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Online 2 Patrimônio Latino Americano

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Online 2 Patrimônio Latino Americano
Introdução
Nesta aula, veremos o contexto histórico da América Latina para entendermos a relação entre a realidade socioeconômica latino-americana com as práticas de identificação e preservação do patrimônio histórico do continente.
Ampliando o sentido de patrimônio
Na aula anterior, vimos a definição de patrimônio e entendemos que o principal órgão internacional para identificação e preservação patrimonial é a UNESCOP. Patrimônio Histórico- Tudo que é considerado de real importância para uma sociedade.
Além dos patrimônios nacionais, que são importantes especificamente para a compreensão e preservação da memória de um povo ou civilização específica, existem os patrimônios mundiais.
No caso de patrimônios mundiais, o sentido de patrimônio transcende a geografia porque este bem não é importante somente para a sociedade que o abriga, mas para a história da sociedade humana como um todo.
Ampliando o sentido de patrimônio
Então, qual seria a solução para permitir o desenvolvimento e preservar o templo?
Com relação aos patrimônios naturais, bens traçam a evolução das sociedades e civilizações, cuja preservação é de interesse comum. São exemplos os pré-históricos, como cavernas e pinturas rupestres ou grandes monumentos, como os moais da ilha da Páscoa, no Chile.
O objetivo principal da UNESCO, que existe desde a década  de 1940, sempre foi a preservação patrimonial. Entretanto, a ideia de patrimônio da humanidade surgiu depois dos anos 40, e teve um fato concreto que motivou sua criação.
Em 1959, o governo do Egito tinha como projeto a construção da represa de Assuã, no rio Nilo. Construir esta represa significava inundar uma enorme parte do vale sagrado, que continha tesouros arqueológicos inestimáveis.
Criou-se um impasse, pois a construção da represa era importante para a economia egípcia, mas a preservação destes bens era importante para a memória da humanidade.  
Em maio de 1960 ocorreu um  grande terremoto  no Chile, (9.5 na escala Richter), que provocou um enorme tsunami, danificando os moais  que estavam caídos pela ilha da Páscoa. O governador da ilha então, anunciou num programa de tv japonês, que precisava de um guindaste para restaurar os moais. Uma empresa japonesa, então, não só doou um guindaste como disponibilizou todo apoio técnico necessário à realização do projeto tendo ainda, ressalta-se, o governo japonês, arcado com o custo do referido projeto, despendendo o equivalente a US$ 2 milhões de dólares).
Entre o  interesse econômico, particular do país, em construir a represa  e o interesse  coletivo, mundial, de preservação da história da humanidade temos que ter em mente, que uma questão não pode superar a outra.
A função da preservação patrimonial não é impedir o desenvolvimento nacional. Este desenvolvimento deve ser realizado considerando o dano que será causado aos patrimônios arquitetônicos e naturais.
Isso quer dizer que o prejuízo patrimonial deve ser um fator determinante para a elaboração de um projeto urbano ou arquitetônico, como a abertura de um metrô, a construção de pontes, a derrubada de prédios etc.
O caso da represa de Assua é emblemático. O governo egípcio entendia a importância histórica do vale, mas não poderia abrir mão da construção da represa. Para termos ideia, uma das obras arquitetônicas que ficaria sob as aguas é o templo de Abu Simbel. 
Considerado pelos arqueólogos um dos mais belos templos da antiguidade, a perda de Abu Simbel para a inundação da represa seria desastrosa.
No século XVIII a. c. o faraó Ramsés II, um dos mais famosos da História do Egito, mandou construir um enorme templo dedicado a sua esposa, Nefertari. Durante vinte anos, arquitetos e operários construíram dois templos, esculpidos na rocha, dedicados aos deuses egípcios e ao faraó e sua esposa.
Você deve estar se perguntando qual foi a solução tomada para permitir que a construção da represa acontecesse e conciliasse com a preservação do templo de Abu simbel...
