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Crimes contra a flora – florestas de preservação permanente – Art. 38 da Lei 9.605/98 Conforme dito anteriormente nos artigos relacionados à Amazônia, passaremos agora aos diversos crimes existentes contra a flora, tipificados na Lei 9.605/98, que regula os “crimes contra o meio ambiente”. Inicialmente, é importante destacar, para a subsunção correta do fato ao tipo, o que vem a ser “floresta de preservação permanente”, no qual é o objeto material da norma supra. Tal resposta se encontra no Código Florestal, em seus arts. 2° e 3°, como por exemplo, ao redor das lagoas ou reservatórios d´águas naturais ou artificiais; 50 metros de largura das nascentes d´água; no topo de morros, montanhas e serras; nas restingas; em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação; bem como as florestas que se encontram em área de proteção indígena etc. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que imputável, mesmo se for o proprietário do imóvel ou o possuidor, tanto direto como indireto, qualquer que degradar a área de floresta permanente responderá pelo tipo. No que tange ao sujeito passivo, diretamente é a própria sociedade, o meio ambiente é bem público, coletivo, e indiretamente, o proprietário ou o possuidor do imóvel degradado. O legislador quis proteger as florestas, mesmo que em formação, haja vista ser o bem tutelado a conservação das florestas permanentes, leia-se, a preservação do meio ambiente em si, sendo este o objeto jurídico do tipo. Anteriormente à Lei 9.605/98, tal tipo era subordinado essencialmente ao dolo, não existindo a culpa, o que veio a acontecer com a edição da lei acima, evidenciando a importância de existir zelo dos trabalhadores da agricultura e da agropecuária na proteção do meio ambiente, pois que, hoje, a culpa também pode ser invocada, consoante ao parágrafo único do artigo em tela. Desta forma, o elemento subjetivo é o dolo, vontade consciente de praticar a conduta ilícita, e a culpa, estampada no parágrafo único, quando o Autor do fato típico atuar com negligência, imprudência ou imperícia. Mister observar que, na vigência do Código Florestal, tal crime era contravenção, e não existia a modalidade culposa. Portanto, apesar de ser um crime de menor potencial ofensivo, a evolução legal se mostrou cabível, consagrando a culpa e tornando-o crime. Sobre a conduta do tipo, podemos observar três verbos, o “destruir, danificar e utilizar”. A diferença entre destruir e danificar é: destruir significa exterminar, desfazer, aniquilar, ou seja, acabar totalmente, desaparecer; já o danificar quer dizer tornar inútil, esterelizar o local. No utilizar é fazer seu uso. O que pode ser diferenciado em tais condutas é que as duas primeiras, destruir e danificar, são crimes de dano, enquanto que o utilizar é crime de perigo. No processo, o crime será de menor potencial ofensivo, conforme já descrito, seguindo o rito da Lei 9.099/95, tanto na forma dolosa quanto culposa. Sendo assim, se for pego em flagrante o criminoso, o mesmo não pode ser preso, se comprometer-se-á a ir ao Juizado Especial Criminal, assinando o Termo Circunstanciado na Delegacia daquela circunscrição, senão, irá preso. Ambas as modalidades, dolosa ou culposa, cabe a suspensão condicional do processo, porém, a transação somente é viável na forma culposa, já que na dolosa a pena máxima é superior a dois anos (art. 76 da Lei 9.099/95). Na Jurisprudência, encontramos poucos julgados criminais, por serem os mesmos resolvidos logo em 1° instância, nos juizados especiais criminais, porém, é mister enaltecer que, além, da responsabilidade criminal do agente na degradação de área de preservação permanente, o mesmo será responsabilizado na seara cível, no qual a mais moderna doutrina entende que o retorno do status anterior da floresta deve ser a primeira etapa. Após todo o exposto, fica patente a existência de avançada legislação ambiental em nosso país, porém com penas muito brandas para o país de maior biodiversidade do mundo. É indubitável a necessidade de reforma urgente da lei de crimes ambientais no que concerne às penas. Enquanto esta reforma não ocorre, nada mais justo e correto que a pena alternativa aplicada esteja relacionada a questões ambientais, como, por exemplo, deixar o condenando limpando recintos de animais por um longo tempo... quem sabe neste tempo não aprenderá algo com estes animais... O momento é de união de toda a proteção animal. Digo mais. De união de toda a sociedade que deve valorizar a conservação e preservação do meio ambiente sadio e equilibrado, direito nosso e das futuras gerações, que, aliás, estão condenadas a conhecerem meio ambiente apenas em sua faceta virtual. União contra o que não é eficaz. A população unida faz leis. Muda leis. Esse é o exercício da