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Direito Ambiental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Tercius Zychan Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação 5 • Introdução • Recursos Ambientais • Alguns conceitos · Estudaremos os Recursos ambientais, procurando identificá-los, além das medidas protetivas a estes recursos e, por fim, veremos as principais Convenções Internacionais sobre a proteção ao Meio ambiente. Nesta Unidade, abordaremos o que são recursos naturais procurando identificá-los. Além disso, vamos tratar das medidas protetivas aplicáveis a estes recursos. Por fim, veremos os principais acordos e tratados internacionais sobre preservação ambiental. Não se esqueça de acessar realizar as atividades propostas para esta unidade. Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação 6 Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação Contextualização Entre os aspectos relevantes do Direito Ambiental, existem conceitos indispensáveis a serem conhecidos e compartilhados por todos. Entre estes estão o de fauna e flora. Conhecer a diversidade da fauna e da flora brasileira, sem dúvida, é um passo importante para sua preservação. Veja o vídeo disponível no Youtube, no link a seguir, que trata um pouco sobre a fauna e a flora brasileiras: https://www.youtube.com/watch?v=fUnEBYnkKkw Bom estudo! 7 Introdução Não nos resta dúvida de que pela extensão territorial do nosso país, somos um campo repleto e rico de riquezas naturais. Aliado a esta característica, nosso patrimônio cultural também é vasto, necessitando ambos de proteção especial. Nesta Unidade, iremos conhecer alguns conceitos importantes para estudarmos o nosso Direito Ambiental. Aliado a este conhecimento, veremos medidas protetivas ao Meio ambiente pátrio, constantes de nossa legislação. Por fim, veremos como o Direito Internacional, por intermédio de acordos, tratados e convenções influencia a nossa proteção e preservação ambiental, estabelecendo conceitos e metas protetivas, assumidas por cada signatário. Recursos Ambientais Antes de descrevermos melhor nosso tema, é fundamental obtermos alguns conceitos e definições para a orientação dos estudos das normas jurídicas que estão envolvidas no Direito Ambiental e na proteção ao Meio ambiente. Como visto, a Lei 6938/81, que editou a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA conceituou Meio ambiente como: “[...] o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Tal conceito está intimamente ligado ao estabelecido na Suécia, mais precisamente na cidade de Estocolmo, onde, em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, sendo estabelecido um conceito mundial do que vem a ser Meio ambiente: “[...] O meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas”. Ou seja, o Meio ambiente, resumidamente, envolve todas as coisas vivas e não vivas no Planeta, ou em alguma região dele, que afetam os ecossistemas e a vida dos seres humanos. A estes integrantes do Meio Ambiente damos o nome de recursos ambientais. Basta, agora, buscarmos a compreensão do que vem a ser “recursos ambientais”, que alguns doutrinadores chamam de recursos naturais. Entretanto, em virtude do tratamento dado ao assunto pela Lei 6938/81, aqui iremos adotar o que ela prevê no inciso V do artigo 3º, no qual, por intermédio de um rol exemplificativo, procura nos direcionar para o entendimento do que vem a ser recursos ambientais: Art. 3º – Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: (...) V – recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. 8 Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação Na verdade, os recursos ambientais encontram-se na base de todas as ações humanas, seja como matéria prima ou insumo para a produção, bem como seu consumo na condição natural. Em razão das características que venham a se apresentar e na possibilidade de seu reaproveitamento, podemos dizer que os recursos ambientais poderão ser classificados como recursos naturais renováveis (exemplo: ar, água etc.) ou recursos naturais não renováveis (exemplo: petróleo, mineiro de ferro etc.). Alguns Conceitos Vale, antes de tudo, fazer um adendo ao falamos em Meio ambiente e recursos ambientais. Não estamos apenas nos referindo ao Meio Ambiente exclusivamente natural, mas ao Meio Ambiente em todas as suas formas. Enfatizando, assim, que o Meio Ambiente merece proteção ampla e em todos os seus segmentos. Nos próximos tópicos, iremos analisar os recursos ambientais nas suas mais variadas formas, bem como alguns mecanismos de proteção e utilização desses recursos. Da Fauna O Glossário de Ecologia define fauna1 como: “[...] toda a vida animal de uma área, um habitat ou um estrato geológico num determinado tempo com limites espacial e temporal arbitrários”. O Professor Paulo Afonso Leme Machado2 , de modo simples e direto, procurou definir fauna do seguinte modo: fauna é conjunto de espécies animais de determinado país ou região. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IBAMA estabelece que existem três espécies de fauna: a silvestre brasileira, a silvestre exótica e a doméstica. Cabe acrescentar que a legislação de proteção à fauna não faz qualquer distinção entre o que vem a ser fauna silvestre brasileira ou fauna exótica, o que nos leva a deduzir que, sendo animal silvestre, estará amparado pela lei. Diante deste posicionamento, podemos deduzir que integram a fauna silvestre os animais, nativos de uma determinada região, sejam eles originais de nosso país ou do estrangeiro. Cumpre mencionar sobre o que trata a Lei 9605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 1 ACADEMIA de Ciências do Estado de São Paulo. Glossário de Ecologia. São Paulo: ACIESP, 1997, p.113. 2 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2007, p.766. 9 No § 3º de seu Artigo 29, assim previu: Art. 29. ... (...) § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. Vejamos a afirmação de Erika Bechara3 , ao titularizar a fauna como um bem ambiental, pertencente a toda a coletividade. Segue assim o preceito constitucional já tratado que afirma ser o Meio Ambiente um bem de uso comum do povo. A proteção internacional da fauna No mundo existe, atualmente, uma grande quantidade de tratados, acordos e convenções com a finalidade de proteger a fauna, sobretudo de espécies migratórias ameaçadas de extinção. E importante exemplificar que entre estes diplomas internacionais é a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela UNESCO, em 1978, assinada na cidade de Bruxelas, na Bélgica, que estabeleceu, principalmente: • Todos os animais nascem iguais diante da vida e têm o mesmo direito à existência (art. 1°); • O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais (art. 2°-B); • Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis (art. 3°-A); • Se a morte de algum animal for necessária, deve ser instantânea,sem dor nem angústia (art. 3°-B). Desde então, outras convenções e acordos foram firmados internacionalmente para tutelar a fauna, entre os quais se destacam: • Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, Washington, 1973, com emendas promulgadas pelos Decretos nº 76.623/75, n° 92.446/86 e nº 133/91; • Convenção sobre a Diversidade Biológica, Rio de Janeiro, 5 de junho de 1992, assinada pelo Brasil durante a ECO-92, e promulgada pelo Decreto 2.519 de 16/03/1998. 3 BECHARA, Erika. A proteção da fauna sob a ótica constitucional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p.27. 10 Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação A proteção penal da fauna A Lei n° 9.605/98, entre outros temas importantes, consolidou uma relação de crimes que atingem diretamente a fauna. Figuram entre os crimes previstos na citada lei algumas condutas que, se praticadas, importam em infrações penais (crimes): • Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória; • Modificar, danificar ou destruir ninho, abrigo ou criadouro natural; • Vender, expor à venda, exportar ou adquirir, guardar, ter em cativeiro ou depósito, transportar ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente; • Exportar para o exterior, peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente; • Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente; • Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos; • Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente; • Pescar mediante a utilização de explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente. 11 Da flora Antes de detalharmos o conceito que pretendemos tratar, vale à pena fazer uma distinção já que se confunde muito pela proximidade que transmite a ideia e os significados entre o que vem a ser flora e floresta. Flora trata do reino vegetal, ou seja, o conjunto da vegetação de um país ou de uma região. O professor Édis Milaré4 assim a conceituou: Flora é a totalidade de espécies que compreende a vegetação de uma determinada região, sem qualquer expressão de importância individual dos elementos que a compõem. Elas podem pertencer a grupos botânicos os mais diversos, desde que estes tenham exigências semelhantes quanto aos fatores ambientais, entre eles os biológicos, os do solo e do clima. Já o vocábulo floresta compreende uma formação vegetal caracterizada pela predominância de vegetação densa formada, sobretudo, por árvores de grande porte. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, em uma de suas normas, assim definiu: “floresta é a formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais ou menos extensa”. Além das florestas, são de grande importância outras formas de cobertura vegetal, como o mangue, o cerrado e a caatinga, pois também agem na fixação do solo, evitando a erosão e fazendo parte dos ecossistemas que abrigam a fauna nacional e preservam a biodiversidade. Já o vocábulo floresta compreende uma formação vegetal caracterizada pela predominância de vegetação densa formada, sobretudo, por árvores de grande porte. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, em uma de suas normas, assim definiu: “floresta é a formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais ou menos extensa”. Além das florestas, são de grande importância outras formas de cobertura vegetal, como o mangue, o cerrado e a caatinga, pois também agem na fixação do solo, evitando a erosão e fazendo parte dos ecossistemas que abrigam a fauna nacional e preservam a biodiversidade. A multifuncionalidade é uma característica dos recursos ambientais, nos quais cada recurso possui uma série de funções, para isso não se considera apenas o seu uso para a satisfação das necessidades humanas, mas também as funções ecológicas que tais recursos desempenham. Neste caso, ao analisar a flora como a vegetação em todas as suas formas, e o que se presta ao Meio Ambiente, devemos considerar que ela se presta a papéis relevantes, como, por exemplo, a evitar a perda de solo, a promover a contenção do assoreamento, a reduzir a emissão de gás carbônico etc. Aqui, estamos indicando somente os serviços ecológicos inerentes à flora, deixando de lado o que esta significa no desempenho da atividade econômica. 4 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: Doutrina – prática – jurisprudência – glossário. São Paulo: RT, 2000, p. 162. 12 Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação Um tema que não poderia deixar de ser tratado, no que tange à defesa da flora, é a forma pela qual a legislação nacional cuida do direito de propriedade, mais precisamente no tocante à função social da propriedade, como dispõe a Constituição Federal, em seu Artigo 186: Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: (...) II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; Apropriado mencionar a Professora Cristiane Derani5 , que aborda o princípio da função social desta maneira: Daí equiparar-se o princípio da função social da propriedade a um ônus do proprietário, consistente em um conjunto de deveres e responsabilidades que permeia toda a relação de propriedade, e não apenas limita seu exercício. A escolha do que realizar, dos meios empregados, da intensidade da atividade e da destinação das vantagens obtidas não pode mais ser tomada do ponto de vista exclusivamente individual do proprietário. De acordo com o Código Florestal Brasileiro, tanto a flora nativa quanto as espécies exóticas receberão proteção e constituirão a flora brasileira como um todo, pois o texto legal não fez distinção entre a vegetação nativa e as demais formas de vegetação. Código Florestal A Lei nº 12.651/2012 instituiu o novo Código Florestal Brasileiro, que entrou em vigor depois de muita discussão, polêmicas e edição de medidas provisórias. O Código Florestal anterior era de 1965, e já não atingia os objetivos propostos pela nova Política Nacional de Meio Ambiente. O objetivo principal do Código Florestal é a proteção das florestas e matas de vegetação nativa, além de extensas áreas verdes com características especiais. Área de preservação permanente – APP As denominadas Áreas de Preservação Permanente – APPs, de acordo com a norma legal, integram espaços territoriais especialmente protegidos. O Código Florestal, em seu artigo 3º, assim define o que vem a ser uma APP: Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: (...) II – Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; 5 DERANI, Cristiane. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da “Função Social”. Revista de Direito Ambiental nº 27. São Paulo: RT, 2002, p.59. 13 O Artigo 1º do mencionado Código nos diz como as APPs poderão ser constituídas: • Por força de lei, por exemplo: florestas edemais formas de vegetação natural situadas, ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; • Por ato declaratório, por exemplo: as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas a atenuar a erosão das terras ou fixar dunas; • Por equiparação são as florestas que integram o denominado patrimônio indígena, as quais se submetem a um regime de preservação permanente, como indispensáveis à manutenção do ambiente necessário à vida das populações silvícolas. Reserva Florestal A Reserva Florestal Legal, mais conhecida por Reserva Legal, trata-se de uma fração do imóvel rural que deve ser protegida objetivando-se assegurar a manutenção de uma fração da cobertura vegetal natural impedida de ser suprimida. Esse percentual é definido em razão do bioma (conjunto dos seres vivos de uma área), além da região onde se situa o imóvel rural. Ou seja, trata-se de uma verdadeira conduta de proteção da biodiversidade. O Código Florestal estabeleceu, em seu Artigo 16, os percentuais que devem ser mantidos nas