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Fundamentos e caracterização das escolas de sistemática Prof. Dr. Márcio Efe Sistemática A sistemática é a área da Biologia que se preocupa principalmente em compreender a filogenia. Filogenia = História evolutiva de uma espécie ou grupo de espécies relacionadas. Histórico da Sistemática Sistematização = organização = nomeação e ordenação Diversidade => organização = nomear e ordenar Taxonomia Sistemática Histórico da Sistemática A observação e classificação dos seres vivos começou muito antes da palavra escrita. Por exemplo, são conhecidas pinturas rupestres do homem de Cro-Magnon (25.000 a 50.000 anos atrás). Aristóteles Aristóteles prestou contribuições fundamentais em diversas áreas do conhecimento humano, destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural. Aristóteles considerou as relações dos seres vivos numa “escala natural” e na Historia dos Animais (De Animalibus) classificou os organismos numa “escada da vida” (Scala naturae), colocando-os de acordo com complexidade em estrutura e função, de forma que os animais superiores tinham mais vitalidade e capacidade de movimento. (A obra somente foi impressa em Veneza em 1476, antes disso somente manuscritos) A classificação de Aristóteles dos seres vivos continha elementos que somente estão presentes no século XIX. Os Vertebrados e Invertebrados foram chamados de “animais com sangue” e “animais sem sangue”. Os animais sem sangue eram divididos em vivíparos (humanos e mamíferos) e ovíparos (aves e peixes). Os animeis sem sangue eram os insetos, crustacea e Testacea (moluscos). Em alguns aspectos esta classificação é melhor que a de Linnaeu, que reuniu os invertebrados em dois grupos: Insecta e Vermes. Teofrasto (372 a.C. - 287 a.C) Historia plantarum. De causis plantarum [Sobre as causas das plantas. Estes tratados constituem a mais importante contribuição à ciência botânica de toda a antiguidade até ao Renascimento. Historia plantarum foi uma primeira tentativa de uma taxonomia, e inclui uma classificação dos elementos das plantas. Foi o ponto de referência da botânica por vários séculos. (Edição de 1644) Outra contribuição importante foi a de Plínio o Velho (23-79 A.D.) Sua Historia Natural foi uma compilação da ciência do período clássico. Incluiu muitos mitos que foram aceitos como verdadeiros durante muito tempo. A exploração do Novo Mundo permitiu descobrir muitas plantas e animais que necessitavam descrição e classificação. Os sistemas antigos faziam com que ficasse difícil classificar esses organismos e muitas vezes aos mesmos animais e plantas se davam nomes diferentes. Era necessário um sistema para agrupar esses espécimes de forma que pudessem ser achados nas coleções. Avanços na classificação foram devidos a entomológos e aos primeiros microscopistas. No final do século 16 e começo do 17 começou o estudo cuidadoso dos animais. Direcionado inicialmente às espécies domésticas foi gradualmente estendido para formar uma base de conhecimento anatômico para a classificação. Desde o final do século 15 vários autores se preocuparam com o que eles chamavam de methodus. Por método eles entendiam um arranjo dos minerais, plantas e animais, de acordo com princípios de divisão lógica. Objetivos da Sistemática 2. Tentar encontrar que tipo de ordem existe (se houver alguma) subjacente à essa diversidade; 3. Auxiliar na compreensão dos processos responsáveis pela geração dessa diversidade; 4. Apresentar um sistema geral de referência sobre a diversidade biológica; O objetivo da organização (ou ordenação) é parte do objetivo da simplificação. A classificação é o processo de organização pelo qual um conjunto de dados é dividido em unidades com alguma afinidade, pela qual é possível abordar um subconjunto, tornando mais simples e direta a análise. A classificação tem, assim, um propósito sobretudo didático. As correntes sistemáticas •Tradicional •Evolutiva •Numérica •Filogenética Tradicional ou Catalográfica Esta escola, fundada pelos gregos e adotada pelo mundo cristão com a assimilação das idéias de Aristóteles, empregava a intuição como ferramenta e teve em Linnaeus o maior propagador. Na taxonomia de Linnaeu há três Reinos, divididos em Classes, estas em Ordens, Gêneros e Espécies. Nesta escola as classificações dos organismos não tinham qualquer finalidade filética (origem e parentesco entre eles), uma vez que se supunha que a origem de todos os seres vivos era única e ao mesmo tempo, ou seja, não havia graus diferentes de parentesco. frutos de uma criação divina, não se modificavam ao longo do tempo, toda a diversidade atual teria sido criada por Deus, mantendo-se inalterada por toda a história geológica da Terra. Até meados do século XIX, a sistemática não estava bem estruturada em