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DIREITO CONSTITUCIONAL III CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Mundo do “ser” e do “dever ser” No mundo do “ser” há um antecedente que se liga, obrigatoriamente, a uma consequência. De modo que, ocorrendo o antecedente, por uma junção de fatores químicos e/ou biológicos, fatalmente, ocorrerá um consequente. São regras postadas de forma horizontal, pois todas elas se encontram na mesma categoria, pelo simples fato de não haver hierarquia entre elas. Podendo, assim, concluir que as leis do mundo do “ser” são imodificáveis, pelo fato de que giram na órbita das ciências naturais, onde a ocorrência de um fato está ligada a uma ocorrência, um determinado resultado uma consequência conforme dito anteriormente – caso não haja nenhuma interferência externa. Mais ou menos como a ideia de que para toda ação ocorrerá uma reação. Já as ciências sociais e jurídicas fazem parte do mundo do “dever ser”, onde existem várias regras, dentre as quais se encontram incluídas as regras do Direito. Contudo, essas regras são postadas de forma vertical, pelo fato de haver hierarquia entre as mesmas. Isso, tendo em vista que, naquilo que diz respeito ao nosso estudo, é importante ressaltar a ideia de que, em nosso ordenamento jurídico, há, de acordo com o que já aprenderam até o presente momento, um documento dito magno que se sobre põe aos demais. Nesse diapasão, a Constituição Federal se encontra no topo dessa “pirâmide”, de forma que não deve haver, dentro do sistema jurídico brasileiro, documento legislativo que se ache em desacordo com a mesma. Pois, caso ocorra a suspeita da mencionada situação, será, o respectivo documento, passivo de controle de constitucionalidade, com a finalidade de retirá-lo do sistema jurídico pátrio no confirme-se a sua situação de antinomia com a Constituição Federal brasileira de 1988. Sistema de normas Para garantir a racionalidade da ordem jurídica, tem-se na Teoria pura do Direito a noção de norma hipotética fundamental, no sentido de primeira norma transcendental. É uma norma suposta, vale dizer, não é editada por um ato de autoridade, não possui um conteúdo, é uma exigência lógica, apenas uma ficção que sustenta o fundamento de validade da ordem jurídica, evitando uma regressão ao infinito ou a discussão política sobre a legitimidade do poder originário. À norma hipotética fundamental, que é suposta, segue-se a primeira norma posta, que, no caso do Brasil, corresponde ao conjunto normativo da Constituição Federal. A primeira norma posta e as demais que lhe sucedem derivam de atos de vontade do poder soberano, e esse poder deve garantir a efetividade da ordem normativa. Vale dizer, a norma é válida se for editada pela autoridade competente e possuir um mínimo de eficácia. A validade da norma repousa na competência normativa de seu editor, que é conferida por outra norma e assim, sucessivamente, numa série finita que culmina na norma fundamental. Essa estrutura possibilita ao jurista organizar o sistema dinâmico de normas relacionando-as a partir de regras de competência, bem como de procedimentos reguladores da produção normativa. A mesma estrutura possibilita organizar o sistema estático, relacionando as normas a partir de seus conteúdos. A norma emanada de quem possui competência para editá- la deve manter conteúdo compatível com a norma que lhe é imediatamente superior. Ou seja, seu fundamento de validade. Assim, uma norma sempre se fundamenta em outra que lhe é superior, no que diz respeito tanto à competência quanto ao conteúdo. Uma das tarefas do jurista consiste em elaborar o encadeamento hierárquico de normas, mediante proposições, tanto na perspectiva do sistema dinâmico quanto na do sistema estático. Nessa estrutura, uma norma vale não porque é justa, mas porque está em conformidade com uma norma superior na qual se fundamenta. Todo o universo normativo vale e é legítimo em função dessa hierarquia, ou seja, em função desse encadeamento lógico. Da norma fundamental