Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
�1 TUTORIA TERCEIRO PERÍODO - MÓDULO II Camila Alcantara, Med XI �2 Problema 1 – “A casa dos idosos” Procurando conhecer os problemas mais comuns que acometem as pessoas idosas, um grupo de alunos da FAMERV resolveu visitar um Residencial Geriátrico. Os alunos foram recebidos pelo diretor da casa com a seguinte frase: “Que bom que vieram, estamos assustados com o número cada vez maior de idosos. Talvez, vocês possam nos ajudar a entender o que está acontecendo. Nossos Idosos estão cada vez mais velhos, ou seja: muito idosos, e com isto alguns ficam muito dependentes e debilitados.” No primeiro encontro, os alunos conversaram com várias pessoas: idosos, cuidadores e profissionais de diversas áreas. Eles observaram o comportamento dos idosos e atentaram para um fato intrigante: um grupo de velhinhos estava muito animado com a possibilidade de fazer uma viagem, enquanto outros pouco se importavam com o acontecimento. Os Alunos notaram que esse segundo grupo demonstrava certo grau de descontentamento, não se alimentava direito, pouco interagia, mesmo com seus cuidadores, e tinha queixas diversas sobre problemas de saúde. Os alunos puderam notar doenças prevalentes neste grupo, bem como, alterações ditas fisiológicas e concomitância entre elas. De certa forma, o segundo grupo era mais dependente para realizar suas atividades e dificilmente se mostrava satisfeito. O primeiro grupo, apesar de também apresentar suas limitações, algumas delas julgadas normais do envelhecimento, não tornava isso um impedimento para usufruir das coisas boas da vida. Até mesmo o Sr. Pedro que, aos seus 75 anos, considerava o seu envelhecimento bem sucedido, julgava-se saudável e estava pronto para a viagem. OBJETIVOS 1) Conceituar e explicar a transição demográfica e epidemiológica. TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA O envelhecimento da população mundial é um dos grandes desafios a ser enfrentado nas próximas décadas. Em decorrência da acentuada redução da mortalidade prematura por inúmeras doenças agudas e crônicas, observada ao longo do século 20, a expectativa de vida aumentou e continuará se elevando na maioria das regiões do planeta. Simultaneamente, ocorreu também diminuição das taxas de natalidade. No Brasil, de 1960 a 2010, a esperança de vida aumentou 25,4 anos, passando de 48 para 73,4 anos. Já o número médio de filhos por mulher decresceu de 6,3 filhos para 1,9 nesse período, valor abaixo do nível de reposição da população. Os principais fatores que contribuíram para essas mudanças foram os avanços da tecnologia, especialmente na área da saúde, como vacinas, antibióticos, melhores métodos de anti- concepção, maior acesso da população aos serviços de saúde, prevenção e avanço no tratamento de doenças. Esse processo caracterizado por redução nas taxas de natalidade e aumento da expectativa de vida é conhecido como transição demográfica e resulta no envelhecimento populacional. Essas mudanças alteraram a pirâmide etária, com estreitamento da base e o alargamento do topo, refletindo a estrutura de população mais envelhecida, característica dos países mais desenvolvidos. Nos anos de 1990, a fração de idosos era de aproximadamente 10 milhões de indivíduos, ou seja, 7% da população total. De acordo com o Censo Demográfico de 2010, essa fração aumentou para aproximadamente 11% da população, com cerca de 20 milhões de indivíduos. Estima-se que, em 2025, haverá mais de 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos (aproximadamente 15% da população) no Brasil e que será o sexto país do mundo em número de idosos.abrigará. Em relação ao envelhecimento da população brasileira, um importante fenômeno precisa ser ressaltado, não diferente de outras regiões do mundo, é que a população que mais cresce proporcionalmente é a dos muito idosos, ou seja, de 80 anos e mais. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), a população total brasileira cresceu 21,6% no período de dez anos, compreendidos entre 1997 e 2007; a população de 60 anos e mais, 49,2%, e a população muito idosa, ou seja, de 80 anos e mais, 65%. Já o grupo de centenários e supracentenários (110 anos e mais) cresceu em torno de 77%, ultrapassando 24 mil pessoas. Camila Alcantara, Med XI �3 Com o envelhecimento populacional, verifica-se a transição entre as principais causas de morbidade e mortalidade. TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Se refere às modificações nos padrões de morbidade, invalidez e morte em conjunto com outras transformações demográficas e sociais de uma população. Essa transição se relaciona diretamente com a transição etária presente no perfil da população. Acometimentos crônicos passam a predominar sobre os agudos (fundos pela morte ou resolução do problema de saúde)Engloba 3 mudanças básicas: -Doenças externas e não transmissíveis passam a ser a principal causa de morte no lugar de doenças transmissíveis. -Morbimortalidade passa a ser maior para a população mais velha em detrimento da população mais nova. -Predominancia da morbidade sobre a mortalidade. No Brasil, a transição epidemiológica é peculiar. Ocorre uma superposição entre doenças degenerativas e crônicas e transmissíveis. Isso faz com que a morbimortalidade permaneça elevada por ambos os padrões. 2) Conceituar senescência e senilidade. Há uma grande diferença entre os termos senilidade e senescência no âmbito teórico e também na vivência. Ambos são ligados ao envelhecimento, no entanto, são quadros com impactos muito diferentes sobre a saúde. “A senescência abrange todas as alterações produzidas no organismo de um ser vivo – seja do reino animal ou vegetal – e que são diretamente relacionadas a sua evolução no tempo, sem nenhum mecanismo de doença reconhecido”, explica o geriatra Wilson Jacob Filho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São, portanto, as alterações pelas quais o corpo passa e que são decorrentes de processos fisiológicos, que não caracterizam doenças e são comuns a todos os elementos da mesma espécie, com variações biológicas. São exemplos de senescência a queda ou o embranquecimento dos cabelos, a perda de flexibilidade da pele e o aparecimento de rugas. “São fatores que podem incomodar algumas pessoas, mas nenhum deles provoca encurtamento da vida ou alteração funcional”, explica o médico. Já a senilidade é um complemento da senescência no fenômeno do envelhecimento. O geriatra define como “condições que acometem o indivíduo no decorrer da vida baseadas em mecanismos fisiopatológicos”. São, dessa forma, doenças que comprometem a qualidade de vida das pessoas, mas não são comuns a todas elas em uma mesma faixa etária. “Assim são a perda hormonal no homem que impede a fertilidade, a osteoartrose, a depressão e o diabetes, entre outros comprometimentos”, explica Jacob Filho. Todas essas circunstâncias não são normais da idade e nem comuns a todos os idosos, por isso são caracterizadas como quadro de senilidade. Nem sempre a diferenciação entre um quadro e outro é tão clara, diz o geriatra. “A alteração de memória, quando se esquece dos fatos mais recentes e lembra-se bem dos antigos, por exemplo, é frequente com o avançar da idade para todos os idosos, por isso é parte da senescência”, afirma. “No entanto, há alterações de memória que caracterizam doenças, como o Alzheimer, por exemplo”. Nesse caso, seria um quadro de senilidade. FONTE: SITE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA 3) Discutir os aspectos psicológicos e sociais gerados pela influência da solidão e limitações, das limitações do idoso e a institucionalização. SOLIDÃO, INSTITUCIONALIZAÇÃO E ASPECTO PSICOLÓGICO Camila Alcantara, Med XI �4 A quantidade de idosos que moram sem familiares tem aumentado nos últimos anos, especialmente entre os muito idosos. Causas para isso são o aumento da autonomiaproporcionado por melhores condições de vida, e também por viuvez ou divórcio. "Como Sousa, Figueiredo & Cerqueira10 afirmam, vigora “uma sociedade sem tempo para respirar em que a preocupação com a produtividade e a prosperidade económica falam mais alto, remetendo os idosos para situações graves de solidão e exclusão”. Pereira, Giacomin & Firmino18 afirmam que quanto maiores forem as barreiras / constrangimentos socioculturais, mais difícil será a integração de um indivíduo com alguma disfuncionalidade e respectiva participação na sociedade, o que poderia evitar seu isolamento. No idoso e sobretudo no grande idoso (com 85 ou mais anos), o corpo apresenta sinais visíveis do tempo, podendo, para alguns dos seus donos, representar perdas muito significativas que podem favorecer seu isolamento e/ou solidão.10,13 Os sentimentos de solidão que atingem os idosos não são apenas apanágio dos que se encontram institucionalizados (embora pareça ser mais frequente nestes últimos). Sua prevalência aumenta, sobretudo, quando surgem acontecimentos de vida que se traduzem em perdas ou, quando sua capacidade de adaptação está diminuída.19,20 A não compreensão destas situações por parte de quem se relaciona com o idoso pode agravar neste os sentimentos de tristeza desencadeados pelas perdas e despertar sentimentos de solidão. A associação desses sentimentos pode precipitar uma síndrome depressiva, que, por no idoso ter frequentemente manifestações atípicas, pode passar despercebido e surgir então um síndrome de fragilidade (mais frequente nos grandes idosos). 