, como é o caso do acesso a fontes de matéria-prima, componentes, mão de obra especializada, estrutura organizacional, vocação da empresa etc. MÓDULO 12 2.3 Preços, quantidade ofertada e quantidade demandada A rivalidade no mercado de atuação da empresa se situa, em particular, nos mercados de oligopólio e, sobretudo, naqueles em que o mecanismo da demanda e da oferta mais se fazem sentir, como num mercado de suposta concorrência perfeita. Por este mecanismo, em situação de plena competitividade, quando há substitutos próximos de vários ofertantes, existirá um preço de equilíbrio que igualará os interesses de ofertantes e demandantes do produto. Esse preço de equilíbrio P* irá regular a quantidade que será oferecida e a quantidade que será demandada, configurando, assim, a quantidade de equilíbrio Q*, como demonstrado no gráfico 1: Gráfico 1 - Equilíbrio entre a oferta e a demanda É fácil perceber que, se algum dos competidores forçar preços acima do preço de equilíbrio, haverá uma retração da quantidade demandada, determinada pela confluência do novo preço P1 no gráfico 2. Desta maneira, a quantidade demandada cairá para Qd1, coeteris paribus. Gráfico 2 - Equilíbrio entre a oferta e a demanda e um aumento de preço Isso originará também um excedente de oferta, dado pela diferença entre Qs1 e Qd1, conforme demonstrado no gráfico 3, que exercerá uma pressão sobre os preços, forçando a uma redução e a uma recondução ao preço original P*. Gráfico 3 - Equilíbrio entre a oferta e a demanda e o excedente de oferta No caso de uma diminuição de preço, observadas as mesmas condições de atuação dos concorrentes, também ocorrerão desequilíbrios, conforme apontado no gráfico 4. Diminuições de preço têm como consequência uma diminuição da disposição dos produtores do bem em relação a tal produto. Haverá, portanto, uma contração da oferta, com a quantidade oferecida deslocando-se para Qs2, conforme apontado neste gráfico. Gráfico 4 - Equilíbrio entre a oferta e a demanda e uma diminuição de preço Mas a preços menores correspondem quantidades maiores sendo demandadas. Os consumidores responderão favoravelmente a diminuições de preço, aumentando a quantidade demandada para Qd2, conforme apontado no gráfico 5. Este aumento também se processa pela entrada de novos consumidores, atraídos pelos preços mais baixos. Com a retração da quantidade ofertada e a expansão da quantidade demandada, observar-se-á um excesso de demanda, demonstrado no gráfico 5. Como consequência da expansão da demanda e da retração da oferta, os preços tenderão a subir, retornando ao preço de equilíbrio. Isso porque, à medida que o preço aumenta, haverá maior interesse em aumentar a quantidade ofertada. Por sua vez, a quantidade demandada irá diminuir, na medida em que o preço do bem ou serviço em questão aumentar. Gráfico 5 - Equilíbrio entre a oferta e a demanda e um excesso de demanda Nagle e Holden (2003) apresentam um interessante estudo de caso de uma produtora atacadista de plantas e flores, a Ritter & Sons, no capítulo 3 de sua obra, página 53, sobre precificação e ponto de equilíbrio. Vale a pena dar uma olhada neste caso, para ilustração do que foi visto até aqui. MÓDULO 13 A elasticidade da demanda e sua importância na formação de preços de venda a. A elasticidade-preço da demanda Nem todos os produtos ou serviços reagem de uma mesma maneira às flutuações no seu preço. Variações percentuais de preço podem, indubitavelmente, provocar variações percentuais da quantidade demandada, porém, em magnitude diferente, ou seja, a uma variação percentual de 20% no preço, por exemplo, pode ocorrer uma variação percentual da quantidade demandada maior, igual ou menor do que 20%. Com isto, os formadores de preço precisam ficar atentos a estes apelos de variações percentuais no preço provocando variações percentuais de quantidade demandada, para cima ou para baixo, ao formularem sua política de preços. O comerciante de “secos e molhados” a que nos referimos na apresentação da unidade 1 descobriu qual