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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE noções gerais INTRODUÇÃO A Constituição escrita de um país não representa uma simples lei, de força cogente, dotada de impessoalidade e abstração, é a própria face do Estado, o coração do ordenamento jurídico, cujas bases jurídicas fundamentam a validade das demais normas produzidas no Estado. Com isso, todos os atos estatais que contrariem diretamente ou indiretamente os dispositivos constitucionais devem ser objeto de fiscalização, cujo desiderato maior é retirar-lhes de circulação com a sua declaração de invalidade, em nome da supremacia constitucional. A Constituição não pode se submeter aos caprichos dos poderes constituídos e nem ao império dos fatos e das circunstâncias, portanto, protegê-la em face dos eventuais abusos é defender o próprio Estado, a unidade do ordenamento jurídico e os direitos fundamentais do seu povo. PRINCÍPIOS INFORMADORES Princípio da Rigidez Constitucional A Constituição rígida é aquela que só pode ser alterada por um processo legislativo mais solene e dificultoso do que o existente para a elaboração das demais normas jurídicas e encontra seu núcleo no art. 60 da CRFB/88. Dessa rigidez é possível se observar a existência de uma verdadeira hierarquia entre as normas jurídicas, tendo em vista que as normas infraconstitucionais não podem alterar o texto da Constituição, justamente porque buscam fundamento jurídico de validade em seus postulados. Com isso, é possível se observar uma clara distinção entre a obra do Constituinte e a do Legislador, tendo em vista que a segunda encontra o seu parâmetro de validade na primeira e não pode com isso ignorá-la, contrariando os seus fundamentos. Princípio da Supremacia Constitucional A supremacia material, de essência, ou conteúdo, está presente em qualquer tipo de ordenamento constitucional, flexível ou rígido, tendo em vista que a Constituição é a lei fundamental de um país e deve ser protegida para a própria manutenção das instituições. Entretanto, a supremacia formal, de estereótipo, a posição no topo da hierarquia das leis, está relacionada intimamente à rigidez constitucional, sendo um princípio importante para nortear a realização da fiscalização de constitucionalidade das normas infraconstitucionais. Princípio da Presunção de Constitucionalidade das Leis A “lei”, produto do poder político estatal, goza de presunção relativa de que é constitucional, ou seja, de que respeitou completamente à Constituição nos seus aspectos formais e materiais, até que venha a ser declarada inconstitucional. De acordo com a orientação jurisprudencial, as únicas normas que gozam de presunção absoluta de constitucionalidade no Brasil (e com isso não podem sofrer declaração de inconstitucionalidade) são as constitucionais originárias, nascidas do Poder Constituinte Originário. Sobre esse tema, claras são as palavras de Jorge Miranda: No interior da mesma Constituição originária, obra do mesmo poder constituinte (originário) não divisamos como possam surgir normas inconstitucionais. Nem vemos como órgãos de fiscalização instituídos por esse poder seriam competentes para apreciar e não aplicar, com base na Constituição, qualquer das suas normas. É um princípio de identidade ou de não contradição que o impede. Pode haver inconstitucionalidade por oposição entre normas constitucionais preexistentes e normas constitucionais supervenientes, na medida em que a validade destas decorre daquelas; não por oposição entre normas feitas ao mesmo tempo pela mesma autoridade jurídica. Pode haver inconstitucionalidade da revisão constitucional, porque a revisão funda-se, formal e materialmente, na Constituição; não pode haver inconstitucionalidade da Constituição. No julgamento da ADI 815, o STF ainda afirmou que não adota a posição do jurista alemão Otto Bachof, para quem as normas constitucionais originárias poderiam ser declaradas inconstitucionais por violação ao direito natural. CONCEITO Controlar a constitucionalidade das leis consiste na verificação de sua compatibilidade material e formal para com a Constituição Federal. É pelo controle de constitucionalidade que se avalia se o conteúdo, a essência da norma (compatibilidade material) e/ou se o processo legislativo realizado para a sua elaboração (compatibilidade formal ) estão de acordo com o que determina a Constituição. TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE Podemos relacionar várias manifestações de inconstitucionalidades abaixo organizadas em grupos: • inconstitucionalidade material (ou nomoestática); • inconstitucionalidade formal (ou nomodinâmica); • inconstitucionalidade total; • inconstitucionalidade