não se pode exigir que seja justa. Mesmo uma norma fundamental considerada injusta valida e legitima o direito que dela decorre. Nesse sentido, o Direito é uma ordem jurídica coativa, um conjunto de normas que prescrevem sanções. A conduta contrária à norma é considerada ilícita e a conduta em conformidade com a norma é considerada um dever jurídico. O Estado se confunde com o Direito porque nessa estrutura ele nada mais é do que o conjunto das normas que estabelece competência e prescreve sanções de forma organizada. Onde, na parte mais alta, de encontra a Constituição, documento legislativo em que todas as demais normas devem obediência. O que é controlar a constitucionalidade? Significa indagar, perguntar a respeito da compatibilidade ou incompatibilidade de um determinado documento legislativo com relação à Constituição Federal brasileira. Ou seja, se a norma infraconstitucional está ou não adequada à norma constitucional, se se encaixa formal e/ou materialmente na mesma sintonia da Constituição. O que ocorre com o objetivo de garantir a supremacia do Documento Magno pátrio, corolário do princípio da supremacia constitucional, pois não podem conviver documentos legislativos em desconformidade com o documento maior, pois tal fato traria prejuízos àqueles que se encontram sob a égide da lei dita inconstitucional. Uma condição derivada do período denominado como constitucionalismo, que privilegiou as Constituições escritas, ou seja, positivadas. Em suma, o controle de constitucionalidade consiste numa atividade de verificação da conformidade ou adequação da lei ou ato do poder público com a Constituição. De modo a denotar o princípio da supremacia da Constituição como um dos principais pressupostos, balizadores da existência desse controle. Isso, pois há, ainda, outro pressuposto que é a rigidez constitucional. Esta, que se coaduna com os conceitos de inconstitucionalidade formal e material. Visto que, é a rigidez que confere, à norma constitucional, o status de norma jurídica suprema, em razão de a Constituição brasileira de 1988 possuir um processo legislativo, para a sua alteração, muito mais dificultoso que aqueles utilizados para a modificação e criação de demais normas infraconstitucionais. Enfim, a rigidez e a supremacia constitucional constituem pressupostos indeclináveis do controle de constitucionalidade, de forma que inexistirá este último, caso, de mesmo modo, inexista aquele. Pois, o Controle de constitucionalidade é peculiar às Constituições rígidas como é a atual Carta Magna brasileira de 1988. Princípio da Supremacia da constituição • Supremacia formal – decorre do poder constituinte originário, ilimitado juridicamente. Existindo, ainda, outras leis que decorrem do poder constituído legislativo. • Supremacia material – por ser o documento mais importante que há no Estado, nela as matérias tratadas são as mais importantes. Ferdinand Lassale (Social democrata, nascido na Alemanha): As constituições sempre estiveram presentes nos Estados e sempre estarão presentes. O constitucionalismo que surgiu em 1789 é que teve o objetivo de dar aos Estados um documento escrito (“folha de papel”). Onde os fatores reais de poder eram as questões mais importantes para a Constituição. Nas duas primeiras constituições escritas, a Americana de 1787 e em 1891 a Francesa, as matérias mais importantes naquele período eram os direitos e garantias fundamentais, a organização do Estado e a divisão orgânica de Montesquieu. Enquanto, atualmente temos a ordem econômica, os direitos sociais, os objetivosdo Estado. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. QUANTO AO MOMENTO DE SUA ELABORAÇÃO: 1. Controle Preventivo de constitucionalidade Tem por objetivo o de impedir que a norma inacabada (Projeto de Lei), de antemão inconstitucional, adentre ao ordenamento jurídico, por ser incompatível com a Constituição. Ou seja, é o controle de constitucionalidade realizado durante o processo legislativo, antes mesmo de o projeto vire lei, bem como antes de o ato normativo ingressar no ordenamento jurídico. Para a maioria da doutrina um ato normativo ingressa no ordenamento no momento da sanção presidencial ou, na hipótese de veto, com a sua derrubada pelo Congresso Nacional. De modo, que essa modalidade de controle pode se manifestar em 03 (três) momentos, bem como ser realizado por quaisquer dos três Poderes: O CONTROLE PREVENTIVO PODE SER REALIZADO PELO: 1) PODER LEGISLATIVO ÓRGÃOS DO PODER LEGISLATIVO QUE REALIZAM CONTROLE PREVENTIVO: a) O Presidente da Casa Legislativa: realiza controle preventivo quando devolve uma proposição ao autor alegando que atenta contra a Constituição. Desta decisão, cabe recurso ao Plenário contra esta decisão do Presidente da Casa. b) Comissão de Constituição e Justiça: exara parecer terminativo (põe fim ao processo legislativo) sobre a constitucionalidade ou não da proposição legislativa. Embora o parecer seja terminativo, não é absoluto, pois cabe recurso ao Plenário, manejado por um décimo dos membros da respectiva Casa Legislativa. c) Plenário da Casa Legislativa: como instância máxima de deliberação da Casa Legislativa, o Plenário estará realizando controle preventivo de constitucionalidade ao julgar recurso contra a decisão do Presidente da Casa, mencionada no item (a), ou quando aprecia recurso contra parecer da CCJ que afirma a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de determinada proposição (b). Obs. O mais conhecido é o realizado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) art. 58, §2º, CF/88; 2) PELO PODER EXECUTIVO Por ser, a Lei, um ato normativo complexo, ou seja, é fruto da conjugação de vontades dos Poderes Legislativo e Executivo (art. 48 da CF/88), ao se encerrar o processo legislativo no Congresso Nacional, o projeto de lei (PL) aprovado é enviado ao Presidente da República para sanção ou veto (art. 66 da CF/88). No que poderá o veto presidencial apresentar-se por duas linhas de fundamentação (art. 66, §1º, da CF/88): a) veto político: quando o projeto é contrário ao interesse público; b) veto jurídico: quando o projeto aprovado no Congresso atenta contra a Constituição. Isto é, quando é entendido como inconstitucional. Superação do veto (presunção relativa) Contudo, é importante que se entenda que o veto presidencial, no entanto, não goza de presunção absoluta, relativo, por poder ser derrubado pela maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional. O veto é passível de controle judicial? Embora o tema seja controvertido, o STF decidiu, no julgamento da ADPF nº 1, que o veto não é passível de controle judicial. No julgamento da ADPF nº 45 o relator, Min. Celso de Melo, em decisão monocrática, chegou a aventar a possibilidade de controle judicial das razões do veto. Contudo, essa arguição não chegou a ser julgada pelo Plenário, de modo que a última decisão do STF sobre o assunto negou a possibilidade de questionamento judicial das razões do veto. Nesse sentido, tanto o veto político jurídico quanto o veto político são atos de natureza política e, portanto, não são passíveis de controle judicial. Eles revelam competências políticas, portanto, discricionárias, do presidente da república. Portanto, são impassíveis de controle judicial. Isso foi decidido na ADPF nº 1, que foi proposta em face de um veto imotivado do ex-prefeito do Rio de Janeiro. Corrente Doutrinária No entanto, existe outra corrente, capitaneada por Gustavo Binenbojm, que defende que só é passível de controle o veto jurídico, pois aqui são suscitados argumentos jurídicos passíveis de sindicabilidade. Sendo possível exercer o controle pela via difusa, por meio de mandado de segurança (frustração ao devido processo legislativo) ou através de ADPF (se encaixando dentro do conceito genérico de ato do poder público do artigo 1º da L9882). Contudo, judicialmente, prevalece o entendimento da insindicabilidade do veto, em uma atitude de autocontenção do STF, só podendo ele exercer controle jurisdicional preventivo nas hipóteses taxativas estabelecidas pela CR (Ex: quando houver PEC que tenda a abolir cláusula pétrea e quando o processo legislativo violar o processo legislativo expressamente definido na constituição). 