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Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 1 CAPÍTULO 8 – PROJETO DE REATORES NÃO-ISOTÉRMICOS EM ESTADO ESTACIONÁRIO Os reatores podem operar de três maneiras: 1) Isotermicamente – a temperatura é constante e uniforme dentro do reator; 2) Não-Isotermicamente – a temperatura varia ao longo do reator ou da reação e a conversão também, dependendo se a reação é endotérmica ou exotérmica; 3) Adiabaticamente – mantém-se o reator isolado termicamente, não há transferência de calor e tanto a temperatura como a conversão variam ao longo do reator ou da reação. Uma vez que a temperatura varia ao longo do reator ou da reação, k também varia e consequentemente a conversão também. Então, tem-se mais uma incógnita e precisa-se de mais uma equação, a qual pode ser obtida a partir do balanço de energia. 8.1 – BALANÇO DE ENERGIA Todo o desenvolvimento encontra-se no item 8.2 do livro do Fogler. Realizando o balanço de energia a partir da 1a Lei da Termodinânica, tem-se: 𝑑𝐸𝑠𝑖𝑠𝑡 𝑑𝑡 = ∑ 𝐹𝑖0. 𝐻𝑖𝑜 𝑛 𝑖=1 − ∑ 𝐹𝑖 . 𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 + 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ (1) sendo: Esist = Energia total do sistema; Fi = vazão molar da espécie i; Hi = entalpia por mol da espécie i; �̇�𝑒 = calor externo trocado (calor que entra (+) no sistema) e �̇�𝑒 = trabalho externo ou trabalho de eixo (trabalho realizado (-) pelo sistema). Para uma reação genérica A + b/a B c/a C + d/a D e pela estequiometria (item 8.2.4 - Fogler): ∑ 𝐹𝑖0. 𝐻𝑖𝑜 𝑛 𝑖=1 − ∑ 𝐹𝑖 . 𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 = 𝐹𝐴0. ∑ 𝜃𝑖 . (𝐻𝑖0 −𝐻𝑖) 𝑛 𝑖=1 − ∆𝐻𝑅 . 𝐹𝐴0. 𝑋 (2) sendo HR = calor de reação avaliada na temperatura de saída do reator (Joule /mol de A). Em regime permanente: 𝐹𝐴0. ∑ 𝜃𝑖 . (𝐻𝑖0 −𝐻𝑖) 𝑛 𝑖=1 − ∆𝐻𝑅 . 𝐹𝐴0. 𝑋 + 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ = 0 (3) Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 2 Na ausência de mudança de fase: 𝐻𝑖0 −𝐻𝑖 = ∫ 𝐶𝑝𝑖𝑑𝑇 𝑇 𝑇0 (4) Se Cpi for constante dentro da faixa de variação de temperatura: 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ − 𝐹𝐴0. ∑ 𝜃𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 . (𝑇 − 𝑇0) 𝑛 𝑖=1 − ∆𝐻𝑅 . 𝐹𝐴0. 𝑋 = 0 (5) Equação do Balaço de energia A partir da equação do Balanço de Energia, pode-se identificar, além do trabalho de eixo, três formas de calor: 𝑄𝑒⏟ 1 ̇ − 𝑊𝑒̇ − 𝐹𝐴0.∑𝜃𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 . (𝑇 − 𝑇0) 𝑛 𝑖=1⏟ 2 − ∆𝐻𝑅 . 𝐹𝐴0. 𝑋⏟ 3 = 0 (1) Calor Externo: Depende do fluido de aquecimento ou de resfriamento através de manta, trocador de calor externo ou serpentina. �̇�𝑒 pode ser dado por: a) Caso Geral: �̇�𝑒 = 𝑈. 