20,21 A personalidade de cada idoso, o suporte social, bem como a forma como viveram a sua vida, podem influenciá-lo a se sentir só, ou a forma como arranjam estratégias de cooping para lidar com esse sentimento de solidão. Os idosos que não conseguem superar os sentimentos de solidão são aqueles em risco de uma institucionalização precoce ou mesmo de tenderem, de forma mais acelerada, para a fragilidade, ou mesmo para a morte.20-23 Russel (2004), citado por Fernandes24 e Neto,22 afirma que “a solidão é uma das queixas mais frequentes entre a população idosa”, podendo ter como causa: a viuvez, a saída dos filhos para o mercado de emprego ou a aposentadoria; nesta situação, a solidão pode contribuir para uma institucionalização precoce.20,21" LIMITAÇÕES E INSTITUCIONALIZAÇÃO, E ASPECTO PSICOLÓGICO Camila Alcantara, Med XI �5 4) Explicar as políticas públicas para a saúde da pessoa idosa no Brasil e a Caderneta de Saúde do Idoso. POLÍTICAS PÚBLICAS A Constituição de 1988 é o marco inicial de uma legislação que atenta à saúde dos idosos. Primeiramente, por estabelecer que a saúde é um direito do cidadão brasileiro e que todos devem ter acesso à ela. A Constituição também aborda especificamente o idoso em seu artigo 230, e estabelece que a responsabilidade do cuidado e amparo desse grupo é dever compartilhado entre Estado, sociedade e a família. Também condena a discriminação pela idade. Lei Orgânica da Saúde, a qual estabeleceu o Sistema Único de Saúde (SUS), que é o sistema de saúde público no Brasil. O SUS é regulado a partir de diversos princípios, sendo um deles a universalidade do cuidado. Define a Atenção Primária como a porta de entrada aos outros níveis de atenção. Política Nacional do Idoso (PNI): promulgada em 1994 por meio da Lei 8.842. Essa lei traz a primeira definição jurídica de idoso (indivíduos com mais de 60 anos), reforça o idoso como um ser autônomo e agente ativo socialmente, além de reforçar a responsabilidade tripartite entre Estado, sociedade e família para com os idosos.A PNI também criou o Conselho Nacional do Idoso, o qual tem o objetivo de garantir a representatividade desse grupo social nas políticas públicas. Estatuto do Idoso, disposto na Lei nº 10.741, objetiva fortalecer e implementar a PNI foi criado, em 2003. Reforça o aspecto da prioridade que deve ser garantida aos idosos (atendimento preferencial, preferência na elaboração de políticas públicas e na destinação de recursos para a proteção do idoso). Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa PNSPI: Aprovada em 2006 pela portaria nº 2.528. Essa política busca garantir, no sentido do SUS, um atendimento integral aos idosos, promover um envelhecimento saudável e ativo, além de fortalecer o protagonismo destes. Reforça os princípios de todas as políticas anteriormente estabelecidas, no Brasil, relacionadas ao idoso. Pacto Pela Vida: estabelece os idosos como grupo prioritário da atenção à saúde, e a implantação, em 2002, das Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso. CADERNETA DE SAÚDE DO IDOSO A caderneta se apresenta em duas partes. Uma voltada aos profissionais de saúde e outra voltada ao idoso. Na parte voltada ao profissional de saúde a caderneta pretende fornecer o máximo de informações possíveis sobre o idoso: Pessoais, condições de vida, moradia, história pregressa, vacinação, acompanhamento de medidas antropométricas, identificação de idoso frágil, medicamentos consumidos, PA, patologias, entre outras, saúde bucal. Na parte voltada ao idoso a caderneta fornece informações sobre a legislação e os direitos do idoso. Também informa sobre hábitos de vida saudável, prevenção de quedas, prevenção para a saúde bucal, sexualidade, lista de telefones úteis, etc. Camila Alcantara, Med XI �6 Camila Alcantara, Med XI �7 Problema 2 – “Culpa do ‘Alemão’ O Sr. Breno, de 59 anos, é um professor na cidade de Rio Verde. Seu pai apresentou um quadro de demência tipo Alzheimer aos 65 anos de idade. O sofrimento do seu pai teve um profundo impacto sobre ele. Isso o entristeceu e fez com que ele ficasse com um medo considerável de contrair o mesmo mal. Seu medo em relação ao mal de Alzheimer ficou cada vez maior quando ele atingiu os 55 anos. Foi quando começou a apresentar debilitação da memória associada à idade. Sua perda da memória veio acompanhada de um visível declínio do vigor físico e de depressão crônica. Sentia que seus problemas cognitivos, emocionais e físicos estavam relacionados com o estresse. Por volta dos 50 anos, ele passou por diversos eventos estressantes devastadores. Além disso, estava preocupado com a dimensão profissional. Devido a sua incapacidade cognitiva, a sua função como professor parecia ficar mais complicada. No entanto, um programa de educação física, suplementação dietética, de exercícios mente-corpo e medicamentos pertinentes ao quadro clínico, asseguraram a recuperação do Sr. Breno. OBJETIVOS: 1) Caracterizar os sintomas e os estágios evolutivos da doença de Alzheimer. SINTOMAS Os idosos (ou seus familiares) constantemente se queixam, na avaliação médica, de piora do desempenho cognitivo com o envelhecimento. Os profissionais de saúde devem estar atentos, em todas as oportunidades, para identificar e avaliar a importância relativa das queixas ou dos sintomas detectados e, dessa forma, possibilitar a determinação do estado de acuidade mental atual do paciente, sempre considerando as variações individuais influenciadas, sobretudo, pela idade e pelo grau de escolaridade. Evidências de esquecimento aparente (p. ex., pacientes demasiadamente repetitivos durante a conversação, inobservantes quanto à marcação de consultas e frequentemente confusos quanto ao uso correto da medicação) e alterações psicológicas, de personalidade e no cuidado pessoal adequado podem ser as primeiras pistas para a detecção da deterioração cognitiva. A DA se inicia, frequentemente, após os 60 anos de idade, apesar de raros casos descritos em pessoas com até 30 anos de idade. De forma simplificada, a sintomatologia da doença pode ser descrita utilizando-se um modelo de três estágios de Cummings & Benson. Deve-se ressaltar, no entanto, que a hierarquia da progressão dos sintomas na descrição do curso típico da DApode sofrer grandes variações. Os vários domínios cognitivos e não cognitivos podem ser afetados em cada paciente de modo distinto, ou seja, são diversas as formas de apresentação clínica e de progressão da doença e, provavelmente, de resposta ao tratamento. A dificuldade de precisar a data de início da doença é notória. A piora progressiva dos sintomas ocorre de forma gradual e contínua, em geral, em um período de 8 a 12 anos. Existe, todavia, grande variabilidade na velocidade de progressão da doença, desde períodos muito curtos (2 anos) a períodos muito longos (25 anos). Os fatores que afetam a sobrevida são: idade, gênero e gravidade da demência. A fase inicial dura, em média, de 2 a 3 anos e é caracterizada por sintomas vagos e difusos, que se desenvolvem insidiosamente. O comprometimento da memória é, em geral, o sintoma mais proeminente e precoce, principalmente de memória declarativa episódica. Os déficits de memória de evocação nas fases iniciais dizem respeito principalmente à dificuldade para recordar datas, compromissos, nomes familiares e fatos recentes, e podem vir acompanhadas de incapacidade para reconhecer o estado de doença ou de falta de consciência do déficit cognitivo (anosognosia). Alguns indivíduos apresentam alterações de linguagem precocemente, tais como dificuldade para encontrar palavras. Existem dificuldades frequentes no trabalho, para lidar com situações complexas e para o aprendizado de fatos novos. Em geral, perdem objetos pessoais, tais como chaves e carteiras, e se esquecem dos alimentos em preparo no fogão. Há desorientação progressiva com respeito ao tempo e ao espaço. Os problemas espaciais e de percepção podem manifestar-se por dificuldades de reconhecer faces e de se deslocar em trajetos familiares. Em um número variável de casos, indivíduos com demência podem também se apresentar, no início, com perda de concentração, desatenção, perda de iniciativa, retraimento social, abandono dos passatempos, mudanças de humor Camila Alcantara, Med XI �8 (depressão), apatia, alterações de comportamento (p. ex., explosões de raiva, ansiedade, irritabilidade e hiperatividade) e, mais raramente, com ideias delirantes (p. ex., paranoides, síndrome de Otelo ou delírio de ciúmes). A fase intermediária, cuja duração varia entre 2 e 10 anos, é caracterizada por deterioração mais acentuada dos déficits de memória e pelo aparecimento de sintomas focais, que incluem afasia (perda da capacidade de captação, manipulação e expressão das palavras), apraxia (incapacidade de realizar movimentos voluntários, apesar de o sistema osteomuscular estar normal), agnosia (incapacidade de perceber objetos ou símbolos), alterações visuoespaciais e visuoconstrutivas. Os distúrbios de linguagem, inicialmente caracterizados pela dificuldade de nomeação, progridem com dificuldades de acesso léxico, empobrecimento do vocabulário, parafasias semânticas e fonêmicas, perseverações, circunlóquios, perda de conteúdo e dificuldade de compreensão. A apraxia é, sobretudo, ideatória e ideomotora. Com o progredir do declínio cognitivo, a capacidade de aprendizado fica seriamente alterada, e a memória remota é também comprometida. O julgamento torna-se alterado, estando o paciente, com frequência, alheio aos seus déficits, tornando-se notórias as dificuldades para a realização de tarefas complexas. De forma pouco realista, não raro considera-se apto para realizar tarefas além de suas capacidades (p. ex., administrar suas próprias finanças) e subestima os riscos envolvidos com a execução delas (p. ex., dirigir automóveis). A capacidade para realizar cálculos, fazer abstrações, resolver problemas, organizar, planejar e realizar tarefas em etapas (funcionamento executivo) torna-se