propriedades, a título de reserva legal: Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime e utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: I – Oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal; II – Trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7º deste artigo; III – Vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País;e IV – Vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País. Um ponto a se destacar é que o Código Florestal estabelece que a Reserva Legal deve ser averbada na matrícula do imóvel junto ao competente Cartório de Registro de Imóveis (“escritura”). Trata a Lei ainda, que o proprietário poderá indicar na sua propriedade o local de destinação da reserva legal, entretanto, cabe ao órgão ambiental aprovar essa localização. 14 Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação Unidades de Conservação As unidades de conservação constituem espaços territoriais especialmente protegidos e, por isso, dotados de um regime especial de fruição e modificação. Art. 225. (...) § 1º para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) III – Definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; Desse princípio constitucional, decorrem algumas consequências, tais como o dever do Poder Público em definir espaços territoriais a serem especialmente protegidos. Nessas áreas protegidas, a utilização é condicionada à manutenção dos atributos que justificaram sua proteção; a alteração e supressão dessas áreas somente pode se efetivar por meio de lei, ou seja, esses espaços territoriais gozam de um regime singular de alteração, pois o Poder Público as cria por intermédio de um decreto. Entretanto, uma lei em sentido formal poderá suprimir sua proteção, seja integral ou mesmo parcialmente. É importante mencionar os efeitos promovidos pela Lei n° 9.985/2000, que repartiu as unidades de conservação em dois grandes grupos: • Unidades de Proteção Integral; • Unidades de Uso Sustentável. As Unidades de Proteção Integral têm por objetivo garantir a preservação da Natureza, mantendo os ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana e admitindo apenas o uso indireto dos recursos naturais. Quanto às Unidades de Uso Sustentável, estas objetivam compatibilizar a conservação da natureza com seu uso sustentável dos recursos naturais. Deste modo assegurando a exploração do ambiente e garantindo a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mediante a manutenção da biodiversidade e dos demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável. 15 Cada um desses grupos desdobra-se nas categorias seguintes: • Unidades de Proteção Integral: a) Estação Ecológica; b) Reserva Biológica; c) Parque Nacional; d) Monumento Natural; e) Refúgio de Vida Silvestre. • Unidades de Uso Sustentável: a) Área de Proteção Ambiental; b) Área de Relevante Interesse Ecológico; c) Floresta Nacional; d) Reserva Extrativista; e) Reserva de Fauna; f) Reserva de Desenvolvimento Sustentável, e g) Reserva Particular do Patrimônio Natural. Apesar da importância da Conferência de Estocolmo, em 1972, foi com a RIO/92, também conhecida como ECO/92, que começaram as mudanças mais significativas e juridicidade ambiental no Brasil. A RIO/92 foi um grande evento internacional, que envolveu mais de 100 chefes de Estado, dispostos ao diálogo sobre as questões ambientais, concretizando-se como o marco da primeira grande reunião internacional de relevância após o fim da Guerra Fria. O evento também envolveu a sociedade civil, com cerca de 20 mil pessoas de todo o mundo. As discussões ficaram centradas na necessidade de se firmarem regras mais claras e objetivas para o enfrentamento da problemática ambiental internacional e de se desenvolverem estratégias para um novo modelo de desenvolvimento. Os documentos assinados na RIO/92 passaram, então, a representar um papel significativo no crescimento e evolução da normatividade global. Tanto a Convenção sobre Diversidade Biológica quanto a Convenção do Clima se tornaram instrumentos internacionais de grande relevância na questão ambiental global, não apenas pela extensão dos países signatários, mas principalmente pela atualidade e prioridade dos temas objeto dos acordos e pela conquista de um difícil consenso democrático. Por outro lado, os documentos firmados na RIO/92 consagram, definitivamente, o compromisso com o desenvolvimento sustentável, ou seja, a necessidade de mudança do paradigma de desenvolvimento econômico, passando a considerar o meio ambiente como uma vertente indissociável da conquista de uma vida digna. A principal função da Declaração do Rio foi influenciar a criação de um novo regramento jurídico por meio do direito positivo dos países, voltado a tornar efetiva a defesa do meio ambiente. E, apesar de sua força meramente indicativa, a Declaração do Rio tem exercido, desde sua assinatura, uma influência decisiva no crescimento e afirmação do Direito Ambiental nacional e internacional. 