cidadania política e sócio-ambiental. Essa é a VIDA. 1 INTRODUÇÃO Não só é interesse comum que não se cometam delitos, mas que sejam ainda menos freqüentes os danos por eles causados à sociedade, devendo ser mais fortes os motivos que retraiam o homem de cometer infrações penais, por serem contrários ao bem público, necessitando, pois, de haver uma proporção entre os delitos e as penas, para que surtam efeitos as investidas do Estado em sua reprimenda. Todos os elementos integrantes do meio ambiente têm importância no seu equilíbrio, havendo, pois, a necessidade da tutela ambiental, sendo a razão de o legislador prever sanções no caso de infrações, como na hipótese de proteção aos animais. Sem embargo da importância de todos os assuntos contidos na Lei n. 9.605, de 2 de fevereiro de 1998, pressupõe-se interessante a realização de alguns comentários sobre os crimes contra a fauna, devido à nova diretriz traçada, acarretando mudanças, algumas mais leves, outras mais fortes, no disciplinamento legislativo até então em vigor. 2 DOS CRIMES CONTRA A FAUNA Reclamava-se antes de que (...) as regras para os crimes ambientais estavam embrenhadas num confuso palheiro de leis, geralmente conflitantes entre si1, mas, agora, a Lei n. 9.605/98 sistematizou normas de Direito Ambiental, ensejando o conhecimento pela sociedade e dando melhor instrumento de execução pelos órgãos encarregados da defesa do meio ambiente, ainda que não tenha o legislador sido feliz em agrupar todos os atos lesivos à natureza, em sua totalidade, continuando em vigor vários dispositivos no Código Penal e em outras leis. A importância a ser conferida ao citado diploma legal, dentre outras, é a eliminação do exagero do legislador anterior, que erigiu à categoria de crimes inafiançáveis os praticados contra a fauna, cuja rigidez não se justificava, pois deverá ocorrer a proporcionalidade entre o dano causado e a reprimenda imposta, a despeito da indiscutível relevância de se manter o equilíbrio na natureza, como, de igual forma, a moderna tendência se direciona à utilização da criminalização de condutas como a ultima ratio, devendo o Estado, primeiramente, procurar coibir os abusos com outros meios eficazes2. 3 COMPETÊNCIA Encaminhado ao Congresso Nacional em 1996, pelo então Ministro da Justiça Nelson Jobim, o anteprojeto de lei trazia um dispositivo da mais alta relevância e que eliminaria, em percentual bem acentuado, a impunidade pela prática de delitos ambientais, principalmente os relacionados à fauna silvestre, que, depois da tramitação e apresentação de substitutivo, teve aprovada a redação do parágrafo único do art. 26, segundo o qual (...) O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei caberão à Justiça Estadual, com a interveniência do Ministério Público respectivo, quando tiverem sido praticados no território de Município que não seja sede de vara da Justiça Federal, com recurso para o Tribunal Regional Federal correspondente. Acertadamente, porém, houve o veto presidencial, com as seguintes razões: A formulação equivocada contida no presente dispositivo enseja entendimento segundo o qual todos os crimes ambientais estariam submetidos à competência da Justiça Federal. Em verdade, sãoda competência da Justiça Federal os crimes praticados em detrimento de bens e serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Assim sendo, há crimes ambientais da competência da Justiça Estadual e da Justiça Federal. A intenção do legislador de permitir que o processo-crime de competência da Justiça Federal seja instaurado na Justiça Estadual, quando a localidade não for sede de Juízo Federal (CF, art. 109, § 3º, deverá, pois, ser perseguida em projeto de lei autônomo. Realmente, a competência da Justiça Federal tem assento na Constituição da República, na forma do seu art. 109 e a extensão dada pelo legislador avançou os limites possíveis de regulamentação, porque nem todas as infrações penais contidas na Lei Ambiental enquadram-se na previsão do inc. IV do mencionado dispositivo constitucional, como a hipótese, dentre outras, de grafitar monumento urbano (art. 65), pertencente a município e que não atinge bem ou interesse federal5. Inexistindo o interesse da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, nem se tratando de crimes previstos em tratado ou convenção internacional, na hipótese do inc. V do art. 109, ausente é o motivo de se impor a competência da Justiça Federal. O projeto original fazia a ressalva necessária, delegando-se à Justiça Estadual o processo e julgamento de ações criminais, cuja competência seria da Justiça Federal, nos locais onde ela não possuísse vara, o que seria bom e prático, tal como é o caso do tráfico internacional de drogas, que a Lei n. 6.368, de 21 de outubro de 1976, no art. 27, estabeleceu a competência do