seriamente afetada. Deve-se enfatizar, no entanto, que a perícia para o desempenho de funções específicas depende não somente dos déficits eventualmente presentes, como também das habilidades prévias, do estímulo e do ambiente social. Assim sendo, é essencial avaliar a gravidade dos déficits em vista do contexto e da função prévia dos vários domínios. Todos esses déficits contribuem para a perda das habilidades para realizar tarefas da vida diária, ocasionando não apenas um declínio cognitivo, mas também funcional. A perda funcional é hierárquica: a dificuldade para executar atividades instrumentais (p. ex., lidar com finanças, cozinhar, usar transporte público) precede a dificuldade para executar tarefas básicas (p. ex., vestir-se, alimentar-se, banhar-se). Nessa fase também podem ocorrer sintomas motores extrapiramidais, com a alteração da postura e da marcha, o aumento do tônus muscular e outros sinais de parkinsonismo que poderão agravar ainda mais o declínio funcional. Os sintomas neuropsiquiátricos não cognitivos são conhecidos como sintomas psicológicos e de comportamento das demências, também definidos pela sigla BPSD (behavioral and psychological symptoms of dementia). Dentre eles, a agitação, a perambulação, a agressividade, os questionamentos repetidos, as reações catastróficas, os distúrbios do sono e a “síndrome do entardecer” são alguns exemplos comuns de alterações do comportamento que estão presentes mais comumente de forma variável a partir dessa fase da doença, podendo o convívio social ainda estar relativamente preservado. Trata-se de distúrbios, às vezes, graves, mas que, em geral, ocasionam maior estresse ao grupo familiar e aos cuidadores do que ao próprio paciente, o qual se apresenta com perdas cognitivas mais graves na maioria dos casos. Os sintomas “psicológicos”, tais como apatia, ansiedade, depressão, ideias delirantes, alucinações, sobretudo as visuais, erros de identificação (p. ex., considerando pessoas familiares desconhecidas e vice-versa), ideias paranoides, principalmente persecutórias (p. ex., acreditar que foi roubado), também são frequentes. Embora conhecidos como BPSD, os sintomas neuropsiquiátricos devem ser distinguidos isoladamente ou em grupamentos, tendo em vista as apresentações clínicas e neuropatológicas distintas dos mesmos. Nesse sentido, existem critérios para o diagnóstico e escalas de avaliação para a caracterização individual de pelo menos três grupamentos de sintomas neuropsiquiátricos, a saber: depressão na DA, psicose na DA e agitação na DA. Na fase avançada das demências, com duração média de 8 a 12 anos, e no estágio terminal, todas as funções cognitivas estão gravemente comprometidas, havendo, até mesmo, dificuldades para reconhecer faces e espaços familiares. Devido à perda total da capacidade para realizar atividades da vida diária, os pacientes tornam-se totalmente dependentes. As alterações de linguagem agravam-se progressivamente, ficando evidentes as dificuldades para falar sentenças completas e compreender comandos simples. Quando há redução drástica da Camila Alcantara, Med XI �9 fluência, os pacientes passam a comunicar-se somente por meio de ecolalias, vocalizações inarticuladas, sons incompreensíveis e jargões semânticos, até alcançarem o mutismo. Ficam acamados, com incontinência urinária e fecal. A morte sobrevém, em geral, como complicação da síndrome de imobilismo em decorrência de septicemia causada por pneumonia, infecção urinária e úlceras de decúbito. Vários instrumentos foram propostos para a identificação e para a avaliação dos diversos estágios de evolução da DA. Reisberg (et al. (1984) propuseram um modelo pormenorizado de avaliação funcional dos indivíduos acometidos pela DA conhecido como FAST (functional assessment stages in Alzheimer’s disease), contemplando 16 estágios e subestágios de progressão funcional que estão sumarizados no Quadro15.1. Outro instrumento global de classificação funcional da demência em estágios, elaborado por Hughes (et al. (1982) e atualizado por Morris (1993), é o CDR (clinical dementia rating). Essa escala incorporaseis domínios a serem avaliados por entrevista semiestruturada: memória, orientação, julgamento e solução de problemas, relacionamento social e desempenho em atividades fora do domicílio, passatempos e atividades no domicílio, cuidados pessoais. A classificação pela CDR é considerada como um método confiável para avaliações quantitativas de acordo com a gravidade da doença em períodos de 1 ano ou mais, por meio da avaliação longitudinal dos seus escores finais: 0; 0,5; 1; 2 e 3. Camila Alcantara, Med XI �10 Camila Alcantara, Med XI �11 ESTÁGIOS EVOLUTIVOS A enfermidade se manifesta de forma insidiosa e lentamente progressiva. Os primeiros sintomas são associados a uma diminuição da chamada memória recente ou imediata, ou seja, a que corresponde aos feitos que se desenvolveram recentemente. A esta perda de memória recente, adiciona-se à dificuldade para se orientar no tempo e no espaço, mudanças bruscas de humor, abandono progressivo de hobbies e apatia. Segundo Buosi (1994), nesse estágio, o enfermo é consciente de seus erros e suas perdas de memória. Ele suspeita que lhe passa algo e tem a tendência de dissimular ou minimizar seus sintomas, retardando o momento de ir ao médico. Em conjunto, a família e as pessoas de seu entorno se dão conta de que o doente muda, que não é mais o mesmo. A perda de memória se agrava progressivamente e se associa a transtornos de comportamento. A linguagem se torna mais difícil, a coordenação dos gestos se torna alterada e as atividades diárias são cada vez mais difíceis de serem realizadas. Estes elementos servem para definir os três estágios sucessivos da Doença de Alzheimer. A incidência da enfermidade é mais freqüente a partir dos 65 anos, atacando raramente as pessoas entre 40 e 45 anos. Quando isto acontece o paciente falece em dois ou três anos. Em geral, o paciente não morre da Doença de Alzheimer, embora como conseqüência de um padecimento agregado: pneumonia, falhas cardíacas e respiratórias, etc. FONTE: RIBEIRO, Ferriera Cléris. DOENÇA DE ALZHEIMER: A PRINCIPAL CAUSA DE DEMÊNCIA NOS IDOSOS E SEUS IMPACTOS NA VIDA DOS FAMILIARES E CUIDADORES. (Monografia para Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família), UFMG, Belo Horizonte. 2010. Em resumo, as fases apresentam com as seguintes alterações principais: Fase 1: perda da memória. Fase 2: mudanças de comportamento. Fase 3: queda da capacidade funcional. 2) Descrever o diagnóstico diferencial da doença de Alzheimer (falar das diferenças entre as doenças de Lewy, Fronto-temporal, Parkinson, Demência Vascular). Entre outras possíveis causas de demências, incluem-se pelo menos 60 doenças, com a predominância das vasculares e de algumas outras degenerativas. As demências vasculares (DVa) compreendem várias síndromes típicas em que as demências estão associadas às doenças cerebrovasculares. Elas se caracterizam, em geral, por início abrupto, declínio por etapas, disfunção executiva, distúrbios de marcha e labilidade emocional, com evidências clínicas e de neuroimagem de doença cerebrovascular. Uma correlação temporal entre o insulto vascular e as alterações cognitivas deve ser aventada. Pacientes com DVa mostram, por meio da história clínica, exame neurológico e de neuroimagem, achados compatíveis com alterações cerebrais isquêmicas. Nos casos típicos, é fácil fazer a diferenciação. As dificuldades para o diagnóstico ocorrem, sobretudo, quando DVa e DA coexistem. Esses casos de patologia mista podem ocorrer de acordo com um amplo espectro de apresentação, tornando difícil a distinção clara entre as duas condições, ou mesmo a definição da relevância de cada uma delas, individualmente, para a instalação do quadro demencial (ver Capítulo 17, Comprometimento Cognitivo Vascular e Demência Vascular). As demências frontotemporais (DFT) são caracterizadas pelo início insidioso e pela progressão lenta de distúrbios de personalidade e de conduta social, exibindo, na avaliação neuropsicológica, um quadro clínico sugestivo de “desordem do lobo frontal”. As alterações pronunciadas e precoces de linguagem e de dificuldades para a execução das atividades da vida diária, as mudanças de personalidade, bem como a relativa preservação da memória, orientação espacial e práxis são algumas das características que se destacam para a sua diferenciação em relação à DA. Segundo McKeith (et al. (1996), 65% dos casos confirmados por necropsia de demência com corpúsculos de Lewy (DCL) preencheram os critérios NINCDS-ADRDA para provável DA. Burns (et al. encontraram, em 12 a 36% dos pacientes com diagnóstico clínico da DA firmado de acordo com os critérios NINCDS-ADRDA, o diagnóstico anatomopatológico de DCL. Esses achados sugerem que o diagnóstico de DCL deve ser excluído antes de se fazer o diagnóstico da DA. Na DCL, ocorre declínio cognitivo progressivo, com importante déficit de atenção e de habilidades frontossubcorticais e visuoespaciais e disfunção executiva. O Camila Alcantara, Med XI �12 déficit de memória, ao contrário do que se observa em pacientes com DA, não necessariamente ocorre nos estados iniciais. São comuns as flutuações cognitivas com pronunciadas variações no estado de alerta e atenção, alucinações visuais recorrentes, tipicamente bem-formadas e detalhadas, e sinais de parkinsonismo espontâneo. Entre os achados sugestivos se incluem: desordem comportamental do sono (REM), grave sensibilidade aos neurolépticos e evidências pela neuroimagem (SPECT ou PET) de diminuição de captação do transporte de dopamina nos gânglios da base. Elementos de suporte para o diagnóstico são os seguintes: quedas repetidas, perda