3) PELO PODER JUDICIÁRIO É importante o entendimento de que é essa uma hipótese excepcional, pois, em regra, o Judiciário atua apenas no controle repressivo de constitucionalidade. Contudo, excepcionalmente, pode realizar também controle preventivo de constitucionalidade. Isso ocorre na hipótese de violação ao devido processo legislativo previsto na Constituição. Quando será impetrado Mandado de segurança diretamente no STF. A ação de mandado de segurança apenas poderá ser impetrada por parlamentares, com o intuito de defender seu direito público subjetivo de somente participar de um processo legislativo hígido, ou seja, conforme aquilo que preceitua a Constituição Federal de 1988. CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE (POSTERIOR) Repressivo é o controle que ocorre após a conclusão do ato normativo, estando este pronto e acabado. A lei, agora, não está apenas na iminência de violar a Constituição, mas já efetivamente causa uma lesão à Constituição. De modo que, enquanto no controle preventivo o objetivo é evitar que o ato normativo viole a Constituição antes mesmo de ficar pronto, no controle repressivo, por sua vez, o objetivo é expurgar o ato que está violando a Constituição. Assim, é modalidade de controle que tem o objetivo de expurgar a lei inconstitucional do ordenamento jurídico, pode ser realizado por órgão político, órgão jurisdicional (preponderante), bem como um órgão denominado por misto. Embora, no Brasil, o controle de constitucionalidade, na modalidade repressiva, EM REGRA, é exercido com preponderância pelo Poder Judiciário. Modalidades de controle repressivo existentes: • Político – O controle político é aquele exercido por órgão sem natureza jurisdicional. Quer dizer, não é um controle exercido pelo Poder Judiciário. É exercido pelo Legislativo ou por um órgão específico criado para o exercício do controle de constitucionalidade. Na verdade, o controle político é tido por exclusão. Ou seja, qualquer órgão que não tenha função jurisdicional e exerça controle de constitucionalidade, nesse caso esse controle será um controle político. Ou, ainda, cria-se um órgão que não faz parte de nenhum dos três poderes para a realização do controle de constitucionalidade. Ou seja, um órgão que não exerça jurisdição (França). • Misto – é aquele que conjuga o controle político com o controle jurisdicional (por exemplo, Suiça). Na Suiça, por exemplo, existem duas espécies de controle, o político e o jurisdicional. De modo que a Lei local é controlada por órgão jurisdicional e as Leis nacionais órgão político. • Jurisdicional – É aquele exercido pelos órgãos do Poder Judiciário. Ou seja, é a regra no Brasil. No Brasil, o controle repressivo, em regra, é realizado pelo poder judiciário. Logo, jurisdicional. Contudo, há, excepcionalmente, controle repressivo não judicial.EXCEÇÕES, NO BRASIL, À REGRA DO CONTROLE REPRESSIVO JUDICIAL. As exceções ocorrem quando o controle repressivo pode ser realizado por outros Poderes: 1. Pelo Poder Legislativo (art. 49, V, CF/88): Em regra, como visto, o Poder Legislativo exerce controle de constitucionalidade em momento preventivo, por meio das Comissões de Constituição e Justiça, mas é possível também fazê-lo em momento posterior nas seguintes hipóteses. Leis delegadas (art. 68, CF/88) – É quando o presidente solicita autorização para legislar sobre determinada matéria e acaba por exorbitar o poder da delegação. Esta, que lhe é dada pelo Congresso Nacional por meio de Resolução (§ 2º, do artigo 68, CF 1988). Lei delegada (vide artigos 59, IV e 68 da Constituição brasileira de 1988) é um ato normativo elaborado pelo chefe do Poder Executivo no âmbito federal, com a solicitação ao Congresso Nacional (art. 68, caput, Constituição Federal 1988), relatando o assunto que se irá legislar. O chefe do executivo solicita a autorização, e o poder legislativo fixa o conteúdo