Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O que é currículo escolar? Celso Vallin, 2012 Primeiramente estudava-se o currículo escolar como uma técnica sobre como se deve organizar a escola. Mais recentemente alguns estudiosos criticam essas teorias e começam a perguntar “por que” ensinar isto ou aquilo? Antes a pergunta era: ensinar a resolver equações do segundo grau? Como ensinar da melhor forma aquilo que já se fazia e acreditava? Depois, começaram a perguntar por que ensinar equação do segundo grau a todos/as aos 14 anos se a maior parte nem aprende direito, e jamais irá precisar disso no restante da vida? Isso não poderia ser aprendido numa idade mais avançada, e só pelos que se interessassem? Por que não são ensinadas coisas mais desejadas pelos/as próprios/as estudantes e familiares? Autores críticos começam a questionar o fato de uma parte da sociedade estar impondo a todos seu jeito de ser e de pensar por meio da escola. Passam a considerar questões sociais, históricas e de contexto (culturais). O artigo em referência (MOREIRA.SILVA.1994) mostra como evoluíram historicamente as teorias sobre currículo e a mudança de paradigma que se deu. Foram propostas e experimentadas reformas curriculares (1970). “Denunciou-se que a escola não promovia ascensão social e que, mesmo para as crianças dos grupos dominantes, era tradicional, opressiva, castradora, violenta e irrelevante”(idem p.13). Daí começaram movimentos pela democratização da escola. A ideologia que vai junto com os conteúdos passou a orientar tais estudos (1983). “Althusser argumentava que a educação constituiria um dos principais dispositivos através do qual a classe dominante transmitiria suas ideias sobre o mundo social, garantindo assim a reprodução da estrutura social existente.” (p. 21) Isso aconteceu nos Estados Unidos, Inglaterra e outros países. No Brasil sabemos que a divisão de poder é mais injusta, ainda. Esses autores estrangeiros concordam com as ideias de Paulo Freire, para quem a aula é sempre carregada de ideologia. Os que defendem uma aula neutra estão defendendo (até hoje) a ideologia da conservação do estado injusto de organização da sociedade. Quem ocupa posições confortáveis na hierarquia social leva vantagem quando as escolas fazem aulas chamadas de neutras, e seguem ensinando os conteúdos oficiais (PCNs e livros didáticos). Para Moreira e Silva (1994) “É muito menos importante saber se as ideias envolvidas na ideologia são falsas ou verdadeiras e muito mais importante saber que vantagens relativas e que relações de poder elas justificam ou legitimam”(p. 23) . A partir dessa visão crítica pode-se contestar a noção de conhecimento. A escola não vai simplesmente explicar a realidade. O jeito que se colocar a explicação ou a construção do conhecimento estará condicionando a maneira como os/as estudantes se relacionarão com as realidades. Currículo e cultura são inseparáveis, e estudantes de diferentes origens e posições sociais vêm para a escola trazendo práticas culturais diferentes. O jeito de organizar a vida, de olhar e pensar as situações não é o mesmo para todos/as. A escola crítica não tentará ministrar aulas iguais em todo o país, com conhecimentos e valores dados, prontos, mas tentará problematizar a vida e com isso questionar as próprias culturas vigentes e dessa forma estará produzindo cultura e conhecimento e não somente dando ou reconstruindo algo já estabelecido. Para isso estudantes devem ser vistos como autores de seus trabalhos, que seguem reinventando a vida, com questões, soluções, propostas e posicionamentos pessoais e de grupo, conforme o contexto e as situações que interessam às suas vidas. No currículo crítico não é desejada a obediência dos/as estudantes, nem que sejam formados como colonos, a partir de culturas produzidas por terceiros. “A cultura é vista menos como uma coisa e mais como um campo e terreno de luta.”(p.27). Para a teoria crítica de currículo, tanto o/a professor/a de Biologia, de Química ou Educação Física jamais farão uma comunicação e exercícios de verificação de um conteúdo que desejam ensinar sem problematizar a vida, e para isso, irão puxar, com estudantes, relações daquele conteúdo com situações que vivem e que têm importância para mudanças sociais. Os conteúdos são sempre vistos de forma política – ou seja – relacionados com as decisões que importam nas vidas. Dessa forma a escola passa a ser mais interessante para estudantes e é bem mais simples que se consiga quebrar a queixa geral de que os estudantes não se dedicam o suficiente, ou que não querem saber de nada. Por isso recomendamos a todos que se interessaram por essa conversa, que leiam o artigo citado. MOREIRA, Antonio F. & SILVA, Tomaz T. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: SILVA, Tomaz T. & MOREIRA, Antonio F. (Orgs). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994, p.7-37
Compartilhar