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1 Pedagogia Leitura e Produção Textual 1 Prof. Paulo 2 CURSO DE PEDAGOGIA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PROFESSOR ALDO MUYLAERT ISEPAM/FAETEC DISCIPLINA DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL 1 PROF. DR. PAULO CÉSAR PRAZERES MOURA CAMPOS DOS GOYTACAZES – 2018 “Entre a criança e a sociedade , existem escolas e, nas escolas, ciência e arte”. (PC Moura) 3 POESIA POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL DE MANUEL BANDEIRA João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. 4 SEQUÊNCIAS Eu era pequena. A cozinheira Lizarda tinha nos levado ao mercado, minha [irmã, eu. Passava um homem com um abacate [na mão e eu inconsciente: “Ome, me dá esse abacate...” O homem me entregou a fruta madura. Minha irmã, de pronto: “vou contar pra mãe que ocê pediu abacate na rua”. Eu voltava trocando as pernas bambas. Meus medos crescidos, enormes... A denúncia confirmada, o auto, a comprovação do delito. O impulso materno... consequência obscura da escravidão passada, o ranço dos castigos corporais. Eu, aos gritos, esperneando. O abacate esmagado, pisado, me sujando toda. Durante muitos anos minha repugnância por esta fruta trazendo a recordação permanente do castigo. Sentia, sem definir, a recreação dos que ficaram de fora, assistentes, acusadores. Nada mais aprazível no tempo, do que presenciar a criança indefesa espernear numa coça de chineladas. “É pra seu bem”, diziam, “doutra vez não pedi [fruita na rua”. (Cora Coralina. Melhores poemas. p. 158.) 5 Arte e ideologia – o projeto de dizer Ideologia é a maneira de interpretar o mundo de acordo com os interesses da classe social do interpretante. A ideologia é um fenômeno (quase) inconsciente; não nos damos conta de que nossas avaliações e perspectivas são ideológicas, pois quando temos consciência disto elas deixam de ser ideológicas. O empresário que monta uma grande fábrica, desprendendo grande soma de capital, considera-se um gerador de empregos e de riqueza. O mesmo homem pode ser considerado, dentro de outra postura ideológica, um explorador da capacidade de trabalho humana. Todas as duas interpretações são ideológicas. Outro exemplo: para uma determinada classe que está no poder é necessário que haja verdades eternas, valores eternos, pois consciente ou inconscientemente a classe deseja eternizar-se no poder. Esta postura é chamada freqüentemente de “conservadora”, ou de “direita”, e raciocina na base do pensamento: “Isso sempre foi e será assim”. Outra postura, chamada de “esquerda”, ou “revolucionária”, acredita que pode haver mudanças, que a realidade está sempre em transformação. Chama-se ideologia dominante aquela que a classe dominante consegue impor à sociedade, através dos meios de comunicação e da produção da cultura. Por causa disto, a classe operária, por exemplo, pode deixar de ter consciência de classe (da sua classe) para pensar como pensa a classe dominante, e assim servir aos interesses da dominação. Alguns cientistas sociais, como Habermas, acreditam que não se pode falar hoje de ideologia na sociedade industrial, que caracteriza o mundo moderno. O Estado tecnológico, o capitalismo moderno, tratou de resolver a antiga separação de classes, hoje dissolvidas na massa. E a prevalência do Estado (que é um poder sem dono, um poder passageiro) fez com que tendam a desaparecer os donos dos meios de produção, isto é, a chamada burguesia, que caracterizava o tipo de sociedade do século XIX. Vivemos, hoje, uma enorme sociedade de massa, controlada por um gigantesco aparelho burocrático do estado (no Terceiro Mundo o tipo de sociedade burguesa talvez ainda exista). 6 Não podemos reduzir o sentido da literatura essencialmente à sua forma ideológica, ou à crítica da ideologia dominante. Alguns teóricos defendem a tese de que a arte faz parte da superestrutura (a ideologia dominante que se manifesta na religião, na filosofia, no direito e na política da classe dominante). Arte, porém, é forma, além de ser mensagem. Assim, a arte resiste mesmo quando determinadas estruturas sociais desaparecem, mesmo quando já não importa a ideologia em que se inseria. Foi Marx o primeiro a ver como a arte grega perdurava, mesmo já tendo desaparecido aquele tipo de sociedade e de economia grega. Havia alguma coisa naquela arte, além de ideologia. E ler “Ilíada” vendo