Com o apoio e o financiamento de 50 países, o templo inteiro foi desmontado e reconstruído, pedra por pedra, em um lugar mais alto, para que não fosse atingido pelas águas de Assuan. 
Essa iniciativa conjunta, que arrecadou milhares de dólares, demonstrou a importância da preservação patrimonial e a consolidação da ideia de patrimônio da humanidade. Tds se unem em defesa e preservação de um patrimônio histórico mundial, pois o mesmo é de interesse de toda a humanidade.
Ainda hoje, a UNESCO busca recuperar outros tesouros, como esculturas, que não puderam ser salvos na década de 1960 e acabaram sendo inundados pela represa. 
Devido à importância dessas iniciativas, o governo do Egito se envolveu diretamente na ação preservacionista. 
Exemplo brasileiro
No Brasil, na década de 1970, a construção de um açude na Bahia inundou a região que havia sido ocupada por Canudos, cuja guerra, ocorrida na República Velha, é parte importante da história e tema de uma das principais obras de nossa literatura: o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Assista vídeo sobre a guerra de Canudos
http://www.youtube.com/watch?v=awKR-jn4R3A
“Grande era a Canudos de meu tempo; quem tinha roça tratava da roça, na beira do rio; quem tinha gado, tratava do gado; quem tinha mulher e filhos, tratava da mulher e dos filhos; quem gostava de rezar ia rezar; de tudo se tratava porque a ninguém pertencia e era de todos, pequenos e grandes, na regra ensinada pelo peregrino”.
Euclides da Cunha
A inundação de Canudos ocorreu sem que o poder público se dispusesse a pensar alternativas como a que fora utilizada no Egito e, dessa forma, parte de nossa historia se perdeu. 
Somente na década de 1990, com a seca de parte do açude, algumas ruínas que pertenciam ao arraial de Canudos despontaram e puderam ser estudadas.
Neste caso, podemos ver uma enorme diferença em relação ao pensamento de preservação patrimonial. Vamos refletir sobre isso.
As ruínas da antiga igreja de Canudos ressurgem após o recuo das águas do açude Cocorobó.
O que é exatamente preservação patrimonial?
Em um primeiro momento, quando pensamos em patrimônio, nossa ideia inicial nos remete a algo de importância histórica evidente. 
Mas, como estudamos, não são só os patrimônios históricos que são relevantes, mas também os patrimônios naturais e imateriais. 
Não há nenhuma discordância quanto a importância da preservação de bens culturais em locais que abrigaram as grandes civilizações da antiguidade, como Egito, Iraque, Irã, Roma e Grécia, não é mesmo? Mas e quanto a lugares cujas civilizações foram vistas durante séculos como bárbaras ou selvagens?
Esse problema atinge diversos países, especialmente os que foram colônias em algum momento, como os países africanos e latinos.
Patrimônio versus colonização
Por muito tempo, o paradigma de civilização era europeu, em uma perspectiva etnocêntrica. 
Quando os europeus chegaram ao continente americano, obviamente, não viram que estas civilizações “encontradas” por eles eram donas de sua própria rica e única cultura, viram-nas como bárbaras, que deveriam ser civilizadas e cristianizadas.
Devemos compreender que esta era a dinâmica da colonização. Mas essa dinâmica criou um paradoxo.
Por um lado eliminou grande parte da cultura indígena local e por outra criou uma nova cultura, latina, com a mistura de diversos elementos, indígenas, europeus e africanos.
Pois, quando os negros africanos foram trazidos para as colônias para servir como mão de obra trouxeram consigo uma parte de sua cultura, fazendo da mestiçagem e da cultura latinas uma das mais diversas do planeta.
Questão identitária
A intensa miscigenação, cerne da identidade cultural do continente, gerou os mais diferentes modelos de identidades nacionais. 
Apesar disso, não podemos atribuir somente ao passado colonial a dificuldade em estabelecer uma identidade nacional nestes países. As treze colônias britânicas que deram origem aos Estados Unidos possuem uma forte identidadenacional, mesmo tendo sido colônias.