𝐴𝑠𝑢𝑝. (𝑇 − 𝑇𝑆)* (6) * Neste caso, está ocorrendo resfriamento. sendo: U = coeficiente global de troca térmica; Asup = área superficial de troca térmica; T = temperatura do sistema de reação; TS = temperatura do fluido do trocador de calor ou da serpentina. b) Trocador de calor num CSTR: Se o fluido dentro do trocador de calor entra numa temperatura Ta1 e sai numa temperatura Ta2, e a temperatura dentro do meio reacional num CSTR é espacialmente uniforme e igual a T, então: �̇�𝑒 = 𝑈.𝐴. ∆𝑇𝑚é𝑑𝑖𝑜 = 𝑈. 𝐴. 𝑇𝑎1−𝑇𝑎2 𝑙𝑛( 𝑇𝑎1−𝑇 𝑇𝑎2−𝑇 ) (7) c) Trocador de calor num PFR: Quando o fluxo de calor varia ao longo do comprimento do reator tubular, necessita-se integrar a equação ao longo do comprimento do reator: �̇�𝑒 = ∫ 𝑈. (𝑇𝑎 − 𝑇). 𝑑𝐴 𝐴 0 = ∫ 𝑈. 𝑎. (𝑇𝑎 − 𝑇). 𝑑𝑉 𝑉 0 * (8) * Neste caso, está ocorrendo aquecimento. sendo: a = 4 / Diâmetro. Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 3 (2) Calor sensível ou de fluxo: este tipo de calor varia linearmente com a temperatura e depende da capacidade calorífica (Cp) de cada espécie. ∆𝐶𝑝 = 𝑑 𝑎 . 𝐶𝑝𝐷 + 𝑐 𝑎 . 𝐶𝑝𝐶 − 𝑏 𝑎 . 𝐶𝑝𝐵 − 𝐶𝑝𝐴 (3) Calor gerado por reação química: este tipo de calor varia exponencialmente devido ao k, especificamente à dependência exponencial de k com T segundo a equação de Arrhenius. No início, o calor cresce muito pouco, já que a conversão é baixa, mas com o aumento de T e X, o calor cresce significativamente e depois começa a decrescer. ∆𝐻𝑅(𝑇) = ∆𝐻𝑅 0(𝑇𝑅) + ∆𝐶𝑝. (𝑇 − 𝑇𝑅) sendo: ∆𝐻𝑅 0(𝑇𝑅) = calor padrão de reação avaliado numa temperatura de referência (padrão), geralmente 25oC. CALOR SENSÍVEL + CALOR GERADO = CALOR TROCADO Combinando então, a equação do balanço de energia (eq. 5) com a equação de projeto do reator de interesse, tem-se um sistema com duas equações e duas incógnitas que devem ser resolvidas simultaneamente. * Fazer toda a dedução de acordo com o Fogler até chegar na equação 8.27 do livro. Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 4 8.2 – REATOR ADIABÁTICO Todo o desenvolvimento encontra-se no item 8.3 do livro do Fogler. O balanço de energia para um processo adiabático, no qual �̇�𝑒 =0, e considerando �̇�𝑒 =0, é dado por: 𝑇 − 𝑇0 = −∆𝐻𝑅.𝐹𝐴0.𝑋 𝐹𝐴0.∑ 𝜃𝑖.𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 (10) 𝑋𝐵𝐸 = 𝐹𝐴0.∑ 𝜃𝑖.𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 .(𝑇−𝑇0) (−∆𝐻𝑅).𝐹𝐴0 (11) * Relação linear entre T e X. Estas duas equações (10 e 11) podem ser usadas para qualquer tipo de reator operando adiabaticamente e foi usado o subscrito BE para identificar que a conversão foi obtida pela equação do balanço de energia. Tomando como exemplo um PFR adiabático, a equação 10 pode ser acoplada juntamente com a equação do projeto [FA0.dX/dV = -rA(T,X)] para se obter o perfil de temperatura e conversão ao longo do comprimento do reator. Ou seja, substitui-se a equação 10 na expressão da velocidade específica da reação, conforme: -rA = k.f(CA) = A.exp(-Ea/R.T).f(CA), e se tratando de reação em fase gasosa, CA também é