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Gabriella Puiati Pelluso – MED105 Página 1 Neuroanatomia Menínges e Líquor – CAP 9 O sistema nervoso central é envolvido por membranas conjuntivas, as meninges. 1. Dura-Máter É a meninge mais superficial, espessa e resistente. Formado por tecido conjuntivo rico em fibras colágenas contendo vasos e nervos. É altamente vascularizada e no encéfalo, a principal artéria que a irriga é a artéria meníngea média, ramo da artéria maxilar. A dura-máter do encéfalo difere da espinhal por ser formada por dois folhetos, externo e interno, dos quais apenas o interno continua com a dura-máter espinhal. O folheto externo adere intimamente aos ossos do crânio e comporta-se como periósteo destes ossos, entretanto, o folheto não possui capacidade osteogênica, o que dificulta a consolidação de fraturas. Em virtude da aderência da dura-máter aos ossos do crânio, não existe no encéfalo um espaço epidural como na medula. Pregas da Dura-máter do Encéfalo Em algumas áreas, o folheto interno da dura-máter destaca-se do externo para formar pregas que dividem a cavidade craniana em compartimentos que se comunicam. a. Foice do cérebro: esta prega ocupa a fissura longitudinal do cérebro separando os dois hemisférios cerebrais. b. Foice do cerebelo: situa-se entre dois hemisférios cerebelares. c. Tenda do cerebelo: Separa a fossa posterior da fossa média do crânio, dividindo a cavidade craniana em um compartimento superior (supratentorial) e outro inferior (infratentorial). Leptomeninge Paquimeninge Aracnóide Pia-máter Dura-máter Vantagem: a formação de um calo ósseo na superfície interna dos ossos do crânio pode constituir grave fator de irritação do tecido nervoso. Incisura da tenda: ajusta-se ao mesencéfalo e pode em certas circunstâncias lesar o mesencéfalo e os nervos troclear e oculomotor. Gabriella Puiati Pelluso – MED105 Página 2 Cavidades da dura-máter Em determinadas áreas os dois folhetos que compõem a dura-máter se separam, delimitando cavidades. a. Cavo Trigeminal: contém o gânglio trigeminal b. Seios da dura-máter: são cavidades revestidas de endotélio e contêm sangue, e se dispõem ao longo da inserção das pregas da dura-máter. Alguns apresentam expansões laterais irregulares, as lacunas sanguíneas. O sangue proveniente das veias do encéfalo e do bulbo ocular é drenado para os seios da dura-máter e destes para as veias jugulares internas. Os seios se comunicam com as veias da superfície externa através das veias emissárias. Seios da abobada: Seio sagital superior: Termina na confluência dos seios, que é formado pelos seios sagital superior, reto e occipital. Seio sagital inferior: Termina no seio reto. Seio reto: Recebe o seio sagital inferior e a veia cerebral magna, terminando na confluência dos seios. Seio transverso: Não participa da confluência dos seios Seio sigmoide: continuação do seio transverso até o forame jugular onde continua diretamente com a veia jugular interna. Drena quase a totalidade do sangue venoso da cavidade craniana. Seio occipital Seios da Base: Seio Cavernoso: Grande e irregular, situado de cada lado do corpo esfenóide e da sela túrcica. Recebe sangue proveniente das veias oftálmicas superior e central da retina, além de algumas veias do cérebro. Drena através dos seios petroso superior e inferior, além de comunicar-se com o seio cavernoso do lado oposto através do seio intracavernoso. É atravessado pela artéria carótida interna, pelo nervo abducente, troclear, oculomotor e pelo ramo oftálmico do trigêmeo. Aneurismas da carótida interna ao nível deste seio comprime o nervo abducente, podendo também comprimir os demais que o atravessam, resultando em distúrbios dos movimentos do bulbo ocular. Perfuração da carótida interna dentro do seio cavernoso (curto-circuito artério-venoso) que provoca a dilatação e aumento da pressão nesse seio, fazendo com que a circulação nas veias que nele desembocam se inverta. Resulta em protrusão do bulbo ocular (exoftálmico pulsátil). Triângulo perigoso da face: Infecções superficiais da face (como espinhas do nariz) podem se propagar ao seio cavernoso, tornando-se intracranianas, em virtude das comunicações que existem entre as veias oftálmicas (tributárias do seio cavernoso) e a veia angular, que drena a região nasal. Gabriella Puiati Pelluso – MED105 Página 3 Seios intracavernosos: unem os dois seios cavernosos. Seio esfenoparietal Seio petroso inferior: Termina-se lançando na veia jugular interna. Seio petroso superior: Drena o sangue do seio cavernoso para o seio sigmoide. Plexo basilar: Ímpar. Comunica-se com os seios petroso inferior e cavernoso, liga-se ao plexo do forame occipital e através deste ao plexo venoso vertebral interno. 