e os termos de seu exercício, tudo por meio de resolução legislativa. Depois de criada a lei pelo chefe do executivo, ela é remetida ao legislativo para avaliação e aprovação. Considerando que os limites foram respeitados e que a lei é conveniente, o legislativo a aprova, contudo, essa norma entra no sistema jurídico na qualidade de lei ordinária. As leis delegadas não admitem emendas. Algumas matérias não podem ser objeto de delegação, não podendo versar sobre atos de competência exclusiva do Congresso Nacional acerca de matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos, entre outros. 2. Edição, pelo Executivo de Decreto autônomo que exorbita no seu poder de regulamentação (art. 49, V). O legislativo também poderá sustar esse Decreto que exorbitou o seu poder regulamentar de uma determinada lei. Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; (...) V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; A Emenda Constitucional no. 32/2001 possibilitou a introdução do decreto autônomo no ordenamento jurídico brasileiro na hipótese do art. 84, VI, da Constituição, ou seja, na hipótese de edição de decreto sobre organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos e sobre extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. 3. Medida provisória – sem os requisitos da urgência e relevância, quando o CN entenda inconstitucional essa medida. É repressivo, pois a MP, pelo fato de possuir a mesma força de lei, já está produzindo efeitos no mundo concreto (art. 62, CF/1988). 4. Tribunal de Contas – Ainda sendo órgão que não exerce jurisdição pode apreciar no exercício de suas atribuições a constitucionalidade das leis e dos atos do poder público (súmula 347/STF)1. E, sobre a permanência desse 1 Súmula 347 O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público. Jurisprudência posterior ao enunciado ● Controle de constitucionalidade e Tribunal de Contas "2. Descabe a atuação precária e efêmera afastando do cenário jurídico o que assentado pelo Tribunal de Contas da União. A questão alusiva à possibilidade de este último deixar de observar, ante a óptica da inconstitucionalidade, certo ato normativo há de ser apreciada em definitivo pelo Colegiado, prevalecendo, até aqui, porque não revogado, o Verbete nº 347 da Súmula do Supremo. De início, a atuação do Tribunal de Contas se fez considerado o arcabouço normativo constitucional." (MS 31439 MC, Relator Ministro Marco Aurélio, Decisão Monocrática, julgamento em 19.7.2012, DJe de 7.8.2012) posicionamento, há ainda discussões. Visto que há decisões no sentido do fim desse entendimento. PELO PODER EXECUTIVO *Pelo Poder Executivo (não é pacífico): há quem entenda que o chefe do Poder Executivo pode determinar aos órgãos da administração Publica não obedeça à lei entendida por ele como inconstitucional. Trata-se de hipótese prevista pela jurisprudência da Suprema Corte, referindo-se ao exercício do controle de constitucionalidade pelo Executivo através da não aplicação, por este Poder, de lei que repute maculada de inconstitucionalidade. Nesse caso, a lei ficaria ineficaz por opção do Executivo, que tem a possibilidade de descumprir um ato legislativo quando entender inconstitucional. Sendo importante que se diga que não há previsão constitucional para tanto, trata-se de construção jurisprudencial que, embora seja bastante polêmica, tem sido reconhecida pelos tribunais. "Assim, a declaração de inconstitucionalidade, pelo Tribunal de Contas da União, do art. 67 da Lei n° 9.478/97, e do Decreto n° 2.745/98, obrigando a Petrobrás, consequentemente, a cumprir as exigências da Lei n° 8.666/93, parece estar em confronto com normas constitucionais, mormente as que traduzem o princípio da legalidade, as que delimitam as competências do TCU (art. 71), assim como aquelas que conformam o regime de exploração da atividade econômica do petróleo (art. 177). Não me impressiona o teor da Súmula n° 347 desta Corte, (...). A referida regra sumular foi aprovada na Sessão Plenária de 13.12.1963, num