só o problema escravagista é um contra-senso. É certo que o artista está condicionado histórica e socialmente, mas sua arte não se reduz à ideologia. A obra-de-arte supera o problema social do meio onde nasceu. Do ponto de vista social, a arte é expressão da divisão da sociedade; mas do ponto de vista da estética, a arte tende para a universalidade, vendo o homem de todas as sociedades e de todas as classes como o mesmo home. Assim, um personagem de Racine transcende o absolutismo; um personagem de Balzac transcende o capitalismo burguês. As ideologias de classe passam; a arte permanece. Não se pode esquecer que a arte é um produto histórico e que o universal que ela realiza não é o universal abstrato e intemporal (o que seria uma postura idealista). A arte surge no e pelo particular para atingir o universal. Surge num determinado tipo de sociedade para atingir a universalidade. É necessário, pois, excluir os dois extremos: nem pensar que a arte é somente ideologia, nem opor arte e ideologia, negando o seu caráter ideológico. http://kajereto.blogspot.com.br/2009/06/arte-e-ideologia.html 7 ____________________________________________________________ O açúcar – Ferreira Gullar O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. Vejo-o puro e afável ao paladar como beijo de moça, água na pele, flor que se dissolve na boca. Mas este açúcar não foi feito por mim. Este açúcar veio da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia. Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco ou no Estado do Rio e tampouco o fez o dono da usina. Este açúcar era cana e veio dos canaviais extensos que não nascem por acaso no regaço do vale. Em lugares distantes, onde não há hospital nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome aos 27 anos plantaram e colheram a cana que viraria açúcar. Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema. E AGORA...? O QUE SE PODE DIZER DESSE POEMA? 8 Ideologia e arte – produção de texto ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________ 9 10 TEORIA DA COMUNICAÇÃO Identifique os elementos das situações de comunicação a seguir: Um estudante ao telefone convidando um colega de uma turma para ir ao jogo de futebol no próximo fim de semana Emissor: ______________________________________________ Receptor; _________________________________________ Mensagem; ____________________________________________ Código: ______________________________________________ Canal: ________________________________________________ Contexto: _____________________________________________ A aula ministrada pelo professor de comunicação empresarial. Emissor: ______________________________________________ Receptor; _________________________________________ Mensagem; ____________________________________________ Código: ______________________________________________ Canal: ________________________________________________ Contexto: _____________________________________________ E-mail mesclando texto e emoticons de uma jovem apaixonada ao seu namorado. Emissor: ______________________________________________ Receptor; _________________________________________ Mensagem; ____________________________________________ Código: ______________________________________________ Canal: ________________________________________________ Contexto: _____________________________________________ 11 Para que serve a linguagem? Sabemos que a linguagem é uma das formas de apreensão e de comunicação das coisas do mundo. O ser humano, ao viver em conjunto, utiliza vários códigos para representar o que pensa, o que sente, o que quer, o que faz. Sendo assim, o que conseguimos expressar e comunicar através da linguagem? Para que ela funciona? As funções da linguagem são diferentes recursos de comunicação que, conforme o objetivo do emissor, dão ênfase à mensagem transmitida, em função do contexto em que o ato comunicativo ocorre. Existem seis funções da linguagem. Estas encontram-se diretamente relacionadas com os elementos da comunicação. Funções da linguagem Elementos da comunicação Função referencial ou denotativa contexto Função emotiva ou expressiva emissor Função apelativa ou conativa receptor Função poética mensagem Função fática canal 12 Funções da linguagem Elementos da comunicação Função metalinguística código 1. Função referencial ou denotativa A função referencial, também chamada de função denotativa, tem como principal objetivo informar sobre um determinado assunto. Assim, a ênfase é dada ao contexto comunicativo. Características da função referencial ou denotativa: Transmite uma informação de forma clara, objetiva e direta; Informa sobre a realidade, tendo como base fatos e dados concretos; É impessoal, não apresentando a opinião do emissor; Utiliza uma linguagem denotativa; Utiliza a 3.