era a “elasticidade-preço da demanda” – sem saber que era esse o nome do fenômeno – quando procedeu a uma redução no preço do bem A, de 10%. Ele vendia 100 unidadespor mês ao preço unitário de R$ 10,00 cada unidade. Repassou aos seus clientes um desconto que obtivera numa aquisição de um volume maior de produto junto ao atacadista e, como consequência, a quantidade vendida saltou de 100 para 120 unidades. Acostumado a acreditar só no que via, fez um rápido cálculo de sua receita total com este produto: vendia 100 unidades a R$ 10,00 cada, faturando R$ 1.000,00 com este produto. Ao preço de R$ 9,00 – dera um desconto de 10% no preço anterior, lembra-se? – vendeu 120 unidades, ou seja, 20% a mais do que vendia antes, o que gerou um faturamento de R$ 1.080,00! Com preço menor, faturamento maior! Recapitulando: concedeu um desconto de 10% e a quantidade vendida aumentou 20%! E colocou os dados em uma tabela – a tabela 1 –, para pensar neles depois. Até fez um gráfico com os elementos daí derivados, o gráfico 6: Tabela 1 - O caso de um produto “elástico em relação a preço” Gráfico 6 - O caso de um produto “elástico em relação a preço” E, num repente, nosso comerciante percebeu que, para dispor a curva de demanda num gráfico que pudesse retratar posteriormente qualquer produto, ele não indicaria os preços no eixo vertical, mas sim a variação percentual do preço. E faria a mesma coisa com o eixo horizontal, onde dispôs a variação percentual da quantidade demandada. Traçou retas paralelas a cada um destes eixos, a partir de uma escolha de um intervalo equivalente a 10% no eixo de variação percentual dos preços, observando a mesma proporção no espaço equivalente a 20% no eixo da variação percentual da quantidade. “Quebrou” os eixos, porque o que interessava mesmo era o intervalo de 10% e de 20% no eixo de preços e quantidades, respectivamente, com perfeita equivalência no seu dimensiona mento. No cruzamento das linhas, indicou, no sentido horário, o ponto a, b, c e d. Agora sim ele poderia associar as variações percentuais e, conhecedor do conceito de demanda, que reza que “a preços menores corresponde uma quantidade demandada maior”, escolheu os pontos d e b, dando origem a uma reta de demanda. Com grande probabilidade, a cada desconto adicional, ele poderia esperar uma elevação da quantidade mais do que proporcional ao desconto concedido. É isso o que reza uma “demanda elástica em relação a preço”: Ou seja, a variação percentual da quantidade demandada Δq é maior do que a variação percentual do preço Δp. Veja como fica fácil comprovar a elevação da receita total, no caso de uma demanda elástica em relação a preço, com a ajuda do gráfico 7: Gráfico 7 - O caso de um produto “elástico em relação a preço” e a elevação da receita total com preço decrescente O retângulo azul (mais forte) corresponde à receita total no momento 0, dada por P0 que multiplica Q0, ou seja, o faturamento de R$ 1.000,00 quando o preço P0 é R$ 10,00 e a quantidade vendida Q0 é 100. O retângulo azul-claro corresponde à receita total no momento 1, dada por P1 que multiplica Q1, ou seja, o faturamento de R$ 1.080,00 quando o preço P1 é R$ 9,00 e a quantidade vendida Q1 é 120. Evidentemente, um aumento de preço, no caso de uma demanda elástica em relação a preço, poderá significar uma redução do faturamento, porque a quantidade demandada cairá mais do que proporcionalmente à variação do preço, ou seja, o aumento percentual do preço poderá provocar uma queda percentual da quantidade demandada em volume mais acentuado. Para ver como isto seria disposto num gráfico, basta imaginar uma substituição dos coeficientes 0 e 1 no gráfico 7. E como ficaria o caso em que uma redução de preço não provoque aumento da quantidade demandada? Pois bem! O comerciante de secos e molhados fez uma nova experiência: reduziu o preço do produto B de R$ 4,00 para R$ 3,00, concedendo um desconto de 25% sobre o preço usualmente praticado. No entanto, a quantidade demandada, que era de 80 unidades, passou para 88 após