Tampouco podemos dizer que a origem do colonizador é a grande diferença, pois os Estados Unidos foram colonizados pela Inglaterra, mas a Guiana e Belize também. Entretanto, suas identidades nacionais são profundamente diferentes. 
A França colonizou o Canadá e o Haiti, e não poderiam existir, atualmente, dois países mais distintos em todos os aspectos. 
Assim, podemos concluir que a colonização é um aspecto dentre vários, que fazem parte da construção de uma identidade e, por conseguinte, de uma memória nacional.
Talvez o maior problema para a preservação dos patrimônios africanos e indígenas na América esteja ligado à maneira como as elites brancas, que se consolidaram no poder a partir da independência destas colônias, no século XIX, encaravam suas representações culturais e identitárias. Pois, foi a cultura branca e europeia que passou a ser valorizada e as heranças dos demais povos, assim, foram suprimidas ou apagadas. 
Teorias do racismo científico
Em muito contribuiu para esta forma de pensar as teorias do racismo científico, aplicadas, especialmente, na criminologia e no direito.
No século XIX, o médico italiano Cesare Lombroso se dedicou a estudar a delinquência, baseada em critérios raciais. Segundo suas teorias, fundamentadas em estudos biológicos, os negros e pardos, por sua constituição biológica, eram mais propensos à violência e ao crime. Tese que explicaria a miséria e a criminalidade — problemas constantes na América Latina.
Porém, a teoria de superioridade racial defendida por Lombroso não era uma novidade. A escravidão africana foi defendida durante séculos partindo do pressuposto da inferioridade da etnia negra.
No século XIX, o imperialismo europeu dominou os continentes africanos e asiáticos se valendo dos princípios da superioridade branca.
As guerras étnicas são ainda um mal que aflige todo o mundo, como os conflitos em países africanos ou no Leste Europeu.
Estas teorias raciais do século XIX ― embora, hoje, à luz da Ciência nos pareçam absurdas — serviram para conformar todo o pensamento de uma época e nos ajudam a compreender o descaso com que o patrimônio latino foi tratado pelas elites dominantes. 
Porém, como vimos nos exemplos anteriores, este não é um problema que atinge somente a América Latina.
A recuperação do patrimônio entra em jogo
Em meados do século XX em diante, há um esforço para que este patrimônio seja recuperado. A partir daí, não só as culturas indígenas e africanas tem sido revalorizadas, mas também a contribuição dos diversos povos que migraram para a América após o século XIX. 
Pela estrutura econômica montada durante a colonização pelos ibéricos, as colônias latinas, submetidas ao pacto colonial, desempenhavam o papel de economia complementar à economia metropolitana. 
Isso quer dizer que a economia que se desenvolvia nestas regiões deveria servir aos interesses das metrópoles, aos quais estavam indissociavelmente ligadas. Assim, a agricultura foi, durante séculos, o esteio econômico da colônia.
A plantation, baseada no latifúndio e na monocultura, ligada à agroexportação, se manteve como característica da América latina, mesmo depois da independência. Esta estrutura gerou questões importantes com relação à posse de terra, que se mantém até os dias atuais.
A propriedade era privilégio de poucos indivíduos, próximos às cortes e, portanto, figuras importantes que constituíam uma elite. Dessa forma, o indivíduo ao qual era concedida a terra passava a pertencer a essa elite.
Na América portuguesa a terra era distribuída a fidalgos, nobres ou homens próximos da corte. Na América Espanhola, havia a possibilidade desta terra ser concedida aos primeiros colonizadores que se tornavam governadores da região que desbravavam. 
A pequena propriedade era praticamente inexistente, pois era necessário produzir grandes quantidades de gêneros agrícolas para exportação. Assim, os latifúndios se dedicavam a um único gênero, como o café ou o açúcar.  