ª pessoa do discurso. Onde se usa a função referencial ou denotativa: notícias de jornal; textos técnicos; artigos científicos; livros didáticos; documentos oficiais; correspondências comerciais. Exemplos da função referencial ou denotativa: As tarifas dos transportes públicos aumentarão de preço no próximo mês. Os artigos podem ser classificados em artigos definidos e artigos indefinidos. Os médicos recomendam uma alimentação saudável e a realização de exercício físico diário. 2. Função emotiva ou expressiva A função emotiva, também chamada de função expressiva, tem como principal objetivo transmitir as emoções e sentimentos do emissor. Assim, a ênfase é dada ao emissor da mensagem. Características da função emotiva ou expressiva: A mensagem transmitida é subjetiva, conforme a visão do emissor. É pessoal, sendo utilizada a 1.ª pessoa do discurso. Há a presença de interjeições que enfatizam o discurso. 13 Utiliza pontuação que acentua a sua entonação emotiva, como os pontos de exclamação e as reticências. Onde se usa a função emotiva ou expressiva: poemas; cartas pessoais; memórias; autobiografias; depoimentos; entrevistas; músicas. Exemplos da função emotiva ou expressiva: Ah, fiquei tão feliz com essa notícia! Minho nossa, sinto-me tão triste e cansado. . Estou sentindo um ódio extremo dele. 3. Função apelativa ou conativa A função apelativa, também chamada de função conativa, tem como principal objetivo influenciar e persuadir o receptor, sendo um apelo para que este faça algo. Assim, a ênfase é dada ao receptor da mensagem. Características da função apelativa ou conativa: Predomina o uso de verbos no imperativo. Utiliza a 2.ª ou 3.ª pessoa do discurso (tu e você). Há a presença de vocativos que direcionam a mensagem. Recorre a pontos de exclamação para enfatizar o discurso. Onde se usa a função apelativa ou conativa: publicidades; propagandas; discursos políticos; sermões religiosos; livros de autoajuda; horóscopo. Exemplos da função apelativa ou conativa: Aproveite as melhores ofertas! Não perca esta chance! Ligue ainda hoje! 14 Cidadão consciente, vote em mim! 4. Função poética A função poética tem como principal objetivo transmitir uma mensagem elaborada, formalmente estruturada, com as palavras cuidadosamente selecionadas para produzir um resultado estético. A ênfase dada à própria mensagem. Características da função poética: Utiliza uma linguagem elaborada e cuidada. Dá importância ao ritmo, melodia e sonoridade das palavras. Procura o que é belo e inovador. Onde se usa a função poética: poemas; obras literárias; letras de músicas; publicidade; propaganda. Exemplos da função poética: "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente." Fernando Pessoa "Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve..." Cecília Meireles 5. Função Fática A função fática tem como principal objetivo estabelecer um canal de comunicação entre o emissor e o receptor, quer para iniciar a transmissão da mensagem, quer para assegurar a sua continuação. A ênfase dada ao canal comunicativo. Características da função fática: Recorre a frases interrogativas para obter resposta do receptor. 15 Utiliza interjeições e onomatopeias para manter o discurso. Onde se usa a função fática: cumprimentos; saudações; conversas telefônicas. Exemplos da função fática: Alô! Alô? Bomdia! Não é mesmo? Sei... Hum... hum... 6. Função metalinguística A função metalinguística tem como principal objetivo usar um determinado código para explicar esse próprio código. Assim, a ênfase dada ao código comunicativo. Características da função metalinguística: Utiliza o código como tema da mensagem. Tem uma função explicativa. Onde se usa a função metalinguística: dicionários; gramáticas. Exemplos da função metalinguística: O código linguístico é um sistema de signos usados na construção de mensagens. Uma mensagem é uma comunicação oral ou escrita que visa transmitir uma informação. EXERCÍCIOS: 1. Identifique a frase em que a função da linguagem predominante é a função referencial. a) Siga o meu exemplo. Você se sentirá melhor! b) Estou muito animada com o meu novo emprego. c) Existem três acentos gráficos na língua portuguesa. d) Sim... Sei… Estou ouvindo, claro. 