o desconto. Sua receita com este produto saiu de R$ 320,00 para R$ 264,00. Neste caso, o desconto não possibilitou um aumento da receita, mas sim uma queda. E o comerciante colocou estas informações numa tabela e num gráfico, como fez com o outro produto, para pensar mais tarde no assunto. Tabela 2 - O caso de um produto “inelástico em relação a preço” Gráfico 8 - O caso de um produto “inelástico em relação a preço” Neste caso, então, pode-se notar que Ou seja, a variação percentual da quantidade demandada Δq é menor do que a variação percentual do preço Δp. E a receita total, no caso de uma demanda inelástica em relação a preço, fica assim: Gráfico 9 - O caso de um produto “inelástico em relação a preço” e a diminuição da receita total com preço decrescente Viu agora, por que é que alguns produtos só aumentam de preço? São aqueles bens ou serviços considerados essenciais, como é o caso do combustível, por exemplo. Quando o preço deste produto sobe, a quantidade demandada não se retrairá na mesma proporção, o que levará a um aumento da receita total. Basta seguir aquela mesma orientação anterior e imaginar uma inversão entre os preços e as quantidades no gráfico 9 para ver como isso é verdade. Isto porque a elasticidade-preço da demanda, que chamaremos de EDN, é definida por Esta notação indica que a elasticidade-preço da demanda de um bem n qualquer é dada pela relação existente entre a variação % na quantidade demandada deste bem e a variação % no preço deste mesmo bem. E, para ficar mais fácil ainda de identificar qual é o tipo de elasticidade-preço da demanda de um produto, basta verificar que: a. se EDN > |1|, então a demanda é elástica em relação a preço; b. se EDN < |1|, então a demanda é do tipo inelástica em relação a preço; c. se EDN = |1|, então a demanda é de elasticidade unitária. A notação |1| indica que devemos considerar o número que resultar da divisão entre a variação % da quantidade pela variação % no preço do mesmo bem, não nos preocupando com o sinal daí derivado que, no caso da demanda, será sempre negativo. Isso porque quando o preço aumenta (sinal positivo, portanto), a quantidade demandada diminui (sinal negativo). Ou, quando o preço diminui (sinal negativo), a quantidade demandada aumenta (sinal positivo, portanto). Esta notação indica o módulo do resultado da divisão. A propósito: o produto A a que nos referimos no início deste tópico tem EDN determinado por: Como visto, se EDN > |1|, então a demanda será elástica em relação a preço. Quedas no preço provocarão aumento na quantidade demandada mais do que proporcional, elevando, assim, a receita total daí derivada. O produto B, por sua vez, apresenta Edn como segue: Sendo EDN < |1|, a demanda será inelástica em relação a preço. A redução no preço provoca aumento na quantidade demandada menos do que proporcional à redução no preço, o que fará com a receita total daí derivada diminua, como demonstrado no gráfico 9. b. A elasticidade-preço cruzada da demanda No tópico anterior abordamos a elasticidade-preço da demanda de um bem em particular. As variações percentuais no preço deste bem provocam variações percentuais na quantidade demandada deste mesmo bem. Existem, no entanto, alguns produtos e/ou serviços que têm sua quantidade demandada dependente das variações percentuais de preço de outro bem correlacionado. Esta correlação poderá indicar um bem substituto ou um bem complementar. O primeiro caso, o do bem substituto, é o caso de bens que não apresentam grandes diferenças entre si, sendo fácil a substituição de um pelo outro. Você pede uma Coca-Cola, por exemplo. O garçom lhe oferece uma Pepsi-Cola e você aceita. Você quer um mamão de sobremesa e o garçom o convence de que o abacaxi está ótimo. E você aceita o abacaxi, sem pestanejar. Estes são caracteristicamente bens substitutos. O preço de um interfere na quantidade demandada de outro. Observe o gráfico 10. Movimentos para cima no preço do mamão, por exemplo, podem provocar um aumento da quantidade demandada
Compartilhar