16 Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação Convenção da ONU – Mudanças Climáticas A Convenção sobre mudança do Clima foi assinada na RIO/92. Essa convenção estabelece normas para redução de lançamento dos gases de efeito estufa (GEE), responsáveis pela elevação da temperatura do clima na Terra. Refere-se, ainda, à conservação e ampliação dos sumidouros dos gases de carbono (os oceanos e as florestas). A Conferência das Partes, realizada em Kyoto, Japão, em 1997, adotou o Protocolo de Kyoto como parte integrante da Convenção sobre mudança do clima, estabelecendo normas práticas para a redução da emissão de gases do efeito estufa, impostas aos países em desenvolvimentoe aos países com economia em transição. Vejamos, a seguir, a importância de Protocolo e de suas disposições, já mencionados na evolução histórica do Direito Ambiental, estudada na Unidade I. O Protocolo de Kyoto A Convenção-Quadro do Clima, ao estabelecer as normas de caráter geral para a estabilização da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, previu também a necessidade de produção de outros instrumentos jurídicos a serem adotados pela Conferência das partes, com o objetivo de possibilitar a sua regulamentação. A Convenção do Clima é uma lei branda que não impõe sanções aos que a descumprirem e, por isso, necessita de outros mecanismos para continuidade do processo de negociação pelas Partes, mesmo após a sua entrada em vigor. Por essa razão, posteriormente, em dezembro de 1997 foi adotado o Protocolo de Kyoto, cuja entrada em vigor se deu em 16 de fevereiro de 2005, ratificado por 141 países, inclusive o Brasil. No Protocolo, há um cronograma constando que os países estão obrigados a reduzir em 5,2%, a emissão de gases poluentes, entre os anos de 2008 e 2012 (primeira fase do acordo). Os gases citados no acordo são: dióxido de carbono, gás metano, óxido nitroso, hidrocarbonetos fluorados, hidrocarbonetos perfluorados e hexafluoreto de enxofre. Estes últimos três são eliminados principalmente por indústrias. A emissão desses poluentes ocorre em vários setores econômicos e ambientais. Os países devem colaborar entre si para atingirem as metas. O protocolo sugere ações comuns, como, por exemplo: • Aumento no uso de fontes de energias limpas (biocombustíveis, energia eólica, biomassa e solar); • Proteção de florestas e outras áreas verdes; • Otimização de sistemas de energia e transporte, visando ao consumo racional; • Diminuição das emissões de metano, presentes em sistemas de depósito de lixo orgânico; • Definição de regras para a emissão dos créditos de carbono (certificados emitidos quando há a redução da emissão de gases poluentes). Os especialistas em clima e meio ambiente esperam que o sucesso do Protocolo de Kyoto possa diminuir a temperatura global entre 1,5 e 5,8ºC até o final do século XXI. Dessa forma, o ser humano poderia evitar as catástrofes climáticas de alta intensidade que estão previstas para o futuro. 17 Material Complementar Para aprofundar seus conhecimentos, consulte: Livros: ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004; BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2011; BELTRÃO, Antônio F. G. Curso de direito ambiental. São Paulo: Método, 2009; MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2004. Sites: O Licenciamento Ambiental como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente http://jus.com.br/artigos/23503/o-licenciamento-ambiental-como-instrumento-da-politica-nacional-do-meio-ambiente Acesso em: 3 ago 2015. 18 Unidade: Aspectos relevantes no Direito Ambiental Brasileiro e a atual Legislação Referências ACADEMIA de Ciências do Estado de São Paulo. Glossário de ecologia. São Paulo: ACIESP, 1997. AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. São Paulo: Gen-Método, 2011. BECHARA, Erika. A proteção da fauna sob a ótica constitucional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. DERANI, Cristiane. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da “Função Social”. Revista de Direito Ambiental nº 27. São Paulo: RT, 2002. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2011. GUERRANTE, Rafaela Di Sabato; ANTUNES, Adelaide Souza; PEREIRA JUNIOR, Nei. Transgênicos, a difícil relação entre a Ciência, a Sociedade e o Mercado. In: VALLE, Silvio; TELLES, José Luiz (Orgs.). Bioética e biorrisco: abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Interciência, 2003. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2007. MILARÉ, Édis Direito do ambiente: Doutrina - prática - jurisprudência - glossário, São Paulo: RT, 2000. SILVA, J. A. Direito Ambiental Constitucional. 8.ed. São Paulo: Malheiros, 2010. SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 19 Anotações
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