transitória e inexplicável da consciência, disfunção autonômica grave (p. ex., hipotensão ortostática, incontinência urinária), alucinações de outras modalidades, delírios sistematizados e depressão (McKeith (et al., 2005) (ver Capítulo 13, Diagnóstico Diferencial das Demências). O uso de determinadas substâncias, a depressão, as anormalidades metabólicas, incluindo doenças tireoidianas, a deficiência da vitamina B12, as desordens no metabolismo do cálcio (notadamente o hiperparatireoidismo), a insuficiência hepática, a hidrocefalia de pressão normal, o hematoma subdural e as neoplasias são exemplos de desordens classificadas como demências potencialmente reversíveis. Embora essas causas sejam relativamente raras, com prevalência em torno de 10 a 20% dos casos de demência, a sua identificação é importante devido ao potencial de reversão. No Brasil, Nitrini (et al. (1995), após a avaliação de 100 pacientes consecutivos com diagnóstico de demência, classificaram oito casos como demências reversíveis, secundários à hidrocefalia e neurossífilis. Cunha (1995) constatou que 26 de 110 pacientes dementes avaliados ambulatorialmente apresentavam causas potencialmente reversíveis. Quando acompanhados por períodos de até 2 anos, no entanto, somente em um caso de hidrocefalia de pressão normal e em outro de pseudodemência (depressão) houve regressão completa do quadro demencial (ver Capítulo 18, Outras Causas de Demência: Demências Potencialmente Reversíveis). É importante salientar a possibilidade de presença concomitante da DA com outras condições clínicas agravantes ou mesmo relacionadas etiologicamente com o quadro demencial. Os indivíduos portadores da DA, sobretudo os muito idosos, apesar do declínio cognitivo inexorável, não estão imunes à presença, por exemplo, das encefalopatias metabólicas, das reações adversas ao uso de medicamentos, de uma carência nutricional ou da hidrocefalia de pressão normal. Ao contrário, são até mais suscetíveis a outras doenças associadas, devido à fragilidade e à idade avançada. Assim, havendo vários estados mórbidos concomitantes, fato comum em pacientes idosos, deve-se buscar o estabelecimento da relação causa-efeito que comprove o declínio cognitivo,e isso quase sempre é uma tarefa complexa. Por isso, faz-se necessária máxima atenção para a identificação de condições clínicas coexistentes capazes de interferir no curso da DA. Pois mesmo não havendo garantia da reversão do declínio cognitivo, isso facilitará o planejamento do tratamento mais apropriado para suprir as necessidades específicas de cada paciente e aumentará, em consequência, as possibilidades de sucesso terapêutico. 3) Identificar o déficit cognitivo do idoso (transtorno cognitivo leve). Vários pesquisadores da Europa e dos EUA vêm estudando o perfil cognitivo da população que envelhece, sobretudo daqueles que têm queixas de memória, na tentativa de verificar se existe uma continuidade entre alterações/queixas de memória e demência, ou se constituem dois processos separados. As alterações cognitivas que não se caracterizam como demência são comuns entre os idosos, adquirindo significância clínica apenas quando acarretam prejuízo no desempenho das atividades diárias do indivíduo. Devido à amplitude de variação das alterações cognitivas, muitas classificações têm sido propostas e diversos termos têm sido usados para descrever pacientes idosos com queixas importantes de memória e que não preenchem os critérios para demência: alteração cognitiva leve (Petersen (et (al., 1999) [do inglês, (mild cognitive impairment – MCI], transtorno cognitivo leve (Christensen (et al., 1995) [do inglês, (mild cognitive disorder – MCD], alteração de memória associada à idade (Crook (et al., 1986) [do inglês, (age associated memory impairment – AAMI], declínio cognitivo associado ao envelhecimento (Levy, 1994) [do inglês, (aging-associated (cognitive decline – AACD], declínio cognitivo relacionado com a idade (APA, 1994) [do inglês, (age-related cognitive decline – ARCD], fase pré-clínica da doença de Alzheimer (Elias (et al., Camila Alcantara, Med XI �13 2000). A despeito das diferenças, todos esses termos referem-se a condições intermediárias entre o normal e o patológico. A expressão transtorno cognitivo leve (TCL), incorporada ao critério de pesquisa da Classificação Internacional deDoenças (CID-10, 2000), apresenta entre seus critérios diagnósticos a presença de deterioração cognitiva que precede, acompanha ou sucede transtorno cerebral ou somático, não estando especificamente relacionado com o envelhecimento. Em estudo realizado com 897 indivíduos com idade superior a 70 anos, os critérios diagnósticos para TCL foram preenchidos por apenas 36 pacientes (4%), sendo a diferença entre estes e idosos normais mais em função de certasvariáveis, como neuroticismo, ansiedade e depressão, do que propriamente do estado cognitivo (Christensen (et al., 1995). Em um estudo epidemiológico longitudinal, desenvolvido em diversas cidades da Itália com uma amostra de 2.963 idosos,Solfrizzi (et al. (2004) encontraram prevalência 3,2% de TCL, com taxas mais baixas em pessoas com maior escolaridade emais elevadas em pessoas mais velhas, não tendo sido verificada, contudo, diferença significativa entre homens e mulheres. Outros estudos mostram prevalência mais elevada de TCL, chegando a 15%, com variação entre 3 e 6% em cada subtipo –amnéstico, com múltiplos domínios cognitivos alterados, e com um único domínio cognitivo exceto memória (Busse (et al., 2003), entidades descritas adiante. Esses resultados lançam um questionamento sobre a validade de se caracterizar o TCL como uma síndrome definida por alteração cognitiva associada ao envelhecimento. O conceito de transtorno cognitivo leve (TCL) foi proposto para se referir a indivíduos idosos não demenciados, portadores de um leve déficit cognitivo que se expressa em alterações na memória. Em adição ao critério usual de exclusão de demência (APA, 1994), o seu conjunto de critérios diagnósticos inclui: queixa de memória, relatada pelo paciente ou por um familiar; um escore levemente rebaixado em instrumentos de estadiamento global, tais como o (Global Deterioration Scale (Reisberg, Ferris, de Leon e Crook, 1982) [GDS 1, 2 ou 3] ou o (Clinical Dementia Rating (Hughes (et al., 1982) [CDR 0,5]; pontuação em testes de memória correspondente a menos 1,5 desvio padrão em relação à média de indivíduos de sua idade e escolaridade, e escore de pelo menos 24 pontos no Miniexame do Estado Mental (MEEM [Folstein, Folstein e McHugh, 1975] ou de 123 pontos na (Dementia Rating Scale (DRS) [Celsis, 2000]. Um dos critérios para exclusão de demência consiste na preservação da capacidade de o indivíduo desempenhar suas atividades instrumentais de vida diária – um marcador diferencial entre pessoas sem demência e pessoas que já desenvolvem um quadro demencial. O TCL é uma condição heterogênea, podendo abranger alterações unicamente de memória recente, alterações de múltiplas funções cognitivas ou de uma função cognitiva exceto memória. Embora um constructo recente e ainda em desenvolvimento, o TCL tem sido classificado em vários subtipos, com base em estudos populacionais, clínicos e neurobiológicos. Em decorrência do envolvimento de determinadas funções cognitivas, cada subtipo assume designações específicas: amnéstico; múltiplos domínios cognitivos alterados incluindo-se memória; e alteração cognitiva única exceto memória (Petersen (et al., 2001; Petersen e Morris, 2005). Em 2001, um consenso de especialistas estabeleceu critérios para identificação desses subtipos (Petersen (et (al., 2001). O mais conhecido é o TCL subtipo amnéstico. Nesta condição, atualmente a mais conhecida, o TCL restringe-se à alteração da memória recente, com 1,5 desvio padrão abaixo da média esperada para a idade e escolaridade, e o indivíduo mantém globalmente intactas as outras funções cognitivas, além, obviamente, de desempenhar regularmente suas atividades instrumentais da vida diária. O Quadro 14.1 contém a Camila Alcantara, Med XI �14 operacionalização dos critérios para o diagnóstico de TCL, considerado como subtipo amnéstico, propostos por Petersen (et al. (1999). O primeiro critério, queixa de memória, é normalmente a causa da procura do clínico pelo paciente. Muitas vezes, entretanto, o paciente não é capaz de avaliar adequadamente suas próprias habilidades cognitivas. As queixas de memória autorreferidas por pacientes idosos frequentemente correlacionam-se pouco com o desempenho cognitivo real avaliado por testes, tendendo a estar mais relacionadas com traços de personalidade e depressão do que propriamente com o déficit. O diagnóstico pode também ser facilitado pela contribuição de informantes para se identificarem déficits funcionais ou cognitivos, quando a demência ainda está em estado inicial. Frequentemente, o relato de um informante demonstra maior confiabilidade do que o autorrelato do paciente ou mesmo a avaliação por testes cognitivos (Carr (et al., 2000). Relatos de informantes são geralmente sensíveis o suficiente para ajudar a discriminar entre indivíduos não demenciados e demenciados, principalmente nos casos em que, embora se queixe de problemas de memória, o indivíduo continua a desempenhar atividades sócio- ocupacionais. Do mesmo modo, o relato de um informante acerca de uma leve interferência nas atividades funcionais, decorrente de alterações cognitivas, pode ser o indicativo de uma demência em estágio inicial. Os testes cognitivos podem ser pouco discriminativos quando utilizados em indivíduos que possuem uma habilidade intelectual superior à média, já que eles podem apresentar um desempenho (normal, a despeito da