contexto constitucional totalmente diferente do atual. Até o advento da Emenda Constitucional n° 16, de 1965, que introduziu em nosso sistema o controle abstrato de normas, admitia- se como legítima a recusa, por parte de órgãos não-jurisdicionais, à aplicação da lei considerada inconstitucional. No entanto, é preciso levar em conta que o texto constitucional de 1988 introduziu uma mudança radical no nosso sistema de controle de constitucionalidade. Em escritos doutrinários, tenho enfatizado que a ampla legitimação conferida ao controle abstrato, com a inevitável possibilidade de se submeter qualquer questão constitucional ao Supremo Tribunal Federal, operou uma mudança substancial no modelo de controle de constitucionalidade até então vigente no Brasil. Parece quase intuitivo que, ao ampliar, de forma significativa, o círculo de entes e órgãos legitimados a provocar o Supremo Tribunal Federal, no processo de controle abstrato de normas, acabou o constituinte por restringir, de maneira radical, a amplitude do controle difuso de constitucionalidade. A amplitude do direito de propositura faz com que até mesmo pleitos tipicamente individuais sejam submetidos ao Supremo Tribunal Federal mediante ação direta de inconstitucionalidade. Assim, o processo de controle abstrato de normas cumpre entre nós uma dupla função: atua tanto como instrumento de defesa da ordem objetiva, quanto como instrumento de defesa de posições subjetivas. Assim, a própria evolução do sistema de controle de constitucionalidade no Brasil, verificada desde então, está a demonstrar a necessidade de se reavaliar a subsistência da Súmula 347 em face da ordem constitucional instaurada com a Constituição de 1988." (MS 25888 MC, Relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento em 22.3.2006, DJ de 29.3.2006). Assim, seria possível admitir ao Poder Executivo, de forma excepcional e motivadamente, o exercício do controlede constitucionalidade pela não aplicação da lei. De fato, a constitucionalidade das leis decorre de uma presunção relativa, nao é absoluta. Enquanto o Judiciário não declarar que a lei é constitucional, caberia ao Executivo recusar o seu cumprimento. Contudo, a hipótese ainda é muito controversa e existem debates na doutrina sobre essa possibilidade não ser mais aceita após a Constituição Federal de 1988. Há autores que alegam que, antes da CF/88, havia apenas um legitimado que poderia propor ação de inconstitucionalidade no STF, o Procurador-Geral da República, nesse caso se justificava que o Chefe do Executivo deixasse de cumprir um ato normativo, já que ele não dispunha de nenhum instrumento para questionar a sua inconstitucionalidade. Contudo, após o advento da Constituição Federal de 1988 essa legitimação foi ampliada para abranger também o Chefe do Executivo que, igualmente, pode propor ADI, ADC e ADPF, como veremos a seguir, não se justificando mais eventual descumprimento de lei sob o argumento de que é inconstitucional. Porém, o STF tem entendimentos posteriores a 1988 admitindo essa possibilidade: "Os Poderes Executivo e Legislativo, por sua chefia (...), podem tão só determinar aos seus órgãos subordinados que deixem de aplicar administrativamente as leis ou atos com força de lei que considerem inconstitucionais” (ADI MC221/DF, j. 29.03.90, Tribunal Pleno, Rel. Min. Moreira Alves). A rigor, nos enfrentamentos da questão após à CF/88, a questão principal não foi discutida, apenas deliberada incidentalmente. Mas apesar da polêmica, reconhece-se a recusa ao cumprimento da lei como possibilidade excepcionalíssima de controle repressivo pelo Executivo. Por fim, é importante o entendimento de que o Controle Repressivo jurisdicional no Brasil é denominado como MISTO, por adotar dois sistemas ou dois modelos (difuso e concentrado). • O difuso (ou americano) foi sistematizado em 1803 nos EUA. • O concentrado foi sistematizado em 1920 na Áustria (Hans Kelsen). ORIGENS DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE (Marbury v. Madison)2. O famoso caso Marbury