Quando acontece a independência, essa estrutura não muda. Por quê? Porque os criollos, descendentes de espanhóis que fizeram a independência, eram justamente os donos destas terras e não tinham nenhum interesse em alterar esta estrutura.
Reformas urbanas
Entre os anos 1930 e 1950, com as crises do mercado exterior,  o continente passou a sofrer uma industrialização sistemática. Quando isso ocorreu, o foco imediato foram as reformas urbanas, que ocorreram em diversos centros e em especial, nas capitais.  
Especialmente a crise de 1929, que arrasou as economias latinas, já que diminuiu drasticamente o número de compradores estrangeiros.
Estas reformas desconsideraram o patrimônio local e demoliram inúmeras obras arquitetônicas, como casarios, importantes para a preservação da memória nacional. 
Isso também se deu porque não havia um entendimento de que estes casarios, imóveis e bens constituíam de fato um patrimônio.
A ideia de patrimônio atualmente
A própria ideia de patrimônio mudou muito nos últimos cem anos. 
Eles deixaram de ser somente históricos e, portanto, restritos a monumentos ou palácios, para se tornarem culturais, ou seja, foram generalizados. O que contribuiu e muito para a adoção de novas leis e práticas preservacionistas.
Cartas patrimoniais
A principal contribuição para a identificação e preservação dos bens latino-americanos foram as cartas patrimoniais, produzidas em diversos lugares do mundo e que compõem as legislações adotadas pela UNESCO.
NORMAS DE QUITO- Nas normas de Quito, é reconhecido o problema criado com as reformas urbanas e o prejuízo que estas causaram aos bens patrimoniais dos diversos estados em que ocorreram. 
Neste documento, é estimulada a participação e atribuída uma enorme parcela de responsabilidade ao Estado, que deve zelar pelo patrimônio nacional. 
“Grande número de cidades ibero-americanas que entesouravam, num passado ainda próximo, um rico patrimônio monumental, evidência de sua grandeza passada ― templos, praças, fontes e vielas, que em conjunto, acentuavam sua personalidade e atração — tem sofrido tais mutilações e degradações no seu perfil arquitetônico que se tornam irreconhecíveis Tudo isso em nome de um mal entendido e pior administrado progresso urbano. 
Não é exagerado afirmar que o potencial de riqueza destruída com esses atos irresponsáveis de vandalismo urbanístico em numerosas cidades do continente excede em muito os benefícios advindos para a economia nacional através das instalações e melhorias de infraestrutura com que se pretende justificar.”
DECLARAÇÂO DE AMSTERDÃ- 
Em Amsterdã, percebemos, na prática, a ampliação do que é considerado patrimônio. A partir deste documento passou a abranger bairros ou cidades inteiras.
“A reabilitação dos bairros antigos deve ser concebida e realizada, tanto quanto possível, sem modificações importantes da composição social dos habitantes e de uma maneira tal que todas as camadas da sociedade se beneficiem de uma operação financiada por fundos públicos”.
O turismo
Estas disposições e outras contidas nas diversas cartas patrimoniais auxiliaram na compreensão e no tombamento dos patrimônios nacionais latinos. 
 Além disso, o estudo destes patrimônios e sua preservação trouxeram uma nova fonte de renda para estes países: o turismo.
Com a globalização e o acesso à informação pelos mais diversos meios, como a internet, o turismo tende, também, a se globalizar. 
 Embora alguns destinos permaneçam como os mais visitados do mundo há décadas, como as cidades europeias de Paris e Roma, o investimento no patrimônio histórico é uma importante porta de entrada de divisas através do turismo.
O que vivenciamos é uma diversidade de interesses. Com a competitividade de setores importantes na área turística ― como o setor de passagens aéreas — os patrimônios latinos constituem fonte de investimento dos estados.
Convenção do Patrimônio Mundial
Em 2006, foi realizada a Convenção do Patrimônio Mundial, no qual 183 paísesassinaram o documento. 
 Estes países podem solicitar a UNESCO o tombamento de determinado patrimônio que será então avaliado e dado inicio ao processo de tombamento.