função da temperatura {CA = [CA0(1-X)/(1+.X)]*(T0/T)}. * Ver Tabelas 8.2a e 8.2b que trazem o algoritmo para PFR/PBR adiabático. A técnica numérica é utilizada para fornecer certo conhecimento a cerca do procedimento de solução e quando não se tem disponível nenhum acesso aos métodos computacionais (programa para resolver equações diferenciais ordinárias). Havendo a possibilidade de se resolver computacionalmente, esta é a melhor opção. 8.3 – REATOR BATELADA Para um reator batelada, não fá fluxo de entrada e saída, mas a temperatura e a conversão variam com o tempo de reação. 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ = 𝑑𝐸𝑠𝑖𝑠𝑡 𝑑𝑡 = 𝑑𝑈𝑠𝑖𝑠𝑡 𝑑𝑡 = 𝑑𝐻𝑠𝑖𝑠𝑡 𝑑𝑡 = 𝑑(∑ 𝑁𝑖.�̅�𝑖 𝑛 𝑖=1 ) 𝑑𝑡 = 𝑑(∑ 𝑁𝑖.𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 ) 𝑑𝑡 em que: E = U + Ec + Ep e H = U + PV (desprezando-se a energia cinética, energia potencial e o trabalho de compressão/ expansão) e considerando que, para uma solução ideal, a entalpia molar parcial da espécie i (�̅�𝑖) é igual a entalpia da espécie i pura (𝐻𝑖). Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 5 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ = 𝑑 𝑑𝑡 (∑ 𝑁𝑖 . 𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 ) = ∑ 𝑁𝑖 𝑛 𝑖=1 . 𝑑𝐻𝑖 𝑑𝑡 + ∑ 𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 . 𝑑𝑁𝑖 𝑑𝑡 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ = ∑ 𝑁𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 . 𝑑𝑇 𝑑𝑡 − ∑ 𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 . ∑ 𝜈𝑖 𝑛 𝑖=1. 𝑁𝐴0. 𝑑𝑋 𝑑𝑡 já que 𝑁𝑖 = 𝑁𝐴0. 𝜃𝑖 +𝑁𝐴0. 𝜈𝑖 . 𝑋 Considerando que Cpi é constante dentro da faixa de temperatura em questão: 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ = (∑ 𝑁𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 ). 𝑑𝑇 𝑑𝑡 + ∆𝐻𝑅 . 𝑁𝐴0. 𝑑𝑋 𝑑𝑡 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ − ∆𝐻𝑅 . 𝑁𝐴0. 𝑑𝑋 𝑑𝑡 = (∑ 𝑁𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 ). 𝑑𝑇 𝑑𝑡 (12) ∫ 𝑄�̇� . 𝑑𝑡 𝑡 0 − ∫ 𝑊𝑒̇ . 𝑑𝑡 𝑡 0 − ∫ ∆𝐻𝑅 . 𝑁𝐴0 𝑋 0 . 𝑑𝑋 = ∫ (∑ 𝑁𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 ). 𝑑𝑇 𝑇 𝑇0 (13) Como: 𝑟𝐴 = 1 𝑉 . 𝑑𝑁𝐴 𝑑𝑡 = − 𝑁𝐴0 𝑉 . 𝑑𝑋 𝑑𝑡 da equação 12, tem-se: 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ + ∆𝐻𝑅 . 𝑟𝐴. 𝑉 = (∑ 𝑁𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 ). 𝑑𝑇 𝑑𝑡 (13) 8.4 – REATOR TUBULAR COM TRANSFERÊNCIA DE CALOR Todo o desenvolvimento encontra-se no item 8.4 do livro do Fogler. Fazendo o balanço de energia em um elemento de volume (V) de um reator PFR com transferência de calor e considerando que não há trabalho de eixo, tem-se: �̇�𝑒 + ∑ 𝐹𝑖 . 𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 |𝑉 − ∑ 𝐹𝑖 . 𝐻𝑖 𝑛 𝑖=1 |𝑉+∆𝑉 = 0 Como a partir da equação de projeto do PFR: 𝑑𝐹𝑖 𝑑𝑉 = 𝑟𝑖 = 𝜈𝑖 . (−𝑟𝐴) e das relações termodinâmicas: 𝑑𝐻𝑖 𝑑𝑉 = 𝐶𝑝𝑖 . 𝑑𝑇 𝑑𝑉 . Então: 𝑑𝑇 𝑑𝑉 = Δ𝐻𝑅.𝑟𝐴−�̇�𝑒 ∑ 𝐹𝑖.𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 = Δ𝐻𝑅.