deterioração cognitiva já existente. Assim, técnicas de avaliação baseadas em relatos do informante, obtidas por conversas informais, por questionários estruturados ou por escalas semiestruturadas, são mais precisas e sensíveis, até mesmo a leves e precoces mudanças nos níveis de funcionamento, nas atividades do dia a dia. É pertinente destacar ainda que,segundo constatação de um estudo longitudinal de 8 anos, indivíduos com TCL, principalmente do tipo amnéstico, tendem a ter um número maior de comorbidades clínicas gerais em comparação com sujeitos normais, podendo, inclusive, evoluir com longevidade menor (Frisoni, 2000). Outro subtipo consiste no TCL com múltiplos domínios cognitivos alterados. Nesta condição, o indivíduo apresenta no mínimo dois domínios cognitivos simultaneamente comprometidos, com 1,5 desvio padrão abaixo da média esperada para a idade e grau de escolaridade, sem, contudo, preencher os critérios clínicos para demência. Esta condição, menos estudada, vem ganhando espaço no meio científico e clínico. Existem testes neuropsicológicos apropriados para a identificação e mensuração das alterações dos diferentes domínios cognitivos. Também tem sido discutido, atualmente, o subtipo TCL com alteração cognitiva única exceto memória. Constata-se esta condição quando ocorre a alteração de uma função cognitiva isolada, exceto memória, com 1,5 desvio padrão abaixo da média esperada para a idade e escolaridade. Obviamente, o indivíduo não possui características clínicas compatíveis com quadro demencial. Uma categoria cada vez mais investigada, e introduzida na prática clínica por Hachinski (1994), consiste no TCL de origem vascular, cuja etiologia relaciona-se com microinfartos cerebrais. Em estudo canadense de base populacional, envolvendo 10.263 idosos da comunidade, Roockwd (et (al. (2000) encontraram prevalência de 1,45% com alteração cognitiva de etiologia vascular, sem demência. Depois de 2 anos, 27% destes sujeitos haviam evoluído para demência, e após 5 anos, esta taxa elevou-se para 45% (para doença de Alzheimer, vascular ou mista). Os fatores risco do quadro são os mesmos da demência vascular, entre eles, hipertensão arterial, diabetes melito, arritmia cardíaca, hipercolesterolemia, hiper-homocisteinemia, tabagismo, sedentarismo e obesidade. O controle desses fatores contribui significativamente para a prevenção do TCL vascular, para melhor qualidade de vida e maior longevidade. A mensuração do déficit de memória deve ser bastante cuidadosa. Embora possuam uma ampla popularidade na avaliação cognitiva das demências, instrumentos de rastreamento cognitivo, tais como o MEEM (Folstein, Folstein e McHugh, 1975), são altamente influenciados por fatores como idade, nível educacional e gênero, mostrando uma ampla Camila Alcantara, Med XI �15 margem de erros que permite a ocorrência de resultados falso-positivos e/ou falso-negativos. Isso frequentemente os torna não sensíveis aos estágios iniciais da DA (Doença de Alzheimer). Já instrumentos breves, como o Teste do Desenho do Relógio,20 embora sejam bastante oportunos por poderem ser administrados em um breve intervalo de tempo, também apresentam limitações, posto que focalizam aspectos limitados do funcionamento cognitivo. As baterias neuropsicológicas (testes de memória verbal e não verbal, praxia, nomeação, estruturação da linguagem, fluência verbal, orientação visuoespacial, atenção e funções executivas que necessariamente incluem processos cognitivos como organização sequencial das ações, flexibilidade mental e raciocínio abstrato) são uma boa opção, pois têm-se mostrado eficazes na identificação de pacientes com demência, particularmente quando aplicadas em sujeitos com um maior risco de prejuízo cognitivo. Um estudo feito nos EUA por Howieson (et al. (1986) com idosos saudáveis demonstrou que a utilização da tarefa de memorização de lista de palavras e a forma abreviada do Boston Naming Test (BNT – Goodglas e Kaplan, 1983), proposta pelo Consortium of Establish a Registry for Alzheimer’s Disease (CERAD– Morris (et al., 1989), são instrumentos válidos não somente para a diferenciação entre demência e normalidade, mas, também, entre demência leve e alterações cognitivas relacionadas com a idade. FONTE: TRATADO DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA, 3a ED. Camila Alcantara, Med XI �16 Problema 3 – “A semana seguinte” Uma semana depois do primeiro contato, o grupo de alunos da FAMERV resolveu voltar até o Residencial Geriátrico para entender melhor o grupo de idosos que não estava interessado na viagem. Nesta segunda avaliação, os alunos notaram que o grupo de idosos desinteressados pela viagem apresentava várias limitações e alguns com tendência a quedas e imobilidade. As doenças crônicas eram prevalentes com predomínio de doenças cardiovasculares. Embora cada história fosse diferente, notaram também que o estilo de vida destes, quando adultos jovens, podia ter relação com estas patologias. A acadêmica Michelle teve muitas dificuldades em obter informações fidedignas acerca dos sinais e sintomas e em realizar o exame físico daqueles idosos, prevalecendo as alterações no exame cardiovascular como um todo e também as limitações de movimento e perda de equilíbrio. Neste momento, a acadêmica sentiu a necessidade de aprofundar seus estudos para entender e desenvolver sua habilidade na semiotécnica. OBJETIVOS 1) Caracterizar o envelhecimento cardiovascular (alterações fisiológicas) e as principais patologias cardiovasculares. (Hipertensão, insuficiência cardíaca e fibrilação atrial). Ver sobre as manifestações clínicas específicas ao idoso e as alterações no exame físico. ENVELHECIMENTO CARDIOVASCULAR Existem as teorias fisiológicas, orgânicas e genômicas para explicar o envelhecimento. Dentro elas, as mais aceitas para explicar o envelhecimento cardiovascular são as teorias fisiológica e orgânica. - Fisiológica: alterações na matriz extracelular com o envelhecimento (diferente distribuição de colágeno e substância fundamental) que aumenta a rigidez dos tecidos cardiovasculares (teoria co druzamento). - Orgânica: se divide nas teorias imunológicas e neuroendócrinas. A teoria imunológica oferece pouca explicação ao envelhecimento cardiovascular. Já a teoria neuroendócrina juntamente com a teoria cruzada pode fornecer bastantes explicações ao envelhecimento. Nota-se que, no envelhecimento, a função cardíaca durante o repouso não é muito alterada, mas, sim, durante o aumento da demanda devido a esforço físico ou alguma patologia. Coração senil ou presbicárdia: alterações cardiovasculares típicas do envelhecimento. Alterações morfológicas - Pericárdio: alterações discretas. Espessamento, especialmente no lado esquerdo. Pode haver maior acúmulo de gordura. - Endocárdio: espessamento e opacidade. As fibras colagens perdem a sua disposição normal. Há hiperplasia induzida pela longa data de atrito com o sangue. Todas as alterações são mais evidentes no átrio esquerdo. - Miocárdio: aumento do colágeno, diminuição de elastina, espessamento do diâmetro das fibras. Proliferação de fibroblastos (diminuem a função tecidual). Lipofucsina: chamada de pigmento senil, considera-se que seu depósito é admitido como uma real manifestação do envelhecimento. Consequência: quadro de atrofia fosca ou parda (encontradas na velhice precoce). Após os 80 anos, 50 a 80% dos indivíduos podem apresentar depósito amiloide. Pode se depositar sobre os nódulos atrais e causar arritmia, disfunção atrial e bloqueio atrioventricular. - Alterações das valvas: sofrem degeneração e espessamento. - Mitral: calcificação (sopro sistêmico) e degeneração mucoide ou mixematosa (pode ocorrer prolapso da valva). - Aórtica: calcificação. - Alteração na condução: acúmulo de gordura entre os feixes que conduzem o estímulo de contração e redução das células do nó sinusal podem causar arritmia (de forma lenta e gradual a partir dos 60 anos). Camila Alcantara, Med XI �17 - Aorta: fora arteriosclerose, a mais comum ao envelhecimento é o aumento do tecido colágeno e alteração da textura elástica. Ocorre aumento de fibras colágenas, diminuição das fibraselásticas e eventual deposição de cálcio. Assim ocorre maior rigidez, aumento da espessura da parede e o calibre aumenta. Poucas manifestações clínicas para essa mudança, mas pode ocorrer aumento da pressão sistólica - Artérias: aumento da luz, dilatação, espessamento da túnica (especialmente a íntima) e rigidez. Isso exige aumento da pressão sistólica e da pós-carga. - Coronárias: além das alterações já típicas das arterias, ocorre uma mudança no trajeto, ou seja, as coronárias se tornam mais tortuosas. Alterações cardíacas no envelhecimento: Menor capacidade de adaptação do coração devido a: - Diminuição da resposta beta-adrenérgico - Comprometimento do enchimento diabólico do VE - Aumento da pós-carga - Rigidez arterial O envelhecimento altera a distensibilidade do VE, o que afeta o volume diastólico. O aumento da parede do VE também a fração de ejeção, especialmente durante o esforço. PRINCIPAIS DOENÇAS CARDIOVASCULARES NO IDOSO Insuficiência cardíaca Ocorre devido a um remodelamento do miocárdio, que leva a dilatação e hipertrofia ventricular, isquemia, fibrose. É caracterizada pela incapacidade do coração em bombear a quantidade necessária de sangue ao corpo, decorrente de disfunção ventricular. Causa congestão visceral, intolerância ao esforço, edema, retenção líquida. Sintomas cardinais (no jovem e idoso): dispneia ao esforço, ortopneia, edema de MMII e redução da tolerância ao exercício. No idoso a dispneia pode ser substituída por astenia e cansaço. A tosse seca acompanhada de taquipneia sem causa aparente pode ser manifestação clínica