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paulob@prr1.mpf.gov.br paulogonet@gmail.com Três pilares da Disciplina Direito Constitucional: Poder Constituinte: quem elabora. Controle de Constitucionalidade: a garantia da supremacia das Constituições. Direitos Fundamentais: que são a base do Direito Constitucional. PARTE I - PRIMEIRO PILAR – PODER CONSTITUINTE 1. INTRODUÇÃO As Constituições têm valor jurídico, são eficazes, vinculam as pessoas e poderes, estão acima das outras normas, isso é óbvio, talvez não precisasse ser dito. Todavia, tal reconhecimento se fez de modo diferente ao longo da história: no direito continental europeu e no americano, houve duas realidades diferentes. Na Europa se desenvolveu de forma diferente, o Princípio da supremacia das Leis, ou seja, do Parlamento foi o que preponderou, mesmo em relação à própria Constituição. A defesa da propriedade e a liberdade só seriam eficientes se houvesse a Separação dos Poderes. Na Constituição estava inscrito o Princípio da Separação dos Poderes, porém tinham apenas poder declaratório-político e não jurídico, o Poder Judiciário não poderia censurar um ato do Parlamento, afirmando que não aplicaria, era, na verdade, o poder mais fraco de todos. A não-aplicação da Lei era tipificada como prevaricação, mesmo que inadequada. Não havia o Princípio da supremacia da Constituição, mas apenas a supremacia do Parlamento. A burguesia ainda tinha que dividir espaços com o poder do rei e da aristocracia. Isso fazia com que precisasse surgir uma ideologia que propiciasse maior poder à burguesia: ao Parlamento. Como novo motor da 1 história a burguesia opera por meio do Parlamento, como representante do Povo. A soberania estando no Povo, estaria também no Parlamento que seria seu órgão supremo. Assim, a Lei era a expressão da soberania da nação. Predominava o Princípio da supremacia da Lei ou do Parlamento, por isso estava no topo do sistema. O Parlamento era duplamente soberano, porque editava a Lei, mas também porque o Povo só se reconhecia por meio do Parlamento. Era a sede em que a vontade do Povo se exprimia. Nesse contexto vamos ter um conceito débil do valor da Constituição, pois a Lei significa Parlamento e estava acima de tudo. Havia uma grande desconfiança dos revolucionários em relação aos Juízes, que estariam sob influência dos monarcas, havia má-vontade. O que se desejava do Judiciário era que fosse apenas a voz da Lei, não deveria criar absolutamente nada, apenas explicitar o que a Lei queria. Havia uma Lei que determinava que uma controvérsia sobre determinada Lei devesse ser resolvida no Parlamento, que deveria dizer o sentido da Lei. Essa norma revela que a tarefa de interpretar é também uma tarefa de criar, o Parlamento resolveu barrar o toque de criatividade na interpretação da Lei, de forma que jamais fosse criada alguma coisa pelo Judiciário. Sendo assim, havia Leis explícitas que determinavam a supremacia do Parlamento ou supremacia das Leis, que fazia o controle. Isso refletia na própria idéia de que a Constituição não poderia ter tal poder, apenas o Parlamento estaria no topo do sistema, a Constituição tinha então valor retórico, pois as Leis poderiam mudar a Constituição, já que as Leis eram o Parlamento, que tinha poder absoluto. Com as crises do Estado Liberal as Monarquias constitucionais desaparecem, o rei já não era mais um poder de peso. Com a instituição do Parlamentarismo a disputa, o confronto do Parlamento em face do rei, acaba. Há intimidade entre o Executivo e o Legislativo, a conseqüência disso é que não há mais tanta influência do Executivo, o Parlamento tem controle maior. ► A própria Separação dos Poderes se torna menos nítida, como proteger as minorias em face das maiorias? Aqueles que não compõem os grupos majoritários? A necessidade de proteção das minorias está ligada à necessidade de proteção da própria Constituição, que tem que ser efetiva. 2 Na Primeira e Segunda Guerras Mundiais surgem grandes discussões. Kelsen, Carl Schmit, etc. Percebe-se que o Parlamento é débil diante de um grupo que chega ao poder, o Parlamentarismo não impediu que o Nazismo e o Fascismo não se instalassem. Retomou-se a discussão desses teóricos do período de entre-guerras, é preciso que haja um instrumento que esteja superior ao Parlamento. Que segure a efetividade das normas que sirvam de proteção das minorias. Conclui-se que é preciso proteger a Constituição e os Direitos Fundamentais de forma que tenham aplicação imediata, por exemplo, por si gerando direitos objetivos. Na Europa ainda havia resquícios negativos contra o Poder Judiciário, a idéia de Corte Constitucional desenvolve-se em razão disso. A Justiça Constitucional se alastra pela Europa, após a Segunda Guerra Mundial. A França tem um sistema de Controle de Constitucionalidade sui generis, não é exatamente um órgão. O certo é que na Europa o controle passa a ser visto como sinônimo essencial de democracia, com predominância da idéia de que há necessidade de se proteger os Princípios básicos constitucionais. Nos Estados Unidos foi diferente porque em seguida à Revolução Americana o Legislativo não tinha que se defrontar com um rei que representava uma classe diferente daqueles que faziam parte do Congresso. Todos tinham a mesma formação: Executivo e Legislativo. A preocupação que surgiu foi diferente, não havia conflito de classes situado ou visível. O problema que surgia era diferente daquele que surgiu na Europa, no início nos EUA era a preocupação da hegemonia do Congresso, então logo se preocuparam com a criação de um valor supremo, a Constituição, que seria tal valor. A idéia de que a Constituição estava acima de todos os poderes logo prevaleceu. Reconhecendo-se que a Constituição poderia ser aplicada diretamente para resolver pendências, uma Lei que se confrontasse deveria ser expulsa do sistema. “A Constituição não poderia ser uma tentativa vã de controlar o incontrolável.” Não poderia ser modificada por uma Lei Ordinária, mas por procedimento próprio, diferenciado, pois é norma suprema. Quando um Poder não segue ou não se conforma tem que se sujeitar à censura do Poder Judiciário que pode anular o ato contrário à Constituição. No mundo ocidental estamos nesse ponto, reconhece-se que a Constituição está acima das demais Leis e também a idéia de que deve haver um órgão que permita 3 tal controle. A Constituição cria os Poderes, que são constituídos pelo Constituinte Originário. Ressalte-se que a soberania não está mais no Parlamento e sim no Poder Constituinte Originário, criador da Constituição, e conseqüentemente origina todos os poderes. ►O Controle de Constitucionalidade se popularizou, pergunta-se: será que chegamos ao final da história? Não precisamos mais nos preocupar? Todos os direitos estão assentados? Não há mais desafios que nos inquietem? A história não pára. Mesmo em alguns Países, principalmente nos Africanos e na América Latina há agressões aos Direitos Fundamentais, mesmo sob ordens constitucionais. A máquina estatal diversas vezes desconsiderou a Ordem Constitucional e massacrou minorias, à guisa das Constituições. A justiça constitucional é essencial, é preciso que haja órgãos que façam tal controle internamente, mas também internacionalmente, por meio de Pactos Internacionais, Cortes Regionais, Cortes Mundiais, etc. Os mecanismos internos ou domésticos (a Constituição e o Controle de Constitucionalidade) só resolvem quando as crises são tópicas, mas não são por si suficientes. Os internacionais vêm contribuirpara que haja maior eficácia, mas também não solucionam a questão. 2. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO O valor das Constituições vem da sua origem, que é a expressão da vontade do Povo, do Poder Constituinte Originário. Genaro Carrió – Sobre los limites de la linguagem normativa Na década de 70 na América Latina houve uma sucessão de golpes de Estado, militares que depunham o governo. Exemplo: A cada seis meses um governo se alternava, exemplo disso é o caso da Bolívia. Instabilidade política. República sem nome, existia um advogado brilhante, Dr. K. Entram três militares em seu gabinete e anunciam um golpe militar. Informam ao advogado que há um super-plano de recuperação social, econômico... A história sempre se repete, os militares têm certeza de que obterão o apoio da sociedade. Contudo têm algum escrúpulo jurídico, perguntam sobre a legitimidade do golpe e o valor da Constituição que irão elaborar. O Dr. K. fica perplexo, pois como é que vão perguntar sobre o valor jurídico do golpe e da futura 4 Constituição. O Advogado pára, pensa e entende que a violência não irá construir uma ordem jurídica justa. Então, como romper a ordem jurídica atual por meio de um golpe? Quem não tem competência para praticar um ato, quando o pratica produz atos nulos, por falta competência. Para conseguiram se manter terão que possuir Tribunais que digam o contrário. Solução: irão desfazer os Tribunais atuais e colocar novos Juízes, isso é o que farão. Então, como justificar a validade dos atos, de forma a manter os Juízes atuais? Qual seria o fundamento de validade para aqueles atos? Seria criar uma nova ordem que validasse aqueles atos. Criar uma nova ordem apoiada pela população. O fundamento de validade não é a ordem jurídica pretérita com certeza, assim terá que ser forjada uma NOVA ORDEM. A nova ordem tem um nome PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO que é pleno, absoluto e não está subordinado a qualquer outra ordem, nem mesmo a anterior. Dá início à nova ordem, é totalmente desvinculada da ordem jurídica preexistente. Tal poder surge de qualquer forma: consenso, golpe militar, guerra... Não importa qual seja o movimento. Não se submete a uma forma prefixada, o que importa é a FORÇA LEGITIMADORA DO ÊXITO. A força legitimadora do êxito nada mais é que a adesão da sociedade aquele movimento, às mudanças instituídas pelo Poder Constituinte Originário. 