2. Aracnóide Membrana muito delicada, justaposta à dura-máter, da qual se separa pelo espaço subdural que contém pequena quantidade de líquido (lubrificação). A aracnoide se separa da pia-máter pelo espaço subaracnóideo, que contém o LCR (líquor) e une a esta através das trabéculas aracnoides. Cisternas Subaracnóides A aracnoide se justapõe à dura-máter e ambas acompanham grosseiramente a superfície do encéfalo. Já a pia-máter adere-se intimamente a esta superfície que a acompanha em todos os sulcos, giros e depressões. Desse modo a profundidade do espaço subaracnóide é variável. As cisternas subaracnóides são áreas de dilatação desse espaço que contém grande quantidade de líquor. a. Cisterna cerebelo-medular: liga-se ao IV ventrículo através de sua abertura mediana. É a maior e mais importante, sendo as vezes utilizada para a obtenção de líquor através das punções subocciptais. Cisterna Magna b. Cisterna pontina c. Cisterna interpeduncular d. Cisterna quiasmática e. Cisterna superior f. Cisterna da fossa lateral do cérebro Granulações Aracnóideas Em alguns pontos (principalmente no seio sagital superior) a aracnoide forma pequenos tufos que penetram no interior dos seios da dura-máter. Essas granulações araquinóideas levam pequenos prolongamentos do espaço subaracnóideo, nos quais o líquor está separado do sangue apenas pelo endotélio do seio e uma camada delgada da aracnoide. São estruturas adaptadas à absorção do líquor, que, neste ponto, cai no sangue. 3. Pia-máter É a mais interna das meninges, aderindo intimamente à superfície do encéfalo e da medula, cujos relevos e depressões acompanha. Ela dá resistência aos órgãos nervosos. Sua porção mais profunda recebe numerosos prolongamentos de astrócitos do tecido nervoso, constituindo a membrana pio-glial. Gabriella Puiati Pelluso – MED105 Página 4 A pia-máter acompanha os vasos que penetram no tecido nervoso a partir do espaço subaracnóideo formando a parte externa dos espaços perivasculares. 4. Líquor É um fluido aquoso e incolor que ocupa o espaço subaracnóideo e as cavidades ventriculares. A função primordial do líquor é de proteção mecânica do SNC. Qualquer pressão ou choque que se exerça em um ponto dele irá se distribuir igualmente a todos os pontos e por envolver todo o SNC, este fica totalmente submerso em líquido o que o torna muito mais leve e reduz o risco de traumatismos do encéfalo resultante de contato com os ossos do crânio. Características citológicas e físico-químicas do líquor Algumas propriedades físico-químicas do líquor variam conforme o local de obtenção da amostra. O líquor normal do adulto é límpido e incolor e a quantidade de proteínas é muito menor do que a existente no plasma. Formação, absorção e circulação do líquor O líquor é formado pelos plexoscorióides e ativamente secretados pelo epitélio ependimário, principalmente por esses plexos. Estes existem nos ventrículos laterais (corno inferior e parte central, os ventrículos laterais são os que mais contribuem para a formação de líquor) e no tecto do III e IV ventrículo. Através das aberturas medianas e laterais do IV ventrículo, o líquor formado ganha o espaço subaracnóideo, sendo reabsorvido no sangue principalmente através das granulações araquinóideas. Como estas predominam no seio sagital superior, a circulação do líquor no espaço subaracnóideo se faz de baixo pra cima. Na medula, ele desce em direção caudal e apenas uma parte volta, pois há granulações aracnóideas nos prolongamentos de dura-máter que acompanham as raízes dos nervos espinhais. Sua circulação é extremamente lenta. Fatores que determinam sua circulação: A produção do líquor ser em uma extremidade e a sua absorção em outra; Pulsação das artérias intracranianas, que a cada sístole aumenta a pressão liquórica, contribuindo para empurrar o líquor através das granulações aracnóideas. 