da IC. Camila Alcantara, Med XI �18 Devido a uma gama de alterações fisiológicas do idoso, o diagnóstico de IC pode ser de baixa especificidade, assim, foram elaborados critérios diagnóstico específico aos idosos. Mesmo na ausência de critérios clínicos: diminuição da fração de ejeção a 40% ou menos já sela o diagnóstico de IC. Diagnóstico diferencial: disfunção sistólica e/ou diastólica. Deve-se avaliar qual das duas disfunções gera a IC, ou se são ambas. Fibrilação atrial Se trata de uma das arritmias mais frequentes nos idosos. Ocorre por remodelamento elétrico e estrutural da célula miocárdica. O seu maior risco é a embolia. Pode ser causada por causa cardíaca ou externa. As causas da formação de trombos são multifatoriais e estão relacionadas com a tríade de Virchow que inclui: (1) estase sanguínea atrial; (2) lesão endotelial; (3) aumento da trombogenicidade sanguínea, própria dessa arritmia.3 No primeiro caso, a lentificação do fluxo na região do Apêndice Atrial Esquerdo (AAE) favorece a estase sanguinea e a formação de coágulos de fibrina, que se acumulam e geram o trombo. É classificada em paroxística (que é a mais perigosa) (autolimitada, reversão em 70% dos casos em 48h), persistente (não reverte até o 7º dia, necessitando de cardioversão para restaurar ritmos sinusal) e a permanente ou crônica, quando não é possível restaurar o ritmo sinusal, após cardioversão química ou elétrica, aguda. Além dos fatores de risco clássicos [hipertensão, diabetes, doença valvar, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca (IC)], podemos observar novos fatores de risco potenciais, que podem ocasionar grandes implicações no manejo clínico da FA. Dentre eles, destacam-se a presença de Apneia Obstrutiva do Sono (AOS), obesidade, uso de bebidas alcoólicas, exercício físico, história familiar e fatores genéticos, mas, na prática clínica, a influência da obesidade e da AOS parece impactar significativamente na abordagem terapêutica dos pacientes portadores de FA. Quadro clínico: pode ser assintomática (muito frequente) ou apresentar comprometimento hemodinâmico. Aumento da FC, angina do peito, síncope. Camila Alcantara, Med XI �19 Fonte: Magalhães et al, II Diretriz Brasileira de FA. Arq, Bras, Cardiol. 2016. Hipertensão A fisiopatologia da HAS no idoso se dá pela diminuição da resistência das artérias periféricas. Isso ocorre porque essas artérias perdem a elasticidade, aumentam seu calibre. Essas mudanças ocorrem por: proliferação de tecido fibroso no endotélio, acúmulo de cálcio, destruição de fibras elásticas, maior deposição de fibras colágenas. Há, assim, diminuição do DC e aumento da resistência arterial periférica. Alta relação entre hipertensão e disfunção no metabolismo ósseo: ambos podem ser causados por dislipidemia, uma vez que esta afeta o metabolismo ósseo e também o processo aterosclerótico. A medida da PA nos idoso deve ser feita, preferencialmente, em decúbito, avaliada de forma ideal 3 vezes, em intervalo de 5 minutos entre as aferições. 2) Citar e descrever os fatores de risco modificáveis e não modificáveis relacionados à doença cardiovascular e definir as mudanças no estilo de vida para a prevenção primária e secundária. FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS E NÃO MODIFICÁVEIS As doenças cardiovasculares (DCV) são consideradas as principais causas de morte no mundo, tendo forte impacto na qualidade de vida, causando incapacidade física prematura e aumento da permanência hospitalar do indivíduo. Além de representarem grande impacto na economia e nos sistemas de saúde e seguridade social. O que justifica a busca pelos fatores de risco (FR) relacionados ao seu desenvolvimento. Dentre os diversos FR encontram-se os modificáveis como: fumo, sedentarismo, dieta, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias, intolerância à glicose e obesidade e não-modificáveis: idade, sexo, raça e hereditariedade. Esses fatores podem interagir entre si e aumentar o risco de desenvolvimento de DCV. Os fatores de risco modificáveis estão relacionados com hábitos de vida, como o tabagismo, etilismo, sedentarismo, estresse, obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemias, dieta rica em energia, gordura saturada, colesterol e sal; bem como consumo de bebida alcoólica, tabagismo e estilo de vida sedentário. Esses fatores, geralmente são encontrados de forma múltipla, em grande parte dos pacientes, sendo sua maior prevalência em localidades das regiões Sul e Sudeste do Brasil, que correspondem às áreas mais desenvolvidas do país. Fatores de risco modificáveis: Sedentarismo: é o fator de risco mais prevalente entre os idosos, e aumenta ainda mais conforme a progressão da idade. Muitos estudos indicam a importância do combate ao sedentarismo para se evitar DCV, apesar de não existirem estudos que indiquem isso especificamente aos idosos, o bom senso indica que o exercício física também é benéfico a essa população. Obesidade: A obesidade é freqüentemente associada com hiperlipidemia e diabetes mellitus tipo2 (DM2), duas condições intimamente relacionadas com doenças cardiovasculares. Tabagismo: O tabagismo altera as propriedades elásticas das artérias e tem papel na hemodinâmica (aumento da PA e FC) com provável participação do monóxido de carbono. Intolerância à glicose: DM1 e DM2 aumentam o risco cardiovascular. Vários fatores presentes no diabetes favorecem a maior ocorrência de DCV, como a hiperglicemia, a resistência à insulina, além de fatores de risco clássicos e não-clássicos (hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, obesidade, estado inflamatório subclínico e outros). É possível que o potencial aterogênico da obesidade decorra em parte da produção aumentada de citocinas pelos adipócitos. HAS: altera a pulsatilidade das artérias (a maior pressão nestas causa maiores lesões endoteliais, distensibilidade e perda da elasticidade das artérias), e hipertrofia das células musculares lisas vasculares. Dislipidemia: aumenta o risco da aterosclerose. Camila Alcantara, Med XI �20 Fatores de risco não modificáveis: Idade e sexo: Com o envelhecimento há um incremento na prevalência de doenças cardiovasculares.Paralelamente, ocorre redução progressiva na concentração sérica dos hormônios sexuais masculinos, sendo que nas faixas etárias mais avançadas a testosterona é reduzida em, aproximadamente, 15 a 20% dos indivíduos. Os receptores de androgênios distribuem-se amplamente nos tecidos vasculares, como a aorta, vasculatura periférica e células atriais e ventriculares. Dessa forma, é possível supor que os hormônios sexuais no homem exerçam influência no desenvolvimento das doenças cardiovasculares. A testosterona estimula o anabolismo muscular (inclusive do miocárdio) e diminui a formação de placas aterioscleróticas. Assim: ser idoso e do sexo masculino aumentam as chances de se desenvolver DCV. Caso se desenvolva infarto antes dessas idades listadas abaixo, há índice de que a doença se desenvolveu por fator genético. Homem: 55 anos Mulher: 65 anos Genética (ou história familiar de DCV): hipercolesteromia, além de diabetes. Alterações genéticas de genes que regulam a coagulação também podem aumentar a chance da formação de êmbolos e trombos, o que aumenta o risco de AVC, por exemplo. Esse efeito pode ser agravado por alguns hábitos de vida, como uso de ACO, tabagismo. Raça: indivíduos negros possuem, comprovadamente, maior risco à hipertensão arterial. Além do aspecto biológico relacionado à raça negra, muitos autores alertam para a baixa escolaridade e baixa renda, frequentes nesses indivíduos. Em estudo realizado em Salvador-Bahia, os autores afirmam que uma melhoria no nível de escolaridade e, consequentemente, no nível socioeconômico poderia minimizar a influência racial na elevada prevalência de fatores de risco cardiovascular encontrados naquela população. Elevado índice de homocisteína: uma proteína sérica que, quando elevada, aumenta o risco cardiovascular. Dosagem elevada de fibrinogênio Hiperuricemia: aumento da concentração de ácido úrico e a gota. MUDANÇAS PARA A PREVENÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA Orientações para alimentação saudável (para todos) • Distribuir as refeições ao longo do dia, com pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis. • Priorizar carboidratos complexos (ex., arroz, pão, massa e cereais), em especial na sua forma integral. Minimizar o consumo de carboidratos simples, em especial os refinados. Frutas, embora ricas em carboidratos simples, devem ser estimuladas, conforme a seguir. • Ingerir pelo menos 400 gramas de frutas, verduras e legumes por dia (excluindo batata, outras raízes e tubérculos), o que equivale a cinco porções (ver página a seguir com exemplos). Dar preferência para frutas na sua forma integral, in natura. • Ingerir alimentos ricos em fibras. A ingestão de frutas, verduras e legumes (já ricos em fibras) pode ser suplementada pela ingestão de grãos, tubérculos e raízes. Pão integral é uma fonte rica em fibras. • Ingerir arroz com feijão diariamente ou pelo menos cinco dias por semana, por serem ricos em proteína vegetal. • Estimular o consumo de amendoim, castanhas, nozes e sementes, como opção de lanches ou como ingredientes de diferentes preparações. • Recomendar o consumo diário ou quase diário de algum tipo de carne, em especial carnes brancas. Recomendar o consumo de peixe 2x/semana. Minimizar o consumo de carne vermelha. • Recomendar o consumo diário de leite ou seus derivados, dando preferência para a forma desnatada. • Retirar, sempre que possível, a gordura visível dos alimentos. Camila Alcantara, Med XI �21 • Estimular o consumo de gorduras insaturadas (ex., em óleos, sementes