2.1. CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 2.1.1. Inicial Está fora da Ordem Constitucional pregressa, é um fato que dá origem a uma nova ordem que sequer está prevista na Ordem Constitucional preexistente. É um Poder de Fato e não um poder jurídico. 2.1.2. Ilimitado Não está limitado a nenhuma regra de direito. Carl Schmit diz que é um poder absolutamente livre, porque é a expressão da vontade do Povo de se organizar. O poder absoluto do Poder Constituinte Originário ou sua ilimitação é jurídico, porém há limitação sociológica, cultural etc. 2.1.3. Incondicionado Não está condicionado a nenhuma regra de forma para se expressar, pois se manifesta como e quando quiser. Pode se manifestar de qualquer forma e em 5 qualquer momento, mesmo por decretos, exemplo disso são aqueles que foram expedidos por Hitler, na Alemanha. É mais comum sua manifestação em momentos de ruptura: Estado Novo, por exemplo. Mudanças de regime econômico: capitalismo para socialismo. 2.2. DADOS RELEVANTES SOBRE O PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 2.2.1. ADESÃO GLOBAL AO MOVIMENTO OU FORÇA LEGITIMADORA DO ÊXITO Tal movimento só será Poder Constituinte Originário se obtiver êxito, quer dizer que é preciso que haja adesão a tal movimento. Mesmo que a adesão seja imposta, inicialmente. O que importa é que haja aceitação global, pois pode haver apenas um regime de força, o que pode ser percebido quando há resistência. Exemplo 1: O regime instituído em 1964 não pode ser considerado apenas como regime de força, porque a sociedade aceitou. Exemplo 2: A mesma coisa na Alemanha, a sociedade aceitou. O fato é que a vontade do Povo – o Poder Constituinte Originário – pode não ser a melhor. A manifestação do Poder Originário por si só não garante que a manifestação tenha sido BOA ou JUSTA. CF, art. 5°, XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a Ordem Constitucional e o Estado Democrático. Todavia se o movimento obtiver êxito, não será mais crime, pois romperá com a ordem vigente. Exemplos: Farroupilha, Sabinada, Tenentismo, etc. 2.2.2. RUPTURA Pode ser visto de uma forma mais sutil, mesmo que sob disfarce. É preciso ter em rolmente que é uma ruptura. 6 Exemplo 1: Na França, em 1958, a passagem da 4° para a 5° República, Charles de Gaulle pode elaborar uma nova Constituição, o que foi feito, houve um Plebiscito e a População aprovou o novo texto. ►No Brasil a Constituição de 1988 foi expressão do Poder Constituinte Originário ou apenas uma Emenda à Constituição de 1967? Há quem sustente que tenha sido apenas uma mera reforma da CF de 67 e 69, o fundamento básico disso seria o de que a Assembléia foi convocada pela Constituição de 67 e 69. Tal discussão é importante porque somente o Poder Constituinte Originário pode estabelecer limites (Cláusulas Pétreas) ao Poder Constituinte de Reforma, contudo a maior parte da doutrina entende que a Constituição de 88 tenha sido elaborada pelo Poder Constituinte Originário. Houve sim uma ruptura, há vontade de inaugurar um novo sistema de convivência no Brasil, mesmo que tenha surgido de uma Emenda da Constituição anterior, como o Poder Constituinte Originário é incondicionado pode surgir de qualquer forma, mesmo que tenha sido previsto de uma Emenda na ordem anterior. Na Emenda Constitucional n° 26, anterior, há expressão de que o poder seria livre e soberano (não está sujeito a nenhum limite jurídico), o que é óbvio, pois o Poder Constituinte sempre o é. Há até um pleonasmo, pois livre e soberano é dizer a mesma coisa duas vezes, mas a idéia é frisar a total liberdade da Assembléia Nacional Constituinte. A ruptura tratou-se na verdade de uma reforma e não revolução sociológica, apenas revolução no sentido jurídico. 2.2.3. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO Porque a essência do Poder Constituinte Originário é ilimitado, criando o principal elemento do Sistema. Está vinculada ao fato de resultar do poder soberano e ilimitado: Poder Constituinte Originário. Nenhuma regra pode valer se encontra oposição a Constituição, que é fruto desse poder ilimitado. 7 Também porque dá origem a todo o Sistema Jurídico, é a matriz. As normas contrárias à Constituição não são válidas. Não é jurídico o que não estiver de acordo com a Constituição. O que vem antes não deve existir se não estiver de acordo, a lógica formal deve ceder à lógica do razoável. 2.2.4. RECEPÇÃO ou NOVAÇÃO DE FONTES Quando aquilo que as Leis estabelecem está de acordo com a Constituição, vão continuar em vigor sob novo fundamento. As Leis irão continuar porque no seu conteúdo são acolhidas pela nova Constituição. Há uma NOVAÇÃO DE FONTES. Irão de forma automática e instantânea, mas de forma ficcional. Então tudo o que estiver de acordo será revigorado pela nova Constituição, é um mecanismo revigorado: RECEPÇÃO, que pode ocorrer de forma implícita ou explicita. Na maior parte das vezes não é necessário que a carta nova diga de forma explícita que está recepcionando as Leis antigas. O que pode ocorrer é que as Leis antigas tenham sido elaboradas de forma não prevista pela nova carta. Exemplo 1: Imagine determinado assunto previstopor Lei Ordinária (na vigência antiga) que agora somente poderá ser veiculado por Lei Complementar, tal fato não irá afetar, pois o que vale é a compatibilidade de conteúdo: Código Tributário Nacional é um bom exemplo, porque agora se exige que seja por meio de Lei Complementar, foi instituído por Lei Ordinária. O que agora ocorre é que qualquer alteração seja feita por meio de Lei complementar. O Código Tributário foi recebido como Lei Complementar e não Leio Ordinária. Exemplo 2: O próprio Código Penal é outro bom exemplo, era apenas um Decreto-Lei, foi recepcionado, para alteração de seu texto somente por Lei Ordinária. Exemplo 3: Em 1997 houve um Habeas Corpus pedindo a invalidade de uma condenação de um prefeito, o advogado alegou que o réu fosse absolvido porque não existe mais Decreto-Lei, assim sendo o cliente haveria sido condenado de modo impróprio. Imagine isso? O Código Penal não existiria mais. A recepção ocorre sempre que há COMPATIBILIDADE MATERIAL, o conteúdo tem que estar de acordo. 8 HC HABEAS CORPUS Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES Julgamento: 04/02/1997 Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação: DJ 04-04-1997 PP-10523 EMENT VOL-01863-03 PP-00474 EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL CONTRA PREFEITO MUNICIPAL: DECRETO-LEI Nº 201/67: RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA. PRESCRIÇÃO. PRAZOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DO TRIBUNAL DE CONTAS. PROVAS. "HABEAS CORPUS". 1. A competência para o julgamento criminal de ex-Prefeito, por fatos ocorridos durante o exercício do Mandato, é do Tribunal de Justiça do Estado, como prescreve o inciso X do art. 29 da Constituição Federal, revogado, assim, nesse ponto, o art. 2 do Decreto-Lei nº 201/67, que atribuía competência ao Juízo singular. 2. A extinção da punibilidade, pela prescrição, ainda não ocorreu, ao menos com relação aos delitos apenados mais gravemente, não havendo, ademais, nos autos, elementos informativos seguros sobre a caracterização desse fato extintivo, com relação aos delitos menos graves, o que ainda pode ser objeto de consideração pelo Tribunal de Justiça. 3. Embora a Constituição de 1988 não inclua o "Decreto-Lei" como forma de processo legislativo, nem por isso revogou o Decreto- Lei nº 201, de 27.02.1967, que regula a responsabilidade penal dos Prefeitos e Vereadores. 4. O atraso na elaboração de parecer pelo Tribunal de Contas dos Municípios e na apresentação da denúncia pelo Ministério Público não implica necessariamente o trancamento desta. 5. Quanto à caracterização, ou não, dos crimes imputados ao paciente, trata-se de matéria dependente de provas, que ainda estão sendo produzidas perante o Tribunal competente, não podendo o S.T.F. antecipar julgamento a respeito. 