2. Qual a função da linguagem presente na frase: “Ligue agora! Não perca esta oportunidade!” a) Função expressiva b) Função apelativa c) Função metalinguística d) Função fática 3. Com qual elemento da comunicação está relacionada a função metalinguística da linguagem? a) Código b) Canal c) Mensagem d) Receptor 16 4. Indique quais as funções da linguagem presentes nas seguintes frases. a) Alô? Alô? b) 1995 foi um ano muito difícil para mim. c) Que ódio! Que raiva! d) Claro! Não é mesmo? 5. Assinale as opções nas quais é usada, habitualmente, a função apelativa ou conativa da linguagem? a) Discursos políticos b) Horóscopos c) Propagandas d) Dicionários 6. Selecione as opções que indicam os elementos da comunicação. a) Receptor b) Contexto c) Trasmissão d) Código e) Emissor f) Intenção g) Mensagem h) Canal 7. Em qual função da linguagem a ênfase é dada ao contexto comunicativo, tendo como principal objetivo informar o receptor da mensagem sobre um assunto específico? a) Função apelativa ou conativa b) Função metalinguística c) Função fática d) Função referencial ou denotativa 8. Assinale as duas opções que indicam caraterísticas da função emotiva ou expressiva. a) É pessoal, sendo utilizada a 1.ª pessoa do discurso. b) Predomina o uso de verbos no imperativo. c) Há a presença de interjeições que enfatizam o discurso. d) Transmite uma informação de forma clara, objetiva e direta. 9. Em qual função da linguagem a ênfase é dada ao código comunicativo, tendo como principal objetivo o uso de um código que possibilite explicar o próprio código. a) Função fática b) Função metalinguística c) Função referencial ou denotativa d) Função apelativa ou conativa 10. Qual das seguintes opções não se refere a uma característica da função poética? a) Privilegia a melodia e sonoridade das palavras. b) Utiliza uma linguagem elaborada e cuidada. c) Utiliza uma linguagem denotativa. GABARITO: 1. c) 2. b) 3. a) 4. a) Função fática b) Função emotiva ou expressiva c) Função emotiva ou expressiva d) Função fática 5. a) b) c) 6. a) b) d) e) g) h) 7. d) 8. a) c) 9. b) 10. c) 17 POEMA BRASILEIRO (Ferreira Gullar) No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade antes de completar 8 anos de idade ANALISE O POEMA ACIMA, DISCUTINDO-O SOB A ÓTICA DE SUAS FUNÇÕES DE LINGUAGEM. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 18 Linguagem, língua e fala: qual a diferença? Linguagem, língua e fala são três conceitos indissociáveis no processo comunicativo, porém individualmente diferenciáveis entre si. Linguagem A linguagem é um sistema de signos ou símbolos usados na transmissão de uma mensagem. É a capacidade de comunicação de ideias, pensamentos, opiniões, sentimentos, experiências, desejos, informações,… Existem dois tipos de linguagem: linguagem verbal, recorrendo a palavras como forma de comunicação, e linguagem não verbal, utilizando outros meios comunicativos, como gestos, sons, imagens,… Linguagem verbal: Palavras escritas; Palavras faladas. Linguagem não verbal: gestos; sinais; sons; cores; imagens; desenhos; expressões faciais. 19 Língua A língua é um conjunto de palavras organizadas por regras gramaticais específicas. É uma convenção que permite que a mensagem transmitida seja sempre compreensível para os indivíduos de um determinado grupo. Assim, tem um caráter social e cultural, sendo usada por uma comunidade específica: Ex.: língua portuguesa; língua inglesa; língua francesa; língua alemã; língua chinesa; língua tupi etc … Nota: A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma língua com estrutura gramatical própria e não uma linguagem, sendo reconhecida, também, como língua oficial de sinais do Brasil desde 2002. Fala A fala é a forma pessoal de expressão de cada indivíduo, que possui uma organização própria de pensamentos, ideias, opiniões,… A fala segue as regras gramaticais da língua, mas deixa margem para a criatividade e diferenciação na comunicação em função de quem fala. É influenciada pelo contexto, vivências, personalidade e conhecimentos linguísticos do falante, apresentando diversos níveis, desde o mais informal ou coloquial, até o mais formal