Tombamentos da década de 1980 - Parque Nacional Los Glaciares
Na esteira da ampliação do entendimento de patrimônio podemos citar o tombamento, em 1981, do Parque Nacional Los Glaciares, na Argentina.
Com mais de 7000 km², o parque foi criado na década de 1930, mas só na década de 1980 foi considerado patrimônio da humanidade. 
Isso inclui não só a paisagem, mas também a flora e a fauna local, um exemplo que foge do lugar comum ao associarmos o patrimônio a algum monumento histórico.
Tombamentos da década de 1980 - Marques de Pombal
Embora a mão de obra indígena tenha sido largamente utilizada, em especial nas colônias espanholas, a ordem Jesuíta criou as Missões, que obrigavam índios a serem “civilizados” pela fé. 
No Brasil, estas missões existiram até a expulsão da Ordem pelo Marques de Pombal, no século XVIII.
Na fronteira com o Brasil e a Argentina, encontram-se as Missões, também tombadas nos anos 1980, que são um exemplo da vida e da relação entre indígenas e jesuítas no período colonial.  
As Missões Jesuítas se tornaram um caso de interesse particular da UNESCO e dos países nos quais elas existiram. 
Quando os ibéricos chegaram ao continente, a presença da Igreja Católica era intensa e determinou, dentre outras coisas, as relações de trabalho que se estabeleceriam no continente.  
Independente da posição que assumimos sobre o papel desempenhado pela Igreja Católica nas missões, elas são, de fato, um patrimônio histórico valioso, que nos permitem recuperar a história de uma relação conflituosa não só entre a Igreja e os indígenas, mas entre os colonos e a metrópole.
Tombamentos da década de 1980 – Potosí
Também na Bolívia, na década de 1980, foi tombada uma cidade inteira: Potosí. 
Esta cidade, um dos principais centros mineradores de prata no período colonial, possui um conjunto arquitetônico da época que se constituiu em um dos maiores do mundo. 
O fluxo de prata que saia de Potosí rumo à Espanha parecia inesgotável e deu origem a uma cidade marcada por casarões e igrejas. 
O dado importante é que muitos indígenas, instruídos pelos padres católicos, se tornaram artesãos e escultores. 
Diversas esculturas e pinturas de santos católicos possuem feições indígenas, o que causou certo escândalo para a época. As imagens que sobreviveram demonstram a concepção do catolicismo por parte dos nativos.
De modo geral, durante muito tempo, a história foi escrita pelos vencedores. No caso da América latina, a quantidade de fontes hispânicas ― cartas, documentos, leis, relatos de viagem — é muito maior do que as fontes indígenas, das quais os monumentos arquitetônicos são alguns dos mais importantes. 
 Por essa razão, esculturas feitas pelos indígenas após a colonização, e que adornam os diversos templos de Potosí, são um documento privilegiado para tentarmos entender a história indígena daquela região. 
 Tombamentos de cidades como Potosí não são muito comuns. O que pesa nesta decisão é o conjunto arquitetônico, que preserva não só o período colonial, mas as intervenções indígenas que podem ser recuperadas nestas cidades.
Tombamentos da década de 1980 - Palenque de São Basílio
Outro exemplo de uma cidade tombada , mas por motivo diverso, é Palenque de São Basílio, na Colômbia, considerada patrimônio intangível, ou seja, patrimônio imaterial de acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Intangível ( IMATERIAL, QUE NÃO SÃO OBJETOS. PODE SER DESDE UMA TÉCNICA DE PRODUÇÃO ARTESANAL- CONHECIMENTO- ATÉ FESTAS OU MANIFESTAÇÕES CULTURAIS), adotada pela UNESCO, em 2003. 
Aliás, foi essa convenção que permitiu o tombamento de Palenque no ano seguinte.  
Fundada por escravos, no século XV, esta povoação se manteve relativamente isolada. Isso permitiu que os africanos que ali se estabeleceram mantivessem boa parte de sua cultura original, representando um caso raro na América Latina.