6. "H.C" indeferido. Decisão unânime. Votação: Unânime. Resultado: Indeferido. N.PP.:(18). Análise:(KCC). Revisão:(NCS). Inclusão: 16/04/97, (NT). Alteração: 09/05/97, (ARL). PACTE.: HAMILTON DE BRITO BEZERRA IMPTE.: ADALBERTO GUIMARÃES NETO COATOR: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARA 9 2.2.5. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL DAS LEIS ANTERIORES As Leis antigas devem ser interpretadas da melhor forma em relação à nova Ordem Constitucional, de forma que melhor sejam compatibilizadas com a nova ordem. 3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES Assunto essencial para se entender o Poder Constituinte Originário. 3.1. FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO A história registra certos padrões de manifestação do Poder Constituinte Originário. 3.1.1. CONSTITUIÇÃO OUTORGADA Grupo restrito de pessoas que não são eleitas, que elaboram um texto que obtém a aceitação da população. Outorgadas são as elaboradas e estabelecidas sem a participação do Povo, aquelas que o governante por si ou por interposta pessoa ou instituição, outorga, impõe, concede ao Povo. 1824 1937 = Getúlio Vargas 1969 = Congresso estava fechado, estava no poder uma Junta Militar que modificou o texto constitucional, que modificou radicalmente o texto constitucional. 3.1.2. CONSTITUIÇÃO PROMULGADA São populares as que se originam de um órgão constituinte composto de representantes do Povo, eleitos para o fim de elaborar e estabelecer a mesma. Para o professor a de 1967 e 1969 foram promulgadas porque houve alguma participação. 10 1824 1891 1934 1937 1946 1967 1969 1988 Outorgada Outorgada ? ? Promulgada Promulgada Promulgada Promulgada Promulgada Promulgada 3.2. PARTICIPAÇÃO POPULAR 3.2.1. PARTICIPAÇÃO DIRETA Quando participa diretamente: plebiscito, por exemplo. 3.2.2. PARTICIPAÇÃO INDIRETA Quando apenas elege os membros do Parlamento. Natureza jurídica dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)? 4. EFICÁCIA RETROATIVA MÍNIMA As Normas Constitucionais têm eficácia constitucional peculiar: ato jurídico válido na vigência da Constituição “A” que produz efeitos no tempo, há uma nova Constituição “B” que é incompatível com o ato jurídico vigente, que deixa de produzir efeitos, daqui por diante. A Constituição “B” só produz efeitos para antes dela se disser, se for textual, pois só tem efeitos futuros: EFICÁCIA RETROATIVA MÍNIMA. Pode haver eficácia retroativa máxima quando o Constituinte assim o faz de forma expressa. A Constituição Federal modificou os prazos de prescrição para a matéria trabalhista, a prescrição já tinha se exaurido no passado, assim não afeta o que já ocorreu, somente o que estava em curso. Tal raciocínio não vale para normas infraconstitucionais, somente para as normas constitucionais. 11 Exemplo: Contrato com determinado juros de mora, vem uma Lei que muda isso. 1% ao mês no contrato, nova Lei Ordinária proibindo tal taxa. A partir dessa Lei é obrigatório pagar o 1% acordado ou o novo valor? Essa nova Lei não atinge o contrato que é ato jurídico perfeito, não o pode ferir (a Lei não prejudicará o ato jurídico perfeito e a coisa julgada), nem mesmo com a eficácia mínima. Com relação às normas constitucionais é outra visão, porque inaugura um novo sistema. O STJ já esteve dividido com relação ao CDC, houve discussão no STJ, Moreira Alves proferiu um voto no qual afirmou isso. Requisitos de existência válidos são garantia do inciso XXXVI do art. 5º, os contratos posteriores ao CDC têm que estar de acordo, contudo os anteriores não. A retroatividade mínima é atributo das normas constitucionais e não das normas infraconstitucionais. ►Por que algumas Leis podem ter eficácia retroativa em casos específicos? Não afetando a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada é totalmente possível. _______________________________________________________________________________ Não é possível invocar dir adquirido na CF. A CF deveria recepcionar dir contrário de que estabelece, porém o poder const originário pode tudo. A União n pode conceder isenção de impostos nos Estados e Municípios, apenas os Estados podem. Itaipu só pode ser construída devido a isenção de vários impostos. Então a CF proíbe a isenção feita pela União e a partir dali as isenções feitas perderiam a eficácia. Porém foi pedido um tempo, um período de transição para q as empresas se adaptassem, mas isso n é obrigação do Poder Constituinte originário, ela pode romper a qq momento. Não existe direito adquirido contra a CF. As normas jurídicas visam regular o futuro. As normas const. Tmb estariam sobre o mesmo feitio, regularia apenas o que viesse depois de sua const. RE 85708 RPJ 87/257. RE 94414 RPJ 114/237. O STF decidiu que nas normas do poder const originário seria dotadade natureza de eficácia retroativa mínima. Essas normas afetam efeitos jurídicos de situações ocorridas no passado. Afetam só os efeitos futuros, 12 mas n os fatos passados. Ex: faço um contrato e a medida que n forem pagas as prestações serão cobrados juros de 10%. Vamos supor que são 10 parcelas, o cara começa a pagar as prestações com juros a partir da 2ª parcela, depois de pagas 5 parcelas entra em vigor nova CF que diz ser inconstitucional cobrar juros. Logo a partir da nova CF n poderá mais ser cobrado os juros, porém tmb n poderá ser cobrado a restituição dos juros já pagos antes da nova CF. Chama-se eficácia retroativa mínima. E se o cara não pagou uma parcela vencida antes da edição da CF, ela pode ser cobrada, mesmo que a nova CF diga ser inconstitucional a cobrança de juros? Sim poderá ser cobrada esta parcela, pois antes da nova CF era legal, chama-se eficácia retroativa média. N há possibilidade de se invocar retroatividade... do poder const originário. Nenhuma lei ordinária pode ter eficácia retroativa? F, pode ter eficácia, só não irá retroagir qnd esta ferir o dir adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada ou qnd vier em detrimento da posição do réu um sujeito q esteja sendo perseguido pela lei criminal. A nova CF n reaviva efeitos futuros de fatos passados, qnd este fato já exauriu no passado. A não ser q esta CF tivesse retroatividade Max. ADIN 815 EM 10.05.96. 5. PODER CONSTITUINTE DE REFORMA Já se tentou elaborar uma Constituição permanente. Em um dos livros, Nelson Sampaio, há referência ao Código de Hamurabi, que tinha feições de Constituição, havia referência de que suas Leis não poderiam ser modificadas. Em Esparta também se pensou em fazer uma Lei permanente, consultou-se um Oráculo, que disse que a Constituição era ótima. A população de Esparta jurou solenemente dizendo que não mudaria o texto. Em Delphos o Legislador Licurgo se matou para que a Lei não fosse modificada, já que houve o juramento. É preciso que haja possibilidade de oxigenação de seu texto, pois o mundo muda. As Constituições quando não prevêem mudança de seu texto serão derrubadas, com certeza haverá revolução, ruptura jurídica. Ninguém passará necessidade em função disso, rompe-se com ela. Para evitar a sucessão de revolução no sentido jurídico há possibilidade de reforma do seu texto. 13 Suas normas são alteradas para evitar a sua própria derrocada, no mais das vezes fixa o procedimento. Explicitamente ou não estabelece que certos temas são intocados, porque o poder de reforma não é o poder originário, é apenas o poder de alterar. O Poder de Reforma não pode dar as costas para o Poder Constituinte Originário que confere identidade singular à Constituição, pode apenas alterar para que a torne ainda praticável, permitindo que aqueles valores continuem prestigiados. Por isso não pode desnaturar o trabalho do Poder Constituinte Originário. Tal possibilidade é explícita ou não, na maior parte das Constituições se exige um procedimento de mudança. O processo Legislativo Comum é menos solene, o processo de elaboração de uma Norma Constitucional, de uma Emenda Constitucional, é mais solene, mais dificultoso, mais exigente, assim estamos diante de uma Constituição Rígida. Das Constituições que existem, há poucas que são flexíveis, pois dependem da capacidade do Povo de possuir a compreensão dos seus costumes e/ou tradições. Exemplo 1: No Reino Unido a Constituição é Flexível, há uma Lei que determina que às 11 horas da noite os bares não podem mais oferecer bebida alcoólica aos clientes, essa é uma Lei que foi criada da mesma forma que seria uma para mudar o regime de Monarquia para República, mas se trata de um Povo ligado às tradições. Exemplo 2: Se a Constituição Federal pudesse ser modificada de forma fácil no Brasil, não saberíamos o que estaria em vigor, exemplo disso é o RJU, não sabemos o que está valendo. Quem aqui sabe se as incorporações dos quintos ou décimos do tempo de serviço e gratificações ainda existem. Exemplo 3: Procuradores Federais poderiam advogar, há menos de três anos foram proibidos, por Medida Provisória. As Constituições Rígidas previnem mudanças repentinas e contribuem