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Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 1 CAPÍTULO 10 – CATÁLISE E REATORES CATALÍTICOS 10.6 – DESATIVAÇÃO DO CATALISADOR Desativação do catalisador representa o decaimento catalítico, perda ou redução da atividade catalítica à medida que a reação ocorre. Na análise das reações sobre decaimento da atividade, dividimos as reações em duas categorias: 1) Cinética Separável separa a lei de velocidade da atividade. ( ) ( ) Neste caso, estuda-se independentemente o decaimento da atividade do catalisador e a cinética da reação. 2) Cinética Não-Separável impossibilidade de separação. ( ) Neste caso, supõe-se a existência de uma superfície não ideal ou descreve-se a desativação por um mecanismo composto de várias etapas elementares. CINÉTICA SEPARÁVEL Atividade [a(t)] é a razão entre a velocidade de reação sobre um catalisador usado por um tempo t e a velocidade de reação sobre um catalisador novo. ( ) ( ) ( ) (54) a(t) inicia-se em 1 e vai diminuindo à medida que o catalisador se desativa. Então: ( ) ( ) ( ) ( ) (55) Para evitar a redução da velocidade de reação pode-se aumentar a temperatura progressivamente à medida que a(t) diminui, de tal forma que – rA´ torna-se dependente apenas da concentração. Nos processos industriais são utilizados catalisadores metálicos suportados, em particular o níquel, com alta concentração e baixa dispersão, e o paládio, que apresenta baixa concentração de metal e alta dispersão. Ambos apresentam altas conversões e seletividades na reforma, pirólise da gasolina e hidrogenação de vários processos; no entanto, devido à formação de coque e presença de gomas na carga, os catalisadores sofrem desativação acentuada. O coque deposita-se preferencialmente no metal, prejudicando a hidrogenação, enquanto que a goma pode depositar-se tanto no metal quanto no suporte, Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 2 desativando o catalisador rapidamente. Daí a importância de estudar a estabilidade do catalisador nas condições industriais, tanto quanto ao grau de desativação devido à formação de coque ou gomas, bem como de sua possível regeneração. Para avaliar o catalisador nas mesmas condições industriais, faz-se um scale down em laboratório, utilizando a mesma velocidade espacial, pressão e temperatura, mas com uma massa de catalisador em escala de bancada. Além disso, para avaliar os catalisadores sob regime cinético, determinam-se condições tais que sejam minimizados os efeitos difusionais e de massa. Nestas condições podem ser feitas avaliações comparativas entre os resultados de bancada e os obtidos industrialmente. 10.6.1 – TIPOS DE DESATIVAÇÃO CATALÍTICA A perda da atividade pode ocorrer por três meios: 1) Sinterização (Envelhecimento); 2) Formação de coque ou bloqueio (Fouling); 3) Envenenamento. 1) Desativação por Sinterização (Envelhecimento). É a perda irreversível da atividade catalítica devido à perda de área superficial ativa, resultante principalmente da exposição do catalisador a altas temperaturas. Esta redução na área ocorre devido: Aglomeração dos cristais e crescimento dos metais depositados sobre o suporte; Estreitamento ou fechamento dos poros; Recristalização; Formação ou eliminação de defeitos na superfície (sítios ativos); Para evitar a sinterização deve-se trabalhar com temperaturas abaixo de 30 a 40% da temperatura de fusão do sólido. A lei de velocidade de decaimento por sinterização é: (56) Sendo kd a velocidade específica de decaimento. Integrando: ( ) (57) A constante de decaimento por sinterização segue a equação de Arrhenius: ( ) * ( )+ (58) Sendo Ed a energia de ativação do decaimento cujo valor geralmente é menor do que 70 kcal/mol. Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 3 2) Desativação por Formação de Coque ou Bloqueio (Fouling). A desativação é resultante da deposição de material carbonáceo (coque) ou outro material sobre a superfície do catalisador. A relação entre a quantidade de coque formado e a atividade pode ser representada por diferentes expressões empíricas: e com (59) Para minimizar a formação de coque deve-se trabalhar com pressões elevadas (2.000 a 3.000 kPa) e com correntes em hidrogênio. O catalisador pode ser regenerado pela queima do carbono na presença de algum agente oxidante, tal como O2, H2O e CO2. 3) Desativação por Envenenamento. Este tipo de desativação ocorre quando certas moléculas (chamadas veneno) se tornam irreversivelmente quimissorvidas nos sítios ativos, reduzindo assim o número de sítios disponíveis para a reação principal. O veneno pode ser uma impureza na corrente de alimentação, tais como enxofre, chumbo e outros em reservatório de petróleo por exemplo, ou mesmo um reagente ou um produto. Envenenamento por Impurezas. A desativação por envenenamento por impurezas é dada por: ( ) (60) Sendo Cp a concentração do veneno na fase gasosa. A velocidade de envenenamento é: ( ) (61) * o termo entre parênteses representa o número de sítios não-envenenados. Envenenamento por Reagentes ou Produtos. A desativação por envenenamento por reagentes ou produtos, a uma concentração inicial de veneno constante, é dada por: (62) Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 4 10.6.2 – REGENERAÇÃO DE CATALISADORES Após a desativação pode-se regenerar o catalisador para reuso. No entanto, esta regeneração depende do tipo de desativação que tenha ocorrido. Se a desativação foi provocada por sinterização do material, praticamente não é possível regenerá-lo, pois neste caso, devido à aglomeração das partículas, não será possível reativar os sítios ativos, pois geralmente formam-se aluminatos. Se a desativação ocorre devido ao envenenamento dos sítios ativos, devido à deposição de compostos presentes na carga, pode-se ou não removê-los, dependendo do tipo de envenenamento. As gomas podem ser reversíveis e dependem do tipo de regeneração, mas por outro lado, compostos sulfurados ou metais ficam irreversivelmente adsorvidos e dificilmente podem ser removidos. A regeneração é possível quando a desativação é causada pelo craqueamento e deposição de coque sobre as partículas ou dentro dos poros. O carbono quimissorve muitas vezes de forma reversível. Assim sendo, o catalisador pode ser regenerado pela eliminação do carbono com algum agente oxidante. No entanto, em alguns casos, as elevadas temperaturas para a oxidação do carbono podem promover a sinterizaçãodo metal. A oxidação ou combustão em ar na presença de vapor de água permite a remoção do coque. O processo de regeneração dos catalisadores não é simples e envolve uma série de parâmetros que estão diretamente relacionados com a desativação. É fundamental conhecer os mecanismos de desativação para poder escolher as condições de regeneração. São afetadas as propriedades texturais, como a área superficial e volume de poros, bem como as fases superficiais metálicas ou propriedades ácidas do suporte. Portanto, dependem da história do processo, do tipo de alimentação, do tipo de processo e suas variáveis, como a pressão e temperatura, que são os principais fatores de desativação. Portanto, a regeneração tem sentido quando a desativação pode ser revertida ou as fases podem ser recuperadas, e só pode ser avaliado caso a caso. Os parâmetros que influenciam o processo de regeneração são as taxas de aquecimento no processo de combustão do coque, o tempo de regeneração e os gases carregados no fluxo de regeneração. A regeneração pode ser avaliada por Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC), por Oxidação com Programação de Temperatura (TPO) e por teste catalítico. Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 5 10.6.3 – LEI DE VELOCIDADE E EQUAÇÃO DE PROJETO Em termos da cinética de ordem n, da dependência com a temperatura (tipo Arrhenius) e das condições isotérmicas, a velocidade de reação é: ( ) ( ) ( ) (63) E a velocidade de desativação: (64) Sendo o expoente d denominado ordem de desativação (geralmente d =1, 1a ordem) e o expoente m mede a dependência com a concentração (geralmente m = 0). Os dispositivos experimentais para estudar a desativação de catalisadores são de duas classes: 1) Aqueles que usam uma batelada de sólidos; 2) Aqueles que usam um escoamento contínuo de sólidos. Devido à facilidade de realizar experimentos com bateladas de sólidos, esses dispositivos são os preferidos; entretanto, eles só podem ser usados quando a desativação for suficientemente lenta (da ordem de minutos ou mais), de modo que dados suficientes, relativos à composição variável de fluido, possam ser obtidos antes da desativação completa do catalisador. Quando a desativação foi muito rápida (da ordem de segundo ou menos), então o sistema contínuo tem de ser usado. 10.6.3.1 – BATELADA DE SÓLIDOS Considerando que a reação principal e a desativação são ambas de 1a ordem, e a desativação é independente da concentração, tem-se: ( ) ( ) (65) (66) ( ) (67) SÓLIDOS EM BATELADA E FLUIDO EM BATELADA Necessita-se desenvolver uma expressão relacionando a concentração variável de gás e o tempo (variável independente ao longo da corrida). Logo: * + [ ] ( ) ( ) (68) ( ) (69) Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 6 Separando as variáveis e integrando: * + ( ) [ ] (70) Esta expressão mostra que mesmo em um tempo infinito, a concentração do reagente na reação irreversível não cai a zero, porém é governada pela velocidade de reação e de desativação. * + ( ) (71) Isolando o ln CA0 da equação 71 e substituindo na equação 70, tem-se: [ ] ( ) , * +- ( ( ) ) (72) BATELADA DE SÓLIDOS E ESCOAMENTO CONSTANTE COM MISTURA PERFEITA DO FLUIDO. Equação de projeto do CSTR fluidizado: ( ) ( ) (73) Rearranjando: ( ) ( ) (74) Substituindo a equação 67 na 74: ( ) (75) * + [ ( ) ] (76) Essa e as subsequentes deduções para batelada de sólidos são baseadas na suposição de estado pseudo-estacionário. Ele considera que as condições variam com o tempo, de modo suficientemente lento, podendo assim o sistema estar no estado estacionário em qualquer instante. Visto que uma batelada de sólidos só poderá ser usada se a desativação não for muito rápida, esta suposição é razoável. Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 7 BATELADA DE SÓLIDOS E ESCOAMENTO VARIÁVEL COM MISTURA PERFEITA DO FLUIDO (CA FIXO). Da equação 75 para o CSTR fluidizado: ( ) (75) Para manter CA constante, a velocidade de escoamento deve variar lentamente com o tempo. De fato, ela tem de diminuir porque o catalisador está se desativando. Assim, as variáveis nesta situação são e t. Logo: * ( ) + (77) Na verdade, não há uma particular vantagem em usar escoamento variável em relação ao escoamento constante para testar a cinética das equações 65 e 66 ou qualquer outra desativação independente da concentração. Entretanto, para outras cinéticas de desativação, este sistema de reator é, de longe, o mais útil porque nos permite desacoplar os três fatores CA, T e a(t), estudando cada par por vez. BATELADA DE SÓLIDOS E ESCOAMENTO CONSTANTE E EMPISTONADO DO FLUIDO. Da equação de projeto do PBR: ∫ ∫ ∫ ( ) ( ) ( ) ( ) ∫ ( ) ( ) [ ] ( ) * + (78) Ou pela definição de conversão: ( ) * + (79) Linearizando: , * +- ( ) (80) Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 8 BATELADA DE SÓLIDOS E ESCOAMENTO VARIÁVEL E EMPISTONADO DO FLUIDO (CA FIXO). Em qualquer instante, a equação 79 se aplica a um reator PBR. Neste caso, e t são as duas variáveis, obtendo-se pelo rearranjo da equação 79: , ( ) * +- (81) Desde que a desativação seja independente da concentração, os efeitos da atividade e da concentração podem ser desacoplados e qualquer um dos dispositivos experimentais apresentados dará resultados de fácil interpretação. Logo, as análises anteriores podem ser estendidassem dificuldade para qualquer reação de ordem n e qualquer ordem d de desativação, desde que m = 0. Por outro lado, se a desativação depender da concentração (m ≠ 0), então os efeitos da concentração e da atividade não se desacoplarão e a análise se tornará complexa, a menos que o dispositivo experimental adequado seja utilizado. Tais dispositivos são aqueles reatores que mantêm CA constante pela diminuição da velocidade de escoamento da alimentação. Eles podem ser usados para determinar as constantes de velocidade das equações 63 e 64. 