ou culto. Níveis da fala: nível formal ou culto; nível informal, coloquial ou popular; nível regional; nível vulgar; nível técnico ou profissional; nível literário ou artístico. SIGNO LINGUÍSTICO 20 21 22 O que é Semiótica? Rodrigo Bifani A Semiótica é a ciência geral dos signos e da que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos; isto é, sistemas de significação. Mais abrangente que a linguística, a qual se restringe ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objetivo qualquer sistema sígnico - Artes Visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, Religião, Ciências, etc. Para compreender o básico da Semiótica, precisamos saber o que são signos, símbolos e ícones.Signos = Servem para representar “coisas” em nosso cérebro. Quando olhamos algo, criamos uma imagem “similar”, o objeto não está de fato dentro da nossa cabeça, nosso mundo está todo representado por signos. ISTO NÃO É UM CACHIMBO. Em 1929, o artista surrealista belga René Magritte fez uma obra fundamental que nos faz pensar sobre o objeto em si e sua representação. É sobre representação e não sobre o objeto do pensamento em si que incide a charge. A charge é como o quadro de Magritte, uma representação. "Ceci n’est pas une pipe" (Isto não é um cachimbo) foi uma imagem revolucionária e continua sendo. 23 Símbolos = “Elemento representativo visível que por analogia substitui um objeto”. Por exemplo, os desenhos pré-históricos (pinturas em pedras), são *símbolos representando *signos. Ícones = “Pequeno símbolo gráfico, usado geralmente para representar um software ou um atalho para um arquivo específico”. Imagine um botão, sabemos o que é no mundo real ou virtual. 24 Na prática pra que serve tudo isso? A semiótica é uma ciência que nos ajuda a entender como as pessoas interagem com objetos, interpretam o mundo a sua volta e com o que se emocionam, entre outras coisas. Com essa ajuda, podemos melhorar produtos e serviços criando e adequando qualquer coisa para nosso público alvo. Diversos autores publicaram livros sobre o assunto, porém os mais importantes são: Sausurre – Aplicou a semiótica principalmente no campo linguístico. Pierce - Na filosofia. Umberto Eco – Na literatura e no cinema (inspirou estudos sobre interfaces gráficas). Como ciência a Semiótica é relativamente nova, contudo é utilizada a muito tempo por todos os povos e culturas antigas. No passado quando buscamos colocar em prática nossas idéias representando-as no mundo real, criamos signos e símbolos iniciamos uma evolução sem precedentes que moldou nosso mundo como conhecemos hoje. 25 RENÉ MAGRITTE: A IMAGEM NÃO É O SER NOVEMBRO 22, 2016 CATHERINE BELTRÃO DEIXE UM COMENTÁRIO “A arte evoca o mistério sem o qual o mundo não existiria“, já disse René Magritte (1898-1967) . René Magritte Magritte foi um dos principais representantes do surrealismo, ao lado dos artistas plásticos Salvador Dali e Max Ernst, além de Luiz Buñuel, no cinema, de André Breton, na poesia e de Antonin Artaud, no teatro. E assim ele definia a sua pintura: “Minhas pinturas são imagens visíveis que não escondem nada. […] elas evocam mistério e, de fato, quando alguém vê uma de minhas imagens, faz a si mesmo esta simples pergunta:’ O que significa isso?’ e isso não significa nada, porque o mistério também não significa coisa alguma, é irreconhecível.” 26 “Ceci n’est pas une pipe”, de René Magritte. 1929. Vídeo “A Traição das Imagens”, apresentando uma releitura da obra. Duração: 3:00 Uma das principais obras de Magritte é, sem dúvida alguma, “La trahison des images” (“A traição das imagens“). Também conhecida como “Ceci n’est pas une pipe” (“Isto não é um cachimbo“), ele usa na pintura uma representação de um objeto como algo diferente daquilo que parece ser. Ou seja, a pintura não é um cachimbo; é uma imagem de um cachimbo. Se quisermos preencher a imagem com tabaco, não conseguiremos, não é mesmo? “Les amants I”, de René Magritte. 1928. Vídeo: bela releitura da obra. Duração: 4:20 “Les amants II”, de René Magritte. 1928. Também muito conhecidas são duas das quatro obras intituladas “Les amants” (“Os amantes“). Nestas obras, os rostos e pescoços dos dois personagens estão cobertos por panos, podendo ter uma variedade de interpretações, a gosto do observador: eles se amam sem se ver; eles já se conhecem e não precisam se ver para se amarem; ou se ver não é importante para se amar; ou ainda que para ser feliz é preciso viver escondido… lembrando também que o corpo da mãe de Magritte, que havia se suicidado nas águas de um rio quando ele ainda era adolescente, ter sido encontrado com o rosto coberto por um pano. 27 “La réproduction interdite”, de René Magritte. 