para que a população guarde o teor do texto constitucional. As diferenças entre o Poder Constituinte Originário e o de Reforma são bem demarcadas. Também favorece e reforça o conceito de supremacia da Constituição, pois se pudesse ser modificada por uma Lei Ordinária poderia enfraquecê-la. 14 Deixa mais nítido o conceito de que uma Lei Ordinária não pode entrar em linha de colisão com a Constituição. Sistema de proteção contra Leis inconstitucionais, Controle de Constitucionalidade. O fato de termos uma Constituição rígida resolve um problema que surgiu no início da Constituição Federal de 88. Exemplo: Antes havia uma norma que dizia que os poderes seriam indelegáveis, na Constituição Federal de 88 não havia tal regra, isso levou a tal questão: Será que um decreto poderia fixar um percentual de gratificação para um Poder, uma Lei fazendo isso, delegando? Pela aplicação do Princípio da Legalidade Estrita (reserva de Parlamento) somente o Executivo pode criar tal Lei, assim é Inconstitucional. Nossa Constituição é rígida, portanto só podemos modificar a Constituição por meio de uma Emenda, ora se o constituinte atribuiu certos poderes a um Poder não pode permitir ou aceitar que isso se modifique por meio de Lei, ou seja, que certas funções sejam modificadas ou atribuídas a outro Poder, pois estaria mudando a Constituição. O Poder Const de Reforma serve para revitalizar a CF. Desvio de finalidade no caso de violação de princípios fundamentais. Poder de emenda e revisão (ADCT art. 3º) A revisão segue um rito bem mais simples que o rito de emenda. Const Rígida e flexível, esse estudo só faz sentido diante de uma CF rígida. Const semi rígidas: ex. CF império do Brasil. O Poder Constituinte de Reforma ganhou vários nomes: a) Poder Constituinte Constituído porque fornece normas constitucionais porque é criatura de um criador (Poder Constituinte Originário) que constitui um novo poder. b) Poder Constituinte Derivado porque deriva de uma opção feita pelo Poder Constituinte Originário. c) Poder Constituinte Instituído. d) Poder Constituinte de Segundo Grau (Pontes de Miranda). 15 Procedimento para ser aprovado: 3/5 dos dep/sen nas 2 casas em 2 turnos de votação. É um Poder de Direito e não um Poder de Fato como o Poder Constituinte Originário. A inicialidade só se aplica em parte, a ilimitação não se aplica ao Poder Constituinte derivado. Projeto de lei começa na Camara em vai para o Senado. Se uma das casas n concorda com o texto... degravar. Quem pode apresentar proposta de Emenda a CF? 1/3 dos membros da cam ou do senado. O Presidente da Rep pode apresentar emenda sozinho. A CF pode ser alterada a partir da iniciativa de mais da metade dos membros da federação.. Exemplo: No mesmo ano civil já se apresentou a mesma Emenda duas vezes, a primeira foi rejeitada e a segunda acolhida em parte, a questão foi ao STF e não foi rejeitada a validade Constitucional, porque o texto constitucional não diz que mesmo ano civil, pois pode haver duas sessões legislativas no mesmo ano civil. Parágrafo 5°, art. 60. Legislatura – 4 anos Sessão Legislativa – intervalos de tempo fevereiro a julho e agosto a 22 de dezembro = 2 períodos por ano. Em certas circunstâncias históricas a CF n deve ser modificada. Item 5.1 olhar adiante. Mandado de Segurança 22.503 de 06/06/97. Projeto de Emenda pelo Presidente da República – Substitutivo. O substitutivo não é a mesma coisa que a emenda.MS 22503 / DF - DISTRITO FEDERAL MANDADO DE SEGURANÇA Relator(a):Min. MARCO AURÉLIO Rel. Acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA Julgamento: 08/05/1996 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação: DJ 06-06-1997 PP-24872 EMENT VOL-01872-03 PP-00385 RTJ VOL- 00169-01 PP-00181 EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA ATO DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, RELATIVO À TRAMITAÇÃO DE EMENDA CONSTITUCIONAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE DIVERSAS NORMAS DO REGIMENTO INTERNO E DO ART. 60, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRELIMINAR: IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA QUANTO AOS FUNDAMENTOS REGIMENTAIS, POR SE TRATAR DE MATÉRIA INTERNA CORPORIS QUE SÓ PODE ENCONTRAR SOLUÇÃO NO ÂMBITO DO 16 PODER LEGISLATIVO, NÃO SUJEITA À APRECIAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO; CONHECIMENTO QUANTO AO FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. MÉRITO: REAPRESENTAÇÃO, NA MESMA SESSÃO LEGISLATIVA, DE PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL DO PODER EXECUTIVO, QUE MODIFICA O SISTEMA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL, ESTABELECE NORMAS DE TRANSIÇÃO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS (PEC Nº 33-A, DE 1995). I - Preliminar. 1. Impugnação de ato do Presidente da Câmara dos Deputados que submeteu a discussão e votação emenda aglutinativa, com alegação de que, além de ofender ao par. único do art. 43 e ao § 3º do art. 118, estava prejudicada nos termos do inc. VI do art. 163, e que deveria ter sido declarada prejudicada, a teor do que dispõe o n. 1 do inc. I do art. 17, todos do Regimento Interno, lesando o direito dos impetrantes de terem assegurados os Princípios da legalidade e moralidade durante o processo de elaboração legislativa. A alegação, contrariada pelas informações, de impedimento do relator - matéria de fato - e de que a emenda aglutinativa inova e aproveita matérias prejudicada e rejeitada, para reputá- la inadmissível de apreciação, é questão interna corporis do Poder Legislativo, não sujeita à reapreciação pelo Poder Judiciário. Mandado de segurança não conhecido nesta parte. 2. Entretanto, ainda que a inicial não se refira ao § 5º do art. 60 da Constituição, ela menciona dispositivo regimental com a mesma regra; assim interpretada, chega-se à conclusão que nela há ínsita uma questão constitucional, esta sim, sujeita ao controle jurisdicional. Mandado de segurança conhecido quanto à alegação de impossibilidade de matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada poder ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. II - Mérito. 1. Não ocorre contrariedade ao § 5º do art. 60 da Constituição na medida em que o Presidente da Câmara dos Deputados, autoridade coatora, aplica dispositivo regimental adequado e declara prejudicada a proposição que tiver substitutivo aprovado, e não rejeitado, ressalvados os destaques (art. 163, V). 2. É de ver-se, pois, que tendo a Câmara dos Deputados apenas rejeitado o substitutivo, e não o projeto que veio por mensagem do Poder Executivo, não se cuida de aplicar a norma do art. 60, § 5º, da Constituição. Por isso mesmo, afastada a rejeição do substitutivo, nada impede que se prossiga na votação do projeto originário. O que não pode ser votado na mesma sessão legislativa é a emenda rejeitada ou havida por prejudicada, e não o substitutivo que é uma subespécie do projeto originariamente proposto. 3. Mandado de segurança conhecido em parte, e nesta parte indeferido. - Preliminarmente, o Tribunal conheceu, em parte, do pedido, nos limites do fundamento constitucional de ofensa ao art. 60, § 5º da Constituição Federal, vencidos, parcialmente, os Ministros Marco Aurélio (Relator), Ilmar Galvão e Celso de Mello, que conheciam integralmente da impetração, e, dos Ministros Carlos Velloso e Octavio Gallotti, que dela não conheciam. No mérito, por maioria de votos, o Tribunal indeferiu a segurança e, em conseqüência, cassou a medida liminar concedida, vencido o Ministro Marco Aurélio (Relator). Relator para o acórdão o Ministro Maurício Corrêa. Votou o Presidente na preliminar e no mérito. Falaram: pelos impetrantes, o Dr. Paulo Machado Guimarães, pelo impetrado o Dr. Luiz Carlos Betttiol, e , pelo Ministério Público Federal, o Dr. Geraldo Brindeiro. Plenário, 08.05.96. IMPTE.: JANDIRA FEGHALI E OUTROS 17 ADVDO.: PAULO MACHADO GUIMARÃES E OUTROS IMPTE.: SANDRA MEIRA STARLING E OUTROS IMPDO.: PRESIDENTE DA MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS 5.1. LIMITAÇÕES PROCEDIMENTAIS CF. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 2º - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. 5.2. LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS Limitações a procedimentos dentro de certos quadros históricos adversos a livre deliberação dos Congressistas, certas circunstâncias que criam restrições ou constrangimentos a deliberações de mudanças do texto constitucional. CF. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 1º - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de Intervenção Federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Intervenção Federal: Interferência do poder central em qualquer unidade da Federação, que se manifesta na substituição de seu governador, prefeito, etc., ou na cassação de representante do Poder Legislativo estadual, municipal, etc. Estado de Defesa: CF. Art. 136 - O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e 18 determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. § 1º - O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes: I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. § 2º - O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação. § 3º - Na vigência do estado de defesa: I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este comunicada imediatamente ao Juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial; II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação; III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; IV - é vedada a incomunicabilidade do preso. 4º - Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional,que decidirá por maioria absoluta. § 5º - Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. § 6º - O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa. § 7º - Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de defesa. Estado de Sítio: Situação de comoção interna ou externa sofrida pelo Estado, que enseja a suspensão temporária de garantias individuais, a fim de preservar a ordem constituída. O Prof. José Afonso da Silva assim define o estado de sítio: "instauração de uma legalidade extraordinária, por determinado tempo e em certa área (que poderá ser o território nacional inteiro), objetivando preservar ou restaurar a normalidade constitucional, perturbada por motivo de comoção grave de repercussão nacional ou por situação de beligerância com Estado estrangeiro" (Curso de Direito Constitucional Positivo, São Paulo, Revista dos Tribunais, 5ª ed., 1989, p. 640). O estado de sítio implica a suspensão temporária e localizada das garantias individuais. Assinala Manoel Gonçalves Ferreira Filho que o estado de sítio suspende as garantias dos direitos fundamentais, e nunca os próprios direitos (Comentários à Constituição Brasileira, São Paulo, Saraiva, 3ª ed., 1983, p. 641). O estado de sítio é previsto pela CF nos arts. 137 e segs. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias à sua execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de 19 publicado, o Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas abrangidas. O estado de sítio, no caso do Art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II do Art. 137, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira. Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato. O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas. Se o estado de sítio for decretado com fundamento no inciso I do Art. 137, somente poderão ser tomadas estas medidas: I - obrigação de permanência em localidade determinada; II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e apreensão em domicílio; VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; VII - requisição de bens. O item I deste elenco de medidas consagra a mensagem, ou seja, a obrigação de permanecer em lugar determinado sem detenção. A expressão "localidade determinada" denomina cidade, vila ou aldeia, salubre e, evidentemente, Povoada, pois a obrigação de permanência em campo especial para pessoas consideradas perigosas não é menagem, mas detenção. O item V, que impõe a busca e apreensão em domicílio, constitui exceção ao Princípio da inviolabilidade do domicílio (Art. 5º, XI). Na restrição do item III não se inclui a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberadas pela respectiva Mesa. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas. observar CF: arts. 140 e 141. 5.3. LIMITAÇÕES TEMPORAIS Algumas Constituições Federais, como a do Império, dizia que durante os primeiros 4 anos da sua vigência não poderiam ser modificadas. Não se trata de revisão como a Constituição Federal de 1988. A CF de 88 n trata de limitações temporais. Existe uma quarta espécie que seria os limites materiais. 5.4. CLÁUSULAS PÉTREAS OU LIMITAÇÕES MATERIAIS As Cláusulas Pétreas ou cláusulas de eternidade nada mais são que limitações materiais, de fato são terreno nebuloso, onde há muitos debates. 20 CF. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a Separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. § 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. Cláusula Pétrea, cláusula dura como uma pedra, tão poético, normalmente quando quer ser poeta é assunto tormentoso. Claro que é limitação, está aí a diferença entre os dois Poderes, o de Reforma e o Originário. Carl Schmit dizia que mesmo que não houvesse limites materiais expressos, haveria certas barreiras, certas normas que dão identidade ao Constituinte Originário. Pois se pudessem retirar tais regras haveria uma desconfiguração, são valores que dão identidade ao texto. Tais limites são da natureza das coisas, mesmo que não explícitos. Exemplo: Em 1993 o STF declarou a Inconstitucionalidade do IPMF, o pai da CPMF. Princípio da Anterioridade é uma Cláusula Pétrea e, portanto a Emenda não pode afastá-lo. Os mesmos representantes do Povo não podem excluir tal Princípio, não foi feito pelo Executivo, mas pelos representantes do Povo, por que agora, por opção mais recente haveria de mudar? Critica os alemães, falando sobre as limitações do Poder Constituinte de Reforma. A Constituição de Weimar não tinha qualquer limite ao Poder Constituinte de Reforma. (Roberto Campos) A primeira Constituição que cogitou de uma Cláusula Pétrea foi a Americana, que proibiu a supressão do voto paritário dos Estados, virou Cláusula Pétrea. Todos os Estados teriam seu voto com o mesmo valor no Senado. Em 1814, na Noruega, foi estipulado que as reformas deveriam obedecer aos Princípios da Carta, tal previsão estava contida na Constituição da Noruega. 21 ►Uma geração não pode constranger as gerações seguintes, assim não seria justo um código de condutas ser imodificável. O que justifica a Cláusula Pétrea? O que justifica a existência de limites materiais é apenas a distinção entre o Poder Constituinte Originário e o Derivado. Não se pode procurar explicações metafísicas ou filosóficas, basta buscar a diferença entre ambos os Poderes, trata- se de uma justificativa técnica e formal. Mostra que o poder que cria, que constitui os demais poderes pode fixar limitações a atuação do poder que virá criar no futuro porque é SUPERIOR, porque é quem determina aquele que virá. Em um determinado momento, os representantes do Povo, escolhem quais limites serão respeitados. No futuro se não mais concordarem terão que romper com tal sistema, ou seja, com a Ordem Constitucional vigente. Não se trata de escravidão, pois a qualquer momento o sistema pode ser rompido pelo Povo, de forma que o Poder Constituinte Originário possa se manifestar novamente. ►Pode uma Emenda a Constituição criar uma restrição a Emendas futuras? Criar uma Cláusula Pétreanova? Na hipótese de criação de uma limitação material que não existia é impossível. Imagine a criação de uma Emenda sobre o modo de depósito no Banco Central pelos Estados (art. 170) à vista do rol do art. 60 ou mesmo do Sistema dos Valores Básicos não se poderia. Como acrescentar uma CLÁUSULA PÉTREA que não existe. As Cláusulas Pétreas JÁ EXISTEM estão todas explicitadas. 5.5. TRÊS CORRENTES DE PENSAMENTO 5.5.1. Cláusulas Pétreas não servem O argumento seria o de que não faz sentido que um poder limite o outro, porque se trata de soberania do Estado. Este argumento é político e não jurídico. Confunde ruptura com a Ordem Constitucional com a permanência da Ordem Constitucional. Proposta de emenda a CF pode ser objeto de controle repressivo, ou melhor, preventivo. O repressivo pode ocorrer tanto por meio de controle abstrato como o controle incidental. Forma Federativa do Estado é a primeira cláusula pétrea. 22 5.5.2. Cláusulas Pétreas não têm valor absoluto Serviriam apenas para dificultar, fala da dupla revisão. Acreditam que poderiam ser modificadas por duas revisões. Na primeira excluir-se-ia o tema da lista das Cláusulas Pétreas e depois colococar-se-ia o tema em pauta. Manoel Gonçalves Ferreira Filho é adepto dessa corrente. O problema é que crêem que os únicos limites são os explícitos, esquecem-se de que aqueles que são expostos são o que dão identidade a Ordem Constitucional vigente. Todo trabalho constitucional tem seu eixo axiológico que poderia ser conhecido por um trabalho hermenêutico. Essa corrente permite a fraude a Constituição, pois permite que certas matérias sejam abolidas. 