𝑟𝐴−𝑈.𝑎.(𝑇−𝑇𝑎) ∑ 𝐹𝑖.𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 (15) A equação 15 pode ser aplicada também para reações múltiplas e reatores em série. Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 6 𝑑𝑇 𝑑𝑉 = Δ𝐻𝑅.𝑟𝐴−𝑈.𝑎.(𝑇−𝑇𝑎) 𝐹𝐴0.(∑ 𝜃𝑖.𝐶𝑝𝑖 𝑛 𝑖=1 +Δ𝐶𝑝.𝑋) (16) * O primeiro termo do numerador corresponde ao calor gerado, enquanto que o segundo, ao calor removido. A equação do balanço de energia (eq. 15 ou 16) apresenta duas incógnitas (T e X) e deve ser acoplada à equação de projeto do PFR e as duas equações diferenciais devem ser resolvidas simultaneamente (integração numérica das duas equações diferenciais acopladas). Se a temperatura do fluido refrigerante variar ao longo do reator, deve-se adicionar o balanço de energia para o fluido refrigerante: 𝑑𝑇𝑎 𝑑𝑉 = 𝑈.𝑎.(𝑇−𝑇𝑎) �̇�𝐶.𝐶𝑝𝐶 (17) * Ver este balanço no item 8.4.2, juntamente com a Tabela 8.3. 8.5 – CSTR COM EFEITOS TÉRMICOS Todo o desenvolvimento encontra-se no item 8.6 do livro do Fogler. Para o CSTR com efeitos térmicos, pode-se utilizar a equação geral do balanço de energia (eq. 5): 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ − 𝐹𝐴0. ∑ 𝜃𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 . (𝑇 − 𝑇0) 𝑛 𝑖=1 − ∆𝐻𝑅 . 𝐹𝐴0. 𝑋 = 0 (5) Ou acoplar a equação de projeto do CSTR (FA0.X = -rA.V): 𝑄�̇� −𝑊𝑒̇ − 𝐹𝐴0. ∑ 𝜃𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 . (𝑇 − 𝑇0) 𝑛 𝑖=1 − ∆𝐻𝑅 . (−𝑟𝐴. 𝑉) = 0 (18) Considerando que �̇�𝑒 = 0 e que �̇�𝑒 = 𝑈. 𝐴. (𝑇𝑎 − 𝑇) “calor fornecido ao reator”: 𝑋𝐵𝐸 = 𝑈.𝐴.(𝑇𝑎−𝑇)−𝐹𝐴0.∑ 𝜃𝑖.𝐶𝑝𝑖.(𝑇−𝑇0) 𝑛 𝑖=1 ∆𝐻𝑅.𝐹𝐴0 (19) Agora se o fluido do trocador de calor do CSTR com vazão mássica (�̇�𝐶) entrar numa temperatura Ta1 e sair numa temperatura Ta2, a taxa de transferência de calor do trocador para o reatores é: �̇�𝑒 = 𝑚𝐶̇ . 𝐶𝑝𝐶 . (𝑇𝑎1 − 𝑇𝑎2) = 𝑈.𝐴.(𝑇𝑎1−𝑇𝑎2) 𝑙𝑛[(𝑇−𝑇𝑎1) (𝑇−𝑇𝑎2)⁄ ] Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 7 Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 8 No quadro a seguir são apresentadas as equações do balanço de energia para vários reatores, tanto em termos de conversão quanto em termos de vazão molar. Análise e Cálculo de Reatores Prof. Dra. Veronice Slusarski Santana 9 8.6 – REATORES EM SÉRIE As equações desenvolvidas até o momento considera a conversão, na entrada do reator, igual a zero. Estas equações podem ser aplicadas a um único reator, para o 1o reator de uma série de reatores, para a 1a porção de um PFR ou para o 1o segmento do tempo de um reator batelada. Para as demais situações: 𝑄𝑒𝑃 ̇ − 𝑊𝑒̇ − 𝐹𝐴0. ∑ 𝜃𝑖 . 𝐶𝑝𝑖 . (𝑇𝑠𝑎𝑖 − 𝑇𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎) 𝑛 𝑖=1 − ∆𝐻𝑅 . 𝐹𝐴0. (𝑋𝑠𝑎𝑖 − 𝑋𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎) = 0 (20) Sendo: 𝑄𝑒𝑃 ̇ o calor parcial trocado na seção de estudo entre Xentra e Xsai.
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