5. Considerações anatomoclínicas sobre o líquor e as meninges Hidrocefalias: Interferem na produção, circulação e absorção do líquor. Caracterizam- se por aumento da quantidade e da pressão do líquor, levando a uma dilatação dos ventrículos e compressão do tecido nervoso. Quando ocorre durante a vida fetal, leva a uma dilatação da cabeça do feto, uma vez que os ossos do crânio ainda não estão soldados. Contém líquor e forma um manto protetor em torno dos vasos, muito importante para amortecer o efeito da pulsação das artérias sobre o tecido circunvizinho. Acompanham os vasos mais calibrosos. As pequenas arteríolas são envolvidas até o nível capital por pés- vasculares dos astrócitos. Gabriella Puiati Pelluso – MED105 Página 5 a. Hidrocefalias comunicantes: Aumento na produção ou deficiência na absorção do líquor, devido a processos patológicos dos plexos coroides ou dos seios da dura-máter e granulações aracnóideas. b. Hidrocefalias não-comunicantes: Resultam de obstruções no trajeto do líquor, que pode ocorrer no: i. Forame interventricular: provoca dilatação do ventrículo lateral; ii. Arqueduto cerebral: provoca dilatação do III ventrículo e do lateral; iii. Aberturas medianas e laterais do IV ventrículo: Provoca dilatação de todo o sistema ventricular; iv. Incisura da tenda: impede a passagem do líquor do compartimento infratentorial para o supratentorial, dilatando todo o sistema ventricular; Hipertensão Craniana: Um dos aspectos mais importantes da cavidade crânio-vertebral é o fato de ser uma cavidade completamente fechada, que não permite a expansão de seu conteúdo. Assim, o aumento de volume de qualquer componente da cavidade craniana reflete-se sobre os demais, levando a um aumento da pressão intracraniana. Tumores, hematomais e outros processos expansivos intracranianos comprimem não só as estruturas em sua vizinhança imediata, mas todas as estruturas da cavidade crânio- vertebral. Pode ocorrer também a formação de hérnias de tecido nervoso. Havendo suspeita de hipertensão craniana, deve-se fazer um exame de fundo de olho. O nervo óptico é envolvido por um prolongamento do espaço subaracnóideo, levando à compressão do nervo óptico. Isso causa obliteração da veia central da retina, que passa em seu interior. Hérnias Intracranianas: As pregas da dura-máter dividem a cavidade craniana em compartimentos separados por septos mais ou menos rígidos. Processos expansivos como tumores ou hematomas que se desenvolvem em um deles aumentam a pressão dentro do compartimento podendo causar a protrusão do tecido nervoso do compartimento vizinho. Formam-se então, as hérnias intracranianas. a. Hérnias do Úncus: O aumento de pressão no compartimento supratentorial empurra o úncus, que faz protrusão através da incisura da tenda, comprimindo o mesencéfalo. Nesses casos há uma rápida perda da consciência ou coma profundo, por lesão da formação reticular (que é responsável pela ativação do córtex cerebral). b. Hérnias de Tonsilas: Um processo expansivo na fossa posterior pode empurras as tonsilas do cerebelo através do forame magno causando uma hérnia de tonsila. Nesse caso há compressão do bulbo, levando geralmente à morte por compressão do centro respiratório e vasomotor. O quadro pode ocorrer quando se faz uma punção lombar em pacientes com hipertensão craniana. Nesse caso há uma súbita diminuição de pressão liquórica, causando a penetração das tonsilas através do forame magno. Gabriella Puiati Pelluso – MED105 Página 6 Hematomas extradurais: As rupturas de vasos resultam em acúmulo de sangue nas meninges sob a forma de hematomas. Assim lesões das artérias meníngeas, principalmente da artéria meníngea média, resulta em acúmulo de sangue entre a dura-máter e os ossos do crânio, formando um hematoma extradural. O hematoma cresce, separando a dura-máter do osso e empurra o tecido nervoso par o lado oposto, levando a morte em poucas horas, se o sangue em seu interior não for drenado. Hematomas subdurais: O sangramento se da no espaço subdural, geralmente em consequência da ruptura de uma veia cerebral no ponto em que ela entra no seio sagital superior. OBS: Hemorragias no espaço subaracnóideo não formam hematomas, uma vez que o sangue se espalha no líquor, podendo ser visualizado por punção lombar.
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