5.5.3. Cláusulas Pétreas têm valor absoluto A maior parte da doutrina considera que são imodificáveis, não podem ser objeto de Emenda, podem ser modificados por expressão do Poder Constituinte Originário, UMA VEZ QUE que TAL PODER pode romper com a Ordem Constitucional originária e construir novo ordenamento jurídico. Somente uma explicação técnica-jurídica atribui SENTIDO para as Cláusulas Pétreas. O Poder Constituinte de Reforma é o mesmo, não é diferente do Poder Constituinte Originário, tanto que a explicação deve ser técnica. A corrente mais aceita entre nós é a que atribui eficácia absoluta, a qual diz que haveria fraude se fossem modificadas. Existem para evitar ou prevenir a erosão da Constituição, orienta de forma a preservar as opões essenciais da Constituição. Em um momento de intranqüilidade é o que permite que haja a garantia do sistema. Exemplo: Existe um escritor americano, de origem norueguesa, que compara as Cláusulas Pétreas com a aventura de Ulisses em direção à Guerra de Tróia. Ele sai de Ítaca para a Guerra, obviamente passou pelo mar. Havia uma história de que havia sereias que encantavam e deslumbravam quem passava, fazendo com quem pulassem no mar e morressem. Ulisses que já havia ouvido falar dessa história desejava passar por tal aventura, mandou que sua tripulação o ate ao mastro com correntes, toda a sua tripulação deveria colocar cera nos ouvidos, e ninguém teria autorização para cumprir suas ordens. Ele se debateu, pediu que o 23 soltassem, mas sua tripulação não obedeceu, pois já estava orientada. As Cláusulas Pétreas são como Ulisses acorrentado no mastro, que teve que suportar a sedução, sem qualquer alternativa. O suicídio seria o rompimento com a Ordem Constitucional. ►Vários incisos do artigo 5° poderiam ser modificados? A redação poderia ser modificada? A Cláusula Pétrea não impede a mudança meramente redacional, os Princípios são petrificados. Por outro lado, o seu texto não pode ser reduzido , seu alcance não pode ser diminuído. É possível a mudança da disciplina e da redação, contudo não se pode reduzir o alcance do texto. É possível que se modifique o conteúdo do tema, desde que não se modifique o núcleo essencial (conjunto ou âmbito normativo que estaria essencialmente ligado a uma norma), ou seja, conjunto de Princípios que desnaturados mudam o sentido da norma. MS 20257 / DF - DISTRITO FEDERAL MANDADO DE SEGURANÇA Relator(a): Min. DECIO MIRANDA Julgamento: 08/10/1980 Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicação: DJ 27-02-1981 PG-01304 EMENT VOL-01201-02 PG-00312 RTJ VOL- 00099-03 PG-01031 Mandado de segurança contra ato da mesa do Congresso que admitiu a deliberação de proposta de Emenda Constitucional que a impetração alega ser tendente a abolição da Republica. Cabimento do mandado de segurança em hipóteses em que a vedação constitucional se dirige ao próprio processamento da lei ou da emenda, vedando a sua apresentação (como e o caso previsto no parágrafo único do artigo 57) ou a sua deliberação (como na espécie). Nesses casos, a Inconstitucionalidade diz respeito ao próprio andamento do processo legislativo, e isso porque a Constituição não quer - em face da gravidade dessas deliberações, se consumadas - que sequer se chegue a deliberação, proibindo-a taxativamente. A Inconstitucionalidade, se ocorrente, já existe antes de o projeto ou de a proposta se transformar em lei ou em emenda constitucional, porque o próprio processamento já desrespeita, frontalmente, a constituição. Inexistência, no caso, da pretendida Inconstitucionalidade, uma vez que a prorrogação de Mandato de dois para quatro anos, tendo em vista a conveniência da coincidência de Mandatos 24 nos vários níveis da Federação, não implica introdução do Princípio de que os Mandatos não mais são temporários, nem envolve, indiretamente, sua adoção de fato. Mandado de segurança indeferido. VOTAÇÃO POR MAIORIA. RESULTADO INDEFERIDO. Ano:1981 AUD:27-02-1981 Exemplo: Caso de 1980. A Constituição que figurava era a de 1967 e 1969, vigorava o Princípio Republicano como Cláusula Pétrea. Reduzindo de 2 para 4 anos, o Mandato do vereador. Itamar Franco e outros impetraram um Mandado de Segurança alegando que feria a Cláusula Pétrea do Princípio Republicado, ferindo a temporariedade dos Mandatos. O argumento é de que isso somente seria possível na Monarquia. O grupo de Senadores dizia que a temporariedade sendo ferida estaria se ferindo o modelo Republicano, Cláusula Pétrea. A proposta de Emenda já tinha sido aprovada, ainda assim o STF conheceu do Mandado de Segurança, passou de preventivo para repressivo, negou a ordem. Passar de 2 para 4 anos não era alterar de modo dezarrazoado os prazos do Mandato, a não ser que a alteração fosse, por exemplo, de 2 para 30 anos. A extensão em mais 2 anos faz com que se conclua que não faltaria razoabilidade, não fere o Princípio da temporariedade dos Mandatos. Essa foi a conclusão do Supremo. Conclui-se que o núcleo essencial do Princípio não foi alterado: intervalo de tempo nos Mandatos. O que não se pode é ferir a essência do Princípio. Descobrir o núcleo essencial de uma Cláusula Pétrea muitas vezes é fácil, outras não. A da Separação dos Poderes, por exemplo, o que é tão essencial neste Princípio? É uma tarefa de maior complexidade. Veremos cada uma delas. 25 5.5.4. Cláusulas Pétreas do Nosso Ordenamento 5.5.4.1. Princípio Federativo A forma Federativa de Estado se opõe a forma Unitária, no qual existe um único centro emanador de normas. Na forma Federativa há governos locais, com competências fixadas em uma Constituição Federal. Há dois tipos de Constituições: Federais e Estaduais e/ou Municipais. Os governos locais expressam sua vontade por meio das Leis. Os Estados se manifestam por meio do Senado, quando se editam as Leis. ►Pode uma emenda a Constituição transferir competências para a União? Há opiniões para dois campos de respostas. Maria HelenaDiniz afirma que qualquer subtração de competências dos Estados transferindo à União feririria a Cláusula Pétrea. Nelson Sampaio vê como algo possível, desde que não sufoque, por meio de uma Emenda. Algo que esteja como competência de um Estado pode ser transferida à União. A transferência, contudo não poderia ser intensa, de forma que a Federação perca o sentido. O professor recomenda que se Leia Nelson Sampaio. Exemplo: O texto que criou o IPMF permitiu a Leitura que fazia com que a União também cobrasse dos Estados e Municípios o imposto. O STF disse que feria a imunidade recíproca. “O poder de tributar envolve o poder de destruir.” Marshal. A União não pode tributar os Estados e os Municípios: pois haveria uma guerra fiscal. O Márcio tem um texto sobre isso ma Revista Consulex. 5.5.4.2. Voto Direto, Secreto, Universal e Periódico. Três anos antes: Movimento das Diretas Já. Surgiu porque as regras eram no sentido de que o Presidente da República seria escolhido pelos representantes do Povo, Colégio Eleitoral. As Cláusulas Pétreas surgem muitas vezes como resposta a uma circunstância histórica. Voto direito significa que devam ser escolhidos pelo Povo de forma direta. Para que seja eficiente deve ser secreto e universal, implica dizer que o grupo ativo de 26 pessoas que poderá votar não pode ser diminuído por uma Emenda a Constituição. Aquelas pessoas que estão habilitadas não poderão ser excluídas no futuro. Exemplo: Uma Emenda não poderá dizer que os maiores de 65 anos não poderão votar ou que os doentes também não poderão fazê-lo. O mesmo pode ser dito sobre os meninos que entre 16 e 18 podem votar, tal direito não pode ser suprimido. Uma Emenda sobre reeleição não fere o voto periódico, não importa que seja sobre a mesma pessoa. É uma hipótese aberta à discricionariedade do legislador. A extensão do Mandato também não afeta, desde que seja um número, em limite razoável. A chave da questão sempre será a questão da razoabilidade. 5.5.4.3. Separação dos Poderes ►O que é Cláusula Pétrea aqui? Seria a separação imaginada por Montesquieu? O Supremo tem dito desde 1947 que a Cláusula Pétrea da Separação dos Poderes é o desenho de inter-relacionamento dos Poderes. O conjunto de Poderes que definem os órgãos de soberania. É tanto uma Cláusula Pétrea, quanto um Princípio Constitucional sensível (dirigido a um Estado Membro, quando vai redigir uma Constituição). Ou seja, tanto uma limitação para os Estados redigirem suas Constituições quanto Cláusulas Pétreas. Exemplo: O Supremo ao analisar norma da Paraíba e do Mato Grosso disse que seria Inconstitucional a criação do Conselho da Magistratura, entidade com pessoas alheias à Magistratura. ►Como pessoas externas ao Judiciário fariam isso? Feria o Princípio Constitucional Sensível da Separação dos Poderes, a fiscalização possível por órgãos externos seria apenas a prevista pela própria Constituição Federal, como a do Tribunal de Contas. Quando o Constituinte Originário estabeleceu a forma de convivência dos Poderes estabeleceu a autonomia, não se podem criar órgãos de controle de um Poder fora dele mesmo. Súmula 649: 27 Súmula nº 649 - STF - 24/09/2003 É Inconstitucional a criação, por Constituição estadual, de órgão de controle administrativo do Poder Judiciário do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades. O Controle Externo do Judiciário resultou na Emenda nº 45 que estabeleceu um Órgão com capacidade disciplinar, composto por membros do Judiciário. Em 1993 e 1994 todos pensaram que não daria em nada, Paraíba e Mato Grosso são exemplo disso. O legislador constituinte foi mais inteligente, colocou o Conselho Nacional da Magistratura dentro do Poder Judiciário. O Supremo entende que uma Norma Constitucional que diga respeito à própria essência do Poder em consideração não podem ser modificadas. Exemplo disso é um dispositivo que garante a liberação, art. 168, de dotações orçamentárias até o dia 20 de cada mês, não parece importante, mas o Supremo acha que é vital, então é Cláusula Pétrea que confere essência, garantindo independência ao Judiciário em face do Executivo. Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Cabe ao Judiciário a última palavra na interpretação das Leis e da Constituição, integra o Princípio da Separação dos Poderes. Seria Inconstitucional uma emenda dizendo que o Senado ou o Congresso pudessem desfazer a decisão do Judiciário na interpretação da Lei. 5.5.4.4. Direitos e Garantias Individuais Emendas que venham a suprimir os Direitos Individuais ferem a Cláusula Pétrea. Temos boas questões. ►Quais são os Direitos Individuais que se constituem em Cláusulas Pétreas? Além do artigo 5° haveria outros? (ADIN 939, anterioridade) ADI 939 / DF - DISTRITO FEDERAL 28 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES Julgamento: 15/12/1993 Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicação: DJ 18-03-1994 PP-05165 EMENT VOL-01737-02 PP-00160 RTJ VOL-00151-03 PP- 00755 EMENTA: - Direito Constitucional e Tributário. Ação Direta de Inconstitucionalidade de Emenda Constitucional e de Lei Complementar. I.P.M.F. Imposto Provisório sobre a Movimentação ou a Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira - I.P.M.F. Artigos 5., par. 2., 60, par. 4., incisos I e IV, 150, incisos III, "b", e VI, "a", "b", "c" e "d", da Constituição Federal. 1. Uma Emenda Constitucional, emanada, portanto, de Constituinte derivada, incidindo em violação a Constituição originária, pode ser declarada Inconstitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, cuja função precípua e de guarda da Constituição (art. 102, I, "a", da C.F.). 2. A Emenda Constitucional n. 3, de 17.03.1993, que, no art. 2., autorizou a União a instituir o I.P.M.F., incidiu em vício de Inconstitucionalidade, ao dispor, no parágrafo 2. desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, não se aplica "o art. 150, III, "b" e VI", da Constituição, porque, desse modo, violou os seguintes Princípios e normas imutáveis (somente eles, não outros): 1. - o Princípio da anterioridade, que e garantia individual do contribuinte (art. 5., par. 2., art. 60, par. 4., inciso IV e art. 150, III, "b" da Constituição); 2. - o Princípio da imunidade tributaria recíproca (que veda a União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a instituição de impostos sobre o patrimônio, rendas ou serviços uns dos outros) e que e garantia da Federação (art. 60, par. 4., inciso I,e art. 150, VI, "a", da C.F.); 3. - a norma que, estabelecendo outras imunidades impede a criação de impostos (art. 150, III) sobre: "b"): templos de qualquer culto; "c"): patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; e "d"): livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão; 3. Em conseqüência, e Inconstitucional, também, a Lei Complementar n. 77, de 13.07.1993, sem redução de textos, nos pontos em que determinou a incidência do tributo no mesmo ano (art. 28) e deixou de reconhecer as imunidades previstas no art. 150, VI, "a", "b", "c" e "d" da C.F. (arts. 3., 4. e 8. do mesmodiploma, L.C. n. 77/93). 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente, em parte, para tais fins, por maioria, nos termos do voto do Relator, mantida, com relação a todos os contribuintes, em caráter definitivo, a medida cautelar, que suspendera a cobrança do tributo no ano de 1993. Observação: Votação: por maioria. Resultado: procedente em parte. Acórdãos citados: ADI-926, ADI-939-MC. N.PP.:(152). Análise:(JBM). Revisão:(NCS). Inclusão: 08/04/04, (LA ). Alteração: 11/02/04 (SVF). Partes: 29 REQTE. : CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NO COMÉRCIO ADVDOS.: BENON PEIXOTO DA SILVA E OUTRO REQDO. : PRESIDENTE DA REPÚBLICA REQDO. : CONGRESSO NACIONAL Para o Supremo o que é importante é que um Direito Individual guarde pertinência com o caput do art. 5° , mesmo que esteja fora do art. 5°. Estão muitos lá, porém há inúmeros fora também. ►Será que todos os direitos do art. 5° são Cláusula Pétrea? Há Direitos Coletivos? Os Direitos Coletivos são individuais de exercício coletivo. Todos os incisos do art. 5º seriam Cláusulas Pétreas. Por outro lado, alguns sustentam que não, que não são, há quem diga que somente aqueles mais relevantes. Apenas os que tenham conexão com o caput. Que visassem a garantir de modo íntimo os valores previstos no caput. Exemplo 1: A norma do inciso LVIII seria norma de Processo Penal: LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em Lei; Exemplo 2: Para essa corrente o inciso XXI também não seria Cláusula Pétrea: XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; ►Há grande objeção, pois estaríamos nos lançando à discricionariedade do intérprete, pois como saber o que está mais perto do caput ou mais longe? Não há um critério objetivo para conduzir esse raciocínio. Haveria uma insegurança desnecessária. Se o próprio constituinte enumerou, dizendo que os Direitos Individuais são Cláusulas Pétreas, por que agora nos lançar a tal risco. 30 Exemplo: Historicamente poderemos ver que o inciso que se relaciona à identificação criminal liga-se aos Direitos Fundamentais. Nos anos 80 houve movimento da OAB para mudar a Súmula do Supremo que permitia a identificação, ferindo a intimidade, a presunção da inocência, etc. Tal direito foi colocado na Constituição como Cláusula Pétrea para evitar que tal fato pudesse ser modificado de forma a permitir todos os constrangimentos que já existiram. Nasce de uma luta histórica pela reafirmação de valores essenciais do indivíduo: presunção de inocência e direito a intimidade, valores ligados ao caput. Quando a Leitura é feita historicamente pode ser percebido. A corrente que defende que os incisos do artigo 5º não são todos Cláusulas Pétreas faz com que a estejamos sujeitos a interpretações nem sempre adequadas. O ideal é considerar que o art. 5º seja, pois o art. 60 disciplina de forma explícita. Essa é a visão majoritária. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a Separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. ►Qual o critério para determinar a fundamentalidade de um direito individual fora do art. 5°? Os Direitos e Garantias Individuais constituem Cláusulas Pétreas e são limites materiais. São barreiras claras de emenda à Constituição. Alguns autores sustentam que não são, que tudo o que há no artigo 5º não é Cláusula Pétrea. 31 5.5.4.5. Ato Jurídico Perfeito e Coisa Julgada Ainda não foi levantado em relação às Emendas, em relação à aposentadoria não foi questionado. Pois, não há direito adquirido a um Regime Jurídico. Com certeza o problema vai surgir, principalmente em relação ao teto dos Servidores Públicos. Exemplo: Com a Emenda do limite máximo de pagamento dos servidores público, estabeleceu-se o limite dos vencimentos dos Ministros dos Supremos. Há muitos servidores que recebem mais que 19 mil reais. Assim, muitos tiveram seus salários reduzidos, dois ex-ministros do Supremo tiveram redução salarial, ambos impetraram Mandado de Segurança, logicamente. O argumento básico é o direito adquirido. O limite constitucional da Emenda não os poderia afetar, é direito individual. Tais limites podem limitar quando vindos do Poder Constituinte Originário. Há duas correntes, aqueles que crêem ser possível e outros não. A Lei não prejudicará o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido, a Emenda Constitucional, na tradição do Direito Constitucional, teria força constitucional e afetaria, ou seja, não feriria a Cláusula Pétrea. Tal regra somente se destinaria ao legislador ordinário. Art. 5º. XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; Do outro lado da controvérsia, há quem sustente que os direitos adquiridos podem ser opostos contra uma Emenda à Constituição, porque o argumento da primeira corrente é frágil, baseando-se em uma base frágil, pois entende “Lei Ordinária” em sentido estrito, incluindo apenas a Lei Ordinária. A segunda corrente entende que qualquer ato deve se curvar, pois o termo “Lei” engloba qualquer Ato Normativo, inclusive a Emenda. O Princípio da Segurança Jurídica destina-se a garantir as situações passadas, protegê-las das mudanças futuras, ou seja, destina-se a garantir que as situações passadas estejam protegidas das mudanças futuras. Quando se desrespeita o direito adquirido o Princípio da Segurança Jurídica é também ignorado. Dessa forma, pode-se afirmar que o Estado está contribuindo para a insegurança das relações, não é possível saber se o que hoje é legítimo amanhã será. Isso prejudica a previsibilidade das conseqüências das nossas relações. Tal Princípio está no caput do art. 5º, que dispõe sobre o direito à segurança, compreendida