1937. “Le faux miroir”, de René Magritte. 1928. Mais duas obras de Magritte podem ser apresentadas em paralelo: “La reproduction interdite” (“A reprodução proibida“) e “Le faux miroir” (“O falso espelho“). Em ambas as telas, a pintura não é um espelho que se limita a reproduzir as aparências. Não se trata de um espelho da realidade. É preciso ir além daquilo que se esconde. Na primeira obra, os reflexos do homem e do livro são tratados de forma diversa, o que causa desconforto e estranheza na sua contemplação. Na segunda obra, o olho humano está superdimensionado e, ao invés de proporcionar uma visão do que está por dentro da alma do homem, reflete o que está fora, um céu com nuvens. Talvez a obra mais reproduzida e servido de base para uma infinidade de releituras seja “Le fils de l’homme” (“O filho do homem“). “Le fils de l’homme”, de René Magritte. 1964. Para ver os bastidores do vídeo “A Traição das Imagens”, clique na imagem. Duração: 2:45 Sobre a pintura, Magritte disse: “Pelo menos ela esconde o rosto parcialmente. Bem, então você tem a face aparente, a maçã, escondendo o visível, mas oculto, o real rosto da pessoa. É algo que acontece constantemente. Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós sempre queremos ver o que está escondido, pelo que vemos. Há um interesse no que está escondido e que o visível não nos mostra. Este interesse pode assumir a forma 28 de um sentimento bastante intenso, uma espécie de conflito, pode-se dizer, entre o visível que está oculto e o visível que está presente.” Para terminar, mais uma frase antológica de René Magritte: “Não há respostas em minhas pinturas, só perguntas“. As respostas estão em cada um de nós. Autor: Catherine Beltrão “La réproduction interdite”, de René Magritte. 1937. Autor: Catherine Beltrão TRABALHO EM GRUPO Presos à nossa cultura, reproduzimos estereótipos muitas vezes sem termos ideia que o fazemos. Acho que é algo como identificar-se ateu num mundo cristão. Estamos tão contaminados pelos valores cristãos em nossa conduta, que, mesmo se identificando com o ateísmo, agimos sob os preceitos morais da nossa sociedade. Sabendo disso, o poeta Manuel Bandeira criou um texto para incomodar e questionar os valores de nossa sociedade e, sobretudo, me parece, colocar o leitor em xeque. Dessa forma, em grupo, vocês formarão um núcleo de discussão a respeito do texto que segue abaixo. Após muito discutirem, irão expor de forma aberta a toda turma suas opiniões. O texto de Manuel Bandeira fala de um crime passional. Mas, cuidado, trata-se de um texto literário, ficcional; logo, motivado a “pegadinhas”; isto é, a dizer coisas nas entrelinhas. Reflitam sobre a conduta moral dos personagens e por que a história é trágica. Mas, o que é trágico? Segundo o dicionário Aurélio: TRAGÉDIA BRASILEIRA Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, Conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. 29 Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. Manuel Bandeira. 30 GÊNEROS E TIPOLOGIA TEXTUAL 31 TIPOLOGIA TEXTUAL 1. Texto Descritivo O texto descritivo é um tipo de texto que envolve a descrição de algo, seja de um objeto, pessoa, animal, lugar, acontecimento, e sua intenção é, sobretudo, transmitir para o leitor as impressões e as qualidades de algo. Em outras palavras, o texto descritivo capta as impressões, de forma a representar a elaboração de um retrato, como uma fotografia revelada por meio das palavras. Para tanto, alguns aspectos são de suma importância para a elaboração desse tipo textual, desde as características físicas e/ou psicológicas do que se pretende analisar, a saber: cor, textura, altura, comprimento, peso, dimensões, função, clima, tempo, vegetação, localização, sensação, localização, dentre outros. Descubra aqui como escrever um bom texto descritivo. 