relação aos princípios básicos e métodos, e todos os sistematas seguiam a escola "Tradicional". A ordenação dos grupos dependia da tradição e da autoridade do pesquisador. Os grupos eram formados por semelhanças (geralmente, aparência externa) ou por ausência daquelas semelhanças, sem a preocupação com a sua natureza. Grupo I: cachorro, jacaré e peixe; Grupo II: minhoca, aranha, estrela-do-mar e lombriga A distinção do homem à parte da natureza, como fruto de uma criação especial, levou à classificação dos demais organismos em superiores e inferiores, segundo o seu grau de complexidade estrutural, uma abordagem válida para animais e vegetais. Esta abordagem ganhou força com a aceitação da idéia de evolução que foi considerada como sinônimo de progresso e aperfeiçoamento que culmina com o homem. inferiores superiores evolução Homem A partir do século XIX, começam a surgir as primeiras idéias de que as espécies de organismos não eram fixas. A idéia de transformação, que sugeria a teoria da evolução, deu origem à escola "Evolutiva“ Espécie A Espécie B Espécie C Evolutiva ou Gradista os gradistas (ou evolucionistas) declaradamente defendem que a Evolução seja levada em conta na classificação dos organismos agrupar táxons considerando não só a genealogia dos grupos mas também o grau de diferença entre eles Se entre dois grupos descendentes de um mesmo ancestral um deles sofre grandes alterações (visuais) em relação a este ancestral e se torna numeroso (bem sucedido), enquanto o outro permanece muito semelhante a este e, geralmente, pouco representado, então o primeiro grupo recebe especial atenção e é promovido em função da sua “capacidade de adaptação”. Sucesso maior + adaptado = + evoluído + diferente + evoluído Se num determinado grupo várias linhagens evoluíram em várias direções, com alterações diversas, cada linhagem receberá um escalão, tanto mais alto quanto mais diversificada for em relação ao "padrão primitivo". Portanto, quando uma população diferencia-se do estoque ancestral e suas novas adaptações permitem-na ocupar um nicho ecológico diferente, a nova espécie alcançou um novo grau evolutivo, ou grado. Os grados, e não apenas a ancestralidade, são o critério para construir a hierarquia de táxons nas classificações gradistas. Por exemplo, dentre os vertebrados grado dos grupos aquáticos grado dos grupos terrestres de sangue frio grado dos grupos terrestres de sangue quente Peixes => Anfíbios Répteis Aves e Mamíferos Problemas: • Os gradistas não desenvolveram nenhum método para organizar o conhecimento sobre a diversidade biológica; • eleição de caracteres e estadosé arbitrária; • diferentes sistemas de grados para um mesmo grupo • o taxonomista mais renomado ganhava o conflito Tanto a taxonomia tradicional como a evolutiva utilizavam-se da intuição como ferramenta para estabelecer o relacionamento entre grupos de organismos, ou seja, não demonstravam claramente como e o que faziam, estabelecendo grupos baseados em critérios muito subjetivos. Na segunda metade do século XX surgiram duas escolas modernas de teoria e prática sistemáticas: "Filogenética" (ou "Cladista" ou "Cladística"), que surgiu na década de 50, e "Fenética" (ou "Numérica"), que se desenvolveu com o advento da informática. A escola "Numérica" (ou “Fenética”) é conservadora e não leva em conta a filogenia, mas apenas o grau de semelhança (ou similaridade) entre indivíduos. Para esta escola, a classificação não precisa refletir a filogenia. Antes, ela indica a maior ou menor quantidade de adaptações em comum. Numérica ou Fenética Na Escola Fenética, também denominada taxonomia fenética, a organização do conhecimento sobre a diversidade dos organismos se baseia em um conjunto de métodos matemáticos bem claros. A Escola Fenética apresenta alguns pontos em comum com a escola tradicional, como a utilização de critérios de similaridade e, principalmente, a não fundamentação na teoria evolutiva. A Escola Fenética se diferencia da taxonomia tradicional pelo emprego de métodos quantitativos e pela utilização de um número maior de características semelhantes entre os organismos. A metodologia da investigação numérica emprega análise combinatória de extensas matrizes de grupos versus caracteres. As classificações são baseadas na similaridade fenotípica (ou fenética). A primeira fase para estabelecer a classificação é o reconhecimento dos caracteres. Por exemplo Da matriz de caracteres pode ser deduzida uma matriz de similaridade entre os táxons. O resultado é expresso em diagramas (dendrogramas) denominados fenogramas. Os feneticistas afirmam que um fenograma baseado em um grande número (centenas) de caracteres provavelmente representará a filogenia do grupo. Então se pode agrupar os dois táxons com maior similaridade. No caso Aves + Crocodilos