nos dois significas que lhe são próprios: física e jurídica. Não há 32 dúvida que tal Princípio é uma Cláusula Pétrea. Assim, para a segunda corrente o direito adquirido é, por conseqüência, uma Cláusula Pétrea. O caput do art. 5º não determina que tal Princípio esteja limitado ao legislador ordinário, é amplo, desse modo afeta qualquer situação consolidada, não importa que seja para o legislador ordinário ou constituinte. Argumento do Ministro Carlos Brito que tem texto sobre isso. ►Existe direito adquirido diante da Constituição? A doutrina está dividida. Só há pacificação quanto ao legislador ordinário. Duas doutrinas bem divididas. ►Direitos Individuais previstos em tratados, em que o Brasil seja parte são constitucionais? São Cláusulas Pétreas? Flávia Piovesan. Parágrafo 2º do Art. 5º, não excluem outros, quer dizer que incluem outros. Corrente dos Internacionalistas Porém, há uma Corrente Contrária que diz que devem ser vistos como normas infraconstitucionais, a não ser que haja uma norma que diga textualmente que sejam constitucionais. O que o parágrafo segundo quis dizer é que a enumeração não é taxativa, o que quer dizer é que os direitos podem ser acrescidos, pela legislação. Art. 5º. § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos Princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. O constituinte deveria dizer textualmente, como não disse a interpretação é a de que não deve ser entendido assim, de forma sistêmica.Quem apreciava era o STF, agora será o STJ. Os Tratados são aprovados entre nós de forma diferente, então como poderiam ter valor constitucional? Os Tratados são negociados pelo Executivo, é quem assina. Nesse momento, ainda não entrou em vigor. É apenas um encontro de vontades, de dois Países. O texto volta para o Brasil e precisa ser ratificado, antes passa por um procedimento interno. Tem que ser aprovado no Congresso Nacional, por maioria simples, metade mais um dos presentes. Nas Emendas é preciso 3/5 dos membros. A diferença é gritante. Depois de o Congresso aprovar, o Presidente precisa ratificar, coisa que somente o Presidente da República poderá fazer, depositando-o. 33 Internamente com a ratificação ainda não se pode invocá-lo, é preciso que o Presidente publique no DOU por meio de um Decreto. Somente começa produzir efeitos internos depois de sua publicação. Art. 5º. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às Emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) STF Firmou jurisprudências: normas dos Tratados são Lei Ordinária, pouco importa sobre o que versem. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA VERSUS PRISÃO CIVIL BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Hábeas Corpus nº 72.131/RJ. Paciente: Lairton Almagro Vitoriano da Cunha. Impetrante: Marcello Ferreira de Souza Granado. Coator: Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Relator: Ministro Marco Aurélio, Brasília, DF, 23 de novembro de 1995. STF, Brasília, 2004. Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 17 set. 2004. Grifos nossos. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 349.703-1/RS. Recorrente: Banco Itaú S/A. Recorrido: Armando Luiz Segabinazzi. Relator: Ministro Ilmar Galvão, STF, Brasília, 2004. PACTO DE SAN JOSÉ – FILIAÇÃO ADIN 1.121 – Medida Cautelar ADI 1121 MC / RS - RIO GRANDE DO SUL MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 06/09/1995 Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicação: DJ 06-10-1995 PP-33127 EMENT VOL-01803-01 PP-00067 E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CONFEDERAÇÃO SINDICAL - CONSIDERAÇÕES EM TORNO DA QUESTÃO DO REGISTRO SINDICAL - SIGNIFICADO DA INSTRUÇÃO NORMATIVA N. 03/94 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO - AÇÃO DIRETA AJUIZADA EM MOMENTO ANTERIOR AO DA VIGENCIA DESSA INSTRUÇÃO NORMATIVA 34 (ART. 9.) - CONFEDERAÇÃO SINDICAL QUE NÃO OBSERVA A REGRA INSCRITA NO ART. 535 DA CLT - NORMA LEGAL QUE FOI RECEBIDA PELA CF/88 - ENTIDADE QUE PODE CONGREGAR PESSOAS JURIDICAS DE DIREITO PÚBLICO E OUTRAS INSTITUIÇÕES DE CARÁTER CIVIL - DESCARACTERIZAÇÃO COMO ENTIDADE SINDICAL - AÇÃO NÃO CONHECIDA. REGISTRO SINDICAL E LIBERDADE SINDICAL. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ao interpretar a norma inscrita no art. 8., I, da Carta Política - e tendo presentes as várias posições assumidas pelo magistério doutrinário (uma, que sustenta a suficiência do registro da entidade sindical no Registro Civil das Pessoas Jurídicas; outra, que se satisfaz com o registro personificador no Ministério do Trabalho e a última, que exige o duplo registro: no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, para efeito de aquisição da personalidade meramente civil, e no Ministério do Trabalho, para obtenção da personalidade sindical) -, firmou orientação no sentido de que não ofende o texto da Constituição a exigência de registro sindical no Ministério do Trabalho, órgão este que, sem prejuízo de regime diverso passível de instituição pelo legislador comum, ainda continua a ser o órgão estatal incumbido de atribuição normativa para proceder a efetivação do ato registral. Precedente: RTJ 147/868, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE. O registro sindical qualifica-se como ato administrativo essencialmente vinculado, devendo ser praticado pelo Ministro do Trabalho, mediante resolução fundamentada, sempre que, respeitado o postulado da unicidade sindical e observada a exigência de regularidade, autenticidade e representação, a entidade sindical interessada preencher, integralmente, os requisitos fixados pelo ordenamento positivo e por este considerados como necessários a formação dos organismos sindicais. CONFEDERAÇÃO SINDICAL - MODELO NORMATIVO. O sistema confederativo, peculiar a organização sindical brasileira, foi mantido em seus lineamentos essenciais e em sua estrutura basica pela Constituição promulgada em 1988. A norma inscrita no art. 535 da CLT - que foi integralmente recepcionada pela nova ordem constitucional - impõe, para efeito de configuração jurídico-legal das Confederações sindicais, que estas se organizem com o mínimo de três (3) Federações sindicais. Precedente: RTJ 137/82, Rel. Min. MOREIRA ALVES. O desatendimento dessa exigência legal minima por qualquer ConFederação importa em descaracterização de sua natureza sindical. Circunstancia ocorrente na espécie. Conseqüente reconhecimento da ilegitimidade ativa ad causam da Autora. Observação VOTAÇÃO: UNÂNIME. RESULTADO: NÃO CONHECIDO. VEJA MI-144, RTJ-147/868, ADIMC-444, RTJ-137/82, ADI-511, RTJ-140/752 ADI-705, AOI-947, AOI-57, RTJ-139/378, ADI-433, RTJ-138/421 N.PP.:(20). ANALISE:(LMS). REVISÃO:(NCS). INCLUSAO : 24.10.95, (ARV). ALTERAÇÃO: 24.11.95, (ARV). 35 Partes REQUERENTE: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - HOSPITAIS, ESTABELECIMENTOS E SERVIÇOS - CNS REQUERIDOS: - GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E - ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Mandado de Injunção – 144 MI 144 / SP - SÃO PAULO MANDADO DE INJUNÇÃO Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE Julgamento: 03/08/1992 Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicação: DJ 28-05-1993 PP-10381 EMENT VOL-01705-01 PP-00013 RTJ VOL-00147- 03 PP-00868 E M E N T A: I. Mandado de injunção: ocorrência de legitimação "ad causam" e ausência de interesse processual. 1. Associação profissional detém legitimidade "ad causam" para impetrar mandado de injunção tendente a colmatação de lacuna da disciplina legislativa alegadamente necessária ao exercício da liberdade de converter-se em sindicato (CF, art. 8.). 2. Não há interesse processual necessário a impetração de mandado de injunção, se o exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa constitucional da requerente não esta inviabilizado pela falta de norma infraconstitucional, dada a recepção de direito ordinário anterior. II.Liberdade e unicidade sindical e competência para o registro de entidades sindicais (CF, art. 8., I e II): recepção em termos, da competência do Ministério do Trabalho, sem prejuízo da possibilidade de a lei vir a criar regime diverso. 1. O que e inerente a nova concepção constitucional positiva de liberdade sindical e, não a inexistência de registro público - o qual e reclamado, no sistema brasileiro, para o aperfeiçoamento da constituição de toda e qualquer pessoa jurídica de direito privado -, mas, a teor do art. 8., I, do texto fundamental, "que a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato": o decisivo, para que se resguardem as liberdades constitucionais de associação civil ou de associação sindical, e, pois, que se trate efetivamente de simples registro - ato vinculado, subordinado apenas a verificação de pressupostos legais -, e não de autorização ou de reconhecimento discricionários. 2. A diferença entre o novo sistema, de simples registro, em relação ao
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