10.6.3.1 – PROJETO Quando um fluido reagente escoa através de uma batelada de catalisador se desativando, a conversão cai progressivamente durante a corrida e as condições de estado estacionário não podem ser mantidas. Se as condições variarem lentamente com o tempo, então a conversão média durante uma corrida poderá ser encontrada, calculando-se a conversão de estado estacionário, em vários tempos e somando-as no tempo. Ou seja: ̅ ∫ ( ) (82) Quando uma conversão cai a valores muito baixos, a corrida termina; o catalisador é descartado ou regenerado e o ciclo é repetido. Há dois problemas importantes e reais com a desativação de catalisadores: Problema Operacional como operar da melhor maneira um reator durante uma corrida. Uma vez que a temperatura é a mais importante variável a afetar Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 9 a reação e a desativação. Este problema se reduz a achar a melhor progressão de temperatura durante a corrida. Problema de Regeneração quando se deve parar uma corrida e descartar ou regenerar o catalisador. Este problema é fácil de tratar uma vez que o primeiro problema tenha sido resolvido, para uma faixa de tempos de corrida e atividades finais do catalisador. O problema operacional tem sido resolvido analiticamente para uma família bem geral de equações cinéticas: ( ) ( ) ( ) ( ) (83) ( ) (84) Restrição: Desativação independente da concentração. Para a desativação bem lenta, pode-se usar uma batelada de catalisador, podendo operar o reator em uma das três maneiras: Qualquer que seja o plano de ação escolhido, as equações de projeto para as velocidades de reação (eq. 83) e de desativação (eq. 84) são obtidas resolvendo as seguintes expressões: ∫ ( ) (85) Com Análise e Cálculo de Reatores Profa Dra. Veronice Slusarski Santana 10 ∫ ∫ (86) A forma da expressão integrada depende do tipo de decaimento, de n e de d. Em geral, pode-se avaliar ̅, resolvendo a equação 82 com as equações 85 e 86. Para o caso K, a(t) diminui com o tempo, o mesmo acontece com X. Para o caso L, a(t) diminui com o tempo, assim, a velocidade de alimentação teve ser reduzida, de modo que em qualquer tempo: ( ) (87) Quase sempre, constatamos que o caso M é o ótimo. A equação 85 torna-se: ⏟ ( ) ∫ ( ) ⏟ (88) Logo, ( ) (ou ( ) ) deve permanecer constante à medida que a temperatura aumenta. Isto significa que, no regime de nenhuma resistência à difusão nos poros, temos de variar a temperatura com o tempo de tal modo que: ( ) para todos os sistemas líquidos (89) ( ) para gases ideais com reações de ordem n (90) O problema global é encontrar qual plano de ação (K, L ou M) é o melhor: a) Para o tempo mais longo de corrida para uma dada ̅ e para qualquer a(t) final, se a desativação for muito sensível à temperatura comparada à reação, o plano ótimo é o M; b) Se a desativação for menos sensível à temperatura comparada à reação use o plano K ou L, o que for mais conveniente, mas em temperatura ótima; c) Para desativações que dependam da concentração a atividade [a(t)] vai variar com a posição no reator. O plano de ação ótimo requer que a temperatura varie com a posição ao longo do reator, assim como com o tempo. Isto é uma situação difícil de analisar; d) Para catalisadores que se desativam muito rapidamente os reatores de leito fixo (PBR) não são práticos, deve-se usar os sistemas com escoamento de sólidos.
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