e peixes). Evitar gorduras saturadas (ex., gordura animal, óleo de coco e de palma). • Evitar alimentos altamente processados. Dieta cardioprotetora • Para pessoas com risco cardiovascular moderado ou alto, ou já com manifestação clínica de doença cardiovascular, as orientações para alimentação saudável devem ser intensificadas. • Estimular o consumo de fitoesterois (presentes em óleos vegetais de girassol, soja e canola, frutas e vegetais), proteína de soja (leite de soja, tofu, carnes simuladas de soja), fibras solúveis (farelo de aveia, cevada, produtos de psyllium) e nozes. Esses alimentos podem reduzir o colesterol total e o LDL em magnitude similar àquela obtida com estatinas de primeira geração. • Minimizar o consumo de ácidos graxos trans. • Estimular o uso de filtro de papel para o preparo do café, para eliminar substâncias que elevam o colesterol LDL. Essa recomendação não se aplica para café expresso, descafeinado ou instantâneo, que não elevam o LDL. Atividade física A prática regular de exercícios físicos traz inúmeros benefícios, sendo componente fundamental de estratégias para redução do risco cardiovascular. Os riscos associados à participação em atividade física são baixos, mesmo para pacientes com doença coronariana. Assim, solicitar teste ergométrico de rotina antes de iniciar programa de atividade física, em geral não é recomendado. Entretanto, para pacientes com angina ou insuficiência cardíaca, o teste de esforço geralmente é recomendado antes de iniciar atividade física, mas pode ser dispensado antes de iniciar programas de exercícios leves em pacientes bem controlados, a não ser que desencadeiem sintomas. Outros casos em que possa ser indicada a solicitação de teste de esforço antes de iniciar programa de exercício físico intenso (mas não leve a moderado) são pessoas com diabetes, homens > 45 anos e mulheres > 55 anos. • Estimular 30 minutos, por dia, de exercícios físicos de intensidade pelo menos moderada, no mínimo cinco dias por semana. • Estimular que as pessoas que não consigam alcançar essa meta se exercitem na sua capacidade máxima segura. • Recomendar exercícios físicos que possam ser incorporados na rotina diária, como caminhada rápida, uso de escadas e de bicicletas. • Informar que o exercício físico pode ocorrer em períodos fracionados de 10 minutos ou mais ao longo do dia. • Levar em conta as necessidades, preferências e situação atual da pessoa. • Acordar metas e fornecer informações por escrito sobre os benefícios da atividade física e oportunidades na comunidade para que as pessoas possam se manter fisicamente ativas. • As recomendações devem ser intensificadas de acordo com o risco cardiovascular do paciente. Controle do peso • Oferecer às pessoas com sobrepeso ou obesidade aconselhamento e apoio para atingir e manter um peso saudável. Prevenção cardiovascular Mudanças de estilo de vida Guia de Referência Rápida 15 Mudanças de estilo de vida Consumo de álcool • Aconselhar a limitar a ingestão diária de bebidas alcoólicas para não mais de 30 g/dia de etanol para homens (625 ml de cerveja, um pouco menos de duas latas; 93,7 ml de uísque, pouco menos de duas doses; 312,5 ml de vinho) e 15 g/dia para mulheres e pessoas magras. • Aconselhar todos a evitar ingestão excessiva de álcool. Cessação do tabagismo • Aconselhar todas as pessoas que fumam a pararem de fumar. • Se a pessoa quiser parar: - Oferecer apoio e aconselhamento individual. - Oferecer a inscrição em grupo de tabagismo. 3) Apontar os principais métodos para a avaliação do equilíbrio e da mobilidade. Camila Alcantara, Med XI �22 Timed Up and Go (TUG) Tem como objetivo avaliar a mobilidade e o equilíbrio funcional. O teste quantifica em segundos a mobilidade funcional por meio do tempo que o indivíduo realiza a tarefa de levantar de uma cadeira, caminhar 3 metros, virar, voltar à cadeira e sentar novamente. A cronometragem é iniciada após o sinal de partida e parada somente quando o idoso se colocar novamente na posição inicial, sentado com as costas apoiadas na cadeira. Esse teste também pode ser feito sem ser cronometrado (get up and go). Pontuaçãomínima: 10. Camila Alcantara, Med XI �23 Teste de Tinneti EQUILÍBRIO Comece a avaliação com a pessoa idosa sentada em uma cadeira sem braços. As seguintes manobras serão testadas: 1 Equilíbrio sentado Escorrega Equilibrado 0 1 2 Levantar Incapaz Utiliza os braços como apoio Levanta- se sem apoiar os braços 0 1 2 3 Tentativas para levantar Incapaz Mais de uma tentativa Tentativa única 0 1 2 4 Assim que levanta (primeiros 5 segundos) Desequilibrado Estável mas utiliza suporte Estável sem suporte 0 1 2 5 Equilíbrio em pé Desequilibrado Suporte ou pés afastado (base de sustentação) > 12 cm Sem suporte e base estreita 0 1 2 6 Teste dos três campos (o examinador empurra levemente o externo da pessoa idosa que deve ficar com os pés juntos) Começa a cair garra ou balança (braços) Equilibrado 0 1 2 7 Olhos fechados (pessoa idosa em pé, com os pés juntos) Desequilibrado, instável Equilibrado 0 1 8 Girando 360o Passos descontínuos Instável (desequilíbrios) Estável (equilibrado) 0 1 2 9 Sentado Inseguro (erra a distância, cai na cadeira) Utiliza os braços ou movimentação abrupta Seguro, movimentação suave 0 1 2 Pontuação do equilíbrio ___/16 MARCHA Camila Alcantara, Med XI �24 Cam ila Alcantara, M ed XI �25 A pessoa idosa deve estar em pé, caminhar pelo corredor ou pela sala no passo normal, depois voltar com passos rápidos, mas com segurança usando o suporte habitual (bengala, andador). 10 Início da marcha Hesitação ou várias tentativas para iniciar Sem hesitação 0 1 11 Comprimento e altura dos passos • a) Pédireito Não ultrapassa o pé esquerdo. Ultrapassa o pé esquerdo. Não sai completamente do chão. Sai completamente do chão • b) Péesquerdo. Não ultrapassa o pé direito. Ultrapassa o pé direito Não sai completamente do chão. Sai completamente do chão 0 1 0 1 0 1 0 1 12 Simetria dos passos Passos diferentes Passos semelhantes 01 13 Continuidade dos passos Paradas ou passos descontínuos Passos contínuos 0 1 14 Direção Desvio nítido Desvio leve ou moderado ou uso de apoio Linha reta sem apoio (bengala ou andador) 01 2 15 Tronco Balanço grave ou uso de apoio Flexão dos joelhos ou dorso ou abertura dos braços enquanto anda Sem flexão, balanço, não usa os braços e nem apoio 0 12 16 Distância dos tornozelos Tornozelos separados Tornozelos quase se tocam enquanto anda 0 1 Pontuação do marcha ___/12 PONTUAÇÃO TOTAL ___/28 Camila Alcantara, Med XI �26 Problema 4 – “Cansei...” Em outro quarto da casa, os alunos visitaram a Sra. Tânia, 82 anos, que, segundo relatos, alimentava-se pouco e fumava muito, em média, 30 cigarros por dia, desde os 20 anos de idade Ela contou que tem DPOC desde os 48 anos, iniciada após um episódio de pneumonia, ocasião em que necessitou de internação hospitalar. Teve asma na infância, tendo melhorado após a adolescência. Voltou a apresentar crises durante a gravidez de seu único filho, há 60 anos. Sempre que fica resfriada, evolui com tosse produtiva, com expectoração amarelada, necessitando quase sempre de antibióticos para tratamento. Essas crises ficaram mais espaçadas depois que as campanhas de vacinação dos idosos foram instituídas. Porém, nos últimos seis meses, está apresentando limitação da sua capacidade física e ficando com falta de ar aos pequenos esforços. O pneumologista que a acompanha pediu exames para avaliação da função pulmonar e está considerando a necessidade do uso contínuo de oxigênio por meio de cateter nasal. OBJETIVOS 1) Descrever a fisiopatologia das DPO (DPOC e asma). DOENÇAS PULMONARES OBSTRUTIVAS (DPO) Em suas formas prototípicas, as quatro doenças desse grupo — enfisema, bronquite crônica, asma e bronquiectasia — apresentam características clínicas e patológicas distintas (Tabela 12-2); entretanto, consideráveis sobreposições entre o enfisema, bronquite e asma são comuns. Tabela 12-2 Desordens Associadas à Obstrução do Fluxo de Ar: Espectro da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica *Pode estar presente em todas as formas de doença pulmonar obstrutiva ou isoladamente. Em vista da propensão para coexistência, o enfisema e a bronquite crônica frequentemente são agrupados juntos sob a denominação doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). A DPOC afeta mais de 10% da população adulta do Estados Unidos e é a quarta causa de óbito Entidade Clínica Local Anatômico Principais Alterações Patológicas Etiologia Sinais/Sintomas Bronquite crônica Brônquios Hipertrofia e hiperplasia das glândulas mucosas, hipersecreção Fumaça do tabaco, poluentes aéreos Tosse, produção de esputo Bronquiectasia Brônquio Dilatação de vias aéreas e cicatrização Infecções severas e persistentes Tosse, esputo purulento, febre Asma Brônquio Hipertrofia e hiperplasia do músculo liso, muco excessivo, inflamação Imunológicas ou causas indefinidas Chiado episódico, tosse, dispneia Enfisema Ácinos Dilatação de espaços aéreos, destruição das paredes Tabagismo Dispneia Doença das vias aéreas menores, bronquiolite* Bronquíolo Cicatrização inflamatória, obliteração parcial dos bronquíolos Tabagismo, poluentes aéreos Tosse, dispneia Camila Alcantara, Med XI �27 nesse país. A obstrução ao fluxo de ar primariamente irreversível na DPOC a distingue da asma que, como descrito adiante, é caracterizada por obstrução reversível ao fluxo aéreo; entretanto, os pacientes com DPOC comumente apresentam algum grau de obstrução reversível. Portanto, o que se entende é que as DPO correspondem a um conjunto de doenças que existem isoladamente, sendo que algumas delas podem se sobrepor. Devido a essa sobreposição, a presença de enfisema e bronquite crônica sobrepostas