Juízo de Direito da comarca, com recurso para o Tribunal Regional Federal respectivo, porque, conforme assinalou o Ministro Décio Miranda, por ocasião do julgamento do Conflito de Jurisdição n. 6.115-RJ, constante da RTJ n. 91, p. 427, (...) Reservar exclusivamente à Justiça Federal a repressão é, praticamente, impedir que a proteção se exerça. Assim, um crime contra a fauna cometido no interior, distante da capital do Estado do Amazonas, por exemplo, deveria sofrer a repressão no local em que foi praticado, a começar pelo eventual auto de prisão em flagrante, haja vista que a lavratura deve ser feita por autoridade que detém atribuição legal, evitando-se, portanto, que referido documento procedimental, produzido por delegado de polícia civil, resultasse nulo, por contrariar o art. 304 do Código de Processo Penal, pois, constitucionalmente, trata-se de tarefa da Polícia Federal (art. 144, §1º, inc. I). Por outro lado, é muito mais fácil a coleta de provas pelo juízo local do que pelo da capital, além de ensejar imediatidade, economia processual, maior rapidez na instrução criminal e na entrega da prestação jurisdicional e, o que é mais importante, a economia ao jurisdicionado, seja em virtude de deslocamentos, seja em razão de contratação de advogado, proporcionando uma maior oportunidade de defesa e de atendimento ao princípio do contraditório. A melhor solução será uma posterior modificação por lei, inserindo-se um dispositivo que dê melhores condições para a efetiva aplicação da Lei n. 9.605/98, cujos propósitos, no geral, são louváveis. O veto ao parágrafo único do art. 26, entretanto, não foi o responsável pelo reavivamento de velha e vencida discussão de que cabe à Justiça Federal o julgamento de infrações penais contra a fauna, encontrando-se pacificada a jurisprudência, sedimentada na Súmula n. 91 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual (...) Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna. Alçada aquela Corte, pela Constituição Federal, como o órgão judiciário responsável pela solução de conflitos de competência, exceto os da letra o do inc. I do art. 102, entre quaisquer tribunais, entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos (art. 105, I, d), cabendo-lhe, ainda, julgar, em recurso especial, as causas em que a decisão recorrida (...) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência (art. 105, III, a), o assunto não deveria mais ser objeto de polêmicas doutrinárias, porque nada mudou com a nova Lei de Proteção Ambiental e o preceito constitucional do art. 225 não tem o alcance pretendido por alguns autores, fundando-se na afirmação de ser bem comum do povo. Importante realçar que o mesmo não acontece com os crimes contra a pesca, por serem os peixes res nullius, coisa de ninguém, cuja competência será da Justiça Estadual, salvo se o ato for praticado nas 12 milhas do mar territorial brasileiro, nos lagos e rios pertencentes à União e nas unidades de conservação nacional6, porque aí haverá o interesse direto daquele ente político, a fazer incidir a regra do art. 109, IV, da Constituição Federal. 4 CONCLUSÃO No tocante aos crimes contra a fauna, a nova Lei Penal Ambiental atende às necessidades de proteção do bem tutelado, havendo, no entanto, como é costume ocorrer, a falha na fiscalização do órgão público encarregado e, além de tudo, a falta de conscientização do cidadão, que, antes de tudo, considera a facilidade de se burlar a legislação. O anteprojeto trazia em seu bojo uma salutar medida de boa política processual penal, que era a delegação de competência ao juízo estadual, quando o local da infração não fosse sede de juízo federal, com recurso para o tribunal regional federal respectivo, tal como ocorre com a previsão do art. 27 da Lei n. 6.368/76, o que seria plenamente comportável, na medida que a parte final do § 3º do art. 109 da Constituição Federal o permite. Lamenta-se que o Anteprojeto da Lei n. 9.605/98 tenha sofrido emenda, no tocante à fixação da competência do órgão julgador, ensejando que o conserto, embora imbuído de bom propósito, tenha ocasionado o acertado veto presidencial, nada impedindo, porém, que, futuramente, haja modificação legislativa, no sentido de se atribuir a delegação à Justiça Estadual, para processar e julgar os delitos contra a fauna, cometidos em localidade que não seja sediada por vara da Justiça Federal. Assim acontecendo, sem dúvida terá melhor condição de aplicação a norma jurídica, proporcionando celeridade e praticidade no cometimento de atos processuais. No mais, resta esperar que surta os efeitos pretendidos, com uma melhor forma de proteção do meio ambiente, principalmente no tocante ao Poder Público, a quem cabe fiscalizar e executar o instrumento legal existente.
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