v. Madison, julgado em 1803 pela Suprema Corte, o marco da criação do controle de constitucionalidade das leis. Eis a síntese desse célebre litígio: às vésperas do final de seu mandato, o Presidente John Adams nomeou vários correligionários, entre os quais William Marbury, para ocuparem cargos estratégicos no judiciário federal. Contudo, ao assumir o poder, o novo Presidente Thomas Jefferson ordenou ao Secretário James Madison que não concedesse a posse aos beneficiários. Inconformado, Marbury, com base em Lei de Judiciária de 1789 que outorgava, à Suprema Corte dos EUA, o poder de conceder mandados, impetrou ação, postulando a posse no cargo de juiz. Ao analisar o caso, a Suprema Corte negou o pedido de Marbury, sob a justificativa de que a citada Lei Judiciária de 1789 seria inconstitucional, por criar, para a Corte Suprema, uma competência não prevista na Constituição Federal americana, qual seja a outorga de poderes à Suprema Corte para conceder mandados. Evolução histórica do controle de constitucionalidade no Brasil 1824 – não fez qualquer referência ao controle de constitucionalidade. Teve como fonte inspiradora o constitucionalismo inglês e a Constituição francesa que pregavam a supremacia do parlamento. Logo, o que o parlamento dizia não podia ser questionado por outro Poder. E adotava a teoria do Poder Moderador. 1891 – é quando surge o sistema difuso, onde qualquer juiz ou tribunal diante de um caso concreto pode reconhecer a constitucionalidade. Teve como fonte a Constituição americana de 1787. 2 https://franciscofalconi.wordpress.com/2011/02/05/origens-do-controle-de- constitucionalidade-o-caso-marbury-v-madison/ 1934 – inspirada na Constituição de weimar manteve o sistema difuso e trouxe uma inovação onde a inconstitucionalidade alegada pelos tribunais só poderia ser pela maioria absoluta dos votos de seus membros (reserva de plenário), Cria a ação direta de inconstitucionalidade interventiva e em caso de o Supremo reconhecer a inconstitucionalidade da lei, remeteria ao senado para que este suspendesse a vigência da lei (o atual 52, X, CF/88). 1937 – inspirada na Constituição polonesa de 1935, manteve as características da Constituição de 1934. Contudo, inovou no sentido de reconhecida a inconstitucionalidade pelo Supremo, o Presidente da República poderia dizer o contrário em relação à mesma (característica ditatorial) 1946 – volta a ter as características da Constituição de 1934 (democrática). Tendo recebido várias emendas a que nos vai interessar é a EC 16/65, que incorpora o controle concentrado importado da Áustria (Kelsen). As Constituições de 67 e 69 em nada inovaram no controle de constitucionalidade. 1988 – Versa sobre o controle repressivo de constitucionalidade em regra jurisdicional misto (difuso e concentrado). O sistema concentrado se manifesta por meio de 05 ações: Ação direta de inconstitucionalidade (ADI ou ADI genérica); Ação direta de inconstitucionalidade por omissão; Ação declaratória de constitucionalidade; Ação direta de inconstitucionalidade interventiva (concreta); Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF). Concentrado não é sinônimo de abstrato. É assim chamado por ser concentrado em um único local, podendo ser abstrato ou concreto. Espécies de inconstitucionalidade: Inconstitucionalidade formal (ou orgânica/nomodinâmica): é aquela em que a lei ou ato normativo infraconstitucional viola o devido processo legislativo constitucional. Inconstitucionalidade material (nomoestática): é aquela em que a lei ou ato normativo infraconstitucional viola o conteúdo da Constituição. Ou seja, se vai contra as regras e princípios tratados pela constituição como, por exemplo, uma lei que desobedeça o princípio da isonomia ou, como outro exemplo, uma lei estadual que tenha matéria de competência local, ou seja, municipal. Inconstitucionalidade por ofensa ao decoro parlamentar (Pedro Lenza): é aquele relativo às leis resultantes de projetos do mensalão e mensalinho.
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