é chamada de DPOC. No entanto, assim como representado pelo quadro acima, a DPOC pode estar sobreposta à asma também. DPOC Tendo em vista o exposto acima, a DPOC será explicada a partir da compreensão do enfisema e da bronquite crônica. - Enfisema: O enfisema é caracterizado por dilatação anormal e permanente das vias aéreas distais aos bronquíolos terminais, acompanhada por destruição de suas paredes na ausência de fibrose significativa. A exposição a substâncias tóxicas, como a fumaça do tabaco e poluentes inalados, induz inflamação ativa com acúmulo de neutrófilos, macrófagos e linfócitos no pulmão. Elastases, citocinas (incluindo IL-8) e oxidantes são liberados, causando lesão epitelial e proteólise da matriz extracelular (MEC). Os produtos da degradação da elastina perpetuam a inflamação. Há marcada variação individual com relação à suscetibilidade ao desenvolvimento de enfisema/DPOC. Múltiplos fatores genéticos controlam a resposta à lesão pós-tabagismo. Ou seja, o fator genético define a maior ou menor propensão ao desenvolvimento de DPOC. No enfisema há a perda não somente das células epiteliais e endoteliais, mas também das células mesenquimais, levando à perda da matriz extracelular, considerada o arcabouço no qual as células epiteliais deveriam crescer. Portanto, o enfisema pode ser considerado o resultado de um reparo insuficiente. Existem 4 tipos principais de enfisema: centrolobular (relacionado ao tabagismo e propensão genética - deficiência de alfa-tripsina, que controla a inflamação), panlobular, parasseptal e irregular. Camila Alcantara, Med XI �28 Alterações gerais no enfisema: Usualmente, a dispneia é o primeiro sintoma; apresenta início insidioso, porém é rapidamente progressiva. A tosse e o chiado podem ser as queixas iniciais em pacientes com bronquite crônica ou bronquite asmática crônica subjacentes. A perda de peso é comum e pode ser severa a ponto de sugerir a presença de neoplasia malignaoculta. Os testes de função pulmonar revelam VEF1 reduzido com CVF normal ou próxima do normal. Portanto, a razão VEF1: CVF está reduzida. (Obs.: Essa razão é utilizada para avaliar distúrbios obstrutivos). RESUMO • o enfisema é uma doença obstrutiva crônica das vias aéreas caracterizada por dilatação permanente dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais. • os subtipos incluem o enfisema centroacinar (mais comum, relacionado com o tabagismo), pan-acinar (observado na deficiência de alfa1-antitripsina), acinar distal e irregular. • o tabagismo e os poluente inalados causam um acúmulo de células inflamatórias, liberação de elastases e oxidantes que destroem as paredes alveolares na ausência de resposta mesenquimal de reparo adequada. • a maioria dos pacientes com enfisema demonstra elementos relacionados com a bronquite crônica concomitante, uma vez que o tabagismo constitui fator de risco para ambos; os pacientes com enfisema puro são denominados “sopradores rosados”. - Bronquite crônica: A bronquite crônica é comum entre os tabagistas e moradores urbanos de cidades com altos níveis de poluição; alguns estudos indicam que 20-25% dos homens com idade entre 40-65 anos apresentam a doença. O diagnóstico da bronquite crônica é realizado clinicamente; é definido pela presença de tosse produtiva persistente nos últimos três meses consecutivos e pelo menos dois anos consecutivos. Nos estágios iniciais da doença, a tosse produtiva apresenta esputo mucoide, porém não há obstrução ao fluxo de ar. Alguns pacientes com bronquite crônica podem demonstrar vias aéreas hiperresponsivas com broncoespasmo intermitente e chiado. Um subgrupo de pacientes, especialmente aqueles com hábitos tabágicos excessivos, desenvolve obstrução crônica ao fluxo de ar, usualmente com enfisema (ou seja, DPOC). A característica que define a bronquite crônica é a hipersecreção de muco inicialmente restrita às vias aéreas maiores. Embora a principal causa esteja relacionada com o tabagismo, outros poluentes aéreos, como o dióxido de enxofre e nitrogênio, podem também contribuir. Os poluentes ambientais induzem à hipertrofia das glândulas secretoras de muco na traqueia e brônquios principais, levando a aumento acentuado das células caliciformes secretoras de muco na superfície epitelial dos brônquios menores e bronquíolos. Ademais, tais irritantes causam inflamação com aporte de linfócitos CD8+, macrófagos e neutrófilos. Ao contrário da asma, não existem eosinófilos na bronquite crônica. Enquanto a característica que define a bronquite crônica (hipersecreção de muco) é primariamente um reflexo do envolvimento dos brônquios maiores, a base morfológica da obstrução das vias aéreas na bronquite crônica é mais periférica e resultado da (1) doença das vias aéreas menores induzida pela metaplasia das células caliciformes com obstrução da luz bronquiolar por plugs de muco, inflamação e fibrose das paredes bronquiolares e (2) enfisema coexistente. De forma geral, enquanto a doença das vias aéreas menores (também conhecida como bronquiolite crônica) é um componente importante da precoce e relativamente discreta obstrução ao fluxo de ar, a bronquite crônica com obstrução significativa do fluxo aéreo é quase sempre complicada pelo enfisema. Na inflamação da bronquite crônica não há presença de eosinófilos, como na asma. RESUMO • a bronquite crônica é definida por tosse produtiva persistente por pelo menos três meses consecutivos e pelo menos dois anos consecutivos. Camila Alcantara, Med XI �29 • o tabagismo é fator de risco subjacente mais importante; os poluentes aéreos também contribuem. • o componente obstrutivo crônico é, em grande parte, resultado da doença das vias aéreas menores (bronquiolite crônica) e do enfisema coexistente. • a análise histológica revela aumento das glândulas secretoras de muco, metaplasia das células caliciformes e fibrose da parede bronquiolar. A DPOC, de forma geral, tem como fisiopatologia: As alterações patológicas pulmonares conduzem a alterações fisiológicas que são características da doença, incluindo hipersecreção de muco, disfunção ciliar, limitação do débito aéreo, hiperinsuflação pulmonar, anomalias das trocas gasosas, hipertensão pulmonar e Cor pulmonale, que geralmente se desenvolvem por esta ordem no decorrer da doença. A hipersecreção de muco e a disfunção ciliar dão origem a tosse crónica e a produção de expectoração. Estes sintomas podem estar presentes durante muitos anos antes de se desenvolverem outros sintomas ou anomalias funcionais. A limitação de débito expiratório, medida com maior exactidão através de espirometria, é a alteração fisiológica que define a DPOC e constitui a chave do diagnóstico da doença. Deve-se acima de tudo a uma obstrução constante das vias aéreas e consequente aumento da resistência das mesmas. A destruição das ligações alveolares, que inibe a capacidade de as pequenas vias aéreas se manterem desobstruídas, desempenha um papel de menor importância. Na DPOC avançada, a obstrução das vias aéreas periféricas, a destruição do parênquima e as anomalias vasculares pulmonares reduzem a capacidade do pulmão nas trocas gasosas, produzindo hipoxemia e, mais tarde, hipercapnia. A hipertensão pulmonar, que se desenvolve numa fase mais tardia da evolução da DPOC (Fase III: DPOC grave), é a principal complicação cardiovascular da DPOC e está associada ao desenvolvimento de Cor pulmonale, tendo um mau prognóstico29. A prevalência e a história natural do Cor pulmonale na DPOC não são ainda claras. -> Existem 4 fases da DPOC: Fase 0: é a fase de risco de se desenvolver a DPOC. Caracterizada por tosse crônica com expectoração. Fase 1: DPOC ligeira. Limitação ligeira do débito aéreo. Pode ou não estar acompanhada por tosse crônica com expectoração. Fase 2: DPOC moderada. Agravamento da condição ventilatória. Desenvolvimento de dispneia aos pequenos esforços ou exacerbação da doença (episódio agudo). Fase 3: DPOC grave. Prejuízo na qualidade de vida. Limitação ventilatória grave ou insuficiência respiratória ou cardíaca. IMPORTANTE: Paciente com DPOC tem PCO2 mais alta, e isso dessensibiliza o bulbo, que controla normalmente o ritmo de ventilação. Assim, o bulbo desses pacientes é mais sensível ao O2. A satO2 normal nessas pessoas é dificilmente maior que 90%. ASMA A asma é uma desordem inflamatória crônica das vias aéreas que causa episódios recorrentes de chiado, falta de ar, aperto torácico e tosse, particularmente à noite e/ou cedo pela manhã. Os pontos-chave da doença são obstrução intermitente e reversível das vias aéreas, inflamação crônica dos brônquios com eosinófilos, hipertrofia e hiper-reatividade das células musculares lisas brônquicas e aumento na secreção de muco. Alguns dos estímulos que desencadeiam a doença nos pacientes asmáticos não apresentam efeitos em pessoas com as vias aéreas normais. Diversas células participam da resposta inflamatória, incluindo eosinófilos, mastócitos, macrófagos, linfócitos, neutrófilos e células epiteliais. Nas últimas quatro décadas, é importante ressaltar que tem havido aumento significativo na incidência de asma no Ocidente. A “hipótese da higiene”, fruto dessa observação epidemiológica, pos- tula que a erradicação das infecções pode alterar a homeostase imunológica e promover respostas imunes alérgicas, entre outras. A asma pode ser classificada como atópica (evidência de sensibilização a alérgenos; frequente em pacientes com histórico de rinite alérgica, eczema) e não atópica. Em ambos os tipos, os episódios de broncoespasmo podem ser desencadeados por diversos mecanismos, como Camila Alcantara, Med XI �30 infecções respiratórias (especialmente virais), exposição a irritantes ambientais (p. ex., fumaça de tabaco,
Compartilhar