que apresentam similaridade de 0,83. É comum que os fenogramas representem afinidades evolutivas e proximidade de parentesco pois, geralmente, grupos próximos são mais assemelhados, mas, fatalmente, também irá aproximar grupos distantemente aparentados que evoluíram paralelamente como resposta às mesmas pressões evolutivas. "dois primos podem se parecer mais um com o outro do que com os seus respectivos irmãos, mas conhecendo a genealogia da família sabemos que os irmãos são mais relacionados uns aos outros do que cada um com seu primo". Gary e Richard Brusca Não há uma relação absolutamente concordante entre parentesco e similaridade. Duas espécies mais aparentadas entre si nem sempre são mais semelhantes se comparadas a uma terceira. visa a reunir grupos animais com o maior número possível de semelhanças observáveis. as características de cada organismo são quantificadas através de critérios matemáticos, a similaridade entre eles é expressa por porcentagens de semelhanças e distâncias geométricas entre os organismos. Em função das distâncias calculadas, os organismos são reunidos em grupos e subgrupos. Resumindo ... Porém, quando se analisa evolutivamente a escola fenética torna-se frágil. um táxon construído feneticamente expressa apenas a semelhança média entre as espécies, sem diferenciar as características que refletem uma ancestralidade comum daquelas não informativas A partir de 1984, a idéia da evolução derrubou o pensamento que permeava a escola e, seus defensores passaram a se concentrar no desenvolvimento de bons métodos numéricos que visavam a obtenção de filogenias. O método fenético não continha mais princípios de uma sistemática divorciada da evolução e agora estava voltado para a análise de grandes quantidades de caracteres com apoio de poderosos programas computacionais. Filogenética ou cladística • Nas décadas de 1950/60, o entomólogo alemão Willi Hennig, ao lançar os fundamentos de sua teoria denominada sistemática filogenética, provocou uma revolução no conceito de sistemática, por incorporar a evolução biológica em seu método. •Conceitos já estabelecidos por Darwin, (organismos ancestrais e descendentes com modificações), foram incluídos nesta teoria. •As contribuições mais importantes de Hennig foram as de fornecer uma definição precisa de relacionamento biológico e de desenvolver uma metodologia capaz de reconstruir as relações de parentesco entre as espécies. Sistemática Filogenética ou Cladística Entende-se que a diversidade de seres vivos é resultante de processos evolutivos Os filogeneticistas baseiam-se exclusivamente na genealogia e procuram saber como ocorreu a história filogenética, estabelecendo graus de parentesco. Com um método rigoroso estritamente envolvido com a Evolução, a Sistemática Filogenética ganhou uma dimensão imensa, pois fornece os meios para unificar o enorme conhecimento sobre os organismos, gerando uma visão unificada da diversidade biológica e da modificação dos caracteres. A filogenia é uma história de descendência e, supomos que existe uma única filogenia para todos os seres vivos. Ou seja, a vida apareceu na Terra uma única vez e, no princípio, haviam poucas espécies. Assim, duas espécies serão tão mais aparentadas quanto mais recente estiver situado o último ancestral comum a ambas. Não há sentido em dizer que duas espécies são muito ou pouco aparentadas, se não houver um referencial. O parentesco filogenético é estabelecido em termos de ancestralidade comum. Este conceito é definido relativamente, sempre comparando 3 unidades taxonômicas quaisquer. A representação gráfica da filogenia é um dendrograma denominado cladograma. Num cladograma ideal os ramos sofrem bifurcações (dicotomias). Todavia, é comum diagramas com politomias (ramos trifurcados, etc.) pela falta de caracteres distintivos no conjunto caracteres escolhidos para análise Cada dicotomia deve ser fundamentada por pelo menos dois caracteres, cada um dos quais define um ramo da dicotomia. O conceito de caractere tem significados diferentes nas escolas Gradista e Filogenética; na Gradista, caractere é sinônimo de estrutura e, na Filogenética é sinônimo de transformação da estrutura. Para que um caractere seja empregado na escola Filogenética é, portanto, necessário que ele tenha sofrido transformação, sendo a condição anterior (“primitiva”) denominada ancestral, e a posterior (“evoluída”) denominada derivada. Partes que compõem um cladograma: raiz, ramos, nós e terminais. Os grupos de seres vivos compõem os terminais nos cladogramas. Os ramos são as linhas do cladograma. Nó: ponto de onde partem as ramificações. Representa o ancestral comum hipotético para todos os grupos acima dele. Cada nó simboliza um evento cladogenético.
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