1.1 – Características Retrato verbal Ausência de ação e relação de anterioridade ou posterioridade entre as frases Predomínio de substantivos, adjetivos e locuções adjetivas Utilização da enumeração e comparação Presença de verbos de ligação Verbos flexionados no presente ou no pretérito (passado) Emprego de orações coordenadas justapostas 1.2 - Estrutura Descritiva A descrição apresenta três passos para a construção: Introdução: apresentação do que se pretende descrever. Desenvolvimento: caracterização subjetiva ou objetiva da descrição. Conclusão: finalização da apresentação e caracterização de algo. Tipos de Descrição Conforme a intenção do texto, as descrições são classificadas em: Descrição Subjetiva: apresenta as descrições de algo, todavia, evidencia as impressões pessoais do emissor (locutor) do texto. Exemplos são nos textos literários repletos de impressões dos autores. Descrição Objetiva: nesse caso, o texto procura descrever de forma exata e realista as características concretas e físicas de algo, sem atribuir juízo de valor, ou impressões subjetivas do emissor. Exemplos de descrições objetivas são os retratos falados, manuais 1.3 - Tipos de Descrição Conforme a intenção do texto, as descrições são classificadas em: 32 Descrição Subjetiva: apresenta as descrições de algo, todavia, evidencia as impressões pessoais do emissor (locutor) do texto. Exemplos são nos textos literários repletos de impressões dos autores. Descrição Objetiva: nesse caso, o texto procura descrever de forma exata e realista as características concretas e físicas de algo, sem atribuir juízo de valor, ou impressões subjetivas do emissor. Exemplos de descrições objetivas são os retratos falados, manuais de instruções, verbetes de dicionários e enciclopédias. Exemplos: Descrição Subjetiva “Ficara sentada à mesa a ler o Diário de Notícias, no seu roupão de manhã de fazenda preta, bordado a sutache, com largos botões de madrepérola; o cabelo louro um pouco desmanchado, com um tom seco do calor do travesseiro, enrolava-se, torcido no alto da cabeça pequenina, de perfil bonito; a sua pele tinha a brancura tenra e láctea das louras; com o cotovelo encostado à mesa acariciava a orelha, e, no movimento lento e suave dos seus dedos, dois anéis de rubis miudinhos davam cintilações escarlates.” (O Primo Basílio, Eça de Queiroz) Descrição Objetiva "A vítima, Solange dos Santos (22 anos), moradora da cidade de Marília, era magra, alta (1,75), cabelos pretos e curtos; nariz fino e rosto ligeiramente alongado." 33 2. Texto Narrativo Texto narrativo é um tipo de texto que esboça as ações de personagens num determinado tempo e espaço. Geralmente, ele é escrito em prosa e nele são narrados (contados) alguns fatos e acontecimentos. Alguns exemplos de textos narrativos são: romance, novela, conto, crônica e fábula. 2.1 - Estrutura da Narrativa Apresentação: também chamada de introdução, nessa parte inicial o autor do texto apresenta os personagens, o local e o tempo em que se desenvolverá a trama. Desenvolvimento: aqui grande parte da história é desenvolvida com foco nas ações dos personagens. Clímax: parte do desenvolvimento da história, o clímax designa o momento mais emocionante da narrativa. Desfecho: também chamada de conclusão, ele é determinado pela parte final da narrativa, onde a partir dos acontecimentos, os conflitos vão sendo desenvolvidos. 2.2 - Elementos da Narrativa Narrador - é aquele que narra a história. Dividem-se em: narrador observador, narrador personagem e narrador onisciente. Enredo - trata-se da estrutura da narrativa, ou seja, a trama em que se desenrolam as ações. São classificados em: enredo linear, enredo não linear, enredo psicológico e enredo cronológico. Personagens - são aqueles que compõem a narrativa sendo classificados em: personagens principais (protagonista e antagonista) e personagens secundários (adjuvante ou coadjuvante). Tempo - está relacionado com a marcação do tempo dentro da narrativa, por exemplo, uma data ou um momento específico. O tempo pode ser cronológico ou psicológico. Espaço - local (s) onde a narrativa se desenvolve. Podem ocorrer num ambiente físico, ambiente psicológico ou ambiente social. 2.3 - Tipos de Narrador Os tipos de narrador, também chamado de foco narrativo, representam a "voz textual" da narração, sendo classifcados em: Narrador Personagem - a história é narrada em 1ª pessoa onde o narrador é um personagem e participa das ações. Narrador Observador - narrado em 3ª pessoa, esse tipo de narrador conhece os fatos porém, não participa da ação. Narrador Onisciente - esse narrador conhece todos os personagens e a trama. Nesse caso, a história é narrada em 3ª pessoa. No entanto, quando apresenta fluxo de pensamentos dos personagens, ela é narrada em 1ª pessoa. 