parcial; • inconstitucionalidade originária; • inconstitucionalidade superveniente; • inconstitucionalidade por ação; • inconstitucionalidade por omissão. MANIFESTAÇÕES DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE O controle de constitucionalidade pode ser observado sob diversos aspectos, a seguir analisados. Com Relação ao Momento a) Preventivo (ou a priori): quando exercido sobre a norma durante o seu processo de elaboração com o intuito de evitar que entre em vigor norma violadora da Constituição. O objeto do controle é o “projeto de lei” ou a “proposta de emenda”. b) Repressivo (ou a posteriori): quando exercido sobre a norma pronta, acabada, e visa à paralisação de sua eficácia. Seu objeto, por conseguinte, é a “lei” ou a “emenda”, já promulgadas. Quanto ao Órgão a) Político: quando realizado por órgãos políticos como o Poder Legislativo e o Poder Executivo, em regra. b) Jurisdicional: quando realizado apenas por quem presta jurisdição: só por juízes ou órgãos do Poder Judiciário. Nesse ponto, é possível se observar com os exemplos a seguir apresentados, que o controle preventivo de constitucionalidade no Brasil é, em regra geral, político (realizado por quem participa do processo legislativo) e que o controle repressivo é também normalmente judicial (realizado pelo aplicador da lei). Senão vejamos: • controle preventivo político realizado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) das Casas Legislativas. Todo projeto de lei passa pela CCJ antes de chegar a plenário para deliberação. Esta Comissão tem por função verificar a compatibilidade do projeto de lei para com a Constituição. Visa a corrigir ou a impedir a continuidade da tramitação de um projeto viciado, realizando, portanto, um controle preventivo; • controle preventivo político exercido sobre o veto aposto a um projeto de lei pelo presidente da República. Se a motivação do veto for a indicação de uma inconstitucionalidade no projeto de lei, o presidente estará realizando um controle preventivo de constitucionalidade. Entretanto, o STF vem permitindo controle preventivo judicial de constitucionalidade por meio de mandado de segurança impetrado por parlamentar em face de um processo legislativo que contrarie a CRFB/88. Ademais, apesar de o controle repressivo ser normalmente judicial e realizado por meio dos sistemas difuso e concentrado, a própria Constituição e a jurisprudência nos trazem exemplos de controle repressivo político, como nos casos a seguir expostos: • a disposição do art. 49, V, que permite ao Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; • o art. 62, § 5o c/c § 9o, que determina a análise dos pressupostos constitucionais da medida provisória por uma comissão mista de deputados e senadores, antes que se inicie o processo de sua conversão em lei ordinária; • o teor da Súmula no 473 do STF, que dispõe que a Administração Pública pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-lospor motivo de conveniência ou oportunidade (...); Também podemos citar como exemplo o controle realizado pelo Tribunal de Contas respaldado na Súmula no 347 do STF: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público. Com Relação ao Órgão Judicial Competente para o Exercício • difuso ou aberto: é aquele exercido por qualquer órgão jurisdicional. Todo e qualquer juiz exerce controle de constitucionalidade difuso. É chamado de difuso porque seu exercício ocorre de forma dispersa entre os órgãos do Poder Judiciário; • concentrado, reservado ou fechado: é exercido por apenas um órgão jurisdicional. Chama- se concentrado porque não está disponível ao exercício por qualquer juiz. Se o parâmetro para o controle é a Constituição Federal, apenas o STF o exerce, caso o parâmetro seja a Constituição Estadual, apenas o TJ deverá realizá-lo. Com Relação ao Modo de Exercício • incidental (de exceção ou de defesa): o controle de constitucionalidade é incidental quando exercido no bojo da solução de um conflito de interesses, onde o que mais importa para as partes na relação jurídica é a sua composição. A discussão da inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo se desenvolverá perifericamente à questão principal da causa. Por isso diz-se que este controle ocorre incidentalmente, sendo arguida como questão prejudicial ao mérito; • principal (de ação ou direta): o que se pretende desde logo, é o exame de validade de uma norma. O autor da ação invocará o controle de constitucionalidade como a questão principal a ser decidida pelo Poder Judiciário. Desenvolve-se, em ambiente federal, por meio das ações propostas originariamente perante o Supremo Tribunal Federal.
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