Observe que o patrimônio de Palenque não é físico, mas cultural. Composto pela música, culinária, lendas e tradições locais que os descentes destes escravos mantiveram vivas por séculos.
Tombamentos da década de 1980 - 
Machu Picchu
 É um exemplo raro de patrimônio indígena sem interferência hispânica, o que explica sua importância e o enorme número de turistas que a visitam anualmente.  
Um dos mais famosos patrimônios latinos, Machu Picchu, no Peru, é um exemplo de cultura pré-colombiana tombada e que não recebeu a influência dos colonizadores espanhóis. 
Quando os espanhóis chegaram ao Peru, esta cidade, um santuário sagrado, era isolada e os conquistadores jamais a conheceram. Somente em 1911 a cidade foi “descoberta”. 
Estima-se que, após a colonização espanhola e a desagregação do Estado Inca, Machu Picchu tenha sofrido uma crise de abastecimento e sua população tenha morrido de fome.
A maior preocupação atualmente é com o turismo predatório. Cidades como esta, com centenas de anos, possuem monumentos frágeis, que devem ser conservados constantemente, o que demanda um investimento maciço. 
O fechamento da cidade para visitação já foi cogitado pelo Estado, mas desconsiderado, em vista do enorme prejuízo que esta medida traria ao turismo local.  
Tombamentos da década de 1980 - Chan Chan
Não é somente a ação humana que contribui para colocar os patrimônios em perigo. Em alguns casos, a própria natureza se torna um problema, como ocorre com o sítio arqueológico de Chan Chan, ao Norte do Peru. 
 Chan Chan foi uma das principais cidades da cultura chimu, anterior aos incas, mas a erosão do solo e as questões climáticas contribuíam para a deterioração das ruínas, que demandam um enorme esforço preservacional. 
Tombamentos da década de 1980 - outras regiões tombadas
Além das cidades, diversos centros históricos foram tombados, como é o caso da Cidade do México, do centro antigo de Havana, em Cuba, e de Lima, no Peru. 
Os centros históricos guardam contribuições das mais diversas etnias, de diferentes tempos históricos, como é o caso da praça das três Culturas, no México, que possui elementos pré-colombianos, coloniais e contemporâneos.
Sítios arqueológicos
O caso dos sítios arqueológicos é mais delicado. Na América latina, existem diversos sítios tombados. 
 Recentemente, no Brasil, durante as obras de remodelação do porto do Rio de Janeiro, na Praça Mauá, foram encontrados inúmeros artefatos que pertenciam aos africanos trazidos como escravos que desembarcavam neste porto para serem vendidos nos mercados. 
 Uma intensa obra de recuperação destes artefatos foi empreendida pelo Estado. Embora o sítio arqueológico da Praça Mauá ainda não esteja tombado, foi reconhecida de imediato sua importância. Por isso, os trabalhos de recuperação foram iniciados com uma rapidez surpreendente, representando um bom exemplo da mudança da mentalidade governamental sobre a preservação do patrimônio histórico local.
*Foi desenterrada, no dia 4 de maio de 2012, a pedra fundamental das Docas Dom Pedro II, lavrada em 15 de setembro de 1871 pelo engenheiro André Rebouças.
*Louça encontrada também durante escavações no porto do Rio de Janeiro em 2012.
*Artilharia, que, pelos cálculos dos arqueólogos, parece datar dos séculos XVIII e XIX, e mede entre 2 e 4 metros
A Educação patrimonial e do turista
Não podemos esquecer que a educação patrimonial e do turista é fundamental para a preservação do patrimônio histórico e cultural.  
O Estado precisa fazer a parte que lhe cabe, mas sem a conscientização da importância da preservação deste patrimônio cidades e sítios arqueológicos correm o risco de desaparecer.
  É importante concluirmos, no caso da preservação do patrimônio latino, que estes bens podem e devem ser revertidos em fonte de lucro através do turismo.

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