34 2.4 - Tipos de Discurso Narrativo Discurso Direto - no discurso direto, a própria personagem fala. Discurso Indireto - no discurso indireto o narrador interfere na fala da personagem. Em outras palavras, é narrado em 3ª pessoa uma vez que não aparece a fala da personagem. Discurso Indireto Livre - no discurso indireto livre há intervenções do narrador e das falas dos personagens. Nesse caso, funde-se o discurso direto com o indireto Exemplos de Discurso Discurso Direto Discurso Indireto Discurso Indireto Livre 35 EXERCÍCIO DE LEITURA E ANÁLISE O rouxinol e a rosa. (Oscar Wilde) 1. Identifique o tipo de narrador 2. Qual é em sua opinião o verdadeiro conflito presente no texto? Por quê? 36 3. TEXTO DISSERTATIVO A dissertação é o tipo de texto no qual ideias e pontos de vista são defendidos acerca de determinado assunto. ESTRUTURA DO TEXTO DISSERTATIVO Introdução: A introdução é sua oportunidade de dar “boas-vindas” ao leitor. Nesse momento, você apresentará a ideia ou o ponto de vista que será defendido ao longo do seu texto. Um bomcomeço certamente garantirá o interesse e a adesão de quem está lendo; Desenvolvimento ou argumentação: Ao longo do desenvolvimento do seu texto, sua principal missão será convencer o leitor sobre a pertinência de seus argumentos, e isso só acontecerá se eles forem suficientemente fortes e convincentes. Por esse motivo, é importante dar exemplos e fornecer dados baseados em opiniões de especialistas para fomentar seu ponto de vista. Conclusão: No encerramento do seu texto, você deverá concluir a linha de raciocínio desenvolvida. É fundamental que ao final da redação seu posicionamento fique claro e coerente com o desenvolvimento. CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM Quanto à linguagem, alguns cuidados devem ser tomados: O texto dissertativo deve ser objetivo, portanto, as palavras devem assumir seu sentido denotativo, ou seja, seu sentido literal. Dê preferência à ordem direta das orações, pois elas são mais bem compreendidas pelo leitor. A elaboração de um texto dissertativo está centrada na defesa de ideias e na maneira como essas ideias são articuladas. Para garantir uma boa articulação de seus argumentos, fique atento à coerência e à coesão textual, elementos que proporcionarão uma melhor relação de sentidos das ideias expostas. Agora que você já conhece as principais características da dissertação, é hora de treinar a escrita e seus argumentos. 37 TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO Desordem e progresso É condenável a atitude que grande parte da sociedade desempenha no que diz respeito à preservação do meio ambiente. Apesar dos inúmeros desastres ecológicos que ocorrem com demasiada frequência, a população continua “cega” e o pior é que essa cegueira é por opção. Não sou especialista no assunto, mas não é preciso que o seja para perceber que o Planeta não anda bem. Tsunamis, terremotos, derretimento de geleiras, entre outros fenômenos, assustam a população terrestre, principalmente nos países desenvolvidos – maiores poluidores do Planeta – seria isso mera coincidência? Ou talvez a mais clara resposta da natureza contra o descaso com o futuro da Terra? Acredito na segunda opção. Enquanto o homem imbuído de ganância se empenha numa busca frenética pelo progresso, o tempo passa e a situação adquire proporções alarmantes. Onde está o tal desenvolvimento sustentável que é – ou era – primordial? Sabemos que o progresso é inevitável e indispensável para que uma sociedade se desenvolva e atinja o estágio clímax de suas potencialidades, mas vale a pena conquistar esse progresso às custas da destruição da fauna, da flora, da qualidade de vida que a natureza nos proporciona? Não podemos continuar cegos diante dessa realidade. Somos seres racionais em pleno exercício de nossas faculdades, não temos o direito de nos destruirmos em troca de cédulas com valores monetários que ironicamente estampam espécies animais em seus versos. Progresso e natureza podem, sim, coexistir, mas, para isso, é preciso que nós – população terrestre – nos conscientizemos de nossa responsabilidade sobre o lugar que habitamos e ponhamos em prática o que na teoria parece funcionar.
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